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José Márcio Calixto (1), Sirvanne Abreu Lima (2) e Élvio M. Piancastelli (3)
Av. Contorno 842 - 2° andar – 30110 – 060 – Belo Horizonte – Minas Gerais
Resumo
Este artigo apresenta os resultados de desempenho de lajes de concreto armadas em uma única direção,
submetidas à flexão, quando reforçadas através do aumento da seção de concreto na região comprimida.
Conectores de cisalhamento, fabricados pela Hilti, foram utilizados como elemento de ligação entre o
concreto do substrato e o concreto do reforço, não havendo nenhuma aderência entre os dois concretos.
Foram estudadas cinco lajes: duas monolíticas de referência, com 15 cm de altura, uma original de
referência, com 10 cm de altura e duas reforçadas. Após a fixação de 8 e 24 conectores em cada laje, que
inicialmente possuía 10 cm de altura, lançou-se uma sobre-camada de concreto de 5 cm de espessura.
Antes da execução do reforço, as lajes foram ensaiadas até sua carga de serviço. Os resultados indicaram
que o método de reforço foi eficiente quando 24 conectores foram utilizados. Porém as lajes reforçadas
apresentaram interação parcial com deslizamento relativo na interface entre os diferentes concretos.
Palavras-Chave: reforço à flexão, lajes de concreto armado, conectores de cisalhamento
Abstract
The results of an experimental investigation on the behavior of one-way reinforced concrete slabs
strengthened in flexure with a 5-cm concrete overlay are presented. Shear transfer at the concrete interface
was provided only by dowel action through shear connectors. Three series of slabs were tested: Series 2
was strengthened with 8 and 24 shear connectors respectively; Series 1 and 3 were cast at one time and
had the geometry corresponded to the slabs before (10-cm high) and after intervention (15-cm high),
respectively. During the experiments, displacements, interlayer slips and strains were measured. The test
results indicate expressively the better performance of slabs strengthened with 24 connectors. However
partial interaction was observed in the response of the repaired slabs.
Keywords: flexural strengthening, reinforced concrete slabs, shear connectors
Série 2 – Lajes reforçadas – as duas lajes desta série, após o reforço, ficaram com as
características indicadas nas Figuras 2 e 3. O reforço foi executado estando as lajes
originais solicitadas apenas pelo seu peso próprio e pelo peso do reforço.
Série 3 – Lajes monolíticas de referência – essa série era composta de duas lajes cujos
detalhes encontram-se na Figura 4. A concretagem destas lajes foi feita em uma única
etapa, tendo sido utilizado um único tipo de concreto, com as mesmas características
daquele usado na fabricação das lajes originais Ensaiou-se estas lajes, para possibilitar a
comparação do seu comportamento e desempenho com as lajes reforçadas.
A relação carga versus deslizamento relativo dos conectores escolhidos foi determinada
através de ensaios de laboratório. Para este ensaio, um modelo foi fabricado, cujos
detalhes se encontram na Figura 6. O modelo foi fabricado em duas etapas.
Primeiramente executou-se o corpo central. Os conectores foram então instalados na
parte central do modelo, respeitando-se a metodologia de instalação e nas posições
determinadas. Após esta fixação, calafetou-se, com nata de cimento, o entorno dos
mesmos. Em seguida, impermeabilizaram-se as faces laterais do corpo central, com a
aplicação de tinta esmalte sintética à duas demãos e após a secagem, aplicou-se óleo
sobre as faces anteriormente pintadas. Este trabalho foi necessário para evitar qualquer
aderência entre o corpo central, que representava o concreto original, e os elementos
laterais, que representavam o concreto do reforço. Desta maneira, todo esforço de um
concreto foi transmitido ao outro através dos conectores, permitindo assim a qualificação
correta da relação carga-deslizamento. Após um período de secagem da tinta, foram
executados os elementos laterais, utilizando-se um concreto com o mesmo traço do
concreto do reforço. O modelo foi ensaiado quatro dias após esta última concretagem.
Para a instrumentação do modelo foram empregados quatro transdutores de
deslocamentos fixados nas seções onde os conectores estavam localizados. Isto permitiu
a medição do deslocamento relativo da parte central em relação às laterais segundo um
mesmo alinhamento horizontal, conforme mostra a Figura 7. O carregamento foi avaliado
empregando-se uma célula de carga SENSOTEC, modelo 41/0573-02, com capacidade
de carga de 100 kN. Para aquisição dos dados foi utilizado o sistema ADS 2000, fabricado
pela LYNX, que se encontrava interligado a um microcomputador.
Os modelos foram ensaiados até que ocorresse perda de carga, representando assim, a
capacidade resistente máxima dos conectores de cisalhamento. O valor médio da
capacidade máxima resistente dos conectores foi igual a 15,84 kN.
As armaduras das lajes eram constituídas de aço CA-60 sem patamar de escoamento,
sendo a resistência média de escoamento, determinada em laboratório, igual a 683 MPa e
o módulo de elasticidade médio igual a 199,5 GPa.
75 75
65 10
100
80
Carga (kN)
60
40
Laje 2A
20
Laje 2B
0
0 6 12 18 24 30 36 42
Flecha no meio do vão (mm)
Série 1 x Laje 2A
100
80
Carga (kN)
60
40
0
0 6 12 18 24 30 36
Flecha no meio do vão (mm)
100
80
Carga (kN)
60
40
0
0 6 12 18 24 30 36 42
Flecha no meio do vão (mm)
120
100
Carga (kN)
80
60
0
0 6 12 18 24 30 36
Flecha no meio do vão (mm)
Série 3 x Laje 2B
140
120
100
Carga (kN)
80
60
0
0 6 12 18 24 30 36 42
Flecha no meio do vão (mm)
5. Considerações Finais
Em função dos resultados obtidos e sua análise, pode-se concluir que o método de
reforço utilizado foi eficiente principalmente com relação à capacidade portante máxima
das lajes reforçadas com o emprego de 24 conectores de cisalhamento. Porém as lajes
reforçadas apresentaram interação parcial com deslizamento relativo na interface entre o
concreto original e do reforço, indicando que o número de conectores, em ambos os
casos, foi insuficiente para transferir integralmente as tensões de cisalhamento na
interface entre os diferentes concretos.
A eficiência em serviço foi menor. A existência de flechas residuais nas lajes reforçadas
desde o início do carregamento bem como a interação parcial entre a laje original e o
concreto do reforço contribuiram para este fato. Para que os ganhos em serviço sejam
mais representativos para o procedimento de reforço adotado e com os conectores
utilizados, torna-se de fundamental importância o retorno da estrutura deformada a sua
posição original antes de se iniciar as intervenções de reparo.
Em termos de capacidade de deformação, as lajes reforçadas apresentaram uma
capacidade de deformação no estado limite último muito maior, visto que as flechas
últimas foram aproximadamente o dobro das observadas nas lajes monoliticas de
referência. Este fato indica que os conectores empregados apresentam grande
ductilidade.
Com a relação ao tipo de conector utilizado pode-se dizer que um número elevado deles
será necessário para que se tenha interação completa entre os diferentes concretos.
Finalizando, pode-se concluir que é possível solicitar, nas idades iniciais, lajes reforçadas
à flexão, pelo processo adotado desde que os conectores utilizados e a ligação entre os
diferentes concretos sejam bem estudados para que apresentem, na data de sua
solicitação, resistências e deformabilidade compatíveis com os níveis de solicitação a que
serão submetidos.
7. Agradecimentos
Os autores agradecem a CAPES pelo apoio financeiro através da Bolsa de Mestrado e a
Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais e a Lafarge Concreto
no tocante aos materiais e da mão de obra necessários à fabricação das lajes.