Você está na página 1de 65

Fármacos antivirais

Profa. Dra. Ivone Carvalho


Noturno - 2016
Vírus
• São acelulares e não apresentam metabolismo
próprio  parasitas intracelulares obrigatórios

• Se reproduzem (dentro de células vivas) e


evoluem (sofrem mutações)  organismos vivos.

• Fora da célula hospedeira, o vírus se cristaliza


ficando inativo.

• Material genético: DNA ou RNA.


Classificação dos vírus
material
Vírus de DNA capsídeo genético
(genoma)
herpes vírus DNA ou RNA
adenovírus
vírus hepatite B
bacteriófagos
Vírus de RNA
glicoproteínas
retrovírus (HIV) do envelope
influenza vírus envelope
vírus hepatite A, C e D
vírus de febre hemorrágica (dengue, hantavírus, ebola vírus)
raiva vírus
Vacinas
• Produção de anticorpos que tornam o organismo
imune ou, ao menos, mais resistente ao vírus.
• Principal método de combate às viroses.
• Vírus atenuados, inativados ou recombinantes
(produz antígeno mas incapaz de replicar),
vacina de subunidade recombinante (ex:
antígeno expresso em E. coli).
• Embora valiosas, as vacinas não funcionam para
infecções em curso, imunossuprimidos (HIV,
quimioterapia e transplantados) e vírus de rápida
mutação gênica (ex: HIV e gripe).
Vacinas
Tríplice Viral - Rubéola & Sarampo: manchas avermelhadas,
conjuntivite e fotofobia; Caxumba: inchaço e dores locais
Catapora (varicela) - manchas vermelhas e intensa coceira
Poliomielite - febre, diarreia, dor de cabeça e flacidez muscular
Hepatite A e B - náuseas, febre, falta de apetite, fadiga, diarreia e
icterícia  lesões no fígado
Febre amarela - lesões no fígado, dor no estômago, vômitos, febre e
morte por problemas cardíacos e renais.
Raiva humana - dificuldade de ingerir líquidos e alimentos; espasmos
Varíola - manchas que evoluem para vesículas (erradicada)
HPV - verrugas genitais que podem ou não evoluir para câncer
Faltam Vacinas para Hepatite C, Herpes (ardência e “bolhas de
água”), HIV.
Gripe (parcial/sazonal)
Dengue (Dengvaxia® Sanofi-Pasteur: registro aprovado pela ANVISA
em 2015; Vacina Instituto Butantã: testes clínicos fase III).
Hepatite C
• Prevalência global de 3%, ou seja, aproximada-mente
150 milhões de pessoas são infectadas.
• Vírus da hepatite C está associado a 70% dos casos de
hepatite crônica, 40% de cirrose avançada e de 60%
carcinoma hepatocelular => um terço dos transplantes
hepáticos no mundo.
• Fatores agravantes: idade elevada de contamina-ção,
etilismo, co-infecção por HIV ou pelo vírus da hepatite B.
• As fontes de infecção mais conhecidas são o uso de
hemoderivados e de drogas endovenosas.
Tratamento da Hepatite C:

Ribavirina: análogo
sintético da guanosina
Inibição da DNA
polimerase

Guanosina

Interferons alfa + ribavirina: melhoram a resposta virológica


sustentada (erradicação do vírus) em ~40%.

Interferons: proteínas produzidas pelas células para defendê-las de agentes externos,


induzindo um estado de resistência antiviral em células teciduais não infectadas.
Herpes
• Herpes simples: contorno dos lábios, rosto, órgãos
genitais e nádegas.
• Herpes zoster: nervo trigêmeo, próximo da orelha
até a testa, e abdômen, acompanhando o trajeto
do nervo.
Herpes: ciclo de vida do vírus
Comparação entre o nucleotídeo natural e o
fármaco aciclovir

Principais vírus suscetíveis ao


tratamento com aciclovir:

Herpes simplex (VHs), tipos 1


(herpes simplex encephalitis) e 2
genital herpes),
vírus Varicella zoster (VVZ-
ex:catapora),
vírus Epstein-Barr (VEB) e
Citomegalovirus (CMV)
Antivirais usados para tratamento do vírus da Herpes

Trifosfato ativo presente apenas nas células infectadas (não-tóxico)


NUCLEOTÍDEOS: UNIDADES
FUNDAMENTAIS DOS ÁCIDOS
NUCLÉICOS
Polimerização do DNA
TIMINA OH

O
O
O O
H H N N
N P
H
ADENINA
-O O
N O
N H
N
H
N N O
O O O
N N P
PO N H
O
3´ N -O O
O CITOSINA
H
O N N N H N
H N
GUANINA H O
O P O N OP
O
OH O
N
H N
OH N ADENINA


O O O N O
TIMINA
-O P O P O P O
O
O- O- O- H H
H H
OH H
Aciclovir age interrompendo o elongamento
da cadeia de DNA
O

Pró-fármacos de aciclovir HN

N
H2N N
HO
O

Desenvolvimento de
Mais solúveis em água resistência

Usado em
infecções
oculares
causadas por
CMV

Diferenças entre as sub-famílias alfa e beta de timidina quinase


Bioisóstero de Ganciclovir
Pró-fármaco Fármaco

Penciclovir: espectro de atividade semelhante a aciclovir, mas maior


potência e rápido início e tempo de duração de ação. Uso tópico em herpes
labial e intravenosamente para tratamento de HSV.
Fármacos empregados em infecções por vírus
que não possuem a enzima timidina quinase

Usado em infecções de retina por CMV


Efeitos indesejáveis renais
Antivirais que são igualmente fosforilados pelas
enzimas timidina quinase viral e celular

Mais tóxico; Menos tóxico; HSV-1 e HSV-2


uso tópico em uso sistêmico em encephalitis
queratoconjuntivite CMV e VZV
adenoviral

Inibidor da síntese de DNA viral:


liga-se nos sítios de ligação do
pirofosfato da DNA-polimerase
viral e da transcriptase reversa,
impedindo a incorporação dos
Menos seletivos nucleosídeos trifosfatos no DNA.
Usado em infecções por CMV
Tratamento de papillomavirus: verrugas genitais

Inibidor da
polimerização de
tubulina

Terapia “anti-sense” (para CMV)-bloqueio da tradução do RNA viral

Fomivirsen
Estrutura contendo grupos fosfonotioato no lugar de fosfato
Pandemias e Epidemias envolvendo
Influenza
• Pandemia: 1918 na Europa; envolvendo em torno de 20
milhões de pessoas;
• Epidemia em1957 (gripe asiática);
• Epidemia em 1968 (gripe Hong Kong);
• Epidemia em 1977 (gripe Rússia);
• Grande risco ocorreu
em 1997-Hong Kong
Ciclo de vida do vírus Influenza

Influenza A
Inibidores de neuraminidase

Geometria trigonal
Neuraminidase

Mecanismo enzimático de hidrólise

R
O O H2N
HO
AcHN H2N N
R' O OR H
N O H2N Arg-371
H O
H2N Arg-371
O O

Sialosídeo

Etapa 1 - Binding
• Ligação do substrato sialosídeo (glicolipidio ou glicoproteina)
• Ácido siálico adota a conformação pseudo-barco
• A conformação menos estável permite maiores interações com a
enzima
Neuraminidase

Mecanismo enzimático de hidrólise


Asp-151 Asp-151

NH2 O O NH2 O O
HN HN
H H
Arg-152 NH2 Arg-152 NH2 -
OH R O R
O O H2N H O H2N
O
N 2
N
H O H
O O H2N Ar g- 371 + O H2N Arg-371

O O
O O

Glu-277
Glu-277

Etapa 2- Doação de próton a partir de uma molécula de água ativada


• Formação do intermediário do estado de transição cátion sialosil
endocíclico
• Glu-277 estabiliza a carga parcial no oxigênio glicosídico
Neuraminidase

Mecanismo enzimático de hidrólise


Asp-151 Asp-151

NH2 O O NH2 O O
HN HN
R H
HO -
Arg-152 NH2 Arg-152 NH2
O O R
H H2N H O H2N
O O
2
N N
O H O H
O H2N + O H2N Arg-371
Arg-371
O O O O

Glu-277 Glu-277

Etapa 2- Doação de próton a partir de uma molécula de água ativada


•HOR é melhor grupo abandonador do que –OR
•Glu-277 estabiliza a carga parcial no oxigênio glicosídico
Neuraminidase

Mecanismo enzimático de hidrólise


Asp-151 Asp-151

NH2 O O NH2 O O
HN HN
R
HO -
Arg-152 NH2 Arg-152 NH2 OH
O
H O H2N
O H2 N
N N
O H H
O H2N O+
Arg-371 O H2N Arg-371

O O O O

Glu-277 Glu-277

Etapa 3 – Formação de ácido siálico


Neuraminidase

Mecanismo enzimático de hidrólise

Asp-151

NH2 O O
HN
-
Arg-152 NH2 OH
HO HO
AcHN AcHN O H2 N
R' O CO2 R' O OH
N
O+ H
OH CO2 O H2N Arg-371
b-anomer a-anomer
O O

Glu-277

Etapa 4- Formação e liberação de ácido siálico


a-Anomero de ácido siálico é liberado
Ocorre equilíbrio para formação do b-anomero mais estável
Desenvolvimento de zanamivir

(estudos de modelagem molecular)


Não seletivo e
Inativo in vivo Baixa disponibilidade
oral

Inalação
Inibidores do estado de transição: 6-carboxamidas
(natureza menos polar que zanamivir)
Bioisóstero metilênico de zanamivir
Oseltamivir - Tamiflu
Desenvolvimento de oseltamivir
(Tamiflu)
Outros antivirais
Agentes antivirais de amplo espectro:
HIV
Ciclo de vida do vírus HIV
O vírus da imunodeficiência humana (HIV), pertencente à
família Retroviridae, gênero Lentivirus, produz a base
patológica da síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS)
que permanece como um problema de saúde mundial de
dimensões sem precedentes. Conhecido há pouco mais de 27
anos, o HIV já causou cerca de 25 milhões de mortes no
mundo. Só no Brasil, desde 1990, o número de óbitos gira em
torno de 11 mil por ano.

Estima-se que cerca de 33,4 milhões de pessoas vivam


atualmente com o Vírus de Imunodeficiência Humana (HIV, do
inglês Human Immunodeficiency Virus). No Brasil, a taxa de
prevalência da infecção por HIV na população de 15 a 49 anos
é de 0,6%, somente em 2006 foram registrados 32.628 novos
casos de AIDS, representando uma taxa de incidência de 19,5
casos a cada 100 mil habitantes
Genoma do HIV-1

• Três genes estruturais gag, env e pol comuns aos


retrovírus;

• Três genes regulatórios tat, rev e nef;

• Três genes acessórios vif, vpr e vpu (no HIV-1) ou vpx (no
HIV-2)
Gp120 é a proteína que interage com o receptor CD4 na
célula a ser infectada. Gp41 é a glicopreoteína de fusão,
exposta após a ligação de Gp120 ao linfócito.
Efurvitida: aprovado pelo FDA em 13 de Março de 2003

Enfuvirtida é um peptídeo sintético, contendo 36 aminoácidos com N-terminal ligado


a grupo acetil e C-terminal carboxamida. É composto por resíduos de L-aminoácidos
naturais :
Enfuvirtida

CH3CO-Tyr-Thr-Ser-Leu-Ile-His-Ser-Leu-Ile-Glu-Glu-Ser-Gln-Asn-Gln-Gln-Glu-Lys-
Asn-Glu-Gln-Glu-Leu-Leu-Glu-Leu-Asp-Lys-Trp-Ala-Ser-Leu-Trp-Asn-Trp-Phe-NH2
Inibidores de fusão do HIV
Bloqueador de receptor
Enfuvirtide: polipeptídeo com36 aa de quimiocina CCR5

Enfuvirtide

Inibidor de Glucosidase

Trecovirsen
Terapia anti-sense – bloqueia produção da proteína Tat
Antagonista de correceptor
de quimiocina CCR5
Maraviroque - Celsentri (Pfizer): aprovado pela FDA em 2007
Inibidor de Integrase: raltegravir –
Isentress (Merck): aprovado pelo FDA em 2007
Fármacos anti-retrovirais

Inibidores da transcriptase reversa e protease

Inibidores deTranscriptase reversa:

Nucleosídeos (NRTIs): zidovudina, didanosina, zalcitabina,


stavudina, lamivudina e abacavir;

Não-nucleosídeos (NNRTIs): nevirapina, delavirdina, efavirenz

Inibidores de Protease (PIs):


Saquinavir, ritonavir, indinavir e nelfinavir
Fármacos anti-retrovirais

Rápido desenvolvimento de resistência

Tratamento com apenas um fármaco tem efeito benéfico apenas inicial

A longo prazo o uso de apenas um fármaco anti-HIV serve


para selecionar vírus mutantes e resistentes ao tratamento

Por estas razões a terapia atual envolve a combinação


de fármacos diferentes que atuam em ambas enzimas:
transcriptase reversa e protease

Diminui a progressão da AIDS Aumenta as taxas de sobrevivência


Inibidores de Transcriptase reversa nucleosídeos (NRTIs):
Agem contra HIV-1 e HIV-2

Também utilizada para


tratamento da hepatite B
Inibidores de Transcriptase reversa nucleosídeos (NRTIs):

Também empregado
no tratamento de
hepatite B crônica,
CMV e herpes

Permanece nas
células infectadas
Pró-fármacos por maior tempo
Inibidores de Transcriptase reversa não-nucleosídeos
(NNRTIs): moléculas hidrofóbicas

Inibidores não-competitivos e reversíveis contra HIV-1


Segunda geração

Menos tóxicos que os correspondentes inibidores nucleosídeos

Desenvolvimento de resistência devido à mutação no sítio alostérico pela


substituição de Lys103 por asparagina (K103N)

Combinação com NRTI


Inibidores de Transcriptase reversa não-nucleosídeos
(NRTIs): terceira geração

Retém atividade
contra vírus mutante
Inibidores de Protease
Não são Pró-fármacos como os inibidores nucleosídeos de transcriptase reversa

Problemas relacionados a estrutura de peptídeos para serem usados


como fármacos:

• Baixa absorção;
• Suscetibilidade metabólica;
• Excreção rápida;
• Acesso limitado ao Sistema Nervoso Central;
• Altamente ligados em proteínas plasmáticas
• Suscetíveis às reações do primeiro passo do metabolismo (Citocromo P450)
• Interação com outros fármacos

Estas são características são devido a: alto peso molecular, baixa solubilidade
em água e suscetibilidade da ligação peptídica.
Protease do vírus HIV: aspartil protease

Estrutura: é um dímero simétrico, cada monômero


contém 99 subunidades de aminoácidos

Inibem HIV-1 e
HIV-2
Mecanismo de hidrólise do substrato (polipeptídeo) natural
pela Protease

Ileu50 Ileu50'
NH2+ NH2+

O
H H

O R1 O
H
N
N N
H H
O R1

O O O O O O O
O
C C C C
Gly27 Asp25 Asp25' Gly27'
Mecanismo de hidrólise do
substrato natural

Planejamento de inibidores do estado de transição


vantagens???
Isósteros do estado de transição
do intermediário tetraédrico

Estereoquímica?

Mimetizam o centro tetraédrico do estado de transição

São estáveis a hidrólise


Análogo pentapeptídico que incorpora o grupo
isóstero do estado de transição: hidroxietilamina

Seqüência da poliproteína pol:


Leu165-Asn-Phe-Pro-Ile169
Análogo pentapeptídico (Roche)

• Liga-se a cinco sub-unidades


do receptor (S3-S2’);
• Inibição relativamente fraca;
• Alto peso molecular;
• Características de peptídeo;
• Baixa biodisponibilidade oral
Desenvolvimento de saquinavir: 1995

Configuração R do grupo
hidroxietilamina
-Problemas com a administração por via oral e resistência

-Desenvolvimento de novos fármacos:

Saquinovir Indinavir
NH2
H

O O OH
H H
N N N OH OH
N
H N NH
N O N
O N
H O
N O
H

Ritonavir
O O
N S
N N N N O
H
O OH N
S
Ritonavir: Abbott
Planejamento de inibidores de protease
simétricos contendo grupo hidroxietilamina:
explorando região do sub-sítio S1

*Baixa atividade
Instável
enzimática
*Inativo in vitro
Inibidores simétricos: Ritonavir
(explorando região do sub-sítio S2)

Atividade in vitro e
Resistente a enzimas
proteolíticas
Grupos NHs ligam-se
a Gly 27 e 27’, mas
muito próximas para Separação dos grupos NHs
permitir ótima interação Por uma ligação adicional
Planejamento de inibidores de protease
simétricos contendo grupo diol

Configuração do grupo diol Pequeno efeito na atividade

Melhor atividade (10x) que o correspondente derivado


Mono-hidroxilado, mas menos solúvel em água
Baixa solubilidade e
Desenvolvimento de biodisponibilidade
oral
Ritonavir e lopinavir
Mais polar,
mas usado por
via intravenosa
Investigações envolvendo
o volume molecular, a Apenas (R)-OH
solubilidade aquosa e o Interage com os
Resíduos de Asp25
número de ligações de
hidrogênio com os sub- Remoção de valina
sítios do receptor E metabolismo

Anel 4-tiazólico como


bioisóstero de piridina
e mudando a posição
de OH
Grupo N-metiluréia:
Adequado para adequada Potente
inibidor
Solubilidade em água e
De CYP3A4
Biodisponibilidade;
enquanto o grupo uretana
Ativo contra
Foi adequado para a meia- vírus
Vida plasmática e potência Resistentes
(Val82)
Desenvolvimento de indinavir: Merck
(estratégia da hibridização)

Baixa
biodisponibilidade e
toxicidade hepática

Indinavir: melhor biodisponibilidade oral e menor taxa de ligação a proteínas


plasmáticas que saquinavir
Desenvolvimento de nelfinavir: Lilly

Redução do peso molecular


e diminuição do caráter de peptídeo

Você também pode gostar