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ApostilaPortugues01 PDF
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LÍNGUA PORTUGUESA
Conteúdo:
1. Compreensão e interpretação de textos.
2. Tipologia textual.
3. Ortografia oficial.
4. Acentuação gráfica.
5. Emprego das classes de palavras.
6. Emprego do sinal indicativo de crase.
7. Sintaxe da oração e do período.
8. Pontuação.
9. Concordância nominal e verbal.
10. Regência nominal e verbal.
11. Significação das palavras.
12. Redação de correspondências oficiais.
COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO
CARACTERÍSTICAS DE UM TEXTO
Unidade
O principal atributo de um texto — para ser considerado como tal — é a unidade. A origem do
termo "texto" está relacionada a "novelo", ou seja, um emaranhado de assuntos. Assim, todo o texto
perpassa uma ideia maior desenvolvida em partes. Observe como isso se dá no texto a seguir.
Destruir a natureza é a forma mais fácil de o homem se aniquilar da face da terra. Dizimando
certas espécies de animais, por exemplo, interfere na cadeia alimentar, causando desequilíbrios que
produzirão a extinção de seres essenciais à harmonia do planeta. Jogando diariamente toneladas de
produtos químicos poluentes, o ser humano causa a destruição do meio ambiente.
Perceba que o texto anterior está dividido em três períodos, cada um com uma ideia
específica. No entanto, o tema principal é a destruição do meio ambiente. Aí está a nossa unidade.
Geralmente, as bancas exigem do candidato, no concurso, algumas questões relacionadas a essa
unidade.
Clareza
Clareza é a capacidade que o autor teve de construir um texto facilmente compreensível pelo
leitor. Nem sempre o concurso proporcionará um trecho com clareza. Por isso, muita atenção.
Geralmente, em provas para tribunais, o Cespe, por exemplo, exagera em textos complexos. Observe
a prova a seguir:
Para além das razões de método, pode-se aduzir à tolerância uma razão moral: o respeito à
pessoa alheia. Também nesse caso, a tolerância não se baseia na renúncia à própria verdade, ou na
indiferença a qualquer forma de verdade. Creio firmemente em minha verdade, mas penso que devo
obedecer a um princípio moral absoluto: o respeito à pessoa alheia.
As boas razões da tolerância não nos devem fazer esquecer que também a intolerância pode
ter suas boas razões. Todos nós já nos vimos, cotidianamente, explodir em exclamações do tipo "é
intolerável que... ", "como podemos tolerar que... " etc.
Nesse ponto, cabe esclarecer que o próprio termo "tolerância" tem dois significados, um
positivo e outro negativo, e que, portanto, também tem dois significados, respectivamente, negativo e
positivo, o termo oposto. Em sentido positivo, a tolerância se opõe à intolerância em sentido negativo;
e vice-versa, ao sentido negativo de tolerância se contrapõe o sentido positivo de intolerância.
Intolerância, em sentido positivo, é sinônimo de severidade, rigor, firmeza, qualidades que se incluem
todas no âmbito das virtudes; tolerância em sentido negativo, ao contrário, é sinônimo de indulgência
culposa, de condescendência com o mal, com o erro, por falta de princípios, por cegueira diante dos
valores. É evidente que, quando fazemos o elogio da tolerância, reconhecendo nela um dos princípios
fundamentais da vida livre e pacifica, pretendemos falar da tolerância em sentido positivo.
Tolerância em sentido negativo se opõe a firmeza nos princípios, ou seja, à justa ou devida
exclusão de tudo o que pode causar dano aos indivíduos ou à sociedade. Se as sociedades
despóticas de todos os tempos e de nosso tempo sofrem de falta de tolerância em sentido positivo, as
nossas sociedades democráticas e permissivas sofrem de excesso de tolerância em sentido negativo,
de tolerância no sentido de deixar as coisas como estão, de não interferir, de não se escandalizar,
nem se indignar com mais nada.
Noberto Bobbio. A Era dos Direitos (com adaptações)
1. Tomados em sentido negativo, tolerância e seu antônimo podem ser considerados sinônimos para
os quais não se apresentam "boas razões".
2. Se reconhecida como um dos princípios da vida livre e pacífica, a tolerância pode incluir
severidade, rigor, firmeza. Tais atitudes, no entanto, combinam em muitas ditaduras no mundo
contemporâneo com a intolerância das sociedades despóticas.
3. Tolerância em sentido positivo é conflitante com a coerência, pois implica indiferença a qualquer
forma de verdade.
4. Em sentido positivo, intolerância opõe-se, por exemplo, a "cegueira diante dos valores".
5. Exclamações que evidenciam indignação diante de situações danosas à sociedade e aos
indivíduos enquadram-se no conceito de intolerância em sentido positivo.
Coerência
Assuntos relacionados à coerência aparecem com muita frequência nos concursos. Muitos
candidatos encontram dificuldade para responder às questões. Isso não ocorrerá com você. Vamos
esclarecer com muitos detalhes para você não ter surpresas no momento do concurso.
Coerência é a lógica e a organização da estrutura do texto. Ela envolve o texto como um todo
de forma que o leitor o entenda. O primeiro aspecto a ser observado é em relação à organização.
Observe o texto a seguir.
A cidade do Rio de Janeiro já foi sede de três representações significativas do poder público: prefeitura
municipal, governo estadual e governo federal. O governo estadual (...). A prefeitura municipal (...). O
governo federal (..).
(...)
03. A respeito das estruturas e dos sentidos do texto acima, assinale a opção correta.
a) Para os gregos, o tempo finda-se com a era da opulência e do declínio dos homens.
b) O termo "também" (l.8) pode ser deslocado para a posição imediatamente após a forma verbal
"Causa" (l.7), sem prejuízo para as informações do texto e para a correção gramatical.
c) Ao utilizar a expressão "Na nossa própria cultura" (l.12), o autor opõe a cultura brasileira à cultura
romana.
d) A noção de tempo, de acordo com os gregos antigos, comportava eras, que deram origem à noção
moderna do tempo fragmentado em meses.
e) Infere-se do texto que os romanos consideravam a fundação de Roma um fato muito relevante do
curso de sua história.
07. Assinale a opção incorreta a respeito da função textual das estruturas linguísticas do texto.
a) No encadeamento dos argumentos do texto, a expressão “essa concepção” (l.5) remete à ideia
anterior, de “verdade em relação ou oposição à falsidade, ilusão, aparência” (l.4-5).
b) A expressão “em outras palavras” (l.9) tem a função de introduzir uma explicação ou um
esclarecimento sobre como o conceito de ‘visão inteligível’ (l.9) deve ser compreendido.
c) O desenvolvimento das ideias do texto mostra que a expressão “gnosiologia” (l.17) deve ser
interpretada como sinônimo de ‘critério de verdade’ (l.16).
d) Na organização da coesão textual, as duas ocorrências do vocábulo “mais” (l.28 e 29) associam as
ideias das orações em que ocorrem às dos parágrafos anteriores, mas sua omissão não prejudicaria a
correção ou a coerência textuais.
TEXTO II
O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Imaginai uma coleira grossa, com a
haste grossa também, à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça, e fechada atrás com chave.
Pesava, naturalmente, mas era menos castigo que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que
andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era pegado.
Há meio século, os escravos fugiam com frequência. Eram muitos, e nem todos gostavam da
escravidão. Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar
pancada. Grande parte era apenas repreendida; havia alguém de casa que servia de padrinho, e o
mesmo dono não era mau; além disso, o sentimento da propriedade moderava a ação, porque dinheiro
também dói. A fuga repetia-se, entretanto. Casos houve, ainda que raros, em que o escravo de
contrabando, apenas comprado no Valongo, deitava a correr, sem conhecer as ruas da cidade. Dos
que seguiam para casa, não raro, apenas ladinos, pediam ao senhor que lhes marcasse aluguel, e iam
ganhá-lo fora, quitandando.
Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro a quem lho levasse. Punha anúncios
nas folhas públicas, com os sinais do fugido, o nome, a roupa, o defeito físico, se o tinha, o bairro por
onde andava e a quantia de gratificação. Quando não vinha a quantia, vinha a promessa: “gratificar-se-
á generosamente”, — ou “receberá uma boa gratificação”. Muita vez o anúncio trazia em cima ou ao
lado uma vinheta, figura de preto, descalço, correndo, vara ao ombro, e na ponta uma trouxa.
Protestava-se com todo o rigor da lei contra quem o açoitasse.
Machado de Assis. Pai contra mãe. In: John Gledson. 50 contos de Machado de Assis. São Paulo: Cia.
das Letras, 2007, p. 466-67 (com adaptações).
TEXTO III
A política de cotas visa combater uma histórica distorção existente na educação brasileira. Do
total de 1,8 milhão de alunos que conclui o ensino médio anualmente, 80% são de escolas públicas.
Contudo, nas universidades mantidas pelo Estado, eles são minoria. Para o ministro da Educação, a
adoção de cotas pode reduzir esse descompasso e não trará prejuízos a segmentos da sociedade: “Os
brancos que estudaram na escola pública têm direitos tão resguardados quanto os negros e indígenas
que estudaram em escola pública. Um grupo não está sendo privilegiado em detrimento do outro, já
que a distribuição é proporcional”.
De acordo com o Ministério da Educação, as instituições de ensino superior mantidas pelo
governo federal ofereciam 127 mil vagas em 2003. Hoje ofertam mais de 227 mil, um número pequeno
diante da gigantesca demanda, mas o suficiente para compensar ao menos 80% das vagas que
podem ser restringidas aos alunos de escolas particulares com a adoção da medida.
Das 59 universidades federais, ao menos 16 estabeleceram algum tipo de cota no vestibular. O
exemplo que mais se aproxima do projeto de lei que está em discussão no Senado é o da
Universidade Federal da Bahia (UFBA). Desde 2005, a instituição reserva 45% das vagas aos alunos
egressos de escolas públicas. As cadeiras são preenchidas de acordo com a proporção de cada etnia
na região metropolitana de Salvador. Os afrodescendentes, por exemplo, têm direito a ocupar 85% das
vagas destinadas a cotistas.
Rodrigo Martins. Critérios indefinidos. In: Carta Capital. n.º 257, 24/12/2008, p. 36-7 (com adaptações).
GABARITO
01. A
(...)
TEXTO I
No mundo, tal corno a Física o descreve, nada pode ocorrer que seja
verdadeiramente e intrinsecamente novo. Inventar-se-á, talvez, um novo engenho,
mas sempre será possível, através de análise, ver nele uma nova combinação de
elementos que serão isto ou aquilo, mas não serão novos. Novidade, em Física, é
simples novidade de arranjos e combinações. Em oposição a esse ponto, insiste o
historicismo, a novidade social, assim real, irredutível ao novo dos arranjos. Na vida
social, os mesmos fatores, postos em arranjo novo, nunca serão realmente os
mesmos velhos fatores. Onde nada se pode repetir com exatidão, a novidade real
estará sempre emergindo. E sustenta-se que esse é um significativo traço a ter em
conta quando se focaliza o desenvolvimento de novos estágios ou períodos da
História, cada um dos quais diferirá intrinsecamente de qualquer outro.
(POPPER. Karl. A miséria do historicismo.)
TEXTO II
O enriquecimento (ampliação) de uma língua consiste em "usar", "praticar" a
língua. As palavras são como peças de um complicado jogo. Jogando a gente
aprende. Aprende as regras do jogo. As peças usadas são as mesmas, mas nunca
são usadas da mesma maneira. No deixar-se carregar pelo jogo do uso somos
levados às inúmeras possibilidades da língua. As possibilidades são sempre
diferentes, nunca iguais. Mas todas as diferenças cabem na mesma identidade.
Todas as palavras figuram nos vários discursos como diferentes: diferentes são as
palavras no discurso científico, literário, filosófico, artístico, teológico. Mas cabem
sempre na mesma identidade. São expressões possíveis da linguagem.
(BUZZI, Arcangelo R. . Introdução ao Pensar)
TEXTO III
A televisão procura atender ao gosto da população a que se dirige. Assim,
acomoda essa grande massa de consumidores a antigos hábitos e tradições, em vez
de propor, aos que assistem a ela, inquietações novas e uma visão mais crítica do
mundo em que vivem.
TEXTO IV
Os pais precisariam manter certos valores básicos, que servem como modelos
para seus filhos. É preciso transmitir a estes maior noção de responsabilidade e
também lhes mostrar que é possível eles próprios, com os mecanismos de que
dispõem, mudarem algumas coisas.
TEXTO V
Mas é isso mesmo que nos faz senhores da terra, e esse poder de restaurar o
passado, para tocar a instabilidade das nossas impressões e a validade dos nossos
afetos. Deixa lá dizer Pascal que o homem é um caniço pensante. Não; é uma errata
pensante, isso sim. Cada estação da vida é uma edição que corrige a anterior, e que
será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes.
TEXTO VI
Desde o momento em que o homem, nos vôos de sua inteligência, se eleva
acima das circunstâncias ordinárias da vida, desde que o seu pensamento se lança
no espaço, possuído desse desejo ardente, dessa inspiração insaciável de atingir ao
sublime, não é possível marcar-lhe um dique, ponto que lhe sirva de marco.
TEXTO VII
As condições em que vivem os presos, em nossos cárceres superlotados, deveriam assustar
todos os que planejam se tomar delinquentes. Mas a criminalidade só vem aumentando, causando
medo e perplexidade na população.
Muitas vozes têm se levantado em favor do endurecimento das penas, da manutenção ou
ampliação da Lei dos Crimes Hediondos, da defesa da sociedade contra o crime, enfim, do que se
convencionou chamar "doutrina da lei e da ordem", apostando em tais caminhos como forma de
dissuadir novas práticas criminosas, geralmente valem-se de argumentos retóricos e emocionais,
raramente escorados em dados de realidade ou em estudos que apontem ser esse o melhor caminho
a seguir. Embora sedutora e aparentemente sintonizada com o sentimento geral de indignação, tal
corrente aponta para o caminho errado, para o retomo ao direito penal vingativo e irracional, tão
combatido pelo iluminismo jurídico.
O coro dessas vozes aumenta exatamente quando o governo acaba de encaminhar ao
Congresso o anteprojeto do Código Penal, elaborado por renomados juristas, com participação da
sociedade organizada, com o objetivo de racionalizar as penas, reservando a privação da liberdade
somente aos que cometerem crimes mais graves e, mesmo para esses, tendo sempre em vista
mecanismos de reintegração social. Destaca-se o emprego das penas alternativas, como a prestação
de serviços à comunidade, a compensação por danos causados, a restrição de direitos etc.
Contra a ideia de que o bandido é um facínora que optou por atacar a sociedade, prevalece a
noção de que são as vergonhosas condições sociais e econômicas do Brasil que geram a
criminalidade; enquanto essas não mudarem, não há mágica: os crimes vão continuar aumentando, a
despeito do maior rigor nas penas ou da multiplicação de presídio.
(adaptado de WEIS, Carlos. Dos delitos e das penas)
11. O autor do texto mostra-se
a) Identificado com o coro das vozes que se levantam em favor da aplicação de penas mais rigorosas.
b) Identificado com doutrina que se convencionou chamar "da lei e da ordem".
c) Contrário àqueles que encontram nas causas sociais e econômicas a razão maior
das práticas criminosas.
d) Contrário à corrente dos que defendem, entre outras medidas, a ampliação da Lei
dos Crimes Hediondos.
e) Contrário àqueles que defendem o emprego das penas alternativas em
substituição à privação da liberdade.
TEXTO VIII
Veja: O assédio sexual, então, é uma questão menor? Friedan: Não diria isso,
A preocupação com o assédio sexual é, apesar de todos os exagerados, uma
expressão do poder público e respeito que nós, mulheres, adquirimos nos últimos
anos. Não aceitamos mais passivamente abusos sexuais, estupro, nada. Não
admitimos mais ser vítimas no trabalho, na escola ou em qualquer outro lugar. Mas
não podemos concentrar toda a nossa energia em aspectos que são sintomas, e não
causas da desigualdade contra a qual lutamos.
17. Assinale a opção que indica uma dedução possível da entrevista acima.
a) Houve, por parte das mulheres, entre as quais a entrevistada se inclui, um momento de aceitação
passiva de injustiças.
b) O poder público tem demonstrado respeito pelo problema do assédio sexual, apesar da exploração
do fato pela imprensa, que exagera bastante.
c) O assédio sexual acaba gerando a desigualdade entre os que as mulheres, entre as quais se inclui
a entrevistada, continuem lutando pelos direitos conquistados.
d) A polêmica sobre o assédio sexual manifesta resquícios de preconceitos contra a mulher, con-
siderada sempre uma vítima na sociedade.
e) O assédio sexual, segundo a entrevistada, não deve ser uma questão menor, porque constitui o
principal fator agravante da desigualdade entre os sexos.
TEXTO IX
Porque os homens olhavam demais para a sua mulher, mandou que descesse a bainha dos
vestidos e parasse de se pintar. Apesar disso, sua beleza chamava atenção, e ele foi obrigado a exigir
que eliminasse os decotes, jogasse fora os sapatos de saltos altos. Dos armários tirou as roupas de
seda, da gaveta tirou todas as joias. E vendo que, ainda assim, um ou outro olhar viril se acendia à
passagem dela, pegou a tesoura e tosquiou-lhe os longos cabelos.
Agora podia viver descansado. Ninguém a olhava duas vezes, homem nenhum se interessava
por ela. Esquiva como um gato, não mais atravessava praças. E evitava sair.
Tão esquiva se fez, que ele foi deixando de ocupar-se dela, permitindo que fluísse em silêncio
pelos cômodos, mimetizada com os móveis e as sombras.
Uma fina saudade, porém, começou a alinhavar-se em seus dias. Não saudade de mulher.
Mas do desejo inflamado que tivera por ela.
Então lhe trouxe um batom. No outro dia um corte de seda. À noite tirou do bolso uma rosa de
cetim para enfeitar-lhe o que restava dos cabelos.
Mas ela tinha desaprendido a gostar dessas coisas, nem pensava mais em lhe agradar. Largou
o tecido numa gaveta, esqueceu o batom. E continuou andando pela casa de vestido de chita,
enquanto a rosa desbotava sobre a cômoda.
(Marina Colasanti)
TEXTO XI
Não se sabia bem onde nascera, mas não fora decerto em São Paulo, nem no
Rio Grande do Sul, nem no Pará. Errava quem quisesse encontrar nele qualquer
regionalismo: Quaresma era antes de tudo brasileiro. Não tinha predileção por esta
ou aquela parte de seu país, tanto assim que aquilo que o fazia vibrar de paixão não
eram os pampas do Sul com o seu gado, não era o café de São Paulo, não eram o
ouro e os diamantes de Minas, não era a beleza da Guanabara, não era a altura da
Paulo Afonso, não era o estro de Gonçalves Dias ou o ímpeto de Andrade Neves –
era tudo isso junto, fundido, reunido, sob a bandeira estrelada do Cruzeiro.
Logo aos dezoito anos quis fazer-se militar; mas a junta de saúde julgou-o
incapaz. Desgostou-se, sofreu, mas não maldisse a Pátria. O ministério era liberal,
ele se fez conservador e continuou mais do que nunca a amar a "terra que o viu
nascer". Impossibilitado de evoluir-se sob os dourados do Exército, procurou a
administração e dos seus ramos escolheu o militar.
Era onde estava bem. No meio de soldados, de canhões, de veteranos, de
papelada inçada de quilos de pólvora, de nomes de fuzis e termos técnicos de
artilharia, aspirava diariamente aquele hálito de guerra, de bravura, de vitória, de
triunfo, que é bem o hálito da Pátria.
Durante os lazeres burocráticos, estudou, mas estudou a Pátria, nas suas
riquezas naturais, na sua história, na sua geografia, na sua literatura e na sua política.
Quaresma sabia as espécies de minerais, vegetais e animais, que o Brasil continha;
sabia o valor do ouro, dos diamantes exportados por Minas, as guerras holandesas,
as batalhas do Paraguai, as nascentes e o curso de todos os rios. Defendia com azedume
e paixão a proeminência do Amazonas sobre todos os demais rios do mundo. Para isso ia até ao crime
de amputar alguns quilômetros ao Nilo e era como este rival do "seu" rio que ele mais implicaria. Ai de
quem o citasse na sua frente! Em geral, calmo e delicado, o major ficava agitado e malcriado, quando
se discutia a extensão do Amazonas em face da do Nilo.
Havia um ano a esta parte que se dedicava ao tupi-guarani. Todas as manhãs, antes que a
"Aurora, com seus dedos rosados abrisse caminho ao louro Febo", ele se atracava até ao almoço com
o Montoya, Arte y diccionario de ia lengua guarani ó más bíen tupi, e estudava o jargão caboclo com
afinco e paixão. Na repartição, os pequenos empregados, amanuenses e escreventes, tendo notícia
desse estudo do idioma tupiniquim, deram não se sabe por que em chamá-lo Ubirajara, Certa vez, o
escrevente Azevedo, ao assinar o ponto, distraído, sem reparar quem lhe estava às costas, disse em
tom chocarreiro: "Você já viu que hoje o Ubirajara está tardando?".
Quaresma era considerado no Arsenal: a sua idade, a sua ilustração, a modéstia e
honestidade de seu viver impunham-no ao respeito de todos. Sentindo que a alcunha lhe era dirigida,
não perdeu a dignidade, não prorrompeu em doestos e insultos. Endireitou-se, concentrou e pince-nez,
levantou o dedo indicador no ar e respondeu:
– Senhor Azevedo, não seja leviano. Não queira levar ao ridículo aqueles que trabalham em
silêncio, para a grandeza e a emancipação da Pátria.
(BARRETO, Lima. Triste Fim de Policarpo Quaresma. Rio de Janeiro: Record,
1998)
(...)
GABARITO
01. C
(...)
COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAIS - QUESTÕES DE CONCURSOS
01. No texto acima, haveria erro gramatical ou incoerência textual, caso se procedesse à
a) substituição de "na" (l. 2) por para a.
b) substituição de "e" (l. 3) por ponto-e-vírgula.
c) retirada de "em" (l. 6).
d) substituição de "de um" (l. 9) por do.
e) inserção de vírgula imediatamente antes de "e ora" (l. 10).
04. Julgue as propostas de continuidade para o texto acima expressas nos itens abaixo.
I. Assim, nem sempre o progresso significa sucesso no campo econômico ou social. Antes de
prolongarmos a comemoração de ano novo, convém fazer uma pausa para investigar esses resultados
que ainda podem nos envergonhar.
II. Contudo, antes de mais nada, para continuar com as boas notícias, devemos prosseguir com as
reformas indispensáveis. Para tanto, será necessário muito empenho e árduo trabalho, além da
vigilância permanente das instituições.
III. Por outro lado, devemos nos perguntar: isso é desenvolvimento sustentável, ou apenas um fugidio
momento positivo na longa sucessão de altos e baixos? Tudo depende de como nos comportarmos
daqui para a frente.
06. Desconsiderando os ajustes necessários nas iniciais maiúsculas e minúsculas, assinale a opção
em que a substituição proposta para o texto acima provoca erro e incoerência textual.
a) Na linha 3, porque no lugar do ponto depois de "sozinho".
b) Na linha 4, que no lugar da vírgula depois de "sei".
c) Na linha 5, por isso, precedido de vírgula, no lugar do ponto antes de "Comece".
d) Na linha 8, e no lugar da vírgula depois de "ereta".
e) Na linha 8, se no lugar de dois-pontos depois de "Pronto".
08. Assinale a opção que preenche, de forma coesa e coerente, as lacunas do texto abaixo.
O fenômeno da globalização econômica ocasionou uma série ampla e complexa de mudanças sociais
no nível interno e externo da sociedade, afetando, em especial, o poder regulador do Estado.
__________ a estonteante rapidez e abrangência __________ tais mudanças ocorrem, é preciso
considerar que em qualquer sociedade, em todos os tempos, a mudança existiu como algo inerente ao
sistema social.
(Adaptado de texto da Revista do TCU, nº 82)
a) Não obstante – com que
b) Portanto -- de que
c) De maneira que – a que
d) Porquanto – ao que
e) Quando – de que
09. Marque a sequência que completa corretamente as lacunas para que o trecho
a seguir seja coerente.
A visão sistêmica exclui o diálogo, de resto necessário numa sociedade
__________ forma de codificação das relações sociais encontrou no dinheiro uma
linguagem universal. A validade dessa linguagem não precisa ser questionada,
__________ o sistema funciona na base de imperativos automáticos que jamais foram objeto de
discussão dos interessados.
(Barbara Freytag. A Teoria Critica Ontem e Hoje, pág. 61, com adaptações)
a) em que – posto que
b) onde – em que
c) cuja – já que
d) na qual – todavia
e) já que – porque
10. Leia o texto a seguir e assinale a opção que dá sequência com coerência e
coesão.
Em nossos dias, a ética ressurge e se revigora em muitas áreas da sociedade industrial e pós-
industrial. Ela procura novos caminhos para os cidadãos e as organizações, encarando
construtivamente as inúmeras modificações que são verificadas no quadro referencial de valores. A
dignidade do indivíduo passa a aferir-se pela relação deste com seus semelhantes, muito em especial
com as organizações de que participa e com a própria sociedade em que está inserido.
(José de Ávila Aguiar Coimbra - Fronteiras da Ética, São Paulo, Editora Senac,
2002).
a) A sociedade moderna, no entanto, proclamou sua independência em relação a
esse pensamento religioso predominante.
b) Mesmo hoje, nem sempre são muito claros os limites entre essa moral e a
ética, pois vários pensadores partem de conceitos diferentes.
c) Não é de estranhar, pois, que tanto a administração pública quanto a iniciativa
privada estejam ocupando-se de problemas éticos e suas respectivas soluções.
d) A ciência também produz a ignorância na medida em que as especializações
caminham para fora dos grandes contextos reais, das realidades e suas respectivas
soluções.
e) Paradoxalmente, cada avanço dos conhecimentos científicos, unidirecionais
produz mais desorientação e perplexidade na esfera das ações a implementar, para
as quais se pressupõe acerto e segurança.
11. Assinale a opção que não constitui uma articulação coesa e coerente para as
duas partes do texto.
O capital humano é a grande âncora do desenvolvimento na Sociedade de Serviços, alimentada
pelo conhecimento, pela informação e pela comunicação, que se configuram corno peças-chave na
economia e na sociedade do século XXI.
___________, no mundo pós-moderno, um país ou uma comunidade equivale à sua densidade e
potencial educacional, cultural e científico-tecnológico, capazes de gerar serviços, informações,
conhecimentos e bens tangíveis e intangíveis, que criem as condições necessárias para inovar, criar,
inventar.
(CAMARGO, Aspásia. Um novo paradigma de desenvolvimento)
a) Diante dessas considerações,
b) É necessário considerar a ideia oposta de que,
c) Partindo-se dessas premissas,
d) Tendo como pressupostos essas afirmações,
e) Aceitando-se essa premissa, é preciso considerar que,
12. Assinale a opção que não representa uma continuação coesa e coerente para
o trecho abaixo.
É preciso garantir que as crianças não apenas fiquem na escola, mas aprendam, e o principal
caminho para isso, além de investimentos em equipamentos, é o professor. É preciso fazer com que o
professor seja um profissional bem remunerado, bem preparado e dedicado, ou seja, investir na
cabeça, no coração e no bolso do professor.
a) Qualquer esforço dessa natureza já tem sido feito há muitos anos e comprovou
que os resultados são irrelevantes, pois não há uma importação de tecnologia
educacional.
b) Tal investimento não custaria mais, em 15 anos, do que o equivalente a duas
Itaipus.
c) Esse esforço financeiro custaria muito menos do que o que será preciso gastar
daqui a 20 ou 30 anos para corrigir os desastres decorrentes da falta de educação.
d) Isso custaria muitas vezes menos que o que foi gasto para criar a infra-
estrutura econômica.
e) Um empreendimento dessa natureza exige como uma condição preliminar:
uma grande coalizão nacional, entre partidos, lideranças, Estados, Municípios e
União, todos voltados para o objetivo de chegarmos a 2022, o segundo centenário
da Independência, sem a vergonha do analfabetismo.
(Adaptado de Cristovam Buarque. O Estado de S.Paulo, 9/7/2003)
14. Indique a opção que completa com coerência e coesão o trecho a seguir.
Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e gravidade ao da
educação. Nem mesmo os de caráter econômico lhe podem disputar a primazia nos planos de
reconstrução nacional. Pois, se a evolução orgânica do sistema de um país depende de suas
condições econômicas,
a) subordina-se o problema pedagógico á questão maior da filosofia da educação e dos fins a que
devem se propor as escolas em todos os níveis de ensino.
b) é impossível desenvolver as forças econômicas ou de produção sem o preparo intensivo das forças
culturais.
c) são elas as reais condutoras do processo histórico de arregimentação das forças de renovação
nacional.
d) o entrelaçamento das reformas econômicas e educacionais constitui fator de somenos relevância
para o soerguimento da cultura nacional.
e) às quais se associam os projetos de reorganização do sistema educacional com vistas à renovação
cultural da sociedade brasileira.
15. Marque o elemento coesivo que estabelece a relação lógica entre as ideias
apresentadas neste texto adaptado de Darcy Ribeiro. Depois escolha a sequência
correta.
I – O Brasil foi regido primeiro como uma feitoria escravista, exoticamente tropical, habitada por
índios nativos e negros importados. _________, como um consulado, em que um povo sublusitano,
mestiçado de sangues afros e índios, vivia o destino de um proletariado externo dentro de uma
possessão estrangeira.
X Paralelamente
Y Depois
a) X, X, Y, X, Y
b) Y, X, X, Y, X
c) X, Y, X, Y, Y
d) X, Y, Y, Y, X
e) Y, Y, X, X, Y
16. Marque o item em que os dois períodos formam uma sequência coerente e
coesa.
a) Na virada do século XX ao XXI, um dos grandes modismos concentrou-se na
chamada globalização, apesar de há muito os historiadores tratarem de outras muito
anteriores.
Paradoxalmente, toda civilização, produto de uma ou mais culturas, tende a
transbordar ao criar seu ecúmeno, seu universo de interior a exterior.
b) Cada globalização caracteriza-se pela tecnologia, meios de produção usados,
não só da cultura material, também da intelectual, interagindo uma na outra.
Ainda que a lista seja grande, vem da China à Índia, às principais cidades
gregas, à Roma, aos mongóis, aos muçulmanos, de inicio árabes.
c) Em suas campanhas hegemônicas, até certo ponto previsíveis, nem por isso
aceitáveis por seus alvos, especialistas estadunidenses em países estrangeiros,
esmeram-se em condenar, por exemplo, o patrimonialismo de outras sociedades,
para assim ainda mais miná-las e enfraquecê-las.
Enquanto os mesmos especialistas nada dizem, nem escrevem, contra o
familismo econômico e político dentro dos Estados Unidos a ponto de dois
presidentes fazerem presidentes seus filhos: John Adams a John Quincy
Adams e George Bush a George W. Bush.
d) Quanto aos Estados, produtos e protetores das culturas e civilizações que os
geraram, eles não têm amigos, nem inimigos, e sim aliados e adversários, em
alianças, conflitos e alianças cambiantes.
Porquanto, as culturas, o que somos, e as civilizações, seus produtos, o
que fazemos, convivem – coexistindo, lutando entre si ou convivendo – em
ciclos menos ou mais longos conforme suas resistências e fecundidade.
d) A defesa da biosfera está no cerne da questão por motivos tão óbvios porém que tanto
tardaram a ser entendidos e atendidos: o planeta Terra, no qual a maior parte é água e ar, o planeta
Terra é a espaçonave na qual a humanidade viaja.
A maior dessa participação política faz parte do referido e fundamental
esforço humanista e estratégico, um em nada excluiu o outro, antes se
completam indissoluvelmente.
(Baseado em Vamiteh Chacon)
17. Os trechos abaixo constituem um texto, mas estão desordenados. Ordene-os nos parênteses
de forma coesa e coerente e indique a opção correspondente.
( ) Elas surgem dentro de uma estratégia de desenvolvimento em que o acesso ao crédito é
fundamental para o avanço da organização econômica e social dos agricultores.
( ) Este debate deve ser realizado constantemente com os agricultores,
indicando possíveis caminhos a serem seguidos de acordo com cada realidade. ( )
As cooperativas de crédito não surgem para solucionar de forma definitiva o
problema do crédito junto aos agricultores familiares.
( ) Os novos sistemas nascidos desse esclarecimento e desse debate não podem repetir erros
históricos do governo e das cooperativas tradicionais em relação ao crédito rural.
( ) Entretanto, ao mesmo tempo em que se pensa nesse tipo de crédito, é preciso ter clareza
sobre a realidade do meio rural brasileiro, em que a alternativa para muitos agricultores sem terra ou
com pouca terra não passa necessariamente por ele, mas por políticas agrárias (reforma agrária, fundo
de terras, crédito fundiário e lei de arrendamento) e de geração de empregos rurais e urbanos.
(Adaptado de Gilson Abreu Bittencourt)
a) 1, 3, 5, 4, 2
b) 2, 4, 1, 5, 3
c) 3, 5, 2, 1, 4
d) 4, 2, 3, 1, 5
e) 5, 1, 4, 2, 3
18. Os trechos abaixo constituem um texto, mas estão desordenados. Ordene-os e assinale a
opção que apresenta a sequência que organiza o texto de forma coesa e coerente.
( ) Por isso, foi apresentado à Mesa da Câmara o Projeto de Lei n' 6.680/2002, que obriga o
chefe do Executivo a encaminhar anualmente ao Congresso Nacional, como parte integrante da
Prestação de Contas de que trata a Constituição, o mapa da exclusão social brasileira.
( ) O projeto já está na comissão de Seguridade Social e Família, onde o relator apresentará seu
parecer no retorno dos trabalhos parlamentares, após as eleições. Depois, será votado
conclusivamente pela Comissão de Desenvolvimento Urbano e Interior, pela Comissão de
Constituição, Justiça e Redação.
( ) Tal proposta é classificada pelo seu autor como Lei de Responsabilidade Social, em
comparação com a Lei de Responsabilidade Fiscal — que impõe ao Governo determinadas medidas
visando atingir metas financeiras.
( ) Para comprovar essa responsabilidade social, o mapa deverá fazer um diagnóstico da
exclusão por região e estados, com base nos indicadores sociais, referentes à expectativa de vida,
renda, desemprego, educação, saúde, saneamento básico, habitação, população em situação de risco
nas ruas, reforma agrária e segurança.
( ) O principal problema que o País enfrenta na hora de definir um planejamento estratégico de
combate à exclusão social é a falta de divulgação de informações e estatísticas oficiais sobre a nossa
realidade social.
( ) Os dados de cada item serão comparados com os do ano anterior, a fim de avaliar a ação do
governo em cada área.
a) 1, 3, 5, 2, 4, 6
b) 2, I, 4, 5, 6, 3
c) 2, 6, 3, 4, 1, 5
d) 3, 4, 1, 6, 2, 5
e) 6, 3, 4, 5, 1, 2
19. As propostas abaixo dão seguimento coerente e lógico ao trecho citado,
exceto uma delas. Aponte-a.
"Provavelmente devido à proximidade com os perigos e a morte, os marinheiros dos séculos XV e
XVI eram muito religiosos. Praticavam um tipo de religião popular em que os conhecimentos teológicos
eram mínimos e as superstições muitas."
a) Entre essas, figuravam o medo de zarpar numa sexta-feira e o de olhar fixamente para o mar à
meia-noite.
b) Cristóvão Colombo, talvez o mais religioso entre todos os navegantes, costumava antepor a cada
coisa que faria os dizeres: "Em nome da Santíssima Trindade farei isto."
c) Apesar disso, os instrumentos náuticos representavam progressos para a navegação oceânica,
facilitando a tarefa de pilotos e aumentando a segurança e confiabilidade das rotas e viagens.
d) Nos navios, que não raro transportavam padres, promoviam-se rezas coletivas várias vezes ao dia
e, nos fins de semana, serviços religiosos especiais.
e) Constituíam expressão da religiosidade dos marinheiros constantes promessas aos santos, indivi-
duais e coletivas.
GABARITO
01. C
(...)
Texto
Em um cinema, um fugitivo corre desabaladamente por uma floresta fechada, fazendo
zigue-zagues. Aqui tropeça em uma raiz e cai, ali se desvia de um espinheiro, lá transpõe um
paredão de pedras ciclópicas, em seguida atravessa uma correnteza a fortes braçadas, mais
adiante pula um regato e agora passa, em carreira vertiginosa, por pequena aldeia, onde
pessoas se encontram em atividades rotineiras.
Neste momento, o operador pára as máquinas e tem-se na tela o seguinte quadro: um
homem (o fugitivo), com ambos os pés no ar, as pernas abertas em larguíssima passada como
quem corre, um menino com um cachorro nos braços estendidos, o rosto contorcido pelo
pranto, como quem oferece o animalzinho a uma senhora de olhar severo que aponta uma
flecha para algum ponto fora do enquadramento da tela; um rapaz troncudo puxa, por uma
corda, uma égua que se faz acompanhar de um potrinho tão inseguro quanto desajeitado; um
pajé velho, acocorado perto de uma choça, tira baforadas de um longo e primitivo cachimbo;
uma velha gorda e suja dorme em uma já bastante desfiada rede de embira fina, pendurada
entre uma árvore seca, de galhos grossos e retorcidos e uma cabana recém-construída, limpa,
alta, de palhas de buriti muito bem amarradas...
(...)
TEXTO I
Não se sabia bem onde nascera, mas não fora decerto em São Paulo, nem no
Rio Grande do Sul, nem no Pará. Errava quem quisesse encontrar nele qualquer
regionalismo: Quaresma era antes de tudo brasileiro. Não tinha predileção por esta
ou aquela parte de seu país, tanto assim que aquilo que o fazia vibrar de paixão não
eram os pampas do Sul com o seu gado, não era o café de São Paulo, não eram o
ouro e os diamantes de Minas, não era a beleza da Guanabara, não era a altura da
Paulo Afonso, não era o estro de Gonçalves Dias ou o ímpeto de Andrade Neves –
era tudo isso junto, fundido, reunido, sob a bandeira estrelada do Cruzeiro.
Logo aos dezoito anos quis fazer-se militar; mas a junta de saúde julgou-o
incapaz. Desgostou-se, sofreu, mas não maldisse a Pátria. O ministério era liberal,
ele se fez conservador e continuou mais do que nunca a amar a "terra que o viu
nascer". Impossibilitado de evoluir-se sob os dourados do Exército, procurou a
administração e dos seus ramos escolheu o militar.
Era onde estava bem. No meio de soldados, de canhões, de veteranos, de
papelada inçada de quilos de pólvora, de nomes de fuzis e termos técnicos de
artilharia, aspirava diariamente aquele hálito de guerra, de bravura, de vitória, de
triunfo, que é bem o hálito da Pátria.
Durante os lazeres burocráticos, estudou, mas estudou a Pátria, nas suas
riquezas naturais, na sua história, na sua geografia, na sua literatura e na sua política.
Quaresma sabia as espécies de minerais, vegetais e animais, que o Brasil continha;
sabia o valor do ouro, dos diamantes exportados por Minas, as guerras holandesas,
as batalhas do Paraguai, as nascentes e o curso de todos os rios. Defendia com azedume
e paixão a proeminência do Amazonas sobre todos os demais rios do mundo. Para isso ia até ao crime
de amputar alguns quilômetros ao Nilo e era como este rival do "seu" rio que ele mais implicaria. Ai de
quem o citasse na sua frente! Em geral, calmo e delicado, o major ficava agitado e malcriado, quando
se discutia a extensão do Amazonas em face da do Nilo.
Havia um ano a esta parte que se dedicava ao tupi-guarani. Todas as manhãs, antes que a
"Aurora, com seus dedos rosados abrisse caminho ao louro Febo", ele se atracava até ao almoço com
o Montoya, Arte y diccionario de ia lengua guarani ó más bíen tupi, e estudava o jargão caboclo com
afinco e paixão. Na repartição, os pequenos empregados, amanuenses e escreventes, tendo notícia
desse estudo do idioma tupiniquim, deram não se sabe por que em chamá-lo Ubirajara, Certa vez, o
escrevente Azevedo, ao assinar o ponto, distraído, sem reparar quem lhe estava às costas, disse em
tom chocarreiro: "Você já viu que hoje o Ubirajara está tardando?".
Quaresma era considerado no Arsenal: a sua idade, a sua ilustração, a modéstia e
honestidade de seu viver impunham-no ao respeito de todos. Sentindo que a alcunha lhe era dirigida,
não perdeu a dignidade, não prorrompeu em doestos e insultos. Endireitou-se, concentrou epince-nez,
levantou o dedo indicador no ar e respondeu:
– Senhor Azevedo, não seja leviano. Não queira levar ao ridículo aqueles que trabalham em
silêncio, para a grandeza e a emancipação da Pátria.
(BARRETO, Lima. Triste Fim de Policarpo Quaresma. Rio de Janeiro: Record,
1998)
10. Assinale a alternativa que apresenta trecho com discurso indireto livre.
a) – Pegue o brinquedo, disse a mãe.
b) O homem saiu tarde. Será que vou conseguir? Àquela hora seus familiares já estavam preocupados.
c) Todos garantiram que fariam o melhor possível.
d) Ela indagou na recepção como deveria se vestir.
e) Afirmou, de modo a não deixar dúvidas: – Já corrigi as provas.
11. Indique a opção que completa com coerência e coesão o trecho abaixo (extraído
do Manifesto dos "Pioneiros da Educação Nova").
Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e
gravidade ao da educação. Nem mesmo os de caráter econômico lhe podem disputar
a primazia nos planos de reconstrução nacional. Pois, se a evolução orgânica do
sistema cultural de um país depende de suas condições econômicas,
a) subordina-se o problema pedagógico à questão maior da filosofia da educação e dos fins a que devem se
propor as escolas em todos os níveis de ensino;
b) é impossível desenvolver as forças econômicas ou de produção sem o preparo intensivo das forças naturais;
c) são elas as reais condutoras do processo histórico de arregimentação das forças de renovação nacional;
d) o entrelaçamento das reformas econômicas e educacionais constitui fator de somenos relevância para o
soerguimento da cultura nacional;
e) às quais se associam os projetos de reorganização do sistema educacional com vistas à renovação cultural da
sociedade brasileira.
GABARITO e COMENTÁRIOS
01. E
(...)
Sílaba inicial e > usa-se x - exame, exemplo, exímio, êxodo, exumar ...
Exceções: esôfago, esotérico, (há também exotérico)
Sílaba inicial i > usa-se s - isento, isolado, Isabel, Isaura, Isidoro ...
b) No segmento final da palavra (sílaba ou sufixo), pode ser representado pelas letras z e s:
1) letra z - se o fonema /z/ não vier entre vogais:
az, oz - (adj. oxítonos) audaz, loquaz, veloz, atroz ...
iz, uz - (pal. oxítonas) cicatriz, matriz, cuscuz, mastruz ...
Exceções: anis, abatis, obus.
ez, eza - (subst. abstratos) maciez, embriaguez, avareza ...
c) Verbos:
Terminação izar - derivados de nomes sem "s" na última sílaba:
Æ utilizar, avalizar, dinamizar, centralizar ...
- cognatos (derivados com mesmo radical) com sufixo "ismo":
Æ (batismo) batizar - (catecismo) catequizar ...
(...)
04. Marque a única opção em que todas as palavras sejam completadas com x.
a) en...oval – ...ingar – cai...eiro – en...ergar – ...ícara
b) pu...ar – a...atar – en...ovia – in...ado – a...incalhar
c) pi...e – dei...ar – en...ugar – ...adrez – bai...o
d) ...u...u – amei...a – cartu...o – deslei...ada – to...a
e) pe...incha – co...a – bro...e – en...ada – en...arcado
07. "Pesquisar" termina em "isar". Assinale, nos itens abaixo, aquele com erro neste sentido.
a) paralizar — suavizar — improvisar
b) catequizar — batizar — amortizar
c) amenizar — alisar — deslizar
d) sintonizar — catalisar — analisar
e) sintetizar — agonizar — contemporizar
10. A palavra viço grafa-se com ç. Aponte a alternativa em que invariavelmente acontece o mesmo.
a) ascen_ão — ca_ador — so_ego — ara_á
b) a_ude — feiti_o — carro_a — a_entar
c) gra_a — exce_ão — discu_ão — gar_a
d) exce_o — fraca_o — barca_a — dan_ar
e) n.d.a.
11. Assinale a opção em que todas as palavras se completam com a mesma letra (l ou u).
a) a...godão — a...mento — a...êntico – a...tópsia
b) a...ditivo — a...tor — a...gúrio — a...tomático
c) a...tivo — ca...ças — a...to-falante — ca...tela
d) a...cançar — a...bumina — a...queire — a...tomóvel
e) n.d.a.
13. Indique a alternativa em que todos os pontilhados devem ser preenchidos com a letra j.
a) o...eriza — cafa...este — ...ente — gara...em.
b) gor...eta — ultra...e — la...e — laran...eira.
c) man...ericão — ...eito — here...e — verti...em.
d) ti...ela — en...eitar — ma...estade — vir...em.
e) mon...e — lambu...em — boba...em — can...ica.
14. Assinale a relação em que todas as palavras devem ser escritas com a letra indicada entre
parênteses.
a) ...afariz – pra...e – me...er – ca...imbo (x)
b) pr...vilégio – discr...ção – ...mpecilho – quas.. (i)
c) obse...ão – a...ucena – distor...ão – inso...o (ç)
d) ultra...e – ...fria – ri...eza – re...eitar (j)
e) ojeri...a – finali...ar – prima...ia – sensate... (z)
22. Preencha com x ou ch: ...ingar, ...iste, en...aqueca, mo...ila, ca...umba, fle...a. A sequência certa há de
ser
a) ch – ch – ch – x – x – x
b) x – x – x – x – x – x
c) x – ch – x – ch – ch – ch
d) x – ch – x – ch – x – ch
e) x – x – x – ch – x – x
23. Assinale a alternativa que preencha os espaços com palavras grafadas corretamente.
"Não se concebem mais _________ de regalias. O _________ entre os grupos levou-os à
_________ de todos os _________ ".
a) excessos – consenso – extinção – privilégios
b) exceços – concenso – extinção – privilégios
c) escessos – consenso – extinção – previlégios
d) escessos – consenso – extinsão – previlégios
e) exceços – consenso – extinção – previlêgios
GABARITO
01. A
(...)
Atenção!
Embora tenha sido abolida pelo novo Acordo Ortográfico, será aceita até 2012 (Dec. n° 6.583,
de 29/9/2008) a acentuação dos ditongos abertos éi e ói em palavras paroxítonas.
Portanto, até aquela data, ainda será aceita a acentuação de palavras como alcatéia, apnéia,
bóia, jóia, tipóia...
2) Acentuam-se o i e o u dos hiatos quando sozinhos ou seguidos de s, desde que não sejam
precedidos de ditongos ou seguidos de nh: caí, saída,. faísca, baú, gaúcho, balaústre...
Exceção: Acentuam-se, no entanto, os precedidos de ditongos, se estiverem em palavras oxitonas:
Piauí, teiú, teiús, tuiuiú, tuiuiús...
Atenção!
Embora tenha sido abolida pelo novo Acordo Ortográfico, será aceita até 2012 (Dec. n° 6.583,
de 29/9/2008) a acentuação dos hiatos precedidos de ditongos em palavras paroxítonas.
Portanto, até aquela data, ainda será aceita a acentuação de palavras como feiúra, baiúca...
(...)
04. Assinale a alternativa que apresente apenas palavras acentuadas pela mesma regra de "hífen".
a) lápis – lótus – tênis
b) avós – dominó – paletó
c) pôr – pôde – fôrma
d) herói – faróis – asteroide
e) pólen – sêmen – abdômen
05. O acento gráfico das palavras pudico, interim, aerolito, aerodromo foi, aqui, caso ocorra, propo-
sitadamente eliminado. Quanto ao acento tônico, a classificação de cada vocábulo é
a) paroxítona – paroxítona – paroxítona – paroxítona
b) paroxítona – proparoxítona – proparoxítona – pro-paroxítona
c) proparoxítona – proparoxítona – proparoxítona – proparoxítona
d) paroxítona – proparoxítona – proparoxítona – paroxítona
e) paroxítona – oxítona paroxítona – proparoxítona
08. Em:
"Sei de uma que está fazendo serviço de escritório, proibida de voar por motivo de saúde, e me
pergunto que podem significar para ela esses papéis, esses telefonemas, esses recados que
circulam num plano de cimento invariável, enquanto, sobre a plataforma das nuvens, suas irmãs
caminham, ao mesmo tempo, singelas e majestáticas".
I – "escritório" e "invariável" são paroxítonas que recebem acento por idêntica razão.
II – "papéis" recebe acento gráfico porque é oxítona terminada em ditongo.
III – "está" é acentuada graficamente porque todas as oxítonas devem ser acentuadas.
a) Estão corretas as afirmações I e II.
b) Estão corretas as afirmações II e III.
c) Estão corretas as afirmações I e III.
d) Todas as afirmativas estão corretas.
e) Todas as afirmativas estão incorretas.
09. Assinale a opção que, em conformidade com o Acordo Ortográfico (1990), preencha corretamente
as lacunas.
"Eles ________ em tudo quanto ________ ".
a) creem – leem
b) crem – lem
c) crêm – lêm
d) crêem – lêem
e) crêem – lêm
10. Assinale a opção que, em conformidade com o Acordo Ortográfico (1990), preencha corretamente
as lacunas.
"Se ela crê, eles não ________: se ela vê, eles não ________; opostos em tudo, ________ apenas
a mesma opinião como liame".
a) creem – vêm – tem
b) crêem – vêm – têm
c) creem – vem – têm
d) crêem – veem têm
e) creem – veem – têm
12. Assinale a opção em que todas as palavras são acentuadas pela mesma regra de alguém,
inverossímil e caráter, respectivamente
a) hífen, também, impossível.
b) armazém, útil, açúcar.
c) têm, anéis, éter.
d) há, impossível, crítico.
e) pólen, magnólias, nós.
16. Assinale a alternativa em que todos os vocábulos são acentuados por serem oxítonos.
a) paletó – avô – pajé – café – jiló
b) parabéns – vêm – hífen – saí – oásis
c) vovô – capilé – Paraná – lápis – régua
d) amém – amável – filó – porém – além
e) caí – aí – ímã – ipê – abricó
17. Os dois vocábulos de cada item não devem ser acentuados graficamente.
a) herbivoro – ridiculo
b) logaritmo – bambu
c) miudo – sacrificio
d) carnauba – germen
e) biblia – hieroglifo
18. Indique a alternativa que contém as palavras cuja acentuação gráfica está correta.
a) vírus – tórax – voo – arguição – rainha
b) virus – torax – voo – arguição – rainha
c) vírus – torax – vôo – arguição – rainha
d) virus – torax – voo – arguição – rainha
e) virus – tórax – voo – arguição – rainha
GABARITO
01. B
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