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Tese de acusação do

caso dos exploradores


de caverna no
contexto do
ordenamento jurídico e
social brasileiro.
Tese de acusação dos 4(quatro)
espeleólogos sobreviventes do
trágico desabamento da caverna
de condado, pela morte de Roger
Whetmore no ano de 1499.

Publicado por Carlos Daniel Santos há 2 anos

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DOS FATOS-

Trata-se de uma ficção ocorrida no


início de maio do ano de 4299, no
condado de Stowfield, onde o espeleó-
logo Roger Whetmore, juntamente
com outros 4 (quatro) estudiosos da
sociedade de espeleologia partem para
uma exploração no interior de uma
caverna de rocha calcária.

Após certo tempo de decurso no inte-


rior da caverna um desastre acontece
e blocos de pedras desabam, de forma
a inviabilizar a saída dos exploradores
do local. Como a empreitada foi aco-
metida por esse fato, os seus familia-
res notificaram a demora a uma equi-
pe de resgate, que pouco tempo de-
pois chegou ao local.

No contexto em que as rochas se en-


contravam, foi constatado que o tem-
po de resgate seria um pouco extenso
devido a operação onerosa e de gran-
de vulto, ou seja, seriam necessários
diversos trabalhadores e de grande
verba pública para a realizar, de for-
ma segura, a libertação.

Ao passar do tempo, coma ajuda de


comunicadores à bateria, Whetmore
entrou em contato com a equipe de
resgate, a qual informou que o
tempo mínimo de resgate seria
de 10 (dez) dias. Nesse ponto do
ocorrido, whetmore, tendo em vista
alegar que os suprimentos levados
não seriam suficientes ao tempo de
"cárcere" na caverna, pede para falar
com um profissional da saúde e solici-
ta uma opinião sobre eles utilizarem
carne humana para sobreviver
até o resgate, no entanto, tal profis-
sional decidiu se abster e não lhe deu
nenhuma opinião, favorável ou desfa-
vorável , e isso ocorreu com mais au-
toridades que se encontravam no lo-
cal, como padres, membros do minis-
tério público, do poder judiciário, isto
é, todos decidiram se abster e
não instruir os exploradores.

Diante da situação de escassez ali-


mentar e resignação por parte de to-
dos os espeleólogos, Whetmore
propôs para os companheiros que um
deles fosse sacrificado para que os ou-
tros pudessem sobreviver. Indagando-
os se seria coerente tirar a sorte nos
dados. Todos aceitaram. Whetmore
foi o sorteado. No entanto, ele desis-
tiu, e mesmo assim, seus colegas, o
retiraram a vida, de forma cruel, inde-
vida, e em um verdadeiro ato de terro-
rismo o comeram, parte por parte.

E dessa forma, todos devem ser res-


ponsabilizados de acordo com o nosso
código penal, sob pena de abrir um
precedente perigosíssimo no ordena-
mento jurídico do nosso país e res-
guardar a impunidade, a conivência e
a omissão no Brasil, que postulado
por um estado democrático de direito
jamais irá aquiescer a tese de defesa
dessa atrocidade.

DOS FUNDAMENTOS PARA


ACUSAÇÃO-

1- Da aplicabilidade do código
penal aos fatos

Muito se discute pela parte contrária


que o nosso ordenamento jurídico é
simplesmente INAPLICÁVEL ao refe-
rido ato de severa repugnância, e que
dessa forma os acusados devem ser
absolvidos pela atipicidade da condu-
ta, ou seja, é defendida a tese de que
os 3 réus estariam sob a égide de um
"direito natural", que busca funda-
mento no DOGMATISMO e no NO
SENSO COMUM a fim de se chegar à
equidade e à justiça.

Sob tal ótica naturalista, indago-me


sempre que a leio neste caso concreto,
pois o processo penal busca, além de
tudo, a instrução quanto aos fatos e a
autoria, sendo respeitado sempre o
princípio da territorialidade, que está
sendo mitigado de forma explícita
pela parte contrária, ao afirmar que
pelo fato de os exploradores estarem
em um caverna fechada, sem acesso
ao exterior, teriam estes a prerrogati-
va de dispor de direitos e violar as re-
gras e a principiologia da República
Federativa do Brasil, o que se mostra
incongruente e deveras absurdo. Isso
pois:

Durante quase toda operação de res-


gate houve COMUNICAÇÃO com au-
toridades do lado de fora da caverna,
feita por meio de aparelho eletrônico
de radiodifusão;

Pois todos detinham condições nor-


mais para determinarem-se de que o
resgate estava sendo feito.

E por último e não menos importante,


pois nossos costumes e jurisprudênci-
as não se coadunam com a dita tese de
atipicidade da conduta, visto que, nas
favelas cariocas, onde a prestação es-
tatal é mínima, em todos os requisitos
básicos, onde a governabilidade é ins-
tituto exercido pela criminalidade, por
milícias, grupos armados, comandos
carcerários, seria possível que estes
citados inovem o ordenamento jurídi-
co, imponham um outro, que possam
matar, estuprar, traficar e dessa for-
ma, não serem punidos pelo estado?

A resposta certamente é NÃO. E é isso


que defende a parte contrária, é esse o
conceito de justiça dogmática que
querem lhes impor.

2-Da imputabilidade e culpabili-


dade dos agentes

De acordo com a teoria geral do cri-


me, e em sua forma tripartite, postu-
la-se que o crime é formado por FATO
TÍPICO, ILÍCITO E CULPÁVEL, e que
a retirada de um destes pode excluir o
crime ou isentar de pena o (s) acusado
(s).

A defesa postula que os três acusados


agiram sob a excludente de ilicitude
de ESTADO DE NECESSIDADE,
ou seja, como já foi dito, que são
abarcados pela atipicidade da
conduta. No entanto, a aplicabilida-
de dessa discriminante não se susten-
ta por motivos juridicamente concre-
tos. Estes são:

"De acordo com o artigo 24 do Có-


digo Penal , considera-se em es-
tado de necessidade quem pratica
o fato para salvar de perigo
atual, que não provocou por sua
vontade, nem podia de outro modo
evitar, direito próprio ou
alheio, cujo sacrifício, nas cir-
cunstâncias, não era razoável exi-
gir-se".

Nesse sentido, observa-se que o peri-


go atual é requisito típico da discrimi-
nante, e pergunto-lhes, o perigo atual
que se encontravam os exploradores
era o perigo de morte por inanição?
perigo de alguma infecção letal? peri-
go de outro desabamento?

e como resposta, lhes trago outro fato,


o fato de que na última comunicação
de Roger com autoridades responsá-
veis pelo resgate, ele afirma que os
seus mantimentos e o dos demais es-
tavam ESCASSOS, e não acabados, e
foi nesse momento que houve a pro-
posta de jogarem o sacrifício nos da-
dos, repito, diante da ESCASSEZ de
alimento. Dessa forma não há o que se
falar em PERIGO ATUAL, não há o
que se falar em exigência de sacri-
fício. Nessa perspectiva, retomo mi-
nha pergunta inicial, qual seria o peri-
go atual plenamente justificante para
a retirada de uma vida naquelas cir-
cunstâncias?

Feita a exposição da inexistência de


estado de necessidade, outro pon-
to a ser destrinchado e que a conduta
dos acusados se amolda perfeitamente
em todos os requisitos do crime.

Atentemo-nos primeiramente ao pri-


meiro requisito de fácil explanação, o
fato típico. Visto que a conduta dos
réus foi evidentemente DOLOSA, do-
tada de NEXO CAUSAL, e de RESUL-
TADO NATURALÍSTICO MORTE.

Segundamente, ao principal requisito


do caso, a CULPABILIDADE. No en-
tanto , a vejo com olhos de evidente
justiça, e evidente aplicabilidade, ten-
do em linhas que a IMPUTABILIDA-
DE, CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE E
EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DI-
VERSA se fazem presentes de forma
terrivelmente nua, visível. Pois, os
agentes, com comida ESCASSA, sob o
domínio de forte emoção, de medo,
resignação, ainda detinham a potenci-
al consciência sobre a ilicitude do
fato, sobre o que estavam fazendo ao
matarem seu colega de forma bruta,
de forma cruel, e depois, em um ato
horripilante, o comerem, e degusta-
rem o sabor da maldade, da repug-
nância, sabor este que não vinha de
Roger, e sim deles próprios.

De acordo com o endocrinologista e


professor de medicina na Universida-
de de Porto "A resistência à fome de-
pende de uma série de fatores, como
o estado nutricional, mas em geral, e
“tendo em conta o que está descrito
em vários estudos, no máximo será
possível aguentar entre 50 a 75 dias”
( clique para ler mais). E tendo em
vista os autos, os socorristas deram
um prazo de 10 dias, se não ocor-
ressem outros imprevistos, a necessi-
dade, a proporcionalidade se mostram
indecorosas, e sem fundamentação.

E mesmo que tenha sido meu cliente a


propor o jogo, e serem seus os dados
que jogaram, e ter sido ele o escolhido
para sacrificar-se, ele desistiu, não
permitiu dispor de sua vida, e se a
tese do contrato natural não vigora,
ele detinha todo direito de voltar
atrás, cumprindo cláusulas, como em
qualquer contrato, como em qualquer
acerto de vontades, que não justifica
em maneira alguma a invalidação da
vida. Ou seja, a situação assegurava
conduta diversa, a situação assegura-
va que os réus tomassem diversas me-
didas de rumos distintos a tomada.

Poderiam; esperar a ação da natureza,


e resolverem se alimentar do explora-
dor que primeiro falecer em razão da
situação, poderiam até simplesmente
guardarem seus suprimentos ESCAS-
SOS para a situação de resistência fi-
nal. Dessa forma fica nítido que as
ações empreendidas foram errôneas e
que necessitam de severa punição, a
fim de resguardar a ordem social e o
estado democrático de direito.

3- Da inaplicabilidade do perdão
judicial e a formação de prece-
dente

A aplicação do perdão judicial, pela


comoção pública, pela repercussão do
caso, pela situação dificultosa que se
encontravam os agentes, parece-me
ato processual de natureza social peri-
goso e obscuro nos fins do direito pe-
nal, tendo em vista toda argumenta-
ção de autoria, materialidade e resul-
tado causado. O perdão judicial, usa-
do diversas vezes em nossos julga-
mentos, como súmula persuasiva per-
mite uma eficácia jurídica retilínea e
uniforme aos nossos julgadores, no
entanto, a abertura de precedente
desta magnitude não importa uma
eficácia jurídica em prol da verdade,
em prol do justo, da situação delitiva
dos agentes, mas sim em uma atroci-
dade que será usada para diversos cri-
mes horrendos, trazendo mais aberra-
ções jurídicas ao nosso ordenamento.
Portanto, o clamor público, a massa
leiga, que é inspecionada ideologica-
mente não pode tomar os poderes de
um julgador ilibado, que além de assi-
nar uma decisão no caso concreto,
também condiciona de forma direta o
futuro de uma nação.

DA APELAÇÃO-

Diante dos fatos constatados, acerca


da autoria e da materialidade, acerca
da aplicabilidade penal aos acusados.

Requeiro a condenação dos três


réus da ação penal por; HOMICÍ-
DIO QUALIFICADO por empre-
go de tortura, meio insidioso e
cruel pela morte de Roger Whet-
more, no ano de 1499, no conda-
do de Stowfield. vistas ao artigo
121,§ 2º,III, DO CÓDIGO PENAL.

Requeiro também a instrução para a


averiguação da responsabilidade das
autoridades presentes ao lado externo
da caverna, pela omissão em vista á
vontade e as indagações de whetmore
quanto ao sacrifício da vida em prol
de outras.

Estudo sobre a inanição e morte pela


fome: https://www.públi-
co.pt/2015/10/18/mundo/noti-
cia/em-greve-de-fome-uma-pessoa-
pode-resistir-no-maximo-....

Carlos Daniel Santos - 27/11/20

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Carlos Daniel Santos

Acadêmico de Direito na Universidade Federal do


Piauí-UFPI

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