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Clemerson Merlin Cleve PROFESSOR 1. J(


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indagação que procura determinar Por isso, o artigo relaciona duas teorias interpre- ter
quem ou, alternativamente, qual insti- tativas normativas: a que propõe a leitura do direito
tuição possui melhores condições para como integridade, de Ronald Dworkin, e a teoria in- ria
tomar decisões sobre casos difíceis terpretativa dinâmica, de William N. Eskridge. Justi- e :
não é uma novidade teórica. A disputa fica-se a escolha dos referidos autores, pois, de uma pe
sobre qual o papel adequado para cada parte, tem-se um teórico cuja obra se encontra disse- de
urn dos poderes e os limites e capaci- minada na academia e nas cortes nacionais e, da ou- ne
dades que lhes devem ser atribuídos já havia sido tra parte, realiza-se um diálogo com uma teoria ainda se
e,lencada no rol de aspectos determinantes do Es- pouco conhecida e investigada no Brasil. A última "te
tado mode.rno. Não obstante, diferentes respostas apresenta potencial para contribuir para a formula- se
riormati;a~ foram fornecidas no bojo do paradig- ção de um conjunto de instrumentais conceituais, os te
ma contemporâneo no que tange ao arranjo insti- quais podem incrementar a "caixa de ferramentas" da UI
tucional q.dequado entre os poderes e, como con- hermenêutica constitucional.
sequênci~. quem teria melhores condições para a O artigo versa, assim, sobre formulações teóricas pc
realização de interpretações constitucionais. que P)OCuram apontar quais critérios deveriam guiar d<
Procura-se, ·com isso, definir qual a maneira mais a busca por uma interpretação constitucional ade- pl
adequada de ler, compreender e aplicar os textos de quada. Para tanto, argumenta sobre conceitos refe- e1
uma constituição. Um dos motivos pelos quais tal ati- rentes às mudanças nas formas de interpretação, ex- g1
vidade passou a ser reconhecida como fundamental pressas na teoria de Ludwig Wittgenstein, e também té
no pland das tensões entre os poderes repousa na a repercussão do "giro linguístico" na determinação CI
ampliação das funções outorgadas ao Judiciário nas do sentido da constituição. Na sequência, a dicotomia
últimas décadas em países democráticos1• No cenário entre interpretativistas e não interpretativistas é re- p
brasileiro, essas discussões possuem relevância na cordada e utilizada como aporte inicial para a expo- p
consolidação e no desembaraçar das diferentes pers- sição das duas teorias supramencionadas. Nas consi- 1
pectivas teóricas que são utilizadas para justificar a derações finais são estabelecidos pontos de conexão e
prática da jurisdição constitucional. entre as propostas de Eskridge e Dworkin. r

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Clemerson Cleve e Bruno Lorenzetto I SELEÇÃO DO EDITOR

1. Jogos de linguagem disso, enfatizou o papel do uso, do aspecto pragmáti-


Superada a noção de que o sentido dos textos co da linguagern6 , o qual se realiza diante de urna cor-
emana apepas de um lugar específico ou de que há reção, perante um conjunto de regras mínimas para a
urna relação necessária entre os objetos designados utilização apropriada de expressões linguísticas •
7

e seus respectivos "nomes próprios'', passou-se a re- Na formulação dos jogos de linguagemª, Wittgens-
tein argumenta que os atos intencionais que outor-
fletir sobre corno textos normativos conformadores
gam significado não são essenciais para a compreen-
de sistemas jurídicos são dependentes da produção
são da linguagem. Por isso, a busca dev~~ia ser voltada
de sentido por seus intérpretes. Dessa maneira, os di-
para a variedade de circunstâncias em que os signos
ferentes modos pelos quais se faz possível realizar a
linguísticos são subrnetidos9 • O fato de que eles são
construção semântica encontram, no âmbito jurídico,
parte de urna atividade orientada não leva necessa-
respaldo na orientação que determina a fundamenta-
riamente a urna definição de um sistema de regras
ção das sentenças, a apresentação de razões por seus
para cada jogo de linguagem específico, mas indica o
intérpretes com a finalidade de comunicar suas deci-
caráter convencional dessa atividade humana.
sões para que estas possam ser compreendidas por
Ao invés de propor urna forma geral de proposi-
seus destinatários 2 •
ções comunicativas e para a própria linguagem, ou
Não existe norma que esteja distanciada da ope-
identificar algo comum àquilo tudo que pode ser de-
ração hermenêutica. A produção de normas e ades-
signado corno linguagem, Wittgenstein demonstrou
tilação de seus sentidos são atividades que precisam
que tais fenômenos são relacionados entre si de mo-
da interpretação, ou seja, para que
dos díspares e que não há urna defi-
possam ter força normativa, força
de lei, elas demandam alguém com
NÃO EXISTE NORMA' nição da "essência" do jogo10 •
O que pode ser objeto de análise é
autoridade para dizer qual é a lei QUE ESTEJA o resultado de urna trama complexa
para a situação em disputa. Disso se
depreende que os dispositivos que
DISTANCIADA DA de semelhanças sobrepostas e cru-
zadas em certos casos, sejam estas
serão interpretados, em princípio, OPERAÇÃO HERMENÊUTICA. semelhanças genéricas ou referen-
terão corno resultado urna norma.
Contudo, não há urna necessá-
APRODUÇÃO DE NORMAS tes a detalhes11• Se as similaridades
de família reafirmam a falta de fron-
ria correspondência entre a norma EADESTILAÇÃO DE teiras para a linguagem, ao mesmo
e seus dispositivos3• Essa análise tempo demandam a criação de cer-
permite afastar a falsa imagem que SEUS SENTIDOS SÃO
tos lirnites12• Logo, as regras grama-
determina urna relação simultâ- ATIVIDADES QUE ticais não conformam apenas ins-
nea entre t~xto e norma, pois nem truções para o uso correto da língua,
sempre .a norma é derivada de um PRECISAM DA
expressando, também, as normas de
"texto',' específico, assim corno nem INTERPRETAÇÃO urna linguagem que produz sentido,
semprEi? .é possível, a partir de um de urna linguagem significativa.
texto,, 'n~cessariarnente, chegar a A gramática, para Wittgenstein, não se situa no
urna norrna 4• plano abstrato, substanciando, antes, urna atividade
Des~arte, entende-se que a elaboração de sentidos humana regular em que jogos de linguagem são inter-
por meio da interpretação não corresponde à defesa calados, os quais sinalizam o fato de que a linguagem
da inexistência de sentidos estabelecidos antes do é uma atividade, faz parte de urna forma de vida 13•
processo hermenêutico. Tal inferência é realizada Nesse sentido, a tarefa hermenêutica não conforma
em face da distinção entre os diversos usos da lin- urna produção unilateral de sentidos; antes reafirma
guagem, mas também dos limites existentes no que urna semântica que já se encontra em operação em
tange à orientação do emprego adequado dos meios urna comunidade discursiva, apresentando-se corno
comunicativos. fruto de convenções sociais14•
Wittgenstein ao tratar dos jogos de linguagem O conjunto de reformulações engendradas pelo
procurou romper com o entendimento de que cada "giro linguístico" reverberou no plano jurídico. Deriva
palavra corresponderia a um dado objeto específico. daí a compreensão de que as teorias da interpretação
Logo, propôs urna diferenciação entre o "portador formam parte determinante da produção constitu-
do nome" e o "significado do nome", pois o significado cional15. Afastadas as antigas visões idealizadas do
não dependeria da existência de seu portador5. Além papel dos intérpretes do texto corno agentes isentos

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O JUDICIÁRIO E OS CASOS DIFÍCEIS

de vontade - os quais poderiam apenas aplicar o con- Ademais, as constituições escritas não apresen-
junto de decisões formadas no âmbito político, do tam, de maneira completa em seu texto, o conjunto
qual eles não seriam participantes ativos -, passou- de orientações sobre como elas devem ser interpreta-
-se a projetar form~s distintas de enunciar maneiras das19. Aquilo que pode ser dito, por outro lado, é que
li
adequadas de formulação das decisões. as constituições são carregadas, desde o seu início, e
com uma narrativa densa, que não é capaz de se auto-
2. Interpretação constitucional definir sem fatores exógenos, narrativa que se.gue por
A interpretação constitucional, em tais circuns- distintos momentos históricos, demandando que as 3. lnte1
tâncias, ganhou relevo diante de um plexo de fatores sucessivas gerações produzam sentidos a partir dela, Dworl
políticos e históricos que dispuseram a constituição seja com base na história, na estrutura ou no texto um dos 1
como norma suprema. A elevação da carta magna à constitucional2°. terpretat
condição de teto e fundamento do ordenamento ju- Com isso, as cortes constitucionais também foram famosa tE
rídico foi acompanhada pela maior atenção às ativi- alçadas a uma posição privilegiada no debate e os en- ajustar o~
dades daqueles que tinham como dever "guardar" ou tendimentos que procú.ram reforçar ou mitigar a fun-
namente:
"proteger" a constituição16 . ção da jurisdição cónstitucional passaram a disputar
A teor:
Diante da importância conferida a tal atividade, o cenário teórico. Isso pode ser constatado, por exem-
terpretat:
colige-se a especificidade do papel que a constituição plo, no embate entre a.s correntes "interpretativistas"
lar critéri
passou a ocupar, compreendida como fonte normati- e "não interpretativistas" nos Estados Unidos 21.
de ajuste
va em sua integralidade, diante da existência de um A perspectiva "interpretativista" distingue os limi-
pios em 1
conjunto de normas que não são autoevidentes ou tes interpretativos preséntes na textura semântica e
Possuico
autoexecutáveis e que não podem ser submetidas na suposta vontade do legislador, os quais seriam jus-
interpretí
a uma simples subsunção. Como analisa Wojciech tificados em decàrrência do princípio democrático,
procuran1
Sadurski, foi o exemplo da constituição dos Estados ou seja, os juízes não poderiam querer ocupar o papel
melhor lt
Unidos que convenceu os europeus de que a cons- dos políticos na defihiÇão das normas que organizam
designa d
tituição não podia ser deixada apenas para ser apli- o estado de direito 22• De tal maneira, a realização do
tiona o p~
cada no âmbito político, já que demandava a criação controle de constitucionalidade apenas seria admis-
teoria ter
de instrumentos legais para confirmar, no plano da sível nas situações em que se identificar uma "regra"
clara para o "juízo de constitucionalidade", enquanto do Estadc
aplicação, sua supremacia. A ideia de que uma insti-
tuição jurídica deveria ter autoridade para garantir a a constituição cumpriria função institucional e pro- identifica
supremacia constitucional foi, por muito tempo, um cedimental - definir competências de órgãos públicos afirmarqi
anátema no continente europeu17. e não estabelecer conteúdos substantivos que orien- Em su
No Brasil, após a Constituição de 1988, a doutrina tam a sociedade23. jurídicos:
da efetividade procul'.OU afirmar a normatividade A perspectiva "não interpretativista", de outra princípim
constitucional em oposição às leituras que conside- sorte, sublinha que cabe aos juízes a identificação e diante de
ravam a constituição como um texto político despro- a aplicação de valores substantivos para preservar a Sua propc
vido de f~rça norrµÇJ.~iva. A proposta da "dogmática da constituição. Nesse contexto, não apenas a democra- pretação l
efetivida de" volto~-se para preencher uma lacuna te-
1

cia deve ser apreciada como vá.lar que merece tutela que existi
órica no país e potencializar os efeitos que poderiam por parte do Judiciário. Justiça, igualdade, liberdade algumas i
ser derivados da c;arta magna, apostando, na época, também devem ser levados em consideração no mo- gunsatos
em certo protagodismo do Judiciário 18. mento da atividade hermenêutica realizada pelos ju- de quanta
ízes24. O exerr
A dicotomia foi ressaltada diante da detecção de tal propm
"casos difíceis", nos quais inexiste uma regra previa- apenaspo
mente formulada que determine, com certa seguran- possui em
ça, um sentido específico para a decisão 25 • Esta, por teresse ou
não ter respaldo em uma regra, pode ser fundamen- descrição
tada em princípios ou políticas, e, para Dworkin, o vez que se
ideal seria que as decisões tivessem seu fundamento cortesia, e
estabelecido em princípios jurídicos26, pois, em tais de mecân
casos, os juízes tomam decisões aptas a justificar ou- soas proc1
tras decisões, as quais podem ser inseridas, ademais, possivelm
em uma teoria abrangente dos princípios27• dessaman

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Clemerson Cleve e Bruno Lorenzetto I SELEÇÃO DO EDITOR

' ' TENDEMOS ACHAMAR OS LADOS EM DISPUTA DE INTERPRETACIONISMO ENAO


"lNTERPRETACIONISMO - OPRIMEIRO AFIRMA QUE OS JUIZES DEVEM LIMITAR-SE AFAZER
CUMPRIR AS NORMAS CONSTITUCIONAIS, EOSEGUNDO ADOTA AOPINIAO CONTRARIA ' '

3. Interpretação e integridade alterando sua forma, e a nova formá incentiva urna


Dworkin, afirma-se diariamente na academia, foi nova reinterpretação. Assim, a prática passa por urna
um dos mais proeminentes defensores do "não in- dramática transformação, embora cada etapa do pro-
terpretativism.0"28, e de suas reflexões destaca-se a cesso seja urna interpretação do que foi conquistado
pela etapa imediatamente anterior."37
famosa teoria "olímpica" a respeito de corno devem se
Sua "interpretação construtiva" estipula distintos
ajustar os herrneneutas 29 , assim corno vários questio-
níveis ~e consenso em cada etapa da interpretação,
namentos a respeito do próprio conceito de direito30.
que se divide em três: a) primeiro um momento "pré-
A teoria de Dworkin se concentra na atividade in-
-interpretativo" no qual são identificados padrões que
terpretativa ao mesmo tempo em que procura articu-
conferem conteúdo experimental para a prática; b) na
lar critérios de avaliação, ao estabelecer parâmetros
etapa seguinte, propõe a criação de urna justificativa
de ajuste (fi.t) e justificação (justifi.cation) dos princí-
geral para os principais elementos da prática ante-
pios em relação ao sistema jurídico e suas práticas.
rior; nesse caso, a justificativa precisa ser suficiente
Possui corno guia a integridade, a busca pela melhor
para que o intérprete possa ser observado corno al-
interpretação disponível no ordenamento jurídico,
guém que realiza urna atividade hermenêutica e não
procurando "mostrar o que é interpretado em sua
criativa de urna nova prática; c) por fim, engendra-se
melhor luz possível"31• Tece diversas críticas ao que
urna fase pós-interpretativa ou reformuladora, em
designa de "teoria semântica'' do direito. Assim, ques-
que se ajusta prática e justificativa adequada38.
tiona o positivismo de Herbert Hart pelo fato dessa A teoria interpretativa de Dworkin pode ser inse-
teoria ter supostamente transformado o uso do poder rida na perspectiva mais abrangente do "direito corno
,iuma "regra"
",enquanto do Estado em um "mero jogo de palavras"32. Adernais, integridade", na qual todo o direito e seu conjunto de
)onal e pro- identifica um juízo moral nas proposições capaz de artefatos, normas e decisões encontram-se em um
-os públicos afirmar qual é o direito adequado em certo caso. processo contínuo de interpretação. A integridade
Em sua hermenêutica holística, os enunciados orienta, também, a produção do legislador, de modo
jurídicos precisam ser extraídos de um conjunto de que este deve buscar fazer com que o conjunto nor-
princípios que podem chegar até a "resposta certa" mativo do Estado se torne moralmente coerente.
diante de todo o ordenamento jurídico estabelecido33. As formulações de Dworkin indicam que não há
Sua ,proposta teórica é de urna teoria geral da inter- corno retornar a um ponto histórico no qual a interpre-
pretação baseada em valores, com alicerce na ideia de tação constitucional deixa de ser urna prática constru-
' que ·~~s,te~ verdades objetivas. Segundo Dworkin, tiva realizada por seus intérpretes. Entretanto, e não
algumas instituições são efetivamente injustas e al- afastando as judiciosas contribuições do autor, não é
guns' atos são realmente errados, independentemente necessário concordar com todo o aparato teórico apre-
de quahtas pessoas entendam isso de outra forrna 34. sentado para chegar a análogas conclusões39.
O exemplo da cortesia auxilia na compreensão de j\1érn disso, a disputa a propósito da atividade in-
tal proposta. Para o autor, a prática da cortesia não terpretativa - se deve se concentrar em maior ou me-
apenas pode ser observada em termos fáticos, eis,que nor medida no Judiciário, no Legislativo40, ou ser rea-
possui em si um valor, está de acordo com algum in- lizada pelo próprio "povo"41 - não modifica o caráter
teresse ou reforça algum princípio que independe da divergente entre as teorias que disputam a definição
descriÇão das regras que compõem a prática35. Urna de quem tem capacidade para produzir as melhores
vez que se adota urna atitude interpretativa diante da respostas: o juiz, o legislador ou o próprio povo?42
cortesia, ela se transforma, não é mais urna ativida-
de rnecânicá, mas, antes, urna prática à qual as pes- 4. Interpretação dinâmica
soas procuram atribuir determinado significado e, William Eskridge procura responder a essa ques-
possivelmente, reestruturá-la diante de tal sentido36; tão por meio de urna teoria dinâmica da interpre-
dessa maneira: "A interpretação repercute na prática, tação. A interpretação de casos constitucionais de

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O JUDICIÁRIO E OS CASOS DIFÍCEIS

modo dinâmico faz parte de um processo deliberativo pectiva, a resposta fornecida pela Suprema Corte foi além
que exige seja a voz do povo ouvida nas circunstân- adequada, porém, ao mesmo tempo, notou-se grande signif
cias de tensão ent~e as leis e as circunstâncias sociais dificuldade por parte dos juízes najustificação da de- lece.
fáticas em situação de mutação43 • cisão a partir de teorias interpretativas tradicionais. de int
A proposta guardaria correspondência com as O caso discute a Lei de Direitos Civis (Civil Rights Act) norm
disposições definidas na própria constituição, no de 1964, que havia banido qualquer forma de discri- tuais;
sentido da criação dinâmica de políticas nas quais as minação com base em raça, cor, religião, gênero ou as int
preferências da maioria vão sendo moldadas pelas nacionalidade. ração
deliberações de seus representantes. A interpretação Brian Weber, um empregado branco, que~tionou notáv
dinâmica substanciaria, portanto, um instrumento a constitucionalidade de um acordo coletivo de tra- maio
valioso para a legitimação do governo, eis que, nos balho que garantia cotas para trabalhadores negros evolu
casos de mudanças significativas nas circunstâncias com fulcro no título VII da Lei de Direitos Civis, a Di
fáticas, os problemas apresentados pela dificuldade qual vedava discriminações no âmbito das relações ra dm
contramajoritária44 não obstariam interpretações di- de emprego. Tratava-se, portanto, de um questiona- tempc
nâmicas pelos tribunais. mento a respeito da constitucionalidade de ações nâmic
Uma maneira recorrente de operar interpretações afirmativas adotadas na esfera trabalhista diante de za"da
de dispositivos normativos se concentra no texto e uma legislação que não respondia adequadamente partic
no sistema de precedentes. Eskridge sugere, em com- às questões suscitadas por Weber a respeito da dis- interr
plemento, uma teoria interpretati- criminação48 • prete
va dinâmica cautelosa, por meio da A Suprema Corte decid_iu, por rídica
qual procura escrutinar posturas
ADISPUTA EM TORNO DA maioria, que a alegada discrimina- éum;
interpretativas subsequentes, de- ATIVIDADE INTERPRETATIVA ção contra brancos não fazia sen- do te:
senvolvimentos na matéria consti- tido e que as ações afirmativas da histó1
tucional e fatos sociais atualizados NÃO MODIFICA OEMBATE empresa deveriam ser mantidas. m
em seu contexto4 s. ENTRE AS TEORIAS OUE O justice Brennan apresentou a sufici
A insuficiência da teoria inter- decisão da corte utilizando como aativ
pretativa estática desafia a proposi- RECLAMAM ADEFINIÇÃO argumentos a história legislativa, a argm
ção da teoria dinâmica. A teoria es- DAQUELE MAIS CAPAZ intenção do Congresso e o próprio e os
tática espera que juízes reproduzam texto normativo. Decidiu que o tí- para
os sentidos de normas antigas sem DE PRODUZIR AS MELHORES tulo VII da Lei de Direitos Civis não taçãc
que possam considerar o contexto RESPOSTAS: OJUIZ, O condenava planos de ações afirma- estal
em que elas. serão aplicadas, afas- tivas privados, voluntários e cons- intér
tando, muitas vezes, a possibilidade LEGISLADOR OU OPOVO? cientes das questões raciais 49 • cons
de uma hermenêutica dialética46 ao Na visão de Eskridge, se a inter-
transformar essa atividade em uma simples "desco- pretação dinâmica fosse utilizada, ela poderia reco- Cori
berta", uma lócal~zação de sentidos antigos, como se nhecer que não apenas havia ocorrido uma mudan- N
o intérprete pudesse (re)criar um vínculo com os le- ça no conceito de discriminação entre o momento quer
gisladores 1ou juízes do passado e reproduzir com fide- da edição da lei (1964) e o tempo de julgamento do reali
lidade os ser1i.t,idos constituídos naqueles momentos, caso (1979), como havia mudado também o contex- com
sem interferências de contingências contemporâneas. to legal e social. Tais transformações puderam ser Aml
Para Eskridge, ao invés de se limitar à perspecti- observa.&las nas decisões posteriores, em que o sen- ram
va convencional: a teoria dinâmica deve observar e tido da decisão do caso foi expandido para orientar poní
reconciliar três dimensões: i) o texto, ou seja, a parte ações afirmativas relacionadas a mulheres e mino- tuci1
formal da interpretação que supõe um limite para o rias raciais50 • Judi
número d~ possibilidades hermenêuticas; ii) as ex- A teoria dinâmica sugere uma relação contínua difíc
pectativas originais dos legisladores e os compromis- entre os.aspectos textuais, históricos e contextuais.
sos que eles.alcançaram; iii) e a evolução subsequente Em várias situações o texto normativo irá sugerir
das normas e se.u contexto presente, especialmente respostas para os casos, especialmente quando a lei
nos casos em que ocorreram mudanças no âmbito é recente e a produção legislativa foi permeada por
jurídico e social47• grandes deliberações - em tais condições o texto é
Para ilustrar sua teoria, Eskridge faz referência ao dominante. Porém, em certos casos, nem o texto ou
caso United Steelworkers v. Weber (1979). Em sua pers- a história legislativa apontam para uma resposta,

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além de serem notadas mudanças sociais e jurídicas As duas teorias, cada urna à sua maneira, questio-
significativas - nessas condições o contexto preva- nam as interpretações "estáticas". Para Eskridge a al-
lece. A seguinte estrutura pode auxiliar na ativida- ternativa se encontra em urna perspectiva dinâmica
de interpP€tativa: i) quanto mais detalhado o texto cautelosa e na visão dos juízes corno "diplornatas"55 ,
normativo, maiores devem ser as considerações tex- cuja autoridade é bastante limitada por seus "superio-
tuais; ii) quanto mais recente é a lei e mais evidentes res", mas que, ainda assim, dispõem de competência
as intenções legislativas, maior deve ser a conside- para atualizar suas ordens diante _de novas conjun-
ração para os aspectos históricos; iii) quanto mais turas. Dworkin defende a atualização interpretativa
notáveis forem as mudanças nas circunstâncias, que acontece na consonância do direito corno integri-
maior atenção deverá ser conferida para o aspecto dade, ou seja, a própria atividade interpretativa pos-
evolutivo51 • sui o condão de conferir outro olhar para as normas
Diante de tal proposta, pode-se advogar urna leitu- por meio de urna leitura coerente e olímpica (hercú-
ra dos textos normativos realizada em um intervalo lea) do direito.
temporal contínuo 52 • Ora, a teoria da interpretação di- Para Dworkin, deve-se buscar a integridade não
nâmica supõe questões a respeito da própria "nature- apenas ~as decisões, constituindo ela também um
za" da atividade interpretativa. Hans-Georg Gadarner, norte para a produção legislativa, o que faz com que
particularmente, entende que o método adotado para os legisladores tenham corno imperativo a constru-
interpretação não restringe ou mesmo guia o intér- ção de urna ordem jurídica moralmente coerente. Sob
prete de urna maneira específica, corno a literatura ju- o manto do direito corno integridade, proposições
rídica muitas vezes parece supor, pois a interpretação jurídicas são verdadeiras se elas se harmonizam com
é urna busca pelo entendimento comum da verdade princípios de justiça, igualdade e devido processo le-
do texto pelo intérprete, por meio da urna tradição gal, os quais podem construir a melhor interpretação
histórica53• jurídica. De modo a concretizar urna interpretação
Não há, portanto, um método específico que seja construtiva, precisa-se perceber a atividade interpre-
suficiente para responder a todas as vicissitudes que tativa corno a construção de urna novela, um roman-
a atividade hermenêutica precisa enfrentar. Eskridge ce em cadeia, urna história contínua na qual a com-
argumenta que o texto, as expectativas do legislador preensão muda com o desenvolvimento da própria
e os arranjos políticos atuais podem ser utilizados história narrada (pelo direito) 56 •
para aprimorar a hermenêutica. Assim, a interpre- A proposta de Dworkin não dista da confluência
tação deve ser compreendida corno urna conversa de horizontes apresentada por Gadarner, ou seja, as
estabelecida entre a perspectiva contemporânea do
formas pelas quais a tradição pode conectar o pas-
intérprete e a tríade de elementos que auxiliam na
sado e o presente 57 , e urna maneira de realizar tal
construção do sentido norrnativo 54•
atividade no âmbito jurídico - em especial na com-
Cons~~erações finais mon law - ocorre através da leitura dos preceden-
tes. A sequência de precedentes, práticas e costumes
No f1U~ t~nge ao questionamento a respeito de
conformam um encadeamento de sentidos para
quem seria a autoridade com melhores condições de
realizp.r interpretações constitucionais, urna breve Dworkin, os quais conectam justamente as decisões
cornpara;ção pode ser feita entre Eskridge e Dworkin. anteriores dos tribunais com as decisões presentes.
Ambos fotrnularn propostas normativas que procu- Cabe ao intérprete considerar não apenas a origem
ram incrementar o conjunto de instrumentais dis- das ~orrnas, mas, também, sua vida e suas transfor-
poníveis para a realização da hermenêutica consti- mações.
tucional. Além disso, ambos apostam suas fichas no Por essas características, a visão de Dworkin foi
Judiciário corno poder moldado para tornar decisões tratada corno "rornântica"58 ou "sonhadora"59 • Um
difíceis. dos problemas derivados da teoria de Dworkin está

EM VÁRIAS SITUAÇÕES OTEXTO NORMATIVO IRÁ


SUGERIR RESPOSTAS PARA OS CASOS, ESPECIALMENTE QUANDO ALEI É
RECENTE EFOI PERMEADA POR GRANDES DELIBERAÇÕES

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O JUDICIÁRIO E OS CASOS DIFÍCEIS

na dificuldade da manutenção da coerência da pro- Outro problema está na maneira com que Dworkin he
dução legislativa, pois não apenas normas novas trata a política. Não se pode negar a importância da ne
feé
possuem inconsistências internas, corno podem, distinção entre princípios e política formulada pelo vis
também, conflitár com disposições anteriores que autor 62. Porém, a proposta do ideal político da inte- 5. WI
Ü)

expressavam visões políticas distintas. O desafio se gridade, que almeja transformar a comunidade po- ve
En
encontra na complexa articulação da coerência en- lítica em urna comunidade de princípios 63, encontra ell
tre os diversos campos tutelados pelo direito, e, em resistências. Eskridge reconhece que a comunidade cai
gis
adendo, na realização de urna conciliação entre nor- de princípios, por transcender a propostà tleiorgani- fur
mas e precedentes antigos com novas configurações zação política pautada em compromissos, parece ser çõ1
a1
legais e sociais. mais valiosa64. Contudo, Dworkin acaba por simpli- fos
A teoria dinâmica de Eskridge parece fornecer res- ficar o papel da política, ao apostar no direito corno viv
dir
postas mais amoldadas sobre a questão. O modelo di- agente transformador da comunidade política em be1
nâmico sugere que os'juízes, ao interpretar os textos, urna comunidade de princípios e sua teoria não pare- 6. "l\i
ani
atuam corno "diplomatas". Os diplomatas precisam ce ser suficiente para afastar a racionalidade política çãc
seguir ordens ambíguas para situações inusitadas. comum, a quai' se encontra pautada em regras e em Lisl
7. Ve1
Eles são, no limite, agentes a serviço do Estado e sua compromissos políticos. e~

liberdade de interpretação é restringida pelas ordens Por outro lado, Eskridge e Dworkin concordam WI
ve~
prévias, as quais não são sempre consistentes e coe- com relação aos fundamentos hermenêuticos e so- 8. "I
·am
rentes ao longo do ternpo6º. bre tópicos relacionados à coerência. Eskridge adere lan
Eskridge reconhece que, em certos casos, os juízes à proposta de Dworkin da busca por coerência no pro
rep
podem estar próximos da tese olímpica: o justice Earl que tange aos valores públicos, os quais deveriam ser be
Warren e seus colegas podem ter se aproximado dis- protegidos, pelas cortes, contra eventuais usurpações of ·
-rin
so no caso Brown v. Board of Education (1954). mas a legislativas. Além disso, quando as cortes aproximam co~

maioria dos magistrados acaba por ter urna atividade leis antigas a políticas modernas, acabam por confe- wh
(WI
mais próxima à dos diplornatas 61• Isso não é de todo rir maior coerência à ordem normativa. ves
ruim, pois, em certas circunstâncias, em que determi- A teoria dinâmica e a noção de direito corno in- "A
sun
nados juízes acreditam estar julgando corno Hércu- tegridade se afastam dos discursos hermenêuticos Wit
les, eles acabam por ter suas decisões reformadas. Por menos complexos, apresentando elaborações so- qu2
da
isso, para Eskridge, o papel daquele agente público fisticadas65 na definição da relação entre o texto e o con
que aplica, com decência e justiça (fairness), as nor- intérprete 66. Nesse caso, as imagens sugeridas por asp
Ant
mas de um sistema perpassado por incoerências, é Dworkin e Eskridge, de Hércules ou do diplomata que
desempenhar urna atividade nobre, urna nobreza que respectivamente, são férteis e, mais, realmente úteis gen
em
é construída diariamente, não residindo, portanto, no para o aprofundamento dos debates a propósito da jogc
diç~
livro, de fábulas da utopia. interpretação constitucional. • um

râm
neir
NOTAS 9. "Th
han
1. Ran Hirschl ex~lica as diferentes formas de 2. "Esses conteúdos de sentido, em razão ída a partir do enunciado constitucional agl1
compreender como o Judiciário passou a do dever de fundamentação, precisam ser que prevê a proteção de Deus? Nenhuma. tion
ser um poder de grande relevância através compreendidos por aqueles que o; mani- Então, há dispositivos a partir dos quais tion
da constitucionaliza~ão em diferentes lu- pulam, até mesmo como condição para não é construída norma alguma" (ÁVILA, Lud1
gares do mundo, fenomeno que trata como que possam ser compreendidos pelos seus Humberto. Teoria dos princípios. p. 22). 10. "Foi
"global". "The hegemonic preservation destinatários" (ÁVILA, Humberto. Teoria Em termos análogos, é possível observar som
thesis may help us understand judicial em- dos princípios: da definição à aplicação dos a mesma questão na seguinte afirmação larit
powerment through constitutionalization princípios jurídicos. 3. ed. São Paulo: Ma- de Laurence Tribe: "Like McCulloch v. Ma- of ti
as part of a broader trend whereby crucial lheiros, 2004. p. 16). ryland, and in a manner reminiscent even Phil1
policy-making functions are increasingly 3. ÁVILA, Humberto. Teoria dos princípios. p. of the Gettysburg Address, our hypothetical 11. WIT
insulated from majoritarian control. As we 22. case would undoubtedly be governed by a vest
have seen, the world seems to have been 4. "Em alguns casos há norma mas não há defining principie drawn from the invisible 12. "Wt
seized by a craze for constitutionalization dispositivo. Quais são os dispositivos que Constitution: the principie that ours is a long
and judicial review. The transformation of preveem os princípios da segurança ju- 'government of the people, by the people, No.
judicial institutions into major political ac- rídica e da certeza do direito? Nenhum. for the people.' (. .. ) Why? Where does the beer
tors has not been limited to the national Então há normas, mesmo sem dispositivos constitutional status of that simple idea befo
levei" (The Political Origins of the New específicos que lhes deem suporte físico. come from? There are a few textual points (Wl
Constitutionalism. ln: Indiana Journal of Em outros casos há dispositivo mas não reflecting it, but examining them merely lnve
Global Legal Studies, v. 11, 2004. p. 105). há norma. Qual norma pode ser constru- confirms that the broad principie at issue afim

. \
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Clemerson Cleve e Bruno Lorenzetto I SELEÇÃO DO EDITOR

here cannot be extracted from the text alo- mente o uso comum, ou mesmo técnico, de ramente indicadas na linguagem do docu-
ne but must instead be interpolated from um termo é bastante 'aberto', na medida mento" (ELY, John Hart. Democracia e des-
features of the Constitution that remain in- em que não proíbe a extensão do termo a confiança: uma teoria do controle judicial
visible" (The /nvisible Constitution. Oxford: casos em que apenas algumas das caracte- de constitucionalidade. São Paulo: Martins
Oxford Oaiversity Press, 2008. p. 87-8). rísticas normalmente concomitantes estão Fontes, 201 O. p. 3).
5. WITIGENSTEIN, Ludwig. Phi/osophical ln- presentes" (O Conceito de Direito. p. 20). 22. CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitu-
vestigations. Oxford: Basil Blackwell, 1986. 13. WITIGENSTEIN, Ludwig. Philosophical ln- cional e teoria da constituição. 7. ed. Coim-
Em termos jurídicos a questão pode ser vestigations. p. 11. bra: Almedina, 2003. p. 1195.
elucidada da seguinte maneira: "Quando 14. Em sintonia com tal compreensão afirma 23. CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitu-
cada governante morre, o seu trabalho le- Hart: "Os tribunais não consideram as re- cional e Teoria da Constituição. p. 1196.
gislativo sobrevive-lhe, porque assenta no gras jurídicas como predições, mas antes Ronald Dworkin critica tal perspectiva com
fundamento de uma regra geral que gera- como padrões a seguir na decisão, sufi- a seguinte argumentàÇão: ªOs juízes não
ções sucessivas na sociedade continuaram dentemente determinados, apear da sua podem decidir qual foi a intenção pertinente
a respeitar, em relação a cada legislador, textura aberta, para limitar o seu carácter dos constituintes, ou qual processo político
fosse qual fosse a época em que houvesse discricionário, embora sem o excluir" (O é realmente justo ou democrático, a menos
vivido" (HART, Herbert L. A. O conceito de conceito de direito. p. 161). que tomem decisões políticas substantivas
direito. Lisboa: Fundação Calouste Gul- 15. HART, Herbert L. A. Essays in Jurisprudence iguais àquelas que os proponentes da inten-
benkian, 2007. p. 72). and Phi/osophy. Oxford: Claredon Press, ção ou do processo consideram que os juízes
6. "Mas se tivéssemos de mencionar o que 1983. não devem tomar. A intenção e o processo
anima o signo, diríamos que é a sua utiliza- 16. KELSEN, Hans. Jurisdição constitucional. são ideias nocivas porque encobrem essas
ção" (WITIGENSTEIN, Ludwig. O livro azul. São Paulo: Martins Fontes, 2007 ., decisões substantivas com a piedade proces-
Lisboa: Edições 70, 1992. p. 30). 17. SADURSKI, Wojciech. Constitutional Review suai e finge que elas não foram tomadas"
7. Ver a diferença entre gramática superficial in Europe and in the United States: lnfluen- (DWORKIN, Ronald. Uma questão de princí-
e profunda apresentada por Wittgenstein. ces, Paradoxes and Convergence. Sydney pio. São Paulo: Martins Fonte, 2005. p. 43).
WITIGENSTEIN, Ludwig. Phi/osophical /n- LawSchoolResearchPapern.11115,2011. 24. "O direito não é apenas o 'conteúdo' de
vestigations. p. 168. No mesmo sentido: "Pode-se afirmar que, regras jurídicas concretas, é também for-
8. "1 will call these game. 'language-games' até meados do século XX, no modelo he- mado constitutivamente por princípios jurí-
and will sometimes speak of a primitive gemônico na Europa continental e em dicos abertos como justiça, imparcialidade,
language as a language-game. And the outros países filiados ao sistema jurídico igualdade, liberdade. A mediação judicial
processes of naming the stones and of romano-germânico, a regulação da vida concretizadora destes princípios é uma ta-
repeating words after someone might also social gravitava em tomo das leis editadas refa indeclinável dos juízes" (CANOTILHO,
be called language-games. Think of much pelos parlamentos, com destaque para os J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria
of the use of words in games like ring-a- códigos. A premissa política subjacente a da constituição. p. 1.197). ªAs teorias não
-ring-a-roses. 1 shall also call the whole, esta concepção era a de que o Poder Le- interpretativas, segundo se afirma, supõem,
consisting of language and the actions into gislativo, que encarnava a vontade da Na- ao contrário, ser válido que o tribunal, pelo
which it is woven, the 'language-game"' ção, tinha legitimidade para criar o Direito, menos algumas vezes, confronte decisões
(WITIGENSTEIN, Ludwig. Philosophical /n- mas não o Poder Judiciário, ao qual cabia legislativas com modelos retirados de ai-
vestigations. p. 5). tão somente aplicar aos casos concretos as guma outra fonte que não o texto, como a
"A expressão 'jogo de linguagem' não normas anteriormente ditadas pelos parla- moralidade popular, teorias da justiça bem
surge por acaso. O aspecto sob o qual mentos" (SOUZA NETO, Cláudio Pereira de; fundadas ou alguma concepção de demo-
Wittgenstein contempla a linguagem leva, SARMENTO, Daniel. Direito constitucional: cracia genuína" (DWORKIN, Ronald. Uma
quase que necessariamente, à comparação teoria, história e métodos de trabalho. Belo questão de princípio. p. 44).
da linguagem como um jogo complicado Horizonte: Fórum, 2012. p. 84). 25. "Mesmo quando nenhuma regra regula o
como, por exemplo, o xadrez. Sob múltiplos 18. "Assim como o médico-cirurgião intervém caso, uma das partes pode, ainda assim, ter
aspectos, a analogia evidencia-se frutífera. no corpo do paciente para cumprir sua o direito de ganhar a causa. O juiz continua
Antes de tudo, é o ponto de vista operativo missão, valendo-se do instrumental cirúr- tendo o dever, mesmo nos casos difíceis, de
que aparece em primeiro plano, para Witt- gico, cabe ao jurista intervir no mundo descobrir quais são os direitos das partes,
genstein. A ~ealização de um jogo consiste jurídico por meio de instrumental próprio: e não de inventar novos direitos retroati-
em determinado operar com figuras de a dogmática" (CLEVE, Clemerson Merlin. vamente" (DWORKIN, Ronald. Levando os
jogo: aconcretização da linguagem na con- Para uma dogmática constitucional eman- direitos a sério. São Paulo: Martins Fontes,
dição de um jogo de linguagem consiste em cipatória. Belo Horizonte: Fórum, 2012. p. 2010. p. 128). A título ilustrativo, veja-se o
um operar com palavras e frases" (STEG- 36). Ver também: BARROSO, Luís Roberto. número diminuto de ações que tipicamen-
MÜLLE!t, Wolfgang. A filosofia contempo- 0 direito constitucional e a efetividade de te envolveram jurisdição constitucional na
rânea: introdução crítica. 2. ed. Rio de Ja- suas normas: limites e possibilidades da história Supremo Tribunal Federal: ADC, 32
neiro: Forense Universitária, 2012. p. 418). Constituição brasileira. 8. ed. Rio de Janei- (0,002%); ADI, 5.040 (0,331 %); ADO, 24
9. ""ílJi111k of the tools in a tool-box: there is a ro: Renovar. 2006. (0,002%); ADPF, 300 (0,020%). FALCÃO, Jo-
hammer. pliers, a saw, a screw-driver. a rule, 19. TRIBE, Laurence. The lnvisible Constitution. aquim; HARTMANN, lvar A.; CHAVES, Vítor
a gluécpot, glue, nails and screws. The func- p. 78. P. Ili Relatório Supremo em Números: o Su-
tions of words are as diverse as the func- 20. TRIBE, Laurence. The lnvisible Constitution. premo e o tempo. Rio de Janeiro: Escola de
tions of these objects" (WITIGENSTEIN, p. 69. "° Direito do Rio de Janeiro da Fundação Ge-
Ludwig. Philosophical lnvestigations. p. 6). 21. ªHá uma antiga disputa na teoria consti- tulio Vargas, 2014. p. 143-144. Não descon-
1O. "For if you look at them you will not see tucional que vem sendo denominada por siderando a possibilidade da realização de
something that is common to ali, but simi- diferentes nomes em diferentes épocas; controle de constitucionalidade em outras
larities, relationships, and a whole series porém, para falar dela, a terminologia ações, assim como, que os "casos difíceisª
of them at that" (WITIGENSTEIN, Ludwig. contemporânea parece ser tão boa como não estão limitados às quatros modalida-
Phi/osophical lnvestigations. p. 31). qualquer outra. Hoje em dia, tendemos a des supracitadas, faz-se possível reconhecer
11. WITIGENSTEIN, Ludwig. Philosophical /n- chamar os lados em disputa de 'interpre- que, em termos proporcionais, o STF possui
vestigations. p. 32. tacionismo' e 'não interpretacionismo' - õ - um número reduzido de "casos difíceis".
12. "What still counts as a game and what no primeiro afirma que os juízes que decidem 26. ªDefendo a tese de que as decisões ju-
longer does? Can you give the boundary? as questões constitucionais devem limitar- diciais nos casos civis, mesmo em casos
No. You can .draw one; for none has so far -se a fazer cumprir as normas explícitas difíceis como o da Spartan Steel, são e
been drawn. (But that never troubled you ou claramente implícitas na Constitui- devem ser. de maneira característica, ge-
before when you used the word 'game')" ção escrita, e o segundo adota a opinião rados por princípios, e não por políticas"
(WITIGENSTEIN, Ludwig. Phi/osophical contrária, a de que os tribunais devem ir (DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a
lnvestigations. p. 33). No mesmo sentido além desse conjunto de referências e fazer sério. p. 132). "Minha visão é que o Tribu-
afirma Herbert Hart: "Muito frequente- cumprir normas que não se encontram da- nal deve tomar decisões de princípio, não

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O JUDICIÁRIO E OS CASOS DIFÍCEIS

de política - decisões sobre que direitos tos e deveres das pessoas, a melhor inter- of courts - 'forum of principie' etc. - that mi
as pessoas têm sob nosso sistema cons- pretação da estrutura política e da doutrina we present in the more elevated moments an
titucional, não decisões sobre como se jurídica de sua comunidade" (DWORKIN, of our constitutional jurisprudence?" (WAL- em
promove melhor o bem-estar geral -, e Ronald. O Império do Direito. p. 305). DRON, Jeremy. Law and Disagreement. JR,
que deve tomar êsias decisões elaboran- 32. DWORKIN, Ronald. O Império do Direito. p. Oxford: Oxford University Press, 2004. p. 32). ta t
do e aplicando a teoria substantiva da re- 50. "As teorias semânticas como o positivis- 41. "America's Founding generation, in daring 49. De
presentação, extraída do princípio básico mo limitam nossa linguagem ao nos negar contrast, embraced a political ideology that ser
de que o governo deve tratar as pessoas a oportunidade de usarmos a palavra 'di- celebrated the central role of 'the people' em
como iguaisª (DWORKIN, Ronald. Uma reito' desse modo flexível, dependendo do in supplying government with its energy lei
questão de princípio. p. 101 ). contexto ou do sentido. Elas insistem em and direction, an ideal that remained at ali sta
27. DWORKIN, Ronald. Levando os direitos que devemos optar, de uma vez por todas, times in the forefront of their thinking - Fe- tin
a sério. p. 137. "Há muitas situações em entre um sentido 'amplo' ou pré-interpreta- deralist and Anti-Federalist alike. f>reserving ha
que não existe uma solução pré-pronta no tivo, e um sentido 'estrito' ou interpretativo. liberty demanded a constitution whose in- he
direito. A solução terá de ser construída Desse modo, porém, a correção lingüística ternai architecture was carefully arranged gu,
argumentativamente, à luz dos elementos paga um preço exorbitante" (DWOHKIN, to check power, justas it demanded leaders ve
do caso concreto, dos parâmetros fixados Ronald. O Império do Direito. p. 129). of sufficient 'character' and 'virtue'. But an1
na norma e de elementos externos ao di- 33. "Se existem tais fatos morais, então pode- structural innovations and virtuous leader- dis
reito. São os casos difíceis. Há três grandes -se racionalmente supor que uma propo- ship were 'auxiliary devices' to channel and inc
situações geradoras de casos difíceis: a) sição de Direito é verdadeira. mesmo que contrai popular politics, not to isolate ar eli- on
Ambiguidade da linguagem. (... ) b) Desa- os juristas continuem a discordar quanto minate it. The people themselves remained thE
cordos morais razoáveis. (... ) c) Colisões à proposição depois de conhecidos ou responsible for making things work" (KRA- un
de normas constitucionais ou de direitos estipulados todos os fatos concretos" MER, Larry D. The People Themselves: po-
Ste
fundamentaisª (BARROSO, Luís Roberto. O (DWORKIN, Ronald. Uma questão de prin- pular constitutionalism and judicial review. 50. "V
novo direito constitucional brasileiro: con- cípio. 206). Para Ronaldo Porto Macedo Oxford: Oxford University Press, 2004. p. 6).
COI
tribuições para a construção teórica e prá- Junior: "A tese da resposta certa, conforme 42. Madison procurava mitigar a participação
by
tica da jurisdição constitucional no Brasil. se procurará demonstrar, está na base de popular por meio da democracia repre-
an
Belo Horizonte: Fórum, 2012. p. 37-8). uma concepção interpretativa da verdade sentativa, nela, os representantes do povo
dei
28. Em certa medida a dicotomia entre inter- e da objetividade, segundo a qual afirmar seriam aqueles responsáveis por falar em
pretativistas e não interpretativistas foi a objetividade de uma proposição significa nome de seus representados: "Num tal pe·
int
superada com o reconhecimento da impos- reconhecer que ela está justificada pelos governo é mais possível que a vontade
sibilidade de se afastar a atividade interpre- melhores argumentos disponíveis. (... ) a pública, expressa pelos representantes do inf
(E~
tativa por parte dos juízes. Para Dworkin, objetividade jurídica, ou, ainda, a 'objeti- povo, esteja em harmonia com o interesse
qualquer teoria a respeito do controle de vidade possível' - porquanto outras con- público do que no caso de ser ela expressa tor
constitucionalidade é interpretativa, ªno cepções seriam contrassensos -, é aquela pelo povo mesmo, reunido para esse fim" 51. ES
sentido de quem tem como objetivo ofe- que se regula pelo jogo de linguagem do (HAMILTON; MADISON; JAY. O Federalista. lnt
recer uma interpretação da constituição direito" (Do xadrez à cortesia: Dworkin e a Belo Horizonte: Ed. Líder, 2003. p. 64). Os 52. Pa
enquanto documento jurídico original e teoria do direito contemporâneo. São Pau- modos deliberativos imaginados pelos pais teJ
fundador, e também pretende integrar a lo: Saraiva, 2013. p. 48). fundadores seriam mediados por represen- err
Constituição à nossa prática constitucional 34. DWORKIN, Ronald. Justice for Hedgehogs. tantes e se colocariam para além das pre- sai
e jurídica como um todo" (DWORKIN, Ro- Cambridge: Harvard University Press, 2011. ferências privadas dos cidadãos. de
nald. Uma questão de princípio. p. 45). p. 7-8. Dworkin deu continuidade aos seus 43. ESKRIDGE JR, William N. Dynamic Statutory de
29. "Devo tentar expor essa complexa estru- argumentos: "That there are truths about lnterpretation. University of Pennsylvania é1
tura da interpretação jurídica, e para tanto value is an obvious, inescapable fact. When Law Review, v. 135. p. 1.529. co
utilizarei um juiz imaginário, de capacida- people have decisions to make, the ques- 44. Porém, até mesmo Alexander Bickel admite "E
de e paciência sobre-humanas, que aceita tion of what decision they should make is que o compromisso com o ideal majoritário im
ó direito como integridade" (DWORKIN, inescapable, and it can be answered only não pode ser absoluto. BICKEL, Alexander. te
Ronald. O Império do Direito. São Paulo: by noticing reasons for acting one way ar The Least Dangerous Branch: The Supreme m1
Martins Fontes, 2003. p. 287). "Dworkin another; it can be answered only in that Court at the Bar of Politics. New Haven: Yale qu
concede que . nenhum juiz humano real, way because that is what the question, University Press, 1986. p. 51. Um problema de
distinto de 'Hércules', o seu mítico juiz ide- just as a matter of what it means, inesca- com as objeções suscitadas pela dificuldade na
~I, podia praticar o feito de construir uma pably calls for. No doubt the best answer contramajoritária está no fato de que ela es- se
interpretação d~ todo o direito do seu país, on some occasions is that nothing is any pera que os juízes se limitem a implementar M
de forma imedil:ita ", (HART, Herbert L. A. O better to do than anything else. Some as vontades ou diretrizes dos legisladores; de
conceito d.e direito. p. 326). unfortunate people find a more dramatic porém, anota Eskridge, a hermenêutica de- se
30. ªQuando, como ocorre frequentemente, answer unavoidable: they think nothing is monstra a inevitabilidade da criação judicial co
duas partes discordam a respeito de uma ever the best or right thing to do" (Justice quando o texto normativo é interpretado ao pr
proposição 'de direito', sobre o que es- for Hedgehogs. p. 24). longo do tempo. ESKRIDGE JR, William N. se
tão discordando e como devemos decidir 35. DWORKIN, Ronald. O Império do Direito, Gadamer/Statutory lnterpretation. Colum- ju1
sob qual dos' lados. está com a razão? Por p. 57. bia Law Review, v. 90, n. 3, 1990. p. 613. hi:
que denominamos de 'obrigação jurídi- 36. DWORKIN, Ronald. O Império cJQ. Direito, 45. "Statutes, however, should - like the Cons- de
ca' aquilo que 'o direito' enuncia? Neste p. 58. . titution and the common law - be interpre- su
caso, 'obrigação' é apenas um termo téc- 37. DWORKIN, Ronald. O Império do Direito, ted 'dynamically', that is, in light of their lo:
nico que signifiG'I apenas o que é enun- p. 59. present societal, political, and legal con- pe
ciado pela lei? Ou a obrigação jurídica 38. DWORKIN, Ronald. O Império do Direito, text" (ESKRIDGE JR, William N. Dynamic Pe
tem algo a ver com a obrigação moral? p. 81-2. Statutbry lnterpretation. p. 1.479).
Podemos dizer, pelo menos em princípio, 39. Ver, por exemplo, as críticas tecidas por 46. ESKRIDGE JR, William N. Dynamic Statutory
· que temos' as mesmas razões tanto para Frank Michelman à teoria de Dworkin: lnterpretation. p. 1.482-3.
cumprir nossas obrigações jurídicas como MICHELMAN, Frank 1. Brennan and Demo- REF
47. ESKRIDGE JR, William N. Dynamic Statutory
para cumprir nossas obrigações morais?" cracy. Princeton: Princeton University Press, lnterpretation. p. 1.483. ÁVILA
(DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a 1999. 48. "The statutory text does not decisively CÍI
sério. p. 23-4). 40. "What 1 want to do is apply the cannon of answer the interpretive issue, contrary to
BARR1
31. DWORKIN, Ronald. O Império do Direito. symmetry in the other direction. 1 want to labored readings by both the majority and m
p. 292. "Os juízes que aceitam o ideal in- ask: What would it be like to develop a rosy dE
dissenting opinions. (... ) The operative
terpretativo da integridade decidem casos picture of legislatures and their structures
word is 'discriminate', which is not defined
difíceis tentando encontrar. em algum con- and processes that matched, in its norma-
in the Act. Weber interpreted the antidiscri- cc
junto coerente de princípios sobre os direi- tivity and perhaps in its na'ivety, the picture B1

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Clemerson Cleve e Bruno Lorenzetto I SELEÇÃO DO EDITOR

mination rule of section 703(d) to prevent as circunstâncias foram sendo mudadas e covery. He must not suppose that the law is
any and every differential treatment of que, por conseguinte, tem que determinar ever incomplete, inconsistent, or indetermi-
employees on racial grounds" (ESKRIDGE de novo a função normativa da lei" (GA- nate; if it appears so, the fault is not in it,
J~ •. William N. Dynamic Statutory lnterpre- DAMER, Hans-Georg. Verdade e Método. but in the judge's limited human powers of
tation. p. 1.489). Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. p. 485). discernment, so there is no space for a jud-
49. Deve-se anotar que a divergência apre- 53. "Quando o juiz adequa a lei transmitida às ge to make law by choosing between alter-
sentada pelo Justice Burger está fundada necessidades do presente, quer certamente natives as to what shall be the law" (Essays
em sua leitura da "linguagem explícita da resolver uma tarefa prática. O que de modo in Jurisprudence and Philosophy. p. 138).
lei": "Often we have difficulty interpreting algum quer dizer que sua interpretação da 60. ESKRIDGE JR, William N. Dynamic Statutory
statutes either because of imprecise draf- lei seja uma tradução arbitrária. Também lnterpretatibn. p. 1.554.
ting or because legislative compromises em seu caso, compreender e interpretar 61. Idem. .{
have produced genuine ambiguities. But significam conhecer e reconhecer um senti- 62. "Denomino 'política' aquele tipo de pa-
here there is no lack of clarity, no ambi- do vigente" (GADAMER, Hans-Georg. Ver- drão que estabelece um objetivo a ser al-
guity. The quota embodied in the collecti- dade e método. p. 487). cançado, em geral uma melhoria em algum
ve bargaining agreement between Kalser 54. ESKRIDGE JR, William N. Gadamer/Statu- aspecto econômico, político ou social da
and the Steelworkers unquestionably tory lnterpretation. p. 613. comunidade (ainda que certos objetivos
discriminates on the basis of race against 55. ESKRIDGE JR, William N. Dynamic Statutory sejam negativos pelo fato de estipularem
individual employees seeking admission to lnterpretation .. p. 1.482. que algum estado atual deve ser protegi-
on-the-job training programs. And, under 56. DWORKIN, Ronald. O Império do Direito. do contra mudanças adversas). Denomino
the plain language of § 703(d), that is 'an p. 276. ' 'princípio' um padrão que deve ser obser-
unlawful employment practice"' (United 57. Veja-se as preocupações de Gadamer com vado, não porque vá promover ou assegu-
Steelworkers v. Weber (1979)). a "tradição": "Em si mesmo, 'preconceito' rar uma situação econômica, política ou
50. "Weber suggests a lesson: when societal (Vorurteib quer dizer um juízo (UrteiO que social considerada desejável, mas porque
conditions change in ways not anticipated se forma antes da prova definitiva de to- é uma exigência de justiça ou equidade ou
by Congress and, especially, when the legal dos os momentos determinantes segundo alguma outra dimensão da moralidade"
and constitutional context of the statute a coisa. No procedimento jurisprudencial (DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a
decisively shifts as well, this current pers- um preconceito é uma pré-decisão jurídica, sério. p. 34).
pective should, and will, affect the statute's antes de ser baixada uma sentença defini- 63. DWORKIN, Ronald. O Império do Direito.
interpretation, notwithstanding contrary tiva. Para aquele que participa da disputa p. 314.
inferences from the historical evidence" judicial, um preconceito desse tipo repre- 64. ESKRIDGE JR, William N. Dynamic Statutory
(ESKRIDGE JR, William N. Dynamic Statu- senta evidentemente uma redução de suas lnterpretation. p. 1.553.
tory lnterpretation. p. 1.494). chances" (Verdade e Método. p. 407). 65. Como, por exemplo, Gadamer: "Naturalmen-
51. ESKRIDGE JR, William N. Dynamic Statutory 58. ESKRIDGE JR, William N. Dynamic Statutory te que o sentido somente se manifesta por-
lnterpretation. p. 1.496. lnterpretation. p. 1.550. que quem lê o texto lê a partir de determi-
52. Para Hans-Georg Gadamer, a interpretação 59. Para Hart, o "nobre sonho" de Dworkin nadas expectativas e na perspectiva de um
textual ocorre em uma fusão de horizontes, seria particularista e holístico, pois procu- sentido determinado. A compreensão do que
em que o leitor alcança a perspectiva pas- ra maneiras de limitar a discricionariedade está posto no texto consiste precisamente
sada, ao mesmo tempo em que compreen- dos magistrados se utilizando de recursos na elaboração desse projeto prévio, que, ob-
de o contexto presente do texto. Trata-se de sistema jurídicos particulares. O "pesa- viamente, tem que ir sendo constantemente
de um processo contínuo. A hermenêutica delo", por outro lado, estaria representado revisado com base no que se dá conforme se
é um diálogo do intérprete com o texto e pelos realistas e por sua visão da impossi- avança na penetração do sentido" (Verdade
com a tradição que circunda a escritura. bilidade de se limitar a discricionariedade e Método. p. 402). Eskridge assume expli-
"Ernest Forsthoff demonstrou numa valiosa dos juízes, e da consequente indetermina- citamente a influência de Gadamer em sua
investigação que, por razões estritamen- ção das decisões. "So for Dworkin, even in teoria. No que tange a Dworkin: "My view is
te jurídicas, foi necessário refletir sobre a the hardest of hard cases where each of that Dworkin is influenced by Gadarner and
mudança histórica das coisas, através do two alternative interpretations of a statute Habermas but seems to depart from their
que distinguiu-se entre o sentido original or two conflicting rules seems to fir equally metaphor of interpretation-as-conversation
do conteúdo de uma lei e o que se aplica well the already clearly established law, by taking the position that interpretation
nà práxis jurídica. É verdade que o jurista the judge is never to make law. So Oliver is constructive - the interpreter's making
, sempre tem em mente a lei em si mesma. Wendell Holmes was, in Dworkin's view, the text the best it can be" (ESKRIDGE JR,
Màs seu conteúdo normativo tem que ser wrong in claiming that at such points the William N. Gadamer/Statutory lnterpreta-
,determinado com respeito ao caso ao qual judge must exercise what he called 'the so- tion. p. 647). Ver: DWORKIN, Ronald. O Im-
se trata de aplicá-la. E para determinar vereign prerogative of choice' and must le- pério do Direito. p. 62-3.
com exatidão esse conteúdo não se pode gislate even if only 'interstitially'. According 66. Eskridge lembra que não se pode aceitar
prescindir de um conhecimento histórico do to the new theory, the judge, however hard a dicotomia entre "sujeito" e "intérprete"
sentido originário, e só por isso o intérprete the case, is never to determine what the de maneira acrítica: "lnterpretation is aso-
jurídico tem que vincular o valor posicional law sha// be; he is confined to saying what cial process of construction, not a scientific
histórico que convém a uma lei, em virtude he believes is the la~ before his decision, process of Discovery. Method can channel
do ato legislador. Não obstante, não pode though of course he may be mistaken. This the argumentation and suggest informa-
~ujeitar•se a que, por exemplo, os protoco- means that he must always suppose that tion to be considered, but it cannot dictate
los parlamentares lhe ensinariam com res- for every conceivable case there is some all that goes on in statutory, or any, inter-
peito à intenção dos que elaboraram a lei. solution which is already law before he pretation" (The NewTextualism. UCLA Law
Pelo contrário, está obrigado a admitir que decides the case and which awaits his dis- Review, v. 37, 1990. p. 691 ).

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REVISTA BONIJURIS 1ANO 30 1EDIÇÃO 651 1ABR/MAI2018 155


O JUDICIÁRIO E OS CASOS DIFÍCEIS

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//FICHA TÉCNICA ~ ~''.,~

ntulo original: Interpretação .constitucional: entr~ dit(


Professor Titular de Direito Constitucional da Universiil .ro Universitário Au-
tônomo do Brasil - UniBrasiL Pós-graduado em Dir:eit(). · . c:l.f? Loúvain, Bélgica.
Bruno Meneses Lorenzetto. Professor de Direitóda .I?oil ahá;Visiting Scholar
na Columbia ·Law School, Columbia University. Ne~ ·~ rta área de Direitos
Humanos e Democracia. Mestre em Direito pela ÚFPit . ·ais. Resumo: O pre-
sente :artigo trata da interpretação constitucional a p · · · uri$dição: de um lado,
a propostado direito comó integridade de RonaldD~~ ~: .kà.da interpretação
de William Eskridge. As teorias são apresentadas ~op:i; · Ú:etp···possui.melhores
condições para tomar decisões a respeito de casos âiti mudanças que ocor-
reram na jurisdição constitucional nos últimos temp •;.•: dtx~s teorias em foco
e traça pontos em comum e distanciamentos entre a it<:> como integridade.
AbStract. This article talks about the constitution.aU 't>f two normative the-
ories ofjurisdiction: on one hand, Ronald Dworkiri'.s'i .tskridge's dynamic
statutoryinterpretation. The theories are present Who bas the best con-
ditions to make.decisions on hard cases. Therefor~ iitOccurred fotely on
the. constitutional jurisdiction, presents key ~~pêç'. s commonalities and
differences between the dynamic statutory irtt-e~ê füy. PàJ.avras.;chave.
Inter\lretaçao ~onstitucional; Dinâmica; Ii;it~gridagf? ·atíoh; Dynamic; Inte-
grity! Data cl~ ~bimento.16.09.2015. Data de apn;

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