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Direito Civil I – Teoria Geral das Obrigações

(Noções Introdutórias – Modalidades das Obrigações)


Henry Colombi – Monitor de Direito Civil-I

I) Noções Introdutórias:
1) Conceito e elementos:
 "Obrigação é o vínculo jurídico em virtude do qual uma pessoa pode
exigir de outra prestação economicamente apreciável"1
 Elementos do conceito:
a Sujeitos (Pessoas Jurídicas, Entes Despersonalizados, ou
Pessoas Físicas capazes ou devidamente representadas
ou assistidas, determinadas ou determináveis, podendo ser
substituídos):2
1. Credor (sujeito ativo, detém direito ao crédito)
2. Devedor (sujeito passivo, detém o dever de prestar)
b Objeto: Conduta humana de caráter direta ou
indiretamente patrimonial3 – denominada Prestação –
1. consistente em um:
a. Dar,
i. nesta modalidade de obrigação é relevante a
distinção entre o objeto imediato (a conduta
humana de efetuar a entrega de uma coisa) e o

1
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Vol. II, Teoria Geral das Obrigações. 25ª ed.
atualizada por Gulherme C. N. da Gama. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 7.
Conceitua-se nestes termos a obrigação em sentido técnico, estrito (stricto sensu). Por obrigações, em
sentido amplo (lato sensu) denominam-se obrigações todo tipo de deveres, sejam morais, sejam
jurídicos. Ocorre que, mesmo dentro do âmbito mais restrito dos deveres jurídicos, nem a todos se pode
chamar com exatidão técnica de obrigações, esta serão uma categoria, incluída dentre os deveres
jurídicos, que contenha os elementos explicitados no conceito acima citado. Sobre as acepções do
termo obrigação, conferir: GOMES, Orlando. Obrigações. 6ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1981. p. 14.
2
Para que haja obrigação é necessário que concorram pelo menos dois sujeitos concentrados cada um
deles em polos opostos. O polo ativo (aquele que exige a prestação) e o polo passivo (aquele de quem
se exige a prestação). Nada impede, no entanto, que, compondo um ou outro desses polos, mais de dois
sujeitos figurem na obrigação. O que é inviável para a subsistência de uma obrigação é que um desses
polos se esvazie, diante disso, há uma impossibilidade lógica, ou que os mesmos sujeitos figurem
simultaneamente em ambas as posições, ativa e passiva, diante do que se procederá a confusão (arts.
381 e ss., CC) que extinguirá a obrigação.
3
Mesmo que a prestação originariamente não apresente uma quantificação patrimonial clara (o que só
é passível de se imaginar quando seu conteúdo consistir em determinadas modalidade de fazer ou não
fazer), este elemento sempre estará indiretamente presente pois, em caso de descumprimento da
obrigação seu valor será determinado em uma equivalência patrimonial para fim de ressarcimento de
perdas e danos, conforme arts. 248 (obrigações de fazer); 251 (obrigações de não fazer) e 389
(disposição geral), todos do CC/02. Em casos que não se percebe no dever jurídico qualquer repercussão
patrimonial, direta ou indireta, não é possível falar em obrigação em sentido próprio. Caio Mário (idem,
p. 23) dá o exemplo do dever de fidelidade recíproca entre os cônjuges imposto pelo art. 1.566, I do
CC/02, que, apesar de ser um dever imposto pela ordem jurídica, não possui reflexo patrimoniais quer
diretos ou indiretos, portanto, não configuram uma verdadeira obrigação.
objeto mediato, que seria a coisa a ser dada em
si mesma. (ex. dar um carro – objeto mediato).
b. Fazer, ou
c. Não fazer.
2. Cuja validade pressupõe (art. 104, II, CC):
a. Lícita
i. Não confundir a ilicitude da causa da obrigação
com a ilicitude da obrigação em si. Ex. pacto
sucessório, ou seja, contrato sobre herança de
pessoa viva, é ilícito (art. 426, CC), mas as
obrigações delas decorrentes (os possíveis dar,
fazer ou não fazer) não necessariamente o são.4
b. Possível (física ou juridicamente)
i. Há discussão se impossibilidade jurídica seria
algo diferente de ilicitude. Caio Mário não
diferencia5, Orlando Gomes, por sua vez, realiza
a distinção. Juridicamente impossível seria ato
que a lei simplesmente não admite, enquanto
ilícito seria aquela que, além de inadmissível
seria punível.6 Ex. ilícita seria obrigação de
realizar de cometer um furto, enquanto
juridicamente impossível seria, vender um bem
público de uso comum do povo, dito extra
commercium, ex. parque municipal.
c. Determinada ou, ao menos determinável
i. Critérios mínimos de determinação em uma
obrigação de objeto determinável: gênero e
quantidade. (art. 243, CC)
ii. Se tratando de obrigação cujo objeto é um dar
(obrigação de dar) esta distinção importará a
seguinte classificação:
a. Objeto determinado: Obrigação de dar
coisa certa (art. 233 e ss., CC)
b. Objeto determinável: Obrigação de dar
coisa incerta (art. 243 e ss., CC)
c Elemento abstrato: Vínculo jurídico entre credor e devedor.
É o poder, conferido pela ordem jurídica, que o primeiro
tem de impor ao segundo uma ação positiva (dar ou fazer)
ou negativa (não fazer). Decompõe-se em dois fatores:
1. Débito (Schuld): dever de realizar a prestação.

4
GOMES. Idem. p. 48.
5
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Idem. p. 19.
6
GOMES. Idem. p. 48.
2. Responsabilidade (Haftung): sujeição de um patrimônio
(do próprio devedor ou de terceiros) à satisfação do
credor caso não realizada a prestação.7
 Obrigação Natural (ou imperfeita)8: categoria
especial de obrigação cujo vínculo jurídico não
detém o fator responsabilidade (um débito sem
responsabilidade).9 Não podendo, por isto, ser
exigida em juízo a satisfação do credor da obrigação
natural, só tem efeitos os jurídicos no particular de
tornar irrepetível o pagamento realizado a título de
seu cumprimento (afasta o enriquecimento tem
causa, pois o pagamento tem como causa a
obrigação natural). São exemplos de obrigações
naturais no ordenamento brasileiro:
i. Dívida de jogo:
Art. 814, CC: As dívidas de jogo ou de aposta não
obrigam a pagamento; mas não se pode recobrar
a quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se
foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou
interdito.
ii. Dívida prescrita:
Art. 882, CC: Não se pode repetir o que se pagou
para solver dívida prescrita, ou cumprir obrigação
judicialmente inexigível.

2) Características dos Direitos Obrigacionais, comparação com os


Direitos Reais
 Já foi dito que os direitos obrigacionais têm caráter patrimonial.
Dentro desta categoria estão inseridos, para além dos direitos
obrigacionais, uma outra modalidade de direitos patrimoniais

7
Importante mencionar que, diante do descumprimento do dever de realizar a prestação pelo devedor,
a satisfação do credor se dará pelos meios processuais adequados. Ou seja, deve recorrer ao judiciário
para tanto, não detendo a legitimidade de sujeitar, por suas próprias forças, o patrimônio do
responsável. COSTA, Mario Júlio de Almeida. Direito das Obrigações. 6ª ed. Coimbra: Almedina, 1994. p.
124-127. apresenta uma boa síntese de como procede a satisfação do credor por meio da os
responsabilidade através do Poder Judiciário. No entanto, cuidado, as referências legislativas são
referentes ao direito positivo português. A lógica subjacente, no entanto, é bem semelhante.
8
Contrapõe-se à Obrigação Civil, entendida como aquela cujo vínculo jurídico se compõe tanto pelo
débito quanto pela responsabilidade (PEREIRA, Caio Mário da Silva. Idem. p. 28). Almeida Costa traz uma
distinção interessante entre as obrigações civis e naturais, encaradas da perspectiva do credor,
enquanto naquela há o poder de exigir a prestação, nesta apenas há o poder de pretendê-la (idem, p.
143), haja vista o efeito atribuído pelo direito de não ser repetível o pagamento das obrigações naturais.
9
Há discussões na doutrina sobre a natureza e a compreensão da obrigação natural, sobretudo em
relação a sua identificação como dever de ordem moral ou social (como a considera o Código Português
em seu art. 402). Estas, no entanto, não apresentam a relevância prática traduzida pela conceituação da
doutrina dualista delas como débito sem responsabilidade.
denominados direitos reais.10 Importa diferenciá-los por suas
características:

Direitos Obrigacionais Direitos Reais


Vínculo jurídico entre dois Poder jurídico do titular sobre a
sujeitos coisa
Vínculo temporário (programado Poder jurídico tendente a ser
para ser extinto em determinado eterno
lapso temporal – Vencimento)
Objeto: agir humano (prestação) Objeto: a coisa em si
positivo ou negativo (dar,
fazer/não fazer)
Sujeito passivo determinado Sujeito passivo indeterminado (a
(devedor) coletividade)
Rol aberto (numerus apertus) Rol fechado (numerus clausus).
Previsto taxativamente no art.
1.225, CC

 Intersecção Direito Obrigacional/Direitos Reais: Obrigações Propter


Rem:
a Obrigação Popter rem: obrigação "por conta da coisa"11
 O sujeito, por ser titular de determinado direito real, se torna
devedor de uma obrigação vinculada àquele direito. Tem por
características12:
1. Se relacionarem ao titular de um direito real;
2. São acessórias ao direito real que a que se vinculam e,
assim, ambulatórias (transmite-se a quem se puser na
posição de titular do direito real a ela correlato); e
3. Destarte, abdicando o devedor do direito real, livra-se
da obrigação propter rem, que se transmite ao titular
que o adquirir.
 Exemplo 1: A despesa para demarcação dos limites entre
imóveis vizinhos (ex. muro divisório) é despesa a ser
proporcionalmente dividida entre os proprietários de cada um
dos imóveis, podendo um vizinho constranger o outro a
acercar com sua parte (art. 1.297, CC).13
 Exemplo 2: Despesas condominiais (definida no art. 1.315,
CC), tem sua natureza propter rem conferida pelo art. 1.345,
CC:

10
RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil. Vol. II – Teoria Geral das Obrigações. 29ª ed. São Paulo: Saraiva, 2001.
p. 6-7.
11
DOS SANTOS, Washington. Dicionário Jurídico Brasileiro. Belo Horizonte: Del Rey, 2001. p. 313.
12
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Idem. p. 41. Descrição modificada para maior clareza.
13
LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de Direito Civil. Vol. II – Obrigações em Geral. 2ª ed. Rio de
Janeiro: Freitas Bastos, 1957. p. 64.
O adquirente de unidade responde pelos débitos do
alienante, em relação ao condomínio, inclusive multas e
juros moratórios.
1. Relevante apontar que as despesas condominiais,
conforme interpretação dada pelo STJ no REsp.
199801-RJ, ao inciso IV do art. 3º da Lei nº 8.009/90:
Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em
qualquer processo de execução civil, fiscal,
previdenciária, trabalhista ou de outra natureza,
salvo se movido:
(...)
IV - para cobrança de impostos, predial ou
territorial, taxas e contribuições devidas em função
do imóvel familiar;
A 3ª Turma interpretou o trecho grifado acima no
seguinte sentido:
O vocábulo "contribuição" a que alude o inciso IV,
art. 3.º da Lei n.º 8.009/90 não se reveste de
qualquer conotação fiscal, mas representa, in
casu, a quota parte de cada condômino no rateio
das despesas condominiais. Nesta circunstância,
a obrigação devida em decorrência da má
conservação do imóvel da recorrente há de ser
14
incluída na ressalva do mencionado dispositivo.
3) Fontes das Obrigações
 Elemento gerador, causa da obrigação.
 Diversas teorias se prestam a defini-las. São exemplos:
a Concepção da origem a partir dos fatos jurídicos (Orlando
Gomes).
 As obrigações se originam dos fatos jurídicos.
b Concepção romana (refletida no Code Napoléon, 1804):
 Contrato
 Quase-contrato
 Delito
 Quase-delito
c Concepção dualista (Caio Mário)
 Vontade
 Lei
 Maior relevância tem, no entanto, a concepção contemporânea, que
divide as fontes das obrigações entre imediata e mediatas.
a Imediata: imediatamente, a fonte de qualquer obrigação é a lei
b Mediata: a atuação do preceito legal, no entanto, é mediada por
institutos previstos em lei. Quando presentes seus pressupostos,
a lei atua, gerando a obrigação. São as fontes mediatas das
obrigações positivadas no Código Civil:
14
BRASIL. STJ, Terceira Turma. REsp. 199801-RJ. Rel. Min. Eduardo Ribeiro; Rel. p/ Acórdão. Min.
Waldemar Zveiter. Brasília, 16/05/2000. Disponível em: <
http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?processo=199801&b=ACOR&p=true&t=JURIDICO&l
=10&i=1> . Acesso em 18/05/2015. Trecho da ementa.
 Ato ilícito
 Negócio Jurídico
 Atos unilaterais
 Títulos de crédito

II) Modalidades das Obrigações (Classificações pelo objeto da obrigação:


Dar, Fazer, Não Fazer e Alternativas)
1) Obrigações de dar (prestação consistente na entrega de uma coisa)
 Coisa certa (prestação consistente em um dar cujo objeto mediato
seja determinado)
a Abrange os acessórios (art. 233), conferir a definição de
acessórios nos arts. 92 e ss.
 Obrigação de dar coisa certa propriamente dita: a entrega da
coisa importa a transferência da propriedade ou da posse
detida pelo devedor ao credor.
 Perda do bem (art. 234, CC):
1. Sem culpa do devedor, importa em resolução da
obrigação (retorno ao estado anterior, status quo
antem)
2. Com culpa do devedor, importa em exigibilidade do
equivalente15 mais perdas e danos16.
 Deterioração do bem:
1. Sem culpa, opta o credor por (art. 235, CC):
 Receber a coisa, abatido o preço;
 Resolver a obrigação
2. Com culpa, opta o credor por (art. 236, CC)

15
A precisa conceituação da palavra equivalente é controvertida. Pode se entendido que o equivalente
é o correspondente ao valor já recebido pela prestação impossibilitada, abrangendo, portanto, aquilo
que o devedor recebeu do credor em troca de sua prestação. Outros entendem por equivalente o valor
correspondente ao bem a ser entregue. Tratar-se-ia do valor real a ele correspondente, não vinculado
ao preço que o credor desta obrigação pagou por ele (é a opinião de BDINE JR. Hamid Charaf. Direito
das Obrigações. In: Comentários ao Código Civil. PELUSO, Cézar (Org.). Barueri: Manole, 2009. ref.
comentários relativos às obrigações de dar coisa certa, arts. 233 e ss.). Um exemplo é esclarecedor: A
pagou a B 100 mil reais por seu carro. B, culposamente, destruiu seu carro. Suponhamos que uma
perícia avaliou o preço de mercado do carro no valor de 150 mil reais. A quantia a ser restituída a A por
B título de valor equivalente seria a de 150 mil reais. Isso sem prejuízo das demais perdas e danos que
porventura sejam devidos.
16
Perdas e danos é tudo que se perdeu (dano emergente) ou razoavelmente se deixou de ganhar por
conta do não recebimento da coisa (art. 402, CC). Vale o exemplo, no caso da nota anterior, o objetivo
de A era trabalhar como motorista de Uber com o carro adquirido. Para adquirir um novo carro nos
mesmos padrões, ele foi obrigado a despender 200 mil reais, houve, portando, um gasto de 100 mil a
mais do que ele efetivamente teria que gastar se o negócio se completasse, este é o dano emergente da
conduta culposa de B. Além disso, a não entrega da coisa retarda o início de suas atividades como
motorista de Uber em uma semana. Estima-se que, trabalhando 6 dias por semana, durante 8h diárias,
A ganharia 5 mi reais, estes são os lucros cessantes resultantes da conduta culposa de B. Ao todo,
portanto, para além do equivalente (150 mil), B deve indenizar A 105 mil reais a título de perdas e
danos.
 Receber a coisa, abatido o preço, podendo exigir as
perdas e danos
 Exigir o equivalente mais as perdas e danos
 Acréscimos e melhoramentos do bem (art. 237, CC)
1. Pertencem ao devedor (no caso dos frutos, pertencem
ao devedor os percebidos, os pendentes são do credor
§Ú, art. 237, CC), podendo ele exigir acréscimo no
preço pela valorização do bem. Diante disso, pode
optar o credor por:
 Pagar o acréscimo
 Resolver a obrigação
 Obrigação de restituir: a entrega da coisa importa em
devolução da posse ao seu proprietário. O credor é o
proprietário da coisa cuja posse o devedor detém.
 Perda do bem:
1. Sem culpa do devedor, importa em resolução da
obrigação, ressalvados os direitos do credor até o dia
da perda17 (art. 238, CC). A distinção reside no fato de
que quem arca com o risco é o credor, pois é ele o
proprietário (res perit domino)
2. Com culpa do devedor, importa em exigibilidade do
equivalente mais perdas e danos (art. 239, CC)
 Deterioração do bem (art. 240, CC):
1. Sem culpa do devedor, o credor recebe a coisa, sem
direito a indenização, suporta o risco.
2. Com culpa, aplica-se a regra do art. 239, importa em
exigibilidade do equivalente mais perdas e danos.18
Obs. Quanto a responsabilidade do
devedor por perda ou deterioração, é
preciso estar atento à exceção
quando a obrigação tem por fonte
um contrato gratuito. Nos termos do
art. 392, CC, neles somente
responde o contratante por dolo.
 Acréscimos e melhoramentos do bem:
1. Sem despesa do devedor (art. 241, CC), lucra o credor,
não devida qualquer indenização ao devedor;
2. Com despesas do devedor (art. 242, CC), aplicam-se
as regras pertinentes às benfeitorias:
17
Suponhamos que seja um contrato de aluguel, à metade de um mês, a coisa se perde, sem culpa do
locatário. Não deve ele indenizar o locador pela perda, mas ressalva-se àquele receber os preços
equivalentes aos aluguéis devidos pela metade de um mês que o locatários lá esteve.
18
Crítica: a redação do artigo parece sugerir que não poderia o credor de coisa deteriorada por culpa
preferir receber a coisa deteriorada, cobrando perdas e danos.

Possuidor de boa-fé tem direito de indenização, e
poder de retenção sobre a coisa até que esta seja
paga, pelas benfeitorias (art. 1.219, CC):
i. necessárias
ii. úteis
Pode, ainda, levantar as voluptuárias se não
danificar a coisa.
 Possuidor de má-fé tem direito apenas a
indenização pelas benfeitorias necessárias, não
detendo direito de retenção.
3. Aos frutos, aplicam-se as regras pertinentes aos
possuidores (art. 242, §Ú):
 de boa-fé (art. 1.214, CC): tem direito aos frutos
percebidos;
 de má-fé (art. 1.216, CC): não tem direito a nenhum
fruto, devendo indenizar por todos os percebidos e
por todos os quais, por culpa, deixou de perceber.
 Coisa incerta (prestação consistente em um dar cujo objeto mediato
seja determinável)
a Critérios mínimos cumulativos de determinação (art. 243),
 gênero: ex., soja
 quantidade: ex., 100 sacas
b Perda dos bens antes da concentração, logo, enquanto de dar
coisa incerta a obrigação (art. 246):
 não se pode falar em perda dos bens, pois o gênero não se
perde ("genus nunquam perit").
c Concentração: escolha
 Realizada pelo devedor, salvo disponha em contrário o título
da obrigação (art. 244, CC)
 Limites: qualidade média dos produtos (art. 244, segunda
parte, CC)
 Cientificada a escolha ao credor, converte-se em obrigação de
dar coisa certa (art. 245, CC). Passa ser devida unicamente a
coisa escolhida.
2) Obrigações de fazer (prestação consistente em uma atividade comissiva
humana)
 A distinção entre prestações de fazer e de dar por vezes é nebulosa,
como no caso de contratos de empreitada (art. 610 e ss., CC), deve-
se, portanto, tentar avaliar qual a característica preponderante da
obrigação.19

19
Ex. Contrata-se um artista para pintar um retrato. Claro que, assim que pronto o retrato, só terá
sentido a obrigação se o devedor a der ao credor. No entanto, nesta obrigação o elemento do fazer
 Distingue-se as obrigações de fazer em, com as decorrentes
consequências:
a Fungíveis: outras pessoas que não o próprio devedor têm as
habilidades necessárias para executar a tarefa em seu lugar.
Consequentemente
 Havendo recusa ou mora do devedor, pode o credor mandar
outra pessoa executar o serviço, devendo o devedor arcar
com essas despesas, para além de indenizações cabíveis por
perdas e danos (art. 249, CC).
 Necessitará de autorização judicial, como regra, esta
ordem de mandar, à custa do devedor, realizar-se por
terceiro a obrigação por ele devida;
 Havendo urgência, dispensa-se a autorização judicial,
custeando o próprio credor a execução do serviço por
terceiro e sendo, depois, ressarcido pelo devedor (art. 249,
§ Ú, CC)
b Infungíveis: o devedor é a única pessoa com habilidades
particulares para executar a tarefa acordada.
 Por meio da tutela específica, a ser estudada no Direito
Processual com mais detalhes, pode-se compelir o devedor,
através de imposição de multa, para que este realize a
obrigação de fazer infungível. Este é o meio de execução que
vem sendo preferido por parte da doutrina e da jurisprudência
como o mais eficaz para a satisfação do credor. Somente não
será possível quando a coação do credor a realizar importe
em restrição muito incisiva à sua liberdade individual;
 Caso não seja possível a tutela específica, ou prefira o credor,
o devedor fica obrigado a indenizar as perdas e danos (art.
247, CC).
 Como regra geral, tem-se que, impossibilitada a prestação da
obrigação de fazer:
a Sem culpa do devedor, resolve-se a obrigação;
b Com culpa do devedor, responde ele pelas perdas e danos.
Obs. Parece, ainda, discutir neste
ponto, por ser o âmbito onde se situa
a sua aplicabilidade prática, a
questão da distinção entre
obrigações de meio e de resultado.
Tema de enorme importância.
Enquanto na obrigação de resultado
compromete-se o devedor a

humano está mais fortemente presente que o fator da entrega. Desta forma, as disposições da seção
que regula as obrigações de fazer terão maior aplicabilidade.
alcançar um objetivo pactuado,
naquela de meios este se
compromete simplesmente a
empregar seus melhores esforços
para atingir os resultados almejados.
Tem-se como exemplo da primeira o
compromisso de um cirurgião
plástico que promete ao paciente
que, após a cirurgia, seu nariz
estaria à semelhança do de uma
determinada atriz. Não alcançando o
resultado, não se tem por cumprida
a obrigação, pois o objeto pactuado
é o resultado. Caso outro é a
obrigação que contrai um médico de
emergência, que, atendendo um
paciente gravemente ferido, se
compromete simplesmente a
empregar seus melhores esforços
para salvá-lo. A morre do paciente
não constitui inadimplemento da
obrigação. Este somente haverá se
agiu o médico com negligência e se
foi pouco diligente com suas
obrigações.

3) Obrigações de não fazer (prestação consistente em uma atividade


omissiva humana)
 A disciplina desta modalidade de obrigação é semelhante à anterior,
defere por ter seu objeto um sentido oposto.
 Impossibilitada a abstenção:
a Sem culpa do devedor: resolve-se a obrigação (art. 250, CC)
b Com culpa, ou, ainda que não impossibilitada, mas o devedor a
realizando (art. 251, CC):20
 Pode exigir que a desfaça, e cobrar as perdas e danos
 Havendo recusa, pode desfazer às custas do devedor, e
cobrar as perdas e danos
 Como no caso da obrigação de fazer, a regra é a
necessidade de autorização judicial,

20
Parece ser esta a melhor interpretação do Art. 251: " Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção
se obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o
culpado perdas e danos." Combinada a interpretação do dispositivo anterior, que determina a resolução
no caso de impossibilitada a abstenção sem culpa, entende-se que para que operem os efeitos deste
artigo a culpa será necessária.

Em caso de urgência, da mesma forma, pode desfazer por
seus próprios meio, fazendo jus a ressarcimento (art. 251,
§ Ú, CC).
4) Obrigações Alternativas
 Trata-se de uma modalidade de obrigação complexa, ou seja, tem
por objeto mais de uma prestação. Nas obrigações alternativas,
havendo mais de uma prestação, a obrigação se extingue com o
realização de qualquer uma delas.21
a Em regra, a escolha de qual prestação realizar cabe ao devedor
(art. 225, CC).
 Impossibilitando-se a realização de algumas das prestações
alternativas, as demais que seguem possíveis subsistem (art.
253, CC)
 Se ambas se impossibilitarem por culpa do devedor, este deve
pagar o equivalente à última a se ter impossibilitado, bem
como as respectivas perdas e danos.
 Não havendo culpa, resolve-se a obrigação.
b Cabendo a escolha ao credor,
 Uma das prestações se torna inexequível por culpa do
devedor, pode optar o credor por:
 exigir qualquer das demais que subsistam, mais perdas e
danos
 exigir o equivalente à que se impossibilitou, mais perdas e
danos
 Todas as prestações se tornarem inexequíveis
 por culpa do devedor, pode o credor exigir o equivalente a
qualquer uma delas, mais as devidas perdas e danos.
 se culpa do devedor, resolve-se a obrigação
c Não pode o devedor forçar o credor22 a receber parte da
prestação de uma natureza e outra parte de outra (§1º);
d Em obrigações de prestação periódicas, a possibilidade de
escolha se renova a cada parcela (§2º);
e Havendo pluralidade de optantes e esses não chegarem a um
acordo unânime, ou, sendo designado a um terceiro a escolha e
este não puder ou se recusar a optar, e, não havendo acordo
entre as partes, cabe a decisão ao juiz. (§§ 3º e 4º)
 Distinção: Obrigações alternativas e obrigações facultativa23

21
Daí se distingue da obrigação cumulativa, outra modalidade de obrigação complexa, na qual a
extinção do vínculo pressupõe a realização de todas as prestações que constituem seu objeto. (WALD,
Arnoldo. Direito Civil. Vol. II, Direito das Obrigações e Teoria Geral dos Contratos. 2º ed. São Paulo:
Saraiva, 2011. p. 55).
22
Interpreta-se, que, pela igualdade entre as partes na relação, quando a escolha couber ao credor,
também não poderá este exigir parte de uma e parte de outra prestação do devedor.
a Importante fazer a distinção entre as obrigações alternativas e as
ditas facultativas. Enquanto aquelas obrigações são complexas,
tendo por objeto diversas prestações, devendo uma dela ser a
escolhida, nesta há uma obrigação simples, apenas uma
prestação existe. Sua particularidade é a possibilidade de se abrir
ao devedor a faculdade de, ao invés de realizar a prestação
objeto da obrigação, substituí-la por outra prestação. As
diferenças de efeito são relevantes:
 Enquanto nas prestações alternativas, diante da
inexequibilidade de uma das prestações, as demais
subsistem, na facultativa, sobrevindo impossibilidade da
prestação, extingue-se o vínculo jurídico. Não pode o credor
exigir a prestação facultativa do devedor.
 São exemplos de obrigações facultativas:
 Legal: o art. 1.234, CC, obriga ao proprietário da coisa
achada pagar àquele que a encontrou um recompensa de
não menos que 5% do valor da coisa, bem como ressarcir
eventuais despesas. Tem, no entanto, a faculdade de
abandonar a coisa a quem a achou pra extinguir a dívida.
 Contratual (ampla possibilidade de pactuação):
convenciona-se que, em determinada data, pode o
devedor realizar um pagamento ou, facultativamente,
entregar uma coisa de igual valor para exonerar-se da
obrigação.

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WALD, Arnoldo. Direito Civil. Vol. II, Direito das Obrigações e Teoria Geral dos Contratos. 2º ed. São
Paulo: Saraiva, 2011. p. 58.

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