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Pesquisa Agropecuária Brasileira

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Pesq. agropec. bras. v.39 n.2 Brasília fev. 2004 Curriculum


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doi: 10.1590/S0100-204X2004000200006

FRUTICULTURA

Índices para avaliar qualidade pós-colheita de goiabas


em diferentes estádios de maturação

Indices to evaluate postharvest quality of guavas under


different maturation stages

Marisa AzzoliniI; Angelo Pedro JacominoII; Ilana Urbano BronIII

I
Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), Dep. de Ciências Biológicas,
Caixa Postal 09, CEP 13418-900 Piracicaba, SP. Bolsista do CNPq. E-mail:
estumarisa@yahoo.com.br
II
Esalq, Dep. de Produção Vegetal. Bolsista do CNPq. E-mail: jacomino@esalq.usp.br

III
Esalq, Dep. de Produção Vegetal. E-mail: iubron@esalq.usp.br
RESUMO

O objetivo deste trabalho foi determinar índices de maturação adequados para


avaliar a influência dos estádios de maturação nas transformações físico-químicas
após a colheita de goiabas (Psidium guajava cv. Pedro Sato). Frutos colhidos nos
estádios de maturação, segundo a cor da casca (1: verde-escura, 2: verde-clara e
3: verde-amarela), foram armazenados a 25±1oC e 80±5% UR e avaliados quanto
às transformações físicas e químicas e percentual de podridão. No momento da
colheita, a cor da casca, a firmeza da polpa e a relação sólidos solúveis totais/acidez
total titulável apresentaram diferenças significativas entre os três estádios de
maturação. Durante o amadurecimento, as transformações físico-químicas foram
semelhantes entre os estádios de maturação. O período máximo de viabilidade do
fruto para comercialização foi de dois, quatro e seis dias após a colheita, nos
estádios 3, 2 e 1, respectivamente. Os teores de sólidos solúveis totais, acidez total
titulável e ácido ascórbico apresentaram baixo coeficiente de correlação com as
variáveis estudadas. A cor da casca, a firmeza da polpa e a relação sólidos solúveis
totais/acidez total titulável foram considerados índices de maturação adequados
para a goiaba 'Pedro Sato'.

Termos para indexação: Psidium guajava, amadurecimento.

ABSTRACT

The aim of this work was to determine the maturation indices to evaluate the
influence of maturation stages on physical and chemical transformations in guavas
(Psidium guajava cv. Pedro Sato) after harvest. Guavas were harvested at
maturation stages, according to the skin color, 1 (dark green), 2 (light green) and
stage 3 (yellowish green), stored at 25+1oC and 85+5% RH, and assessed for
physical and chemical transformations and decay. At harvest, the three maturation
stages presented distinct results of skin color, pulp firmness and total soluble solids
total titratable acidity ratio. During the ripening, physical and chemical
transformations were similar among the maturation stages. The postharvest life of
stages 3, 2 and 1, was two, four and six days, respectively. The total soluble solids
content, total titratable acidity and ascorbic acid presented low correlated coefficient
with all variables studied. The skin color, the pulp firmness and the total soluble
solids/total titratable acidity ratio can be considered acceptable maturation indexes
for guava 'Pedro Sato'.

Index terms: Psidium guajava, ripening.

Introdução

O Brasil é um dos três maiores produtores mundiais de goiaba (Psidium guajava).


A maior parte da produção é absorvida pela indústria, porém, no Estado de São
Paulo, principal produtor nacional, houve um incremento de 17% na produção de
goiabas para mesa no período de 2000-2001 (Instituto de Economia Agrícola,
2002).

A expansão do mercado consumidor de goiaba in natura está condicionada à


qualidade dos frutos e ao aumento da vida útil pós-colheita. A goiaba é um fruto
altamente perecível por causa do seu intenso metabolismo durante o
amadurecimento. Os atributos de qualidade são influenciados pelas variedades,
condições edafoclimáticas e práticas culturais. Manejos inadequados na colheita e
na pós-colheita aceleram os processos de senescência afetando sensivelmente a
qualidade e limitando ainda mais o período de comercialização. O estádio de
maturação, em que os frutos são colhidos determina a qualidade do fruto a ser
oferecido ao consumidor. Os frutos colhidos imaturos, além de pouca qualidade,
têm alto índice de perda de água e são muito suscetíveis às desordens fisiológicas.
Por outro lado, quando colhidos muito maduros, entram rapidamente em
senescência (Manica et al., 2000).

A correta determinação do estádio de maturação em que um fruto se encontra é


essencial para que a colheita seja efetuada no momento certo. Para isso, são
utilizados os chamados índices de maturação. Esses índices compreendem medidas
físico-químicas que sofrem mudanças ao longo da maturação dos frutos. Os índices
de maturação devem assegurar a obtenção de frutas de boa qualidade, durante o
armazenamento (Kluge et al., 2002). Em relação à goiaba, não existe padronização
e consenso do estádio de maturação ideal para a colheita, assim como pouco se
sabe a respeito dos índices de maturação adequados. As goiabas normalmente são
colhidas quando a polpa ainda está firme e a coloração da casca começa a mudar de
verde-escuro para verde-claro ou começa a amarelecer (Manica et al., 2000).
Estudos que avaliaram a influência dos estádios de maturação na evolução das
características físicas e químicas desse fruto após a colheita são escassos.

O objetivo deste trabalho foi determinar os índices de maturação adequados para


avaliar a influência de três estádios de maturação nas transformações físicas e
químicas após a colheita de goiabas 'Pedro Sato'.

Material e Métodos

O experimento foi realizado no Laboratório de Pós-colheita do Departamento de


Produção Vegetal da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP),
Piracicaba, SP. Foram utilizadas goiabas da variedade Pedro Sato, provenientes de
pomar comercial localizado no Município de Vista Alegre, SP (48o21' W e 21o10' S).

Foram selecionados frutos sem defeitos com massa média de 170+10 g. A cor da
casca foi medida com colorímetro Minolta e os frutos foram separados nos estádios
de maturação segundo o seguinte critério: estádio 1, cor da casca verde-escura,
ângulo de cor (oh) entre 120 e 117; estádio 2, cor da casca verde-clara, ângulo de
cor (oh) entre 116 e 113; estádio 3, cor da casca verde-amarela, ângulo de cor (oh)
entre 112 e 108 (Figura 1). Os frutos foram armazenados em câmara, com controle
de temperatura e umidade, a 25+1oC e 85+5% UR.
As análises físicas e químicas foram realizadas no momento da colheita e a cada
dois dias durante o período no qual as goiabas apresentavam características viáveis
de comercialização. Foram considerados inviáveis à comercialização lotes com mais
de 30% de frutos com podridão, aspecto de murchamento e supermaduros. A cor
da casca e da polpa foram determinadas com o colorímetro Minolta, modelo CR-
300. Em relação à cor da casca, efetuaram-se duas leituras por fruto, em lados
opostos da sua região equatorial, e os resultados foram expressos em ângulo de cor
(oh). A cor da polpa foi determinada efetuando-se uma leitura no centro da região
placentária de cada fruto, após o corte transversal dos mesmos e os resultados
expressos em cromaticidade (C). A firmeza da polpa foi determinada com
penetrômetro digital, ponteira com 8 mm de diâmetro e ponta plana, tomando-se
duas leituras por fruto em lados opostos de sua região equatorial, após retirada da
casca e os resultados expressos em Newton (N). Os sólidos solúveis totais (SST)
foram determinados por leitura direta em refratômetro digital ATTO-2WAJ e os
resultados expressos em oBrix; a acidez total titulável (ATT) foi determinada de
acordo com Carvalho et al. (1990), em que 10 g de polpa foram homogeneizadas
em 90 mL de água destilada. A suspensão foi titulada com NaOH 0,1N para a
neutralização dos ácidos orgânicos, o que ocorre quando a solução atinge o pH
8,10, com resultados expressos em porcentagem de ácido cítrico. A relação
SST/ATT foi obtida pela razão entre os valores de sólidos solúveis totais e acidez
total titulável. O teor de ácido ascórbico foi determinado conforme Carvalho et al.
(1990) e os resultados expressos em mg de ácido ascórbico por 100 g de polpa.
A porcentagem de podridão foi determinada pela contagem de goiabas com
presença de podridão. Foram considerados podres os frutos com lesões com mais
de 0,3 cm e os resultados expressos em porcentagem de goiabas com podridão.
A perda de massa fresca foi determinada pela diferença entre a massa do fruto no
momento da colheita e após o período de armazenamento e os resultados foram
expressos em porcentagem.

O delineamento estatístico utilizado foi inteiramente casualizado com cinco


repetições de três frutos para cada tratamento e período de análise. Os dados foram
submetidos à análise de variância utilizando-se o Sistema de Análise Estatística
(SANEST) e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade. Os resultados das análises também foram submetidos à análise do
desvio-padrão. As diferenças entre dois tratamentos maiores que a soma de dois
desvios-padrões foram consideradas significativas.

Com o objetivo de estabelecer as correlações existentes entre as variáveis


estudadas nos diferentes estádios de maturação, foram calculados os coeficientes
de correlação entre as variáveis estudadas. Os coeficientes foram obtidos a partir da
seguinte equação:

em que:

X e Y são variáveis aleatórias e Sx, Sy são os desvios-padrões estimados em relação


às médias.

Resultados e Discussão

No momento da colheita, a utilização da cor da casca na distinção dos estádios de


maturação revelou-se viável, considerando as outras diferenças significativas
apresentadas entre as demais variáveis analisadas (Tabela 1). Esta variável
apresentou baixo coeficiente de variação, oferecendo confiabilidade da medida.
O ângulo de cor (oh) expressa de modo significativo as diferenças na coloração da
casca, permitindo uma visualização precisa da mudança de cor. Esses resultados
estão de acordo com os de Mercado-Silva et al. (1998), que consideraram a cor da
casca como o melhor índice na determinação do estádio de maturação da goiaba
'Media China'.
A cor da casca apresentou diminuição dos valores de ângulo (oh) em todos os
estádios de maturação, durante o armazenamento, indicando a mudança de cor
verde para amarela (Figura 1). A coloração totalmente amarela foi observada
quando os frutos atingiram ângulo de cor menor que 100 (Figura 1). Os principais
processos envolvidos na perda da coloração verde dos frutos durante o
amadurecimento são a degradação da clorofila e a síntese de caroteno (Cross,
1987).

A firmeza da polpa separou de modo significativo os três estádios de maturação na


colheita (Tabela 1). A firmeza do estádio 2 foi 23,1% menor que a do estádio 1.
Nos frutos colhidos no estádio 3, a firmeza foi 40,3 % menor que a firmeza dos
frutos colhidos no estádio 2 e cerca da metade da firmeza dos frutos colhidos no
estádio 1. Estes resultados estão próximos dos obtidos por Dhingra et al. (1983), os
quais consideraram verdes as goiabas com firmeza acima de 85 N e verde-amarelas
goiabas com firmeza entre 55,11 N e 66,3 N.

Os três estádios apresentaram comportamento semelhante em relação à perda de


firmeza da polpa, durante o armazenamento (Figura 1). Os frutos sofreram rápida
perda de firmeza da polpa independentemente do estádio de maturação,
corroborando os dados obtidos por Piveta et al. (1992). A firmeza teve intensa
redução no estádio 3, entre zero e dois dias, de 48,3 N para 24,9 N, no estádio 2,
entre dois e quatro dias, de 58,21 N para 21,14 N e no estádio 1, entre quatro e
seis dias, de 77,92 N para 26,15 N. Essa rápida perda da firmeza durante o
amadurecimento de goiabas pode ser creditada às atividades das enzimas
hidrolíticas, como a poligalacturonase e pectinametilesterase (Jain et al., 2001), que
promovem intensa solubilização das pectinas constituintes da parede celular,
resultando em perda de firmeza (Tucker, 1993).

A cor da polpa não apresentou diferenças significativas em relação à intensidade da


coloração (cromaticidade) entre os três estádios na colheita (Tabela 1). Entretanto,
houve diferenças em relação ao desenvolvimento da coloração dos tecidos do
mesocarpo (Figura 2). No momento da colheita, os frutos no estádio 1
apresentavam coloração vermelha somente nos tecidos da placenta, enquanto nos
frutos nos estádios 2 e 3, os tecidos do mesocarpo também apresentavam
desenvolvimento da coloração vermelha.

O aumento da cromaticidade em todos os estádios indica a mudança de cor rosa


para vermelho intenso e é provavelmente decorrente da biossíntese de licopeno
(Cross, 1987). A cor da polpa foi semelhante entre os estádios 2 e 3 e mais intensa
nestes do que no estádio 1 durante o período de armazenamento (Figura 1).

O teor de sólidos solúveis totais (SST), que geralmente é utilizado como índice de
maturação, não apresentou capacidade discriminante dos estádios de maturação na
época da colheita. O teor SST diferenciou o estádio 3 do estádio 1 em apenas
0,7oBrix, e o estádio 2 apresentou valores intermediários (Tabela 1). De forma
semelhante, Mercado-Silva et al. (1998) verificaram que o teor de SST em goiaba
não representa um bom índice na caracterização dos estádios de maturação dos
frutos. Em goiaba, os açúcares totais representam cerca de 51% a 91% do teor de
sólidos solúveis (Rathore, 1976; Chitarra et al., 1981), e o principal açúcar é a
frutose. Portanto, o teor de SST está sob influência de fatores que afetam a síntese
da frutose. O amido, que em altas concentrações em maçã e banana aumenta o
teor de SST durante o amadurecimento, em goiabas representa 1% a 3% do total
dos carboidratos não estruturais (Ali & Lazan, 1997), não apresentando este efeito.
O teor de SST está sujeito a inúmeras variações, o que dificulta o estabelecimento
de um intervalo que represente um estádio de maturação.

Os teores de SST apresentaram poucas mudanças durante o amadurecimento dos


frutos em todos os estádios de maturação (Figura 1). Resultados semelhantes
foram encontrados por Jacomino (1999) em goiabas 'Kumagai'.

A acidez total titulável (ATT), no momento da colheita, foi maior no estádio 1 do


que nos demais estádios, porém não separou estatisticamente os estádios 2 e 3
(Tabela 1). Piveta et al. (1992), observaram, na cultivar Paluma, valores maiores de
acidez nos frutos colhidos nos estádio verde que nos frutos colhidos nos estádios
mais maduros.

O porcentual de acidez total titulável foi crescente até o segundo e quarto dia após
a colheita nos frutos colhidos nos estádios 2 e 1, respectivamente, ao passo que no
estádio 3, ela foi decrescente a partir da colheita (Figura 1). Jacomino et al. (2002)
em goiabas 'Kumagai' e Lima & Durigan (2000), em goiabas 'Pedro Sato', também
observaram um leve aumento no teor de ATT, durante o armazenamento em
diferentes embalagens, sob refrigeração a 10oC. Mattiuz (2002), avaliando o efeito
de danos mecânicos em goiabas 'Pedro Sato' e 'Paluma', observou aumento dos
teores de acidez até o quarto dia após a colheita. Os ácidos orgânicos representam
um dos principais substratos para os processos respiratórios durante o
amadurecimento e de forma geral tendem a diminuir significativamente durante
esta fase (Tucker, 1993).

Diferentemente dos teores de SST e ATT, a relação entre estas variáveis (SST/ATT)
foi um índice que diferenciou os três estádios de maturação (Tabela 1). Estes
resultados estão de acordo com os de Tripathi & Gangwar (1971) e Chitarra et al.
(1981), os quais sugerem a utilização da relação SST/ATT como índice de
maturação para goiabas.

O teor de ácido ascórbico apresentou diferenças significativas somente entre os


estádios 1 e 3 e os teores maiores de ácido ascórbico ocorreram nos frutos em
estádios mais avançados de maturação (Tabela 1). El-Bulk et al. (1997) também
observaram teores crescentes de ácido ascórbico durante a maturação nas
cultivares Shambati, Pakistani, Shendi e Ganib.

Durante o armazenamento, inicialmente ocorreu um aumento no teor de ácido


ascórbico em todos os estádios de maturação, com posterior diminuição (Figura 1).
Jacomino (1999), trabalhando com goiabas brancas 'Kumagai' armazenadas a 10oC
em diferentes embalagens, também observou aumento no teor de ácido ascórbico
durante o amadurecimento dos frutos. Segundo Mercado-Silva et al. (1998), o
aumento no teor de ácido ascórbico em goiabas durante o início do amadurecimento
está associado ao aumento da síntese de intermediários metabólicos, os quais são
precursores do ácido ascórbico. A degradação de polissacarídeos da parede celular
possivelmente resulta em um aumento da galactose que é um dos precursores da
biossíntese do ácido ascórbico (Wheeler et al., 1998; Smirnoff et al., 2001). Com o
decorrer do amadurecimento ocorre a oxidação dos ácidos com conseqüente
redução do teor de ácido ascórbico, indicando a senescência do fruto (Tucker,
1993).

A utilização de mais de uma variável na determinação do estádio de maturação


possibilita caracterizar de forma mais precisa o estádio de desenvolvimento do
fruto. Entretanto, conhecendo-se o grau de relação entre as variáveis, é possível
avaliar uma variável em função da outra. As melhores relações ocorreram entre a
cor da casca , cor e firmeza da polpa, o que pode ser verificado pelo alto coeficiente
de correlação obtido entre estas variáveis (Tabela 2). Os teores de SST, ATT e ácido
ascórbico apresentaram baixo coeficiente de correlação com todas as variáveis
estudadas, em razão das discretas mudanças que tais variáveis sofreram durante o
amadurecimento, ao contrário das intensas mudanças na cor das casca e da polpa e
na firmeza da polpa.

Os frutos apresentaram períodos de conservação diferentes em razão do estádio de


maturação no momento da colheita. A podridão foi uma das principais causas de
redução do período comercializável (Figura 3). Os frutos colhidos no estádio 1
apresentaram período de comercialização de seis dias e os frutos colhidos nos
estádios 2 e 3 tiveram este período reduzido para quatro e dois dias,
respectivamente.
A perda de massa fresca atingiu valores máximos de 3,5% em relação à massa
inicial durante o período de armazenamento (Figura 3). Os estádios de maturação
apresentaram pouca influência nesta variável. A perda de massa fresca dos frutos é
uma variável importante que está diretamente relacionada com a qualidade do
fruto. Segundo Ben-Yehoshua (1985), um dos principais problemas durante o
armazenamento de frutas e hortaliças é a perda de massa por causa do processo de
transpiração. A perda de água leva ao amolecimento dos tecidos, tornando os frutos
mais suscetíveis às deteriorações e a alterações na cor e sabor.
As transformações físico-químicas apresentaram comportamento semelhante nos
três estádios de maturação, após a colheita. Entretanto, as diferenças observadas
no momento da colheita e o período de comercialização viável referente a cada
estádio demostraram que os frutos apresentavam estádios diferentes de maturação.
Os frutos atingiram o completo amadurecimento independentemente do estádio de
maturação no qual foram colhidos. Isto permite afirmar que mesmo os frutos do
estádio 1 apresentavam maturidade fisiológica, ou seja, capacidade de continuar
sua ontogenia após a colheita (Watada et al., 1984).

Conclusões

1. A cor da casca, a firmeza da polpa e a relação sólidos solúveis totais/acidez total


titulável são índices adequados de maturação para goiabas 'Pedro Sato'.

2. Os teores de sólidos solúveis totais, de acidez total titulável e de ácido ascórbico


não são indicadores adequados do estádio de maturação em goiabas 'Pedro Sato'.

3. Goiabas 'Pedro Sato' colhidas em diferentes estádios de maturação apresentam


comportamento semelhante quanto às transformações físico-químicas, após a
colheita.

Referências

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Recebido em 14 de julho de 2003 e aprovado em 26 de novembro de 2003

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Influência da embalagem de atmosfera modificada


e do tratamento com cálcio na cinética de
degradação de ácido ascórbico e perda de massa em
goiabas (Psidium guajava L.)1

Fábio YAMASHITA2,*, Marta de Toledo BENASSI2

RESUMO

Goiabas de mesa (var. Pedro Sato) no estádio verde maturo foram armazenadas a
8°C (85-95% UR) por 49 dias. Uma parte das amostras foi tratada com solução de
cloreto de cálcio 2% (p/v) e o restante permaneceu sem tratamento.
Posteriormente, foram embaladas individualmente em dois tipos de embalagem de
atmosfera modificada (Cryovac PD-900 e Cryovac PD-961). Goiabas sem
embalagem e não tratadas com cálcio, mantidas à mesma temperatura de 8°C
serviram como controle. Foram realizadas análises de perda de massa, acidez
titulável, teores de sólidos solúveis totais e ácido ascórbico. Os frutos embalados
apresentaram taxas de perda de massa menores que os sem embalagem (p<0,05).
Os frutos tratados com cálcio não apresentaram diferença na taxa de degradação
de ácido ascórbico em relação aos não tratados e os frutos embalados com PD-900
apresentaram retenção de ácido ascórbico maior. Após 4 semanas, as goiabas sem
embalagem apresentaram-se impróprias para consumo, devido ao murchamento e
ataque de fungos, enquanto que as embaladas estavam em bom estado. Após a
sexta semana, apenas os frutos embalados com PD-900 sem tratamento com cálcio
estavam próprios para consumo. A embalagem de atmosfera modificada reduziu a
perda de massa e ácido ascórbico e prolongou a vida-de-prateleira do produto. O
emprego de cálcio não afetou as características analisadas.

Palavras-chave: goiaba; embalagem de atmosfera modificada; cálcio; ácido


ascórbico; perda de massa; vitamina C.

SUMMARY

Influence of modified atmosphere packaging and calcium treatement on


kinetic of ascorbic acid degradation and weight loss in guavas (Psidium
guajava L.). Fruits of guava (var. Pedro Sato), at green color stage, were stored at
8°C (85-95% RH) for 49 days. Part of the samples was treated with a calcium
chloride solution 2% (w/v) and the other part remained without treatment. They
were individually sealed in two different modified atmosphere packages
(Cryovac PD-900 e Cryovac PD-961). Unsealed and non-calcium treated fruits,
stored at 8°C served as controls. Weight loss, titratable acidity, total soluble solids
and ascorbic acid contents were determined. Sealed fruits showed lower rate of
weight loss than the controls (p<0.05). Degradation rate of ascorbic acid was the
same for calcium treated fruits or non-treated fruits while those wrapped with PD-
900 film retained more ascorbic acid. After 4 weeks, fruits without package were
unsuitable for consumption due to shriveling and fungal attack, whereas all
wrapped ones were in good conditions. After six weeks, only the fruits packaged
with PD-900 film were proper for consumption. The modified atmosphere
packaging reduced weight and ascorbic acid losses and extended the shelf life of
the product. Calcium application did not affect the analyzed characteristics.

Keywords: guava; modified atmosphere packaging; calcium; ascorbic acid;


weight loss; vitamin C.

1 – INTRODUÇÃO

A goiaba é um fruto tropical não climatérico, de sabor e aroma agradáveis e é


considerada uma boa fonte de vitamina C, apresentando altas taxas de respiração e
de perda de massa e uma vida de prateleira relativamente curta [9].

Uma forma de estender a vida útil do produto é através da embalagem em


atmosfera modificada, que é definida como sendo a inclusão de produtos
alimentícios no interior de uma barreira a gases, onde a composição inicial do
meio gasoso foi alterada ou se modificará com o tempo [7]. Um dos maiores
problemas na armazenagem de frutos e hortaliças é a perda de massa por
evaporação de água, o que acarreta alterações de sabor, cor e textura [3]. O uso
deste tipo de embalagem, quando empregada de forma adequada, retarda o
amadurecimento, preservando os seus nutrientes e reduzindo perda de massa [3,
15].

Em goiaba, os sais de cálcio têm sido utilizados na pré-colheita [13] e pós-colheita


[5] visando prolongar a vida de prateleira. O tratamento com cálcio teria a função
de retardar os processos de amadurecimento e senescência de frutos e diminuir a
perda de massa, devido à incorporação deste mineral a estrutura da parede celular,
reduzindo a permeabilidade ao vapor de água e prolongando a vida-de-prateleira
do produto [10].

Neste trabalho foi estudado o efeito da embalagem e do tratamento com cálcio


sobre a perda de massa e sobre a cinética de degradação de ácido ascórbico em
goiabas armazenadas sob atmosfera modificada a temperatura de refrigeração.

2 – MATERIAL E MÉTODOS

2.1 – Matéria-prima

Foram utilizadas 100 goiabas de mesa com polpa vermelha var. Pedro Sato, em
estádio de maturação completo, polpa firme, casca verde, provenientes da região
de Vista Alegre do Alto SP, com massa média de 192 ± 20g. Os frutos fora dos
padrões de massa e estádio de maturação foram descartados, assim como os que
apresentavam manchas, doenças e injúrias mecânicas.

2.2 – Tratamento com cálcio

As goiabas foram imersas numa solução 2% (p/v) de cloreto de cálcio, a 30°C, por
10 minutos. Posteriormente, foram postas para secar à temperatura ambiente,
embaladas, codificadas, pesadas e armazenadas em câmara frigorífica, sem pré-
resfriamento, a 8°C ± 1°C com umidade relativa de 85-95%. Frutos sem
tratamento e sem embalagem serviram de controle.

2.3 – Filmes plásticos flexíveis

Utilizou-se como embalagem dois copolímeros laminados produzidos pela Grace


Ltda., São Paulo, Brasil, com nomes comerciais de Cryovac PD-900 e Cryovac
PD-961. Os dados de densidade, espessura e permeabilidade foram fornecidos
pelo fabricante (Tabela 1). Os filmes foram escolhidos considerando-se essas
características, uma vez que a baixa permeabilidade ao O2 e CO2 não é adequada
para goiabas, que desenvolvem sabor e odor não característicos [14]. As amostras
foram embaladas individualmente em sacos de 30cm de comprimento e 20cm de
largura e seladas com seladora manual.
2.4 – Análises físicas e químicas

As amostras, dois frutos por tratamento, foram escolhidas aleatoriamente e


analisadas a cada 3 ou 4 dias durante a armazenagem (49 dias). Estimou-se a vida-
de-prateleira com base na aparência, uma vez que essa é a principal causa de
rejeição para goiaba [14].

2.4.1 - Perda de massa

As amostras foram pesadas periodicamente em balança semi-analítica. Foram


determinadas as taxas de perda de massa (Nm) através de regressões lineares, que
correlacionaram a perda de massa com o tempo de armazenagem.

2.4.2 - Acidez titulável e teor de sólidos solúveis

A acidez titulável (AT) foi determinada segundo as Normas Analíticas do Instituto


Adolfo Lutz [6] e expressa em % de ácido cítrico. A análise dos teores de sólidos
solúveis totais (SST) foi feita em refratômetro do tipo Abbe. A partir dos dados
obtidos foi, ainda, calculado a relação SST/AT ("ratio").

2.4.3 - Ácido ascórbico

Foi utilizado o método padrão da AOAC [1], modificado por BENASSI &
ANTUNES [2], que substituíram a solução de extração padrão (ácido
metafosfórico) por ácido oxálico. O emprego do ácido oxálico foi testado para
goiabas e observou-se extração eficiente, boa estabilidade e coloração límpida do
extrato. Amostras de 25g foram homogeneizadas com 50g de ácido oxálico 2% em
liqüidificador por dois minutos. Uma alíquota de 20g foi tomada e diluída com a
mesma solução extratora para 50mL em balão volumétrico. Uma alíquota de 10mL
dessa solução foi titulada com 2,6-diclorofenolindofenol 0,01%, sendo o ponto de
viragem detectado visualmente. Cada determinação foi feita em duplicata.

O teor inicial de ácido ascórbico foi determinado pela média de quatro goiabas
escolhidas aleatoriamente antes do início da armazenagem (tempo 0). Os dados de
cada armazenagem foram tratados de maneira a determinar a cinética de
degradação da ácido ascórbico, calculando-se os valores de taxa de degradação de
ácido ascórbico (Naa) e tempo de meia-vida (t1/2) [8].

2.5 – Análise estatística

As correlações lineares entre o tempo de armazenagem e a perda de massa do


produto e o teor de ácido ascórbico, foram calculadas utilizando-se o
procedimento REG e para comparação entre as correlações foi utilizado o
procedimento GLM, ambos do programa SAS [11]. Para cada correlação, foram
computados o nível de significância (P) e o coeficiente de determinação (r2) [4].

3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após 4 semanas de armazenagem a 8°C/85-95% UR, as goiabas sem embalagem,


com e sem tratamento com cálcio, se encontravam impróprias para consumo,
devido ao murchamento, ataque de fungos e manchas na casca, e as embaladas
estavam em bom estado. Após 6 semanas apenas os frutos embalados com PD-
900, sem tratamento com cálcio, estavam próprios para consumo, apresentando
cor amarelo-esverdeada, textura firme à compressão como os dedos e mantendo
sabor característico do fruto.

3.1 – Perda de massa

Os valores de Nm e dos coeficientes de determinação e nível de significância das


correlações de perda de massa em função do tempo estão na Tabela 2. A perda de
massa seguiu uma cinética de ordem zero, correspondendo a uma taxa de secagem
constante, o que é admissível em processos com grande resistência na interface. O
valor médio de Nm para goiabas sem embalagem foi, aproximadamente, 14 vezes
maior em relação às embaladas. Não foram constatadas diferença significativa
entre goiabas embaladas com diferentes filmes, a despeito das diferentes
permeabilidades ao vapor de água (Tabela 1).
Observou-se que o tratamento com cálcio, nas condições estudadas, não afetou
significativamente a taxa de perda de massa da goiaba (Tabela 2). O mesmo foi
constatado por CARVALHO et al. [5], trabalhando com goiabas brancas variedade
Kumagai, para diferentes combinações de concentração da solução de cloreto de
cálcio (0, 4, 5 e 6%) e tempos de imersão (5, 10, 20 e 30 minutos).

3.2 – Acidez titulável e sólidos solúveis

As amostras apresentaram inicialmente valores de 0,41 ± 0,04% de ácido cítrico e


7,6 ± 0,4ºBrix, para AT e SST, respectivamente. Os valores de AT, SST e "ratio" ao
longo do período de armazenagem da goiaba estão na Figura 1. Os resultados
obtidos não apresentaram um indicativo claro de alteração do metabolismo das
goiabas embaladas e/ou tratadas com cálcio em função do tempo de armazenagem.
Observou-se, apenas, uma tendência de aumento da acidez titulável dos frutos que
serviram de controle, devido a perda de massa, e uma pequena redução do teor de
sólidos solúveis de todas as goiabas, causando uma redução no "ratio" ao longo da
armazenagem, com exceção das goiabas embaladas com PD-900 que
apresentaram uma queda mais acentuada. SCALON et al. [12], trabalhando com
morangos armazenados sob atmosfera modificada, também observaram que a
aplicação de cálcio não afetou significativamente características de qualidade do
produto (pH, AT, SST, "ratio").
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Rev. Bras. Frutic. v.23 n.2 Jaboticabal ago. 2001 Curriculum


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doi: 10.1590/S0100-29452001000200015

EFEITO DE INJÚRIAS MECÂNICAS NA FIRMEZA E


COLORAÇÃO DE GOIABAS DAS CULTIVARES PALUMA E
PEDRO SATO 1

BEN-HUR MATTIUZ2 & JOSÉ FERNANDO DURIGAN3

RESUMO - O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito das injúrias mecânicas
por impacto, compressão ou corte na firmeza e coloração de goiabas 'Paluma' e
'Pedro Sato', colhidas no estádio de maturação "de vez" e armazenadas sob
condições de ambiente. Na injúria por impacto, os frutos foram deixados cair, em
queda livre, de uma altura de 1,20 m, sofrendo dois impactos, em lados opostos da
porção equatorial do fruto. Na injúria por compressão, os frutos foram submetidos
a um peso de 3 kg, por 15 minutos. Para a injúria por corte, foram efetuados dois
cortes, no sentido longitudinal dos frutos, de exatamente 30 mm de comprimento
por 2 mm de profundidade. Os frutos injuriados foram colocados em bandejas de
isopor e armazenados sob condições de ambiente (23,4±1 °C, 62±6 % UR). A
firmeza dos frutos submetidos ao impacto e compressão foi calculada pela relação
peso(N)/área injuriada (m2). A evolução da coloração foi feita através de leituras
diárias em reflectômetro Minolta CR 200b, procurando comparar a coloração da
área lesionada com a da área não lesionada do mesmo fruto. Com relação à injúria
por compressão, não se detectou diferença significativa entre as cultivares
testadas, mas com relação ao impacto, os frutos da 'Paluma' tiveram uma firmeza
significativamente maior que os da 'Pedro Sato'. A área injuriada mostrou maior
escurecimento e retardo no amarelecimento, indicado pelo maior ângulo Hue,
típico do amadurecimento de goiabas. Os valores de cromaticidade foram sempre
inferiores nas áreas injuriadas, de ambas as cultivares, indicando menor síntese de
pigmentos carotenóides nessas regiões. Os frutos da 'Pedro Sato' foram
caracterizados como mais escuros e mais esverdeados que os da 'Paluma' ao longo
do período de armazenamento, independentemente das injúrias.

Termos para indexação: Psidium guajava, pós-colheita, impacto, compressão,


corte, firmeza de polpa, coloração.

EFFECT OF MECHANICAL INJURIES ON FIRMNESS AND COLOR OF


'PALUMA' AND 'PEDRO SATO' GUAVAS

ABSTRACT  This work aimed to evaluate the effect of mechanical injuries,


impact, compression or cuts on firmness and epidermal color of fruits of two
guava cultivars, harvested at mature-green ripeness stage at room temperature.
Impact injury was obtained by dropping the guavas twice, from a height of 1.20 m
on a hard surface. Compression injury was done with the fruits submitted to a 3 kg
load for 15 minutes. Cutting fruits obtained cut injury, twice longitudinally to 30
mm in length and 2 mm depth. Injured fruits were placed on trays and stored at
ambient conditions (23.4±1 °C, 62±6 % RH). The firmness of fruits submitted to
impact and compression injuries was calculated by the relationship of weight
(N)/injured area (m2). Epidermal color changes were determined by a Minolta CR
200b reflectometer. Daily color measurement was done to compare the color of the
injured area with the non-injured area of the same fruit. The compression test
indicates that there are no significant differences between the tested cultivars as
for flesh firmness. However, 'Paluma' fruits had better firmness than 'Pedro Sato'
fruits, when submitted to impact damages. The injured area was darker than intact
areas while Hue angle was always higher in these areas, indicating retard in
yellowing, typical of guava ripening. Chroma values were always lower in injured
areas, for both cultivars. 'Pedro Sato' fruits were characterized as darker and more
greenish than 'Paluma' along the storage period, independently of the injuries.

Index terms: Psidium guajava, postharvest, impact, compression, cut, flesh


firmness, color.

INTRODUÇÃO

Atualmente, o cultivo da goiabeira (Psidium guajava L.) está sendo desenvolvido


em mais de 50 países, das áreas tropicais e subtropicais, incluindo também
algumas áreas mediterrâneas, sendo que o Brasil é o segundo maior produtor
mundial desta fruta (WWWGH, 2000).

Dentre as causas de perdas pós-colheita das goiabas, destacam-se aquelas devidas


à ocorrência de injúrias mecânicas, que podem ser agrupadas em injúrias por
impacto, compressão ou corte. Tais injúrias ocasionam danos irreparáveis aos
frutos, prejudicando sua qualidade e provocando conseqüente desvalorização
comercial. Os danos físicos também alteram as reações bioquímicas normais dos
frutos, modificando-lhes a coloração e o sabor, e diminuindo-lhes a vida útil
(Chitarra & Chitarra, 1990).

A suscetibilidade ao dano mecânico é influenciada por vários fatores, como


cultivar, grau de hidratação celular, estádio de maturação, tamanho, peso,
características epidérmicas e condições ambientais sob as quais os frutos se
desenvolveram (Wade & Bain, 1980; Kays, 1991).

Em adição aos típicos sintomas externos e internos, as injúrias mecânicas em


frutos são geralmente acompanhadas por elevado número de respostas
fisiológicas. Essas injúrias promovem freqüentemente o rompimento das células
da epiderme, causando o desenvolvimento de reações enzimáticas e, com isso, o
surgimento de compostos de coloração marrom, responsáveis pela depreciação do
produto (Radi et al., 1997; Samim & Banks, 1993). Em tomates, é comum o
surgimento de regiões amolecidas, assemelhando-se com acúmulo de água,
decorrentes de um manuseio comercial inadequado (Moretti, 1998). Também, de
acordo com esse mesmo autor, a ocorrência de impactos menos severos pode não
causar sintomatologia externa prontamente observável, no entanto, o efeito acaba
repercutindo a "posteriori", produzindo uma injúria interna ("internal bruising").

Objetivou-se avaliar o efeito das injúrias mecânicas por impacto, compressão ou


corte na firmeza e na coloração de goiabas 'Paluma' e 'Pedro Sato', armazenadas
sob condições ambiente.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizados frutos de goiabeiras das cultivares Paluma e Pedro Sato


procedentes do município de Vista Alegre do Alto-SP, colhidos em duas épocas:
janeiro (experimento de impacto) e outubro de 1999 (experimentos de compressão
e corte).

Depois de colhidos, no estádio de maturação "de vez", correspondente à coloração


verde-mate (Pereira, 1995), os frutos foram imediata e cuidadosamente
transportados para o Laboratório de Tecnologia dos Produtos Agrícolas da
FCAV/UNESP  Jaboticabal, onde, após imersão em água fria (15 °C) e clorada
(150 µg de cloro.L-1) por cinco minutos, estes frutos foram submetidos às injúrias
mecânicas. Na injúria por impacto, eles foram deixados cair, em queda livre, de
uma altura de 1,20 m. Cada fruto sofreu dois impactos na região equatorial, em
lados opostos. Para a injúria correspondente à compressão, os frutos foram
colocados em um aparelho onde um bloco exercendo um peso de 3 kg era apoiado,
por 15 minutos, provocando 2 lesões em lados opostos e no sentido longitudinal
dos frutos. Na injúria por corte, foram realizados dois cortes, em lados opostos, de
30 mm de comprimento por 2 mm de profundidade, no sentido longitudinal,
usando-se uma lâmina com 1,1 mm de espessura.

As áreas lesionadas foram demarcadas e os frutos acondicionados, em lotes de


quatro, em bandejas de isopor e armazenados sob condições de ambiente (23,4±1
°C, 62±6 % UR).

A firmeza dos frutos foi obtida conforme o proposto por Mohsenin (1986) e Calbo
& Nery (1995), relacionando-se o peso exercido com a área aplanada dos frutos, e
pôde ser calculada somente nas injúrias de impacto e de compressão. Os
resultados foram expressos em kPa.

Foram efetuadas avaliações diárias da coloração, nas áreas injuriadas e não


injuriadas do mesmo fruto, utilizando-se de reflectômetro Minolta CR 200b, onde
foram determinados os valores de luminosidade (L*), a* e b*. Esses resultados
permitiram calcular o ângulo Hue (cor) e a saturação (Chroma) desta cor,
conforme o recomendado por MINOLTA (1994).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Figura 1, consta a firmeza das goiabas 'Paluma' e 'Pedro Sato' sob dois tipos de
injúrias mecânicas: impacto e compressão. Verifica-se que, com relação à injúria
por compressão, não houve diferença significativa entre as cultivares testadas
(média de 61,88 kPa), mas, com relação ao impacto, os frutos da 'Paluma' tiveram
uma firmeza significativamente maior (2,85 kPa) que os da 'Pedro Sato'(2,49 kPa),
significando uma maior resistência a esse tipo de dano. Isso pode estar relacionado
com as características físicas dos frutos da 'Paluma', que apresentam maior
tamanho e peso, além de epiderme mais lisa e pericarpo mais espesso que a 'Pedro
Sato' (Kavati, 1997). Esses fatores, conjugados ao grau de hidratação celular,
podem ter contribuído para a maior firmeza (Kays, 1991).
Avaliando-se a evolução da luminosidade das áreas lesionadas ao longo do
armazenamento (Tabela 1), observa-se que, apesar de não serem detectadas
diferenças significativas, tem-se que, ao longo do armazenamento, a área injuriada
sempre se apresentou mais escura (decréscimo na luminosidade), em ambas as
cultivares e nos três tipos de injúrias. Quando a célula foi rompida, devido à
magnitude da força empregada, ocorre o extravasamento do líquido celular e sua
conseqüente exposição à ação enzimática, o que promove a oxidação de
compostos fenólicos a quinonas, levando ao aparecimento de pigmentos de
coloração marrom (Radi et al., 1997). Samim & Banks (1993) também
observaram que a áreas injuriadas de maçãs 'Granny Smith' se tornavam mais
escuras que as regiões-controle.

Os frutos da cultivar Pedro Sato apresentam valores médios de L* menores que os


da 'Paluma', mostrando uma maior suscetibilidade ao escurecimento,
independentemente da injúria. Observa-se, com relação ao tipo de injúria, que o
impacto levou a um maior escurecimento aos frutos, para ambas as cultivares. Isso
sinaliza que esta lesão é grave, e foi agravada pelo possível rompimento de células
por ocasião da injúria.

Na Tabela 2, são mostrados os valores do ângulo Hue (cor) nos frutos da 'Paluma'
e da 'Pedro Sato', permitindo notar que a cor, durante o período de
armazenamento, evoluiu do verde para o amarelo, corroborando com o observado
por Lima (1999). Independentemente da cultivar, os valores de Hue foram sempre
maiores nas regiões injuriadas, indicando retardamento no amadurecimento dessas
áreas quando comparadas às áreas não injuriadas no mesmo fruto. Isso
provavelmente se deve às injúrias impostas nesses frutos, que levaram a uma
alteração no processo metabólico normal dessas regiões e, como conseqüência,
houve uma irregularidade no amadurecimento conforme o sugerido por Mohsenin
(1986) e Chitarra & Chitarra (1990). As médias obtidas para a cultivar Paluma
indicam que as injúrias por compressão e corte influenciaram na cor dos frutos,
pois levaram às menores médias.

De acordo com os dados da Tabela 3, observa-se que houve uma tendência de


incremento nos valores de cromaticidade ao longo do experimento,
independentemente da cultivar ou da injúria. O aumento na luminosidade,
conjugado com o aumento na cromaticidade, revela que, nos frutos, à medida que
passavam da cor verde para a amarela, ocorria uma redução nos pigmentos verdes
(clorofila) e acúmulo nos amarelos (carotenóides). Nas áreas injuriadas, os valores
são sempre inferiores ao controle, em ambas as cultivares, indicando uma menor
síntese de pigmentos amarelos naquela região. Isto pode influenciar o poder de
compra do consumidor, visto que a aparência é um dos fatores mais importantes
para a aquisição de um determinado vegetal nas gôndolas dos supermercados.

CONCLUSÕES

Na injúria de impacto, os frutos da 'Paluma' tiveram uma firmeza


significativamente maior que os da 'Pedro Sato', não observado na injúria de
compressão. A área injuriada sempre se mostrou mais escurecida (L*) que a
intacta, assim como houve retardo no amadurecimento indicado pelo maior ângulo
Hue, ao longo do armazenamento. Os frutos da cultivar Pedro Sato mostraram-se
mais escuros que os da 'Paluma'.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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aplanação. Horticultura Brasileira., Brasília, v. 12, n. 1, p. 14-8, 1995.

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KAVATI, R. Cultivares. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO SOBRE A CULTURA DA


GOIABEIRA, 1, 1997. Anais... Jaboticabal:FACV/UNESP-FUNEP-GOIABRÁS,
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KAYS, J.S. Postharvest physiology of perishable plant products. New


York:Van Nostrand Reinhold, 1991. 453 p.

LIMA, M.A. Conservação pós-colheita de goiaba e caracterização tecnológica


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Dissertação (Mestrado em Produção Vegetal)  Faculdade de Ciências Agrárias e
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MINOLTA. Precise color communication: color control from feeling to


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MOHSENIN, N.N. Physical properties of plant and animal material: structure,


physical characteristics and mechanical proprieties. 2. ed. New York: Gordon and
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MORETTI, C.L. A injúria mecânica de impacto e seus efeitos sobre a fisiologia


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Produção Vegetal)  Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 1998.

PEREIRA, F.M. Cultura da goiabeira. Jaboticabal:FUNEP, 1995. 47 p.

RADI, M.; MAHROUZ, M.; JAOUAD, A. Phenolic composition, browning


susceptibility, and carotenoid content of several apricot cultivars at maturity.
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SAMIM, W.; BANKS, N.H. Colour changes in bruised apple fruit tissue. New
Zealand Journal of Crop and Horticultural Science, Wellington, v. 21, n. 4, p.
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WADE, N.L.; BAIN, J.M. Physiological and anatomical studies of surface pitting
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WWWGH. Welcome to the Wonderful World of Guavas Homepage. Distribution.


Disponível em
<http://www.ocf.berkeley.edu/~montymex/guava/guavaintro.html>. Acessado em
29 nov. 2000.

1 Trabalho 265/2000. Recebido: 08/12/2000. Aceito para publicação: 30/05/2001.


2 Doutorando do Curso de Pós-Graduação em Produção Vegetal, FCAV-UNESP.
Bolsista da FAPESP. bmattiuz@yahoo.com.br
3 Prof. Adjunto do Departamento de Tecnologia, FCAV-UNESP.
jfduri@fcav.unesp.br
UNESP  Campus de Jaboticabal, Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane,
km 5, 14870-000 Jaboticabal, SP.

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Pesq. agropec. bras. vol.34 no.1 Brasília Jan. 1999 Curriculum


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doi: 10.1590/S0100-204X1999000100001

CONSERVAÇÃO PÓS-COLHEITA DE FRUTOS DE GOIABEIRA,


VARIEDADE PALUMA1

LUIZ GONZAGA NETO2, AMENAIDE SILVA CRISTO3 e MOHAMMAD


MENHAZUDDIN CHOUDHURY4

RESUMO - Objetivando aumentar a vida útil de frutos da goiabeira (Psidium


guajava L.), variedade Paluma, nos primeiros dezesseis dias pós-colheita, foi
realizado, no município de Petrolina, PE, região do Vale do São Francisco, um
estudo para determinar o efeito da concentração de cálcio (Ca), do ambiente de
armazenamento e do tipo de embalagem, na vida útil da goiaba. Foram estudados
dois ambientes de armazenamento (condições naturais e ambiente refrigerado),
três concentrações de Ca (0,5, 1,0 e 1,5%) e dois tipos de embalagem do fruto
(saco de polietileno transparente e saco de papel- manteiga). Doze tratamentos
foram testados no delineamento de blocos ao acaso, com três repetições, num
arranjo fatorial 3x2x2. Foram determinados os parâmetros: perda de peso e da cor
verde da casca do fruto, e o teor de sólidos solúveis totais. Verificou-se que frutos
da variedade Paluma colhidos "de vez" (frutos completamente desenvolvidos, mas
com a casca verde) mantiveram suas características comerciais por até dezesseis
dias de armazenamento quando foram embalados em saco de polietileno
transparente e sem furo, e armazenado em ambiente refrigerado a 10oC, e 90% de
umidade relativa.

Termos para indexação: goiaba, armazenamento.


POST-HARVEST CONSERVATION OF FRUIT OF GUAVA, VAR. PALUMA

ABSTRACT - The study was undertaken to increase the shelf life of fruits of
guava (Psidium guajava L.) var. Paluma in the post-harvest period in the São
Francisco River Valley (Petrolina, PE, Brazil). Effects of calcium (Ca)
concentration, storing condition and fruit wrapping material in the shelf life of
fruit of guava were studied. Twelve treatments were tested in a randomized
complete block design, in a 2 x 3 x2 factorial arrangement, comprising the
following variables: two storing conditions (natural temperature and refrigerated),
three Ca concentrations (0.5, 1.0 and 1.5%) and two fruit wrapping materials
(transparent poliethylene bag and impervious paper bag). The following guava
parameters were evaluated: weight and peel green color losses and total soluble
solids. It was observed that when the fruit was harvested just before ripening (fruit
reaching complete growth but still with green peel) it maintained its commercial
characteristics for up to sixteen days when wrapped in transparent poliethylene
bag and stored under refrigeration at 10°C and 90% of relative humidity.

Index terms: guava, fruit shelf life.

INTRODUÇÃO

O cultivo de fruteiras no trópico semi-árido do Nordeste brasileiro tem sido, nos


últimos anos, um dos mais atraentes negócios agrícolas.

Essa realidade decorre, não só das condições climáticas propícias a um grande


número de espécies, mas, principalmente, do incremento da área irrigada, que já
totalizava 400.000 ha em 1978 (Gurovich, 1978). Hoje, somente na região do
Submédio São Francisco, existem aproximadamente 100 mil hectares irrigáveis.
Inúmeras fruteiras compõem o elenco de exploração nos diversos pólos de
irrigação do Nordeste, destacando-se, dentre elas, a goiabeira.

A exploração da goiabeira, por se tratar de uma atividade com várias formas de


aproveitamento dos frutos, será uma opção agrícola real no processo de
diversificação da fruticultura regional. A goiabeira conduzida com irrigação, além
da maior produtividade, apresenta duas safras por ano, podendo-se, através de um
manejo tecnológico adequado, direcionar a época da colheita para períodos
propícios comercialmente. Esse direcionamento é importante, pois possibilita, em
tese, ao produtor de goiaba, a comercialização das frutas nos grandes centros
consumidores do País ou no mercado externo, que, não dispondo do produto, em
certas épocas, quase sempre remuneram adequadamente o produtor (Gonzaga
Neto, 1990). É importante frisar, porém, que apesar das possibilidades do
mercado, para que o produtor de goiaba possa competir e barganhar uma parcela
significativa do mercado interno e, principalmente, do externo, na comercialização
da fruta in natura, ele depende, além da época da oferta do produto, da qualidade
do fruto no momento da comercialização.

Os frutos da goiabeira apresentam um padrão climático de respiração (Srisvastava


& Narasimhan, 1967). Por isso, esses frutos, no período pós-colheita, senescem
rapidamente, o que impede seu armazenamento por maiores períodos. Esse
aspecto é de fundamental importância, pois dificulta ou até impossibilita o
produtor de enviar seus frutos a centros consumidores mais distantes, em face das
perdas que ocorrem durante o percurso. É imprescindível, portanto, que se
busquem meios de controlar a respiração e transpiração do fruto na fase pós-
colheita, de modo a se prolongar a "vida de prateleira" do produto (Lopes, 1980).

Este trabalho foi desenvolvido visando determinar o efeito da concentração de Ca,


do ambiente de armazenamento e da embalagem, na vida útil dos frutos de
goiabeira.

MATERIAL E MÉTODOS

Os frutos utilizados no trabalho foram colhidos no estádio de maturação "de vez",


e com um Brix em torno de 9,5, num pomar adulto conduzido no município de
Juazeiro, BA, em área com clima tipo BShw, conforme Köppen, com coordenadas
geográficas 9o 5' de latitude sul e 40o 6' de longitude oeste, com uma altitude de
350 metros. A região tem uma umidade relativa de 45%, temperatura média anual
de 26°C, com mínima de 18°C e máxima de 36°C, e uma precipitação média anual
em torno de 457,6 mm.

A colheita dos frutos foi manual, e realizada durante o período da manhã. Após
essa operação, os frutos foram acondicionados em sacos de papel Kraft, para
prevenir atritos e evitar danos mecânicos, e levados em caixas de plástico de 20 kg
para o laboratório, onde foram armazenados a 20oC durante 20 horas. Após esse
resfriamento prévio, os frutos foram imersos durante 20 minutos nas soluções de
Ca, secados em papel-toalha, pesados, acondicionados e armazenados conforme os
tratamentos previstos. Foram utilizados oito frutos por tratamento, retirando-se
dois, no final do período de armazenamento (16dias), para se fazer as
mensurações.

O experimento foi conduzido em Petrolina, PE, no laboratório de pós-colheita da


Embrapa-Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-Árido (CPATSA),
utilizando-se um delineamento de blocos ao acaso com três repetições, num
arranjo fatorial 3x2x2. Os fatores estudados foram: concentrações de Ca (0,5, 1,0 e
1,5%), tipos de embalagens (plástico transparente e papel manteiga) e ambientes
de armazenamento (condições naturais e local refrigerado, 10oC e 90% de
umidade relativa).

Considerando que o período máximo de armazenamento (16 dias) foi o objetivo


do trabalho, as análises e resultados e discussões aqui apresentados se referem a
esse período.
A temperatura e a umidade relativa do ambiente de armazenamento natural
consideradas foram as médias dos dois parâmetros.

Foram observados os descritores perda de peso e perda da cor verde do fruto, e o


teor de sólidos solúveis totais.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Observa-se, na Tabela 1, que o saco de polietileno transparente foi mais eficiente


que o saco tipo papel-manteiga, no que se refere à perda de peso do fruto, tanto
nas condições ambientais (28oC e 60% de umidade relativa) quanto no ambiente
refrigerado (10oC e 90% de umidade relativa). É importante observar que,
analisando-se a embalagem tipo plástico transparente dentro dos ambientes, ela foi
mais eficiente quando utilizada sob ambiente refrigerado, o mesmo ocorrendo com
a embalagem tipo papel-manteiga. Tavares (1993) informa que em trabalhos
publicados por Lingh & Marthur em 1954 e citados por Wills etal. (1983), a
temperatura ótima para armazenamento de goiaba se situa entre 8oC e 10oC e com
umidade relativa de 85 a 90%. Sigrest (1988b) acrescenta que quanto menor a
temperatura e maior a umidade relativa, menor será a transpiração do fruto. Tais
aspectos explicam por si o maior desempenho das embalagens no ambiente
refrigerado testado neste estudo. Para Sigrest (1988a), a temperatura e a umidade
relativa são os principais fatores a alterar a taxa de transpiração dos frutos, de cuja
magnitude pode depender a senescência e a deterioração da goiaba. Analisando-se
os tipos de embalagens dentro de cada ambiente de armazenamento, vê-se, na
Tabela1, que a menor perda de peso ocorreu quando os frutos foram
acondicionados em sacos de plástico transparente e armazenados sob ambiente
refrigerado (10°C e 90°C de umidade relativa). Observa-se que mesmo em
condições ambientais (temperatura e umidade relativa média de 28°C e 60%
respectivamente) a embalagem de plástico transparente foi superior à embalagem
tipo papel-manteiga. Esse achado pode ser explicado pelo fato de a embalagem de
plástico não permitir que o fruto perca água em excesso para o meio externo,
formando um ambiente interno saturado e permitindo o equilíbrio microscópico
bem mais rápido que o observado com o saco de papel tipo manteiga, o qual
possibilita a perda de água do fruto para o ambiente externo à embalagem. Para
Sigrest (1988b), um aspecto importante da transpiração é a perda de peso do fruto.
Mesmo em condições ambientais, o saco de plástico transparente, quando
comparado com o saco de papel tipo manteiga possibilitou a transpiração do fruto
em menor intensidade, daí a menor perda de peso observada.
Com referência à maior eficiência da embalagem de plástico, dentro do ambiente
refrigerado (10°C e 90% de umidade relativa), pode-se dizer que além da umidade
relativa alta, que não possibilita a perda d'água nos valores ocorridos em
condições ambientais com umidade relativa baixa, a temperatura teve também um
destacado papel. Segundo Lopes (1980), todos os processos biológicos, entre eles
a respiração, são ativados com a elevação da temperatura. De acordo com o
Instituto de Tecnologia de Alimentos (1988), a temperatura afeta a velocidade da
reação dos processos metabólicos, interferindo no tempo de armazenamento dos
frutos. Tavares (1993) informa que, mesmo considerando os aspectos varietais, de
maneira geral as temperaturas mais adequadas para a conservação de goiaba
situam-se na faixa de 7 a 10oC. Pressupõe-se, por isso, que os frutos de goiabeira,
variedade Paluma, armazenados sob condições ambientais, apresentaram taxa
respiratória mais elevada que os armazenados sob ambiente refrigerado, e isso
influencia na menor perda de peso detectada no ambiente refrigerado.

Isso explica, também, por que os frutos, mesmo embalados em papel-manteiga,


perderam menos peso quando armazenados no ambiente refrigerado (Tabela1).

Yagi (1976), em estudo com goiaba colhida em diferentes estádios de maturação,


verificou que as frutas embaladas em sacos de polietileno não perfurados
apresentaram perda de peso inferior a 2%, em relação ao peso inicial.

Considerando o efeito do Ca dentro de cada ambiente de armazenamento, vê-se,


na Tabela1, que não ocorreram diferenças significativas entre as concentrações
experimentais. Analisando-se cada concentração, de Ca, entre os ambientes de
armazenamento, verifica-se, ainda, que todas elas foram sempre mais efetivas,
possibilitando menor perda de peso, quando o fruto foi armazenado sob ambiente
refrigerado, havendo uma tendência de maior eficácia para a concentração de 1%
de Ca. Gorgatti Netto etal. (1966) informam que a aplicação de Ca, em goiaba,
aumenta sua vida útil pós-colheita, porque mantém a firmeza, reduz a taxa de
respiração, e reduz a degradação de pectinas e a incidência de doenças. Para
Gorgotti Netto et al. (1996), a imersão dos frutos de goiabeira numa solução de Ca
a 1%, durante trinta minutos duplica o tempo de conservação da fruta, havendo
menor perda de peso mesmo em temperatura ambiente. Lopes (1980) acrescenta
que deficiência mineral, inclusive de Ca, pode causar alterações nos tecidos dos
frutos e portanto no processo respiratório, podendo alterar o peso do fruto.
Chitarra & Chitarra (1990) informam que essa deficiência é possível ser prevenida
com a aplicação de sais de Ca no fruto após a colheita. Singh et al. (1981), em
estudo com goiaba, evidenciaram que com nitrato de Ca foi possível reduzir a taxa
de respiração, mantendo a qualidade da fruta a 24°C e 85% de umidade relativa,
durante seis dias.

Analisando-se o efeito da concentração de Ca e do ambiente de armazenamento


sobre a conservação da cor verde da casca do fruto, vê-se, na Tabela2, que sob
condições ambientais (28oC e 60% de umidade relativa), todas as concentrações
estudadas apresentaram índices superiores a quatro, havendo diferença estatística
apenas entre as concentrações 0,5 a 1,5%. O índice acima de quatro, registrado
nessa condição, significa que após dezesseis dias de armazenamento os frutos
apresentavam-se com mais de 50% da casca amarela (Lester & Turley, 1990).

Analisando-se ainda a Tabela 2, vê-se que no ambiente refrigerado (10oC e 90% de


umidade relativa), também houve diferença apenas entre as concentrações de 0,5 e
1,5%. É importante observar, porém, que nessas condições os frutos
permaneceram com 50 a 75% da casca verde. Isto evidencia que o efeito do
ambiente refrigerado potencializa e é mais importante que as concentrações de Ca
testados, no que se refere à conservação da casca verde do fruto. Esse fato é
comprovado quando se analisa cada concentração de Ca entre os ambientes de
armazenamento, e verifica-se, na Tabela 2, que todas as concentrações foram mais
eficientes quando os frutos foram armazenados no ambiente refrigerado (10°C e
90% de umidade relativa). É importante observar que, apesar de não diferir
estatisticamente da concentração de 1,0%, a concentração 0,5% apresentou o
menor valor absoluto. Isso significa que os frutos de goiabeira, variedade Paluma,
tratados nessa concentração, apresentavam, após o período de dezesseis dias de
armazenamento, maior superfície verde. Bangerth et al. (1972), a exemplo de
Gorgatti Netto et al. (1996), informam que substâncias que contêm Ca são capazes
de prolongar a vida de armazenamento de muitos frutos, inclusive goiaba, pois
mantêm a firmeza dos tecidos, minimizam a taxa de respiração, e reduzem a
degradação de pectinas e a incidência de doenças.

Analisando-se, ainda, a Tabela 2, vê-se que dentro de cada ambiente de


armazenamento e embalagem de plástico foi superior a embalagem tipo papel-
manteiga, no que se refere à conservação da cor verde do fruto. A embalagem de
plástico, devido, talvez, a menores taxas de transpiração, mantém, ao redor do
fruto, menor temperatura, reduzindo a taxa de respiração do fruto e sua
senescência, em comparação com a embalagem tipo papel-manteiga, o qual
possibilita, com certeza, maior velocidade nesses dois processos biológicos
(transpiração e respiração).

Quando se analisa cada tipo de embalagem dentro dos ambientes de


armazenamento, vê-se, ainda na Tabela 2, que ambos foram mais eficientes na
conservação da cor verde do fruto sob o ambiente refrigerado, vendo-se também
que o índice observado, quando os frutos foram acondicionados na embalagem de
plástico e no ambiente refrigerado, foi o menor deles. Isto indica que a
combinação do saco de plástico e do ambiente refrigerado manteve a maior área
verde no fruto, conservando-o em melhor estado de comercialização após o
período de dezesseis dias após a colheita. Tandon et al (1984), citados por Tavares
(1993), em estudo de pós-colheita de goiaba, com a variedade Allahabad Safeda,
verificaram que após quatorze dias de armazenamento os frutos se apresentavam
próprios para a comercialização. Vasque-Ochoa & Colinas-Leon (1990), citados
por Tavares (1993), concluíram que frutos colhidos no estádio de mudança de
coloração, além de se conservarem por três semanas, mantiveram-se com boa
aparência até cinco dias após o período de armazenamento a 7oC e 80% de
umidade relativa. Segundo Pantistico (1975) citado por Tavares (1993), a
refrigeração é geralmente o método preferido e mais indicado para a conservação
de frutos dependentes do clima, como a goiaba.

Analisando-se os dados, verifica-se, na Tabela 3, que dentro de cada ambiente de


armazenamento estudado não ocorreu diferença significativa entre as
concentrações de Ca, no que se refere ao teor de sólidos solúveis. Observa-se,
porém, que entre os ambientes de armazenamento houve variação no teor de
sólidos solúveis totais em todas as concentrações experimentais. Vê-se que o
ambiente refrigerado (10oC e 90% de umidade relativa) apresentou sempre um
grau Brix mais elevado após os dezesseis dias de armazenamento. Verifica-se,
ainda, que as embalagens testadas não diferiram entre si dentro de cada ambiente
de armazenamento, vendo-se, porém, que as embalagens consideradas
isoladamente foram mais eficientes no ambiente refrigerado, com relação ao teor
de sólidos solúveis totais. Esses dados corroboram informações de Chitarra &
Chitarra (1990) que informam que as baixas temperaturas têm a capacidade de
retardar as atividades metabólicas, reduzindo a síntese e degradação dos
polissacarídeos e carboidratos. Disso resulta a constatação de que, neste estudo, as
condições de temperatura e umidade relativa foram mais importantes para a
manutenção do grau Brix do que o tipo de embalagem utilizada.

Durante o período de desenvolvimento do trabalho foi observada a incidência de


alguns fungos associados à deterioração pós-colheita. Entre eles: Colletotrichum
gloeosporioides, Aspergillus niger, A. flavus, Pestalotiopsis psidii e Rhizobus sp.

CONCLUSÕES

1. Frutos de goiabeira da variedade Paluma, colhidos "de vez" (completamente


desenvolvido, mas com a casca verde), acondicionados em embalagem de plástico
transparente e armazenadas em ambiente refrigerado a 10°C e a 90% de umidade
relativa duram até dezesseis dias.

2. Frutos de goiabeira, variedade Paluma, tratados por imersão, com solução de Ca


a 0,5% ou 1% e armazenados em ambiente refrigerado apresentam vida útil pós-
colheita até dezesseis dias.

REFERÊNCIAS

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YAGI, M.I. Preliminary post-harvest studies on guava fruit. Sudan Journal of


Food Science and Technology, v.8, p.68-73, 1976.

1
Aceito para publicação em 24 de julho de 1998.
2
Eng. Agr., M.Sc., Embrapa-Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-
Árido (CPATSA), Caixa Postal 23, CEP56300-000 Petrolina, PE. Bolsista do
CNPq. E-mail: lgonzaga@cpatsa.embrapa.br
3
Enga Agra, aluna do curso de pós-graduação da Universidade Federal da Bahia.
4
Biológoco, Ph.D., Embrapa-CPATSA.

© 2006 Embrapa Informação Tecnológica

Caixa Postal 04.315


70770-901 Brasília DF Brazil
Tel. +55 61 273-9616
Fax +55 61 340-5483

pab@sct.embrapa.br
Secretaria de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária

http://www.seagri.ba.gov.br/Goiaba.htm

Cultura - Goiaba
Aspectos
Aspectos Gerais Usos da Goiabeira
Botânicos/Variedades

Necessidades Propagação/Formação
Formação do Pomar
da Planta de Mudas

Plantio Tratos Culturais Pragas e Doenças

Colheita Produção/Rendimento Bibliografia

Aspectos Gerais:
Planta originária da América Tropical (sul da América Central e norte da América do Sul). Brasil
foi (1980) o terceiro produtor mundial de goiaba; São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco
responderam, juntos, por 74% da produção anual. Hoje há uma área acima de 3.000 ha
plantados com goiabeira no Vale do São Francisco (Ba). França, Grã-Bretanha, Dinamarca,
Canadá, Suécia, Holanda e Alemanha Ocidental (1988) são países importadores da goiaba
brasileira in natura. Em 1989, o Brasil exportou 370t de goiaba e em 1992 180t.

Inicio

Aspectos Botânicos/Variedades:
- A goiabeira pertence a família Myrtaceae, gênero Psidium com a espécie Psidium guajava L.
destacando-se comercialmente.

- É um arbusto ou árvore de pequeno porte que pode atingir 3 a 6 m de altura, tronco tortuoso,
folhas opostas que se desprendem do ramo quando amadurecem. As flores são brancas,
hermafroditas, isoladas ou em grupos de 2 ou 3, situando-se nas axílas das folhas e nas
brotações de ramos maduros. A fecundação provém de polinização cruzada (abelha/Apis
principal polinizador). Fruto é baga com tamanho, forma e coloração de polpa variada.
Verdoengo o fruto tem poder adstringente.

- A composição por 100 g de polpa é calorias (58), proteína (1 mg), cálcio (15 mg), Fe (1 mg),
Vit. A (0,06 mg), Tiamina (0,05 mg), Vit. C (200-300 mg), Fósforo (26 mg).

Variedades para o Nordeste e exportação:

White Selection of Florida (IPA-PE): frutos arredondados, com 130 g de peso e polpa coloração
branca.
Pentecostes (IPA-PE): frutos piriformes, peso médio 196 g e polpa de coloração amarelada.

Ogawa Branca: planta vigorosa, de boa produtividade, frutos com 300-700 g de peso, ovalados,
polpa espessa muito doce.

Para a Bahia: pesquisa recomenda a ruby Supreme, FEFT e Webber supreme, thai large e
FAO-1. Para o Recôncavo baiano as variedades branca, são-josé e creme arredondada.

Inicio

Usos da Goiabeira:

Folhas: o chá preparado com elas é utilizado para combater desinterias em medicina caseira.

Fruto (goiaba): in natura e maduro é saboreado fresco, sob forma de refrescos, de sucos,
sorvetes; processada a polpa entra na confecção de doces (de corte, em calda, em pasta),
sucos concentrados, polpa congelada, geléias, compotas.

O fruto tem grande importância alimentar e elevado teor em ácido ascórbico. Dizem que a
polpa dos frutos vermelhos é apropriada para a indústria mas, também, é consumida fresca
pelo homem. A goiaba é dos bons fornecedores de Vitamina C.

Inicio

Necessidades da Planta:

Clima: nativa de região tropical a goiabeira vegeta e produz bem desde o nível do mar até
1.700 m de altitude.

Temperatura: abaixo de 12ºC a planta não vegeta; a temperatura ideal para vegetação e
produção situa-se entre 25 e 30º C. Em clima frio, nublado ou chuvoso botões florais não se
abrem.

Chuvas: A goiabeira requer precipitação anual bem distribuida de 1.000 mm embora medre
com chuvas 800 mm e 1.500 mm/anuais. Em regiões onde a estação seca prolonga-se por 5
meses ou mais a goiabeira produz uma só safra.

Umidade Relativa: A faixa mais favorável está entre 50% e 80%.

Solos : Rústica, a goiabeira adapta-se aos mais variados tipos de solo, evitando-se os solos
pesados e mal-drenados e excessivamente argilosos ou arenosos, rasos ou muito ácidos.

Os areno-argilosos profundos, bem drenados, ricos em matéria-orgânica, pH 5,5-6,0 e


protegidos de ventos ou do frio são preferidos pela a goiabeira.

Inicio
Propagação/Formação de Mudas:
- A goiabeira pode ser propagada por sementes (para pomares domésticos) e por enxertia -
borbulhia de placa em janela aberta - para formação de pomares comerciais e por estaquia.

- As sementes devem ser obtidas de frutos fisiologicamente maduros e autofecundados. As


plantas fornecedoras dos frutos devem ser sadias, produtivas e com raízes vigorosas.
Descartar frutos fora de padrão e com problemas físicos ou fitossanitarios. Frutos selecionados
são seccionados ao meio para separar a polpa das sementes; em seguida as sementes são
lavadas em água corrente e colocadas a secar sombra sobre jornal por 48 horas. Secas podem
ser tratadas com fungicida para plantio em seguida ou serem acondicionadas em saco plástico
para armazenamento em até 12 meses (refrigeradas). Um grama pode conter sessenta
sementes (média).

A semeadura pode ser feita em canteiro de terra - sulcos rasos espaçados de 15cm. - ou sacos
de polietileno preto com furos, com domensões 18cm. x 30cm.; o substrato para enchimento
dos sacos deve ser mistura de terra, esterco bem curtido e areia lavada na propoção de 5:3:1.
Em cada saco colocar 3 a 4 sementes; quando as plantas apresentarem 3 a 4 pares de folhas
devem ser desbastadas deixando aquela mais vigorosa. Quando a muda tiver 25cm. de altura
pode ser levada ao campo (pé franco) ou para enxertia em viveiro.

A enxertia é feita em tempo quente e chuvoso em porta-enxertos com 1 ano de idade, com
1cm. de diâmetro, feito a 15cm. de altura. Alcançando 35cm. de altura a muda enxertada é
lavada para plantio em campo. Sugere-se aquisição de mudas enxertadas a viveiristas
credenciados por órgãos oficiais.

As estacas de madeira verde são plantadas 2cm. de profundidade, enraizam em 60 a 70 dias.


São transferidas para saco plástico com 3,5l. de volume (sob repado) até o plantio em campo -
6 meses pós estaqueamento.

Inicio

Formação do Pomar:
Preparo do Solo: compreende roçagem, destoca, aração, gradagem; aração profunda seguida
por 2 gradagens a 3 meses antes do plantio. Em caso de necessidade de calcario aplicar
metade antes e metade após a aração.

Marcação do terreno, coveamento, adubação básica:

Os traçados de plantio em retângulo e em quinconcio são os mais usados; em áreas irrigadas e


em retângulo, os espaçamentos de plantio são 8m. x 5m. ou 6m. x 5m. ou com maior
densidade. De um modo geral utiliza-se espaçamento de 7m. x 7m. e as covas devem ter
60cm. x 60cm. x 60cm., abertas com ferramentas manuais ou trados tratorizados.

A adubação básica é feita pela aplicação de mistura contendo 15 litros de esterco de curral
bem curtido, 500 gramas de superfosfato simples e 100 gramas de cloreto de potássio 30 dias
antes do plantio misturar, esses ingredientes à terra de superficie separada na abertura da
cova. Colocar 300g. de calcario dolomitico no fundo da cova.

Inicio

Plantio:
O plantio deve ser feito no início da estação chuvosa, em dias nublados e frescos; retirar
envoltório de plástico e colocar torrão na cova de tal forma que o colo fique ligeiramente acima
do solo. Efetuar rega abundante se não tiver ocorrido chuvas e amarrar a planta, com fita
plástica larga, a um tutor. Fazer bacia em torno da muda e cobrir com palha ou maravalha.

Inicio

Tratos Culturais:

Controle de ervas: Pratica cultural indispensável que pode ser praticada por meio de capina
manual (mediante coroamento com enxada notadamente na fase de formação do pomar) ou
por capina mecânica (feita cuidadosamente a evitar que as raízes sofram lesões).

O controle por herbicidas ( empresas de médio e grande porte) é feito por uso de produtos a
base de diurom e oryzalina (em mistura), ou ainda a base de dalapon, asulam + paraquat +
diquat.

Podas: De formação: para apresentar copa funcional que permita tratos e facilidade na colheita
a goiabeira necessita de poda de formação desde cedo; a planta deve ser conduzida com uma
só haste até altura de 60cm. quando retira-se a a gema terminal. Até 25cm. abaixo do apice da
planta deixa-se 4 ramos opostos 2 a 2 e orientados para os pontos cardeais e entrando
desencontradamente no caule para formação da copa; após amadurecimento da planta esses
ramos primarios são podados para ficarem com 45cm. de comprimento; daí em diante a copa
deve-se formar à vontade.

Corretivas: Deve-se eliminar brotações que se dirigirem para o solo bem como ramos
entrelaçados para ter-se copa aberta e arejada.

De limpeza: Após a produção anual deve-se eliminar ramos secos, doentes e entrelaçados. Os
ramos inferiores da goiabeira devem estar a uma altura mínima de 45cm. do solo.

De frutificação-raleio dos frutos: Em caso de frutificação excessiva procede-se o raleio


(eliminação) de frutos deixando-se os frutos mais centralizados. A poda de frutificação (ramos
maduros com gema aptas à brotação) só deve ser feita em culturas irrigadas. Flores
localizadas entre o meio e a base do ramo tem maiores probabilidades de frutificar.

Irrigação: Com irrigação a goiabeira apresenta boa produção de frutos e até 2 safras/ano;
irrigação + poda adequada podem orientar a safra para épocas economicamente desejáveis.

Consorciações: A consorciação deve ser feita no período das chuvas na fase de formação do
goiabal com culturas como caupi, milho, tomate rasteiro, melancia. Restrições são feitas para
consorciações em goiabal maduro.

Adubações do goiabal: Analises de solo e foliar e observação visual do pomar podem indicar
necessidades de adubação; caso isso não seja possível adubar segundo recomendação
abaixo, por planta e por vez: 1º ano: 55g. de ureia e 35g. de cloreto de potássio no
"pegamento" e final da estação chguvosa.

2º ano: 65g. de ureia.220g. de superfosfato simples e 50g. de cloreto de potássio no início e no


fim da estação chuvosa.

Pomar safreiro: 170g. de ureia, 450g. de superfosfato simples e 100g. de cloreto de potássio
no início e fim da estação chuvosa.

OBS: Aplicar 20l. de esterco de curral bem curtido por planta no início das chuvas. Os adubos
devem ser lançados no solo, em circulo na projeção da copa e levemente incorporados.
Estudos (fora do Brasil) comprovaram que a prática de adubação foliar é benefica com misturas
de ureia (3%) e acído borico (0,3%) e de sulfato de zinco (0,2 a 0,4%) induziram maturação em
menor período, frutos maiores e de melhor qualidade, além de maior "pegamento" do fruto.

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Pragas e Doenças:

Pragas:
Broca-da-goiabeira: Timocrata albella Zeler 1939 - Lepidoptera.

A lagarta violeta-amarela depreda tronco e ramos como resultado formam-se aglomerados de


excrementos ligados por fios de seda à pedaços de casca. O adulto é uma mariposa.

Controle: ao primeiro sinal de ataque ou pulverizações preventivas são feitas com inseticidas
fosforados (paratiom, malatiom). Em infestação mais intensa a superfície do tronco ou ramo
deve ser raspada (escova, luva) para expor o inseto - que é destruido - e em seguida pincela-
se a área afetada com calda de carbaryl e oxicloreto de cobre.

Gorgulho-das-goiabas: Conotrachelus psidii, Marshall, 1922 - Coleoptera.

Ataca frutos, tornando-os imprestaveis para consumo; adulto é besouro pardo escuro e forma
jovem é lagarta creme, cabeça parda, sem patas. A fêmea do besouro faz postura em frutos
verdes e no local de postura assemelha-se a um ponto preto que torna-se cicatriz deprimida. A
lagarta alimenta-se das sementes e induz a uma podridão seca no fruto.

Combate: pulverizações preventivas dos frutos - a partir do tamanho de azeitona - com


inseticidas organo-fosforados; ensacamento do fruto nesse estadio, com papel resistente à
umidade, também é forma de controle.

Mosca-das-frutas: Anastrepha sp., Ceratítis capitata - Diptera.

Mosca que ovipõem dentro do fruto; daí saem lagartas afiladas, cremes, sem patas, que se
alimentam da polpa. "Maduras" abandonam o fruto e deixam entrada para podridões.

Controle: determinação da intensidade de ataque (frascos caça-moscas) e pulverização do


pomar (produtos fentiom 50 CE, triclorfom 50 S, malatiom, 50 E, ); enterrio, a 70cm. de
profundidade de frutos caídos ao chão.

Outros: Besouros de folhas, psilideo das folhas, percevejos também atacam a goiabeira.

Doenças:
Ferrugem - fungo Puccinia psidii, Vent.

Agente causal ataca tecidos novos de varios órgãos (folhas, gemas, flores, frutos). Os sintomas
são lesões necróticas, arredondadas, com formação de pustulas pulverulentas amarelo-
alaranjadas.

Controle: poda de limpesa (maior aeração da copa), controle de ervas daninhas, aplicação
preventiva e curativa em pulverização de produtos quimicos à base de triadimefom, mancozeb,
oxicloreto de cobre, chlorotholonil.

Seca-bacteriana - (bacteriose)
Agente causal bacteria Erwinia psidii, apresenta-se nas extremidades do ramo provocando
murchamento repentino dos brotos terminais (ficam avermelhados). Ocorre também em flores e
frutos até metade do desenvolvimento.

Controle: evitar podas ou colheita quando planta estiver umedecida por orvalho, chuva ou
irrigação, podas de limpesa (aeração da copa) eliminar - queimar - ramos atacados, desinfetar
ferramentas (água sanitária - 1:3 em água) pulverização com produtos cuprícos (da brotação
do fruto até 3cm. de diâmetro).

Outras: Verrugose, antracnose também afetam a goiabeira.

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Colheita:
Efetuar colheita nas horas mais amenas do dia, evitar pancadas ou danos mecânicos no fruto.
Colher fruto plenamente desenvolvido e no estágio de "de vez", no máximo; colher 2-3 vezes
por semana. Goiabas redondas são classificadas em.

Extra (15-21 frutos/caixa), especial (24-32 frutos por caixa) e primeira (35-45 frutos por caixa).

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Produção/Rendimento:
Em áreas irrigadas a produção alcança niveis superiores a 120 Kg/planta/ano e 10-15
toneladas de fruto/hectare.

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BIBIOGRAFIA CONSULTADA

Editora Abril S.A

- Guia Rural Plantar - 1991


- Guia Rural Pomar - 1990
- São Paulo - SP.

Empresa Baiana de Pesquisa Agropecuaria


- Instruções Práticas para o cultivo de frutas tropicais.
- Circular Técnica nº 9 - maio 1984
- Salvador - Bahia

Ministério da Agricultura, Abastecimento e Reforma Agrária - SDR - Frupex


- Goiaba para Exportação: Aspectos Técnicos da Produção
- Embrapa - SPI
- Brasília, DF - 1994.

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Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária

http://www.editora.ufla.br/Boletim/pdfexte
nsao/bol_27.pdf
1Aluno de graduação/UFLA
2Aluno de Pós-Graduação em Fitotecnia/UFLA
3 Professor de Fruticultura do Departamento de Agricultura/UFLA

CULTURA DA GOIABEIRA
Rafael Pio2
Márcio Ribeiro do Vale3
Keize Pereira Junqueira1
José Darlan Ramos3
1 Importância da Cultura
A goiaba tem grau de aceitação nos mercados interno e
externo, sendo uma das principais matérias-primas utilizadas pela
indústria brasileira de conservas, permitindo várias formas de
aproveitamento.
Atualmente se tem uma alta demanda por polpa congelada
de goiaba no País, tanto para indústria de sucos como para a
produção de sorvetes, doces e geleias.
Esta fruta apresenta um dos maiores teores de vitamina C,
com valores superiores em até seis vezes aos do fruto cítrico,
que é uma fonte tradicional dessa vitamina. A goiaba se destaca
6
ainda pelo seu elevado conteúdo de açúcar, vitamina A e vitaminas
do grupo B.
A espécie produz em praticamente todo o território brasileiro,
desenvolvendo-se satisfatoriamente em quase todo o tipo de
clima e solo. Para otimizar a produção quantitativa e
qualitativamente,
é fundamental que haja maior incremento do nível técnico
dos cultivos, desde o plantio de variedades selecionadas até os
cuidados com a apresentação dos frutos destinados ao mercado.
O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de goiaba. Os
Estados de São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco respondem,
juntos, por aproximadamente 74% da produção nacional da fruta.
Tem sido exportada quase que exclusivamente para a Europa,
por via aérea, cujo mercado tem nítida preferência por frutas de
aroma e sabor delicados, e de frutos de primeira qualidade, com
uma ótima apresentação visual.
Na comercialização da fruta, exigem-se bom aspecto, tamanho
proporcionalmente grande e sem defeitos na aparência,
característica que exerce uma grande atração no consumidor. No
mercado para consumo in natura, as frutas são classificadas pelo
seu tamanho, aparência e estado de maturação.
As exportações brasileiras de goiaba são insignificantes,
devendo-se isso a diversos fatores, entre os quais: o pouco
conhecimento
do produtor por parte dos consumidores nos mercados
externos, a fragilidade do produto na fase pós-colheita, falta
7
de tradição do Brasil como exportador de frutas e o fato de o preço
final de venda no mercado externo ser elevado.
2 Clima e Solo
A goiabeira (Psidium guayava), da família Myrtaceae, é uma
frutífera brasileira, originária de regiões de clima tropical e
subtropical,
vegeta e produz satisfatoriamente desde o nível do mar
até a altitude de 1.700 metros. É uma planta relativamente
resistente
à seca, exige temperaturas médias anuais superiores a
22°C e adapta-se bem a noites de temperaturas amenas. A
temperatura
é um dos fatores climáticos que mais influenciam no
desempenho da goiabeira em produtividade e qualidade.
Adapta-se melhor em solos areno-argilosos, devendo ser profundos,
drenados, com faixa de pH entre 5,5 a 6,8 e preferencialmente
cultivados antes com outras culturas, para reduzir o custo
de correção da acidez e elevação da matéria orgânica. A planta
não se desenvolve em terras encharcadas ou úmidas.
3 Escolha da Variedade
Os pomares de goiabeira das principais regiões produtoras
dos Estados brasileiros são formados por plantas oriundas de
8
sementes, o que tem provocado a variabilidade da oferta e da
qualidade dos frutos produzidos.
Diante da necessidade de instalar pomares com germoplasma
caracterizado e selecionado em função da finalidade de
produção, vêm sendo desenvolvidas, no sentido de serem
introduzidas,
selecionadas, propagadas e difundidas, plantas de
comprovada qualidade agronômica. Assim, há hoje nos Estados
de São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco, entre outros, pomares
instalados com germoplasma selecionado, em que as variedades
são as seguintes:
3.1 Frutas para Mesa
O consumidor tem preferência pelo consumo de goiaba
vermelha, com casca enrugada e predominância verde, com
poucas sementes, adocicada e com tamanho médio de 350 g.
Nesse padrão, encontramos as variedades Pedro Sato (30 t/ha),
seleção de Brasilândia (30 t/ha), Rica (40 t/ha) e Paluma (60 t
/ha). Outras opções de cultivares de polpa vermelha, mas de
casca lisa, são: Ogawa n° 1 e n° 3, e Triplóide (cultivar sem
semente).
As outras, ou seja, as brancas, apesar de terem mercado
de menor volume, encontram demanda principalmente para frutas
selecionadas. Ex: Kumagai (20 t/ha) e Ogawa Branca n° 1.
9
3.2 Frutas para Indústria
A indústria de doces absorve mais goiabas de coloração
vermelha intensa, com elevado teor de sólidos solúveis (SST),
elevado teor de Brix, maturação homogênea e pouca quantidade
de sementes, independentemente do tamanho médio do fruto (60
a 250 g.).
Algumas cultivares, como a Paluma e Rica, podem ser
destinadas para o mercado de frutas frescas ou para a indústria.
4 Polinização
As flores da goiabeira são hermafroditas. Ocorre a abertura
das anteras e a receptividade do estigma durante a abertura
da flor, sem incompatibilidade. Ocorre 35% de polinização cruzada,
e o pegamento dos frutos é de 20%.
4.1 Natural
O ciclo produtivo ocorre durante o período em que predominam
calor e umidade elevadas. O potencial genético, associado
aos fatores edafoclimáticos poderão influir fortemente a produção
e a produtividade da goiabeira.
10
4.2 Induzida
Deve-se considerar, nesse caso o conjunto dos seguintes
fatores: adubação, poda e irrigação, a planta é preparada para
produzir fora do período da safra. Deve-se, acima de qualquer
meta de produção, estabelecer um programa rigoroso de controle
de qualidade dos frutos, pois só assim haverá a possibilidade de
conquistar o mercado externo.
5 Propagação
5.1 Semente
Apesar de ser ainda utilizada, a propagação por sementes
tem reduzida importância, por causa da excessiva variação do
tipo de planta que se forma no pomar, dificultando até mesmo o
manejo das podas de frutificação.
5.2 Estaquia
A estaquia herbácea é atualmente o método de propagação
da goiabeira mais adequado, que consiste na clonagem
(multiplicação de uma mesma matriz) por meio do enraizamento
11
de “ramos ponteiros” de uma plana altamente produtiva, da qual
são retiradas até duas mil estacas, por ciclo, após a poda. Esse
método permite a obtenção de um pomar uniforme, iniciando a
primeira safra no oitavo mês após o plantio, uma segunda safra
após 18 meses, e a partir daí, de seis em seis meses após a poda.
A muda de estaquia pode ser comercializada no tipo vareta
com haste única ou pernada com ramos primários já formados,
podendo ser transportada com raiz nua ou em torrão. O processo
de produção por mudas de estaquia exige estrutura de controle
de umidade e temperatura para garantir o enraizamento.
5.3 Borbulhia
A propagação por enxertia é realizada sob viveiro coberto
com tela plástica de 50% de luminosidade. As mudas podem ser
feitas por este método, lembrando-se que no verão esse método
propicia melhor pegamento. A copa (matriz) é enxertada sobre
um cavalo (porta-enxerto) proveniente de semente, o que aumenta
o vigor da planta. É o processo mais rápido e eficiente para se
propagar uma goiabeira selecionada.
Na borbulhia de placa ou janela aberta, inicialmente fazem-
se no porta-enxerto duas incisões transversais e duas
longitudinais,
retirando-se a casca contida no retângulo, de modo que
a área a ser ocupada pela borbulha fique livre. A borbulha ou
12
gema é retirada do ramo fazendo-se duas incisões transversais e
duas incisões longitudinais iguais às praticadas no cavalo ou
porta-
enxerto, de modo a se obter um escudo idêntico à porção de
casca dele retirada. A seguir, a borbulha é embutida no retângulo
vazio, devendo ficar inteiramente em contato com os tecidos do
cavalo. Em seguida, fixa-se o escudo com amarrio.
Os cavalos podem ser enxertados com diâmetro de 1 a 4
cm, sendo o mais indicado com o diâmetro e 1,5 a 2,5 cm. A altura
mais indicada para se colocar a gema varia de 10 a 12 cm acima
do solo.
Na borbulhia simples ou T normal, a casca do portaenxerto
recebe uma incisão em forma de T, na qual se insere a
borbulha retirada da planta-matriz, levando-se os bordos da casca
que se encontram no ponto e bifurcação do T para facilitar a
inserção.
Nos meses de dezembro a fevereiro, os processos de borbulhia
dão melhores resultados, destacando-se como mais eficiente
o método de borbulhia de janela.
5.4 Garfagem
A garfagem é um processo que consiste em soldar um pedaço
de ramo (garfo), destacando da planta-matriz a propagar,
sobre outro vegetal (cavalo), de maneira a permitir o seu
desenvolvimento.
Os tipos mais usados em goiabeira são: garfagem de
13
cunha lateral, garfagem do topo em fenda cheia e garfagem no
topo a inglesa simples.
A garfagem de cunha lateral consiste simplesmente em
um garfo afilado em forma de cunha que se insere em uma fenda
diagonal feita no cavalo. A garfagem no topo em fenda cheia ou
de cunha terminal consiste essencialmente em decepar o topo do
cavalo e fazer uma fenda vertical de 2 a 3 cm, onde se insere
imediatamente um garfo em forma de bisel. A garfagem do topo
a inglesa simples consiste tão somente no corte em bisel no
cavalo
e no cavaleiro. Unem-se as partes, que são, a seguir, amarradas
firmemente (figura 1).
Em relação ao método de enxerto de garfagem em placa
sob casca, sabe-se que ele necessita de porta-enxertos de 1,5 a
2 anos de idade e tendo de 1,5 a 3 cm de diâmetro. O enxerto
deve-se ter, em princípio, o mesmo diâmetro; mas, com um porta-
enxerto grosso, pode-se usar um enxerto menor.
A garfagem mostra-se mais eficiente quando realizada nos
meses de junho a outubro.
14
Figura 1: Etapas de enxertia tipo garfagem lateral no topo ou inglesa simples
6 Implantação do Pomar
6.1 Marcação das Curvas de Nível e
Terraceamento
Realiza-se inicialmente um levantamento planialtimétrico
com locação de divisas, estradas principais e secundárias, fontes
hídricas, estrutura física existente e a ser construída. Devem ser
feitas também marcação e execução de práticas
conservacionistas,
abertura de carreadores, divisão de área em glebas ou talhões,
de acordo com o alinhamento e espaçamento a ser utilizado
e correção do solo, com base nos resultados da análise de
solo. Deve-se aplicar 50% de calcário dolomítico, na dosagem
recomendada, a lanço, em toda a área. Em seguida, é realizada
15
uma aração profunda, distribuindo-se a segunda metade do
calcário,
mais 80% da dosagem recomendada de gesso agrícola,
fazendo, finalmente, gradagem para destorrar.
O espaçamento entre as covas é determinado pelas
características
da variedade escolhida e pelo sistema de condução:
Frutos para mesa: É recomendado pomar menor que cinco
ha dividido em talhões de um ha, para facilitar a realização de
tratos culturais e colheita:
- 7 X 7 m: Cultivares de crescimento lateral, como Kumagai e
Ogawa n° 3.
- 6 X 6 m: Cultivares de porte ereto, como Ogawa n° 1, Pedro
Sato, Paluma e Rica.
- 6 X 3 m: Qualquer cultivar conduzida pelo sistema espaldeira.
Frutos para indústria: Pomares podados anualmente para
redução e adequação de copa:
- 7 X 7 m e 7 X 6 m: Paluma.
- 7 X 5 m: Rica.
6.2 Abertura e Preparo de Cova
Em solos tipo latossolo, deve-se abrir covas de 60 X 60 X
60 cm, separando-se a terra dos primeiros 30 cm das demais.
Deve-se aplicar calcário dolomítico na base de 100 g. para cada
tonelada recomendada por hectare, nas duas porções de solo
16
retirado do coveamento. Aplicar mais 20 litros de esterco de curral
curtido, 1000 g. de superfosfato simples, 250 g. de cloreto e
potássio bem misturados a terra, 20 dias antes do plantio.
Figura 2: Abertura e preparo de cova para plantio de goiabeira.
6.3 Plantio
O plantio deve ser realizado preferencialmente no início da
estação chuvosa, um mês após o preparo da cova. Durante a
operação de plantio, deve-se deixar três cm do torrão da muda
acima do nível do terreno para evitar afogamento do coleto.
Em seguida, deve-se fazer o embaciamento para acomodar
pelo menos 40 litros de água. Para assegurar o crescimento
vertical do tronco, a muda deve ser tutorada e desbrotada
periodicamente.
17
7 Tratos Culturais
7.1 Podas
Com a poda objetiva-se principalmente equilibrar o formato
da planta, favorecer o arejamento, insolação e uniformizar a
produção,
aumentando a produtividade e a facilidade da colheita. A
goiabeira produz flores e frutos nos ramos formados no ano
anterior,
motivo pelo qual não se deve podar um ramo sem pensar
nas conseqüências para o ano seguinte.
É fundamental a adubação equilibrada 30 dias antes e irrigação
após ser realizada a poda, para garantir o vigor das brotações.
Deve ser respeitado o equilíbrio entre a raiz e a copa da
planta, para maior vigor, pois a retirada excessiva de folhas e
ramos debilita a planta.
a) Poda de Formação
Após a muda ser transplantada para o local definitivo, deve-
se realizar tratamentos adicionais, com o objetivo de conduzir
os ramos harmonicamente na copa, evitando-se o abafamento e
sombreamento excessivo nos ramos.
As mudas tipo vareta formarão as pernadas mediante a
poda de desponte, que deve ser realizada 80 cm acima do colo,
o que ocorre cinco meses após o plantio.
18
Nos primeiros 20 cm acima do solo, deve-se eliminar todas
as brotações laterais e a partir daí, contar 4 a 5 pernadas
distribuídas, preferencialmente nos 40 cm seguintes, quando se
realiza novo desponte a 60 cm, em todos os sentidos: Norte, Sul,
Leste e Oeste, porém sem partirem do mesmo ponto de inserção.
b) Poda de Frutificação
A goiabeira tem hábito de frutificar em ramos do ano, mais
externos e altos da copa. A poda de frutificação é realizada para
estimular a produção de ramos com flores e frutos em qualquer
parte da planta.
A frutificação ocorre nos meses mais quentes e úmidos,
geralmente de outubro em diante. Já o florescimento se dá no
ramo o ano todo, no ponto onde as folhas estão presas. Se em
um ramo não surgir botão floral até o 3° ou 4° par de folhas, sua
gema será vegetativa, devendo ser podada quando maduro, para
produzir no ciclo seguinte.
A poda de frutificação divide-se em contínua e total. Na poda
contínua, os ramos são podados o ano todo, de tal forma que a
planta apresenta brotações constantes, proporcionando produção
de botões florais e, conseqüentemente, frutos, com a vantagem
de se ter produção contínua e desvantagem de tornar a
planta vulnerável à bacteriose, pois, tecidos mais novos são mais
19
suscetíveis. Já a poda total consiste em proporcionar brotações
uniformes, sendo realizada em toda a planta, dando a vantagem
de tornar a planta menos suscetível ao ataque de bacteriose.
Recomenda-se para planta vigorosa, uma poda mais longa (6 a 7
pares de folhas), e para plantas menos vigorosas, uma poda
mais curta (2 a 3 pares de folhas).
7.2 Nutrição e Adubação
Como qualquer planta, a goiabeira necessita de elementos
para vegetar, produzir, tolerar as diversas condições climáticas
adversas e a incidência do ataque de pragas e doenças. Os adubos
a serem fornecidos para a planta devem fornecer todos os
elementos necessários para a mesma, de forma equilibrada e
balanceada. Todas as adubações devem ser feitas de acordo
com as análises de solo e, oportunamente, complementado-se
com a análise foliar.
7.2.1 Adubação de Formação
A adubação de formação deve ser realizada do pegamento
das mudas até a idade de 3 a 4 anos.
Do plantio até o primeiro ano de idade, recomenda-se aplicar
os fertilizantes ao redor da coroa, em toda a volta da planta,
num raio aproximadamente de 0,3 m de largura. Do 1° e 2°
20
anos em diante, recomenda-se aplicar os fertilizantes ao redor da
coroa, em toda a volta da planta, na projeção da copa, num raio
de aproximadamente 0,6 m de largura.
Após o plantio e o pegamento da muda, recomenda-se aplicar,
a cada 60 dias, 100 g de sulfato de amônio por planta, durante
a estação da chuva.
A recomendação da adubação de acordo com a 5a aproximação
para o Estado de Minas Gerais é a seguinte:
Tabela 1: Adubação de crescimento e formação de mudas
de goiabeira (5° Aproximação).
Quantidade (g/cova)
1° ano após plantio
N P2O5 K20
80 80 90
2° ano após o plantio
120 100 120
Adubações com nitrogênio e potássio devem ser feitas
parceladamente em três vezes (outubro, janeiro e abril); com o
fósforo, deve-se fazer a adubação posteriormente, em uma única
aplicação, no mês de outubro.
21
7.2.2 Adubação de Produção
Deve ser realizada a partir do 3° ano de instalação do pomar,
quando as plantas estiverem em plena época de produção.
Nesse período, a adubação visa a atender às exigências
nutricionais,
tanto para a manutenção da planta como para a exportação
de nutrientes para os frutos. A adubação deve se fundamentar
nas exigências nutricionais da planta, avaliadas mediante
análises anuais de solo. As doses, como ocorre na adubação de
formação, levam em conta as características do pomar, tais como:
idade das plantas, tipo de solo e índice pluviométrico.
A adubação de manutenção segundo a 5a aproximação
para o Estado de Minas Gerais deve ser realizada conforme a
Tabela abaixo:
Tabela 2: Quantidades de N, P e K aplicados após o 3°ano de
plantio e anos seguintes (5° Aproximação).
Quantidade (g/cova)
3° ano após o plantio e anos seguinteÉpocas s
N P2O5 K20
Setembro 30 120 -
Outubro 100 - 90
Janeiro 20 - 60
Total 150 120 150
22
A aplicação de micronutrientes é fundamental, devendo
ser verificadas as deficiências nutricional via análise foliar,
coletando-
se o terceiro e quarto par de folha de um ramo localizado
na parte mediana da copa. A adubação foliar pode ser feita em
operação combinada com defensivos agrícolas, desde que não
haja incompatibilidade entre os fertilizantes foliares e os mesmos.
Em solos tropicais, a queima de matéria orgânica (mineralização)
é intensiva. Por esse motivo, sempre que possível, a adubação
orgânica deve ser efetuada, especialmente, em solos
arenosos.
Recomenda-se aplicar 12 litros de esterco de curral no 2°
e 3° anos e 25 litros anualmente por planta na fase adulta, sobre
a superfície do solo numa faixa da periferia da copa.
7.3. Controle de Plantas Daninhas
As plantas invasoras causam uma série de transtornos no
pomar, e seu controle é indispensável, especialmente nos pomares
recém-instalados, pois atrasam o crescimento das fruteiras e
favorecem o aparecimento de pragas e doenças que dificultam
as operações de inspeção no pomar.
Para pomares novos e plantados com espaçamento longo,
recomenda-se fazer uma roçada manual na linha e mecanizada
na entrelinha. Para pomares adultos, recomenda-se controle
químico com jato dirigido para as invasoras em pré ou pós23
emergência. Os herbicidas mais recomendados para o controle
das invasoras em goiabeira são o Diuron ou Simazina e o Paraquat.
8 Cultura Intercalar
A prática de intercalar culturas em pomares de goiabeira
poderá ser adotada, embora apresente algumas restrições, como
a possibilidade única de adoção do método de irrigação por
aspersão.
Entre as culturas que podem ser consorciadas com a goiabeira,
desde que se use irrigação por aspersão, incluem-se o
caupi, milho, tomate industrial, melancia, entre outras.
É importante frisar, entretanto, que em virtude do alto padrão
de qualidade exigido pelo mercado importador de frutas
frescas, não se aconselha a prática da consorciação.
A consorciação poderá e deverá ser incentivada apenas
na fase de formação do goiabal, até mesmo como um possível
meio de amortizar parte do investimento financeiro realizado ou
de agilizar o seu retorno.
24
9 Principais Doenças
A goiabeira é uma planta muito atacada por fungos e bactérias,
exigindo-se para o controle a aplicação de várias pulverizações.
Para haver uma redução nas pulverizações, deve-se utilizar
o controle integrado (cultural + químico).
a) Bacteriose (Ervinia psidii)
A bacteriose é uma das mais graves doenças em conseqüência
dos danos que causa. Os sintomas manifestam-se nas
extremidades dos ramos novos, nas folhas mais velhas e nas
flores e frutinhos. Flores e frutos atacados tornam-se secos,
enegridos,
como que mumificados.
A doença torna-se mais grave em condições de calor e
umidade elevada. Para controle, deve-se adotar algumas medidas
culturais, como: eliminação de ramos infectados e poda total
em condições de grave incidência, seguida de aplicação de calda
sulfocálcica, pulverização quinzenal com produtos à base de
cobre:
e limitação da adubação nitrogenada. As podas devem ser
realizadas no período em que as plantas não estejam molhadas.
Os fungicidas à base de cobre podem ser fitotóxicos para frutos
com mais de três cm de comprimento.
25
b) Ferrugem (Puccinia psidii)
É uma das doenças fúngicas mais importantes da goiabeira.
O fungo pode infectar brotos, folhas novas, botões florais, frutos
novos e em desenvolvimento. Inicialmente, aparecem pontuações
amarelas ou alaranjadas que, com o tempo, coalecem,
formando sobre os tecidos infectados uma massa amarelada ou
alaranjada.
Para o controle, recomendam-se podas programadas, para
que as brotações novas e a frutificação não sejam emitidas em
período favorável para a doença; aplicação de fungicidas cúpricos,
até os frutos atingirem três cm de comprimento, ou fungicidas
à base de maneb ou mancozeb de 120 a 160 gramas para
cada 100 litros de água.
c) Antracnose (Colletotrichum gloeosporioide Penz)
É uma doença que pode causar danos severos nos pomares.
Temperaturas amenas em torno de 22°C e alta umidade relativa
favorecem a doença. O sintoma característico é a queima
dos bordos foliares.
Como medidas de controle, recomenda-se: limpar o pomar
e queimar os resíduos da poda, fazer colheitas freqüentes sem
deixar nenhum fruto na planta, realizar adubações equilibradas,
controlando as doses de nitrogênio, pulverizar com fungicidas
26
cúpricos quando os frutos estiverem com menos de três cm de
comprimento e evitar o ensacamento de frutos durante o período
favorável à doença.
d) Podridão-parda-dos-frutos (Dothiorella dominicana):
Esta doença se desenvolve com mais freqüência em flores
e frutos em desenvolvimento. Nas flores, ocorrem inicialmente
lesões pardo-amarelas de tamanho variado, que progridem das
pétalas em direção ao pedúnculo, provocando o secamento e
queda destas. Já nos frutos, também são observadas pequenas
lesões pardo-amarelas no ápice que, mais tarde, vão se se
tornando
escuras, enquanto os tecidos recém-colonizados pelo patógeno
continuam com a coloração pardo-amarela. Com o tempo,
essas lesões se coalecem e progridem rapidamente em direção
ao pedúnculo, tomando todo o fruto. Os sintomas nos frutos
maduros e na fase pós-colheita são semelhantes a àqueles
iniciados
em frutos verdes, mas, nesse caso, ocorre podridão mole e
fermentação na polpa, tornando-se impróprio para o consumo in
natura e para a indústria.
Como medida de controle, recomendam-se a mesmas
medidas indicadas para bacteriose, ou aplicam-se
sistematicamente
fungicidas à base de mancozeb ou cobre.
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e) Podridão-de-frutos (Phyllosticta psidicola):
Os sintomas são inicialmente caracterizados por pequenos
pontos amarelados que evoluem rapidamente na superfície dos
frutos, formando lesões deprimidas, escuras, circulares, podendo
coalecer. Nas áreas próximas ou sob as lesões, a polpa apresenta
uma podridão mole.
Como medidas de controle recomendam-se as mesmas
adotadas para o controle da ferrugem e para a bacteriose. Na
pós-colheita, os frutos colhidos podem ser imersos em uma calda
de prochloraz a 0,025 % aquecidos a 50°C por 2 minutos.
10 Principais Pragas
As pragas surgem em diferentes intensidades durante o
desenvolvimento da cultura. O mais importante e seu respectivo
método de controle está descrito a seguir.
a) Mosca-das-frutas
A mosca-das-futas é considerada o principal problema da
cultura. Isso se deve ao fato de que, além dos danos internos por
ela causados, inviabilizando o fruto para o consumo in natura,
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são grandes as barreiras internacionais impostas à importação
de frutas atacadas.
Como controle cultural, recomenda-se o ensacamento dos
frutos quando esses estiverem ainda jovens. Os produtos químicos
mais utilizados para o controle das mesmas são o Dipterex
500 (trichlorfon) na dosagem de 0,3% ou o Lebaycid 500
(deltamethrina)
0,1%.
b) Gorgulho
Dentre os insetos considerados pragas da goiabeira, o
gorgulho merece especial atenção, pois, ao atacar os frutos, torna-
os imprestáveis para a comercialização in natura, sobretudo
para a exportação.
O inseto adulto é um besouro de aproximadamente 6 mm
de comprimento, 4 mm de largura e coloração pardo-escura. O
ataque decorre da postura das fêmeas em frutas verdes, ainda
em desenvolvimento. O local de postura pode ser identificado,
porque visto a distância há a impressão de um ponto preto. Com
o desenvolvimento do fruto, esse ponto escuro torna-se uma
cicatriz
deprimida, escurecida no centro. Além da depreciação externa
do fruto, que o desqualifica para a exportação, internamente
as larvas se alimentam das sementes.
Recomendam-se o ensacamento dos frutos e a aplicação
de Folidol 600 (parathion metílico) 0,1%.
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c) Besouro-amarelo
É uma praga que causa sérios prejuízos para a cultura,
uma vez que ela se alimenta das folhas da planta. O inseto adulto
é extremamente ágil, tem coloração amarelo-clara e mede
aproximadamente
de 5 a 6,5 mm de comprimento. O besouro ataca
as folhas de qualquer idade, deixando-as com um rendilhado
parcial ou total bastante característico e que denuncia a sua ação.
Recomendam-se o ensacamento dos frutos e a aplicação
de Folidol 600 (parathion metílico) 0,1%. Não se deve aplicar na
época de produção, principalmente nos 10 dias anteriores à
colheita.
d) Percevejos
É uma praga de fácil controle, podendo ser combatida sem
maiores problemas, desde que se façam as pulverizações
adequadas.
A melhor medida de controle dos percevejos da goiabeira
é o controle do mato localizado no pomar.
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e) Conchonilhas-de-carapaça e Conchonilha-branca
Recomenda-se a aplicação de Folidol 600 (parathion metílico)
0,1%, tomando cuidado com o manejo das pulverizações.
f) Lagartas
Recomenda-se a aplicação de Folidol 600 (parathion metílico)
0,1%, tomando cuidado com o manejo das pulverizações.
11 Colheita, Embalagem e Armazenamento.
11.1 Colheita
O fruto não amarelece quando colhido verde; por isso, a
colheita deve acontecer no início da maturação do fruto. A vida
dos frutos é afetada pela temperatura ambiente, devendo o
produtor
levá-los a resfriamento no tanque de água corrente, para
abaixar a temperatura.
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11.2 Embalagem
Pode-se utilizar, como embalagem, a caixa tipo “K” de 22
Kg ou caixas de papelão de 4,5 Kg, para serem comercializadas
tanto no CEASA quanto nos supermercados e sacolões.
Nas caixas de papelão, a classificação baseia-se no número
de frutos por caixa, sendo as mais freqüentes: 12, 15, 18,
21 e 24. Os frutos são embrulhados com papel manteiga e
embalados
em uma única camada. Há ainda a opção de embalagem
em máquina durafilme, com média de 4 a 6 frutos por bandeja,
que pesa em média 900 a 1.500 gramas.
11.3 Armazenamento
O fruto perece poucos dias após a colheita, principalmente
em temperaturas elevadas, devendo ser exposto em gôndolas
frigorificadas, evitando-se empilhamento excessivo de frutas. Para
o estoque de polpa pasteurizada, é feito o envase em bambonas
plásticas ou tambores de 200 litros e armazenados à temperatura
ambiente, desde que não ocorram variações bruscas, por
um período de até 12 meses.
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12 Referências Bibliográficas
BRASIL. Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma
Agrária. Goiaba para exportação: aspectos técnicos da produção.
Brasília: EMBRAPA-SPI, 1994. 49 p. (Publicações técnicas
FRUPEX, 5).
COMISSÃO DE FERTILIDADE DO SOLO DO ESTADO DE MINAS
GERAIS. Recomendações para o uso de corretivos e
fertilizantes em Minas Gerais: 5a aproximação. Viçosa, 1999.
359p.
GONZAGA NETO, L.; SOARES, J. M. A cultura da goiaba. Brasília:
EMBRAPA-SPI, 1995. 75 p.
INSTITUTO DE TECNOLOGIA DE ALIMENTOS. Goiaba: cultura,
matéria-prima, processamento e aspectos econômicos. 2. ed.
rev. ampl. Campinas, 1991. 224 p. (ITAL. Série Frutas tropicais,
6).
MANICA, I.; ICUMA, I. M.; JUNQUEIRA, N. T. V.; SALVADOR, J.
O.; MOREIRA, A.; MALAVOLTA, E. Fruticultura tropical: 6.
Goiaba. Porto Alegre: Cinco Continentes, 2000. 374 p.
SILVA, J. M. de M. Incentivo a fruticultura no Distrito Federal.
2. ed. rev. atual. Brasília: OCDF; COOLABORA, 1999. 120 p.

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