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REÚSO DE ÁGUAS

E
USO DE ESGOTO TRATADO

Cícero Onofre de Andrade Neto


Universidade Federal do Rio Grande do Norte

17/03/16
Um litro de esgotos pode poluir e contaminar (consumir) dezenas ou
mesmo centenas de litros de água natural

“A situação é grave: para cada mil litros de água utilizados, outros 10 mil
são poluídos”. (Revista DAE, boletim eletrônico de 22/03/2010)

Na verdade uma pessoa produz mais de 100 litros de esgotos por dia,
que geralmente polui e contamina mais de 1.000 litros de água natural,
e pode poluir até 10.000 litros de água por dia.
Reúso controlado da água

Cada litro de água reutilizado “economiza”


dezenas ou centenas de litros de água natural

O reúso controlado de águas reduz a necessidade de


captação de águas primárias em mananciais naturais, que
são assim preservados para usos mais restritivos, e, devido a
menor geração de efluentes finais, evita a poluição
ambiental, que é a principal causa da crescente escassez de
água, pela degradação da qualidade.
Conceitos:

REÚSO DE ÁGUA

USO DE ESGOTO TRATADO


direto
indireto

RECICLAGEM DE ÁGUA

RECIRCULAÇÃO DE ÁGUA

ÁGUA DE REÚSO
REÚSO INTENCIONAL E
CONTROLADO

Reúso: involuntário (não intencional); desavisado


(ignorante, enganado); irresponsável; incompetente;
clandestino (escondido); desonesto; seguro;
sustentável; produtivo; socialmente rentável;
controlado.

reúso controlado: utilização segura do ponto de vista sanitário, sustentável do


ponto de vista ambiental e viável do ponto de vista de produção. (PROSAB)
REÚSO CONTROLADO ?
Controle:
sanitário (saúde pública)
ambiental (sustentável)
tecnológico (adequação)
econômico (viabilidade)
social (decisões e benefícios)
legal (normas, direitos e deveres)

DIMENSÃO E RIGOR DO CONTROLE ???


Não há empecilho tecnológico para tratamento
dos esgotos, mas o custo é geralmente alto.

Existe uma enorme variedade de opções tecnológicas


Revista Infraestrutura Urbana
(PINI), dez 2011.
AS PRINCIPAIS FORMAS DE REÚSO DA ÁGUA SÃO:

RECARGA DE AQUÍFEROS

Praticada para repor a capacidades de mananciais subterrâneos


ou para evitar o avanço da intrusão marinha sobre aquíferos
costeiros.

Reúso potável indireto, com diluição em aquíferos ou mananciais


de superfície, é praticado conscientemente e com controle técnico
em alguns países mais carentes de água.

Nos países onde a carência não é só de água mas também de


saneamento básico, ocorre freqüentemente o reuso indireto para
abastecimento humano (potável), involuntariamente.
Recarga de aquíferos
(reúso potável indireto – Flórida, EUA)

Atualmente já não é assim


REÚSO NÃO POTÁVEL EM EDIFÍCIOS

Já utilizado em vários países, inclusive no Brasil.

Água utilizada nos chuveiros, lavatórios, cozinha e


lavagem de roupa ou de pisos, após tratamento,
utilizada para descarga de vasos sanitários ou
outros usos como irrigação de áreas verdes ou
lavagem de pátios.
REÚSO NÃO POTÁVEL EM EDIFÍCIOS
ETAC Ed. Luiz Nogueira / Vitória (ES)
17 pavimentos, 1 por andar, 4 quartos, suítes
Sistema de Tratamento de Águas Cinzas para Reúso
Capacidade: 150 pessoas
Exemplo de fluxograma de um sistema de tratamento
(Fluir), mas existem várias outras alternativas.

Biogás
Recirculação de Lodo B2

RAC FBAS DEC FT


ETAC

V1

Gradeamento

Efluente Final
Fino R1 Vai para Reservatório
V2
Águas Cinzas Superior p/ Reúso
Aeração

Lodo
C.P. B1
Clorador

Reservatório Compressor Reservatório de


de Lodo Água p/ Reúso

ETAC - ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUAS CINZAS


RAC - Reator Anaeróbio Compartimentado R1 - Rotâmetro
FBAS - Filtro Biológico Aerado Submerso V1 - Válvula Solenóide
DEC - Decantador Secundário V2 - Válvula Solenóide
FT - Filtro Terciário Recirculação de Lodo
B1 - Bomba centrífuga auto-escorvante Água de lavagem do FT
B2 - Bomba centrífuga auto-escorvante Fluxograma do Processo
Sistema de Aeração
ETAC
Compressor de Ar

CESTO

RAC FBAS DECANT. FT CL

Bomba
Recirculação de Lodo
ETAC Ed. Royal Blue / Vitória (Gonçalves, 2007)
Água
Vaso
cinza
sanitário

Efluente
Efluente
Anaeróbio
clorado

Efluente Efluente
aeróbio filtrado
UFRN
Efluente de filtros
anaeróbios
UFRN
Tratamento de esgotos em filtros anaeróbios e aerados submersos.
Alta eficiência: DBO 5mg/L;SS 7mg/L; Amônia 6mg/L; Turbidez 1.
REÚSO URBANO NÃO POTÁVEL

Pode ser fundamental para a qualidade de vida nas cidades, onde


habita quase a metade da população da Terra.

Potenciais:
• Irrigação de parques e jardins públicos, áreas verdes e canteiros
para melhoria da paisagem e do clima, e árvores e arbustos ao
longo de avenidas e rodovias.
• Irrigação de campos recreativos e de práticas esportivas.
• Alimentação de lagos artificiais ou naturais para fins recreativos,
paisagísticos ou climático.
• Reservas de proteção contra incêndio.
• Lavagem de praças, logradouros, pátios e vias públicas.
• Lavagem de veículos de transporte público e de coleta de lixo.
• Desobstrução de redes de esgotos e de drenagem pluvial;
• Usos na construção civil (compactação de solo por exemplo).
MANCUSO, P C S;
SANTOS, H F.
(editores) et al. (2002).
SABESP
Sistema de tratamento utilizado para produção de água de reúso
para usos urbanos restritos (lavagem de ruas e irrigação de áreas verdes)
Hipoclorito de
sódio
Uso interno (água para
selagem)
Efluente final

Reservatório de
Filtro de areia e agua de selagem
antracito
Filtro cesta

Filtro
cartucho

Caminhão pipa Hipoclorito de


Reservatório de água sódio
de reúso
REÚSO EM INDÚSTRIAS

Efluentes de uma etapa do processo industrial são utilizadas em


outra fase menos exigente ou são purificadas para uso na mesma.
Utilizando seus próprios efluentes, ou mediante aquisição de
efluentes tratados de outras industrias ou de companhias de
saneamento, com preços inferiores aos da água potável.

Potenciais de reúso:
• Torres de resfriamento
• Construção civil, incluindo preparação e cura de concreto e
compactação de solos
• Irrigação de áreas verdes de instalações industriais
• Lavagem de pisos, máquinas, peças e equipamentos
• Lavagem e transporte de materiais e matéria prima
• Transporte de resíduos
• Lavagem de veículos e outros sistemas de transporte
• Lavagem de gases em chaminés ou torres de lavagem
• Nos processos industriais
Água de Reúso
– Projeto
Aquaplo
REÚSO DA ÁGUA E USO DE ESGOTOS TRATADOS EM
FERTIRRIGAÇÃO, HIDROPONIA E PISCICULTURA

O reúso de água em irrigação, hidroponia e piscicultura geralmente


se faz utilizando esgotos sanitários. disponíveis em quantidades
significativas em qualquer época do ano e de qualidade adequada.

A utilização dos esgotos tratados em fertirrigação, hidroponia ou


piscicultura é uma atividade de reúso da água e de aproveitamento
de nutrientes para vegetais e algas, enquanto propicia um destino
adequado para os esgotos, evitando a poluição ambiental.

É um processo que pode ser considerado como tratamento


complementar dos esgotos, reúso da água e aproveitamento
produtivo dos sais eutrofizantes, ao mesmo tempo.
A tecnologia de manejo necessária pode ser adequada
e dominada sem dificuldades, pois não difere muito das
práticas requeridas à fertirrigação, hidroponia e
piscicultura convencionais. Envolve a compatibilização
entre a qualidade da água, a quantidade de água
disponível, as características do solo, as técnicas de
irrigação, hidroponia ou de piscicultura empregadas, e
a adequada seleção de culturas e espécies de peixes.

Quanto ao aspecto sanitário, os riscos são controláveis


com tecnologia disponível. Ademais, estudos
epidemiológicos indicam que mesmo os critérios de
qualidade de efluentes mais flexíveis, como os da
Organização Mundial da Saúde, são suficientes para
minimizar os riscos à saúde pública.
REÚSO DE ÁGUA EM IRRIGAÇÃO

Combinações adequadas de técnicas de tratamento de esgotos,


tipo de cultura, método de irrigação e cuidados ambientais,
permitem a utilização de esgotos sanitários em irrigação, com
baixo risco à saúde pública, de forma econômica e
tecnicamente viável.
UFRN
UFRN
UFRN
UFRN UFRN
Semi-árido do Rio Grande do Norte, irrigação com esgoto tratado

Sorgo irrigado com esgoto tratado, no


Milho irrigado com esgoto semi-árido (Parelhas, RN) 95 t / ha
tratado, no semi-árido
(Parelhas, RN) 5 t / ha

UFRN
UFC/CAGECE
MOTA, Suetônio (2013). Aproveitamento de Águas Residuárias Tratadas em Irrigação e Piscicultura - A Experiência da Universidade
Federal do Ceará. Palestra no Seminário Soluções Inovadoras de Tratamento e Reúso de Esgoto em Comunidades Isoladas - Aspectos
Técnicos e Institucionais. ABES – SP e UNICAMP. Campinas, 20 e 21 de junho de 2013
4 1412,4

3 1214,6
Tratamentos

2 1986,2

1 887,5

0 500 1000 1500 2000 2500


Produtividade(kg/ha)

T1 – Água + adub.
T2 – Esgoto + adub.
Produtividade da mamona
T3 – Esgoto
T4 – Esgoto + ½ adub.

MOTA, Suetônio (2013). Aproveitamento de Águas Residuárias Tratadas em Irrigação e Piscicultura - A Experiência da Universidade
Federal do Ceará. Palestra no Seminário Soluções Inovadoras de Tratamento e Reúso de Esgoto em Comunidades Isoladas - Aspectos
Técnicos e Institucionais. ABES – SP e UNICAMP. Campinas, 20 e 21 de junho de 2013
UFC
Média do
Média da
diâmetro do
Tratamento produtividade
-1
fruto
(kg.ha )
(cm)
T1 – água + adubação recomendada 16.269 a 15,9 a
T3 – esgoto sem adubação recomendada 16.295 a 18,9 ab
T2 – esgoto + adubação recomendada 19.350 ab 18,9 ab
T4 – esgoto + 1/2 da adubação recomendada 23.120 b 20,2 b
DMS 6.550 4,3

Produtividade da melancia

MOTA, Suetônio (2013). Aproveitamento de Águas Residuárias Tratadas em Irrigação e Piscicultura - A Experiência da Universidade Federal do Ceará. Palestra no
Seminário Soluções Inovadoras de Tratamento e Reúso de Esgoto em Comunidades Isoladas - Aspectos Técnicos e Institucionais. ABES – SP e UNICAMP. Campinas, 20 e 21 de
junho de 2013
Irrigadas com esgoto
Irrigadas com água
tratado
Análise

Sulco Gotejo Sulco Gotejo

Salmonella sp.
ausente ausente ausente ausente
(25 g)

Coliforme fecal
<3 <3 <3 <3
(NMP g-1)

Características microbiológicas das melancias


Obs. Atendem aos padrões estabelecidos pela ANVISA

MOTA, Suetônio (2013). Aproveitamento de Águas Residuárias Tratadas em Irrigação e Piscicultura - A Experiência da Universidade
Federal do Ceará. Palestra no Seminário Soluções Inovadoras de Tratamento e Reúso de Esgoto em Comunidades Isoladas - Aspectos
Técnicos e Institucionais. ABES – SP e UNICAMP. Campinas, 20 e 21 de junho de 2013
USP - SABESP
A questão sanitária do uso dos esgotos tratados

Dimensões de partículas e solutos encontrados em águas naturais e residuárias. (SCHNEIDER e TSUTIYA 2001, apud SCHÄFER 1999).

µm = 1x10-6 m.
Esgoto Solo Cultura Trabalhador Consumidor

Tratamento
”terciário”

Restrição as
Culturas

Controle
Pessoal

Técnica de
Irrigação

Tratamento
”secundário”
Tratamento Completo Restrição de Cultivos

Restrição de Cultivos
e Controle da Técnicas de Irrigação
Expos. Humana

Controle da
Tratamento Parcial Exposição
e Controle da Humana
Exposição Humana

1 - Efluente
Tratamento Parcial e Tratamento Parcial 2 - Solo
Restrição dos Cultivos 3 - Cultivo
4 - Trabalhadores
5 - Consumidores
ISRAEL
ISRAEL

Uso de esgoto
tratado em irrigação
BRASIL

SEMI-ÁRIDO
A agricultura utiliza maior quantidade de água (cerca de 70%)
e pode tolerar águas de qualidade mais baixa do que a
indústria e o uso doméstico, preservando águas de melhor
qualidade para abastecimento humano.

A quantidade de água e de nutrientes contidos nos esgotos é


considerável e representa um desperdício injustificável,
principalmente em regiões áridas ou semi-áridas.

Geralmente não há restrições químicas quanto a qualidade dos


esgotos sanitários tratados para irrigação e hidroponia.

Quanto aos riscos sanitários, são menores do que geralmente


imagina-se e perfeitamente controláveis.
O uso dos esgotos tratados em fertirrigação contribui para o
aumento da produção de alimentos, a recuperação de áreas
improdutivas e a ampliação de áreas irrigadas, e, o que é mais
importante, preserva e protege o meio ambiente, porque:
reduz o lançamento de esgotos em cursos de águas naturais,
prevenindo a poluição, a contaminação e a eutrofização; e
favorece a conservação do solo e a recuperação de áreas
degradadas.

Em análise econômica deve-se considerar o destino final dos


recursos aplicados no tratamento dos esgotos e o retorno social
dos investimentos financeiros. Quando o destino final dos
esgotos é a irrigação, resultam plantações de capim, culturas
de grãos e até flores, ou, no meio urbano, a amenização do
clima e o melhoramento paisagístico.
REÚSO DE ÁGUA EM HIDROPONIA

Os efluentes de sistemas de tratamento de esgotos


sanitários são ricos em macro e micronutrientes e
podem, portanto, com algumas adaptações das
técnicas, ser utilizados como solução nutritiva em
hidroponia.
Efluentes de filtros
anaeróbios:
SST < 20 mg/L
Ovos Helm < 1 /L
Mantêm nutrientes
UFRN
UFES USP

UFSC
Hidroponia em canteiros - Forragem verde hidropônica
UFRN
SOUZA, Anderson J. B. F. de. Produção de forragem verde em sistema hidropônico
usando esgoto tratado. Dissertação (Mestrado) ,Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, Programa de Pós Graduação em Engenharia Sanitária. 2008.
UFRN
UFRN
Forragem verde hidropônica com esgoto tratado
+ Tratamento complementar de esgotos em nível terciário com eficiência inigualável
+ Controle da poluição: não polui águas, nem solo nem ar
+ Proteção da saúde pública e do meio ambiente
+ Reúso de água e reciclagem de nutrientes
+ É hidropônica: pequena área; alta produção; controle natural de pragas
+ Hidropônica sem química, natural, orgânica
+ Produção de alimento
+ Alta relação benefício / custos e excelente retorno social do investimento
+ Proteção dos animais (rumem)
+ Altíssima eficiência evapotranspirométrica (clima)
+ Alta eficiência fotossintética (<< CO2; >> O2)
UFV
UFRN
A hidroponia é uma técnica de cultivo bastante difundida em
todo o mundo e também já bastante utilizada no Brasil. É mais
comumente aplicada no cultivo de plantas ornamentais e de
algumas hortifrutigranjeiras, mas vem também sendo utilizada
para produção de forragem verde para nutrição de animais.

As principais vantagens da hidroponia são:


a produção ocorre em curto prazo e ocupa pequeno espaço;
aplica-se em qualquer estação do ano e a várias espécies;
propicia produção fora de época com baixa dependência de
adversidades climáticas;
requer relativamente baixo consumo de água;
produtividade é muito elevada com maior rendimento por
área, ciclos mais curtos e melhor programação da produção.
Os efluentes de sistemas de tratamento de esgotos sanitários
são ricos em macro e micronutrientes e podem, portanto, ser
utilizados como solução nutritiva, com algumas adaptações
das técnicas e, quando necessário, correções nutricionais.

O uso de esgoto sanitário tratado em hidroponia pode


propiciar as seguintes vantagens:
permite a utilização de todo ou quase todo o efluente, evitando
a poluição e contaminação ambiental;
pode ser utilizada como forma de remoção de nutrientes
eutrofizantes, retidos na biomassa vegetal da cultura;
em casos de dificuldades de transporte dos esgotos até
campos de irrigação viabiliza a opção de transportar o produto
cultivado em pequena área e próximo do ponto de reunião e
tratamento dos esgotos.
REÚSO DE ÁGUA EM PISCICULTURA

A piscicultura em lagos “enriquecidos” com esgoto é uma


prática comum e muito antiga em Índia, China e sudeste
asiático. Atualmente o reúso de águas em piscicultura é
praticada em escala comercial em vários países.
Em Calcutá encontra-se a maior área de lagoas para cultivo de peixes alimentados
com águas residuárias cruas no mundo (algo como 5.000 ha), mediante um
cuidadoso sistema de maturação dos esgotos nas lagoas, que só recebem peixes após
um certo período e ao final de cada ciclo (cerca de um ano) os tanque são esgotados.

Em Lima, Peru, desde 1983 o CEPIS – Centro Panamericano de Engenharia


Sanitária e Ciências do Ambiente desenvolve pesquisas sobre piscicultura em lagoas
de estabilização com resultados animadores, inclusive quanto aos riscos sanitários.

No Ceará, estudos da viabilidade do cultivo de tilápia do Nilo em lagoas de


estabilização do Distrito Industrial de Maracanaú, permitiram concluir que: a
espécie se adaptou as variações físicas, químicas e microbiológicas; não houve
contaminação na pele e músculo dos peixes das lagoas de maturação secundária e
terciária; os peixes estocados em tanques-redes tiveram bom incremento de peso,
indicando que lagoas de maturação podem ser utilizadas para cultivo de peixes.
(HORTEGAL FILHA, 2000)

No Rio Grande do Norte, na década de 1980, foram realizadas pesquisas de


peixamento de lagoas de estabilização com sucesso quanto a produtividade, porem as
pesquisas foram interrompidas (desistência) porque os peixes eram sistematicamente
roubados, mesmo havendo a identificação do tratamento de esgotos nas lagoas.
Na reunião de especialistas sobre piscicultura em sistemas integrados de tratamento
de águas residuárias e aquacultura, realizada em 1988 em Calcutá, na Índia, foram
formuladas as seguintes conclusões a respeito da tecnologia (LEÓN S. e CAVALLINI,
1996, após BARTONE, 1990):

.. Os sistemas integrados, se projetados e administrados adequadamente, representam uma


alternativa viável de baixo custo em comparação com as tecnologias convencionais.
.. A produção líquida de 5 a 7 t/ha/ano de peixes ocorre em climas tropicais onde a produção
anual é contínua e não se recorre à alimentação suplementar nem a aeração.
.. Em climas temperados se obtém taxas similares de produção de 15 a 20 Kg/ha/dia durante o
verão.
.. Mesmo quando as lagoas de estabilização são projetadas para tratar cargas orgânicas de 200
a 300 Kg de DBO/ha/dia, a aquicultura opera com níveis muito menores, da ordem de 10 a 20
Kg de DBO/ha/dia, para garantir um adequado equilíbrio entre a produtividade, a demanda de
oxigênio e o crescimento dos peixes. Esta diferença de magnitude no nível de carga orgânica se
obtém mediante práticas adequadas de operação, a fim de não prejudicar o alcance dos
objetivos de nenhuma dessas atividades.
.. Em geral, se utilizam três tipos de sistemas integrados: um só tanque (lagoa) de peixes que
recebe águas servidas cruas (esgoto bruto) diretamente (por exemplo, Calcutá); tanques de
criação precedidos por algum tratamento primário (por exemplo, Hungría); e tanques de
criação onde se vertem águas residuárias tratadas das quais foram eliminados agentes
patógenos presentes no esgoto bruto (por exemplo, Lima)
Principais benefícios do reúso de águas:

reduz o consumo de águas primárias;


evita a poluição das águas naturais;
reduz os custos associados ao manejo de efluentes.

Se não bastassem as razões econômicas e sociais


(desenvolvimento sustentável), o reúso da água em
muitos casos também é viável financeiramente, pois
os custos associados ao manejo dos efluentes
(monitoramento, tratamento, transporte, multas,desgaste

da imagem, etc) geralmente são elevados.


REÚSO DE ÁGUA EM IRRIGAÇÃO
Não há empecilho tecnológico
A tecnologia necessária já é do domínio da agronomia e da engenharia
sanitária e ambiental

Não há empecilho econômico nem social


Os investimentos são economicamente vantajosos e socialmente desejáveis

Não há empecilho financeiro


Os custos são elevados mas não são proibitivos

Não há empecilho
Há dificuldades, mas é viável
Mas para fazer reúso controlado de águas
é necessário planejar e projetar,
contemplando questões de disponibilidade
e demanda de água de reúso (esgoto
tratado quase sempre) e estudos de
alternativas tecnológicas e de arranjos
institucionais para gestão e regulação.

Todos os municípios do Brasil precisam


elaborar seus planos de saneamento básico,
previstos na Lei 11.445. Será muito oportuno
incluir a discussão e o planejamento do
ANDRADE NETO, Cícero O. de.
reúso controlado das águas e do uso (2011). O que vamos fazer com os
esgotos tratados?
produtivo dos esgotos tratados. São Paulo: Infraestrutura Urbana,
Nº 9, ano 1, p. 80, dez 2011. (ISSN
2179-0728)
REÚSO POTÁVEL

Potabilizar água de reúso para beber

Goreangabab Plant, Windhoek Namibia, há mais de 25 anos anos

Ver palestras recentes do Dr. James Crook, anexas.


CROOK, James. Potable Reuse Policies and Regulations in the USA. In: 2º SIMPÓSIO
INTERNACIONAL DE REÚSO DE ÁGUA, Curitiba - Brasil, 28 e 29/04/2015. ABES-PR, 2015

CROOK, James. Potable Reuse Technologies, Monitoring, and Case Studies. In: 2º SIMPÓSIO
INTERNACIONAL DE REÚSO DE ÁGUA, Curitiba - Brasil, 28 e 29/04/2015. ABES-PR, 2015
Examples of Potable Reuse Projects
1962: CSDLAC (California) - groundwater recharge
1968: Windhoek (Namibia) - direct potable reuse
1976: OCWD WF-21 (California) - seawater barrier
1978: UOSA (Virginia) - surface water augmentation
1985: El Paso (Texas) - groundwater recharge
1995: WBMWD (California) - seawater barrier
2000: Scottsdale (Arizona) - groundwater recharge
2002: Torreele, Belgium - groundwater recharge
2003: ESW, Langford, UK - surface water augmentation
2003: Singapore - surface water augmentation
2005: Alamitos Barrier (California) - seawater barrier
2005: IEUA (California) - groundwater recharge
2008: OCWD GWR System (California) - groundwater recharge
2010: Aurora Prairie Waters Project (Colorado) - groundwater recharge
2014: Big Spring (Texas) - direct potable reuse
2014: Wichita Falls (Texas) - direct potable reuse

CROOK, James. Potable Reuse Policies and Regulations in the USA. In: 2º SIMPÓSIO
INTERNACIONAL DE REÚSO DE ÁGUA, Curitiba - Brasil, 28 e 29/04/2015. ABES-PR, 2015
28 de Abril de 2015 – Terça-feira
MANHÃ:
08:00 – 08:30 – Credenciamento.
08:30 – 09:00 – Abertura.
09:00 – 09:40 – Aspectos e considerações das políticas e da regulação do reuso de água no contexto mundial –
Experiência mundial com Blanca Elena Jiménez – UNESCO.
09:40 – 10:20 – Reúso de água como instrumento da gestão de recursos hídricos com Mônica Porto – USP
10:20 – 11:00 – .Reúso de água no contexto do Plano Nacional de Recursos Hídricos com Devanir Garcia dos
Santos da Agência Nacional de Águas – ANA.
11:00 – 11:40 – Debates.
TARDE:
13:30 – 14:10 – O desafio da implantação de um processo de reúso de água – SANASA/CAMPINAS com Renato
Rosseto da SANASA/ CAMPINAS.
14:10 – 14:50 – Metodologias & tecnologias para águas em cidade empregadas na Dinamarca com Alejandro
Ernesto Lasarte do Grupo DHI.
14:50 – 15:30 – Práticas de reuso de água na Alemanha com Uwe Menzel da Universidade de Sttutgart.
15:30 – 15:50 – Intervalo.
15:50 – 16:30 – Políticas e regulação do reuso potável nos Estados Unidos com James Crook – Consultor USEPA.
16:30 – 17:10 – Debates.
17:10 – 17:30 – Apresentação de produtos e serviços da empresa Hidromar.
17:30 – 17:50 – Tratamento terciário de água de esgoto com membranas de carbeto de silício para re-uso de água
com Jan Poul Sorensen da Liqtech Aps.
17:50 – 18:10 – Apresentação de produtos e serviços da empresa Danfoss do Brasil com José Fabio Rodrigues.
29 de Abril de 2015 – Quarta-feira
MANHÃ:
08:00 – 08:40 – Programa de reúso de água com Marcos Asseburg do Projeto Aquapolo Ambiental.
08:40 – 09:20 – Práticas de sucesso de reúso indireto potável com James Crook – Consultor USEPA.
09:20 – 10:00 – Necessidade da regulação para a viabilização do reúso de água no Brasil com Ivanildo Hespanhol –
CIRRA-USP.
10:00 – 10:20 – Intervalo.
10:20 – 11:00 – Prática de reuso na Indústria – Estudo de caso: Cetrel-Odebrecht Ambiental com Eduardo Pedroza
da Odebrecht Ambiental.
11:00 – 11:40 – Projeto em país da América Latina com Blanca Elena Jiménez – UNESCO.
11:40 – 12:20 – Debates.
TARDE:
13:30 – 14:10 – Reúso de água na agricultura com Cícero Onofre de Andrade Neto – UFRN.
14:10 – 14:50 – Estudo de caso – Projeto SAFIR – União Européia – Produção segura e de alta qualidade de
alimentos na agricultura utilizando água oriunda de processos de tratamento e sistemas avançados de irrigação com
Finn Plauborg da Universidade de Aarhus – Dinamarca.
14:50 – 15:30 – Estudo de caso de Reúso de Água em Sistema de Resfriamento utilizando a Tecnologia de
Eletrodiálise Reversa com Rodrigo Suhett de Souza da Petrobrás.
15:30 – 16:10 - A experiência do Vale do Mesquital (México) com Blanca Jiménez da UNESCO.
16:10 – 16:30 – Intervalo.
16:30 – 17:10 – Debates.
17:10 – 17:30 – Tratamento de Águas e Efluentes com Peróxido de Hidrogênio – Aplicações e Implicações no
Reúso de Águas com Luiz Alberto Cesar Teixeira da Peróxidos do Brasil.
17:30 – 17:50 – Cuidando da Água e do Cliente com Andres Forghieri da Neoflow.
18:10 – Apresentação de produtos e serviços de empresas de tecnologias de reúso de água.
18:10 – Encerramento.
Processos avançados

Membranas

Oxidação (POA)

Carvão ativado
Membranas
Membranas UFRN
Sistemas Peroxidados para Tratamento de Esgoto (efluentes)
• Peróxido de Hidrogênio H2O2 (Aplicação Direta)
• Processos Oxidativos Avançados (POA’s): Fenton (Fe2+ + H2O2); Foto-Ativado (UV + H2O2) Ozônio + H2O2.

Dosagem direta POA Fenton

POA Peroxone POA Foto-Ativação


Tratar para:
Irrigação, urbano não potável,
Indústria

ou para beber

?
Water Recycling Criteria Vary Depending on Type of Reuse

Most Stringent Regulations


Potable reuse
Agricultural Reuse on Food Crops
Unrestricted Recreational Reuse
Unrestricted Urban Irrigation Reuse
Restricted Urban Irrigation Reuse
Restricted Recreational Reuse
Industrial Reuse
Environmental Reuse
Reuse on Non-food Crops Agricultural
Least Stringent Regulations

CROOK, James. Potable Reuse Policies and Regulations in the USA. In: 2º SIMPÓSIO
INTERNACIONAL DE REÚSO DE ÁGUA, Curitiba - Brasil, 28 e 29/04/2015. ABES-PR, 2015
PROSAB tema Esgoto:

Edital 01 (1997 - 1998): Tratamento de Esgotos Sanitários por Processos Anaeróbios e por
Disposição Controlada no Solo
Edital 02 (1999 - 2001): Pós-Tratamento de Efluentes de Reatores Anaeróbios
Edital 03 (2000 - 2003): Desinfecção de Esgotos Sanitários e Reuso de Efluentes Tratados
para Fins Produtivos
Edital 04 (2004-2005): Tratamento e utilização de esgotos sanitários.
Edital 05 (2006-2009): Nutrientes de Esgoto Sanitário: Utilização e Remoção.
Disponíveis gratuitamente em:
www.finep.gov.br/apoio-e-financiamento-externa/historico-de-programa/prosab/produtos

BASTOS, Rafael K X (coordenador) et al. Utilização de Esgotos Tratados em Fertirrigação, Hidroponia e


Piscicultura. Rio de Janeiro: ABES, RiMa, 2003. 267p.
FLHORENCIO, L; BASTOS, R K X; AISSE, M M. (coordenedores) et al. Tratamento e utilização de esgotos
sanitários. Rio de Janeiro: ABES, 2006. 427p.
MOTA e von SPERLING (coordenadores) et al. Nutrientes de Esgotos Sanitários: utilização e remoção. Rio de
Janeiro: ABES, 2009. 428 p.
ANDRADE NETO, C. O.; MELO, H. N. S. ; ABUJAMRA, R. C. P. . Utilização de Água Residuária Tratada em Sistemas
Hidropônicos. In: GHEYI, H R; MEDEIROS, S S; SOARES. F A L (Organizadores) et al. Uso e Reúso de Águas de
Qualidade Inferior - Realidades e Perspectivas. Campina Grande: 2005, p. 317-345.
UFRN
Membranas

UFRN
Efluente de filtros anaeróbios
< 1 ovo verme / L
< 20 mg/l de SS

UFRN
UFRN
Tratamento de esgotos em filtros anaeróbios e aerados submersos.
Alta eficiência: DBO 5mg/L;SS 5 mg/L; Amônia 6mg/L; Turbidez 1.
Irrigação “clandestina” com
efluente de lagoas de estabilização
no Rio Grande do Norte, Brasil
A VISÃO DO AGRICULTOR NA PRÁTICA DO REÚSO AGRÍCOLA NÃO CONTROLADO
NA CIDADE DE CAICÓ/RN

Hercília C. de MEDEIROS; Cícero O. ANDRADE NETO

CONCLUSÕES
O estudo apontou que o reúso informal está arraigado culturalmente e economicamente a cidade, sendo
praticado há mais de meio século. Foi possível estimar que a produção de leite dos 16 agricultores entrevistados
corresponde a cerca de 8% da produção do Município, mostrando que o reúso tem significativo valor econômico
para a população local.
Observou-se que a comunidade, de uma forma intuitiva, estabeleceu barreiras sanitárias para o reúso: a única
cultura irrigada pelo esgoto sanitário é o capim para forragem animal e não é permitido o uso de aspersor para
irrigação direta para esgoto bruto.
Um outro aspecto verificado é que os agricultores reconhecem o risco sanitário (risco potencial) decorrente
desta atividade. No entanto, ao considerar suas experiências, eles fazem, empiricamente, uma comparação entre
o risco potencial e o real, considerando que este risco (real) é baixo. A constatação, pela própria vivência, da
diferença entre o risco potencial e o risco real é que afasta o temor do risco sanitário, e provavelmente tem
contribuído para que eles continuem praticando esta atividade.
A pesquisa revelou também que esta atividade é realizada sem nenhuma orientação técnica, existindo um sub-
aproveitamento quanto à produção.
Em que pese todas as condições inadequadas quanto à segurança sanitária e ao meio-ambiente, os exemplos
verificados in loco, os dados coletados, as considerações e depoimentos ao longo de toda a pesquisa, apontam
para a propriedade do reúso agrícola para a cidade, apresentado todas as facilidades sócio-culturais para que
seja implantado um programa de reúso planejado e controlado.
MEDEIROS, Hercília C., ANDRADE NETO, Cícero O. de. A Visão do Agricultor na Prática do
Reúso Agrícola não Controlado na Cidade de Caicó/RN. In: 24º Congresso Brasileiro de Engenharia
Sanitária e Ambiental, 2007, Belo Horizonte. Anais .... Rio de Janeiro: ABES, 2007.
Cícero Onofre de Andrade Neto

Universidade Federal do Rio Grande do Norte


Departamento de Engenharia Civil
Programa de Pós Graduação em Engenharia Sanitária
Laboratório de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental

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