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ESCOLA DE MÚSICA
LICENCIATURA EM MÚSICA
Natal/RN
Junho/2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
ESCOLA DE MÚSICA
LICENCIATURA EM MÚSICA
Natal/RN
Junho/2015
IVONALDO SIMIÃO SEVERO
BANCA EXAMINADORA
Natal/RN
Junho/2015
Dedico este trabalho a todas as pessoas que
contribuíram para a minha formação e a todos que
aceitam o desafio de ensinar música em projetos
sociais.
AGRADECIMENTOS
Palavras-chave: Ensino de música. Projeto Banda Escola. Projetos sociais. Banda de música.
ABSTRACT
Focuses on the Banda School Project municipality of Taipu / RN. Aims seeks to
demonstrate how is the process of teaching and learning music in a social project that works
with the band instrument teaching and what influence this process has on the lives of those
involved. The methodology uses the case study, and as a research tool to exploratory research
with the use of questionnaires, semi-structured interviews and participant observation. Thus, it
was possible to analyze and highlight the Band School Project, although little uptime, has
shown positive influence on musical education and lives of the majority of the students
involved. From this work, it was possible to realize the relevance of Banda School project in
the lives of those involved, as well as the socio-cultural and musical development.
Keywords: Music Education. School Band Project. Social Projects. Marching Band.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 09
1.1 Metodologia ...................................................................................................................... 10
1.1.1 Estudo de caso ................................................................................................................ 10
1.1.2 Entrevista ........................................................................................................................ 11
1.1.3 Questionário ................................................................................................................... 11
1.1.4 Pesquisa bibliográfica ..................................................................................................... 12
2 PROJETOS SOCIAIS........................................................................................................ 13
2.1 O ensino de música em projetos sociais ......................................................................... 14
2.2 Projetos sociais por meio de bandas de música ............................................................ 15
3 UM BREVE HISTÓRICO SOBRE BANDA DE MÚSICA NO BRASIL .................... 17
3.1 Formação instrumental ................................................................................................... 19
3.2 As bandas de música no Rio Grande do Norte ............................................................. 21
3.3 A importância das bandas para as comunidades ......................................................... 22
4 O ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTO .............................................................. 24
4.1 Características das aulas no ensino coletivo ................................................................. 25
4.1.1 Metodologias utilizadas no ensino de música ................................................................ 26
4.2 Algumas experiências com ensino coletivo de música em projetos sociais no RN ..... 27
5 PROJETO BANDA ESCOLA........................................................................................ 30
5.1 Histórico e propostas do projeto .................................................................................... 30
5.2 Os processos de ensino e aprendizagem de instrumentos no projeto ......................... 21
5.3 Equipe técnica e horário de funcionamento .................................................................. 32
5.4 A expectativa do primeiro dia ........................................................................................ 33
5.5 A escolha dos instrumentos............................................................................................. 34
5.6 A escolha do repertório ................................................................................................... 35
5.7 Dificuldades enfrentadas para a execução do projeto .................................................. 36
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 39
ANEXOS ................................................................................................................................ 42
9
1 INTRODUÇÃO
O terceiro capitulo, nos remeterá a uma trajetória histórica sobre bandas de música e
como se dá a formação instrumental, seguidamente relata-se sobre Bandas de música no Rio
Grande do Norte e sua importância para as comunidades.
O quarto capítulo abordará o ensino coletivo de instrumentos musicais analisando as
técnicas e os métodos de ensino utilizados. O capitulo apresentará ainda algumas experiências
de ensino coletivo de música em projetos sociais no estado do Rio Grande do Norte.
No quinto e último capitulo apresentaremos os resultados e análises dos dados
coletados da pesquisa realizada no projeto social Banda Escola firmado no município de
Taipu – RN.
1.1 Metodologia
Para realização deste trabalho foi utilizado o estudo de caso e uma pesquisa
bibliográfica. Este estudo caracteriza-se como pesquisa exploratória de natureza qualitativa,
tendo como campo para coleta de dados o Projeto Banda Escola instituído na cidade de Taipu,
interior do estado do Rio Grande do Norte. A partir da coleta de dados, foi possível realizar a
análise dos passos referentes ao desenvolvimento do ensino coletivo de instrumentos no
referido projeto, objetivando a compreensão dos seus processos de ensino.
De acordo com Nisbet e Watt (1978 apud ANDRÉ, 2005, p. 47), o estudo de casos se
desenvolve em três fases: a fase exploratória, a fase de coletas de dados e a fase de análise
sistemática dos dados. Estas três fases são pontos importantes na corroboração do sucesso da
11
pesquisa no estudo de caso, tanto para a escolha dos objetivos e objeto de estudo, como na
organização de coleta de informações e análise dos dados.
Portanto, estas três etapas foram bastante importantes na elaboração desse trabalho,
pois possibilitou um aprofundamento acerca dos aspectos funcionais do Projeto Banda Escola.
Para isso o acompanhamento em alguns eventos que a banda participou e a observação das
aulas de música e ensaios foram imprescindíveis para a compreensão do processo de ensino-
aprendizagem musical.
Outros meios de coleta de dados como questionário, entrevista e pesquisa bibliográfica
foram utilizados como ferramentas de pesquisa para fundamentar esse trabalho.
1.1.2 Entrevista
Segundo Gray (2012, p. 299) “uma entrevista é uma conversa entre pessoas, na qual
uma cumpre o papel de pesquisador”. O autor ainda afirma que nesse modo de trabalho o
pesquisador deve elaborar questões, sendo elas estruturadas, semiestruturadas e não
estruturas, devendo ouvir as respostas para poder fazer outras questões e registrar os dados e
consequentemente fazer a análise do que foi exposto. Assim, as entrevistas foram de grande
valia para a composição desse trabalho, pois por meio delas como afirma Maffeezzolli (2008,
p. 102) “pode-se captar histórias e experiências únicas dos indivíduos, que podem propiciar o
conhecimento da realidade pesquisada”.
Foi utilizada uma entrevista semiestruturada com os idealizadores e coordenadores do
Projeto Banda Escola, objetivando conhecer os aspectos e elementos que constituem esse
contexto de ensino. Dessa forma foi possível conhecer as principais características do Projeto
bem como do contexto o qual está inserido.
1.1.3 Questionário
social e cultural dos envolvidos, Nesse sentido esse instrumento foi indispensável para
esclarecer e elucidar e evidenciando os fenômenos ocorridos no Projeto Banda Escola.
Para compor a pesquisa foi necessário estudar trabalhos de vários autores dentre eles:
Almeida (2010) que aborda em seu trabalho um estudo acerca das influências que o repertório
exerce na educação musical em bandas de música do Ceará e que aprendizagens esses
currículos proporcionam; Penna (2006) que destaca em seu artigo três questões reflexivas
sobre os desafios da educação musical, sendo elas: A função da educação musical para a
formação do indivíduo; O conhecimento da diversidade cultural e a interdisciplinaridade no
ensino de música, Binder (2006), que nos traz, em sua dissertação, uma retrospectiva histórica
sobre bandas de música no Brasil desde a colonização até os dias atuais. Estes são apenas
alguns dos diversos autores que colaboraram fortemente para o embasamento teórico do
trabalho.
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2 PROJETOS SOCIAIS
como projetos voltados para esse público e que essa transformação, possível, não seja vista
apenas como uma demonstração, mas como possibilidades e oportunidades concretas.
O campo de atuação promovido por projetos sociais é diverso, dentre essa diversidade
podemos citar ações humanitárias, educacionais, esportivas e artística. No entanto, vale
salientar que todas essas ações devem ter como foco as pessoas envolvidas, sendo estas
definidas como público alvo das ações.
Os projetos sociais são geralmente financiados pelo governo, por Organizações não
governamentais, por instituições privadas, financeiras e instituições religiosas. De acordo com
Santos (2003, p. 3) “a atenção, de maneira geral e, em especial, entre as agências
financiadoras, tem se voltado para a efetividade das ações e, não apenas, para a eficiência e a
eficácia no cumprimento das metas.” Isso, de certa forma vem sendo positivo, pois os projetos
conseguem atender novas demandas de beneficiários.
A atuação dos projetos tem sido marcada pela concepção de que as práticas
musicais podem construir novas oportunidades de vida. E, mais além,
podem, ainda, modificar as realidades sociais de maneira positiva ao
realizarem ‘transformação social pela música’ (ou ‘inclusão social pela
música’) no enfrentamento das adversidades como desemprego, acesso
precário à educação e cultura, o enfrentamento da violência (boa parte dela
advinda do Estado), até lutas por direitos e legitimidade. Os projetos sociais
são uma forma de levar educação de forma democrática de levar educação e
cultura para a sociedade. (GUAZINA, 2010, p. 942).
Os projetos sociais que abordam o ensino de música por meio de bandas têm
contribuído positivamente para o processo de reconstrução da identidade sócio cultural em
diversas comunidades, promovendo crescimento pessoal e integração entre os envolvidos.
Pode-se dizer, de acordo com Almeida (2011, p. 1), que “as bandas de música são, também,
um espaço de aprendizado e de ressignificação social e cultural.”.
Higino (2006, p. 12) ressalta que os projetos sociais voltados para bandas de música
exercem no mínimo três funções no seu contexto de atuação: comunitária, pedagógica e de
preservação do patrimônio cultural.
16
Neste sentido, o papel social das bandas de música torna-se bastante perceptível, visto
que por meio delas, busca-se perpetuar os valores tradicionais de uma determinada região,
preocupando-se com a manutenção de uma tradição, baseada na construção pessoal e coletiva
de seus membros. Faz-se desse modo, um movimento transformador da realidade de muitos
jovens, que poderiam estar às margens da criminalidade ou mesmo sem perspectiva de
atuação profissional. Neste sentido, Higino (2006, p. 129) coloca que:
Segundo Cislaghi (2009, p. 19) as bandas de música exercem uma função de inclusão
social que “[...] permite afastar crianças e jovens da marginalidade social e possibilita uma
melhora na qualidade de vida das crianças e jovens atendidos, além de possibilitar uma
possível profissionalização”.
A esse respeito Silva (2012, p. 37) nos reforça: “As bandas também funcionam como
núcleos de formação profissional, preparando músicos para o mercado de trabalho, podendo
estes virem a ser integrantes de orquestras sinfônicas, bandas militares de demais ramos
profissionais da música.”
Através desta transformação por meio da tradição, em um contexto sociocultural
diferenciado, as bandas de música, percebe-se que há como objetivo, não só a formação
musical, mas também a formação pessoal de seus jovens músicos, possibilitando assim, a
construção de projetos de vida através do fazer musical. A esse respeito Almeida (2010 p.07)
ressalta: “Além do seu papel de levar a cultura musical as camadas mais populares, as bandas
assumiram, ao longo do tempo, a função e responsabilidade educativo-musical junto a uma
grande parte dos jovens que dificilmente teriam acesso a escolas formais de música”.
Vale salientar que há bandas que desenvolvem trabalhos sociais bem como e existem
projetos sociais que abordam a estruturação e formações de novas bandas de música, como é
o caso do projeto Banda Escola, que como meta busca estruturar a banda municipal
desativada e criar novas bandas em escolas no município de Taipu – RN; detalharemos este
projeto nos próximos capítulos.
17
O surgimento da Banda de Música se deu na Europa por volta do século XVI, porém,
elas não tinham a mesma instrumentação das bandas atuais, visto que os instrumentos eram
mais simples, comparando-se com os modelos instrumentais atuais. No sentido restrito
segundo Costa (2011, p. 242) podemos definir banda de música como um “conjunto que
abrange instrumento de sopro e percussão.”
Para Nascimento (2007, p. 18) a “A tradição da música no Brasil vem desde os
primeiros momentos de sua colonização, porém a falta de material bibliográfico da história
colonial brasileira no período que precede a vinda da Família Real portuguesa para o Brasil
em 1808.” Tornando-se difícil para os pesquisadores descrever detalhadamente a música no
Brasil antes desse período.
O autor ainda esclarece que para melhor compreensão da música no período colonial
podemos analisa-la em duas fases. A primeira equivale à chegada dos portugueses onde nota-
se, por meio de relatos, mencionados também por Tinhorão (1976, p. 38), um intercambio
musical entre a música indígena e a portuguesa. José Ramos Tinhorão fez esta alusão por
meio de analises das cartas escritas por Pero Vaz de Caminha na fase inicial da colonização.
A segunda fase seria em 1808, com a chegada das Cortes portuguesas, as quais
trouxeram consigo as suas influências que modificariam a música na colônia para sempre,
porém com base nas influências partiam para produções próprias como afirma Costa (2011):
A autora ainda relata que no Brasil as primeiras práticas musicais organizadas tiveram
início no período colonial através das bandas de escravos, que futuramente se tornariam as
bandas oficiais e de fanfarras entre outros grupos musicais. A esse respeito Nascimento (2007,
p. 20) afirma que a igreja e os negros exerceram entre os séculos XVII e XVIII forte
influência na música do país visto que os senhores de engenho contratavam professores de
música para lecionar alguns escravos, com intuito de formar conjuntos de escravos para
entretenimento. A esse respeito Tinhorão (1972 apud COSTA, 2011, p. 244) esclarece:
18
Nacional em 1831 a formação de bandas nos regimentos militares era obrigatório (SILVA,
2012, p. 24). Assim, no Brasil, muitos músicos tiveram a oportunidade de ingressarem nos
quadros militares como afirma Tinhorão (1998, p. 140),
Atraídos aos quadros militares pela sua rara qualificação, músicos civis
vestiram a farda e passaram a fazer parte do corpo de tropa, passando a
comportarem-se como simples funcionários contratados, aos quais recebiam
pagamentos na base de saldo de oficial. (TINHORÃO, 1998, p. 140).
Binder (2006 apud COSTA, 2011, p. 243) nos esclarece que nesse período “com a
exaltação do nacionalismo, houve a necessidade de criação de hinos cívicos e marchas.”
Nesse mesmo período, surgiram vários grupos musicais civis que serviam à corte e à igreja,
com vestimentas e marchas semelhantes aos dos militares, porém voltados para o patriotismo.
Essas transformações nas bandas de música as tornaram parte da vida cultural da população.
As bandas civis foram ganhando espaço a partir do século XIX com caráter muito
similar ao das bandas militares devido as atuações, repertório e vestimentas das mesmas como
relata Costa (2011, p. 248) “Foi através dessa atuação constante e diversificada que se
vinculou a banda de música civil a traços militares, como no repertório, uniforme e
instrumentação.” Granja, citado por Costa (2011, p. 250) descreve que a farda igualava todos
do grupo, incorporando aqueles considerados anônimos e sem regalias na sociedade a uma
realidade respeitada pelo público que por sua vez apreciava e aplaudia as diversas atuações.
A verdade é que com essa valorização “centenas de músicos de origem popular
encontravam oportunidade de viver de suas habilidades e de seu talento, contribuindo para
identificar com o povo, através da música de coreto e de festas cívicas”. (TINHORÃO, 1998,
p. 142). Certamente esse fato favoreceu o aumento de músicos instrumentistas ampliando o
quadro de bandas existentes no país, que atualmente, de acordo com a Fundação Nacional de
Arte (FUNARTE, 2015) chega a um total de 2468 registros de bandas, sendo elas em sua
maior parte vinculadas a prefeituras e associações, não constando nesse cadastro bandas
militares e religiosas, pressupondo-se, portanto que esse número seja muito maior. Segundo
Almeida (2011, p.43) Em meados do século XX o total de bandas existentes no Brasil não
passava de 500 grupos, desse modo é possível perceber que o número de bandas no país
continua crescente.
A FUNARTE disponibiliza em seu site uma tabela1 listando todos os nomes das
bandas de música do Rio Grande do Norte, com seus respectivos endereços de
funcionamento.
1
A referida tabela está anexada a este trabalho.
23
A autora relata ainda que desde o período colonial as bandas demonstraram grande
valor cultural no Brasil, pois por meio delas muitos músicos desenvolveram seus potenciais
chegando ao status de maestro, compositores ou instrumentistas. Além de ser um relevante
espaço de sociabilidade, também tornaram populares diversos gêneros musicais.
De acordo com Gonçalves (2009, p. 1) as atividades musicais de bandas civis
contribuem fortemente com a história de uma determinada região, transformando-a e
proporcionando a manutenção das mais tradicionais comemorações da comunidade, além de
exercer um papel social significativo no que diz respeito a formação e construção da
identidade dos músicos mais jovens.
24
Segundo a mesma autora, uma das justificativas desse ensino é a de que o aprendizado
acontece bem mais rápido por causa do convívio em grupo e pela observação que os discentes
têm entre de si. Desse modo a integração social e as relações interpessoais colaboram
significativamente para o aprendizado como ressalta Ribeiro (2012, p. 8):
teoria musical e depois ter contato com o instrumento. Vários pesquisadores e professores
comprovam sua eficiência.
Os grupos os quais recebem ensino coletivo geralmente têm alunos com níveis
diversificados, pois o tempo de aprendizado de cada educando é variável, sendo necessária
por parte do educador uma continua avaliação visto que avaliar é um meio para orientar e
traçar novas técnicas que proporcione a aprendizagem musical. Esse processo deve ser
contínuo e sistematizado.
Segundo Andrade (2001, p. 8) há pesquisas e trabalhos significativos sobre avaliação
em outras áreas de conhecimento como Matemática, Português etc. Já em artes ainda
permanece a ideia de que é “difícil, uma vez que a avaliação não pode ser objetiva quando se
trata de áreas que envolvem a criatividade ou, no caso da música, o que deve ser avaliado nem
sempre tem uma resposta muito clara e simples.” Contudo, um aspecto que deve ser levado
em consideração no ato de avaliar turmas de música é o desempenho individual e coletivo.
26
4.2 Algumas experiências com ensino coletivo de música em projetos sociais no RN.
Em todo o Estado do Rio Grande do Norte existem vários projetos que utilizam o
ensino coletivo de instrumentos musicais como ferramenta de inclusão social, dentre eles
podemos citar:
Projeto Ilha de Música: Criado pelo músico Gilberto Cabral e sua esposa musicista
Inês Latorraca. O projeto funciona há nove anos e situa-se na comunidade da África, na
Redinha, considerada uma das mais violentas da cidade. Cerca de 40 jovens, de idade entre 8
e 18 anos, aprendem gratuitamente a tocar um instrumento musical. “Eu faço questão que eles
aprendam tudo, tanto o instrumento melódico, quanto harmônico e rítmico, porque estarão
preparados para o mercado”, argumenta Gilberto o idealizador do projeto. A imagem a seguir
mostra o músico Gilberto à direita e alguns de seus alunos à esquerda
Conexão Felipe Camarão: Sendo outro projeto de renome no nosso estado, atua na
capital do Rio Grande do Norte desde 2002, criado por Vera Santana tem como proposta
educar jovens e crianças através da música e de costumes regionais. Abaixo segue uma
imagem de uma apresentação musical com alunos do referido projeto:
28
Ainda há vários outros projetos voltados para o ensino de música no nosso estado, que
trabalham o ensino da música em seus aspectos teóricos e práticos, contudo esses trabalhos
são ainda pouco divulgados nas mídias.
30
O projeto Banda Escola é uma proposta social e cultural voltada para crianças,
adolescentes e adultos oriundos de famílias de baixa renda do município de Taipu, interior do
Rio Grande do Norte que estejam matriculados na rede pública municipal de ensino.
O projeto surge na cidade como proposta inovadora de se implantar ensino de música
nas escolas de forma significativa.
O projeto foi iniciado no dia 20 de agosto de 2013 tendo como mentores músicos que
desenvolveram suas habilidades musicais em projeto social voltado para a formação de banda
de música; Atualmente todos são músicos efetivos e atuantes na Banda Municipal de Ceará-
Mirim/RN. A intenção era que o projeto incluísse socialmente o máximo de alunos possível
dentre crianças (entre 7-11 anos) adolescentes, jovens e adultos (entre 12-60 anos), por meio
da música, estimulando-os e valorizando-os como cidadãos úteis e responsáveis. Porém, esse
propósito é apenas um desejo de expansão do projeto que hoje atua em seis escolas e tem
como principais objetivos:
Trabalhar, ensinar e divulgar a arte musical no município, possibilitando
alternativas de atuação profissional, ajudando jovens a ingressarem no mercado
de trabalho;
Ampliar a banda de música da cidade, que além de funcionar como laboratório
de musicalização aos estudantes de música, cumpre com seu papel social
através de apresentações realizadas nas festividades cívicas e religiosas do
município;
Divulgar o trabalho desenvolvido pela prefeitura com a apresentação de
concertos populares realizados na cidade (sede e distritos);
Realizar concertos didáticos nas escolas da rede municipal de ensino com o
intuito de divulgar a música como arte e o trabalho desenvolvido com apoio da
prefeitura;
Formação de agentes multiplicadores do conhecimento sobre teoria e prática
musical;
Musicalização de crianças, jovens e adultos, não só na formação musical, mas
prepara-los como verdadeiros cidadãos.
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A equipe técnica do projeto é formada por quatro professores dos quais apenas um não
tem formação técnica acadêmica, mas obteve técnica e métodos de ensino suficientes para
tocar na banda de música municipal de Ceará-Mirim e ministrar aulas de instrumentos de
banda. Três dos educadores possuem nível técnico e superior. Os mesmos estão sempre se
aperfeiçoando, participando de eventos e congressos sobre técnicas de instrumentos de banda.
Desse modo, conhecem diversas tendências pedagógicas musicais e criam seus próprios
métodos de trabalho. Esse espírito de investigação é necessário para que os professores não
paralisem em seus conhecimentos e não ensinem por um único método.
Todos os educadores do projeto tiveram trajetórias musicais iniciadas em projetos
semelhantes ao que desenvolvem.
Os horários de funcionamento das seis escolas atendidas em 2015 estão organizados
no contra turno, de modo que o alunado passa dois dias semanais em turno integral fazendo
refeição (almoço) na escola e se dirigindo para a aula de música que ocorre em outros
espaços, pois as escolas atendidas funcionam em dois turnos. Desse modo, o grupo sempre
desenvolve esse trabalho em ambientes alternativos como sedes, quadras, galpões e muitas
vezes até embaixo de árvores.
Mesmo com as turmas tendo aulas apenas duas vezes por semana e com duração em
torno de duas horas e trinta minutos, o planejamento mostrou-se suficiente para proporcionar
aos alunos seu maior objetivo, que é o ensino musical, socialização, convivência em grupo,
relacionamento, disciplina e dedicação.
Pelos relatos e observações pode-se perceber que ver e ouvir um instrumento musical
de sopro como flauta doce e transversal nunca havia sido vivenciado por aquelas crianças e
jovens, que com seus olhos e ouvidos atentos se encantavam pelas melodias executadas pelos
instrumentistas. Esse encanto inicial provavelmente seja o primeiro impulso para muitos que
após essa apreciação buscam ter como meta o aprendizado da técnica instrumental. Cabendo
aos educadores alimentar e mediar essa fascinação.
Na primeira visita ao projeto, os professores, fizeram a apresentação dos instrumentos
aos alunos novos. Tendo como objetivo principal, naquele momento, conquistar aquelas
crianças para serem novos alunos e desmistificar a ideia de que o estudo do instrumento fosse
visto como algo de difícil. Procurou-se então, fazer uma apresentação com repertório popular
para que as melodias fossem facilmente identificadas pelo público. Esse primeiro momento
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foi muito importante para que houvesse um contato positivo tanto em relação aos professores
quanto para com os instrumentos apresentados a fim de torná-los atrativos. Para isso a
dinâmica de apresentação e execuções de repertórios variados foi importante, visto que várias
músicas chamaram a atenção. O sistema de seleção dos alunos inicialmente partiria do
interesse dos alunos ali presentes. Foram disponibilizadas algumas vagas além da quantidade
de instrumentos disponíveis, visto que desistências sempre são previsíveis nos primeiros
momentos
A imagem abaixo ilustra um desses momentos nos quais os monitores apresentam a
sonoridade de alguns instrumentos aos educandos.
Os educadores tiveram que conquistar o alunado, que por sua vez se mostrava curioso
e tímido para o instrumento, mostrar as diversas possibilidades musicais tocando músicas
eruditas e populares próximas ao contexto musical vivido por eles foi uma forma de conquista
inicial.
O repertório que o grupo adotou é bastante variado, executando-se músicas dos mais
diversos estilos, canções do folclore Infantil, chorinho, temas clássicos dentre outros. Quanto
ao grau de dificuldade das músicas Tourinho e Oliveira (2003, p. 22) nos orientam:
Deve ser fonte de aprendizagem, nem tão fácil que não ofereça um desafio
nem tão difícil que seja tocado no limite da compreensão e da fluência. Da
mesma forma deve oferecer a possibilidade de explorar fraseado, dinâmica,
textura, possibilitando ao aluno o crescimento técnico e musical.
Deste modo, as músicas escolhidas para serem trabalhadas no projeto seguem esse
modelo, proporcionando ainda mais a aprendizagem musical, uma vez que sua escolha leva
em consideração o desenvolvimento técnico do aluno. Tanto o repertório escolhido quanto os
exercícios das aulas são adaptados para melhorar o desempenho dos alunos. Para que o ensino
possa ser aplicado dentro do contexto escolar, os professores sistematizam e combinam
metodologias para a realidade escolar.
Não há um método especifico fixado, mas os educadores procuram mesclar várias
técnicas, geralmente ensinam da forma que aprenderam, porém incluindo elementos
facilitadores para o aprendizado.
São desenvolvidos diversos estudos específicos para cada instrumento, tais como
exercícios para independências dos dedos, uso correto da palheta, batidas e dedilhados de
acordo com os estilos musicais. Mas por diversas vezes é necessário adaptação do repertorio e
dos exercícios, devido as diferenças de tempo de aprendizado entre os alunos. Para as
36
Desse modo, podemos dizer que a má conservação, por não ter espaço adequado para
guardar, e a qualidade de alguns instrumentos utilizados no projeto é um fator que também
influenciam fortemente no aprendizado dos alunos. O fato deles não terem acesso ao
instrumento durante a semana, também prejudica bastante o avanço em menor quantidade de
tempo. Muitas vezes os docentes passam parte da aula seguinte repassando assuntos da
semana, pela falta da prática na semana. A mesma dificuldade é enfrentada por todos os
professores envolvidos, falta de materiais para limpeza dos instrumentos e quantidades
insuficientes de instrumentos para a demanda. Apesar das dificuldades citadas acima, O
projeto é sempre solicitado a se apresentar nas festividades da cidade e em eventos da
prefeitura, como mostra a imagem seguinte:
37
Com relação ao fardamento dos estudantes pode-se perceber que ainda não foi
possível adquirir fardamento sofisticado, similar ao fardamento militar. Assim, mesmo os
alunos que se destacam e que são aproveitados para compor a banda principal, utilizam a
mesma camiseta para identifica-los como educandos do projeto.
O empenho e a força de vontade de todos os envolvidos na questão é um fator
primordial para o bom desempenho do projeto, devendo-se destacar o estimulo dos
educadores e educandos.
Assim, fica claro que trabalhos como esse influencia a cultura local, sendo valorizado
pelo seu papel social e reconhecido pelos objetivos alcançados, bem como pelo
comportamento que crianças e jovens passam a ter na família e nos demais espaços sociais
onde demonstram o aprendizado da música com compromisso e responsabilidade.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base na análise dos dados coletados, pode-se concluir que a Banda de Música é
um excelente recurso pedagógico e facilitador da inclusão social. Ela possibilita trabalhar a
autoestima e oferece grande poder de sociabilidade e fonte de prazer, além de desenvolver
uma relação mais estreita com familiares e a sociedade, fortalecendo seus laços. Observou-se,
ainda, que tanto os alunos como a família e a sociedade local percebem que a Música é uma
importante ferramenta de integração. Também constatamos durante os trabalhos o senso de
responsabilidade, na medida em que as crianças e jovens do projeto demonstraram estar
conscientes de sua responsabilidade e papel diante das atividades as quais eram submetidas.
Verdadeiramente, a banda de música é uma importante ferramenta de integração social
e vem se tornando cada vez mais presentes em projetos sociais valorizando significativamente
as relações humanas.
Sobre a manutenção do projeto, é fundamental reforçar que o reconhecimento dos
benefícios deste trabalho para o município de Taipú fez com que a administração pública
local reforçasse o apoio, comprando novos instrumentos e implementando o “Banda Escola”
em vários distritos.
Enfim, os resultados na pesquisa revelaram que a partir do trabalho de educação
musical desenvolvido pelo projeto “Banda Escola”, os alunos apresentaram um nível
satisfatório de desenvolvimento musical, social, psicológico e estético, comprovando que a
música é um agente transformador da realidade sociocultural e psíquica dos indivíduos
envolvidos, viabilizando a interação social e promovendo a autoestima, o respeito, o senso de
responsabilidade e a cooperação.
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POTIGUAR, Coletivo Byreçá Foto. Conexão Felipe Camarão: UFRN Cellos. 2011.
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Tinhorão, 1976.
YIN, Robert K. Estudos de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2005.
42
ANEXOS:
5--Quem são os participantes? Faixa etária, história de vida, bairro que moram, há
quanto tempo participam do projeto.
R=
Contamos com crianças de 7 a 11 anos na iniciação musical com flauta doce
De 12 a 60 anos nos seguintes instrumentos, sax, trompete, Sax orne, trombone, clarineta,
flauta transversal, tuba, percussão em geral.
Na sede contamos com as aulas de musicalização, iniciação com flauta doce, violão,
instrumentos para banda de música, percussão.
____________________________
Durval da Nóbrega Cesetti
Coordenador de Graduação