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Vitória russa na Ucrânia

Os russos se lançam rumo ao Dnieper

Avanço russo para o Dnieper

Julho, 12 de 1943. Em torno da cidade de Kursk os exércitos alemães e russos travam uma encarniçada
batalha. Atacando pelo norte, o 9 o Exército do General Model apenas conseguiu avançar uma dezena de
quilômetros, à custa de terríveis perdas em homens e materiais. Pelo sul, o 4 o Exército Panzer do General
Hoth se encontra paralisado, suportando a inesperada investida de um furioso contra-ataque russo. A
ofensiva, na qual Hitler depositara suas últimas esperanças, redundara num descalabro total. É o momento
que o Alto-Comando russo aguardava. Quatro exércitos soviéticos se lançaram, de surpresa, sobre o flanco
norte das forças alemães. Seu objetivo imediato é a cidade de Orel, que os alemães rodearam com uma
gigantesca barreira defensiva. Milhares de minas foram semeadas em todos os acessos possíveis, armando
uma formidável arapuca para homens e tanques. Para abrir passagem, os russos recorrem então a
concentrações de artilharia que, até aquele momento, jamais haviam sido empregadas na frente oriental.
Milhares de peças de todos os calibres desfecham um bombardeio infernal sobre as posições alemães,
arrasando os redutos e pulverizando as trincheiras. A chuva de projéteis abre largas brechas nos campos
minados. Por esses claros irrompem, em ondas incontidas, as forças russas. Em um avanço concêntrico,
atacando pelo norte, o 11 o Exército da Guarda, do General Bragamian, consegue, depois de dois dias de
furiosos combates, romper o dispositivo defensivo do 2 o Exército Panzer alemão, a cujo cargo está a defesa
do setor de Orel, e avançar 25 km em direção ao sul. A situação para as forças alemães é de extrema
gravidade.

Nessa emergência, o Marechal von Kluge ordena ao General Model deter suas operações frente a Kursk, e
enviar imediatamente, para o norte, todas as unidades motorizadas e blindadas que possam ser retiradas da
frente. É necessário conter, a qualquer preço, o ataque soviético!

A 13 de julho, Kluge e o Marechal von Manstein foram chamados à presença de Hitler. Nessa entrevista, o
Fuhrer comunicou aos altos chefes alemães a sua decisão de cessar a ofensiva à Kursk. Não somente porque
o ataque fracassara como também porque acabava de ocorrer outro fato cuja gravidade impunha uma
absoluta mudança nos planos: a 10 de julho, as tropas americanas e britânicas haviam desembarcado na
Sicília, suplantando as defesas do Eixo. Para conjurar essa ameaça era necessário encerrar a operação
Cidadela (ataque a Kursk) e enviar à Itália, o quanto antes, tropas de reforço.

Deste modo, quando se iniciou a grande contra-ofensiva russa, o Fuhrer tinha que rechaçar, simultaneamente,
o ataque aliado na península italiana. A temida guerra e duas frentes, no continente europeu, finalmente se
convertia numa realidade para os alemães.

O grande ataque soviético

Muito acertadamente, o Alto-Comando russo resolvera passar a um contra-ataque geral, assim que fosse
debelada a investida alemã em Kursk. O objetivo dessa gigantesca operação era, tal como na frustrada
tentativa do inverno passado, conseguir o aniquilamento completo de todas as forças alemães que operavam
no sul da Rússia. Valendo-se da sua enorme superioridade, os russos esperavam, desta vez, conseguir o
triunfo almejado.

Cinco grandes Grupos de Exércitos, os da Frente Central, do General Rokossovski; o de Voronez, do General
Vatutin; o das Estepes, do General Koniev; o do Sudoeste, do General Malinovski; e o do Sul, do General
Tolbuchin, se lançariam como uma imensa maré sobre as unidades alemães, desgastadas pela encarniçada
luta em Kursk. Atravessando a linha dos rios Donetz e Mius, os russos convergiriam aceleradamente sobre o
Dnieper, para cercar e exterminar os alemães contra as costas do Mar de Azov e do Mar Negro.
Simultaneamente com o início dessa ofensiva, na retaguarda alemã milhares de guerrilheiros atuariam para
paralisar o sistema ferroviário e de rodovias.
Do lado alemão, o Marechal von Manstein, Chefe do Grupo de Exércitos Sul, vislumbrara claramente a
mortal ameaça que crescia sobre as suas forças. Esse chefe acreditava poder atenuar a violência da iminente
investida russa e assim salvar as suas unidades da destruição. Para isso propunha-se a renunciar à defesa
estática dos territórios conquistados e recorrer exclusivamente a uma luta móvel, tal como havia feito com
êxito no inverno de 1943, quando, ao deslocar suas forças e mediante um inesperado contra-ataque,
conseguira deter o avanço russo sobre o Dnieper e reconquistar a cidade de Karkov. Hitler, contudo, se opôs
terminantemente a utilizar o estratagema proposto por Manstein. O ditador considerava as zonas industriais e
os trigais do sul da Rússia vitais para a economia de guerra alemã, e não queria abandoná-los sob nenhum
pretexto. O Grupo de Exército Sul, portanto, teria que manter-se em suas posições sem ceder um só metro de
terreno. Desta forma, Hitler criava, obstinadamente, as condições mais favoráveis para o êxito da ofensiva
russa.

Von Manstein, assim resumiu a situação: “Pesava sobre nós a desvantagem de ter, por um lado, anulada
nossa iniciativa pela ordem de defender a bacia do Donetz e, por outro, de carecer de forças suficientes para
resguardar nosso ameaçado flanco norte... Obrigados a imobilizar uma parte substancial de nossas unidade
na bacia do Donetz e, mais tarde, no Dnieper, tínhamos, ao mesmo tempo, que deslocar incessantemente
nossas reservas de um a outro flanco da frente, para restabelecer, embora em parte, a situação nos pontos
mais ameaçados... Isso não nos permitia, porém, impedir que os russos, ao mesmo tempo, conseguissem em
outros pontos as vantagens que a sua enorme superioridade lhes proporcionava”.

Em virtude, portanto, das determinações do Fuhrer, os exércitos alemães estavam diante da possibilidade de
sofrer uma derrota ainda mais humilhante do que a suportada em Stalingrado.

“Ponho meu cargo à sua disposição...”

Enquanto o ataque sobre Orel se desenvolvia com pleno êxito, em Moscou o Alto-Comando russo trabalhava
sem descanso, ultimando os preparativos das novas fases da ofensiva. A intenção era romper o equilíbrio
defensivo das forças alemães, através de uma série de golpes demolidores assestados em diferentes setores
da extensa frente. A 17 de julho, as tropas dos Generais Malinovski e Tolbuchin se lançaram ao assalto, no
sul, cruzando os rios Mius e Donetz, e estabeleceram profundas cabeças-de-ponte. Estava iniciada a batalha
decisiva.

Manstein, obrigado pelas determinações de Hitler, ordenou imediatamente o deslocamento de unidades


blindadas da ala norte para o sul, a fim de expulsar os russos das posições em que se haviam infiltrado. Com
esta medida ficou debilitada o setor norte, onde o chefe alemão previa, acertadamente, que os russos
lançariam o seu ataque principal. Numa tentativa de frustrar essa ameaça. Manstein ordenou que duas
divisões SS concretizassem imediatamente o aniquilamento das forças russas que haviam transposto o
Donetz e, depois de cumprida essa missão, se incorporassem, sem tardar, às restantes formações Panzer
encarregadas de expulsar os russos do setor do Mius. Assim, mediante um violento e duplo contra-ataque,
Manstein pretendia restabelecer as linhas do seu flanco meridional, para em seguida deslocar novamente as
divisões de tanques para o norte. Contaria assim com margem de tempo suficiente para ali enfrentar a
iminente investida russa.

Uma nova intervenção de Hitler veio anular os seus planos. O Fuhrer, ordenou, terminantemente, que as
divisões fossem empregadas unicamente no ataque contra os russos no Mius, cancelando a projetada
intervenção no Donetz. Manstein, totalmente abatido por essa determinação, que praticamente o deixava de
mãos atadas, enviou uma carta ao chefe do Estado-Maior, General Zeitzler, protestando claramente. Dizia:
“Se, reiteradamente, continuam fazendo caso omisso das minhas observações relativas à provável evolução
da situação, e anulando as medidas com que pretendo enfrentar as dificuldades... sou obrigado a supor que
minha direção não inspira ao Fuhrer a indispensável confiança... Se o Fuhrer pensa contar com um
comandante que tenha melhores nervos... então ponho, prazerosamente, meu cargo à disposição. Acredito ter
o direito de fazer uso do meu cérebro, enquanto não for destituído do comando”.

A nota não recebeu resposta. Hitler, sem dúvida, não estava disposto a prescindir, nesse momento crítico, do
chefe a quem ele mesmo qualificara como “a melhor cabeça que o Estado-Maior produziu”. Absteve-se
porém de revogar as suas determinações. As funestas conseqüências dessa atitude logo se manifestaram. O
ataque dos tanques alemães no Mius, iniciado a partir de 30 de julho, conseguiu eliminar rapidamente o
rompimento soviético, porém a cabeça-de-ponte no Donetz não pôde ser reduzida. Combatendo
furiosamente, as tropas de Malinovski se aferraram às suas posições e rechaçaram, um após outro, os
desesperados assaltos das forças alemães. A cunha aberta já não poderia ser fechada, pois Manstein se viu
obrigado a deslocar apressadamente as suas reservas para o norte. Ali, a 3 de agosto, os exércitos de Vatutin e
Koniev puseram em marcha a segunda fase da ofensiva.

Desmorona-se a frente

Operavam agora, sobre a imensa frente de batalha, desde Orel até as costas do Mar de Azov, seis grandes
grupos de exércitos soviéticos. Era a primeira vez na guerra que os russos se lançavam à ofensiva no verão,
depois dos seus vitoriosos contra-ataques no inverno de 1941, diante de Moscou, e de 1942, em Stalingrado e
no Cáucaso. O Exército Vermelho, nos anos transcorridos desde a invasão alemã, se convertera num máquina
bélica de extraordinário poderio. Sua superioridade sobre a Wehrmacht era esmagadora. Integrada por
milhões de soldados veteranos e conduzido por generais de capacidade e inteligência comprovadas, recebia
das fábricas situadas além dos montes Urais, uma corrente gigantesca e incessante de acessórios e
armamentos. Em 1943, os russos fabricaram mais de 35.000 aviões de todos os tipos, 16.000 tanques
pesados e médios, 3.500 leves e 4.000 canhões autopropulsados. Ao todo, de peças de artilharia e morteiros,
alcançou a cifra de 130.000 unidades!

Contra essa massa impressionante de homens e materiais, a Alemanha nada mais poderia fazer. Hitler
subestimara o poderio russo e pagava agora o seu erro com a derrota. O Fuhrer, porém, resistindo
furiosamente a admitir o seu fracasso, obrigaria a Wehrmacht a continuar desgastando-se nessa luta sem
esperanças. Manstein definiria, com exatidão, a absoluta esterilidade da sacrifício: “Estávamos diante e uma
hidra capaz de fazer surgir duas cabeças de cada uma que lhe amputássemos...”. Com o correr dos dias, a
ofensiva russa aumentava de intensidade. Ao norte, no setor de Orel, as tropas russas convergiam de todas as
direções sobre a cidade, num avanço esmagador. Os alemães corriam nessa área o risco de serem cercados e
exterminados a curto prazo. O Marechal von Kluge, depois de desesperados apelos, conseguiu que Hitler se
dignasse a ordenar a retirada parcial das forças. Assim, a 26 de julho, a determinação foi comunicada ao
General Model, que imediatamente iniciou a retirada, incessantemente acossado pelos tanques e pela aviação
soviética.

No dia 5 de agosto, os tanques vermelhos irromperam pelas ruas cobertas de escombros de Orel, onde ainda
resistiam grupos emboscados de atiradores e unidades alemães de retaguarda. A reconquista dessa cidade, a
que se somou a de Belgorod, libertada nesse mesmo dia, foi celebrada com imenso júbilo em toda a Rússia.
Stalin emitiu uma ordem-do-dia ordenando que se disparassem na Praça Vermelha de Moscou salvas de
artilharia, comemorando a vitória. Existiam motivos bastante que justificavam a celebração. Em toda a frente
de combate, os exércitos vermelhos avançavam irresistivelmente.

No sul, os russos haviam desencadeado seu ataque a 3 de agosto. Milhares de homens, apoiados por
poderosas formações de carros blindados, irromperam através das linhas defensivas pelo 4 o Exército Panzer e
pelo 8o Exército alemão, abrindo uma ampla brecha de 55 km entre essas duas forças. Assim, ficava plantada
uma ameaçadora ponta-de-lança em direção ao Dnieper.

Manstein distribuiu imediatamente as suas escassas reservas: duas divisões de tanques SS, três Panzer e uma
de Panzergrenadier, para que golpeassem ambos os flancos da cunha russa. Estas unidades, porém, dizimadas
nos combates anteriores, não possuíam mais suficiente poder combativo para constituir uma força à altura da
missão que lhe havia confiado.

A 5 de agosto caía Belgorod e os russos continuaram o avanço, superando, uma após outra, as posições
defensivas alemães.

No dia 11, os exércitos de Vatutin alargaram a brecha. As unidades de vanguarda cortaram a linha férrea
Karkov-Poltava. Cada hora que transcorria, a situação dos alemães mais e mais se agravava. As tropas da
frente de combate da estepe, do General Koniev, se juntaram então a ataque, e arremeteram sobre Karkov.
Nessas circunstâncias, o Fuhrer emitiu uma de suas características ordens de resistir até o fim, e impedir que
a cidade caísse nas mãos dos russos. E novamente a situação superou os seus desejos. Conforme declarou um
chefe alemão: “A manta era muito curta, em qualquer posição. Não existiam forças suficientes para cobrir os
claros que se produziam constantemente”.
O 1o Exército Blindado foi lançado por Vatutin para o sul, a fim de apoiar o ataque de Konev contra Karkov.
As tropas alemães que defendiam a cidade estavam, portanto, expostas à ameaça de um aniquilamento
imediato.

Mediante um violento contra-ataque sobre o flanco das formações blindadas russas, o 4 o Exército Panzer
conseguiu deter o avanço e rechaça-las novamente para o norte, após uma semana de combates de furiosa
intensidade. Este êxito deu aos alemães uma pausa para respirar. Manstein decidiu então aproveitar essa
oportunidade que não voltaria a repetir-se. Passando por cima da ordem de Hitler, deu ordem à guarnição de
Karkov para retirar-se apressadamente, rumo ao oeste.

A 23 de agosto, ao meio-dia, as tropas vermelhas se apoderaram da cidade que o Fuhrer havia ordenado
defender a todo custo.

A luta frente ao Dnieper

As forças alemães, retirando-se, conseguiram estabelecer uma precária linha defensiva, mais para o oeste. No
setor sul, porém, as tropas do General Tolbuchin reativaram os seus ataques e conseguiram irromper
profundamente nas linhas alemães. Diante disso, Manstein decidiu exigir de forma terminante que lhe
fornecessem maiores reforços ou que lhe concedessem liberdade de movimentos para retirar suas forças da
nascente do rio Donetz. Nesse sentido, enviou uma mensagem ao Alto-Comando alemão, expondo com
absoluta crueza a gravidade da situação. A resposta a essa nota se traduziu na viagem de Hitler, do seu posto-
de-comando, na Prússia Oriental, até a cidade de Winitza, na Ucrânia, para conferenciar pessoalmente com
Manstein. Na entrevista, que se efetuou a 27 de agosto, Manstein, acompanhado por seus principais
subordinados, expôs claramente ao Fuhrer a necessidade de evacuar a bacia do Donetz, no caso de não ser
possível arranjar reforços rapidamente. O chefe alemão lembrou que seu grupo de exércitos sofrera, nas
últimas ações, mais de 130.000 baixas. Haviam sido enviadas à frente apenas 30.000 homens para substituí-
las. As unidades estavam praticamente dizimadas, sem que os claros fossem cobertos. A resistência, portanto,
nas posições determinadas por Hitler, era impossível. Tomou então a palavra o Fuhrer, e declarou em tom
inflamado: “Apesar de todas as dificuldades, temos que nos manter firmes em todas as posições, até que os
russos se convençam da inutilidade de seus ataques”. Prometeu enviar, também, como reforço, todas as
unidades que pudesse retirar das demais zonas da frente oriental.

Mais uma vez a conferência chegou ao fim sem que a questão fundamental ficasse resolvida: a imediata
retirada geral ao longo da frente sul, até a margem oposta do rio Dnieper. Somente esta retirada permitiria
aos alemães encurtar suas linhas para conseguir uma concentração adequada de forças. A intensificação dos
ataques russos, finalmente, impunha aos alemães a adoção dessa medida.

Em ondas irresistíveis, os russos penetraram nas linhas do 6 o Exército alemão, através de numerosos setores
e cercaram um de seus corpos contra a costa do Mar de Azov. Manstein tentou em vão fechar a brecha,
enviando duas divisões que mantinha em reserva, porém, não conseguiu deter o avanço russo. Chegara o
momento de tomar uma decisão definitiva. Manstein, apesar das severas determinações de Hitler, não
vacilou. A 31 de agosto, afinal, ordenou às unidades do 6 o Exército retirar-se para o oeste, até alcançar uma
posição defensiva provisória, que fora levantada na retaguarda.

A notícia do movimento chegou ao QG de Hitler e este se viu obrigado a aceitar a manobra que lhe fora
imposta. Enviou então uma comunicação a Manstein, na qual o autorizava a retirar, paulatinamente, as forças
do setor sul. Assinalava, porém, sua oposição a abandonar o terreno conquistado, e que a retirada se efetuasse
quando a situação “exigir a medida como indispensável e não restar nenhum outra possibilidade”. Esse
argumento era a última expressão da sua obstinada decisão de manter nas mãos a bacia do Donetz. Para
conservar essa zona que considerava vital, o Fuhrer colocara os seus exércitos à beira da derrota total. Agora,
em que pese os seus esforços, tinha que abandona-la. Milhares de homens foram sacrificados em vão.

A ordem do Fuhrer chegou no momento preciso para evitar o aniquilamento das forças alemães.

Ao norte, por sua vez, criava-se novamente uma fonte de perigo de graves conseqüências. Redobrando suas
investidas, as forças de Koniev e Vatutin golpearam os 8 o Exército e o 4 o Panzer, ameaçando romper suas
linhas mais uma vez. Renovava-se assim o círculo vicioso no qual os alemães estavam encerrados, sem
nenhuma possibilidade de escapatória. Apenas era solucionada, em parte, uma crise, e surgia outra, ainda
maior. Convencido que teria que ser dado um “basta” definitivo a essa insustentável situação, Manstein
viajou para o QG da Prússia Oriental juntamente com o Marechal von Kluge. Desta vez a exposição dos
chefes alemães não se limitaria aos problemas imediatos da luta, mas abrangeria, também, o pedido de
criação de uma chefia única, militar, que assumisse a responsabilidade da condução da guerra em todas as
frentes. O pedido tinha por objetivo, na prática, subtrair das mãos de Hitler a direção direta das operações.
Os resultados da entrevista, como era de esperar, foram totalmente adversos. Hitler se negou redondamente a
autorizar a criação a tal chefia, declarando que o suposto novo chefe não conseguiria modificar. Desta forma,
a Wehrmacht continuou amarrada à orientação do Fuhrer, que já demonstrara, várias vezes, carecer de
suficiente capacidade para tomar nas mãos uma tal responsabilidade. Sua “genialidade militar, proclamada
pela propaganda nazista, se traduziria numa série de catástrofes irreparáveis.

A luta, entretanto, continuava violenta, ao longo da frente. Na extremidade sul, os russos conseguiram abrir
uma brecha de 45 km, suplantando as unidades do 6 o Exército alemão. Ao mesmo tempo, o General
Rokossovski investia no ponto de união do Grupo de Exércitos Sul de von Manstein e o Grupo de Exércitos
Centro de von Kluge. Era o temido rompimento do último dique defensivo. O caminho para o Dnieper ficava
praticamente aberto aos soviéticos. Caso conseguissem aprofundar a penetração, separariam os dois grupos
de exércitos alemães e estariam, então, em condições de cercar e exterminar as forças de Manstein sediadas
no sul. Hitler, numa nova reunião que manteve com Manstein, procurou adiar o inevitável recuo para o
Dnieper, prometendo-lhe reforços que não enviaria. A crise assim se precipitava.

Ao chegar ao seu conhecimento que os reforços prometidos pelo Fuhrer não lhe seriam entregues, Manstein
compreendeu que devia agir imediatamente para evitar a catástrofe. Toda a ala norte do seu Grupo de
Exércitos ameaçava ser superada. Decidiu então adiantar-se aos acontecimentos e enviou imediatamente uma
mensagem ao QG do Fuhrer, comunicando-lhe que diante do perigo que o avanço russo significava, não
tinha outro recurso senão ordenar a retirada imediata. Para a margem oposta do Dnieper, de todas as forças
do flanco norte.

Poucas horas depois chegou a resposta do Alto-Comando. Ordenava que adiasse o movimento e que se
apresentasse imediatamente perante Hitler.

A retirada alemã

A entrevista decisiva teve lugar a 15 de setembro de 1943. Veementemente, Manstein expôs a Hitler a
gravidade dos acontecimentos. Assinalou que o perigo que o ataque russo representava já não se
circunscrevia ao seu Grupo de Exércitos, mas que ameaçava estender-se a toda frente oriental. Se os russos
conseguissem aniquilar as forças alemães, no sul, a guerra estaria praticamente perdida. Manstein terminou a
sua alocução exigindo que fossem imediatamente enviadas quatro divisões do Grupo de Exércitos Centro
para cooperar na luta defensiva frente a Kiev. Nesse setor se deveria realizar uma concentração maciça de
forças, para conter a penetração russa.

Hitler, abatido, nada pôde responder, antes as expressões de Manstein. Suas habituais objeções careciam
nesse momento, de qualquer sentido e ele mesmo teve consciência disso. Agora, naquele recinto onde se
acumulavam mapas de todas as frentes e onde o Fuhrer e seus principais assessores haviam planejado suas
grandiosas campanhas de conquista, Hitler tinha de encarar a realidade, a crua realidade que lhe apontava o
caminho da derrota. Não poderia repetir desta vez a ordem irracional que havia condenado a guarnição de
Stalingrado ao aniquilamento. Sabia perfeitamente que uma vitória russa frente ao Dnieper provocaria, a
curto prazo, a derrocada total da resistência alemã em toda a frente russa. Perderia, assim, não só os centros
industriais e mineiros, em cuja defesa não só sacrificara milhares e milhares de homens como também o
grosso da Wehrmacht. Nada mais deteria o avanço russo rumo ao oeste, rumo ao coração da Alemanha.
Portanto, quando Manstein terminou a sua exposição, Hitler conformou-se com os planos do marechal
alemão. A retirada para o Dnieper podia agora iniciar-se. Esta resolução, como todas as de Hitler, chegava
muito tarde.

As forças alemães do sul, distribuídas sobre uma frente de quase 700 km, teriam que marchar
aceleradamente para o oeste e canalizar a imensa quantidade de homens e materiais sobre as cinco estreitas
passagens que cruzavam o Dnieper. Essa operação complexa exigiria um esforço de organização do trânsito
de comboios ferroviários e colunas de veículos rodoviários de enorme magnitude. Além do que, deveria ser
complementada, por ordem de Hitler, por uma destruição sistemática do terreno abandonado. Fábricas,
minas, estradas, pontes, povoações, tudo devia ser arrasado. Nada deveria ficar em pé.
À sua chegada ao posto-de-comando, a 15 de setembro à noite, Manstein deu a ordem de retirada e ordenou
por em marcha a tática de terra arrasada. Os russos, por sua vez, se empenharam numa encarniçada
perseguição ao longo de toda a frente. Não conseguiram, porém, impedir que os alemães alcançassem a outra
margem do Dnieper. Acossados pela certeza de que em poucos dias seriam exterminados, os alemães
conseguiram completar em pouco tempo o gigantesco movimento. Uma corrente ininterrupta de veículos de
todos os tipos, tanques, canhões, colunas de tropas e milhares de civis russos, obrigados a abandonar a
região, se deslocou pelas estradas. Atrás, as unidades de demolição, levavam a cabo o terrível plano que
converteu toda a zona situada entre o Donetz e o Dnieper num verdadeiro deserto selvagem.

Os russos, decididos a não dar descanso ao inimigo em retirada, redobraram os seus ataques. As tropas do
General Vatutin, cujo adjunto político era aquele que mais tarde seria primeiro-ministro soviético, Nikita
Kruschev, arremeteram poderosamente sobre o Dnieper. Os tanques do 3 o Exército Blindado da Guarda se
lançaram, na manhã de 20 de setembro, num irresistível avanço sobre o rio, e, em menos de 48 horas,
cobriram a distância que os separava da margem. Na noite de 21 para 22 de setembro, alcançavam o Dnieper,
a 120 km ao norte da cidade de Kiev. Sem deter o seu avanço, e valendo-se de todo o tipo de elementos, os
russos cruzaram o rio imediatamente e estabeleceram na outra margem uma cabeça-de-ponte de 80 km de
extensão. A linha do Dnieper sofria assim as suas primeiras rachaduras. Ao norte e ao sul, os russos
continuavam a sua aproximação do rio.

A 23 de setembro, as tropas de Koniev tomaram a cidade de Poltava, totalmente arrasada pela ação dos
alemães. Oito dias depois, Koniev alcançou o Dnieper e estabeleceu uma nova cabeça-de-ponte.

As forças de Malinovski e Tolbuchin, por sua vez, liberavam paralelamente toda a bacia do Dontez. No
extremo norte da frente, as forças do General Sokolovski reconquistaram a cidade de Smolensk, em poder
dos alemães desde as primeiras semanas de invasão, em 1941. Assim, em fins do mês de setembro de 1943, o
Exército Vermelho havia completado a libertação de uma imensa franja do território russo. Os alemães, por
seu lado, haviam escapado a duras penas ao aniquilamento. Uma nova e decisiva batalha começaria agora.

O que Hitler passou a chamar a “Muralha do Leste” (a linha do Dnieper) seria o próximo objetivo do
Exército Vermelho.

Acontecimentos políticos

Poucos dias depois da derrota das forças alemães em Kursk, os russos levaram a cabo o primeiro grande
julgamento contra criminosos de guerra. Na localidade de Krasnodar, um grupo de colaboracionistas foi
sentenciado à morte por cooperar com a Gestapo no extermínio de 7.000 judeus e civis russos.

Os primeiros pormenores do processo conseguiram ampla divulgação por parte da imprensa soviética e
serviram para colocar em evidência, perante o mundo, os crimes cometidos pelas forças de segurança
nazistas. Tornou-se então evidente, pela primeira vez, a terrível importância da política de extermínio posta
em marcha por Hitler e seus acólitos. Mais tarde, as forças aliadas, no seu avanço sobre os territórios
ocupados e mesmo na própria Alemanha, descobriram centros de extermínio minuciosamente organizados,
que superariam muitas vezes tudo o que se pudesse imaginar, como nos campos de Treblinka, Auschewitz,
Belsen, Maidanek, Dachau, e muitos outros. Simultaneamente com a realização do processo de Krasnodar,
os russos organizaram o denominado Comitê de Alemães Livres. Esta organização, integrada por prisioneiros
de guerra e dirigentes comunistas alemães refugiados na Rússia, tinha por objetivo, segundo declarações de
Molotov ao embaixador britânico em Moscou, atuar exclusivamente como instrumento de propaganda ante o
povo e o Exército alemão, para minar a sua vontade de resistir.

O anúncio da criação do Comitê foi feito pela imprensa soviética reproduzindo o primeiro número do porta-
voz do Comitê. Este periódico, Freies Deutschland (Alemanha Livre), detalhava a forma como se havia
constituído o Comitê. Nos dias 12 e 13 de julho, no momento em que fracassava a última tentativa da
ofensiva da Wehrmacht, em Kursk, teve lugar em Moscou uma conferência que foi assistida por delegados
de todos os campos de prisioneiros alemães. Os presentes incluíam, além de oficiais e soldados, vários ex-
deputados comunistas do já inexistente Reichstag e outros dirigentes e escritores alemães. O Comitê foi
constituído por eleição e a presidência ficou nas mãos de Erich Weinert, um conhecido escritor comunista
alemão. Secundavam-no, como vice-presidente, dois militares, o Major Carl Hetz e o Tenente Graf von
Einsiedel.
O manifesto inicial da nova organização foi o seguinte: “A Alemanha não deve morrer. Se o povo alemão
continua, passivamente, seguindo Hitler, então ele só poderá ser derrotado pelos exércitos de coalizão
(aliados). Isso, porém, significará o fim de nossa independência nacional e a divisão do nosso país. Se o povo
alemão tem a coragem de libertar a Alemanha de Hitler... então a Alemanha conquistará o direito de decidir o
seu próprio destino e outras nações a respeitarão; porém ninguém fará paz com Hitler. Por conseguinte, a
formação de um governo nacional genuíno constitui uma urgente tarefa. Tal governo só pode ser formado por
homens que se tenham rebelado contra Hitler, e que estejam dispostos a esmagar os inimigos do povo: Hitler
e seus asseclas. Esse governo fará retornar as tropas à fronteira alemã. Somente sob esse governo poderá a
Alemanha, como Estado soberano, discutir as condições da paz. As forças do Exército, fiéis à Pátria, devem
desempenhar um papel decisivo nessa ação. Nosso objetivo é uma Alemanha livre!... Soldados e oficiais
alemães, vós tendes as armas em vossas mãos! Povo alemão! Organizai unidades de resistência dentro do
país! Pelo povo e pela Pátria! Pela paz imediata! Pela salvação do povo alemão! Por uma Alemanha livre e
independente!”.

A essa primeira proclamação seguiram-se inúmeros documentos de propaganda. O Comitê se converteu


assim num instrumento de guerra psicológica, dirigido pelos russos. Dia e noite, porta-vozes do Comitê
dirigiam, pela Rádio de Moscou, mensagens à Alemanha, incitando o povo e as forças armadas a se
rebelarem contra o nazismo.

A propaganda impressa, seguindo a linha da proclamação inicial, prometia ao povo alemão a preservação da
sua independ6encia e a unidade nacional!

Milhares de cópias do jornal Freies Deutschland eram lançadas semanalmente sobre as linhas inimigas, na
tentativa de levar até os combatentes alemães o apelo do Comitê com sede em Moscou. Esse jornal, porém,
teve proibida a sua circulação em território sob controle soviético. Tampouco se facilitou a sua difusão entre
os correspondentes e diplomatas estrangeiros. Evidentemente, o governo da URSS não desejava que os
benevolentes oferecimentos do Comitê fossem considerados como uma política oficial.

Outra organização, a Bund Deutscher Offiziere (União de Oficiais Alemães), foi também criada pelos russos
com o mesmo objetivo da anterior. Nesta última se agruparam homens como o Marechal Paulus e outros
oficiais capturados em Stalingrado e outras frentes. Tanto Paulus como seus camaradas dirigiam freqüentes
apelos pelo rádio ao povo alemão, incitando-o a levantar-se e conquistar sua liberdade, derrubando Hitler.

Os resultados práticos dessas organizações não foram os que seus autores esperavam. Seus apelos caíram,
praticamente, no vazio. Porém, no momento da sua criação, os russos alentaram grandes esperanças nos
efeitos psicológicos desse tipo de propaganda, pois acreditavam que a derrota sofrida pelos alemães na
batalha de Kursk convenceria os soldados e o povo da inutilidade de prosseguir com a guerra.

O problema da Polônia

Enquanto os russos mantinham sua encarniçada luta contra a invasão alemã, desenvolviam, simultaneamente,
os seus planos políticos para a futura organização européia. Já no mês de janeiro de 1943, o governo russo
havia interrogado novamente Washington e Londres sobre suas pretensões, com referência aos territórios da
Polônia que suas forças haviam ocupado ao se produzir a agressão alemã contra esse país em 1939. Os russos
notificaram o governo placo no exílio, presidido em Londres, pelo General Sikorski, que todos os cidadãos
das províncias orientais da Polônia que havia buscado refúgio na União Soviética seriam considerados como
cidadãos russos. Sikorski rechaçou essa notificação, qualificando-a de ilegal e inaceitável e procurou, sem
resultado, que tanto o governo americano como o britânico apoiassem o protesto. O Presidente Roosevelt
comunicou ao embaixador polonês em Washington, em fevereiro de 1943, que, embora considerando justa a
posição do governo polonês, acreditava que o momento não era oportuno para que o governo americano
intervisse junto aos russos.

Sikorski, apesar da atitude dos líderes aliados, manteve-se firme em sua posição de não efetuar compromisso
com os russos a respeito das fronteiras orientais de seu país. Sua atitude foi apoiada pelo General Anders,
comandante-chefe das forças polonesas que lutavam junto às forças anglo-americanas, na frente do
Mediterrâneo. Este chefe, no dia 4 de março, dirigiu uma ordem-do-dia às suas forças, na qual expressava
claramente o seu mais categórico rechaço das pretensões russas.
A posição decidida assumida pelos dirigentes poloneses no exílio causou grave preocupação aos líderes
anglo-americanos. Roosevelt, numa conferência mantida com Anthony Éden, Ministro das Relações
Exteriores britânico, declarou abertamente que, segundo sua opinião, os poloneses teriam que chegar a um
compromisso com os russos, no que se refere às fronteiras, uma vez terminada a guerra. A melhor solução,
para ele, era que a Polônia, entregasse os territórios que a Rússia reclamava no Leste e aceitasse, como
compensação, parte do território alemão no Oeste. A disputa entre os governos polonês e russo se agravou
em virtude da descoberta de um acontecimento gravíssimo. No dia 13 de abril, a rádio oficial alemã, de
Berlim, informou terem sido encontrados no bosque de Katyn, na Rússia, milhares de cadáveres de oficiais
poloneses, assassinados em massa. Esse crime foi atribuído pelos alemães aos russos (no futuro foi
confirmado que era verdade).

Os nazistas aproveitaram habilmente esse monstruoso assassinato para os seus fins de propaganda, propondo
que uma comissão internacional visitasse o local do fato e comprovasse a veracidade de suas afirmações. O
governo polaco decidiu, então, aceitar o oferecimento dos alemães e anunciou que solicitaria à Cruz
Vermelha Internacional o envio de um grupo de investigadores à região de Katyn. A reação soviética ante
essa decisão foi imediata. A 24 de abril, Stalin comunicou a Churchill e Roosevelt que resolvera romper suas
relações com o governo polonês no exílio, em vista da decisão polonesa, tomada antes de ouvir a resposta do
governo soviético. Churchill respondeu ao líder russo que pessoalmente achava errada a atitude dos
poloneses, porém, considerando ser necessário conjugar esforços para derrotar Hitler, solicitava que não
rompessem as relações. Roosevelt fez um pedido semelhante, mas nada obteve de Stalin.

A 26 de abril, a Rádio de Moscou anunciou o rompimento de relações. Dois dias depois, a União dos
Patriotas Polacos, organização integrada por comunistas poloneses e formada com o apoio do governo russo,
emitiu um comunicado desconhecendo o governo de Sikorski. Assim, o massacre de Katyn atuou como
explosivo nas já tensas relações entre o governo polonês no exílio e o Kremlin. Logo Sikorski e seus
assessores compreenderam a gravidade da situação. O primeiro-ministro polonês, pouco depois, fez saber a
Roosevelt, por intermédio de Harriman, embaixador americano em Londres, que reconhecia haver cometido
um grave erro ao aceitar o oferecimento alemão de realizar uma inspeção objetiva em Katyn. E ainda
solicitou a Harriman que os Estados Unidos buscassem os meios apropriados para induzir Moscou a por um
termo no problema, declarando-se que ele pessoalmente estava disposto a ceder em tudo o que fosse
compatível com a dignidade do seu povo. Mais tarde escreveu uma carta diretamente a Roosevelt, onde
dizia: “Nosso convite à Cruz Vermelha Internacional para que investigue as circunstâncias que cercam a
morte de milhares de oficiais polacos, recentemente denunciada pelos alemães, pode ser criticado sob certos
pontos de vista. Contudo, tendo em vista o fato de que muitos poloneses, tanto aqui como no Oriente Médio,
tem parentes próximos ou companheiros de armas que foram mortos nesse local (Katyn) foi muito difícil
para nós passar por cima da notícia. Confio em que o senhor compreenderá que este ato por parte do governo
soviético não foi um ato isolado ou intempestivo, mas a culminância de uma série de acontecimentos contra
a nação polonesa e o governo polonês”.

Enquanto isso, os russos desencadearam uma virulenta campanha contra os integrantes do governo polonês
no exílio, chamando-os de “imperialistas polacos e agentes alemães” (Pravda, de Moscou). Desta forma, o
rompimento com Sikorski veio facilitar o plano russo de criar um movimento polonês que lhe fosse
inteiramente afeto. A escritora comunista polonesa Wanda Vassilevska, que em 1939 havia adotado a
cidadania soviética e era membro do Soviete Supremo, passou a exercer a presidência da União dos Patriotas
Polacos. Essa escritora publicou no Izvestia um artigo em que anunciou a criação de um novo exército
polonês, em território soviético, que ficaria fora da jurisdição do governo exilado em Londres.

Com estas medidas, Stalin se desligou definitivamente de qualquer relação com o governo polonês em
Londres e ficou com liberdade de ação para a dominação na Polônia.

Anexo
Como combatiam os russos
O Major-General von Mellenthin, destacado chefe tanquista alemão que combateu na região do Dnieper, analisa as
táticas de luta do Exército Vermelho:
“Praticamente todos os ataques russos são precedidos por uma infiltração em grande escala de pequenas unidades e até
de combatentes individuais. Nesse tipo de luta os russos não encontraram ainda que os supere; a vigilância nas
primeiras linhas era permanente. Não impedia, contudo, que inesperadamente surgissem no meio de nossas próprias
posições. Ninguém os via chegar e ninguém sabia quando chegavam. Nos lugares menos esperados, onde o acesso era
incrivelmente difícil, ali os encontrávamos, já fortemente entrincheirados e agrupados em poderosas unidades. Na
verdade, não era difícil para um soldado infiltrar-se individualmente, pois nossas linhas eram debilmente defendidas, os
redutos eram poucos e estavam muito distanciados. Em média, o setor defendido por uma divisão era de 20 km. O fato
surpreendente, porém, era que, mesmo estando todos alerta, dia e noite, unidades russas completas eram
inevitavelmente encontradas muito na retaguarda de nossas linhas de frente, com todo o seu equipamento e munições, e
fortemente entrincheiradas. Essas infiltrações se realizavam com uma habilidade incrível, quase sem ruído algum, e sem
que se disparasse um só tiro. Tal tática de infiltração foi utilizada pelos russos em centenas de ocasiões, conseguindo
grandes resultados. Para enfrentar esse tipo de lista só existe um remédio: linhas fortemente defendidas, bem
organizadas em profundidade, e continuamente patrulhadas por homens alertas e, o mais importante de tudo, reservas
locais suficientes, prontas para entrar em ação ao primeiro aviso e repelir os incursores.
“Outro método característico russo era formar cabeças-de-ponte em toda parte e a todo momento, para utiliza-las como
trampolins em avanços posteriores. As cabeças-de-ponte em mãos dos russos constituíam um perigo seguramente
enorme. É totalmente errado não preocupar-se com elas e não procurar a sua eliminação. As cabeças-de-ponte russas,
por pequenas e inofensivas que pareçam, podem estender-se até constituírem formidáveis núcleos de perigo, a curto
prazo, para depois transformarem-se em redutos inexpugnáveis. Uma cabeça-de-ponte russa, ocupada durante a noite
por uma companhia, inevitavelmente, na manhã seguinte, está defendida pelo menos por um regimento. No decorrer de
uma noite, os russos a convertiam numa fortaleza formidável, armada com artilharia e todos os tipos de arma
necessários para converte-la num reduto praticamente inatacável. Nem sequer o fogo da artilharia podia elimina-la. A
única coisa que às vezes dava resultado era um ataque levado a cabo com todas as armas, de forma coordenada.
“Essa tática russa de ‘cabeças-de-ponte por toda a parte’ constitui um perigo sumamente grave e não deve ser
subestimado. A contra-medida mais efetiva é a seguinte: se uma cabeça-de-ponte está em processo de formação, ou uma
posição avançada é estabelecida pelos russos, é preciso atacar, atacar imediatamente, atacar violentamente. A vacilação
será sempre fatal e a demora de uma hora poderá ter graves conseqüências; a demora de várias horas terá graves
conseqüências; a demora de um dia causará uma verdadeira catástrofe. Mesmo quando se contar com um só tanque e
um pelotão de infantaria, é necessário atacar quando ainda os russos não se entrincheiraram, atacar quando ainda podem
ser vistos e perseguidos, atacar quando ainda não contaram com tempo suficiente para organizar a defesa e quando
ainda não montaram as suas armas pesadas. Algumas poucas horas depois será muito tarde. A demora equivale ao
desastre. A ação resoluta e enérgica equivale ao êxito. A experiência mostra que o soldado russo tem uma capacidade
incrível para resistir ao fogo mais intenso de artilharia e ao bombardeio aéreo mais violento.
“As oportunidades em que os russos se mostraram fracos ante o fogo foram pouquíssimas e ninguém deve esperar que
se repitam. Pelo contrário, é necessário sobreestima-los com relação à coragem e resistência aos padecimentos”.

A “Cruz de Lorena” na Rússia


Em 1942, as forças francesas livres, acantonadas na Síria, organizaram um grupo de caça que, por decisão do General
De Gaulle, foi destinado a combater na frente russa. Essa reduzida unidade aérea representaria a França na luta da
Frente oriental. Um símbolo da França imortal. Suas asas, ostentando a Cruz de Lorena, sulcariam os céus da Rússia,
unidas com os aparelhos russos, numa estreita comunhão de ação contra o inimigo comum.
Os homens que teriam a missão de tripular os aviões da França Livre haviam fugido da opressão que o seu país
suportava e se agruparam em torno da figura daquele que representava para eles e para o mundo livre a presença da
França liberal, democrática e eterna. O heterogêneo grupo de homens, animado pelo desejo de lutar contra o invasor de
meia Europa, era formado por operários comunistas de Paris, homens pertencentes aos partidos políticos tradicionais, e
até membros da mais alta nobreza da França, como o caso do Visconde de La Poype, cuja presença surpreendeu os
próprios russos, que não compreendiam aquela camaradagem de armas com um aristocrata que se aventurava a lutar ao
lado dos bolchevistas. No entanto, as façanhas do visconde no céu da Rússia fizeram que ele fosse condecorado como
“Herói da União Soviética”. Somente mais três pilotos franceses receberam distinção semelhante.
O Grupo, denominado Normandie Niemen, instalou seu centro de operações na base de Ivanov, em dezembro de 1942.
Ali recebeu os aviões Yak I em cujas asas já se encontrava pintada a Cruz de Lorena.
Orientados pelo seu chefe, o Comandante Tilasne, um hábil e arrojado jovem piloto, os franceses iniciaram uma série de
vôos de adestramento para familiarizar-se com os aparelhos e com as duras condições do teatro de operações.
Finalmente, em março de 1943, o Grupo entrou em ação. Em poucos meses (março-junho de 1943) conseguiu um
crédito favorável de 15 aviões inimigos derrubados contra três perdidos.
Ao efetuar-se a grande ofensiva alemã em Kursk, o Grupo Normandie Niemn estava localizado ao norte da zona de
operações. Até esse momento aquele setor se mantivera tranqüilo, e os pilotos, adaptando-se à vida dos seus
companheiros russos viam os dias transcorrer dentro de uma relativa calma, apenas interrompida pelas esporádicas
incursões dos aviões inimigos. Ao se intensificarem as ações, no entanto, os homens do Normandie Niemen foram
lançados numa luta sem quartel. Nas encarniçadas batalhas aéreas que se travaram durante o verão de 1943, sobre
Kursk e Orel, os pilotos franceses combateram sem trégua contra os aviões da Luftwaffe. A esquadrilha perdeu dois
terços do seu efetivo; entre outros, tombou o comandante Tulasne.
Outros homens chegaram posteriormente para preencher os claros e o Grupo continuou lutando, junto com os russos,
até o final da guerra.
Equipados, a partir de janeiro de 1944, com os novos caças Yak III, os pilotos franceses atingiram, nesse último período
de sua ação, uma cifra máxima de 273 vitórias. Deste modo, a França Livre cedera, generosamente, o sangue dos seus
melhores filhos, mandando-os lutar em defesa de um país estrangeiro, porém igualmente agredido. A Cruz de Lorena
sulcou os céus da Rússia, assim como o de vários outros campos de batalha onde a liberdade travava a sua luta em
defesa da dignidade do homem.

Terra arrasada
Ao iniciar a sua retirada rumo ao Dnieper, as tropas alemães, expostas à ameaça de um rápido aniquilamento,
recorreram a medidas extremas para paralisar o avanço das tropas russas lançadas em sua perseguição. Por ordem do
Alto-Comando recorreu-se à tática da terra arrasada. Assim, o território situado a leste do Dnieper foi metódica e
minuciosamente submetido a uma ação de devastação e pilhagem de proporções gigantescas, que o reduziu a um
verdadeiro deserto selvagem. Ao longo de todo o rio, e numa profundidade de cerca de 30 km, os alemães inutilizaram,
destruíram ou levaram consigo todos os elementos que pudessem servir para a sustentação ou deslocamento das forças
russas. A destruição não se restringiu só aos elementos de aplicação militar direta. As fábricas foram desmontadas e se
retiraram todas as máquinas pesadas. Inundaram-se as minas e as instalações de superfície voaram pelos ares. Cortaram-
se árvores e queimaram-se campos semeados. Milhares de fábricas, oficinas e depósitos foram desmantelados e
incendiados. Milhares de cabeças de gado foram conduzidas para o oeste, assim como grandes carregamentos de
minerais, cereais, e abastecimentos de todo o gênero. Decidiu-se, também, efetuar a evacuação forçada da população
civil, obrigada a acompanhar as tropas alemães na retirada. Desta forma, milhares e milhares de homens, mulheres e
crianças foram arrancadas de seus lares e transportados em intermináveis colunas através dos caminhos poeirentos,
numa dolorosa marcha pontilhada por centenas de criaturas abandonadas à margem das estradas, vítimas de fome e dos
maus tratos.
A gigantesca evacuação cumpriu-se em menos de 15 dias. A ordem de iniciar a retirada foi emitida na noite de 15 de
setembro e a operação se concluiu com a chegada ao Dnieper de todas as forças alemães, a 30 de setembro. Nesse lapso,
mais de 2.500 trens, num incessante ir e vir, retiraram da frente uma imensa massa de materiais, equipamentos e armas.
Além disso, também perto de 200.000 feridos foram evacuados. Assim, os alemães conseguiram interpor entre suas
forças e as vanguardas russas um verdadeiro deserto.
A insensata destruição e o inútil sofrimento a que foi submetida a população da região não bastariam, contudo, para
impedir que os russos continuassem o avanço e alcançassem as margens do Dnieper.

A libertação de Orel
“Achtung, minen!”. “Achtung minen!”... Tabuletas com uma caveira e duas tíbias cruzadas se erguem a cada passo no
caminho de Orel. Debaixo do terreno deserto, coberto de tufos, milhares de minas se ocultam, ameaçadoras, em
silenciosa espera. “Semeadas” pelas forças alemães durante sua longa permanência na região, constituem uma perigosa
armadilha para homens e veículos. Diariamente, em trágica sucessão, as minas fazem sua cota de vítimas. Pode se tratar
de um soldado que marcha para unir-se à sua unidade, de um oficial que cavalga nua missão de reconhecimento, ou de
um veículo que avança dificilmente através do barro. Em qualquer dos casos, uma vítima mais assinalará o local onde
uma mina escondida explodiu.
Os alemães aperfeiçoaram ao máximo os mortíferos artefatos. Há minas de ação retardada, que só explodirão depois de
dois meses, ativos por ácidos que, à guisa de disparador, lentamente corroem a chapa de metal. Existem minas
recobertas de madeira, cuja localização por meio de detectores habituais é praticamente impossível. Dezenas de
milhares de arapucas para incautos (Booby traps) se somam à ação das minas. Estão dissimuladas em latas de víveres,
armas abandonadas, veículos parados, cadáveres, mochilas de soldados tombados e casas abandonadas. Acionados por
uma infinita gama de artifícios, a explosão se produzira ao menor contato.
Ao lançar o seu ataque contra Orel, os russos tiveram que abrir passagem através de uma intransponível barreira
constituída por milhares e milhares de minas dos tipos citados. Recorreram, então, ao artifício de limpar o terreno
mediante um bombardeio maciço da artilharia.
Um dos chefes russos que intervieram na ofensiva, o General Sobennikov, descreveu assim a operação: “Nunca até esse
momento existiu uma concentração tão forte de canhões russos. Em muitos lugares, a potência do fogo foi dez vezes
superior à de Verdun. O campo alemão de minas era tão extenso e profundo que tivemos que recorrer a esse método
para fazer explodir, mediante uma gigantesca barreira de fogo de artilharia, a maior quantidade de minas possível, com
o fim de reduzir as baixas no avanço de rompimento”. Sobennikov, em seguida, descreve a captura de Orel da seguinte
maneira: “Um veículo blindado provido de alto-falantes, executando a Internacional estava entre as primeiras forças que
irromperam na cidade. Este fato causou um efeito tremendo na população, que se lançou às ruas quando a luta ainda
estava em pleno desenvolvimento. Os alemães empregavam ainda os seu canhões autopropulsados e tanques contra nós
e dos sótãos, os metralhadores continuavam fustigando-nos. O General Gurtiev (um dos heróis de Stalingrado) foi
morto por um deles. As minas de ação retardada continuavam explodindo e em meio desse terrível estrondo os alto-
falantes irradiavam músicas patrióticas. Somente no dia seguinte os metralhadores foram eliminados, embora alguns
soldados continuassem ainda disparando esporadicamente. Centenas de minas de ação retardada permaneceram sem ser
detectadas em Orel, apesar de terem sido desenterradas mais de 80.000 nessa zona. Eu estava entre os primeiros que
entraram na cidade na manhã de 5 de agosto. Através das ruas ladeadas por edifícios ainda em chamas, nossos tanques e
canhões se movimentavam, cobertos de flores. Os velhos e as crianças corriam entre os soldados, dando-lhes ramos de
flores e beijando-os. Ainda se escutavam alguns tiros. Lembro-me de uma velha, parada na esquina da Rua Pushkin, que
presenciava a passagem de nossas tropas, benzendo-se enquanto as lágrimas corriam pelo seu rosto enrugado. Outra
mulher correu para mim e me deu um ramo de flores, abraçando-me o pescoço e falando, falando... Não consegui
escutar o que ela dizia... Era qualquer coisa acerca do seu filho, soldado raso do Exército Vermelho...”.
A batalha dos trilhos
14 de junho de 1943. As forças alemães foram detidas em sua desesperada tentativa para romper as fortificações do
planalto de Kursk. Centenas e centenas de veículos blindados e canhões foram destruídos; milhares de soldados alemães
morreram na investida inútil. A Wehrmacht, exangue, jogou a sua última cartada e perdeu. É o momento que o Alto-
Comando russo aguardava. Emitem-se ordens por todo o tipo de meios, às unidades de guerrilheiros que operam na
retaguarda alemã. A “batalha dos trilhos”está em marcha.
Durante meses, os guerrilheiros se prepararam para essa operação importantíssima. Numa escala gigantesca,
desconhecida até então, os combatentes irregulares passarão a destruir, metódica e minuciosamente, em uma seqüência
de golpes, tais como obstruções, descarrilhamentos e dinamitação, a intrincada rede ferroviária que, por trás das linhas
alemães assegura a mobilidade e o deslocamento das forças da Wehrmacht. Esta ação foi coordenada com o início da
grande contra-ofensiva russa e contribuirá para a derrocada da resistência alemã.
O primeiro grande golpe se produziu a noite de 20 para 21 de julho de 1943: centenas de unidades de guerrilheiros
abandonaram os seus esconderijos para sabotar as vias férreas nas zonas de Orel, Briansk e Gomel. As instalações
foram dinamitadas em mais de 5.000 pontos. Grupos isolados de guerrilheiros, cumprindo planos traçados de antemão,
abandonaram sigilosamente os seus refúgios e marcharam para os pontos determinados. Ali, rápida e eficientemente,
abrindo pequenos orifícios debaixo dos trilhos, colocaram suas cargas de explosivos. Depois, abandonando o local tão
rapidamente como haviam chegado, voltaram a se esconder. Instantes mais tarde, as cargas, acionadas eletricamente à
distância, explodiam. Poucas horas haviam bastado às centenas de grupos de guerrilheiros. Ao amanhecer, as vias
férreas estavam praticamente inutilizadas em milhares de lugares. O serviço de abastecimento e transportes alemão
estava conseqüentemente inutilizado quase por completo.
Apesar da sangrenta repressão empreendida pelas forças alemães de segurança, que destruíram povoações inteiras e
fuzilaram centenas de civis suspeitos de auxiliar guerrilheiros, estes continuaram a sua ação. Entre julho e setembro de
1943, mais de 17.000 explosões inutilizaram outros tantos pontos da intrincada rede ferroviária. Na região da
Bielorússia, a “batalha dos trilhos” adquiriu uma violência ainda maior. Entre agosto e novembro de 1943, foram
destruídos e descarrilhados 1.000 trens, dinamitas 79 pontes ferroviárias e detonaram mais de 200.000 cargas ns trilhos
ferroviários.
As citadas ações não forma conseguidas sem sacrifícios. Milhares de guerrilheiros perderam a vida, porém sua obra de
destruição teve importância decisiva nas operações do Exército Vermelho.
Na região da Bielorússia, dois terços da rede ferroviária ficaram inutilizados por períodos que compreenderam, em
alguns casos, várias semanas.

Conferência em Moscou
De 19 a 30 de outubro de 1943, os chanceleres da URSS, Inglaterra e Estados Unidos, Molotov, Éden e Cordell Hull, se
reuniram em Moscou e mantiveram uma série de conferências, das quais, ocasionalmente, Stalin participou. Essas
reuniões foram preparatórias da conferência que, posteriormente, mantiveram em Teerã o ditador russo, o Presidente
Roosevelt e o Primeiro-Ministro Churchill. A conferência de Moscou, caracterizou-se por ser a primeira que, am alto
nível, celebraram dirigentes das três grandes potências aliadas. As término da reunião, o Secretário de Estado
americano, Codell Hull, em declarações à imprensa, resumiu os resultados obtidos.
“Quando viemos para cá, todo mundo pensava que desta reunião não sairia nada, pois a Rússia parecia decidida a
manter-se isolada. No entanto, ventilamos longamente os nossos pontos de vista e comprovamos com satisfação que os
estadistas russos estão cada vez mais dispostos a aceitar que o isolacionismo é prejudicial... Agora nasceu o espírito da
cooperação e podemos começar a construir”.
Efetivamente, no decorrer da reunião se havia chegado a importantes pontos de concordância. Um documento intitulado
“Princípios Básicos Referentes à Rendição Alemã”, apresentado por Hull a Molotov, encontrou entusiástica acolhida da
parte deste e de Stalin. Esse documento continha nove princípios básicos, a saber:
1 - Que a Alemanha, de acordo com o princípio da rendição incondicional, seria obrigada a firmar uma aquiescência da
sua derrota total.
2 - Que a Alemanha seria submetida a um regime de ocupação aplicado e mantido por tropas soviéticas, britânicas e
americanas.
3 - Que todos os nazistas seriam eliminados do governo e seria varrido até o último vestígio do regime nazista.
4 - Que o governo alemão devia liberar todos os prisioneiros políticos e entregar às nações aliadas todas as pessoas que
fossem acusadas de crimes de guerra.
5 - Que as forças armadas alemães seriam desmobilizadas e dissolvidas e todas as armas entregues.
Os artigos 6, 7, 8 e 9 previam profundas mudanças na estrutura política alemã, tais como a implantação de um regime
democrático, de ampla base popular, que salvaguardasse as liberdades populares. Se esse regime demonstrasse
viabilidade, se permitiria ao povo alemão um grau de autonomia que não afetasse a segurança das potências aliadas.
Um dia após esse documento ter sido entregue a Molotov, este comunicou a Cordell Hull o seguinte:
“Mostrei o projeto a Stalin, que está entusiasmado. Expressa os pensamentos da Rússia a respeito da Alemanha
exatamente como se tivesse sido elaborado por nós”.
Anthony Éden, por sua vez, comunicou ao Secretário de Estados americano que considerava o plano viável. Entre
outras decisões de importância, resolveu-se, também, emitir uma declaração na qual se anunciava que as potências
aliadas restaurariam a independência da Áustria. As discussões acerca dos aspectos militares da contenda tiveram
prioridade no decorrer da conferência. Molotov exigiu que se confirmasse formalmente a declaração de Roosevelt e
Churchill acerca da futura invasão do continente por parte de forças anglo-americanas em 1944. tanto Éden como Hull
ratificaram, após receber instruções dos seus respectivos governos, que esta data seria respeitada. Não concordaram,
contudo, com o requerido por Molotov, de converter essa promessa num compromisso escrito.
Éden, em uma entrevista privada com Stalin, informou que Churchill desejava que Stalin tomasse conhecimento da sua
intenção de prosseguir com toda a intensidade a luta na Itália, até obter a vitória. O líder russo perguntou então a Éden
se essa intenção significaria um adiamento da operação Overlord (desembarque na costa francesa). O chanceler
britânico declarou que não estava em condições de responder oficialmente à pergunta, porém que tal possibilidade devia
ser encarada. Ante a insistência de Stalin, Éden declarou que tudo o que podia dizer era que se realizariam todos os
esforços possíveis para levar a cabo a Overlord o quanto antes, enquanto existissem condições razoavelmente
favoráveis. Stalin, então, encerrou a discussão sem fazer nenhum tipo de recriminação. Manifestou a Éden que, a seu
ver, a melhor política para os anglo-americanos seria passar à defensiva na Itália e concentrar o resto das tropas para a
futura operação Overlord. Na ceia que encerrou a conferência, na noite de 30 de outubro, Stalin fez uma declaração
transcendental para os americanos. Em meio ao banquete, sem preâmbulos dirigiu-se a Cordell Hull e lhe disse:
“Quanto aos Aliados conseguirem a derrotar a Alemanha, a União Soviética se incorporará à luta para derrotar o Japão.
Pode informar isso ao Presidente Roosevelt”. Hull, que segundo suas próprias palavras ficou encantado ante o
inesperado oferecimento, não aguardou a manhã para comunicar a Washington a extraordinária notícia. Nessa mesma
noite enviou uma mensagem à capital dos Estados Unidos dando ciência da decisão de Stalin.

As salvas da vitória
5 de agosto de 1943. As emissoras de rádio de Moscou interromperam repentinamente os seus programas. Uma voz
profunda, que evidencia o locutor, anuncia:
“Hoje, 5 de agosto, as tropas da Frente de Briansk, em cooperação com as tropas da frente ocidental e central,
capturaram, depois de violentos combates, a cidade de Orel. Hoje também as tropas das frentes da estepe de Voronez
quebraram a resistência inimiga e tomaram Belgorod”.
Em seguida, o locutor enumerou as unidades que haviam liderado o ataque e a libertação de duas cidades, explicando
que, daí por diante, essas unidades seriam denominadas regimentos de Orel e regimentos de Belgorod. Depois, após
uma pausa, leu um comunicado que seria o primeiro de uma longa lista de anúncios emitidos pelo Alto-Comando:
“Esta noite, às 24 horas, a capital de vosso país, Moscou, saudará as valentes tropas que libertaram Orel e Belgorod,
com 12 salvas de artilharia, disparadas por 120 canhões. Expresso o meu agradecimento a todas as tropas que tomaram
parte da ofensiva... A glória eternizará os heróis que caíram na luta pela libertação de nosso país. Morte aos invasores
alemães!
O supremo-comandante-chefe, Marechal da União Soviética Stalin”.
Desta forma o povo russo teve conhecimento do início da grande marcha de libertação empreendida pelo Exército
Vermelho. As salvas disparadas essa noite se repetiram, até a queda de Berlim, em mais de 300 oportunidades.

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