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Organizacional e do Trabalho
Bauman (2001) aponta que os principais afetados por essa nova política
do trabalho são aqueles que se encontram na base da pirâmide social. São trabalhadores
sem alta qualificação profissional e que tendem a atuação a partir de tarefas não
específicas. O autor os define como “trabalhadores de rotina” que percebem sua
condição de descartabilidade, o que os descompromete com o trabalho ou com os
colegas em formas de engajamento focado no longo prazo. “Para evitar frustração
iminente, tendem a desconfiar de qualquer lealdade em relação ao local de trabalho e
relutam em inscrever seus próprios planos de vida em um futuro projetado para a
empresa” (p. 175).
Esse aspecto demonstra que a flexibilidade do trabalho experimentada
na modernidade líquida não remete ao trabalho a experiência de vida e a uma segurança
de longo prazo. A relação duradoura entre trabalhador e organização de trabalho, marca
do tempo da modernidade pesada, ficou para trás. A flexibilização trouxe também a
necessidade de permanecer aberto a novas possibilidades. Manter as janelas abertas é
uma das artes que o indivíduo contemporâneo precisa aprender a exercer. Afinal de
contas, na sociedade líquida o desemprego é estrutural, onde ninguém se sente
verdadeiramente seguro. Os empregos que eram considerados seguros em empresas
sólidas, faz parte da nostalgia de outrora.
No contexto atual, no que tange os laços no contexto de trabalho, para a
manutenção da dinâmica de reengenharia empresarial, eles necessitam tornar-se/manter-
se frágeis. Nesse sentido, Sennett (1999) afirma que a perda de confiança é um dos
desdobramentos da instabilidade disseminado pelo/no capital. Assim, diferentemente
de laços fortes que demandam associações e vínculos de longo prazo, “[...] o
distanciamento e a cooperatividade superficial são uma blindagem melhor para lidar
com as atuais realidades que o comportamento baseado em valores de lealdade e
serviço” (p.25).
Isso vem ao encontro com a afirmação de Bauman (2001, p.171) ao
descrever a relação entre trabalho, compromisso e lealdade:
Todo esse processo vem a evidenciar o que autor descreve como sendo
o trabalho na sociedade líquido-moderna e a relação entre capital-trabalhador. Neste
caso a fluidez de ambos se justifica em função do que vem sendo aqui discutido. A
versão liquefeita das relações de trabalho na contemporaneidade, anuncia uma época de
capitalismo leve, flutuante, onde os laços entre o capital e trabalho estão enfraquecidos
e sendo substituídos em uma nova lógica, da sociedade do consumo.
Esse desengajamento, enfraquecimento dos laços, impulsiona o
imediatismo no trabalho que tanto beneficiam a ideologia de resultados imediatos em
detrimento de uma preocupação moral com o outro, ou seja, o ser e estar para o outro.
Fazemos parte de um grupo de precariados, caracterizados pelo sofrimento individual
(trazidos pelas incertezas da vida), falta de dinheiro para pagar as contas básicas, aliadas
a mesquinharia dos salários e fragilidade dos empregos. Em diálogo com Leonidas
Donskis, Bauman (2014) pontua que esses sofrimentos dividem, separam as pessoas,
trazendo uma incerteza existencial humilhante, que tem como fonte a mistura de
ignorância e incerteza.
Outra característica de extrema relevância para compreendermos as
atuais relações de trabalho se dá através da mudança essencial na transversalidade da
precarização do trabalho. Observa-se o medo de que o emprego não dure por muito
tempo pela fácil substituição das funções exercidas, ou seja, os trabalhadores da base da
pirâmide, os profissionais diplomados, os donos de capital, os que vivem da bolsa de
valores, todos, sem exceção, temem pela instabilidade funcional.
Para dar conta da necessidade de consumo, somado a falta se confiança
em relações de longo prazo, as pessoas tem sido incentivadas a montar seus próprios
negócios – vinculada a capacidade de saber empreender – ou mesmo manter-se no
campo do trabalho informal, que tem como característica um retorno imediatista a curto
prazo e nenhuma cobertura legal para efeitos de proteção ao trabalhador.
A característica das escolhas pelos resultados imediatos, estabelecendo
relações com o curto prazo traz a essa discussão outro aspecto elencado por Bauman
(2001) que é a procrastinação ligada a uma ética no trabalho. Diz o autor que o
significado da palavra procrastinar, contempla duas tendências opostas, “[...] uma leva à
ética do trabalho, que estimula a troca de lugares entre meios e fins e proclama a virtude
do trabalho pelo trabalho, o adiamento do gozo como um valor em si mesmo [...]”
(BAUMAN, 2001, p. 181) e a outra, que vem se apresentando como uma característica
do contexto líquido-moderno, instrumentaliza o trabalho e o subordina ao consumo,
onde a abstinência deve ser reduzida ao mínimo. Bauman (2001) trará de George
Steiner, a representação da “cultura do cassino” para representar essa tendência da
estética do consumo:
REFERÊNCIAS:
Bauman, Z. (2001). Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar.
Bauman, Z. (2008a). La Sociedad Situada. Buenos Aires: Fondo de Cultura Economica.
Bauman, Z. (2008b). A Sociedade Individualizada: vidas contadas e histórias vividas.
Rio de Janeiro: Zahar.
Bauman, Z. (2013). Danos Colaterais: desigualdades sociais numa era global. Rio de
Janeiro: Zahar.
Bauman, Z. (2014). Vigilância Líquida. Rio de Janeiro: Zahar.
Bauman, Z.; May, T. (2010) Aprendendo a pensar com Sociologia. Rio de Janeiro:
Zahar.
Bauman, Z.; Donskis, L (2014). Cegueira Moral: a perda da sensibilidade na
modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar.
Sennett, R. (1999) A corrosão do caráter: as consequências pessoais do trabalho no
novo capitalismo. Rio de Janeiro: Record.
Sennett, R. (2006) A Cultura do Novo Capitalismo. Rio de Janeiro: Record.