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IED _______________________________________________________________________ 2007

Introdução ao Estudo do Direito


AULA 8 – Aplicação das normas jurídicas no espaço e no tempo

Primeira parte: exposição do conteúdo


1. Limites ao campo de aplicação das normas jurídicas:
- (As leis têm seu campo de aplicação limitado por quatro fatores);
a) Tempo (as leis têm vigência até que sejam revogadas por outras. Ex: o CC/02
entrou em vigor em janeiro de 2003);
b) Espaço (a lei é aplicada em determinado espaço físico, território. Ex: o CP é
aplicado no Brasil todo);
c) Matéria (as leis versam sobre matérias específicas. Daí a divisão fundamental
do direito em público e privado. Ex: a CLT aborda matéria trabalhista, o CP aborda
matéria penal, etc);
d) Pessoas (nesse ponto, pode-se distinguir normas gerais, aplicadas a todas as
pessoas, indistintamente. Ex: CC, CP, etc; normas especiais, que somente se
aplicam a determinada categoria de pessoas. Ex: o ECA só se aplica às crianças e
aos adolescentes; e normas individuais, aplicadas individualmente. Ex:
dispositivos contratuais ou testamentários, etc);
- (É dentro desse campo limitado – em relação ao tempo, espaço, matéria e
pessoas – que toda lei tem sua vigência ou validade. O que se aplica às leis,
nesse ponto, pode ser estendido às demais normas jurídicas);
- (São dois os problemas principais que se colocam, então);
- Conflito de leis no tempo (em havendo lei nova e lei antiga, qual delas prevalece
diante do caso concreto?);
- Conflito de leis no espaço (podem ser aplicadas leis estrangeiras em nosso
território nacional?).

2. Vigência das leis no tempo:


a) Início e fim da vigência da lei (como qualquer fenômeno cultural, a lei nasce,
modifica-se e morre):
- Promulgação e publicação (no Brasil as leis nascem com a promulgação, mas só
entram em vigor depois de sua publicação oficial. Esse o teor do artigo 1º e §§ da
LICC: vacância de 45 dias no Brasil - artigo 1º, vacância de 3 meses da lei
brasileira no exterior - § 1º, nova publicação para correção - § 3º e correções de
texto em vigor - § 4º. A vacância pode ser diminuída, aumentada ou suprimida);
- Vigência da lei – até quando? (artigo 2º, LICC – 3 hipóteses: vigência temporária
– o legislador fixa o prazo de sua vigência; revogação parcial – a lei perde vigência
porque foi modificada por outra lei, derrogação. A derrogação pode ser simples –
torna sem efeito uma parte da lei ou modificação/reforma, quando substitui o texto
da lei por outro; revogação total - também chamada ab-rogação, ou parcial, já
comentada = derrogação);
- Como se dá revogação? (artigo 2º, § 1º, LICC – 3 casos: quando expressamente
o declare; quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a
matéria de que tratava a lei anterior. Os dois últimos casos são chamados
revogação tácita ou implícita. Observe-se, todavia, o artigo 2º, § 2º, LICC);

Professora Luiza Helena L. A. de Sá Sodero Toledo


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- Repristinação (Lei A foi revogada por lei B; lei B, por sua vez, foi revogada por lei
C. Volta a viger a lei A? Não. O fenômeno da repristinação só acontece se
expressamente previsto em lei – artigo 2º, § 3º, LICC);
- Pode a lei ser revogada pelo costume? (a maioria dos autores entende que não.
Mas há aqueles que sustentam ser possível a revogação de lei por costume – se
um costume contra a lei chega a ser aplicado e reconhecido pelos Tribunais e a lei
se transforma em letra morta, de fato ela foi revogada pelo costume. Há projeto de
lei no sentido de se fazer tal inserção na LICC);
- Como se revogam as demais normas? (o princípio geral é de que as normas se
revogam por outra da mesma hierarquia ou de hierarquia superior. Assim, leis
contrárias à CF são inconstitucionais e leis contrárias à legislação ordinária são
chamadas ilegais);
b) Conflito de leis no tempo ou retroatividade (a substituição de uma lei por outra
faz surgir o problema do conflito de leis no tempo ou possibilidade de
retroatividade da lei. O conflito aparece, portanto, quando, para uma mesma
situação jurídica, existem duas normas, a antiga e a nova):
- Retroatividade? (atividade para trás. Acontece quando uma norma regula
situações jurídicas que vêm do passado. São duas as acepções da retroatividade:
sentido amplo – retroativa é a norma que se aplica a qualquer situação jurídica
anterior; sentido restrito – mais freqüente – retroativa é a lei que atropela/fere
direito adquirido. Daí o surgimento do conflito de leis no tempo, também chamado
direito intertemporal);
- Retroatividade ou irretroatividade da lei? (há autores que defendem a
retroatividade da lei – a lei nova deve representar a melhor maneira de regular
determinada situação; deve, portanto, ser aplicada mesmo aos casos antigos e há
outros que defendem a irretroatividade, em prol dos direitos individuais e a
segurança das relações jurídicas. As duas teses são aplicadas, dependendo da
situação);
- Aplicação da irretroatividade (é a própria CF quem fixa os casos de
irretroatividade da lei no Brasil – ato jurídico perfeito, coisa julgada e direito
adquirido – artigo 5º, XXXVI, CF e artigo 6º da LICC. Atente-se para os conceitos
desses institutos. Assim, as leis se aplicam a casos anteriores à sua entrada em
vigor, exceto quando atingem tais institutos constitucionais);
- Direito Penal (no Direito Penal vigora, a princípio, a irretroatividade da lei – artigo
1º, CP. Excepcionalmente, todavia, pode a lei retroagir, desde que seja para
beneficiar o réu – artigo 2º, CP. Note-se que a irretroatividade é a regra).

3. Vigência das leis no espaço:


- Territorialidade (em geral, as leis devem ser aplicadas em um território nacional,
que corresponde ao seu espaço terrestre, águas e atmosfera. Isto em razão da
própria soberania nacional. O princípio da territorialidade prevaleceu no regime
feudal);
- Extraterritorialidade (pode ocorrer, todavia, de lei estrangeira ser aplicada no
território nacional. Tais questões são disciplinadas pelo Direito Internacional
Privado. As normas de Direito Internacional privado serão fixadas pela lei nacional
ou por tratados internacionais. A extraterritorialidade imperou dentre os bárbaros
que invadiram o Império Romano);

Professora Luiza Helena L. A. de Sá Sodero Toledo


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- Problemas (a territorialidade poderia levar ao isolamento, ao passo que a


extraterritorialidade poderia gerar conflitos acerca da soberania dos países);
- Territorialidade moderada (em razão dos problemas decorrentes dos dois
sistemas, adotou-se a territorialidade moderada: a territorialidade, assim, rege
nossos bens e obrigações – artigos 8º e 9º da LICC, ao passo que as normas que
regulam o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade das pessoas,
os direitos de família e sucessão são pessoais, ou seja, obedecem à
extraterritorialidade – artigos 7º e 10 da LICC);
- Autoridade competente (autoridade competente para resolver conflitos de
interesses no Brasil é a autoridade brasileira – artigo 12 da LICC e artigo 17,
LICC);
- Extradição (previsão na CF – artigo 5º, LI e LII).

* Sugestão de leitura: LICC comentada pela Maria Helena Diniz (Editora


Saraiva).

Professora Luiza Helena L. A. de Sá Sodero Toledo

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