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Advocacia 

Resumo e Interpretação
do Caso do Exploradores
da Caverna

Publicado por Paulo Couto


P há 6 anos  32,5K visualizações

Por Paulo Renato Castillo Couto

Trabalho apresentado ao Prof. Dr. José de


Resende Junior para a disciplina de
Filosofia Jurídica, do 2º Semestre do
Curso de Direito da Universidade
Presbiteriana Mackenzie.

14 de Novembro de 2013

Resumo do caso:
Os acusados são membros da Sociedade
Espeleológica, que se dedica a exploração
amadora de cavernas. No ano de 4299 os
quatros, na companhia de Roger
Wheatmore, também membro desta
sociedade, adentraram em uma caverna de
rocha calcária. Houve, porém, um
desmoronamento nesta caverna ao ponto
que os exploradores, já distantes da
entrada, se encontraram presos. Estes
então decidiram permanecer próximos a
entrada para esperar um eventual resgate.

Quando foi percebida a ausência por


demasiado longa de Wheatmore e
companhia iniciou-se o esforço para
localiza-los. Na sede da Sociedade
Espeleológica foram encontradas
indicações que revelavam onde estavam
presentes os exploradores. Uma equipe de
socorro foi prontamente enviada.

O resgate se mostrou extremamente


difícil. A equipe original teve que ser
suplantada por homens e máquinas, cujo
transporte para a isolada região tinha um
custo elevado. Um enorme campo
temporário de trabalhadores, repleto dos
mais diversos especialistas, foi
estabelecido, e novos deslizamento se
mostraram um empecilho ao resgate,
inclusive matando dez operários. Os
fundos da Sociedade Espeleológica
rapidamente se exauriram. Foram
necessários trinta e dois dias para
finalmente liberta-los.

Durante o resgate foi constatado que os


recursos alimentícios dos exploradores
eram insuficientes e que não haviam
vegetais ou animais que pudessem vir a
servir de sustento para estes. Temia-se
então que os exploradores não
sobrevivessem até a conclusão do resgate.
No vigésimo dia descobriu-se que os
exploradores haviam levado um rádio.
Com a instalação de semelhante
equipamento no campo de trabalhadores
foi possível a comunicação com estes. Os
exploradores, ao receberem a notícia de
que seriam necessários mais dez dias para
seu resgate, requisitaram um médico para
informar-lhes se conseguiriam sobreviver
este período sem suprimentos. O
presidente da comissão respondeu que a
chance era escassa. Roger Wheatmore
então, falando em seu nome e em de seus
colegas, indagou aos médicos se estes
poderiam sobreviver por tal período de
tempo se quatro deles se alimentassem da
carne de um dos demais. O presidente da
comissão respondeu, a contragosto, que
sim. Wheatmore indagou se seria justo
decidir por sorteio que deveria ser
sacrificado, porém nenhum dos médicos
se atreveu a responder tal questão.
Wheatmore pediu por juízes, autoridades
governamentais e até por sacerdotes para
auxiliar na decisão, porém ninguém se
mostrou disposto a tanto. O rádio, então,
se silenciou pelo que se constatou,
posteriormente comprovado que de forma
errônea, por falta de baterias. Quando os
exploradores finalmente foram resgatados
descobriu-se que Wheatmore havia sido
morto e servido de alimento aos seus
colegas.

Os exploradores afirmaram que fora


Wheatmore que primeiramente sugeriu o
sacrifício de um deles para alimentar os
outros, e também fora ele que teve a ideia
de usar de sorteio. Os outros exploradores
alegaram que haviam se mostrados
adversos a proposição, porém foram
convencidos eventualmente. Fora decidido
que eles tirariam a sorte nos dados.
Porém, antes do lançamento, Wheatmore
mudou de ideia e propôs que esperassem
por mais uma semana. Os outros
exploradores acusaram-lhe de quebrar o
acordo e lançaram os dados em seu lugar.
Ao perguntarem para Wheatmore se este
tinha alguma objeção quanto à forma de
lançamento dos dados, este respondeu
negativamente. Sua sorte foi adversa e
Wheamore foi morto. Depois de serem
levados à um hospital para serem tratados
por desnutrição os exploradores foram
acusados do homicídio de Roger
Wheatmore. Os exploradores foram
considerados pelo juiz de primeira
instância culpados, e foram condenados a
execução pela forca. O juri do caso enviou
para o Poder Executivo um pedido de que
a sentença fosse comutada para seis meses
de prisão. O Poder Executivo não se
manifestou até o ponto do julgamento do
recurso pela segunda instância.

Resumo dos Votos:

Foster
O juiz acredita que o veredito do caso afeta
mais do que apenas o destino dos
acusados, e sim a própria lei da sociedade
onde vivem (Commonwealth). Foster
afirma que condenar os acusados é
contrário ao senso comum. Em um
primeiro argumento o juiz afirma que o
direito positivo de sua sociedade é incapaz
de julgar este caso e que, por conseguinte,
deveria o tribunal valer-se do direito
natural, pois o direito pressupõe a
possibilidade de convivência em
sociedade, o que não se aplica à realidade
do caso. Foster compara a situação com
caso de extraterritorialidade, onde, fora da
área jurisprudencial, os acusados,
hipoteticamente, não seriam julgados. Ele
afirma que os exploradores estavam
separados da jurisprudência do
Commonwealth por razões morais, que
seriam tão válidas quanto as geográficas.
O juiz também aponta o fato de que a
princípio Roger Wheatmore havia
concordado com o sacrifício e, portanto,
havia formado um contrato com os demais
exploradores. Foster também afirma que é
errado tomar a vida humana como um
valor absoluto, apontando tal concepção
como ilusória. Para comprovar este ponto
o juiz remete aos dez trabalhadores que
morreram no processo de resgate dos
exploradores, indagando o por que da
validade de tal sacrifício e não o de
Wheatmore.

Foster parte então para uma segunda


linha argumentativa, hipoteticamente
rejeitando todos os seus argumentos
anteriores e partindo do princípio de que o
direito positivo do Commonwealth tem de
fato validade no caso. O juiz aponta que
toda a lei positiva requer uma
interpretação racional que vai além da
escrita literal de determinada norma. O
juiz exemplifica com o conceito de
legitima defesa, que escusa o acusado de
homicídio mesmo não estando escrita
palavra por palavra na legislação.
Refutando a ideia de que ao interpretar a
lei o judiciário usurpa o poder legislativo
Foster afirma que ninguém contrata um
funcionário incapaz de ler nas entrelinhas
e que não tenha capacidade de abstração.

De acordo com os argumentos apontados


J. Foster vota que os acusados são
inocentes.

Tatting
O juiz começa afirmando acreditar ser
incapaz de julgar o caso sub judice de
forma puramente objetiva, suprimindo o
seu lado emocional. Tatting procede então
a criticar o julgamento de Foster,
chamando-o de contraditório e falacioso.
Tatting indaga o momento em que o
direito natural se sobrepôs ao positivo e
aponta uma série de inexatidões por parte
da teoria de Foster. Alem disso o juiz
lembra de que a autoridade do tribunal em
que ministram vem da lei, e não de uma
suposta "lei da natureza", e que se de fato
este suposto estado natural inviabiliza o
uso do direito positivo no julgamento, o
tribunal não teria autoridade de julgar o
caso. Ele também critica o patamar de
importância que Foster dá aos contratos,
pois Tatting afirma que o juiz que o
precedeu em seu voto implicou que não só
o contrato é irrescindível como também a
conservação dos pactos é superior à
prevenção do homicídio. Tatting mostra
mais incongruências da noção de direito
natural de Foster e afirma ser
completamente contrário às suas
conclusões.

O juiz então continua a criticar o voto de


Foster, agora em sua segunda parte, a
chamando de nebulosa e ambígua.
Também afirma Tatting que nesta parte
Foster considera apenas a função
preventiva do direito, esquecendo-se então
da função retributiva e da de reabilitação.
Os diferentes propósitos, por conseguinte,
dificultariam uma analise puramente
teleológica da lei. Tatting também refuta a
comparação de Foster entre o caso sub
judice e a legitima defesa, uma vez que
esta não é dotada de intenção. Depois de
apresentar uma série de problemas lógicos
na argumentação de Foster, Tatting
conclui que não é capaz de chegar em um
veredito, uma vez que discorda de seu
predecessor mas mesmo assim não
consegue se convencer de que o certo é
condenar os acusados.

De acordo com os argumentos


apresentados J. Tatting se absteve da
votação.

Keen
Keen começa seu voto esclarecendo duas
questões que acredita não ser relevantes
para o tribunal. A primeira é a decisão do
Poder Executivo em relação ao pedido de
clemência. O juiz critica, inclusive, o
Presidente do Tribunal por ter instruído o
chefe do Executivo nesta matéria. Ele
também explica que se fosse ele o
Presidente daria clemência total aos
acusados mas, como juiz, seu julgamento
será baseado na lei. A segunda é a matéria
moral do caso, do qual o juiz decide se
abster, uma vez que acredita que sua
função seja aplicar o direito de seu país.
Ele, assim como Tatting, critica Foster de
maneira incisiva.

O juiz então explica como a lei do


Commonwealth diz que "Aquele que
intencionalmente prive outrem à vida ser
punido com a morte" e que não existe
necessidade de alongar a discussão sobre o
caso, uma vez que é evidente que os
acusados o fizeram. Seguindo a lei, então,
eles deveriam ser condenados, pois Keen
acredita que a função do juiz é aplicar a lei
independendo de seus valores pessoais.
Ele então procede, buscando exemplos na
história recente de seu país, a explicar os
perigos do Poder Judiciário afastar demais
seus julgamentos do significado evidente
da lei em busca da satisfação de suas
convicções pessoais, explicando como este
atrito com o Poder Legislativo causou uma
guerra civil e explicando o porque ele
acata à supremacia deste. Keen explica,
com certo ar de deboche, o processo pelo
qual ele acredita que juízes como Foster
elaboram seus julgamentos, dando
entender que estes são subjetivos, egoístas
e contrários à lei. O juiz explica a
impossibilidade de se julgar baseando se
na pretensão do conhecimento do
propósito da lei, pois este não é simples
nem óbvio. Insistindo na necessidade de
aplicar a lei escrita e reconhecendo a
possibilidade de sua decisão ser impopular
o juiz conclui seu voto.

De acordo com os argumentos


apresentados J. Keen vota a favor da
condenação.

Handy
O ultimo juiz inicia criticando a postura de
todos os anteriores afirmando que estes se
prenderam muito a legalismos. Handy
acredita que o foco principal é, com a
postura de funcionários públicos, decidir o
que deve ser feito com os acusados. Ele
procede então a explicar sua concepção de
como o governo não é feito de leis ou
conceitos abstratos, mas sim por pessoas,
e que o poder judiciário é o que tem o
maior potencial de se distanciar do
cidadão comum. Handy então explica
como o juiz, sendo funcionário público,
deveria ter as formalidades e conceitos
abstratos como instrumentos e aplicá-los
ao caso concreto, tornando-os assim mais
eficientes e próximos ao senso comum.
Este método aproximaria o poder da
população, o que, para Handy, é essencial
para a manutenção da legitimidade e da
ordem, mais do que o direito natural de
Foster ou o positivismo estrito de Keen.

Handy decide analisar aspectos não


utilizados pelos julgadores que o
precederam, como a opinião pública em
que, sob análise, revelou ser em grande
maioria a favor do perdão dos acusados. O
juiz não acredita que declarando os
acusados inocentes perderia assim entre a
população a noção de legitimidade da lei,
uma vez que tal veredito seria condizente
como a vontade geral dos cidadãos. Handy
longamente critica a ideia de apelar para o
executivo e aponta tanto não só como um
contrassenso mas também explica como
isto pode ter resultados inesperados e
contrários a vontade do povo. Handy
indigna-se com a resistência que se tem a
usar o senso comum em assuntos
referentes ao governo. O juiz aponta ao
primeiro caso que julgou onde um
sacerdote de um determinado culto se
infiltrou em outro e expos seus pontos de
vista, propiciando um conflito em que este
saiu ferido. Handy explica que, ainda
jovem, foi incapaz de encontrar entre as
doutrinas jurídicas algo que ajudasse na
resolução do litígio, mas, porém,
encontrou suas respostas no senso
coumum. Handy afirma que o caso atual é
semelhante. Por fim o juiz conclui que os
acusados são inocentes e que a sentença
deveria ser reformada.

Entretanto, J. Handy opta por não


participar da votação.

Voto pessoal:
O caso apresentado nesta obra levanta a
pergunta de como deve ser aplicada a lei
em situações extremas. A situação
existente no livro não é de nenhuma forma
comum e dificilmente aconteceria
novamente em condições iguais, portanto
uma análise teleológica do direito seria
muito difícil, uma vez que é improvável
que a lei da comunidade fictícia de
Newgarth, como a de qualquer outra
sociedade, tenha sido feita levando em
consideração todas as ínfimas
possibilidades. Por isto pretendo embasar
meu voto não em uma análise do
propósito da lei que trata do homicídio
mas sim do propósito da lei em geral.
Sócrates, séculos antes de nossa era,
afirmava que o propósito da lei era criar
segurança jurídica. Talvez o filósofo grego,
então, acreditasse que estes homens
deveriam ser punidos, pois a priori é isto
que diz a lei. Porém, segurança jurídica
implica no na ideia de que a lei terá o
resultado esperado pela maioria da
população. Note-se que não afirmei
"desejado", e sim "esperado". A segurança
vem da concordância da sentença jurídica
com a expectativa criada pela lei. Qual é a
expectativa que deveria ser tirada do caso
apresentado? A expectativa que é criada
quando se diz:"Em uma situação extrema
você terá o seu direito a vida preservado
perante a lei a qualquer custo" não é muito
solida, uma vez que se a situação é de fato
extrema não é possível prever tal coisa.
Porém ao se dizer: Em uma situação
extrema você terá o direito de preservar a
própria vida com os meios que achar
necessário"não só é mais logicamente
correta, uma vez que este princípio pode
ser aplicado, como segue mais o senso
comum de que o ser humano tem o direito
de lutar pela sua auto preservação.
Mencionando o" senso comum " eu parto
então para um segundo ponto: A lei deve
ser expressão da vontade geral do povo
que esta regula, como afirma o
contratualista Rousseau. E muito fácil
perceber que a vontade da população de
Newgarth é a da absolvição dos acusados.
Não só o juiz Handy se refere a uma
pesquisa que indicaria que 90% da
população seria a favor da absolvição, mas
também é possível perceber que os
próprios juízes, homens versados no
direito, também a apoiam em seu foro
pessoal. Concluo então que não existe
motivo para aplicar uma lei de forma que
esta não vá gerar resguarda jurídica futura
nenhuma e vá contra a vontade da
população que a legitima.

Voto, portanto, na absolvição dos


acusados.

P Paulo Couto

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Rubens Barreto
3 anos atrás

Meu voto é na absolvição dos acusados

 1  Responder 

Silvani Almeida
3 anos atrás

Primeiramente você esta errado, o primeiro


juiz a votar é Truepenny, C. J. (Presidente):
O Presidente Truepenny possui uma posição
favorável à condenação dos réus. Baseia sua
decisão na lei escrita e somente nesta, a qual
diz que, “qualquer um que, de própria
vontade, retira a vida de outrem, deverá ser
punido com a morte”.

 1  Responder 

Silvani Almeida
3 anos atrás

E o juiz Handy não se abstem, vota contra a


condenação dos réus, espero que mude o
seu artigo!!!

 1  Responder 

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