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Anais do 47º Congresso Brasileiro do Concreto -


CBC2005
Setembro / 2005 ISBN 85-98576-07-7
Volume X - Pavimentos de Concreto
Trabalho 47CBC0521 - p. X1-16
© 2005 IBRACON.

ANÁLISE COMPARATIVA DO COMPORTAMENTO DE PLACAS DE


CONCRETO UTILIZADAS NA PAVIMENTAÇÃO: CARGA CENTRAL
COMPARATIVE ANALYSIS OF RIGID CONCRETE PLATE BEHAVIOR USED IN
PAVEMENTS: CENTRAL LOADING

Lezzir Ferreira Rodrigues (1); Gilson Natal Guimarães (2)

(1) Aluna de doutorado em Engenharia de Estruturas, EESC-USP


email: lezzir@sc.usp.br

(2) Professor Doutor, Escola de Engenharia Civil, Universidade Federal de Goiás


email: gilson@eec.ufg.br

Escola de Engenharia Civil, Universidade Federal de Goiás, Praça Universitária, s/n, Setor Universitário,
CEP 74605-220, Goiânia, GO, Brasil.

Resumo
Será apresentada neste artigo uma análise comparativa sobre o comportamento experimental de placas de
concreto simples e armado apoiadas sobre fundação elástica. Foram ensaiadas cinco placas quadradas de
concreto, que possuíam as dimensões de 300 cm x 300 cm x 10 cm (grupo 1) e 100 cm x 100 cm x 3,4 cm
(grupo 2). A comparação se baseou no comportamento da placa quando carregada estaticamente no seu
centro geométrico em função do deslocamento vertical do ponto central, dos estágios de carregamento e
das relações momento-curvatura das peças ensaiadas. Para o mesmo deslocamento vertical, a relação
P/Pu,EXP permaneceu predominantemente a mesma para as placas dos dois grupos, mostrando um
comportamento representativo entre elas. Contudo, em termos numéricos, os resultados obtidos para as
placas do grupo 2 não forneceram valores razoáveis, restringindo a comparação entre os dois grupos de
placas com relação apenas ao seu comportamento. Segundo a distribuição de momento fletor, o momento
positivo máximo acentuado ocorreu sobre a roda. Foi notável o ganho na capacidade resistente da placa
com a adição de armadura mínima de flexão.
Palavras-Chave: pavimentação; pavimento de concreto; placas de concreto; pavimento de concreto estruturalmente
armado; fundação elástica.

Abstract
This article presents a comparative analysis of the experimental behavior of plain and reinforced concrete
slabs on elastic foundation. Five square slabs of concrete were tested with dimensions 300 cm x 300 cm x
10 cm (group 1) and 100 cm x 100 cm x 3,4 cm (group 2). The comparison based on slab behavior when
statically loaded in geometric center as a function of the vertical center displacement and of the relationships
moment-curvature of the specimens. For the same vertical displacement, the relationship P/Pu,EXP stayed
predominantly the same for the slabs of the two groups, showing representative slab behavior. However, in
numeric terms, the results obtained for the slabs of the group 2 didn't supply reasonable values, restricting
the comparison among the two groups of slabs with relationship just to its behavior. According to moment
distribution, the maximum positive moment occurred at the load application point. The gain in the resistant
capacity of the slab with the addition of minimum reinforcement was notable.
Keywords: pavement; concrete pavement; concrete slabs; structurally reinforcement concrete pavement; elastic
foundation.

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1 Introdução

O revestimento de um pavimento rígido é uma estrutura dimensionada para acomodar o


carregamento proveniente do tráfego. Pode ser composto por um conjunto de placas
espaçadas ou não, e que podem ser ligadas entre si por mecanismos de transferência de
carga. Os efeitos provocados pelo posicionamento do carregamento nas placas de
concreto são avaliados normalmente em duas posições distintas: cargas aplicadas no
interior da placa - posição 2 da figura 1, e cargas aplicadas no bordo longitudinal livre -
posição 3, que provocam solicitações duas vezes maiores que a primeira situação.
Entende-se por bordo longitudinal livre o bordo sem dispositivos de transferência de
carga, ou seja, desprotegido. As três situações podem ocorrer para o carregamento
aplicado em uma placa de concreto isolada, resultando em momentos atuantes diferentes
entre si.

Figura 1 - Posição das cargas em relação às juntas

A distribuição da carga aplicada em um pavimento de concreto tende a cobrir uma


extensa área de solo, figura 2a, embora grande parte da capacidade estrutural seja
suportada pelas placas que compõe o pavimento. Por esta razão variações no suporte da
fundação do pavimento não influenciam tanto em sua resistência. Já nos pavimentos
flexíveis, figura 2b, a distribuição das pressões nas camadas de solo subjacentes ao
revestimento envolve uma pequena área, necessitando de um maior número de camadas
para reduzir as deformações.

(a) (b)

Figura 2 - Distribuição das pressões nas camadas de solo subjacentes ao revestimento de (a) concreto; (b)
asfalto

O estudo restringiu-se à análise do comportamento estrutural das peças, sem, contudo,


observar o desempenho das juntas. Foi levado em consideração o posicionamento das

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cargas atuantes em pavimentos de aeroportos e pisos industriais, ou seja, no interior e


bordo longitudinal livre.

Será apresentada, neste artigo, uma análise comparativa sobre o comportamento de


placas de concreto simples e armado apoiadas sobre base elástica, inicialmente
ensaiadas, e submetidas a carregamento estático apenas no seu interior (posição 2).
Essa análise, desenvolvida do ponto de vista da engenharia estrutural, detectou as
diferenças de comportamento e capacidade resistente das placas de concreto simples e
armado.

2 Metodologia para dimensionamento das placas


2.1 Teoria das charneiras plásticas segundo Losberg (1960)

Um extenso processo investigativo a respeito do comportamento e métodos de cálculo


para pavimentos de concreto em aeroportos e estradas foi iniciado por Anders Losberg na
Suécia e condensado no seu livro Structurally Reinforced Concrete Pavements, publicado
no ano de 1960.

Através de experimentos realizados em laboratório e em campo, LOSBERG (1960)


constatou que ações como cargas de pneus ou cargas concentradas de armazenagem,
fundações de maquinário, etc., afetavam o desempenho de pavimentos pelo aumento dos
esforços de tração, devendo ser consideradas no dimensionamento. Essas ações
provocam momentos fletores na placa, conforme apresentado na figura 3. As curvas A e
B da figura apresentam a distribuição de momento segundo a teoria da elasticidade, para
pequenos e grandes carregamentos, respectivamente. A curva C mostra a distribuição de
momentos depois que a placa entrou no regime plástico, com início do escoamento do
aço.

Figura 3 – Distribuição de momentos devido à carga concentrada


Fonte: LOSBERG (1978)
A determinação da carga circular no interior da placa, segundo a teoria das charneiras
plásticas, será:

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P 1 ⎛ 2r ⎞
m + m' = − p0 r0 2 ⎜ 1 − 0 ⎟ (Equação 1)
2π 2 ⎝ 3 t ⎠
⎛ 3r ⎞ P c
po ro 2 ⎜ 1 − o ⎟= (Equação 2)
⎝ 4 t ⎠ π ro

onde ro corresponde ao raio da fissuração medido (vide Tabela 1); t é o raio da base do
4 3
9 ro 3r
cone de pressão sobre a placa e equivalente a t 2 + − o = 0 (vide figura 4); c é o
4ct c
raio de distribuição da carga com carregamento em área circular; m é o momento fletor
positivo último; m' é o momento fletor negativo último; e po é o valor de pico do cone de
3P
pressão resultante do solo e equivalente a .
π t2

Tabela 1 -Raio da fissuração e distribuição de carga

Placa P1 P3 P1A P3A P3B

ro cm 46 32,5 - 15,9 13,7

c cm 13,8 13,8 4,7 4,7 4,7

Figura 4 – Linha de ruptura para placa apoiada no solo.


Fonte: LOSBERG (1978)
2.2 Ruptura por punção

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2.2.1 Punção em lajes segundo a NBR 6118 (2003)

Punção, segundo a NBR 6118 (2003) corresponde ao estado limite último determinado
por cisalhamento no entorno de forças concentradas. O modelo de cálculo proposto faz
verificação quanto ao cisalhamento em duas ou mais superfícies críticas, e somente para
as placas dotadas de armadura de flexão. A formulação não se aplica a placas de
concreto simples.

A primeira superfície crítica, visualizada na posição 2 da figura 5, denominada C ,


apresenta o perímetro do pilar ou da carga concentrada no interior de uma laje (equação
3) . Verifica-se indiretamente a tensão de compressão diagonal do concreto através de
uma tensão de cisalhamento.

A segunda superfície crítica, denominada C ' , corresponde ao perímetro u distante 2d do


pilar ou da carga concentrada, sendo d a altura útil da laje ao longo do contorno critico C '
na posição 2 (equação 4). Verifica-se a capacidade de ligação a punção, associada à
resistência à tração diagonal e à uma tensão de cisalhamento no perímetro C ' .

Figura 5 – Perímetros críticos para pilares internos (posição 2)

uC = 2(c1 + c2 ) (Equação 3)

uC ' = 2(c1 + c2 ) + 4π d (Equação 4)

onde c1 e c2 correspondem aos lados do pilar de área A .

A tensão atuante ou solicitante nas superfícies críticas, para carregamento simétrico,


corresponde a:

Fsd
τ sd = (Equação 5)
u.d

dx + d y
onde τ sd é a tensão tangencial atuante, de cálculo; d = altura útil da laje ao longo
2
do contorno critico C ' , distante 2d da área de aplicação da força, sendo d x e d y alturas

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úteis nas duas direções ortogonais da armadura; u é o perímetro do contorno critico C ' ;
Fsd é a força ou reação concentrada, de cálculo.

A tensão resistente na face do pilar, superfície crítica C , corresponde a:

⎛ f ck ⎞
τ rd 2 = 0,27⎜1 − ⎟ f cd (Equação 6)
⎝ 250 ⎠

onde τ rd 2 é a tensão resistente na superfície crítica C ; f cd é a resistência de cálculo do


concreto à compressão.

A tensão resistente a uma distancia 2d da face do pilar, superfície crítica C ' , corresponde
a:

⎛ 20 ⎞3
τ rd 1 = 0,13⎜⎜1 + 2 ⎟ 100 ρ f ck (Equação 7)
⎝ d ⎟⎠

onde τ rd 1 é a tensão resistente na superfície crítica C ' ; d é a altura útil da laje ao longo do
contorno crítico C ' , em cm; ρ é a taxa geométrica de armadura de flexão aderente.

A verificação da resistência à punção é obtida quando a tensão solicitante é menor ou


igual à tensão resistente (equações 8 e 9), respectivamente para as superfícies críticas C
e C ' , para trechos sem armadura de punção.

τ sd ≤ τ rd 2 (Equação 8)

τ sd ≤ τ rd 1 (Equação 9)

2.2.2 Cargas de ruptura em parafusos de ancoragem no concreto simples

O parafuso de ancoragem (“anchor bolt”) consiste em um parafuso com cabeça, ancorado


no concreto simples, conforme apresentado na figura 6. Quando tracionado por uma força
P a cabeça do parafuso tende a provocar uma superfície cônica de ruptura no concreto,
semelhante à obtida por puncionamento.

Segundo KLINGNER & MENDONÇA (1982), seu comportamento depende da tensão de


ruptura do aço ancorado, da ruptura do concreto ao longo de uma superfície de ruptura
cônica, ou ainda, da ruptura local em torno da cabeça do parafuso ancorada no concreto,
para uma pequena distancia d e da extremidade ou bordo. Esse tipo de ligação é muito
utilizada para conectar peças metálicas às estruturas de concreto.

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Figura 6 – Seção típica de parafuso de ancoragem embutido no concreto

O método de cálculo proposto pela TENNESSEE VALLEY AUTHORITY apud FARROW,


FRIGUI & KLINGNER (1996), baseia-se na ruptura do concreto. Calcula-se a tensão de
tração diretamente paralela à carga aplicada, que atua sobre a área projetada de uma
superfície de ruptura em tronco de cone. O ângulo do tronco de cone pode variar entre
25º para pequeno engastamento e 45º para grande engastamento, excluindo a área
projetada da cabeça do parafuso. A formulação não se aplica a placas de concreto
armado.

A tensão de tração atuante deve ser menor ou igual à máxima resistência à tração do
concreto. A resistência à tração f t é suposta igual a 4 2 f c (em psi). O cálculo da
capacidade resistente do cone será:

⎛ L ⎞ ⎡⎛ Le ⎞ ⎤
Pc = 0,96 fc ⎜ e ⎟ ⎢⎜ ⎟ + dh ⎥ (Equação 10)
⎝ tan θ ⎠ ⎣⎝ tan θ ⎠ ⎦

onde Pc é a capacidade do cone de concreto; f c é a resistência à compressão do


concreto no dia do teste; Le é o comprimento efetivo do parafuso engastado no concreto
(ou espessura da placa); d h é o diâmetro nominal da cabeça do parafuso (ou largura da
roda); θ é o ângulo do tronco de cone ( θ = 45° para Le ≥ 127mm e θ = 28° + (0,13386 Le )°
para Le ≤ 127mm ).

3 Procedimento Experimental
3.1 Considerações gerais

Foram ensaiadas cinco placas quadradas de concreto, que possuíam as dimensões de


300 cm x 300 cm x 10 cm (grupo 1) e 100 cm x 100 cm x 3,4 cm (grupo 2).

O carregamento foi submetido no interior da placa, em seu centro geométrico, de maneira


gradual até a ruptura da peça, por meio de atuador hidráulico com capacidade de 1000 kN
(grupo 1) e 300 kN (grupo 2), depois de aplicado um pré-carregamento para estabilização
do sistema. A distribuição da carga sobre a superfície foi feita mediante utilização de
placa metálica de 20 cm x 30 cm nas placas maiores e 7 cm x 10 cm nas placas menores,
simulando a área de contato de uma roda de veículo automotivo.

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Tanto as propriedades físicas dos materiais quanto o coeficiente de recalque k e a


espessura do solo da fundação, permaneceram constantes. As variáveis adotadas foram
taxa de armadura e espessura das placas. A Tabela 2 apresenta resumidamente alguns
parâmetros de projeto utilizados no dimensionamento das placas.

Tabela 2 - Parâmetros de projeto para o dimensionamento das placas

Placas
Parâmetros de Projeto Grupo 1 Grupo 2 Unidade
(P1 e P3) (P1A, P3A, P3B)
Comprimento da placa 3 000 3 000 mm
Largura da placa 100 100 mm
Espessura do pavimento (h) 100 34 mm
Módulo de elasticidade do concreto ( E c ) 28 160 28 160 MPa
Coeficiente de Poisson do concreto (ν) 0,20 0,20
Resistência à tração na flexão do concreto ( f ct , f ) 3,5 3,5 MPa
Resistência característica à compressão do concreto
35 35 MPa
( f ck )
Resistência característica de escoamento do aço de
armadura passiva ( f yk ) 500 600 MPa

Módulo de Elasticidade do aço ( E s ) 210 000 210 000 MPa


Largura da placa metálica ou de roda (W) 200 70 mm
Comprimento da placa metálica ou de roda (L) 300 100 mm
Diâmetro da barra de aço adotada em placas armadas
6,3 3,4 mm
(φ )
Cobrimento nominal da armadura ( c nom ) 20 7 mm
Coeficiente de recalque da fundação ( k ) 33,3 33,3 MPa/m

As armaduras das placas do grupo 1 foram dimensionadas com armadura mínima na face
inferior e resistência à compressão do concreto ( f ck ) de 35 MPa. As dimensões nominais
de projeto das placas do grupo 2 como: comprimento, largura e espessura,
permaneceram proporcionais às dimensões do grupo 1, na relação 1:3.

A Tabela 3 apresenta as principais variáveis adotadas para as placas ensaiadas e o


programa de ensaios.

Tabela 3 - Programa de ensaios e variáveis adotadas

Resistência
característica à Espessura da Taxa de armadura em uma
compressão do placa direção
Placas Tipo concreto (h) ( 00 )
( f ck )
MPa mm Face inferior Face superior
P1 Concreto simples 100 - -
35
P1A Concreto simples 34 - -
P3 Concreto armado 100 0,284 -
P3A Concreto armado 35 34 0,179 -
Concreto com
P3B 34 0,179 0,107
armadura dupla

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3.2 Instrumentação

Extensômetros elétricos para o concreto e relógios comparadores foram posicionados na


mediana das placas (eixo x) e principalmente no eixo diagonal entre 2º e 4º quadrantes,
conforme apresentado na figura 7. Os extensômetros elétricos colados nas barras de aço
das placas apenas do grupo 1 foram posicionados, basicamente, no 1º e 4º quadrantes.

Figura 7 - Eixos cartesianos das placas

A leitura dos relógios comparadores foi efetuada até cerca de 80% da carga de ruptura
das placas. As leituras das deformações específicas tanto da superfície do concreto como
das barras de aço foram determinadas por extensômetros ligados a sistemas eletrônico e
manual de aquisição de dados. Os incrementos de carga aplicada à estrutura foram lidos
gradualmente por um sistema eletrônico de aquisição de dados.

4 Resultados
4.1 Comportamento carga aplicada no centro x flecha central

Através da comparação entre os modelos dos grupos 1 e 2 foi possível estabelecer as


diferenças principais no comportamento do sistema placa- fundação.

As curvas carga aplicada no centro x flecha central correspondentes às placas P1, P1A,
P3, P3A e P3B são apresentadas no gráfico da figura 8, que mostra o comportamento das
peças submetidas à carga estática. As flechas centrais foram obtidas pela leitura dos
deslocamentos verticais no centro da placa ( Dcentral – denominação genérica).

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400

P3
Carga aplicada no centro (kN)
300

200

P1

100
P3A
Detalhe 1
P3B
0
0 2 4 6 8 10 12 14

Flecha central (mm)

Figura 8 – Gráfico carga aplicada no centro x flecha central

A fase elástica das placas foi bem definida pela linearidade do trecho no Estágio I, com
um comportamento inicial bastante similar. A partir da carga correspondente à primeira
fissura as curvas, referentes às placas armadas P3, P3A e P3B, mudaram de inclinação
indicando uma perda de rigidez. Registrou-se, desse modo, um aumento maior na flecha
sem haver redução na carga imposta.

Após a fissuração, observou-se uma similaridade na forma das curvas carga aplicada no
centro x flecha central para as placas P3A e P3B, apresentadas no detalhe 1 da figura 9.
Não houve grande diferença entre as flechas medidas nas duas placas até o colapso,
assim como as magnitudes das cargas de ruptura.
25

P3
Carga aplicada no centro (kN)

20

15

P3B

10

P3A
P1A
5

0
0 2 4 6 8 10 12 14

Flecha central (mm)

Figura 9 – Detalhe 1 do gráfico carga aplicada no centro x flecha central

Foi verificado um aumento na resistência das placas de concreto, com a adição de


armadura de flexão, apresentado na Tabela 4. Entre as placas P1 e P3 esse aumento
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correspondeu à cerca de 200%, enquanto que entre as placas P1A e P3A esse aumento
foi da ordem de 100%.

Não foi verificado um aumento significativo na carga de ruptura das placas dotadas de
armadura dupla em relação às placas com armadura simples. Este tímido desempenho
parece ser devido às condições desfavoráveis do espaçamento vertical das armaduras
positivas e negativas, na ordem de 13 mm, além da dificuldade de execução do ensaio, já
que a possível adição de pequenos erros experimentais no conjunto deve ter resultado
em valores absolutos inexatos.

A metodologia empregada por LOSBERG (1960), que dimensiona o pavimento como uma
placa armada e despreza a resistência à tração do concreto, apresentou valores bastante
próximos dos obtidos experimentalmente, com exceção de P1A, P3B.

Já os métodos de ruptura por punção, segundo a NBR 6118 para placas de concreto
armado, e do Parafuso de Ancoragem para placas de concreto simples mostraram-se
eficientes em relação ao carregamento aplicado no centro geométrico para as placas P3 e
P1. Os valores das cargas de ruptura teóricas foram próximos às experimentais, com
diferença inferior a 10%. O mesmo não ocorreu para todas as placas pertencentes ao
grupo 2.

Tabela 4 – Cargas de ruptura experimentais e teóricas

Procedimento
Procedimento Experimental
Teórico

Método Método Parafuso de Punção


Carga da 1ª Carga de
Placa Losberg Ancoragem NBR 6118
fissura Ruptura
(1960) (1984) (2003)

Pfiss , EXP Pu , EXP Pu ,TEO Pu ,TEO Pu ,TEO

kN KN kN kN kN
P1 220,0 220,0 224,16 197,4 -
P3 200,0 655 651,55 - 590,44
P1A 12,8 12,8 6,80 43,36 -
P3A 7,0 25,9 29,05 - 16,14
P3B 10,0 24,8 35,85 - 15,33

4.2 Comportamento P / Pu , EXP x flecha central

A análise do comportamento P / Pu , EXP x flecha central das placas P3 e P3A, apresentada


no gráfico da figura 10, mostra similaridade entre as duas curvas. Para o mesmo
deslocamento vertical, a relação P / Pu , EXP permanece predominantemente a mesma para
as duas placas em questão. Deste modo, a placa P3A, apesar de contar com dimensões
reduzidas na relação 1:3, mostrou comportamento representativo em relação à sua
homônima.

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Na fase elástica, a placa P3B possuiu comportamento semelhante ao das placas P1 e


P1A, com uma variação praticamente linear das flechas em relação à carga aplicada P. A
partir da solicitação na armadura, com a perda da resistência do concreto à tração na
flexão, P3B passou a se assemelhar com as duas outras placas armadas, P3 e P3A,
contendo grandes deslocamentos para pequena variação na relação P / Pu , EXP .

A curva da placa P1 apresentou deslocamentos verticais próximos e um pouco superiores


à P1A, para uma mesma taxa de carregamento. No entanto, a semelhança no
comportamento indica a boa representatividade de uma peça com dimensões de 100 cm
x 100 cm x 3,4 cm em relação a uma com dimensões proporcionais maiores.

1,0
P1
P3B

0,8
P3A
P/PuEXP (kN/kN)

0,6
P1A

0,4

0,2 P3

0,0
0 2 4 6 8 10 12 14
Flecha central (mm)

Figura 10 – Gráfico P / Pu , EXP x flecha central

4.3 Momento x curvatura

A relação momento fletor x curvatura ( M x ϕ ), apresentada na figura 11 para a placa P3,


foi determinada pelo programa gráfico de análise das seções de concreto armado
Response-2000, versão 1.0.5 (2000). Embora M x ϕ não tenha sido determinada
experimentalmente acredita-se que a curva apresenta um comportamento bastante similar
ao comportamento real.

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12

10
M P3
Momento fletor (kNm)

0
0 10 20 30 ϕ r 40 50 60 70 80
Curvatura ϕ (x10-6/mm)

Figura 11 – Relação momento x curvatura obtida pelo programa Response 2000

Com o aumento do momento a fissuração do concreto reduz a rigidez da seção. O


comportamento da seção depois a fissuração é dependente principalmente da área de
aço, e para seções dotadas de armadura mínima (que é o caso deste estudo) resulta em
uma curva M x ϕ praticamente linear até o ponto de escoamento do aço. Com o
escoamento do aço, um grande incremento na curvatura ocorre para momentos fletores
praticamente constantes.

Observa-se inicialmente, na figura 11, que a placa P3 tem um crescimento na curva


M x ϕ para valores de momentos de até 8,4 kNm. A partir deste instante o momento
permanece praticamente constante, enquanto a curvatura cresce consideravelmente,
visualizado no trecho quase horizontal das curvas. Este fato indicaria a formação de
charneiras plásticas.

O valor plotado no diagrama de momento fletor, mostrado a seguir, foi obtido


determinando-se inicialmente a curvatura real ( ϕ r ) de uma seção estudada, medida por
uma seção de deformação da peça instrumentada, figura 12, e equivalente a:

1 − εc + εs
= φr = (Equação 11)
ρ d

onde ρ é o raio de curvatura, medido até a superfície neutra; ϕ r é a curvatura real da


superfície neutra; ε c é a deformação específica do concreto, em x10 −6 mm/mm; ε s é a
deformação específica do aço, em x10 −6 mm/mm.

A curvatura é variável ao longo do comprimento da peça devido à variação da altura da


linha neutra e da deformação entre as fissuras. Observa-se que E1bc corresponde ao
extensômetro elétrico colado na superfície do concreto, e E1axs corresponde ao

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extensômetro elétrico colado na armadura, ambos posicionados imediatamente próximos


ao ponto de aplicação da carga.

Tendo a curvatura real das peças obtém-se o respectivo momento fletor através do
gráfico da figura 11.

E1bc
100

Altura da seção (mm) 80

60

40

20 E1axs

0
-200 -100 0 100 200 300 400

10kN 70kN
140kN 200kN

Deformação específica (x10-6mm/mm)

Figura 12 - Seção de deformação da placa P3

A partir de uma extremidade da placa foram marcados os valores de M em relação a uma


distância x , para a construção do diagrama de momento fletor da placa armada,
conforme apresentado na figura 13. A figura apresenta a distribuição de momento fletor
para vários estágios de carregamento, tendo sido simulado um carregamento concentrado
de roda no ponto central da placa. O momento positivo máximo acentuado ocorre sobre a
roda, em comparação com o momento negativo aplainado nos bordos, que ocorre
radialmente e a uma certa distância do ponto de carregamento.

Considerando-se que a placa P3 se comporta de maneira simétrica em todos os quatro


quadrantes foi possível plotar o diagrama de momento fletor ao longo de todo o
comprimento da placa.

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-10
0,01Pu
-8 0,10Pu
-6 0,15Pu
Momento Fletor (kNm)

0,20Pu
-4
0,25Pu
-2
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 0,30Pu
0

10

Distância (m)

Figura 13 – Diagrama de momento fletor para placa P3

Com base na análise do diagrama de momentos fletores em P3 o momento máximo


positivo ocorre sob o ponto de aplicação da carga, no centro geométrico. O momento
máximo negativo ocorre à cerca 1/3 da extremidade da placa, declinando até zero. O
comportamento de P3 foi similar ao determinado por LOSBERG (1978) como apresentado
na figura 3.

5 Conclusão

A seguir listamos as principais conclusões deste trabalho:

• A semelhança no comportamento indica a boa representatividade de uma peça com


dimensões de 100 cm x 100 cm x 3,4 cm (grupo 2) em relação a uma com dimensões
proporcionais superiores, para as mesmas condições de carregamento imposto e
propriedades da fundação.

• Em termos numéricos os resultados obtidos para as placas do grupo 2 não


forneceram valores razoáveis tanto para carga de ruptura quanto flechas, já que
apresentaram disparidade com a formulação apresentada, restringindo a comparação
entre os dois grupos de placas apenas ao comportamento.

• O comportamento inicial das placas foi bastante similar, com fase elástica bem
definida pela linearidade do trecho no Estágio I. A partir da carga correspondente à
primeira fissura as curvas, referentes às placas armadas, mudaram de inclinação
indicando uma perda de rigidez. Registrou-se, desse modo, um aumento maior na
flecha sem haver redução na carga imposta.

• A armadura adicionada nas placas de concreto, além de aumentar consideravelmente


a capacidade de carregamento da peça, aumenta a margem de segurança para a
ruptura, proporcionando melhoria no desempenho global do sistema placa-fundação.
A inserção de armadura, na face inferior, absorve o momento positivo, enquanto a
resistência à tração do concreto na face superior suporta momentos negativos
menores.
Anais do 47º Congresso Brasileiro do Concreto - CBC2005. © 2005 IBRACON. X.15
.

• A distribuição de momento para a placa com carga aplicada no centro geométrico


forneceu o momento positivo máximo acentuado sobre a carga, em comparação com
o momento negativo aplainado nos bordos, chegando até zero. O momento máximo
negativo ocorre na seção de concreto tracionado e a cerca 1/3 da extremidade da
placa, declinando até zero.

6 Agradecimentos

Às empresas Realmix – Concreto e Artefatos de Cimento Ltda, Carlos Campos


Consultoria Ltda, Furnas Centrais Elétricas S.A, Gerdau S.A, Ferrobrás, Perfinasa –
Perfilados e Ferros Nossa Senhora Aparecida Ltda e ao Laboratório de Estruturas da
UFG pelo apoio à pesquisa.

7 Referências

LOSBERG, Anders. Designs Methods for Structurally Reinforcement Concrete


Pavements. In Transactions of Chalmers University of Thecnology, Gothemburg, Sweden,
1960.

LOSBERG, Anders. Pavements and Slabs on grade with structurally active


reinforcement. ACI Journal, p. 647-657, dez.1978.

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Projeto de estruturas de concreto. Procedimento. Rio de Janeiro

Klingner, R. E.; Mendonca, J. A. Tensile Capacity of Short anchor bolts and welded
studs: A literature review. ACI Journal. Proceedings, v. 79, n. 4, jul-ag., p. 270-279,
1982.

FARROW, C. Ben; FRIGUI, Imed; KLINGNER, Richard E. Tensile Capacity of single


anchors in concrete: Evaluation of existing formulas on an LRFD Basis. ACI
Structural Journal, vol. 93, nº01, jan-fev., p. 128-137,1996.

Bentz, Evan C. Programa Response – 2000 Reinforced Concrete Sectional Analysis,


versão 1.0.5. University of Toronto, Canadá, ano 2000.

RODRIGUES, Lezzir F. Comportamento estrutural de placas de concreto apoiadas


sobre base granular. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Goiás, Escola
de Engenharia Civil, 2003.

RODRIGUES, L.F.; GUIMARÃES, G.N. Comportamento estrutural de placas de


concreto apoiadas sobre base granular. 34ª Reunião Anual de Pavimentação.
Campinas, SP, 2003.

Anais do 47º Congresso Brasileiro do Concreto - CBC2005. © 2005 IBRACON. X.16

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