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05 membros de uma “Sociedade Espeliológica” que decidem

explorar uma caverna, ocorre que já estando lá dentro e bem


afastados da entrada acontece um desmoronamento e os deixa
presos por mais de 30 dias até que a equipe de socorro
conseguisse resgatá-los. A equipe de socorro foi prontamente
enviada ao local, porém a tarefa revelou-se extremamente difícil, o
trabalho de desobstrução foi muitas vezes frustrado por novos
deslizamentos de terra, sendo que em um destes, dez operários
contratados vieram a óbito. Ocorre que os exploradores tinham
levado consigo apenas escassas provisões e sabido era que não
havia comida na caverna que lhes permitisse subsistir, então houve
grande temor que eles morressem antes que o acesso até o ponto
em que se encontravam se tornasse possível. No vigésimo dia a
partir da ocorrência soube-se que os exploradores tinham levado
um rádio capaz de receber e enviar mensagens, portanto instalou-
se prontamente um aparelho semelhante no acampamento,
estabelecendo-se comunicação. Pediram estes que lhes
informassem quanto tempo seria necessário para liberá-los, e a
resposta foi que precisavam de pelo menos dez dias, desde que
não ocorressem novos deslizamentos e os exploradores
perguntaram então se havia algum médico no acampamento e ao
descreverem sua condição e as rações de que dispunham,
solicitaram uma opinião acerca da probabilidade de subsistirem
sem alimento por esse período, o presidente da comissão
respondeu-lhes que seria pouco provável essa possibilidade e
então o rádio dentro da caverna silenciou durante oito horas, ao
retornar a comunicação, roger, falando em seu próprio nome e em
representação dos demais, indagou se eles seriam capazes de
sobreviver por mais dez dias alimentando-se da carne de um deles,
o presidente da comissão respondeu, a contragosto, em sentido
afirmativo. Roger inquiriu se seria aconselhável que tirassem a
sorte para determinar qual deles deveria ser sacrificado, como
nenhum dos médicos respondeu, ele perguntou se havia um juiz ou
outra autoridade que se dispusesse a ajudar, como ninguém os
quis aconselhar, ainda insistiu na busca de um sacerdote que
pudesse responder àquela interrogação, mas não se encontrou
nenhum disposto, depois disto cessaram as mensagens de dentro
da caverna. Quando os homens foram finalmente libertados soube-
se que, no trigésimo terceiro dia após sua entrada na caverna,
Roger tinha sido morto e servido de alimento a seus companheiros,
segundo os acusados, Roger foi o primeiro a propor que
buscassem alimento na carne de um dentre eles, foi ele também
quem propôs a forma de tirar a sorte, chamando a atenção dos
acusados para um par de dados que casualmente trazia consigo.
Ocorre que os acusados inicialmente hesitaram adotar um
comportamento tão desatinado, mas, após o diálogo acima
relatado, concordaram com o plano proposto e depois de muita
discussão com respeito aos problemas matemáticos que o caso
suscitava, chegaram por fim a um acordo sobre o método a ser
empregado para a solução do problema: os dados. Entretanto,
antes que estes fossem lançados, roger declarou que desistia do
acordo, pois havia refletido e decidido esperar outra semana antes
de adotar um expediente tão terrível e odioso.
Os réus o acusaram de violação do acordo e procederam ao
lançamento dos dados e quando chegou à vez da vítima, um dos
acusados atirou-os em seu lugar, e ele declarou que não tinha
objeções a fazer, tendo então a “má sorte”. Após o resgate e
submetidos a um tratamento para desnutrição e choque emocional,
foram denunciados pelo homicídio de Roger Whetmore.

1- DO TERROR PISICOLÓGICO ANTE AO SACRIFÍCIO

No caso, após a apresentação da ideia de sacrifício de um deles


em favor dos demais, criou-se um ambiente de forte pressão ao
psicológico, uma preocupação tal qual, de que forma seria feita a
escolha, e gerando uma única certeza, que alguém morreria. É
praticamente impossível para qualquer ser humano manter o seu
controle emocional diante do iminente risco de morte,
complementado ainda pelo medo de ser sacrificado enquanto
dorme ou apunhalado pelas costas, gerando contenda e
desconfiança entre eles.

Ocorre que nesse momento “nasce” uma situação de perigo atual,


e de injusta agressão eminente e diante de um risco de vida o
homem faz de tudo para sobreviver, inclusive tirar a vida de outrem
para não perder a sua. Uma situação de pavor, que só pode ser
compreendida por alguém que passou por situação semelhante,
uma busca imensa de sobreviver.

2 - DO ESTADO DE NECESSIDADE E PERIGO ATUAL

Podemos destacar que existiam naquela situação extraordinária


elementos que caracterizam o “Estado de Necessidade” – que é o
instinto de sobrevivência, vale lembrar que o sacrifício veio após
um período de 21 dias sem alimentos, e a única maneira de se
manterem vivos foi comendo a carne de um deles, não havia outro
modo para os exploradores se alimentarem, e sendo água e
comida indispensáveis à vida, não tendo eles alternativas, pois
havia o risco de morte por desnutrição, sendo inviável aguardar a
morte natural de um dos indivíduos para se alimentarem de sua
carne.

O agente que pratica o fato em estado de necessidade terá o


benefício da excludente de ilicitude referida por se tratar de caso
extraordinário, conforme previsão legal no Código Penal Brasileiro:

Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: I -


em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III -
em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício
regular de direito.

Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem


pratica o fato para salvar de perigo atual, que não
provocou por sua vontade, nem podia de outro modo
evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas
circunstâncias, não era razoável exigir-se.

3-DA LEGITIMA DEFESA

Havia uma única certeza durante o período em que os


exploradores viveram seu cárcere, a de que um deles seria
sacrificado em prol dos demais, porém havia também uma dúvida,
quem seria? A qualquer momento, alguém seria escolhido, ou
ocorreria de todos se unirem contra um o que certamente gera uma
situação de injusta agressão iminente, contra um deles. Neste
caso, o indivíduo valoriza mais a própria vida que á vida de quem
lhe quer morto, tendo como única defesa tirar a vida de quem lhe
ameaça. Ocorre ainda que a ideia de canibalismo veio do próprio
Whetmore, o que o tornou o principal alvo de desconfiança, pois
obviamente por ter proposto tal atrocidade era o que possuía maior
vontade de manter-se vivo e ainda sendo este o causador do terror
social vivenciado por todos.
4- DO SILÊNCIO DAS AUTORIDADES

Não cabe a sociedade externa nem mesmo ao júri aqui presente


esperar uma atitude diferente da tomada, pois em um momento
ainda de lucidez de roger, antes de tomarem a decisão de sacrificá-
lo, foi questionado se seria aconselhável que tirassem a sorte para
determinar qual dentre eles deveria ser sacrificado, NENHUM
médico, juiz, autoridade governamental, integrantes da missão de
salvamento ou sacerdote ali presentes se atreveu a responder,
"TODOS" se omitiram. Portanto está invocada aqui a excludente de
culpabilidade, devido a erro de proibição, dado pelo silêncio, os
exploradores viram-se descobertos da proteção do Estado; logo,
provavelmente, deveriam estar descobertos de suas regras
também.

Com qual legitimidade os acusam? O Estado teve a oportunidade


de prevenir tal conduta tida como odiosa, e essa foi sem dúvidas a
última opção que eles tiveram, pois tudo foi feito a fim de se
aguardar o resgate, mas o mesmo Estado que agora os condena
foi aquele que se omitiu mesmo sabendo o terror e a necessidade
extrema pela qual passavam os réus, não deixando outra escolha a
não ser a drástica que tomaram.

Final
É óbvio e que uma vida tem menos valor se comparada a uma
pluralidade de vidas, pode parecer frio, mas destacamos que foi
aqui sacrificado o direito de um indivíduo para garantir o direito a
vida, além da integridade física dos sobreviventes, pois se
esperassem que um deles morresse de forma natural como a
acusação alega o quadro de desnutrição de todos se agravaria
ainda mais dificultando sua recuperação, além do fato de
eventualmente haver conflitos entre eles também prejudicando a
integridade psicológica de ambos.

Portanto pede-se que sejam declarados inocentes os


sobreviventes, consequentemente a completa absolvição e
extinção do processo pela ausência de fato classificado como
crime.

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