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"O Caso dos Exploradores de Cavernas" é um livro escrito por Lon Lucois Fuller, um
jurista norte-americano que quis em sua obra focar as formas eficazes de aplicação dos
sistemas jurídicos. No artigo, resumo e comento as refloxões jurídicas da obra.
1. Introdução
"O Caso dos Exploradores de Cavernas" é um livro escrito por Lon Lucois Fuller, um
jurista norte-americano que quis em sua obra focar as formas eficazes de aplicação dos
sistemas jurídicos.
A obra ficcional, no ano de 4300, retrata uma sessão de julgamento na Suprema Corte de
Newgarth, na qual quatro exploradores recorrem da decisão do Tribunal de primeira instância
de condená-los a morte pelo assassinato de Roger Whetmore. Este, juntamente dos quatro
réus, fazia parte de uma organização amadorística de exploração de cavernas, a Sociedade
Espeleológica. O grupo estava em uma incursão a uma caverna quando um desmoronamento
de terra os deixou presos.
Após trinta dias, sem provisões necessárias e sem condições de receberem alimentos do
exterior, Whetmore propôs que tirassem na sorte uma pessoa para ser morta e servir de
alimento aos demais, para que assim possuíssem chance de sobrevivência. Após muita
discussão, todos aceitaram os termos desse contrato. No momento do sorteio, porém, Roger
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Whetmore sugeriu que esperassem mais uma semana para realizarem tal prática. Os outros
não concordaram e prosseguiram ao sorteio, que teve Whetmore como o selecionado para
ser morto e servir de alimento aos demais. Este não teve objeções e então, prosseguiu-se o
ato.
2.Desenvolvimento
2.1 Voto de Presidente do Tribunal - Truepenny, C.J. (FULLER, Lon L. O Caso dos
Exploradores de Cavernas. Tradução e introdução por Plauto Faraco de Azevedo. Porto
Alegre: Fabris, 1976. p.1-10)
O presidente do tribunal considera os réus culpados a partir da Lei NCSA § 12: “quem
quer que intencionalmente prive a outrem da vida será punido com a morte” (FULLER, 1976,
p. 8). Dessa forma, seguindo a Lei, a condenação aos réus deveria ser mantida.
Apesar de sua posição inicial, o presidente Truepenny diz possuir simpatia devido à
trágica situação a qual os quatro exploradores viveram. Por isso, ele sugere que a decisão
final pudesse ser dada ao poder Executivo, que teria condições de conceder clemência aos
réus condenados sem infringir a lei, debilitando sua letra ou transgredindo seu espírito
(FULLER, 1976, p. 10).
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O jurista parte de duas premissas: o Direito positivado é inaplicável ao caso, e deve ser
aplicado o Direito natural, a “lei da natureza”. Essa ideia é trazida diante da impossibilidade da
coexistência entre os homens. A conservação da vida só foi possível a partir da privação da
vida (FULLER, 1976, p.13), não havendo possibilidade de que os homens pudessem viver em
comunhão, sendo o sacrifício de um deles necessário para a sobrevivência dos outros. Para
Foster, os exploradores não se encontravam em um "estado de sociedade civil", mas sim em
um "estado natural" (FULLER, 1976, p.14-15). Dessa forma, não poderiam responder às
normas previstas no Direito positivado devido à sua situação trágica e única. Assim, coube
aos exploradores elaborar uma nova constituição, a partir de um contrato firmado entre os
integrantes da Sociedade, já que os princípios usuais eram inaplicáveis.
O ministro continua seu voto afirmando que, em condições usuais, considera-se a vida
humana um valor absoluto, sem a possibilidade de trocar uma por outras. Porém, na situação
descrita, houve a morte de dez trabalhadores para salvar os cinco exploradores. Em
construções, como rodovias e edifícios, é usual que se percam vidas humanas em acidentes,
porém acredita-se que o benefício aos sobreviventes seja maior que a perda (FULLER, 1976,
p.19). Com esse argumento, a situação de desespero vivida pelos réus é facilmente
compreensível.
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Tatting começa sua argumentação tecendo críticas ao voto do Ministro anterior, dizendo
não é possível compreender em que momento ocorre a passagem do “estado de sociedade
civil” para o “estado de natureza”. Em sua visão, o Tribunal a julgar possui autoridade para
aplicar as leis previstas no país, não possuindo tal autoridade para a lei natural, sendo
impossível o julgamento a partir das bases de Direito natural proposto por Foster. Além disso,
defende Tatting, o código natural proposto por Foster é macabro, permitindo o canibalismo,
com normas inovadoras acerca dos casos de homicídio, sendo também um contrato
irrevogável, sendo sua obediência passível de execução a força (FULLER, 1976, p.28-29).
Tatting ainda discorda da teoria da legítima defesa, uma vez que o direito a legítima defesa de
Whetmore não existia, e esse deveria aceitar passivamente a morte proposta. A
intencionalidade do ato deve ser tomada em consideração, sendo a legítima defesa um ato
por impulso humano de manter a própria vida. Os réus, para esse jurista, atuaram
intencionalmente, pois houve longa discussão a respeito do que poderia ser feito (FULLER,
1976, p.33-34).
O Ministro Tatting continua suas críticas à sustentação de Foster, afirmando que esta não
abrange a possibilidade de uma lei possuir propósitos múltiplos, impossibilitando a
interpretação de que a lei deve ser analisada mediante sua proposição.
A jurisprudência possui peso no caso, já que o Tribunal não aceitou a defesa de que a
fome fosse justificativa para que se furtasse um pão (caso citado no texto, de Commonwealth
v. Valjean), é impossível crer que a fome justificaria o assassinato de um homem. O juiz
considera-se incapaz de decidir pelo alto envolvimento emocional, e ao considerar que a
acusação de homicídio possivelmente seja equivocada, quando seria mais correto se
houvesse a previsão de crime nos casos de “ingestão de carne humana” (FULLER, 1976,
p.39). O Ministro se absteve da decisão, recusando-se a participar.
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O ministro começa seu voto partindo do fato de que a clemência executiva, proposta pelo
presidente Trupenny, não é de competência do Tribunal. O dever da Suprema Corte é o de
simplesmente emitir a decisão a ser tomada. Keen também enfatiza que não é dever dessa
Corte avaliar se ação foi boa ou má por parte dos réus, bem como moralmente justa ou não.
Deve-se aplicar o direito do país, excluindo a possibilidade de avaliar o direito natural, como
proposto por Foster. A decisão a ser tomada é a respeito de se houve ou não privação
intencional da vida de Roger Whetmore, e para Keen, a resposta óbvia é sim (FULLER, 1976,
p.42). Adicionando-se a isso, Keen versa que a discussão tão extensa existe por causa dos
aspectos morais e da discordância das leis por parte dos Ministros, o que em sua opinião não
deveriam afetar o julgamento (FULLER, 1976, p.43). O Poder Judiciário deve apenas aplicar
fielmente a lei escrita, com a interpretação em seu significado evidente, não cabendo a este
analisar se a lei está certa ou errada. Para Keen, Foster utiliza da revisão judicial, recurso que
para ele é incoerente, para criar lacunas na lei, interpretando-as baseado em seu propósito,
para preenchê-las da maneira que julgar conveniente (FULLER, 1976, p.45-46). Essa forma
de julgar foge da competência do Sistema Judiciário, pois cabe ao Legislativo elaborar o texto
da lei a ser interpretado de forma explícita.
A visão do caso como legítima defesa é refutada devido ao fato de Whetmore não ter feito
ameaça alguma aos réus. Absolvê-los seria criar exceção a lei, o que poderia trazer perigosas
consequências. Para Keen, a criação de exceções faz mais mal do que decisões rigorosas
contra a opinião pública. O Ministro vota a favor da confirmação da sentença de condenação
dos exploradores.
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porém, uma repulsa muito grande em aplicar o senso comum aos problemas governamentais,
o que pode ser um erro, devido ao fato de que muitas vezes as perplexidades jurídicas não
tem a ver com a questão, sendo o senso comum um possível caminho para melhor análise
dos fatos. A questão estudada tem a ver com uma questão de vida ou morte, e a tormenta e
desespero vividos pelos réus foram suficientemente grandiosas para penalizá-los (FULLER,
1976, p.65).
O juiz Handy defende o uso de bom senso no julgamento do caso, acreditando que a
decisão possa ser mais humana. Para ele, seria necessária a compreensão da situação
trágica e desastrosa vivida pelos acusados, não fazendo uma análise seca das leis e de
teorias jurídicas. Seu voto é em favor da inocência dos réus e da reformulação da sentança.
3.Conclusão
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Após a análise de todos os votos, é possível concluir que a decisão da Suprema Corte de
Newgarth na obra estudada poderia ter sido diferente. Pensando em uma possível situação
real da narrativa, seria necessário avaliar que caso não ocorresse a morte de Roger
Whetmore e a subsequente prática antropofágica, todos os exploradores teriam chances
extremamente reduzidas de sobrevivência. Dessa forma, se não houvesse o contrato com o
consentimento de todos, os exploradores já estariam condenados a morte no momento em
que houve o desmoronamento de terra que os prenderia por mais de trinta dias. Pode-se
argumentar ainda que não seria possível seguir o ordenamento jurídico, em uma aplicação do
princípio da inexigibilidade de conduta diversa. Assim sendo, a violação das normas só
ocorreu pois não seria possível agir em consonância destas e garantir a sobrevivência dos
cinco exploradores.
Referências Bibliográficas
FULLER, Lon L. "O Caso dos Exploradores de Cavernas". Tradução e introdução por
Plauto
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