Você está na página 1de 25

Texto de referência: GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Especial. Vol. II. Caps.

17, 18,
19, 20 e 21. Págs. 397-470. 9ª edição, 2012. Editora Impetus.

1) Dos Crimes Contra a Honra

1.1) Introdução

A CR/88, em seu artigo 5º, X, elevou o bem jurídico honra ao status de direito fundamental,
estabelecendo ser o mesmo inviolável.
Sob a perspectiva jurídico-penal, o bem jurídico honra apresenta-se tutelado por meio do
estabelecimento das figuras típicas previstas nos arts. 138, 139 e 140, que consagram,
respectivamente, os crimes de calúnia, difamação e injúria.
A honra é um valor imaterial, insuscetível de apreciação, valoração ou mensuração de qualquer
natureza, inerente à própria dignidade e personalidade humana.
A honra, assim como a agressão a mesma, costuma ser compreendida sob os aspectos objetivo e
subjetivo.
A honra objetiva se trata do conceito que o indivíduo acredita que goza em seu meio social.
É a reputação e a boa fama de que se goza em sociedade.
É o juízo que os demais membros da comunidade formam a respeito da personalidade de um
indivíduo e através do qual a valoram.
A honra subjetiva se cuida do conceito que a pessoa tem de si mesma e dos valores que a mesma
se atribui, os quais são ofendidos pela conduta praticada pelo agente.
A distinção entre honra objetiva e honra subjetiva apresenta repercussão prática, permitindo a
melhor compreensão do momento consumativo de cada um dos referidos crimes.
Apesar desta distinção de natureza prática, honra objetiva e honra subjetiva acabam se interligando,
gerando, em verdade, um conceito único.
Vale ressaltar que os crimes contra a honra podem ser praticados mediante a linguagem falada
(emitida diretamente ou reproduzida por meio eletrônico), a linguagem escrita (manuscrito,
datilografado ou impresso), por mímica (gestos), ou por meio simbólico ou figurativo.
Importante registrar que os senadores, os deputados e os vereadores, por força do disposto no art.
53 e no art. 29, VIII, da CR/88, são invioláveis penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras
e votos, gozando da denominada imunidade material.
Para que se caracterize a imunidade material é necessário que a ofensa seja cometida no exercício
do mandato e que haja um nexo de necessidade entre o exercício do mandato e o fato cometido.

1.2) Calúnia

1.2.1) Considerações iniciais


O crime de calúnia encontra-se previsto no art. 138, do CP, sendo sancionado com a pena de
detenção de 6 meses a 2 anos e multa.
Pune-se a conduta daquele caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime.

1.2.2) Objetividade jurídica e objeto material

O bem jurídico tutelado por meio da tipificação do crime de calúnia consiste na denominada honra
objetiva.
Não se distingue, no que tange à proteção, entre a denominada honra comum (que se refere ao ser
humano como ser social) e a honra profissional (que se refere à atividade exercida pelo indivíduo,
seus princípios ético-profissionais, a representatividade e o respeito que a sociedade lhe reconhece).
O objeto material consiste na pessoa contra a qual são dirigidas as imputações ofensivas a sua
honra subjetiva.

1.2.3) Sujeito ativo

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, desde que imputável. Trata-se de crime comum.
A pessoa jurídica não pode ser sujeito ativo de crime contra a honra.

1.2.4) Sujeito passivo

O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, não se exigindo qualquer característica especial.
Os inimputáveis podem ser sujeitos passivos do crime de calúnia, desde que tenham capacidade de
entender o sentido ultrajante da imputação.
Os mortos, conforme o § 2º do art. 138, podem ser caluniados, sendo, porém, os seus parentes os
sujeitos passivos.
A honra é atributo dos vivos.
A ofensa não atinge a “pessoa” do morto, mas sua memória.
O fundamento da incriminação é o interesse dos parentes (sujeitos passivos) em preservar o bom
nome do morto.
Os desonrados, os infames e os depravados também podem ser sujeitos passivos, pois, apesar da
honra pode ser diminuída, a mesma não pode ser totalmente suprimida.
Existe divergência doutrinária quanto à possibilidade de a pessoa jurídica ser sujeito passivo do
crime de calúnia.
Luiz Régis Prado entende que somente a pessoa física é sujeito passivo, visto que a ofensa irrogada
à pessoa jurídica reputa-se feita a seus representantes e dirigentes.
Rogério Greco afirma que a pessoa jurídica pode ser sujeito passivo do delito de injúria, desde que
lhe seja imputada falsamente a prática de crime previsto na Lei n.º 9.605/98.

1.2.5) Tipo objetivo


1.2.5.1) Figura do caput

A conduta típica prevista no caput art. 138 consiste na imputação falsa a alguém de fato definido
como crime.
Reprime-se a conduta daquele caluniar alguém, atribuindo-lhe fato falso, que se apresente tipificado
como crime.
São três aspectos que caracterizam a calúnia: a) a imputação de um fato determinado; b) a falsidade
do fato imputado à vítima; e c) a definição do fato falso como um crime, não bastando que seja
simples contravenção penal.
A imputação deve referir-se a fato determinado, sendo insuficiente, p. e., afirmar que a vítima furtou.
É necessário que haja a individualização das circunstâncias que identificam o fato, embora não se
exijam detalhes minuciosos.
É possível que o crime se configure por meio da denominada calúnia equívoca ou implícita, pois se
pode caluniar alguém colocando-se em dúvida a autoria do fato, questionando-se sua existência,
supondo-o duvidoso ou até mesmo negando-lhe sua existência.
Ocorre a denominada calúnia reflexa quando, p. e., imputa-se falsamente a aceitação de suborno
por parte de uma autoridade (corrupção passiva), atingindo-se, reflexivamente, o terceiro que teria
oferecido a propina (corrupção ativa).
A imputação de fato definido como contravenção penal não configura o crime de calúnia, podendo
aquela constituir difamação (art. 139), desde que seja desonrosa.
É, também, indispensável para que se tipifique a calúnia que a imputação seja falsa, ou seja, que
não corresponda à verdade.
A falsidade pode recair sobre o fato ou sobre a autoria.
No primeiro caso, o fato é inexistente; no segundo, a ocorrência ou existência do fato verdadeira,
sendo falsa a imputação da autoria.
A imputação de fato verdadeiro, ainda que não se admita a exceção da verdade (p. e., a imputação
de crime ao Presidente da República), não configura o crime de calúnia.
Se o sujeito ativo, com sua ação, der causa à investigação policial ou a processo judicial, responderá
pelo crime previsto no artigo 339, do CP (denunciação caluniosa)

1.2.5.2) Figura do § 1º

Conforme o § 1 º do art. 138, incorre na mesma pena aquele que, sabendo falsa a imputação, a
propala ou divulga.
Nesta forma de calúnia, os verbos típicos são propalar e divulgar, que têm o sentido de levar ao
conhecimento de outrem, por qualquer meio, a calúnia de que, de algum modo, se tomou
conhecimento.
O verbo propalar limita-se ao relato verbal, à comunicação oral, circunscrevendo-se em uma esfera
menor.
Já o verbo divulgar tem uma concepção mais ampla, que seria tornar púbica a calúnia por qualquer
meio, inclusive o através da fala.
Não há necessidade, para a caracterização da figura, que um número indeterminado de pessoas
tome conhecimento da imputação, bastando que se comunique a outrem, ainda que de modo
confidencial.
Nesta modalidade, aquele que propala ou divulga não cria a imputação falsa, que foi obra de
terceiro.
A conduta reprimida é a daquele que ouve a calúnia e a leva adiante, sabendo ser falsa a imputação,
ampliando sua potencialidade lesiva.
A estratégia de afirmar que não acredita na veracidade do fato que está divulgando ou propalando
não afasta a tipicidade.
Também não afastam o crime os expedientes de indicar a fonte da calúnia, pedir segredo ou referir-
se a indeterminações, como, p. e., “dizem por aí”, “comentam”, “ouvi dizer”.

1.2.6) Tipo subjetivo

O elemento subjetivo do crime de calúnia é o dolo de dano, consistente na consciência e vontade de


caluniar a vítima, imputando-lhe a prática de fato falso definido como crime.
É indispensável que tanto o caluniador, quanto o propalador tenham consciência da falsidade da
imputação, ou seja, de que o fato ou a autoria não sejam verdadeiros.
Na figura do caput do art. 138, admite-se o dolo direto ou o dolo eventual.
No figura do § 1º, somente se verifica o dolo direto.
Cezar Roberto Bitencourt entende que, além do dolo (elemento subjetivo geral), exige-se, também, o
elemento subjetivo especial ou o especial fim de agir, isto é, o denominado animus caluniandi, o qual
consiste no propósito de caluniar, na intenção de ofender, no desejo de denegrir.
O denominado animus defendendi (intenção de defender), em que a conduta se limita, de forma
impessoal, a analisar e argumentar dados, fatos, elementos e circunstâncias, não configura o crime,
pois não há a intenção de ofender.
Também o animus narrandi (intenção de expor o fato), o animus jocandi (intenção de caçoar), o
animus consulendi (intenção de aconselhar), e o animus corrigendi (intenção de corrigir) não
tipificam o crime, em virtude da ausência da intenção de ofender.
Nesta linha, os simples erros técnicos-jurídicos, como empregar roubo, no lugar de furto, por si só,
não configuram a calúnia.
Não há calúnia, ainda, se o fato é fruto de uma incontinência verbal, decorrente de acirrada
discussão, em que impropérios são proferidos sem reflexão e sem avaliação de seu conteúdo.

1.2.7) Consumação e tentativa

Consuma-se o crime de calúnia quando o conhecimento da imputação falsa chega a uma terceira
pessoa, isto é, quando se cria a condição para lesar a reputação da vítima.
Ao contrário da injúria, na calúnia, não se consuma o crime quando somente o ofendido toma
conhecimento da imputação falsa, pois não é o aspecto subjetivo da honra da honra que é lesado
pelo crime.
Deve haver publicidade, isto é terceiros devem tomar conhecimento da imputação falsa, pois do
contrário não haverá ofensa à honra objetiva.
Em regra, o crime de calúnia não admite tentativa, embora a mesma seja possível a depender do
meio utilizado. O emprego de escrito, por exemplo, pode permitir a configuração da tentativa, pois
não haverá mais um crime unissubsistente, havendo um iter criminis que pode ser fracionado.
Por meio do emprego de telegrama e fonograma, apesar de serem escritos, a tentativa do crime de
calúnia será impossível, uma vez que aqueles que trabalham em tais serviços tomarão
conhecimento da imputação, não obstante a necessidade de manutenção de sigilo.
Se o meio utilizado for a fala, entre a emissão da voz e a percepção pelo interlocutor não há espaço
para fracionamento, ou seja, para a possível interrupção do inter criminis.
Uma vez proferida a ofensa, sendo esta ouvida por terceiro, consuma-se a calúnia.
Se a ofensa não é ouvida por terceiro, não há crime.

1.2.8) Classificação doutrinária

O crime de calúnia é formal (embora o tipo descreva a conduta e o resultado, não se exige a
ocorrência deste, ou seja, consuma-se independentemente do alcance do resultado, que é o dano à
honra objetiva do ofendido); comum; instantâneo (consuma-se no momento em que a ofensa é
proferida ou divulgada); de ação múltipla ou de conteúdo variado (ainda que o agente impute o fato
falso e depois o divulgue, responde por um único crime); comissivo (não pode ser praticado por meio
de conduta omissiva – imputar e propalar são os verbos, que exigem ação); doloso (não há previsão
de figura culposa); unissubsistente (praticado pela linguagem falada) e plurissubsistente (praticado
pela linguagem escrita); monosubjetivo; transeunte (exceto se praticado por meio de linguagem
escrita; e de forma livre.

1.2.9) Exceção da verdade


Exceção da verdade significa a possibilidade de o sujeito ativo provar a veracidade do fato imputado
(art. 138, § 3º, CP), por meio de um procedimento especial (art. 523, CPP).
É da essência do crime de calúnia que a imputação seja falsa, que ocorra a falsidade da atribuição
da prática de um fato definido como crime.
A falsidade da imputação é elementar do crime de calúnia.
A imputação verdadeira de um fato definido como crime constitui conduta atípica e ninguém pode
responder por um delito se o comportamento praticado não se adequar a uma descrição típica.
Assim, se o agente conseguir provar que a imputação que fez é verdadeira, não haverá o crime de
calúnia, pois sua conduta será atípica.
A exceção da verdade não exclui nem a tipicidade, nem a ilicitude, pois não se pode excluir algo que
jamais existiu.
Em regra, não se admite a exceção da verdade no crime de difamação.
A exceção da verdade somente será admitida se a difamação (imputação de fato ofensivo à
reputação de alguém) for praticada contra funcionário público e relacionar-se ao exercício de suas
funções.
Também não se admite a exceção da verdade no crime de injúria.
A exceção da verdade tem a natureza jurídica de uma demanda judicial, a qual é proposta contra o
excepto (aquele que sofreu a imputação do fato), o qual ocupará o pólo passivo (será réu) deste
procedimento.

1.2.10) Vedação ao emprego da exceção da verdade

Há três hipóteses em que não se admite a exceção da verdade, isto é: a) nos crimes de ação
privada, quando o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível (art. 138, § 3º, I); b) nos
fatos imputados contra o Presidente da República ou contra chefe de governo estrangeiro (art. 138,
§ 3º, II); e c) se o ofendido foi absolvido do crime imputado por sentença irrecorrível (art. 138, § 3º,
III).

A) Art. 138, § 3º, I

Na hipótese de crimes de ação privada, quando o ofendido não foi condenado por sentença
irrecorrível (art. 138, § 3º, I), o fundamento da vedação à exceção da verdade reside no paradoxo
que se formaria se fosse permitido ao terceiro – de modo alheio à vontade do ofendido, que tem o
exclusivo arbítrio de se submeter ao estrépito do processo – ingressar em juízo para proclamar a
existência do fato e ainda autorizá-lo a provar judicialmente.
Exemplo: João, atual namorado de Maria, atribui a José (ex-namorado da moça), na presença de
várias pessoas, a prática de crime de dano (ação penal privada), dizendo que José foi o responsável
por arranhões que apareceram na lataria do carro de Maria.
Imagine que a conduta de João tenha chegado ao conhecimento de Maria.
Somente Maria tem legitimidade para ingressar com ação contra o autor do crime de dano, a fim de
apurar se foi realmente José quem praticou o crime.
Imagine que Maria tenha resolvido não propor a ação penal privada, a fim de não se indispor com
José (o ex-namorado).
Imagine que José, sentindo-se ofendido por João (atual namorado de Maria), tenha oferecido queixa
contra o mesmo, acusando-o de calúnia, visto que João tinha afirmado que José era responsável
pelos arranhões no carro.
Nesse caso, João não poderá se valer da exceção da verdade.
Conforme o art. 138, § 3º, I, João somente poderia utilizar-se da exceção da verdade se José já
tivesse sido condenado por crime de dano.

B) Art. 138, § 3º, II

Na hipótese de fatos imputados contra o Presidente da República ou contra chefe de governo


estrangeiro (art. 138, §3º, II), o fundamento da vedação à exceção da verdade reside na
circunstância de que a imputação de fato criminoso, mesmo verdadeiro, vilipendiaria a autoridade
que desempenha tais cargos, exporia ao ridículo o Presidente da República ou o chefe de governo
estrangeiro, além de leva-los a um vexame incompatível com a grandeza dos cargos.
Na hipótese do art. 138, § 3º, II, segundo a maioria da doutrina, não sendo admitida a exceção da
verdade, verifica-se a presunção da falsidade da imputação.
Assim, conforme a maioria da doutrina, ainda que a imputação contra o Presidente da República ou
chefe de governo estrangeiro seja verdadeira, haverá a configuração do crime de calúnia.
Tal postura, de acordo com Bitencourt, ignora que o Direito Penal da culpabilidade é incompatível
com presunções irracionais e injustas, que apenas procuram encobrir hipóteses de responsabilidade
penal objetiva.
Para Bitencourt este posicionamento da maioria da doutrina fere o princípio da razoabilidade e o
princípio da reserva legal, criando uma figura esdrúxula de “calúnia de fato verdadeiro”.
Vale ressaltar que, nesta hipótese, apenas o recurso a este procedimento especial está vedado,
sendo possível que o sujeito ativo demonstre, no curso da ação penal, ou seja, no processo de
conhecimento, que a imputação contra o Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro é
verdadeira.
Assim, o sujeito ativo, durante a instrução processual, tem o direito de comprovar que a sua conduta,
no sentido de imputar ao Presidente da República ou a chefe de governo estrangeiro a autoria de
um fato definido como crime, é atípica, por restar ausente uma elementar do crime de calúnia, qual
seja, a falsidade de imputação.
Se a calúnia praticada contra o Presidente da República apresentar motivação política haverá a
configuração do crime previsto no art. 2º, I, c/c art. 26, da Lei n.º 7.170/83 (crime contra a Segurança
Nacional), e não do delito insculpido no art. 138.

C) Art. 138, § 3º, III


Na hipótese em que o ofendido foi absolvido do crime imputado por sentença irrecorrível (art. 138, §
3º, III), o fundamento da vedação à exceção da verdade reside no fato de que a sentença penal
absolutório transitada em julgado em nenhum caso pode ser revista.
Este caráter político-jurídico absoluto, que impede a revisão da sentença penal absolutória, não
pode admitir que qualquer do povo ou qualquer autoridade pública ou privada possa fazer prova
contra a coisa julgada.
Nesta hipótese é irrelevante que se trate de crime de ação penal pública ou privado.

1.2.11) Exceção de notoriedade

A exceção de notoriedade (art. 523, CPP) tem por finalidade demonstrar que, para o agente, o fato
que atribuía à vítima era verdadeiro, segundo foi induzido a crer.
Visa demonstrar que apenas mencionou aspectos que já eram de domínio público.
Afasta-se, com o acolhimento da exceção da notoriedade, a tipicidade da conduta e, por
consequência o crime, em virtude do erro de tipo.
Aplica-se a exceção de notoriedade à calúnia, não se admitindo em relação à difamação.

1.2.12) Crime de calúnia e exercício da advocacia

Faz parte da atividade profissional do advogado, integrando o exercício do direito de defesa,


argumentar, negar e apresentar fatos e provas, restando ausente, em seu comportamento, o animus
caluniandi, uma vez que o seu objetivo é defender os direitos de seu cliente e não imputar fato falso
definido como crime.
Assim, no exercício regular da advocacia, possíveis excessos de linguagem que cometa o
advogado, no calor do debate, não configura o crime de calúnia.
A jurisprudência, porém, tem admitido a instauração de processos criminais por crime de calúnia
contra advogado quando os excessos de linguagem se dirigem a membros do Ministério Público ou
do próprio Judiciário.

1.2.13) Retratação

Nos termos do art. 143, a calúnia admite a retratação, desde que esta ocorra antes de proferida a
sentença.
Retratação é o ato de desdizer-se, de retirar o que foi dito.
Não se confunde com a negação do fato, pois a retratação pressupõe o reconhecimento de uma
afirmação confessadamente errada.
A retratação é causa extintiva da punibilidade (art. 107, VI), de caráter pessoal, que apresenta
apenas efeitos penais, não impedindo a propositura de ação de reparação de danos.
Somente calúnia e difamação admitem a retratação, não sendo esta possível na injúria.

1.2.14) Natureza da ação penal

Em regra, a ação penal, nos termos do art. 145, é de exclusiva iniciativa privada.
Conforme o parágrafo único do art. 145, a ação será pública condicionada quando a calúnia for: a)
praticada contra o Presidente da República ou contra chefe de governo estrangeiro (requisição do
Ministro da Justiça); e b) contra funcionário público, em razão de suas funções (representação do
ofendido).

1.2.15) Figuras majoradas

Não há previsão de formas qualificadas para o crime de calúnia, mas de figuras majoradas.
As majorantes são causas especiais de aumento de pena.
Segundo o art. 141, incisos I a IV, do CP, a pena cominada para o crime de calúnia será elevada em
1/3 se o fato for praticado:
a) contra o Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro;
b) contra funcionário público, em razão de suas funções;
c) na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite sua divulgação; e
d) contra pessoa maior de 60 anos, ou portadora de deficiência.
Nos termos do parágrafo único do art. 141, a pena será aplicada em dobro se a calúnia foi praticada
mediante paga ou promessa de recompensa.

1.3) Difamação

1.3.1) Considerações iniciais

O crime de difamação encontra-se previsto no art. 139, sendo sancionado com a pena de detenção
de 3 meses a 1 ano e multa.
Pune-se a conduta daquele difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação.

1.3.2) Objetividade jurídica e objeto material


O bem jurídico tutelado por meio da tipificação do crime de difamação consiste na denominada
honra objetiva.
O objeto material consiste na pessoa contra a qual é dirigida a imputação ofensiva à reputação.

1.3.3) Sujeito ativo


O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, desde que imputável.
Trata-se de crime comum.
A pessoa jurídica não pode ser sujeito ativo.

1.3.4) Sujeito passivo

O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, não se exigindo qualquer característica especial.
Os inimputáveis podem ser sujeitos passivos do crime de difamação, desde que tenham capacidade
de entender que estão sendo ofendidos em sua honra.
Os desonrados, os infames e os depravados também podem ser sujeitos passivos, pois uma nova
ofensa pode piorar sua reputação.
Não se pune a difamação contra os mortos, pois não há previsão legal neste sentido.
Há divergência doutrinária quanto à possibilidade de a pessoa jurídica ser sujeito passivo do crime
de difamação.
Damásio e Bitencourt aditem que as pessoas jurídicas sejam sujeitos passivos do crime de
difamação, visto que as mesmas apresentam reputação e nome a zelar, que podem ser afetados
com a atribuição de fatos desonrosos.
Hungria e Noronha recusam a possibilidade de as pessoas jurídicas se apresentarem como sujeitos
passivos, sob o argumento de que a difamação está inserida no Título dos “Crimes Contra a
Pessoa”, que só podem ter como vítimas as pessoas naturais.

1.3.5) Tipo objetivo

A conduta típica prevista no art. 139 consiste em difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua
reputação.
Difamar significa fazer criar má fama em relação a alguém, desacreditar publicamente alguém.
Imputar significa atribuir algo a alguém, acusar alguém de algo.
Reputação é a estima moral, intelectual ou profissional de que alguém goza no meio em que vive.
A difamação consiste em atribuir fato ofensivo à reputação do imputado, devendo este fato ser um
acontecimento concreto.
Tal fato não se confunde com conceito ou opinião, por mais gravosos ou aviltantes que possam ser.
Na difamação, o fato, ao contrário da calúnia, não precisa ser nem falso, nem definido como crime.
Porém, o fato necessita ser determinado, ou seja, exige-se que haja a individualização das
circunstâncias que identificam o fato.
Esta determinação deve ser objetiva, pois a imputação vaga, imprecisa ou indefinida não caracteriza
a difamação, podendo configurar injúria.
Assim, a difamação exige a imputação de fato determinado, individualizado, identificado, e não de
defeitos ou qualidades negativas.
A imputação, ainda que verdadeira, de fato ofensivo à reputação configura o crime de difamação.
Não haverá o crime, porém, se a imputação de fato verdadeiro ofensivo à reputação disser respeito
à funcionário público, em razão de suas funções.
Não há crime, pois o Estado, em virtude de questões políticas, tem o interesse de apurar a
autenticidade da imputação, que, embora não caracterize crime, pode constituir infração
administrativa.
É indispensável, para que ocorra o crime de difamação, que a imputação chegue ao conhecimento
de terceiro, ou seja, de outra pessoa que não seja o ofendido.
Isto porque é a reputação que o imputado goza na comunidade (honra objetiva) que deve ser lesada
e esta lesão somente existirá se alguém tomar conhecimento da imputação desonrosa.
Não há necessidade de que chegue ao conhecimento de um número indeterminado de pessoas.
Embora o tipo do art. 139 não descreva os verbos “propalar” e “divulgar”, aquele que propala ou
divulga fato desonroso imputado à alguém o difama, caracterizando-se o crime.
Neste caso não há nem analogia, nem ofensa ao princípio da reserva legal.

1.3.6) Tipo subjetivo

O elemento subjetivo do crime de difamação é o dolo de dano, consistente na consciência e vontade


de difamar a vítima, imputando-lhe a prática de fato desonroso.
É irrelevante tratar-se de fato falso ou verdadeiro, sendo também indiferente que o sujeito ativo
tenha conhecimento desta circunstância.
O dolo pode ser direto ou eventual.
Além do dolo (elemento subjetivo geral), exige-se, também, o elemento subjetivo especial ou o
especial fim de agir, isto é, o denominado animus diffamandi, o qual consiste na intenção de ofender,
no desejo de denegrir, na vontade de atingir a honra da vítima.
A ausência deste impede a configuração do crime.
O denominado animus defendendi (intenção de defender), em que a conduta se limita, de forma
impessoal, a analisar e argumentar dados, fatos, elementos e circunstâncias, não configura o crime
de difamação, pois não há a intenção de ofender.
Tal é reconhecido pelo art. 142, I, CP e pelo art. 7º, § 2º, Lei n.º 8.906/94 – Estatuto da OAB, que se
referem à difamação e à injúria.
Também o animus narrandi (intenção de expor o fato), o animus jocandi (intenção de caçoar), o
animus consulendi (intenção de aconselhar), e o animus corrigendi (intenção de corrigir) não
tipificam o crime, em virtude da ausência da intenção de ofender.
Não há previsão de figura culposa.

1.3.7) Consumação e tentativa


Consuma-se o crime de difamação quando o conhecimento da imputação desonrosa chega a uma
terceira pessoa, isto é, quando se cria a condição para lesar a reputação da vítima.
A difamação não se consuma quando somente o ofendido toma conhecimento da imputação
desonrosa, pois não é o aspecto subjetivo da honra que é lesado pelo crime.
Deve haver publicidade, isto é terceiros devem tomar conhecimento da imputação falsa, pois do
contrário não haverá ofensa à honra objetiva.
Em regra, o crime de difamação não admite tentativa, embora a mesma seja possível a depender do
meio utilizado. O emprego de escrito, por exemplo, pode permitir a configuração da tentativa, pois
não haverá mais um crime unissubsistente, existindo um iter criminis que pode ser fracionado.
Se o meio utilizado for a fala, entre a emissão da voz e a percepção pelo interlocutor não há espaço
para fracionamento, ou seja, para a possível interrupção do inter criminis.
Assim, a difamação verbal não admite tentativa.
Uma vez proferida a ofensa, sendo esta ouvida por terceiro, consuma-se a difamação.
Se a ofensa não é ouvida por terceiro, não há crime.

1.3.8) Classificação doutrinária

O crime de difamação é formal; comum; instantâneo; comissivo; doloso; unissubsistente (praticado


pela linguagem falada) e plurissubsistente (praticado pela linguagem escrita); monosubjetivo;
transeunte (exceto se praticado por meio de linguagem escrita); e de forma livre.

1.3.9) Exceção da verdade

Em regra, o crime de difamação não admite a exceção da verdade, visto que a veracidade da
imputação desonrosa não afasta a tipicidade.
O agente não tem o direito de demonstrar que o fato ofensivo à reputação é verdadeiro, pois o
Estado não confere a ninguém a prerrogativa de colocar-se como censor da honra alheia.
A difamação somente permite o emprego da exceção da verdade quando o fato ofensivo é imputado
a funcionário público e relacionar-se ao exercício de suas funções.
Neste caso, o Estado tem o interesse de apurar se os seus funcionários exercem suas funções com
dignidade e decoro.
Se a imputação disser respeito à vida privada do funcionário público, não se admitirá, porém, a
exceção da verdade.

1.3.10) Exceção de notoriedade

Não sendo admitida a exceção da verdade para a difamação, entende-se que também está afastada
a exceção de notoriedade.
Não se admite a exceção de notoriedade para o crime de difamação, visto que é irrelevante a
falsidade ou veracidade do fato difamatório e não ninguém tem o direito de vilipendiar outrem.

1.3.11) Retratação

Nos termos do art. 143, a difamação admite a retratação, desde que esta ocorra antes de proferida a
sentença.
A retratação é causa extintiva da punibilidade (art. 107, VI), de caráter pessoal, que apresenta
apenas efeitos penais, não impedindo a propositura de ação de reparação de danos.

1.3.12) Natureza da ação penal

Em regra, a ação penal, nos termos do art. 145, é de exclusiva iniciativa privada.
Conforme o parágrafo único do art. 145, a ação será pública condicionada quando a calúnia for: a)
praticada contra o Presidente da República ou contra chefe de governo estrangeiro (requisição do
Ministro da Justiça); e b) contra funcionário público, em razão de suas funções (representação do
ofendido).

1.3.13) Figuras majoradas

Não há previsão de formas qualificadas para o crime de difamação, mas de figuras majoradas.
As majorantes são causas especiais de aumento de pena.
Segundo o art. 141, incisos I a IV, do CP, a pena cominada para o crime de difamação será elevada
em 1/3 se o fato for praticado:
a) contra o Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro;
b) contra funcionário público, em razão de suas funções;
c) na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite sua divulgação; e
d) contra pessoa maior de 60 anos, ou portadora de deficiência.
Nos termos do parágrafo único do art. 141, a pena será aplicada em dobro se a difamação foi
praticada mediante paga ou promessa de recompensa.
1.13.14) Causas especiais de exclusão do crime

Nos termos do art. 142, não constituem difamação punível:


a) a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou procurador, que se trata da
denominada imunidade judiciária (inciso I);
b) a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a
intenção de difamar (inciso II); e
c) o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste
no cumprimento de dever do ofício (inciso III).
Verifica-se divergência doutrinária quanto à natureza jurídica destas excludentes especiais, havendo
a formação de três correntes:
1ª) são causas de exclusão da pena, subsistindo, portanto, a estrutura criminosa da conduta;
2ª) são causas de exclusão da ilicitude, quando subsistiria a tipicidade do fato, sendo,
excepcionalmente, afastada somente a contrariedade ao direito, em virtude destas circunstâncias
que legitimariam a ação; e
3ª) são causas de exclusão da tipicidade, em razão da ausência do animus diffamandi, que não
ignora, porém, a possibilidade de exclusão da ilicitude do fato.
Percebe-se que a 2ª e a 3ª corrente acabam por se confundir e se complementar.
Neste sentido, para Bitencourt, as circunstâncias previstas no art. 142 são causas de exclusão do
crime (e não da pena), pois ou afastam a tipicidade, em razão da falta do animus ofendendis ou
rechaçam a ilicitude, em virtude da excepcional autorização da prática de uma conduta típica para
preservar interesse social relevante.
Vale ressaltar que o inciso I do art. 142 foi parcialmente derrogado, pois em relação ao procurador,
isto é, ao advogado a matéria passou a ser tratada pelo art. 7º, § 2º, da Lei n.º 8.906/94.
Tais causas especiais de exclusão do crime não incidem sobre à calúnia, referindo-se apenas à
difamação e à injúria.
Saliente-se, ainda, que, nos casos de ofensa irrogada em juízo e de conceito desfavorável emitido
por funcionário público, responderá pelo crime de difamação, nos termos do parágrafo único do art.
142, aquele que der publicidade ao fato.

1.4) Injúria

1.4.1) Considerações iniciais

O crime de injúria se apresenta tipificado sob três modalidades:


a) a injúria simples, prevista no caput do art. 140;
b) a injúria real, prevista no § 2º do art. 140, que se cuida de uma figura qualificada; e
c) a injúria preconceituosa, prevista no § 3º do art. 140, tratando-se também de uma figura
qualificada.
A injúria simples é sancionada com a pena de detenção de 1 a 6 meses, ou multa.
A injúria real, com a pena de detenção de 3 meses a 1 ano e multa, além da pena correspondente à
violência.
E a injúria preconceituosa, com a pena de reclusão de 1 a 3 anos e multa.
Na injúria simples, pune-se a conduta daquele que injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o
decoro.
Na injúria real, pune-se a conduta daquele que injuriar alguém, mediante violência ou vias de fato,
que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes.
E na injúria preconceituosa, pune-se a conduta daquele injuriar alguém, utilizando-se de elementos
referentes à raça, cor, etnia, religião, origem ou condição de pessoa idosa ou portadora de
deficiência.

1.4.2) Objetividade jurídica e objeto material

O bem jurídico tutelado por meio da tipificação do crime de injúria consiste na denominada honra
subjetiva, ou seja, a pretensão de respeito à dignidade da pessoa humana, representada pelo
sentimento ou concepção que cada um tem a respeito de seus atributos físicos, morais ou
intelectuais.
O tipo penal já limita os aspectos da honra que podem ser ofendidos, isto é, a dignidade (brio) e o
decoro (decência, respeito de si mesmo e dos outros).
Na injúria real, além da honra subjetiva, protege-se, também, a incolumidade física do sujeito
passivo
O objeto material consiste na pessoa que tem a sua dignidade ou decoro ofendidos.

1.4.3) Sujeito ativo

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, desde que imputável. Trata-se de crime comum, pois não
se exige característica especial qualquer.
A pessoa jurídica não pode ser sujeito ativo.

1.4.4) Sujeito passivo

O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, desde que determinada, não se exigindo qualquer
característica especial.
Os inimputáveis podem ser sujeitos passivos do crime de injúria, desde que tenham capacidade de
entender que estão sendo ofendidos em sua dignidade ou decoro.
Os desonrados, os infames e os depravados também podem ser sujeitos passivos, pois estes têm
honra subjetiva.
Os mortos não podem ser injuriados, pois não há previsão legal neste sentido e os mesmos não
possuem honra subjetiva.
Em relação às pessoas jurídicas, prevalece o entendimento de que estas, por não apresentarem
honra subjetiva, não podem ser sujeitos passivos do crime de injúria.
Os dirigentes e representantes das pessoas jurídicas é que podem ter a honra lesada, passando à
condição de vítimas do crime de injúria.
1.4.5) Tipo objetivo

A conduta típica prevista no art. 140 consiste em injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o
decoro.
A injúria, que expressa a opinião do sujeito ativo, traduz sempre desprezo e menoscabo pelo
injuriado.
A injúria consiste numa manifestação de desrespeito suficientemente idônea para ofender a honra
da vítima em seu aspecto subjetivo.
Injuriar significa insultar, desonrar, ou seja, ofender a dignidade ou o decoro de alguém.
Dignidade é o sentimento da própria honorabilidade ou valor social, que pode ser lesada com
expressões como: “bicha”, “ladrão”, “maconheiro”, “corno”, etc.
Decoro é o sentimento, a consciência da própria respeitabilidade pessoal; é a decência e
respeitabilidade que a pessoa merece, a qual é ferida quando, por exemplo, se chama alguém de
“anta”, “imbecil”, “idiota”, “ignorante”, etc.
Dignidade e decoro abrangem os atributos morais, físicos e intelectuais.
Na injúria, ao contrário da calúnia e da difamação, não há imputação de fatos, mas a emissão de
conceitos negativos sobre a vítima, que atingem a honra subjetiva.
A injúria não pode ser confundida com as simples grosseria e incivilidade, que revelam apenas falta
de educação.
A injúria apresenta as seguintes espécies:
a) imediata – quando proferida pelo próprio agente;
b) mediata – quando o agente se utiliza de outro meio para executá-la, tal como uma criança ou
papagaio, etc;
c) direta – quando se refere ao próprio ofendido;
d) indireta ou reflexa – quando, ofendendo alguém, atinge-se também terceiro;
e) explícita – quando é induvidosa;
f) equívoca – quando se reveste de incertezas e vacilações.
A injúria simples (caput, do art. 140) pode ser praticada por qualquer forma, por qualquer meio
idôneo para manifestar o pensamento, ou seja, por gestos, palavras, símbolos, figuras, atitudes, etc.
A injúria real (§ 2º do art. 140) somente pode ser praticada por meio do emprego de violência ou vias
de fato, que apresentem caráter aviltante.
A injúria preconceituosa (art. 3º do art. 140) somente pode ser praticada por meio da utilização de
elementos.
Esclarece Magalhães Noronha que a injúria pode também ser praticada por meio da omissão.
Exemplo: quando uma pessoa chega a uma casa, em que várias outras estão reunidas, e
cumprimenta-as, recusando, porém, a mão a uma que lhe estende a destra.
A imputação de fatos vagos, imprecisos, genéricos, difusos, e de difícil identificação, que não
configuram calúnia e difamação, podem caracterizar injúria.
Exemplo: dizer que alguém não costuma firmar seus compromissos; que é pouco afeito ao trabalho.
Para se configurar a injúria é indispensável que a ofensa seja feita a pessoa determinada, embora
não seja necessária sua identificação nominal.
Quando a ofensa é dirigida à coletividade de razoável extensão, entende-se que esta se equipara à
pessoa determinada.
Exemplo: proferir injúria contra “os comunistas”, “os católicos”, etc.
Por fim, é preciso que a injúria chegue ao conhecimento do ofendido ou de qualquer pessoa, pois a
ofensa que não chega ao conhecimento de ninguém não existe juridicamente.

1.4.6) Tipo subjetivo

O elemento subjetivo do crime de injúria é o dolo de dano, consistente na consciência e vontade de


injuriar a vítima, atribuindo-lhe um juízo depreciativo.
A consciência tem de ser atual, ou seja, deve existir no momento da própria ação, pois, do contrário,
não se poderá falar em dolo.
Além do dolo (elemento subjetivo geral), exige-se, também, o elemento subjetivo especial ou o
especial fim de agir, isto é, o denominado animus injuriandi vel diffamandi, o qual consiste na
intenção de injuriar, de denegrir, de macular, de atingir a honra da vítima.
A simples referência à adjetivos depreciativos ou a utilização de palavras que encerram conceitos
negativos, por si só, não caracterizam a injúria.
A ausência do animus injuriandi vel diffamandi impede a configuração do crime.
Desta forma, o animus defendendi (intenção de defender), o animus narrandi (intenção de expor o
fato), o animus jocandi (intenção de caçoar), o animus consulendi (intenção de aconselhar), e o
animus corrigendi (intenção de corrigir) não tipificam o crime, em virtude da ausência da intenção de
injuriar.
Em acalorada discussão, quando as ofensas decorrem de incontinência verbal, não há o crime de
injúria, pois ausente está o elemento subjetivo especial.
Não há previsão de figura culposa.
1.4.7) Consumação e tentativa

Consuma-se o crime de injúria quando a ofensa irrogada chega ao conhecimento do ofendido.


Na injúria, ao contrário da calúnia e da difamação, não se exige, para a consumação, que alguém
além da vítima tome conhecimento da ofensa, pois não é a honra objetiva que é lesada, mas a
subjetiva.
É irrelevante que a injúria seja proferida pessoal e diretamente à vítima.
A injúria pode chegar ao conhecimento da vítima por meio de terceira pessoa ou por qualquer forma
de correspondência, inclusive eletrônica.
Se o ofendido for funcionário público, tendo sido o fato praticado na sua presença e em razão da
função, poderá haver o crime de desacato (art. 339).
Em regra, o crime de injúria não admite tentativa, embora a mesma seja possível a depender do
meio utilizado.
O emprego de escrito, por exemplo, pode permitir a configuração da tentativa, pois não haverá mais
um crime unissubsistente, existindo um iter criminis que pode ser fracionado.
A injúria real, particularmente, admite a tentativa, quando, por exemplo, a violência ou vias de fato
aviltantes não se consumam por circunstâncias alheias à vontade do agente.
Se o meio utilizado para praticar a injúria for a fala, entre a emissão da voz e a percepção pelo
interlocutor não há espaço para fracionamento, ou seja, para a possível interrupção do inter criminis.
Assim, a injúria verbal não admite tentativa.

1.4.8) Classificação doutrinária

O crime de difamação é formal; comum; instantâneo; comissivo e omissivo (exemplo de Noronha);


doloso; unissubsistente (quando praticado pela linguagem falada) e plurissubsistente (quando
praticado pela linguagem escrita); monosubjetivo; transeunte (exceto se for possível periciar o meio
empregado para o cometimento do crime); de forma livre; e simples (exceto quanto à injúria real, que
é crime complexo, pois há ofensa à dois bens jurídicos)

1.4.9) Exceção da verdade

A injúria é o único dos crimes contra a honra em que a exceção da verdade não é admitida em
nenhuma hipótese, pois neste delito não á imputação de fato.
Não se admite provar a atribuição de qualidades negativas (defeitos) a alguém, sob pena de se
consagrar o direito à humilhação alheia.
Vale ressaltar, ainda, que a autenticidade ou veracidade dos juízos depreciativos que maculam a
honra subjetiva é irrelevante para a caracterização da injúria.
1.4.10) Perdão judicial

O perdão judicial, relativamente ao crime de injúria, encontra-se previsto no § 1º do art. 140, do CP.
O perdão judicial apresenta a natureza jurídica de causa extintiva da punibilidade (art. 107, IX) e de
direito público subjetivo do ofensor.
Nos termos de tal dispositivo, o juiz, no crime de injúria, pode deixar de aplicar a pena em duas
hipóteses: a) quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria (inciso I); e b)
no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria (inciso II).
Na hipótese do inciso I (provocação da injúria por parte do ofendido), a finalidade do dispositivo é
permitir a isenção de pena quando o juiz perceber que o xingamento foi proferido em momento de
irritação decorrente de provocação da vítima, que fez com que o agente perdesse
momentaneamente o controle das palavras.
É necessário que a provocação seja considerada reprovável (indevida) e que tenha sido feita no
exato momento da injúria, na presença do ofensor (provocação direta).
Na hipótese do inciso II (retorsão imediata, ou seja, revide imediato), uma pessoa ofende outra
imediatamente após ter sido ofendida por esta.
Neste caso, ambas praticaram o crime de injúria, pois o fato de alguém ter proferido o xingamento
não torna lícito o revide. Contudo pode o juiz conceder o perdão a ambos.
Caso não existisse o inciso II, a hipótese prevista no mesmo estaria abrangida pelo inciso I.

1.4.11) Injúria real

A injúria real, que se cuida de uma figura qualificada do crime de injúria, encontra-se prevista no § 2º
do art. 140, sendo sancionada com a pena de detenção de 3 meses a 1 ano e multa, além da pena
correspondente à violência.
Na injúria real, pune-se a conduta daquele que injuriar alguém, mediante violência ou vias de fato,
que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes.
Assim, na injúria real, o sujeito ativo ofende a vítima por meio de uma agressão física, que consiste
em violência ou vias de fato.
A violência e as vias de fato são empregadas com o propósito de injuriar, estando o agente animado
pelo animus injuriandi.
Para que se configure a injúria real, é necessário que a agressão física praticada se considere
aviltante (humilhante), em virtude: a) da natureza do ato; ou b) do meio empregado.
São exemplos de agressões aviltantes, em razão da natureza do ato: raspar o cabelo da vítima;
esbofeteá-la em público; cuspir em seu rosto; cavalgar a vítima; etc.
São exemplos de agressões aviltantes, em razão do meio empregado: atirar tomate ou ovo podre
em pessoa que está fazendo um discurso; atirar cerveja ou bolo no rosto de alguém em uma festa,
etc.
Se da violência empregada para ofender a vítima resultarem lesões corporais, ainda que de
natureza leve, o agente responderá pelo crime de injúria real e pelo crime de lesões corporais.
Tal entendimento decorre do disposto no preceito secundário do art. 140, § 2°, devendo haver, ainda,
a soma das penas já que o dispositivo estabelece que as sanções atinentes à injúria real (detenção
e multa) devem ser aplicadas juntamente com a “pena correspondente à violência”.
Esta hipótese, embora se trate de um concurso formal, se apresenta como uma exceção à regra,
pois o agente responderá pelas penas cumuladamente.
Caso a injúria real seja praticada por meio de vias de fato, a contravenção penal restará absorvida,
respondendo o agente apenas pelo crime.

1.4.12) Injúria preconceituosa

A injúria preconceituosa, que se trata de uma figura qualificada do crime de injúria, encontra-se
prevista no § 3º do art. 140, sendo sancionada com a pena de reclusão de 1 a 3 anos e multa.
Na injúria preconceituosa, pune-se a conduta daquele injuriar alguém, utilizando-se de elementos
referentes à raça, cor, etnia, religião, origem ou condição de pessoa idosa ou portadora de
deficiência.
Esta figura qualificada foi introduzida no CP pela Lei n.° 9.459/97, tendo sido sua parte final, relativa
à vítimas idosas ou deficientes, inserida pela Lei n.° 10.741/2003 (Estatuto do Idoso).
A primeira parte do § 3° do art. 140, que cuida da ofensa atinente à raça, cor, etnia, religião ou
origem, também denominada de “injúria racial”, deve ser diferenciada do crime de racismo, previsto
no art. 20 da Lei n.° 7.716/89, também introduzido pela Lei n.° 9.459/97.
O delito de injúria (art. 140, § 3°), assim como todos os crimes contra a honra, pressupõe que a
ofensa seja dirigida à pessoa determinada ou, ao menos, a um grupo determinado de indivíduos.
Assim, quando o agente se dirige a uma pessoa e a ofende fazendo referência à sua cor, religião,
etnia, raça ou origem, configura-se a injúria preconceituosa (art. 140, § 3°).
Já o crime de racismo, por meio de manifestação de opinião, estará caracterizado quando o agente
se referir, de forma preconceituosa e indistintamente, a todos os integrantes de uma raça, cor,
religião, origem, etc.
Há, também, outras modalidades de racismo, que não se traduzem em ofensas verbais ou escritas,
mas que decorrem de atos discriminatórios, como não permitir que alguém se torne sócio de um
clube em razão da cor ou da raça, não permitir que se alimente em certo restaurante, que ingresse
em ônibus, etc.
Em relação à parte final do § 3° do art. 140, que diz respeito à pessoas idosas (mais de 60 anos) ou
deficientes, somente se configurará o crime quando a ofensa for referente a esta condição pessoal
da vítima.
Desta forma, configuram a injúria preconceituosa a conduta daquele que chama um idoso de
“decrépito”, “velho esclerosado”, “velho babão”, “matusalém”, “múmia”; bem como a conduta daquele
que chama um deficiente de “ponto e vírgula” (porque manca com uma das pernas), de “toco”
(porque não tem braços ou pernas), “retardado”, etc.
Porém, se a ofensa contra a pessoa idosa não se referir a esta condição específica, como, p. e.,
chamá-la de vagabunda, haverá injúria simples (art. 140, caput), com a agravante genérica do art.
61, II, “h”.

1.4.13) Retratação
Conforme se extrai do artigo 143, não é possível a retratação no crime de injúria, pois esta somente
se aplica à difamação e à calúnia.

1.4.14) Natureza da ação penal

Em regra, no crime de injúria simples, a ação penal, nos termos do art. 145, é de exclusiva iniciativa
privada.
Porém, conforme o parágrafo único do art. 145, a ação será pública condicionada quando a injúria
simples for: a) praticada contra o Presidente da República ou contra chefe de governo estrangeiro
(requisição do Ministro da Justiça); e b) contra funcionário público, em razão de suas funções
(representação do ofendido).
Relativamente à injúria real, se esta for cometida com vias de fato, a ação penal será
exclusivamente privada, pois a contravenção é absorvida.
Caso a injúria real provocar lesão corporal leve, a ação penal será pública condicionada à
representação do ofendido, pois se observará o disposto no art. 89, da Lei n.º 9.099/95, que assim
dispõe em relação ao crime de lesão corporal leve.
Se a injúria real resultar em lesão corporal grave ou gravíssima, a ação penal será pública
incondicionada, visto que se observará a natureza jurídica da ação penal em relação ao crime de
lesão corporal grave ou gravíssima.
No que tange à injúria preconceituosa, a ação penal passou a ser pública condicionada à
representação do ofendido, desde o advento da Lei n.º 12.033/2009, que alterou a redação do
parágrafo único do art. 145.

1.4.15) Figuras majoradas

As majorantes (causas especiais de aumento de pena) do crime de injúria estão previstas no art.
141, incisos I a III, e parágrafo, do CP.
Segundo os incisos I a III, do art. 141, a pena cominada para o crime de injúria será elevada em 1/3
se o fato for praticado: a) contra o Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro
(fundamento político); b) contra funcionário público, em razão de suas funções (necessidade do nexo
de causalidade entre a ofensa e as funções realizadas pelo ofendido); e c) na presença de várias
pessoas (pelo menos três pessoas), ou por meio que facilite sua divulgação (afixação de cartazes,
distribuição de panfletos, etc.).
No crime de injúria não se verifica a incidência da majorante prevista no inciso IV do art. 141, a fim
de que não se configure o bis in idem, pois a utilização de elementos referentes à condição de
pessoa idosa ou deficiente caracteriza a injúria preconceituosa, nos termos do art. 140, § 3º.
Nos termos do parágrafo único do art. 141, a pena será aplicada em dobro se a injúria foi praticada
mediante paga ou promessa de recompensa (crime de concurso necessário, em que se aplica a
mesma pena a quem promete ou paga e a quem aceita a promessa ou pagamento).

1.13.14) Causas especiais de exclusão do crime

1.13.14.1) Considerações iniciais

Nos termos do art. 142, não constituem injúria e difamação punível:


a) a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou procurador, que se trata da
denominada imunidade judiciária (inciso I);
b) a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a
intenção de difamar (inciso II); e
c) o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste
no cumprimento de dever do ofício (inciso III).
Tais causas especiais de exclusão do crime, também denominadas imunidades, não incidem sobre à
calúnia, referindo-se apenas à difamação e à injúria.

1.13.14.2) Natureza jurídica

Verifica-se divergência doutrinária quanto à natureza jurídica destas excludentes especiais, havendo
a formação de três correntes:
1ª) são causas de exclusão da pena, subsistindo, portanto, a estrutura criminosa da conduta;
2ª) são causas de exclusão da ilicitude, quando subsistiria a tipicidade do fato, sendo,
excepcionalmente, afastada somente a contrariedade ao direito, em virtude destas circunstâncias
que legitimariam a ação; e
3ª) são causas de exclusão da tipicidade, em razão da ausência do animus diffamandi, que não
ignora, porém, a possibilidade de exclusão da ilicitude do fato.
Percebe-se que a 2ª e a 3ª corrente acabam por se confundir e se complementar.
Neste sentido, para Bitencourt, as circunstâncias previstas no art. 142 são causas de exclusão do
crime (e não da pena), pois ou afastam a tipicidade, em razão da falta do animus ofendendis ou
rechaçam a ilicitude, em virtude da excepcional autorização da prática de uma conduta típica para
preservar interesse social relevante.
Prevalece a corrente que entende haver exclusão da ilicitude.

1.13.14.3) Ofensa irrogada em juízo (art. 142, I)


Esta hipótese aplicava-se, originariamente, para excluir os crimes de injúria e de difamação tanto em
relação às ofensas feitas pessoalmente por uma das partes, quanto no que tange àquelas feitas por
seu advogado em juízo.
Isto porque o art. 142, I foi parcialmente derrogado, pois em relação ao procurador, isto é, ao
advogado a matéria passou a ser tratada pelo art. 133 da CR/88 e pelo art. 7º, § 2º, da Lei n.º
8.906/94.
Por força do art. 7°, § 2° da Lei n.° 8.906/94, a imunidade do advogado, em relação aos crimes
contra a honra, abrange eventuais ofensas perpetradas no bojo de ação judicial, em
acompanhamento de clientes em delegacias de polícia, em Comissões Parlamentares de Inquérito,
em Tabelionatos, no Ministério Público para que o cliente seja ouvido em inquérito civil.
Até mesmo a ofensa contra o juiz da causa está abrangida, desde que tenha relevância para a
defesa do cliente e não se apresente completamente descabida.
Vale ressaltar que esta imunidade do advogado não é absoluta, não alcançando ofensas que não
tenham qualquer relação com o exercício da atividade profissional.
Todavia, o art. 142, I, continua em vigor no que concerne às partes.
Para que se exclua o crime de injúria ou de difamação é necessário que a ofensa seja feita:
a) na discussão da causa, o que significa que deve haver uma relação entre a ofensa feita e algum
dos temas, de fato ou de direito, tratado nos autos do processo. Assim impropérios ou comentários
desairosos feitos gratuitamente constituem crime. Caso haja vínculo entre a ofensa e o debate
existente nos autos, haverá a exclusão do crime, qualquer que tenha sido o meio empregado (verbal
ou escrito); e
b) em juízo, admitindo-se que o juízo seja cível, criminal, trabalhista ou falimentar e que a ação seja
de qualquer natureza, ou seja, de conhecimento, executória, etc.
Saliente-se, ainda, que, no caso da ofensa irrogada em juízo, responderá pelo crime de injúria ou de
difamação, nos termos do parágrafo único do art. 142, aquele que der publicidade ao fato.

1.13.14.4) Manifestação desfavorável da crítica (art. 142,II)

A finalidade do dispositivo é conferir certa liberdade para que os críticos literários, artísticos e
científicos possam emitir suas opiniões sem o receio de cometerem crime.
Há, porém, no próprio texto legal, uma ressalva, pois se o indivíduo utiliza a crítica com a clara e
evidente intenção de ofender, responderá pelo crime.
Tal demonstra que esta não se trata de uma hipótese de imunidade absoluta.
Esta regra voltou a ter especial relevância desde que o STF, na ADPF n.º 130, afirmou que a Lei de
Imprensa (Lei n.° 5.250/67) não foi recepcionada pela CR/88, na medida em que a manifestação dos
críticos, em regra, é veiculada em jornais, revistas, rádio, televisão, etc.

1.13.14.5) Conceito desfavorável emitido por funcionário público (art. 142, III)
Nesta hipótese, o funcionário público, em verdade, está apenas cumprindo o seu dever, não
podendo o mesmo ser punido, tal como ocorre em relação à excludente do estrito cumprimento do
dever legal.
A finalidade do dispositivo é a de ressalvar que mesmo eventuais ofensas não configuram injúria ou
difamação, exceto se houver algum abuso ou desvio por parte do funcionário público, uma vez que
nenhuma imunidade é absoluta.
Quando um delegado de polícia, p. e., afirma que o indiciado é um criminoso perigoso, a fim de
convencer o juiz a decretar-lhe a prisão preventiva, não incorre em crime de injúria.
Saliente-se, ainda, que, no caso do conceito desfavorável emitido por funcionário público,
responderá pelo crime de injúria ou de difamação, nos termos do parágrafo único do art. 142, aquele
que der publicidade ao fato.

1.5) Disposições comuns dos crimes contra a honra

1.5.1) Causas de aumento de pena

Estão previstas as majorantes dos crimes contra a honra no art. 141 do CP. Tais majorantes já foram
abordadas.

1.5.2) Causas especiais de exclusão da ilicitude

Estão previstas no art. 142 do CP, referindo-se aos crimes de difamação e injúria. Tais excludentes já
foram examinadas.

1.5.3) Retratação

Está prevista no art. 143 do CP, sendo aplicada aos crimes de calúnia e de difamação. Também já foi
tratada.

1.5.4) Pedido de explicações em juízo


Segundo o art. 144 do CP, se de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou
injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo, sendo que aquele que se recusa a
dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatoriamente, responde pela ofensa.
O pedido de explicações é uma medida facultativa, normalmente utilizada quando a frase ou
expressão proferida não é clara, havendo dúvida quanto à real intenção de ofender.
De modo a não propor uma queixa-crime temerária, o ofendido pode apresentar uma petição em
juízo, narrando o ocorrido e solicitando a intervenção judicial no sentido de notificar o autor do ato,
para que este se explique.
O pedido de explicações se trata, portanto, de um procedimento anterior ao oferecimento da queixa-
crime.
Não há rito específico para o pedido de explicações, sendo seguido o procedimento das notificações
avulsas.
Assim, após o requerimento da vítima, o juiz determina a notificação do autor da imputação a ser
esclarecida, fixando um prazo para a resposta.
Findo o prazo, com ou sem resposta, o juiz entrega os autos ao requerente (vítima).
O juiz não julga o pedido de explicações.
Se, posteriormente, for proposta queixa-crime, o juiz analisará as explicações dadas, para verificar
se recebe ou rejeita a ação penal.
A parte final do art. 144 diz que aquele que se recusa a dar explicações ou as dá de modo
insatisfatório, responde pela ofensa.
Tal não significa, porém, que o juiz estará obrigado a condenar o ofensor, uma vez que, após o
recebimento da queixa-crime, o querelado terá todas as oportunidades de se defender, observando-
se o contraditório.
O dispositivo tem por fim demonstrar a importância da resposta e esclarecer que a omissão será
levada em conta pelo juiz por ocasião do exame em torno do recebimento ou rejeição da queixa-
crime.
O pedido de explicações não interrompe o prazo decadencial (seis meses, contados a partir do
conhecimento da autoria).
A distribuição do pedido de explicações torna prevento o juízo, caso, posteriormente, seja oferecida
queixa-crime.

1.5.5) Ação penal

A natureza da ação penal nos crimes contra a honra é disciplinada pelo art. 145 do CP. Tal ponto já
foi abordado em relação a cada um dos crimes.

Você também pode gostar