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Conquista das Marianas

Ilhas Marianas: Trampolim rumo ao Japão

Arquipélago das Marianas


Invasão de Saipan

Em agosto de 1943, o comandante da zona de guerra do Pacífico central, Almirante Nimitz, emitira uma
determinação que seria decisiva no curso das operações contra o Japão. Era a ordem para iniciar os
preparativos tendentes a materializar o ataque e ocupação de uma cadeia de ilhas que se estendiam entre o
arquipélago do Havaí e o território japonês.

Era o começo da longa e sangrenta marcha rumo ao coração do Império do Sol Nascente.

A 20 de novembro de 1943 o furacão foi desencadeado sobre Tarawa e Makin. Os dois atóis das Gilbert,
juntamente com outras localidades de menor importância, caíram finalmente em mãos americanas, a 29 de
novembro, data em que se considerou encerrada a luta. Em nove dias de combate, ao preço de cerca de 3.300
fuzileiros-navais mortos e feridos, os americanos deram mais um passo em direção à meta: Tóquio.

A 1o de setembro de 1943 o Alto-Comando americano aprovou um projeto, também de Nimitz, planejando a


ocupação das ilhas Marshall. O arquipélago, formado por mais de trinta e dois grupos de ilhas, constituía um
sólido baluarte japonês. O dia do ataque seria 31 de janeiro de 1944.

A operação, precedido por devastadores bombardeios, iniciou-se na data prevista. Em 22 de fevereiro as


hostilidades haviam terminado. No dia 23 de fevereiro, o grosso dos forças americanas foi reembarcado nos
navios-transporte. Tóquio estava mais perto. Contudo, muitos homens tombariam ainda, antes que os
fuzileiros pisassem o solo do Japão distante.

Objetivo: ilhas Marianas

Após a conquista das Gilbert e das Marshall, era necessário um novo passo na rota para o Japão. Entre as
Marshall e o território metropolitano japonês se interpunha, como um gigantesco obstáculo, o arquipélago
das Marianas. Essa posição consistia numa cadeia de ilhas vulcânicas, em número de 50, que se estendiam de
norte o sul desde Farelhão de Pássaros, ao Norte, até Guam, ao Sul. As ilhas maiores e mais importantes do
ponto de vista militar encontravam-se situadas na metade sul da cadeia e eram, de norte a sul, Saipan, Tinian,
Rota e Guam. Dessas quatro, Rota foi de imediato eliminada dos planos pela inacessibilidade de suas costas,
pelas dificuldades nela existentes para improvisar portos, e, de modo geral, pela evidente inferioridade em
relação às outras ilhas considerando as operações navais e aéreas contra o Japão.

Saipan, Tinian e Guam, pelo contrário, eram futuras bases de grande valor operacional para as missões a
cumprir contra objetivos como as Filipinas, Formosa e o próprio Japão. Saipan se encontrava a 3.200 milhas
a oeste de Pearl Harbor e a 1.260 milhas de Tóquio. Tinian, por sua vez, estava apenas a três milhas ao sul de
Saipan; mais ao sul, a 120 milhas, encontrava-se Guam.

A primeira fase da operação consistiu em reunir grande quantidade de informações a respeito das ilhas. Era
necessário conhecer, nos menores detalhes, o clima, o relevo, a vegetação, a conformação do litoral, a
existência de portos naturais ou setores rapidamente transformáveis em portos, a localização dos povoados e
os traçados de estradas e atalhos.

A informação foi reunida mediante exaustivas consultas a mapas náuticos, fotografias aéreas, dados
conseguidos por reconhecimentos submarinos e documentos inimigos capturados.

O primeiro reconhecimento aéreo e fotográfico de Saipan foi realizado nos dias 22 e 23 de fevereiro de 1944,
por aviões que decolaram dos porta-aviões da Força Tarefa 58. A densa camada de nuvens que cobria a ilha,
no entanto, dificultou o trabalho. Um novo reconhecimento, efetuado com êxito, complementou a tarefa nos
dias 22 e 23 de fevereiro. Ainda outra operação semelhante foi cumprida a 18 de abril, a cargo de cinco
aviões PB-4Y escoltados por bombardeiros. Outra, de igual número de aparelhos, efetuada no dia 25 de abril,
teve como objetivo a ilha de Guam. Esta última ainda foi reconhecida e fotografada a 7 de maio, por uma
formação integrada por seis Liberators. A 29 do mesmo mês, a operação se repetiu.

Paralelamente, entre os dias 2 e 29 de abril, o submarino americano Greenling efetuou missões de


reconhecimento em torno das três ilhas, obtendo excelentes fotografias que foram, posteriormente, de valor
inestimável para o planejamento e execução do desembarque nas praias. Entre os dias 15 de janeiro e 10 de
maio, com base na informação recolhida, o Serviço de Inteligência elaborou um total de oito detalhados
relatórios. O Serviço de Inteligência Naval, por sua vez, conseguiu uma importante monografia referente à
geografia das ilhas, preparada durante a primavera de 1942. Numerosos elementos mais, inclusive tábuas
náuticas de marés e informações capturadas ao inimigo, chegaram às mãos do comando da operação.
Entretanto, a longa e perigosa tarefa de reunir informações não rendeu os frutos esperados. A quantidade e
distribuição das instalações militares inimigas foram, quase em sua totalidade, calculadas erroneamente.
Igual erro verificou-se quanto à quantidade de tropas japonesas.

O clima e as condições do tempo não foram, em geral, grandes obstáculos para a operação. No entanto, as
características das costas das três ilhas complicaram bastante as operações de assalto anfíbio. Saipan, por
exemplo, oferecia o inconveniente das barreiras de recifes bloqueando o acesso às praias. Uma situação
semelhante se repetia nas restantes ilhas.

As condições para instalar portos variavam de muito pobres a medíocres. Na costa oeste de Saipan, até sua
parte média; somente Tanapag Harbor oferecia possibilidades aproveitáveis.

Quanto ao relevo, destacava-se, em Saipan, até sua parte média, o Monte Tapotchau, de 450 metros de altura.

As operações nas ilhas Marianas ficaram sob o comando direto do Almirante Nimitz. Como segundo
comandante atuaria o Vice-Almirante Raymond Spruance, comandante da 5 a Frota. Em terceira instância
funcionaria o Vice-Almirante Richmond Turner. O comando tático das tropas ficou nas mãos do Tenente-
General Holland Smith, do Corpo de Fuzileiros-Navais dos Estados Unidos. Smith seria diretamente
responsável, perante o Vice-Almirante Turner, da fase anfíbia da operação. O total de tropas designadas para
a conquista das três ilhas seria de 105.859 homens; 66.779 teriam a cargo a operação em Saipan e Tinian; os
restantes 39.080 se lançariam sobre Guam.

O desembarque em Saipan foi confiado às 2 a e 4a divisões de fuzileiros-navais, com a 27 a Divisão de


infantaria na reserva.

A 2a Divisão de fuzileiros-navais fora organizada em San Diego, a 19 de fevereiro de 1941. Participou da


batalha de Tarawa, onde sofreu perto de 3.000 baixas. A 4 a Divisão, formada recentemente, a 16 de agosto de
1943, interveio em fevereiro de 1944, na captura de Roi e Namur. A 27 a Divisão de infantaria era uma
unidade da Guarda Nacional do Estado de Nova York e havia combatido na invasão e captura de Makin,
simultaneamente com o assalto a Tarawa pela 2 a Divisão.

Operação Forager

O ataque, a ocupação e a posterior defesa de Saipan, Tinian e Guam, receberam o nome chave de operação
Forager. Nimitz, a 13 de março de 1944, passou a considerar Forager a operação de prioridade máxima. O
provável dia D para Saipan seria 15 de junho. As unidades previstas (2 a e 4a de fuzileiros-navais e 27a de
infantaria) se agrupariam no 5o Corpo anfíbio.

No dia 12 de abril, o General Smith dividiu o Estado-Maior do 5 o Corpo anfíbio em duas unidades
independentes. Uma, conhecida inicialmente como Estado-Maior Vermelho, destinada à captura de Saipan e
Tinian. A outra, Estado-Maior Azul, serviria posteriormente no Quartel-General das Forças Expedicionárias.

O plano de ataque compreendia as seguintes operações: a 4 a Divisão desembarcaria nas praias Azul e
Amarela, que se estendiam no extremo sul da costa oeste de Saipan, ao longo de aproximadamente 3.000
jardas. Após o desembarque, as tropas deveriam avançar rapidamente à procura do aeródromo de Aslito, a
umas 4.000 jardas no interior da ilha, para o Leste. A 2 a Divisão tocaria terra no setor do costa situado mais
ao norte das praias Azul e Amarela, numa extensão de umas 4.000 jardas, denominadas praias Verde e
Vermelha; o objetivo imediato da 2a Divisão seria a conquista do Tapotchau, distante umas 5.000 jardas da
costa. Ao norte da 2a Divisão, nas cercanias de Tanapag Harbor, uma força naval desembarcaria regimentos
de reserva pertencentes às divisões 2a e 4a, em manobra de despistamento.

Finalmente, o 1° Batalhão da 2 a Divisão de marines teria a cargo a execução de uma missão especial.
Originalmente, o batalhão fora preparado para um desembarque na noite anterior ao ataque principal,
tomando a baía Magicienne, localizada na costa este de Saipan, no setor sul. No dia 7 de maio, porém, a
ordem foi mudada. O batalhão deveria estar pronto paro desembarcar na baía Magicienne, ou noutra praia,
depois do ataque principal, devendo avançar para o Oeste e o Norte e atacar o inimigo.

A Armada, por sua vez, reservara para a operação um total de 55 barcos, de todos os tipos.

O bombardeio naval prévio começaria dois dias antes do Dia D. Objetivos: campos de aterrissagem, defesas
costeiras e antiaéreas, e os redutos inimigos. Deveria ser dada prioridade à destruição dos focos de artilharia
da baía Magicienne e das praias designadas para o posterior desembarque na costa Oeste.

Os porta-aviões de Mitscher, por sua vez, entrariam em ação no Dia D menos 2 (13 de junho). Os aviões
atacariam os aeródromos, com o fim de destruir a aviação inimiga. No Dia D, 33 aviões apoiariam do ar a
ação das tropas no desembarque: Missões antissubmarinas seriam simultaneamente cumpridas por patrulhas
aéreas.

No dia 15 de junho, o ataque aéreo terminaria uma hora antes do lançamento das barcaças rumo às praias.
Um total de 60 caças, 50 bombardeiros de mergulho e 54 aviões torpedeiros seriam usados. Era o ataque
final de saturação.

As forças blindadas estariam integradas pelas seguintes unidades: apoiando a 4 a Divisão, atuariam os tanques
anfíbios do 708° Batalhão de Tanques Anfíbios, que seria lançado a umas 1.500 jardas do objetivo; ao Norte,
a 2a Divisão receberia o apoio de quatro companhias de tanques anfíbios do 2° Batalhão de Tanques
Anfíbios, lançados a 300 jardas do objetivo.

O transporte era garantido por uma frota de 110 barcos de transporte, de diferentes tipos, entre os quais se
incluíam 11 navios de carga.

As defesas inimigas

Um resumo da situação do inimigo foi preparado pelo Serviço de Inteligência e calculava as forças japonesas
numa estimativa de “última hora”. Esse documento avaliava os efetivos japoneses em Saipan numa cifra
oscilando entre 15.000 e 17.600 homens. Os aeródromos, três ao todo, contavam com 152 aviões. Os demais
elementos defensivos eram os seguintes:
Casamatas, 1; Possíveis casamatas, 1; Peças de artilharia de costas, 13; Possíveis peças de artilharia de
costas, 2; Peças de artilharia antiaérea; 49; Possíveis peças de artilharia antiaérea, 9; Peças de artilharia
antiaérea leve, 134; Possíveis peças de artilharia antiaérea leve, 8; Localizações de blindados, 3; Pontos
fortificados, 37; Possíveis pontos fortificados, 4; Metralhadoras antiaéreas (20 mm), 264; Possíveis
metralhadoras antiaéreas (20 mm), 6; Radares, 2; Possíveis radares, 1; Refletores, 31; Instalações não
identificadas, 4.

O comando de todas as tropas acantonadas nas Marianas estava nas mãos do Tenente-General Hideyoshi
Obata, que tinha o QG em Saipan. A mais potente unidade da ilha era a 43 a Divisão, comandada pelo General
Saito. Essa divisão era integrada pelos regimentos de infantaria 118°, 135° e 136°, mais uma companhia de
comunicações, outra de transportes, um hospital de sangue e unidades de intendência. Ao todo, a divisão
congregava 12.939 homens, entre oficiais e soldados. Além disso, encontrava-se na ilha a 47 a Brigada Mista
Independente, comandada pelo Coronel Yoshiro Oka. Contava três batalhões de infantaria, 316°, 317° e
318°. O total de homens chegava a 2.600. Estavam em Saipan também unidades destinadas a outras frentes.
Por motivos estranhos aos planos traçados (afundamentos de transportes por submarinos americanos,
principalmente), essas tropas encontravam-se acantonadas em Saipan. A mais importante delas era o 3°
Regimento de Artilharia de Montanha, composto por dois batalhões, com doze canhões de montanha de 75
mm cada batalhão.
Ali estavam também o 16° Regimento de Engenharia, o 7° e o 9° Regimentos de Tanques, com 36 tanques
médios e 12 leves, e o 25° Regimento de Artilharia antiaérea.

Ao todo os efetivos japoneses em Saipan oscilavam em 25.400 homens; a cifra ultrapassava


aproximadamente em 10.000 o número calculado pelos americanos. À quantidade citada, também, devem ser
acrescentados perto de 6.100 homens pertencentes ao serviço naval.

A ilha, para sua defesa, fôra dividida em quatro setores: Norte, Sul, da Marinha e Central.

O setor Norte, que ocupava mais ou menos a terça parte da superfície da ilha, era defendida pelo 135°
Regimento de Infantaria. Os setores da Marinha e o Central ocupavam a quarta parte da superfície, e se
situavam na costa oeste de Saipan. Eram defendidos, o primeiro, por forças navais e por um batalhão do 136°
Regimento de Infantaria, e o segundo pelo 136° Regimento de Infantaria (menos um batalhão). O setor Sul
era o de maior extensão e sua defesa estava nos mãos das tropas restantes. Ali se encontravam também as
reservas, tanques, artilharia antiaérea e diversas outras unidades. As reservas, em sua totalidade, haviam sido
concentrados na zona situada ao norte da baía Magicienne.

As peças de grosso calibre encarregadas da defesa das costas eram constituídas de canhões de 12, 14 e 15
cm.

A invasão

A 6 de junho de 1944, enquanto a força de invasão embarcava nas bases distantes das ilhas Marshall, a Força
Tarefa 58, de Mitscher, zarpava rumo às Marianas. Compunham a frota sete porta-aviões, oito porta-aviões
leves, sete navios de guerra, três cruzadores pesados e dez leves, e 24 destróieres.

A missão dos barcos de Mitscher consistia em impedir a intervenção dos aviões japoneses para obstaculizar o
ataque e a conquista de Saipan. Também devia impedir o ação de possíveis naves de superfície japonesas.
Sua missão, contudo, não era apenas essa; no Dia D menos três (12 de junho) deveria destruir os aeródromos
e aviões das Marianas. Finalmente, a 13 de junho, a Força Tarefa 58 atacaria e destruiria todas as defesas
japonesas mediante bombardeio aéreo e naval combinado.

No dia 11 de junho, quando a frota se encontrava a 225 milhas a sudeste de Saipan, Mitscher solicitou
permissão para lançar o primeiro ataque aéreo sobre a ilha. O Vice-Almirante Spruance, segundo de Nimitz,
deu a autorização. Conseqüentemente, às 13 horas do dia 11, os primeiros aviões decolaram dos porta-
aviões. O ataque foi realizado, ao todo, por 225 aviões. Os resultados foram positivos: apenas doze aparelhos
foram derrubados. Os japoneses, entretanto, sofreram fortes perdas.

Nos três dias seguintes (12 a 14 de junho), os ataques se repetiram. O objetivo era a destruição do poderio
aéreo japonês, a inutilização dos aeródromos, das defesas costeiras e das baterias antiaéreas. Nessa fase foi
registrada a destruição de 50 aviões japoneses e sérios avarias em 66.

A 12 de junho, os pilotos de Mitscher informaram que dois comboios japoneses afastavam-se da zona
coberta pela Força 58. Um deles, imediatamente localizado a umas 125 milhas a oeste, foi maciçamente
atacado e sofreu grandes perdas. Nove barcos mercantes, com deslocamento total de 30.000 toneladas, uma
lancha torpedeira e três submarinos a pique foram as conseqüências da ação. A 13 de junho, outro comboio
japonês, navegando a oeste da costa de Guam, foi atacado pelos aviões da Força Tarefa. Um navio-transporte
de alta velocidade foi ao fundo em decorrência dos impactos e outro foi tomado pelas chamas.

Na manhã do dia 14, o Almirante Jesse Oldendorf aproximou-se dos costas de Saipan, comandando dois
grupos de bombardeio. Sua força consistia em sete velhos encouraçados, entre os quais as unidades
California, Pennsylvania, Maryland e Tennessee, sobreviventes de Pearl Harbor. Em geral, os encouraçados
eram unidades de respeitável antiguidade, lançados ao mar entre 1915 e 1921. Acompanhavam esses
encouraçados, onze cruzadores, vinte e seis destróieres e nove caça-minas.

O bombardeio prévio à invasão, praticamente, destruiu os defesas, especialmente baterias antiaéreas. Dois
prisioneiros de guerra declararam posteriormente que as unidades antiaéreas a que pertenciam, localizados na
baía Magicienne, haviam sido aniquiladas antes do Dia D. O diário de um oficial naval registrava o seguinte
informação: “Praticamente todos os nossos canhões antiaéreos e ninhos de metralhadoras antiaéreas foram
destruídos pelos bombardeios realizados nos dias 13, 14 e 15”. Durante o bombardeio naval contra a ilha,
duas unidades americanas foram atingidas pelo fogo japonês. O destróier Braine recebeu impacto de uma
granada de 4,7 polegadas. O encouraçado California foi atingido por uma granada que causou uma morte e
nove feridos; o sistema de controle de fogo ficou também avariado. No dia 14, três grupos de homens rãs
efetuaram um reconhecimento nas praias onde se produziria a invasão. Cada grupo era formado por
dezesseis oficiais e dezoito homens, todos da Marinha. A presença dos homens-rãs, no entanto, não era
necessária pela inexistência de obstáculos a serem removidos. Pelo contrário, a atividade dos mesmos foi
contraproducente, pois alertou os japoneses sobre a possibilidade de Saipan ser local escolhido para uma
invasão. Uma mensagem irradiada pelos japoneses, nesse mesmo dia, dizia textualmente: “O inimigo
realizou reconhecimento das costas, por volta dos 7h:30 horas. É possível que tente desembarcar aqui”.

O bombardeio prévio

Na noite de 14 para 15 de junho, as forças americanas puseram-se em movimento. A gigantesca máquina de


combate se aprontava para o assalto definitivo.

Às 5h:30m do dia 15 começou o bombardeio naval. Os transportes receberam ordens de não se aproximar a
menos de 1.500 jardas da costa. Os destróieres, por seu turno, podiam operar até uma distância de 1.000
jardas. Dois encouraçados, dois cruzadores e sete destróieres, designados para a tarefa de cobrir com seu
fogo a costa, realizaram uma operação de “último minuto”.

Às 5h:45m, a missão passou para as tropas. Lanchas e lanchões encostaram nos transportes.

Pouco antes das 7h da manhã, 34 LST, conduzindo os batalhões de assalto dos fuzileiros-navais, puseram-se
a caminho. Estavam nesse momento a 4.250 jardas do litoral. Em volta deles, centenas de veículos, de todos
os tipos, incluindo tanques e tratores anfíbios, avançavam rumo a Saipan.

A invasão começara.

Paralelamente, diante de Garapan, na parte média da costa oeste de Saipan, unidades da 2 a Divisão de
fuzileiros-navais realizaram a manobra de despistamento. A uma distância de 5.000 jardas da costa, os
soldados, embarcados em lanchões, imediatamente puseram-se em movimento. Porém o seu destino não era
a praia. Após voltear várias vezes em torno das naves maiores, retornaram a elas, reembarcando os soldados.
Cumpriu-se assim o propósito de despistar os efetivos japoneses sobre o verdadeiro local do ataque e semear
confusão nas fileiras inimigas, desorientando-as.

Entrementes, cessado o fogo naval, iniciava-se o bombardeio de desmoralização, a cargo de 50 caças, 50


bombardeiros e 54 torpedeiros.

Às 7h:50m, a hora H foi postergada para 8h:40m, em virtude de atraso ocorrido no lançamento dos tratores
anfíbios.

Minutos antes das 8h, as naves de controle informaram que a primeira leva de LCI, lança-foguetes, havia
cruzado a “linha de partida” e já disparava contra as posições inimigas. Na zona de ataque da 2 a Divisão, a
primeira leva consistia em oito filas de seis tratores anfíbios. Entre cada fila avançavam os tanques anfíbios
providos de howitzers de 75 mm. O plano de ataque da 4 a Divisão diferia do da 2a. A primeira leva estava
formada exclusivamente por 68 tanques anfíbios. Alguns levavam canhões de 37 mm, porém a maioria (60)
eram artilhados com peças de 75 mm. Em ondas sucessivas, avançavam as tropas de assalto embarcadas em
tratores anfíbios do 10° Batalhão Anfíbio da Marinha e do 773° Batalhão Anfíbio do Exército.

Na “linha de partida” as embarcações começaram a mover-se normalmente, sob escasso fogo inimigo. Ao se
aproximarem da costa, a situação mudou. Os japoneses utilizaram todas as armas, canhões e morteiros,
submetendo as embarcações americanas a intenso castigo. O fogo japonês cresceu dramaticamente conforme
se aproximaram as segunda, terceira e quarta levas de desembarque. A primeira leva de desembarque foi,
lançada na praia Verde às 8h:43m. A última, às 9h. Na praia Vermelha, ao mesmo tempo, a primeira e a
última leva se lançaram respectivamente às 8h:40m e 9h:8m.

No Sul, setor da 4a Divisão, a primeira leva era integrada por 68 tanques anfíbios do 708° Batalhão Anfíbio
de Tanques. Todas as unidades abriram fogo com seus canhões de 37 mm e seus howitzers de 75 mm quando
se encontravam a 400 jardas das praias. Após os tanques, avançaram os tratores anfíbios do 10 o Batalhão de
Tratores Anfíbios da Marinha e do 773° Batalhão de Tratores Anfíbios do Exército. Formavam quatro grupos
sucessivos, espaçados entre si por lapsos de dois a seis minutos.

Entre 8h:43m e 9h:7m, as levas de desembarque previstas foram todas lançadas. Oito mil combatentes iam a
bordo de barcaças, tanques e tratores.

A cabeça-de-ponte

No setor da 4a Divisão, a primeira leva, integrada por tratores anfíbios, devia tocar terra e avançar
imediatamente para o objetivo, situado a uma milha terra adentro. Atrás da primeira leva avançariam as duas
seguintes. O plano, no entanto, não pôde ser cumprido na forma prevista.

Os veículos foram detidos pela vegetação, pela areia e pelos obstáculos colocados pelos japoneses. Nessa
circunstância, constituíram presa fácil para o fogo inimigo.

Nas praias reservadas à 2a Divisão, a situação derivou rapidamente para o caos. O fogo inimigo atingiu com
eficiência os veículos americanos antes mesmo que alcançassem as praias. Tratores e tanques foram
obrigados a se reunir em áreas reduzidas dificultando-se mutuamente nos movimentos e congestionando as
praias.

No setor Vermelho, ao Norte, os dois batalhões de assalto do 6° Regimento de fuzileiros-navais caíram sob
fogo inimigo no momento do desembarque. A ação foi consideravelmente travada pelo congestionamento
dos veículos que os haviam precedido. Os fuzileiros foram obrigados a permanecer nas praias, sob
metralha, em tocas cavadas às pressas. Por volta das 11h:5m, o avanço fôra somente de 400 jardas. As baixas
nesse momento já eram calculadas em 35% dos homens.

Mais ao Sul, na praia Verde o 8o Regimento de fuzileiros-navais enfrentava os mesmos contratempos.


Também ali reinava o caos. Parte das tropas havia sido lançada às praias a centenas de jardas dos verdadeiros
objetivos, transtornando o plano estabelecido e deixando sem proteção os flancos das outras unidades.

Ao sul de Afetna Point, limite entre as praias Verde e Azul, a 4 a Divisão conseguiu sair da paralisação com
certa facilidade, porque o fogo japonês tornou-se relativamente débil.

Entretanto, ao cair a noite do Dia D, o ataque podia finalmente ser considerado um êxito. De fato, dois terços
dos setores que pelos planos deviam ser ocupados já estavam nas mãos dos atacantes. Duas divisões,
com as respectivas reservas, estavam em terra. Sete batalhões de artilharia haviam sido desembarcados.O
único ponto que restava a consolidar era o flanco de ambas as divisões, Afetna Point, limite entre a 2 a e a 4a
Divisões de fuzileiros-navais nas praias Verde e Azul, que estava nas mãos dos japoneses.

Na noite de 15 de junho de 1944, uma cabeça-de-praia de aproximadamente 10.000 jardas de frente por
1.000 de profundidade estava dominada pelos americanos.

Na opinião de um oficial de operações de Holland Smith, “o momento crítico da batalha por Saipan foi a
posse das praias”.

O contra-ataque japonês

Em torno das 20h do dia 15, os japoneses lançaram seu primeiro contra-ataque. Apoiados por tanques, os
japoneses avançaram em massa. Os fuzileiros da 2 a Divisão não contavam com apoio de artilharia, e tiveram
que resistir à investida abrindo fogo com fuzis e metralhadoras. Os canhões da frota, especialmente os de
cinco polegadas, martelaram também as posições japonesas, esvaziando assim a efetividade do assalto. E o
contra-ataque fracassou.

Um segundo contra-ataque foi lançado por volta dos 3h da madrugada de 16 de junho. As escassas forças
japonesas que participaram não puderam romper as linhas dos fuzileiros e abandonaram a empreitada.

Um terceiro e último ataque ao Setor da 2a Divisão efetuou-se quando as luzes do amanhecer começavam a
clarear o ambiente. Pela terceira vez os japoneses foram rechaçados, desta vez com a intervenção direta dos
tanques médios que haviam desembarcado. A claridade do dia permitiu constatar a dimensão da derrota
japonesa; perto de 700, cadáveres jaziam diante das linhas americanas.

Na zona da 4a Divisão, os japoneses contra-atacaram durante a noite de 15 para 16 de junho. Depararam com
uma duríssima resistência dos americanos, fortemente entrincheirados, apoiados por três batalhões de
howitzers de 105 mm.

O ataque lançado às 3h:30m foi rechaçado e, pouco depois, às 5h:30m, outra investida de 200 soldados
japoneses estatelou-se contra a firme resistência dos fuzileiros americanos.

Um dos fatores que contribuiu poderosamente para o êxito diante dos contra-ataques japoneses foi a
iluminação do setor do luta pelas naves da marinha. O encouraçado California, apoiado por dois destróieres,
disparou durante toda a noite centenas e centenas de bengalas, permitindo a visualização da zona, dominada
pelo inimigo e do movimento de suas forças.

Em linhas gerais, apenas grupos isolados japoneses puderam infiltrar-se nas posições americanas, sem causar
grandes danos.

No decorrer do Dia D mais 1 (16 de junho), novas forças americanas desembarcaram na costa oeste de
Saipan. Pelas 16h, as tropas que originariamente atacariam a baía Magicienne, na costa leste, foram
desembarcadas, sem suas armas pesadas, no setor da 2 a Divisão. O armamento pesado foi em seguida
lançado de pára-quedas por aviões torpedeiros. Essa operação, contudo, realizada a uma altura muito baixa,
provocou a destruição de quase todas as peças. Na tarde do dia 16, o General Saito decidiu lançar um contra-
ataque em que participariam maciçamente o 136° Regimento de Infantaria e o 9° Regimento de Tanques.
Esse assalto foi marcado para as 17h. Bateram as cinco, horas sem que se produzisse o projetado contra-
ataque. Aparentemente as unidades japonesas indicadas se achavam em completa desorganização,
impossibilitadas de se lançarem, à batalha. Enquanto isso os marines dedicaram seus esforços a preparar
posições, na expectativa da segunda noite em Saipan. Os trabalhos de fortificação e consolidação das
posições praticamente não foram perturbados pelo inimigo, exceto alguns disparos isolados de canhões e
morteiros que caíram sobre as linhas.

Às 3h:30m da madrugada, 36 tanques japoneses avançaram para as linhas americanas, seguidos por
atiradores. A aproximação deles provocou imediata reação dos fuzileiros, que romperam fogo com todas as
suas armas, canhões, metralhadoras, morteiros, bazucas e fuzis.

Pelas 4h:30m daquela madrugada, quase todos os tanques japoneses estavam destruídos.

O novo contra-ataque do General Saito fracassara em toda a linha. Os americanos, lenta, porém firmemente,
consolidavam suas posições em Saipan.

Anexo
Morrer em Byak
O plano Kon, desenvolvido pelos japoneses, previa um ataque americano a Byak para 3 de junho, porém os americanos
desembarcaram na ilha a 26 de maio.
26 de maio não era um dia comum. Qualquer japonês, soldado ou não, sabia perfeitamente que nesse dia, 37 anos atrás,
travara-se a batalha de Tsushima, onde a esquadra do Sol Nascente literalmente aniquilara a esquadra russa. Byak era
uma diminuta ilha situada pouco ao norte da Nova Guiné, porém possuía uma base aérea excelente; nas mãos dos
americanos, ameaçaria todo o sudeste do Pacífico, até os poços petrolíferos de Bornéu.
Os vôos de reconhecimento americanos haviam-se intensificado a partir de 4 de maio, mas sua frota aparecia e
desaparecia entre as mil ilhas do Pacífico, nunca se sabendo bem o que pretendiam.
O Contra-Almirante Yoshioka Ito, Comandante da 23a Flotilha Aérea situada em Sorong, no extremo norte da Guiné,
recebeu ordem de contra-atacar, com os dezoito aviões que lhe restavam, o ataque aéreo americano sobre Byak. Ao
mesmo tempo, prometiam-lhe reforços.
Por outro lado, o Almirante Ozawa recebeu ordens, em Singapura, do Almirante Toyoda, chefe da frota, para pôr em
marcha o plano Kon. Era 29 de maio de 1944, e na minúscula Byak há dois dias combatia-se tenazmente. O comandante
das forças da ilha era o Coronel Kuzume, e o chefe naval o Vice-Almirante Chida.
“A 23a Flotilha Aérea receberá o reforço de 50 caças procedentes do Japão e de mais 20, além dos vinte bombardeiros
vindos das Marianas”, dizia o comunicado. Na véspera do ataque, a 23 a recebeu 48 caças, 20 bombardeiros e 8
aparelhos de reconhecimento, retirados das Carolinas.
A 1o de junho, o Contra-Almirante Ito lançou uma grande ofensiva aérea com os reforços. Enquanto isso os americanos
continuavam desembarcando soldados e equipamentos em seus LST. Cinqüenta e quatro aparelhas japoneses
sobrevoam Byak, porém o fogo anti-aéreo dos fuzileiros-navais é eficaz. Doze aparelhos caem, envoltos em chamas. Os
resultados do reide não são decisivos.
Ao mesmo tempo, a esquadra japonesa transporta apressadamente dois 2.500 homens para a ilha. Os destróieres, porém,
são descobertos e atacados incessantemente pelos B-24 americanos. Apenas uma parte da frota continua rumo a Byak: o
Aoba, o Kinu (cruzadores pesados) e seis destróieres, protegidos pelos aviões da 23 a Flotilha Aérea. O número de
aparelhos se eleva agora a duzentos.
Este grupo também é atacado continuamente pelos B-29 e pelos P-38. Próximo de Byak, entra em combate contra as
baterias americanas de terra, sendo afundado um destróier e avariados outros três.
A primeira etapa do plano Kon fracassa. Alguns dias mais tarde os japoneses tentam novamente ajudar Byak, porém a
frota americana bombardeia inesperadamente a ilha de Wake e se retira para o Norte. Então o Almirante Toyoda decide
não desembarcar as reforços, mas sair em perseguição dos navios americanos.
A defesa da ilha de Byak pelos soldados japoneses foi uma das mais encarniçadas de toda a guerra. Embora recebessem
reforços insignificantes por meio de lanchas a motor, continuaram combatendo em inferioridade de condições até 21 de
junho, quando o Coronel Kuzume, depois de queimar bandeiras e documentos, cometeu harakiri. O Vice-Almirante
Chida, chefe naval da ilha, também se suicidou numa das grutas da ilha. Praticamente não houve sobreviventes; todos
os defensores morreram em combate ou cometeram o suicídio.

“Castigando” Saipan
“Se os americanos tentarem castigar Saipan, cairão na boca do lobo”, disse o Coronel Shimomura, oficial de ligação do
Estado-Maior do exército com a marinha.
A marinha estava furiosa com o exército por ter descurado da defesa de Saipan. Claro que o exército alegava não ter
nada com isso, pois o General Tojo, Chefe do Estado-Maior, há muito tempo declarara a ilha inexpugnável. Contudo, a
11 de junho a aviação americana bombardeara não só Saipan, mas também Tinian, Lhota e Guam. E mais, nesse mesmo
dia um aparelho de reconhecimento viu um grupamento de combate americano navegando a cento e dez milhas por
hora, rumo a Guam.
O ás da aviação naval, Coronel Fuchida, respondeu ao Coronel Shimomura: “A época dos porta-aviões está superada.
Se os americanos ocuparem Saipan e conseguirem organizar uma força aérea de grande raio de ação, a sorte da guerra
está selada... O futuro pertence aos grandes aviões com base em terra, de grande raio de ação...”
No dia seguinte, o grupamento de combate americano atacou novamente Saipan; desta vez não só com aviões, mas
também com o mortífero fogo de seus canhões. A experiência indicava que esses ataques seriam o prelúdio de
desembarque de fuzileiros-navais.
No decorrer do dia 13, o ataque continuou. As casamatas e fortificações costeiras foram atingidas em cheio.
O desembarque era questão de horas. Esperavam-no para o dia 14; finalmente, ocorreu no dia 15. Os fuzileiros
desembarcaram ao mesmo tempo em Tinian.
De Saipan comunicaram: “Ataques e contra-ataques se sucedem no litoral; a posição japonesa torna-se difícil”.
Entrementes, os pilotos da 23a Esquadrilha não demonstraram estar com o moral muito elevado. Freqüentemente
ocorriam acidentes às vezes elementares; vários aviadores adoeciam com uma espécie de febre tifóide, sem se
determinar as causas desse mal.
No dia 17, o tempo estava ruim. Saipan comunicou: “Apesar dos nossos sucessivos ataques noturnos, as forças
americanas desembarcadas mantêm as posições e preparam um ataque ao aeródromo. Já desembarcaram três divisões;
cinco hidraviões americanos acham-se ancorados próximo à costa. Parece que não pretendem desembarcar em Tinian e
Guam...”
O Coronel Shimomura medita longamente sobre suas declarações de dias atrás. Os americanos estavam castigando
Saipan... Mas até àquele momento a “boca do lobo” não passava de figura de retórica...

Quem tem medo do General Tojo?


A 21 de fevereiro de 1944, o General Tojo, Primeiro-Ministro, Ministro da Guerra e Chefe da Aviação Militar, foi
nomeado também Chefe do Estado-Maior Central do exército. O exército protestou contra a “autodesignação”, mas o
primeiro-ministro respondeu que “o cargo não é outorgado ao primeiro-ministro Tojo, o que seria a renovação de um
costume abolido desde 1888, mas à personalidade do General Tojo; além disso, esta designação simplificará a máquina
administrativa...”
Nessa época as notícias provenientes da Europa provocavam sérias preocupações em Tóquio, à medida que as
operações militares se tornavam cada dia mais difíceis para a Alemanha. Por outro lado, o Japão começava a sofrer os
rigores da batalha. O racionamento de roupas e alimentos de primeira necessidade fez-se mais premente, e apesar da
severa vigilância policial proliferava cada vez mais o mercado negro. Alguns ambientes murmuravam que “Tojo seria o
Hitler japonês”, o que de certa maneira corresponderia, perante a opinião pública, a um aumento de prestígio à medida
que se deteriorava a imagem do ditador alemão.
Tojo nomeou uma equipe de pessoas inteiramente fiéis às suas idéias, entre elas o General Kuremiya, chefe adjunto da
aviação militar.
Tojo e Kuremiya solicitaram ao Ministério de Munições a construção de aviões de grande raio de ação para bombardear
a costa oeste dos Estados Unidos. O Ministério respondeu que isso era impossível porque a construção de aviões desse
tipo exigiria pelo menos cinco ou seis anos.
O Ministério de Munições fôra criado em novembro de 1943, e o General Tojo também era seu chefe. As relações entre
o Ministério e o general nunca foram muito boas; notava-se uma nítida desinteligência. Os fabricantes de aviões eram
continuamente acusados de improdutividade, o que explicavam pela escassez de técnicos e de alumínio. Decidido a
incrementar a produção, Tojo se lançou a uma atividade que incluía desde visitas do próprio imperador aos locais de
trabalho, até a transformação em fábricas de aviões de oficinas alheias à produção aeronáutica. Pouco a pouco
conseguiu-se aumentar os índices: em janeiro de 1944, a produção era de 1.815 aviões; em fevereiro (mês em que Tojo
passou a Chefe do Estado-Maior) aumentou para 2.060; em março, 2.711; abril, 2.296; maio, 2.214; em junho é batido o
recorde de produção de toda a guerra: 2.856 aparelhos.
Contudo, apesar das resultados positivos desse esforço, as cifras estavam muito abaixo das necessidades, pois o exército
reclamava 32.000 aviões para 1944, e a marinha 26.000. Após estudos profundos, o Ministério de Munições reduziu o
total de pedidos a 50.000 aparelhos. Mesmo assim, a cifra parecia difícil de alcançar.
A tonelagem dos navios mercantes afundados crescia mensalmente; as matérias-primas escasseavam cada vez mais.
Exército e marinha deparavam constantemente com a redução das cotas de alumínio.
Em 1942, perdera-se 880.000 toneladas de navios. Em 1943, 1.760.000. Descontando desses dados as tonelagens dos
navios novos que de certa maneira reduziam as perdas, assim mesmo para 1942 estas seriam de 480.000 e de 500.000
em 1943.
A marinha e o exército voltaram a divergir com relação aos navios-escolta para os barcos mercantes. A marinha alegava
necessitar de navios para realizar seus planos e não podia desperdiçá-los em missões desse tipo. O exército respondia
acusando a Armada de não cumprir compromissos, e começou a formar sua própria frota. Ao mesmo tempo reclamava
matérias-primas para abrir vias de comunicações e erguer fábricas na China, porém a Marinha recusou prestar-se ao
transporte de matérias-primas que não fossem destinadas ao próprio Japão. O General Tojo não teve outro remédio
senão ceder ante a marinha, temendo que esta não o apoiasse nas futuras operações. Mas, ao mesmo tempo, empenhou-
se em inclinar a situação a seu favor, nomeando o Almirante Shimada, Ministro da Marinha e Chefe do Estado-Maior
Central da Armada. A nomeação foi criticada pelos chefes navais por entenderem que “nunca haviam reconhecido
autoridade suficiente no Almirante Shimada...” Tojo acertou também reuniões periódicas entre representantes de ambas
as armas, no recinto do Palácio Imperial; pensava que a figura do Imperador pesaria constantemente sobre as decisões e
unificaria critérios. Mas estava enganado, pois à tensão já existente nos meios militares acrescentaram-se ansiedades
dominantes nos políticos, e que no Palácio Imperial se evidenciavam agudamente. Qualquer que fosse o tema tratado, as
conversações logo degeneravam em complicadas discussões, e os resultados eram geralmente improdutivos.

Saipan: informe especial


No dia 13 de junho de 1944, o Almirante Toyoda resumia assim a situação da ilha de Saipan:
“1o Efetivos inimigos:
a) Na altura das Marianas, um grupamento de combate americano composto de 15 porta-aviões dispostos em cinco
formações; a 400 milhas a leste das Marianas, LST em via de desembarcar parte de seus homens, sob a proteção de
numerosos porta-aviões auxiliares.
b) Nas proximidades das ilhas do Almirantado, segundo os vôos de reconhecimento, oito porta-aviões, encouraçados e
numerosos outros navios.
2o Intenções americanas:
- Os americanos tencionam sem dúvida atacar as grandes ilhas do grupo das Marianas.
- Ao mesmo tempo que atacam as Marianas, desencadearão nova ofensiva contra o oeste da Nova Guiné ou contra as
bases do oeste das Carolinas (Palau).
- Tentam atrair as forças navais japonesas a um encontro decisivo.
3o Prováveis movimentos do inimigo:
- O inimigo está ao par das intenções do grupamento de combate japonês, porque este foi avistado muitas vezes.
- No dia 14, apesar dos americanos contarem com a maioria de seus efetivos para a ofensiva contra as Marianas, parte
de sua frota permanece na retaguarda, como escolta ou em reserva. Isto faz supor que o ataque às ilhas Marianas é
iminente.
4o Análise geral da situação:
- Os americanos concentram dois terços do seu grupamento de combate na altura das Marianas. Estas forças constituem
a vanguarda. Avançarão, com toda a certeza, rumo ao Oeste.
- É quase impossível pensar que os americanos renunciem ao ataque.
- É possível que parte do grupamento de combate seja enviada ao Oeste para atrair a frota de combate japonêsa ou para
atacá-la de surpresa.
- Pelo fato de nossa base aérea estar situada no sudoeste das Marianas, a zona do nordeste está mal defendida. Pode
acontecer que os americanos ataquem a própria zona Sul para cortar as linhas de comunicações e abastecimentos.
- Os americanos dispõem de numerosos porta-aviões auxiliares.
- Por informação do extremo Norte, sabe-se que os americanos bombardearam a ilha Matsue, nas Curilas. Este ataque
pode ser considerado um ataque de despistamento.
Ass: Almirante Toyoda
Comandante da Frota Combinada.”
“Matsu”
O Tenente-Coronel Nakamura foi incumbido de levar a Tóquio os planos de dois aparelhos a reação que a Alemanha
acabava de experimentar, em julho de 1943. Nove meses mais tarde, os planos estavam em poder do adjunto naval
japonês em Berlim. No dia 13 de abril, Nakamura se transferiu para a base de Lorient, onde o aguardavam dois
submarinos: um, alemão, chamado em código japonês “Satsuki” (Lua de março) e outro, japonês, o I-29 “Matsu”. O
Tenente-Coronel embarcou no I-29, cujo comandante era o Capitão-de-Fragata Kinashi, que no princípio da guerra
afundara o porta-aviões Wasp e que Hitler condecorara com a Cruz de Ferro, raríssima honra para um japonês. O
submarino japonês saiu de Lorient a 16 de abril, submergindo imediatamente.
Nove horas depois de zarpar, o chefe das máquinas verificou que o casco estava fazendo água. A velocidade, nesse
momento, era de dois nós. Durante a travessia do Golfo da Gasconha foram. atacados com cargas de profundidade, a
razão de seis por hora. A eletricidade foi reduzida ao mínimo. Todos os tripulantes que não estavam de guarda tiveram
que permanecer deitados. No noite de 18, subiu-se à superfície, porém três horas mais tarde o radar detectou a presença
de naves inimigas e o submarino teve que permanecer submerso pelas 48 horas seguintes.
As ordens eram terminantes: nenhum tripulante podia cair prisioneiro do inimigo. O Tenente-Coronel Nakamura
permanecia deitado, com sua pistola ao alcance da mão. Todos tinham ordem de suicidar-se se o submarino fosse a
pique. A situação melhorou um pouco diante da costa espanhola, porém na noite de 23 teve-se que submergir e deter
completamente os motores enquanto um comboio passava por cima.
Ao subir novamente à superfície, sofreu um ataque aéreo. Foi necessário afundar rapidamente, sacrificando o
marinheiro que empunhava a metralhadora. Dois dias mais tarde, 25 de abril de 1944, a viagem se normalizou. Embora
ninguém sentisse apetite dada a angústia constante, eram servidas três vezes ao dia refeições compostas de arroz branco
e conservas japonesas.
No dia 2 de maio, o I-29 encontrava-se perto dos Açores quando foi perseguido, durante duas horas, por um destróier
britânico. No dia seguinte conseguiram navegar cinco horas na superfície, a uma velocidade de 20 nós. Nesse dia
tomaram conhecimento da misteriosa morte do Almirante Koga, sucessor do Almirante Yamamoto. A notícia provocou
consternação, e também desconfiança. Quase duas semanas mais tarde, uma mensagem do adjunto naval em Berlim
cientificou-os que o “Satsuki” fora posto a pique, e que todas as esperanças de levar os planos a Tóquio estavam no
“Matsu”. Era 16 de maio de 1944 e fazia um mês que navegavam.
No dia 20 de maio o I-29 entrou em zona tropical. O ar condicionado foi posto em funcionamento, porém a instalação
estava avariada e o calor tornou-se terrível. Quando o submersível estava diante de Cabo Verde, apareceu outra avaria,
desta vez no mecanismo de alimentação do óleo. Felizmente, pôde ser reparada.
A 5 de junho, enquanto navegavam entre Libreville e Natal, receberam a notícia da evacuação de Roma pelos alemães e
do desembarque aliado na Normandia. No dia 14 de julho, a tensão se aliviou; chegaram ao estreito de Lohore, que
acreditavam repleto de navios japoneses; estavam, porém, equivocados. Havia apenas um cruzador pesado, avariado...
Nesse mesmo dia, ao cair da noite, depois de 15.000 milhas de navegação, de 87 dias com 600 horas de imersão, o I-29
“Matsu” entrava no porto militar de Seleta. O Tenente-Coronel Nakamura desembarcou e viajou para Tóquio de avião,
onde chegou a 19 de julho, O submarino continuou sua marcha, sendo depois afundado na altura de Manilha. De
qualquer modo, a travessia apresentou dois aspetos curiosos: foi a primeira vez, durante a guerra, que planos secretos
alemães puderam ser enviados a Tóquio. O I-29 foi, também, o único submarino japonês que conseguiu realizar a
viagem entre a Europa e o Extremo Oriente.
Um ano mais tarde, o “Chunshui” e o “Kita”, versões japonesas dos “Messerschmitt” 262 e 163, saíam das fábricas
Mitsubishi e Nakajima...
Quinze dias depois, terminava a guerra.

O Almirante Koga desapareceu


“O Almirante Hinehichi Koga, Comandante-Chefe da Frota Combinada, encontrou a morte num acidente de aviação
durante o mês de março último, quando dirigia operações na frente de combate. Foi substituído pelo Almirante Seemu
Toyoda, que já tomou posse do comando da Frota. O Almirante Koga foi nomeado Grande-Almirante a título póstumo,
recebendo a medalha de ouro”.
Esse comunicado era do Estado-Maior da Marinha japonesa e estava datado de 5 de maio de 1944.
Porém, era apenas a aparência externa do problema, exigida pela rotina: uma maneira de dar uma satisfação ao povo e
permitir a nomeação rápida de um comandante de operações que prosseguisse os planos do Estado-Maior. Porque, na
realidade, a verdadeira sorte do Almirante Koga foi registrada nos arquivos secretos do Almirantado como o “Segredo
Otsu”, ou, se preferirmos, “Segredo B”. Veio à tona somente 12 anos mais tarde, em 1956, quando o Capitão Bumpei
Kimura, chefe de informações do 35o Exército, decidiu-se a revelá-la.
No dia 29 de março de 1944, o Almirante Koga achava-se em Palau procurando uma maneira de barrar o avanço da
frota do Almirante Spruance, que navegava rumo ao Pacífico central apoiada pelo 38 o Grupamento de Combate, do
Vice-Almirante Halsey. Finalmente, Koga decidiu transferir seu QG a Manilha, via Davao. Às 21h e 40m, dois grandes
hidraviões abandonavam Palau. Num deles viajava o Almirante Koga, o Vice-Almirante Uono, comandante do Serviço
de Maquinistas da Armada, o Contra-Almirante Yanagisawa, do Estado-Maior e outros sete oficiais generais. No outro,
o Více-Almirante Fukudome, chefe do Estado-Maior da Frota, o Contra-Almirante Okubo, chefe de Saúde da Frota, o
Contra-Almirante Miyamoto e mais quatro oficiais.
Os aparelhos partiram sem escolta de caça, pois a aviação japonesa dominava o espaço aéreo de Davao.
Perto de Palau enfrentaram um temporal que impediu as transmissões de rádio. Apesar disso, o aparelho do Vice-
Almirante Fukudome conseguiu transmitir à base de Davao o aviso de que tentaria descer no mar, pois um dos motores
estava seriamente avariado. A amerissagem foi desastrosa: o hidravião bateu numa onda e incendiou. Com exceção de
Fukudome, Miyamoto e do Tenente Yamagata, chefe do Serviço de Códigos, todos os demais pereceram.
Como não se obtivessem notícias do Almirante Koga e de seus companheiros, Davao comunicou ao Estado-Maior da
Armada: “Os chefes da Frota Combinada desapareceram”.
Em Tóquio foi ordenada uma busca imediata, e apenas dois dias mais tarde, às 17 horas de 4 de abril, o Almirante
Toyoda, comandante da base naval de Yokosuda, era investido pelo Imperador como o novo Comandante-Chefe da
Frota Combinada.
Mas, que aconteceu com o Almirante Koga? As informações que o Estado-Maior possuía já nesse mesmo 4 de abril
eram de que Fukudome, Miyamoto e o Tenente Yamagata encontravam-se a salvo, em poder de uns pescadores. Se não
fossem resgatados imediatamente, cairiam em poder dos guerrilheiros filipinos da zona não ocupada da ilha Zebu.
Nessa área concentravam-se os melhores grupos de guerrilheiros americano-filipinos, que viviam em plena selva
virgem protegidos pelos habitantes das aldeias. Eram abastecidos por um serviço de submarinos, e obedeciam às ordens
do Coronel Canglion. Localmente, falava-se que estavam sob o comando de uma mulher: Coronel Francisca. Na zona
de operações, os guerrilheiros totalizavam setecentos homens e os japoneses três mil e quinhentos. Os primeiros eram
invencíveis na selva, e os japoneses tinham que esperar que saíssem da floresta para destruí-los.
O Almirante Koga e seus companheiros também tentaram amerissar em meio ao temporal, porém o hidravião falhou e
três oficiais morreram. Os seis restantes alcançaram a costa a nado, onde esperaram a aparição de tropas japonesas.
Porém, em lugar delas, encontraram pescadores indígenas que momentaneamente os abrigaram numa aldeia.
Os pescadores procuraram negociar com os japoneses e obter a troca dos prisioneiros pela promessa de retirarem as
tropas das zonas de suas casas. Os japoneses, porém, rechaçaram a proposta. Entrementes, os homens de Canglion
souberam da presença dos chefes navais e os capturaram.
Os contínuos ataques japoneses obrigaram os guerrilheiros a recuar até o centro da ilha, até que, a 10 de abril, estavam
quase totalmente cercados. Nessa situação as tropas de vanguarda do exército japonês receberam uma delegação de
guerrilheiros com bandeira branca, que entregou a seguinte mensagem:
“Temos em nosso poder nove oficiais pertencentes ao Alto-Comando da Marinha. Se os japoneses concordam em se
retirar, entregaremos os nove prisioneiros. Assinado: Coronel Francisca”.
O Tenente-Coronel Nishimura, chefe das tropas invasoras, compreendeu que eram os três do grupo Fukudome e mais
seis que seriam Koga e seus acompanhantes. A pretexto de que essa manobra pudesse ser um ardil dos guerrilheiros,
Nishimura solicitou que uma delegação fosse comprovar as afirmações.
Quando a missão regressou, trazia um jovem. Não havia dúvidas: os prisioneiros eram aqueles que Nishimura esperava.
O jovem, porém, declarou: “Seis oficiais estão no posto-de-comando dos guerrilheiros; os outros, a três quilômetros,
guardados por um destacamento especial”.
Nishimura discutiu a proposta com o General Suzuki, comandante-chefe do 35 o Exército. A resposta foi: “Os nove
oficiais devem ser libertados imediatamente, porém fica proibido qualquer acordo com as guerrilhas. A única solução é
o seu extermínio total”. Nishimura ordenou que o ataque continuasse; porém os guerrilheiros escaparam, levando os
prisioneiros em cangalhas de bambu. Nesse momento, o comandante da marinha local informou a Tóquio que os nove
oficiais haviam sido libertados, coisa que na verdade não ocorrera. Ele não podia conceber que três mil e quinhentos
soldados japoneses não conseguissem prender seiscentos guerrilheiros.
As ações continuaram com resultados negativos por mais três semanas. Nishimura recebeu ordem de acabar de qualquer
jeito com os guerrilheiros, para evitar que utilizassem os prisioneiros como propaganda ou que fossem entregues a
algum submarino americano.
Nem os dirigentes em Tóquio, nem a Armada, nem o Exército Japonês do Sul pensaram, a partir desse instante, que
voltariam a ver os prisioneiros. No dia 3 de maio, o Almirante Toyoda foi confirmado como comandante da Frota
Combinada e anunciou-se publicamente a morte do Almirante Koga. Os combates contra os guerrilheiros prosseguiram
durante todo o mês de maio. O Coronel Canglion foi substituído no comando dos guerrilheiros de Zebu pelo Tenente-
Coronel Cousin, antigo engenheiro de minas que conhecia bem a região. Transpirou que os americanos estavam a ponto
de desembarcar em Byak (Nova Guiné), e os guerrilheiros começaram a ter problemas mais urgentes que andar pela
selva rebocando oficiais japoneses em cangalhas de bambu.
Os japoneses receberam outra proposta: a entrega de seis dos prisioneiros em troca de um afrouxamento do cerco.
Nishimura aceitou. A hora determinada foi o meio-dia; o sinal, três disparos. No momento da entrega apareceriam de
cada lado doze soldados armados. Três horas mais tarde seria aberta uma parte do círculo formado pelas tropas
japonesas e por ali escapariam os guerrilheiros. Um foguete marcaria o lugar.
O sol caía a pino sobre a clareira onde se efetuou a troca. Os seis prisioneiros foram entregues em macas do exército
americano e logo ambos os grupos desapareceram na floresta.
As três da tarde, uma bengala subiu ao céu e os guerrilheiros escaparam rapidamente.
As macas chegaram ao posto do Tenente-Coronel Nishimura. Koga foi convidado a descansar; depois lhe comunicaram
que estava oficialmente morto há quase um mês e que lhe haviam celebrado funeral e decretado promoção póstuma.
- Já estava desconfiado - respondeu Koga laconicamente. Narrou detalhes do seu acidente e de seu cativeiro amarrado à
maca americana. Quando terminou, Nishimura lhe disse: - No Japão, o povo sabe que o Almirante Koga, Comandante-
Chefe da Frota Combinada, está morto. Eu, um simples tenente-coronel comandante de um destacamento, nada posso
fazer para salvá-lo. Devo obedecer ordens recebidas. A única coisa que posso, é deixá-los morrer tranqüilamente, como
bons samurais.
Preparam-se seis pistolas, com uma bala em cada uma. O próprio Nishimura as distribuiu. Pouco depois, seis disparos
secos romperam o silêncio da noite.
As cinzas dos seis cadáveres foram repatriadas ao Japão, junto com as cinzas dos pilotos mortos no acidente. Esse era o
“Segredo B”.
Quatro meses mais tarde, em outubro, as tropas que conheciam o “Segredo B” foram as primeiras enviadas à frente de
combate de Leyte, onde foram completamente aniquiladas.

Ozawa
O Almirante Ozawa pensava que tudo seria mais fácil; sua frota descobrira antes o grupamento de combate americano e,
além disso, estava muito protegida pelos caças dos porta-aviões.
Ozawa tomava chá na sala de operações de sua nave-capitânea, o porta-aviões Daiho. Um fator não estava favorecendo
seus planos: o tempo. Isso provocava uma certa inquietação, porém não chegava a diminuir o otimismo geral. No dia 17
o céu estava carregado e chuvoso; no dia 18 melhorou um pouco, mas a 19 o horizonte se toldou novamente de nuvens
ameaçadoras. Começou a chover, e vagalhões violentos açoitaram as naves. Contudo, às 6h e 30m da manhã,
conseguiu-se fixar a posição do inimigo. Os auxiliares puseram-se a empurrar os aviões para as zonas de lançamento.
Um por um, começaram a decolar. Os aviadores faziam um gesto com a mão, respondido com exclamações pelos outros
tripulantes. Os aparelhos lançavam jatos de calor, ao elevar-se, já fora da pista, sobre as ondas do mar.
O Almirante Ozawa saboreava o chá e aprovava com leves movimentos de cabeça. Eram 8h e 30m e praticamente todos
os seus aviões estavam em vôo para atacar o inimigo. Mandou transmitir: “Temos apenas que esperar a notícia das
vitórias...
Passou uma hora, depois duas, três... quatro. Não havia notícias. O almirante impacientava-se. Pequenas dúvidas, que
seu otimismo sepultara nas profundezas da sua mente, começaram a ressuscitar. Sentia-se cada vez menos seguro. Seus
pilotos eram bons, seus aparelhos também e, fundamentalmente, o inimigo não esperava um ataque. Subitamente uma
explosão cortou seus pensamentos. Sentiu-se jogado fora da cadeira, enquanto uma dor aguda e quente se fez presente
em sua testa. Toda a sala começou a inclinar, até deter-se num ângulo acentuado. O porta-aviões Daiho, o seu porta-
aviões, fôra atingido por um torpedo.
Foi um ataque imprevisto, que ninguém esperava. O elevador não funcionava e na coberta a tripulação cobria
rapidamente um grande rombo com placas de ferro. Um oficial avisou que o torpedo atingira os depósitos de
combustível e que o gás invadia o interior do navio. Não houve tempo de tomar nenhuma medida; a mistura de gás e ar
inflamou-se e, como a brecha na coberta estivesse vedada, o porta-aviões explodiu.
Quase ao mesmo tempo, o porta-aviões Shokaku voou também pelos ares alcançado por outro torpedo.
O Almirante Ozawa salvou sua vida a duras penas, e transferiu o seu comando ao cruzador Haguro.
Quando os aviões regressaram, encontraram um panorama desolador: o grupamento de combate era um cadáver
ambulante. Não podiam aterrissar porque os porta-aviões principais haviam sido afundados e apenas alguns aviões, com
grande esforço, conseguiram chegar à base de Guam. Ozawa consultou Tóquio e o Almirante Toyoda ordenou bater em
retirada.
No dia 20, a esquadra alcançou penosamente o cabo Nakaje, na base de Okinawa.

Para Defender Na Primavera...


O cruzador Oyodo estava ancorado ao norte de Tóquio, na altura de Kisarazu. Não era um navio de guerra qualquer: era
a nave-capitânea da esquadra do Almirante Toyoda. No dia 3 de maio de 1944, o plano A estava amadurecendo. Seus
detalhes foram cuidadosamente estudados, e o Estado-Maior tinha plena confiança nele. Era baseado num esquema
tradicional da Marinha de Guerra, que já dera resultados positivos em diversas ocasiões.
Na sala de operações do cruzador, o Almirante Toyoda falava em tom pausado, acentuando bem as palavras:
“...As forças navais japonesas deverão concentrar-se para atacar e destruir as principais belonaves inimigas e deter o seu
avanço...”
O comandante-chefe encaminhou-se para um mapa do Pacífico que cobria uma das paredes: “Até fins de maio, a tropa
deverá entrar em operações, distribuída do Pacífico central até às Filipinas e zona norte da Austrália. A frota evitará
outras zonas, salvo no caso de que as condições sejam especialmente favoráveis. Qualquer batalha direta deve ser
evitada. A frota não deve empreender mais que operações parciais. Sempre que possível, as ações devem ser executadas
de surpresa...”
Finalmente, ao terminar a reunião, Toyoda enfatizou: “A estratégia seguida deve ser aplicada tanto no mar como em
terra, para proteger as zonas Primavera, Tartaruga e Leste, isto é, as Filipinas, o oeste da Nova Guiné e as Carolinas...
O almirante entregou a cada comandante um envelope com instruções, cumprimentou-os e se retirou... Era realmente
um bom plano. Todos na marinha japonesa confiavam nele... Havia problemas, porém, como a baixa qualidade das
tripulações aéreas. A luta constante diminuía rapidamente o número de pilotos experimentados em combate, e os novos
tripulantes não tinham necessário conhecimento. Muitas vezes, devido a erros ridículos, homens e aparelhos eram
perdidos. Tampouco o moral das tripulações era bom. Os destróieres eram atacados pelos submarinos inimigos cada vez
com maior freqüência, sofrendo grandes perdas. Os petroleiros e transportes também haviam sofrido muito. Apesar de
tudo, o grande Almirante Toyoda e seus chefes de Estado-Maior depositavam plena confiança no plano A. Essa
confiança repousava em grande parte no fato de que eles só conheciam alguns aspetos dos inconvenientes que
atentavam contra a execução do plano. Porque havia mais: os americanos conheciam perfeitamente todos os
movimentos japoneses, ao passo que estes apenas contavam com escutas que interpretavam o volume das comunicações
transmitidas pelo rádio. Nunca chegaram a decifrar o código secreto americano. Quando Toyoda ordenou a execução do
plano A, os Marines desembarcavam com êxito em Saipan e Tïnian.
Nesse momento, as forças que a marinha japonesa dispunha para levar avante os objetivos eram o 1 o Grupamento de
Combate (Ozawa), a 1a Esquadra Aeronaval (Sumida), as Fôrças Aéreas de Yokosuka com base em Iwo Jima, todos os
submarinos disponíveis e as forças aéreas de Formosa e de Okinawa. Estas forças, além de serem as disponíveis, era o
que a Armada japonesa possuía nesse momento.
A aplicação do plano A teve efeitos desastrosos. O grupamento de combate de Ozawa foi obrigado a bater em retirada
com grandes perdas. A 1a Esquadra Aeronaval conduzida pelo Contra-Almirante Sumida estava pousada em Tinian,
quando às 13h e 30m de 11 de junho foi atacada pelo grupamento de combate americano. Das 1.644 aparelhos que
possuía em Tinian quando começou o ataque, depois do bombardeio apenas 300 restaram em condições de voltar a voar.
A batalha de Saipan, ou melhor, a aplicação do plano A, custou à armada japonesa três porta-aviões: o Daiho, o
Shokaku e o Hiyo. Quatro porta-aviões leves ficaram seriamente avariados, assim como um encouraçado. Somente a
armada perdeu 450 aviões, restando-lhe apenas 35.
Quando a notícia chegou a Tóquio, o poder do General Tojo desmoronou. O Japão estava definitivamente em perigo;
perdera a iniciativa das operações e esperava, a curto prazo, ataques às Filipinas, Iwo Jima e Okinawa. Por outro lado,
os ataques aéreos às grandes metrópoles japonesas, iniciados por Doolittle, se tornariam cada vez mais freqüentes. O
plano para defender na Primavera a Tartaruga do Leste, fracassara.

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