Você está na página 1de 16

Comportamento de Lajes Reforçadas à Flexão através do Aumento da

Seção Comprimida Utilizando Conectores como Elementos de Ligação


Behavior of Concrete Slabs Strengthened in Flexure with Shear Connectors
at the Overlay Interface

José Márcio Calixto (1), Sirvanne Abreu Lima (2) e Élvio M. Piancastelli (3)

(1) Professor Doutor, Departamento de Engenharia de Estruturas, UFMG


email: calixto@dees.ufmg.br

(2) Mestre, Departamento de Engenharia de Estruturas,UFMG

(3) Professor , Departamento de Engenharia de Estruturas, UFMG


email: elvio@dees.ufmg.br

Av. Contorno 842 - 2° andar – 30110 – 060 – Belo Horizonte – Minas Gerais

Resumo
Este artigo apresenta os resultados de desempenho de lajes de concreto armadas em uma única direção,
submetidas à flexão, quando reforçadas através do aumento da seção de concreto na região comprimida.
Conectores de cisalhamento, fabricados pela Hilti, foram utilizados como elemento de ligação entre o
concreto do substrato e o concreto do reforço, não havendo nenhuma aderência entre os dois concretos.
Foram estudadas cinco lajes: duas monolíticas de referência, com 15 cm de altura, uma original de
referência, com 10 cm de altura e duas reforçadas. Após a fixação de 8 e 24 conectores em cada laje, que
inicialmente possuía 10 cm de altura, lançou-se uma sobre-camada de concreto de 5 cm de espessura.
Antes da execução do reforço, as lajes foram ensaiadas até sua carga de serviço. Os resultados indicaram
que o método de reforço foi eficiente quando 24 conectores foram utilizados. Porém as lajes reforçadas
apresentaram interação parcial com deslizamento relativo na interface entre os diferentes concretos.
Palavras-Chave: reforço à flexão, lajes de concreto armado, conectores de cisalhamento

Abstract
The results of an experimental investigation on the behavior of one-way reinforced concrete slabs
strengthened in flexure with a 5-cm concrete overlay are presented. Shear transfer at the concrete interface
was provided only by dowel action through shear connectors. Three series of slabs were tested: Series 2
was strengthened with 8 and 24 shear connectors respectively; Series 1 and 3 were cast at one time and
had the geometry corresponded to the slabs before (10-cm high) and after intervention (15-cm high),
respectively. During the experiments, displacements, interlayer slips and strains were measured. The test
results indicate expressively the better performance of slabs strengthened with 24 connectors. However
partial interaction was observed in the response of the repaired slabs.
Keywords: flexural strengthening, reinforced concrete slabs, shear connectors

ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0005 1


1 Introdução
Estruturas de concreto armado são projetadas para atender a determinados requisitos de
resistência, rigidez e durabilidade. Entretanto, em qualquer época de sua vida útil prevista,
por diversos motivos, elas podem não atendê-los, e apresentar desempenho
insatisfatório. Intervenções de recuperação ou reforço são, então, necessárias.
O principal objetivo deste artigo é analisar o desempenho do reforço à flexão de lajes de
concreto armadas em uma única direção, sendo que as lajes foram solicitadas poucos
dias após a execução do reparo. O reforço adotado consistiu no acréscimo de seção de
concreto na zona comprimida das lajes. A ligação entre o concreto do substrato com o
concreto do reforço foi feita apenas através de conectores de cisalhamento de alta
resistência, não havendo, portanto, nenhuma aderência entre os dois concretos.
Conseqüentemente a transferência de esforços entre os concretos se deu apenas através
de conectores de cisalhamento fixados à laje original antes da execução da camada de
reforço. A exclusão da aderência entre o concreto de reforço e o do substrato teve por
objetivo quantificar a atuação dos conectores. A opção de se ensaiar as peças reforçadas
nas primeiras idades do concreto do reforço se deveu à freqüente necessidade da rápida
utilização das estruturas A análise se baseou nos resultados de experimentos realizados
por LIMA (2003) na Universidade Federal de Minas Gerais.

2 Características das Lajes Ensaiadas


Para o estudo foram ensaiadas 5 lajes divididas em 3 séries. As lajes das séries 1 e 2
foram fabricadas originalmente, com as mesmas características, tendo sido denominadas
lajes originais. As seções longitudinal e transversal, bem como as demais características
destas lajes, estão indicadas na Figura 1. Essas lajes foram, posteriormente, divididas em
duas séries, a saber:
Série 1 - Laje original de referência – essa série era composta de uma única laje que foi
ensaiada para que seu comportamento servisse de referência para os das lajes
reforçadas. Elas tinham as seções e características originais, conforme a figura 1.

Série 2 – Lajes reforçadas – as duas lajes desta série, após o reforço, ficaram com as
características indicadas nas Figuras 2 e 3. O reforço foi executado estando as lajes
originais solicitadas apenas pelo seu peso próprio e pelo peso do reforço.

Série 3 – Lajes monolíticas de referência – essa série era composta de duas lajes cujos
detalhes encontram-se na Figura 4. A concretagem destas lajes foi feita em uma única
etapa, tendo sido utilizado um único tipo de concreto, com as mesmas características
daquele usado na fabricação das lajes originais Ensaiou-se estas lajes, para possibilitar a
comparação do seu comportamento e desempenho com as lajes reforçadas.

ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0005 2


Figura 1 – Laje original de referencia

Figura 2 – Laje reforçada 2A

ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0005 3


Figura 3 – Laje reforçada 2B

Figura 4 – Lajes monolíticas de referência

ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0005 4


3 Materiais, Procedimentos de Reforço e de Ensaio
3.1. Materiais
As três lajes originais e as duas monolíticas de referência foram executadas com concreto
de resistência característica à compressão (fck), esperada aos 28 dias, de 21 MPa. Na
data dos ensaios, este concreto, denominado concreto das lajes originais, tinha idade
mínima de 8 anos. Os valores médios, nesta idade, da resistência à compressão do
concreto e de seu módulo de elasticidade estático secante foram respectivamente de 37,5
MPa e 25,9 GPa.
O traço do concreto do reforço e a idade de sua solicitação foram estudados com o
intuito de se obter, na data do ensaio, características mecânicas próximas das
apresentadas pelo concreto das lajes originais, além da trabalhabilidade necessária às
condições de concretagem. Para tanto, o concreto foi fabricado com cimento de alta
resistência inicial, um consumo de 415 kg/m3, e fator água/cimento de 0,46. Inicialmente
foram realizados ensaios de resistência à compressão do concreto e de aderência ao
concreto velho nas idades de 4, 5 e 7 dias de idade. Os resultados destes ensaios
mostraram que a resistência à compressão na idade de 4 dias era bastante próxima do
valor procurado Portanto, a idade escolhida para a solicitação das lajes reforçadas foi de
4 dias, quando o concreto apresentou resistência à compressão média de 39,9 MPa e
módulo de elasticidade estático secante de 29,6 GPa.
A escolha do conector teve como premissas básicas a facilidade na sua instalação e que
sua capacidade portante fosse suficiente para resistir às tensões de cisalhamento
atuantes entre o concreto original e o concreto do reforço. Com relação à forma do
conector optou-se por um conector do tipo pino com cabeça. Além destas prescrições era
necessário escolher um comprimento tal que no concreto de reforço não ultrapassasse
quatro centímetros e no concreto original não fosse superior a 7,5 cm. O comprimento de
quatro centímetros no concreto do reforço foi determinado em função de se ter um
cobrimento de concreto de um centímetro acima da cabeça do conector. O valor de 7,5
cm foi calculado para se evitar cortar através de armadura do concreto original quando
fosse feita a perfuração para a fixação do conector.
Um outro cuidado importante, era tentar não ficar fora dos limites normalmente utilizados
de conectores por metro quadrado. Este valor varia entre 10 e 30 conectores de
cisalhamento por metro quadrado. Portanto o diâmetro não poderia ser muito pequeno
senão ultrapassaria o número de conectores usados na prática e nem tão grande que
tornasse o processo de instalação trabalhoso.
Optou-se então, por conectores de expansão, do tipo parafuso com uma cunha de três
seções e porca na cabeça. O conector escolhido foi uma ancoragem Hilti Kwik Bolt II com
comprimento de 95 mm e diâmetro nominal de 9,5 mm, conforme mostrado na figura 5.
Com este comprimento, o conector penetraria entre 5,5 e 6 cm no concreto original
ficando o restante, entre 3,5 e 4 cm, dentro do concreto do reforço. A porca utilizada tinha
1,4 cm de diâmetro e altura de 0,75 cm.

ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0005 5


Figura 5 – Detalhe do conector de cisalhamento escolhido

A relação carga versus deslizamento relativo dos conectores escolhidos foi determinada
através de ensaios de laboratório. Para este ensaio, um modelo foi fabricado, cujos
detalhes se encontram na Figura 6. O modelo foi fabricado em duas etapas.
Primeiramente executou-se o corpo central. Os conectores foram então instalados na
parte central do modelo, respeitando-se a metodologia de instalação e nas posições
determinadas. Após esta fixação, calafetou-se, com nata de cimento, o entorno dos
mesmos. Em seguida, impermeabilizaram-se as faces laterais do corpo central, com a
aplicação de tinta esmalte sintética à duas demãos e após a secagem, aplicou-se óleo
sobre as faces anteriormente pintadas. Este trabalho foi necessário para evitar qualquer
aderência entre o corpo central, que representava o concreto original, e os elementos
laterais, que representavam o concreto do reforço. Desta maneira, todo esforço de um
concreto foi transmitido ao outro através dos conectores, permitindo assim a qualificação
correta da relação carga-deslizamento. Após um período de secagem da tinta, foram
executados os elementos laterais, utilizando-se um concreto com o mesmo traço do
concreto do reforço. O modelo foi ensaiado quatro dias após esta última concretagem.
Para a instrumentação do modelo foram empregados quatro transdutores de
deslocamentos fixados nas seções onde os conectores estavam localizados. Isto permitiu
a medição do deslocamento relativo da parte central em relação às laterais segundo um
mesmo alinhamento horizontal, conforme mostra a Figura 7. O carregamento foi avaliado
empregando-se uma célula de carga SENSOTEC, modelo 41/0573-02, com capacidade
de carga de 100 kN. Para aquisição dos dados foi utilizado o sistema ADS 2000, fabricado
pela LYNX, que se encontrava interligado a um microcomputador.

ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0005 6


Figura 6 - Detalhe do modelo de ensaio dos conectores

ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0005 7


Figura 7 - Vista da instrumentação e modelo pronto para ensaio

Os modelos foram ensaiados até que ocorresse perda de carga, representando assim, a
capacidade resistente máxima dos conectores de cisalhamento. O valor médio da
capacidade máxima resistente dos conectores foi igual a 15,84 kN.
As armaduras das lajes eram constituídas de aço CA-60 sem patamar de escoamento,
sendo a resistência média de escoamento, determinada em laboratório, igual a 683 MPa e
o módulo de elasticidade médio igual a 199,5 GPa.

3.2. Procedimentos de Reforço


As lajes foram reforçadas na posição de ensaio. Após ser posicionada para ensaio, toda a
face superior da laje primeiramente lixada. Em seguida foram fixados os conectores
conforme o procedimento descrito. Calafetou-se com nata de cimento, todos os vazios
existentes entre os conectores e a laje, tornando esta face superior completamente lisa. A
seguir, aplicou-se tinta esmalte sintético à duas demão, seguida de uma demão de óleo. A
fôrma de madeira compensada resinada foi então posicionada, em todo o perímetro da
laje, para o lançamento do concreto. A Figura 8 mostra os detalhes dos conectores e da
laje antes da execução do reforço.

ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0005 8


Figura 8 – Detalhe da laje antes da execução do reforço
Passou-se, então, às operações de concretagem. O concreto foi preparado, dando-se
especial atenção ao tempo de mistura, após a adição do superplastificante, para se evitar
excesso de incorporação de ar. O concreto foi lançado sobre a laje a ser reforçada, e
adensado por vibração mecânica. Apesar do elevado “slump” do concreto (230 mm), a
sua vibração não causou segregação.
O controle da cura do concreto foi iniciado imediatamente e consistiu na cobertura do
concreto exposto ao ar com sacos de aniagem mantidos sempre molhados. No terceiro
dia, as fôrmas foram retiradas e o processo de cura do concreto interrompido, para que
fosse feita a instrumentação da laje para o ensaio.

3.3. Procedimentos de Ensaio


O ensaio das lajes seguiu o esquema indicado na Figura 9. As flechas foram medidas no
meio do vão da laje. Extensômetros elétricos foram empregados para medir as
deformações do concreto e das armaduras no meio do vão. Nas lajes reforçadas, os
deslizamentos relativos entre o concreto do reforço e concreto velho foram medidos na
região dos apoios da laje. O carregamento foi aplicado de forma crescente e em estágios,
quando eram lidos deslocamentos e deformações.

ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0005 9


65 10
Carga
10

75 75

65 10

Figura 9 - Esquema de Ensaio das Lajes


As lajes original e monolíticas de referência foram ensaiadas em uma única etapa, até
ser atingido o estado limite último. As lajes reforçadas foram ensaiadas em duas etapas.
Na primeira, denominada de ensaio inicial, as lajes foram solicitadas até uma força
correspondente a 60 % da carga experimental de ruína da laje original de referência.
Nessa força, a flecha média, medida no meio do vão, foi de 7,66 mm (≈ vão/200) e a
abertura máxima das fissuras foi de 0,3 mm. Após a descarga, a flecha residual média foi
2,12 mm (≈ vão/700). A segunda etapa, denominada de ensaio final, ocorreu quatro dias
após a execução do reforço, quando as lajes reforçadas foram levadas à ruína. No ensaio
final foram realizados 3 ciclos de carregamento e 2 ciclos de descarregamento para se
verificar a eficiência dos conectores de cisalhamento.

4. Apresentação e Análise dos Resultados


Os valores do carregamento correspondentes ao estado limite último da norma NBR-
6118:2003 foram obtidos com a aplicação das prescrições dessa norma brasileira, porém
sem a utilização dos coeficientes de minoração de resistência dos materiais. Portanto, a
resistência à compressão do concreto e a tensão de escoamento do aço empregadas são
correspondentes aos valores médios obtidos nos ensaios de laboratório. Neste trabalho,
foi denominada carga de serviço, a força correspondente à flecha no meio do vão de 6,0
mm (Vão/250).

4.1. Lajes Reforçadas


A Figura 10 apresenta, para as lajes reforçadas (série 2), os resultados experimentais e
da NBR-6118:2003. Como era de se esperar, a laje 2B apresentou maior rigidez e
capacidade portante em relação à laje 2A. A presença de menor número de conectores
nesta última laje é a razão para estas diferenças. Esta maior rigidez da laje 2B fez com
que sua carga de serviço chegasse a 38,8 kN contra 36,5 kN da laje 2A. No estado limite
ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0005 10
último, a diferença foi ainda maior: 108,3 kN para a laje 2B contra 85,9 na laje 2A. Por
outro lado ambas as lajes tiveram o mesmo modo de ruína: esmagamento do concreto da
laje original sob uma das linhas de carga.
Durante os ensaios das lajes reforçadas foram observados deslizamentos relativos entre
a laje original e o concreto de reforço. A existência destes deslizamentos revela a
existência de interação parcial indicando que o número de conectores, em ambos os
casos, foi insuficiente para transferir integralmente as tensões de cisalhamento na
interface entre os diferentes concretos.
Observa-se também, através da Figura 10, que o cálculo pela NBR-6118:2003 (carga
máxima prevista igual a 116,7 kN) superestimou a carga de ruína das lajes. A razão desta
diferença é devida à interação parcial que existiu entre a laje original e o concreto do
reforço. Esta interação parcial viola a hipótese básica da NBR 6118:2003 para cálculo da
resistência última, qual seja, a existência de interação total entre os elementos
constituintes da laje. Para a laje 3B, com um número maior de conectores de
cisalhamento, a diferença foi de aproximadamente 8%.

Série 2 - Carga x Flecha

120 Carga máxima NBR 6118:2003

100

80
Carga (kN)

60

40
Laje 2A

20
Laje 2B

0
0 6 12 18 24 30 36 42
Flecha no meio do vão (mm)

Figura 10 - Série 2 - Carga x Flecha no Meio do Vão

ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0005 11


4.2. Lajes Reforçadas x Laje Original de Referência (Série 1)
Neste item, faz-se uma análise comparativa entre as lajes reforçadas e a laje original de
referência. Este estudo visa verificar a melhoria de desempenho obtida com o reforço.
Dada qualquer grandeza, denominou-se ganho obtido com o reforço à razão entre o
seu valor na laje reforçada e na laje original de referência. Este ganho foi verificado no
estado limite último e de utilização, sendo este representado pelo carregamento
correspondente à flecha máxima de serviço no meio do vão de 6 mm (vão/250).
Os resultados desta análise comparativa estão apresentados nas Figuras 11 e 12 e na
Tabela 1. Pode-se notar que os ganhos foram significativos. Observa-se porém que o
ganho, tanto em serviço quanto no estado limite último, para a Laje 2A foi praticamente o
mesmo. Para a Laje 3B por outro lado, o ganho obtido na ruína foi muito maior que o
ganho em serviço. Verifica-se, portanto, que com um número maior de conectores do tipo
empregado, a melhoria de desempenho no estado limite último foi bem mais significativa
do que em serviço.
Para que os ganhos em serviço fossem mais representativos para o procedimento de
reforço adotado e com os conectores utilizados, torna-se de fundamental importância o
retorno da estrutura deformada a sua posição original antes de se iniciar as operações de
reforço. Desta forma, o ganho de desempenho em serviço seria bem maior visto que o
carregamento correspondente à flecha máxima de serviço seria também maior.

Série 1 x Laje 2A

100

80
Carga (kN)

60

40

Série 1 - Laje Original de Referência


20 Laje Reforçada 2A - Ensaio final

0
0 6 12 18 24 30 36
Flecha no meio do vão (mm)

Figura 11 - Série 1 x Laje 2A - Carga x Flecha no Meio do Vão

ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0005 12


Série 1 x Laje 2B
120

100

80
Carga (kN)

60

40

Série 1 - Laje Original de Referência


20
Laje Reforçada 2B - Ensaio final

0
0 6 12 18 24 30 36 42
Flecha no meio do vão (mm)

Figura 12 - Série 1 x Laje 2B - Carga x Flecha no Meio do Vão

Tabela 1 - Resultados dos ensaios e ganhos obtidos com o reforço


Laje Carga(kN) Ganho
Serviço Ruína Serviço Ruína
(Flecha = vão/250)
Laje 1 30,40 66,70 - -
Laje 2A 36,50 85,90 1,20 1,29
Laje 2B 38,80 108,30 1,28 1,62

4.3. Lajes Reforçadas x Lajes Monolíticas de Referência (Série 3)


A análise comparativa entre as lajes reforçadas (Série 2) e as lajes monolíticas de
referência (Série 3) é feita a seguir. Este estudo visa avaliar o comportamento e
desempenho destas lajes que possuem a mesma seção transversal de concreto e aço.
Porém as lajes monolíticas foram concretadas em uma única etapa enquanto que nas
lajes reforçadas a ligação entre os diferentes concretos foi feita apenas através dos
conectores de cisalhamento. As Figuras 13 e 14 apresentam estes resultados em termos
da relação carga versus flecha no meio do vão.

ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0005 13


Série 3 x Laje 2A
140

120

100
Carga (kN)

80

60

40 Laje Monolítica de Referência 3A


Laje Monolítica de Referência 3B
20
Laje Reforçada 2A - Ensaio final

0
0 6 12 18 24 30 36
Flecha no meio do vão (mm)

Figura 13 - Série 3 x Laje 2A - Carga x Flecha no Meio do Vão

Série 3 x Laje 2B
140

120

100
Carga (kN)

80

60

40 Laje Monolítica de Referência 3A


Laje Monolítica de Referência 3B
20
Laje Reforçada 2B - Ensaio final

0
0 6 12 18 24 30 36 42
Flecha no meio do vão (mm)

Figura 14 - Série 3 x Laje 2B - Carga x Flecha no Meio do Vão

ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0005 14


Pode-se notar que as lajes reforçadas (Série 2) tiveram, em serviço, flechas no meio do
vão sempre maiores que as apresentadas pelas lajes monolíticas (Série 3) para um
mesmo carregamento. A presença de fissuras e da flecha residual da ordem de 2,0 mm
existentes nas lajes reforçadas desde o início do carregamento bem como a interação
parcial entre a laje original e o concreto do reforço explicam estas grandes diferenças.
Mais uma vez, o estado de fissuração e os valores da flecha residual no instante do
reforço são determinantes no comportamento em serviço das lajes reforçadas.
A existência da interação parcial provocou também uma redução na capacidade última
das lajes reforçadas, principalmente quando quatro conectores foram utilizados no vão de
cisalhamento (28%). Com 12 conectores no vão de cisalhamento, a diferença foi bem
menor: 9%. Por outro lado, as lajes reforçadas apresentaram uma capacidade de
deformação no estado limite último muito maior, visto que as flechas últimas foram
aproximadamente o dobro das observadas nas lajes monoliticas de referência.

5. Considerações Finais
Em função dos resultados obtidos e sua análise, pode-se concluir que o método de
reforço utilizado foi eficiente principalmente com relação à capacidade portante máxima
das lajes reforçadas com o emprego de 24 conectores de cisalhamento. Porém as lajes
reforçadas apresentaram interação parcial com deslizamento relativo na interface entre o
concreto original e do reforço, indicando que o número de conectores, em ambos os
casos, foi insuficiente para transferir integralmente as tensões de cisalhamento na
interface entre os diferentes concretos.
A eficiência em serviço foi menor. A existência de flechas residuais nas lajes reforçadas
desde o início do carregamento bem como a interação parcial entre a laje original e o
concreto do reforço contribuiram para este fato. Para que os ganhos em serviço sejam
mais representativos para o procedimento de reforço adotado e com os conectores
utilizados, torna-se de fundamental importância o retorno da estrutura deformada a sua
posição original antes de se iniciar as intervenções de reparo.
Em termos de capacidade de deformação, as lajes reforçadas apresentaram uma
capacidade de deformação no estado limite último muito maior, visto que as flechas
últimas foram aproximadamente o dobro das observadas nas lajes monoliticas de
referência. Este fato indica que os conectores empregados apresentam grande
ductilidade.
Com a relação ao tipo de conector utilizado pode-se dizer que um número elevado deles
será necessário para que se tenha interação completa entre os diferentes concretos.
Finalizando, pode-se concluir que é possível solicitar, nas idades iniciais, lajes reforçadas
à flexão, pelo processo adotado desde que os conectores utilizados e a ligação entre os
diferentes concretos sejam bem estudados para que apresentem, na data de sua
solicitação, resistências e deformabilidade compatíveis com os níveis de solicitação a que
serão submetidos.

ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0005 15


6. Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT), NBR 6118: Projeto de
Estruturas de Concreto - Procedimento, Rio de Janeiro, 2003.
LIMA, S. A., Comportamento e Desempenho de Lajes de Concreto Armado
Reforçadas à Flexão através do Aumento da Seção na Região Comprimida
Empregando Conectores de Cisalhamento como Elementos de Ligação,
Dissertação de Mestrado, Departamento de Engenharia de Estruturas, UFMG, Belo
Horizonte, 2003.

7. Agradecimentos
Os autores agradecem a CAPES pelo apoio financeiro através da Bolsa de Mestrado e a
Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais e a Lafarge Concreto
no tocante aos materiais e da mão de obra necessários à fabricação das lajes.

ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0005 16

Você também pode gostar