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ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA


RICARDO IBSEN PENNAFORTE DE CAMPOS

MERCOSUL
E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A INTEGRAÇÃO REGIONAL

Rio de Janeiro
2012
2

RICARDO IBSEN PENNAFORTE DE CAMPOS

MERCOSUL
E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A INTEGRAÇÃO REGIONAL

Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia


apresentada ao Departamento de Estudos da
Escola Superior de Guerra como requisito à
obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de
Política e Estratégia.

Orientador: Coronel R/1 Jorge Calvario dos Santos.

Rio de Janeiro
2012
3

C2012 ESG
Este trabalho, nos termos de legislação
que resguarda os direitos autorais, é
considerado propriedade da ESCOLA
SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É
permitido a transcrição parcial de textos
do trabalho, ou mencioná-los, para
comentários e citações, desde que sem
propósitos comerciais e que seja feita a
referência bibliográfica completa.
Os conceitos expressos neste trabalho
são de responsabilidade do autor e não
expressam qualquer orientação
institucional da ESG

________________________________
Ricardo Ibsen Pennaforte de Campos

Biblioteca General Cordeiro de Farias

Campos, Ricardo Ibsen Pennaforte de

MERCOSUL e suas implicações para a Integração Regional/


Capitão-de-Mar-e-Guerra Ricardo Ibsen Pennaforte de Campos. - Rio de
Janeiro: RJ, 2012.

75f.:il.

Orientador: Coronel R/1 Jorge Calvario dos Santos


Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao
Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito
à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e
Estratégia (CAEPE), 2012.

1. MERCOSUL. 2. Integração Regional. 3. Blocos Econômicos


4. Relações Internacionais I.Título.
4

Aos meus filhos Rodrigo e Beatriz e à


minha esposa e companheira de todas as
horas Rachel, razões que motivam minha
alegria de viver. Só vocês sabem o
quanto sou feliz.
5

AGRADECIMENTOS

Aos meus ex-Comandantes, mestres e professores que tive na dileta Carreira


Naval, pela parcela fundamental de contribuição na minha formação e na forja de
minha alma marinheira, em especial, ao Almirante Afonso Barbosa, que traduz-se
em exemplo de líder que sempre seguirei e em um pai presente e carinhoso.
Ao estimado Embaixador João Carlos de Souza-Gomes pela atenção e a
sincera amizade sempre presentes e acompanhadas do capricho e da cordialidade
do muito caro Conselheiro Gilberto Jungblut, diplomatas de escol lotados na nossa
Embaixada no Uruguai, que muito contribuíram para a consecução deste Trabalho.
Ao caro Embaixador Regis Percy Arslanian, ex- Representante do Brasil junto
à ALADI e o MERCOSUL, pela pronta colaboração, amizade e simpatia dispensada,
que contribuiu com sua sapiência e larga experiência na construção deste Trabalho.
Aos prezados Embaixador Ruy Pereira, Representante do Brasil junto à
ALADI e o MERCOSUL, e ao Ministro Márcio Fagundes do Nascimento, diletos
amigos, que diuturnamente incentivaram o prosseguimento desta pesquisa e aos
quais espero, um dia, poder retribuir e reencontrar.
Aos Professores Adilson Rodrigues Pires e Reinaldo Gonçalves pela gentileza
e a presteza das informações encaminhadas e a certeza de bem representar a
nossa respeitada Academia.
Ao Excelentíssimo Senhor Presidente Marco Maciel pela preocupação e a
importante contribuição que emprestou a este Trabalho com a credibilidade de um
Vulto Histórico, que tive a sorte de conhecer e admirar em tempos anteriores e a
fortuna de manter uma relação que perdura já há muitos anos.
Ao Embaixador Bruno Bath, Chefe do Departamento do MERCOSUL do
Itamaraty, pela paciência, fineza no trato e a precisão dos dados remetidos, bem
como a disponibilidade para o prosseguimento de consultas para a redação desta
monografia.
Aos amigos da Turma Programa Antártico Brasileiro – PROANTAR – pela
oportunidade de conhecê-los e a simpatia dispensada neste ano inesquecível.
Ao Coronel Jorge Calvário dos Santos pela orientação segura e a paciência
para direcionar a consecução deste Trabalho e ao estimado amigo Capitão-de-Mar-
e-Guerra (Fuzileiro Naval) Carlos Antonio Raposo de Vasconcellos pela inestimável
contribuição na montagem desta monografia e por mais esta prova de amizade.
6

Devemos buscar sempre, entre o


que nos separa, aquilo que pode
nos unir, porque, se queremos viver
juntos na divergência, que é um
princípio vital da democracia,
estamos condenados a nos
entender.
Marco Maciel
7

RESUMO

Esta monografia investiga se o MERCOSUL apresenta implicações para o processo


de integração regional e se, para o Brasil, é fator determinante para que o país
prossiga em rumo comum ao do MERCOSUL, objetivando maior inserção no cenário
mundial. Destaca como objetivo principal avaliar o papel do MERCOSUL e suas
implicações para a integração regional, considerando as assimetrias observadas
entre os membros, a fim de verificar a consolidação e a manutenção do Bloco como
veículo de fortalecimento econômico dos países integrantes. Na análise do processo
de integração dos países pertencentes ao Bloco, considera seus aspectos históricos
e instrumentos legais para a consecução dos objetivos do Tratado de Assunção. A
pesquisa foi delimitada pela assinatura desse Tratado. Está estruturado em cinco
capítulos. O primeiro apresenta considerações a guisa de Introdução. O segundo
apresenta o processo de integração entre os países do Cone Sul, conceitos e
definições para a adequada compreensão do tema. O terceiro avalia a participação
do Brasil no processo de consolidação do Bloco e o desempenho dos membros
participantes, no que diz respeito ao processo de integração. O capítulo quarto
identifica os principais aspectos para a inserção dos países membros no campo da
competitividade, necessária para lançar o Bloco nas disputas internacionais, bem
como a relação com a política e com as relações extra-Bloco. O quinto e último
capítulo promove a análise com resultado positivo quanto à viabilidade de
manutenção da unidade do Bloco, considerando a tendência de multilateralidade da
economia mundial, com conclusão baseada nas informações obtidas em capítulos
anteriores.

Palavras-chave: MERCOSUL, integração regional, blocos econômicos, relações


internacionais.
8

RESUMEM

En esta tesis se investiga el MERCOSUR con sus implicaciones para el proceso de


integración regional es un factor decisivo para que Brasil continúe en el curso
ordinario del bloque, con miradas a una mayor integración en la escena mundial.
Fuera como objetivo principal evaluar el papel del MERCOSUR y sus implicaciones
para la integración regional, teniendo en cuenta las asimetrías observadas entre los
miembros con el fin de verificar la consolidación y el mantenimiento del bloque como
un vehículo para el empoderamiento económico de los países miembros. Al analizar
el proceso de integración de los países pertenecientes al bloque, considera a sus
aspectos históricos e instrumentos legales para el logro de los objetivos del Tratado
de Asunción. La investigación está delimitada por la firma de este Acuerdo. Este
trabajo de fin de curso está estructurado en cinco capítulos. El primer presenta
consideraciones a modo de introducción. El segundo presenta el proceso de
integración entre los países del Cono Sur, conceptos y definiciones para la
adecuada comprensión del tema. El tercer analiza la participación de Brasil en el
proceso de consolidación del bloque y el rendimiento de los miembros participantes,
en relación con el proceso de integración. El cuarto identifica los principales
problemas para la integración de los países miembros en el ámbito de la
competitividad, necesarios para poner en marcha el bloque en las disputas
internacionales, así como la relación con la política y con otros bloques. El quinto y
último capítulo promueve el análisis con resultado positivo ante la viabilidad de
mantener la unidad del bloque, teniendo en cuenta la tendencia del multilateralismo
en la economía mundial, con una conclusión basada en la información obtenida en
los capítulos anteriores.

Palabras clave: MERCOSUR. La Integración Regional. Bloques Económicos.


Integración. Relaciones Internacionais.
9

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 Organograma do MERCOSUL ........................................................ 21

FIGURA 2 Níveis de Integração Regional ........................................................ 24


10

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Grau de Satisfação com a Democracia ................................................... 26


11

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABACC Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de


Materiais Nucleares
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ACE Acordo de Complementação Econômica
ALADI Associação Latino-Americana de Desenvolvimento Integrado
ALALC Associação Latino-Americana de Livre Comércio
ALCA Área de Livre Comércio da Américas
CAN Comunidade Andina das Nações
CCM Comissão de Comércio do MERCOSUL
CMC Conselho do Mercado Comum
CRPM Comissão de Representantes Permanentes do MERCOSUL
FARC Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia
FGV Fundação Getúlio Vargas
FOCEM Fundo de Convergência Estrutural do MERCOSUL
FREPASO Frente País Solidário
GMC Grupo do Mercado Comum
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IUPERJ Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro
MDIC Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
MERCOSUL Mercado Comum do Sul
NAFTA North America Free Trade Agreement ou Tratado Norte-Americano
de Livre Comércio
NCM Nomenclatura Comum do MERCOSUL
OPEP Organização dos Países Exportadores de Petróleo
PARLASUL Parlamento do MERCOSUL
PIB Produto Interno Bruto
PICE Programa de Integração e Cooperação Econômica
SECEX Secretaria de Comércio Exterior
TEC Tarifa Externa Comum
UNASUL União do Países Sul-Americanos
VRAEM Vale dos Rios Apurímac, Ene e Mantaro
ZLC Zona de Livre Comércio
12

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 13

2 O MERCOSUL .......................................................................................... 15
2.1 OS ANTECEDENTES ............................................................................... 15
2.2 O TRATADO DE ASSUNÇÃO – A GÊNESE ............................................. 18

3 A POLÍTICA E AS RELAÇÕES NO PROCESSO DE INTEGRAÇÃO


REGIONAL ............................................................................................... 22
3.1 O BRASIL NO PROCESSO DE CONSOLIDAÇÃO DO BLOCO................ 22
3.1.1 Integração ................................................................................................ 22
3.1.2 Formas de Integração ............................................................................. 23
3.1.3 A Política Atual nos Estados Partes ...................................................... 25
3.1.3.1 Situação dos Países Membros ou Estados Partes .................................... 25
3.1.3.2 Situação dos Estados Associados ............................................................. 29
3.1.3.2.1 Estado Plurinacional da Bolívia ................................................................. 29
3.1.3.2.2 República do Equador ............................................................................... 30
3.1.3.2.3 República da Colômbia ............................................................................. 32
3.1.3.2.4 República do Chile .................................................................................... 34
3.1.3.2.5 República do Peru ..................................................................................... 37

4 A MANUTENÇÃO DA UNIDADE DO BLOCO .......................................... 41


4.1 A ARGENTINA .......................................................................................... 42
4.2 SITUAÇÃO E PROGRESSOS NO PROCESSO DE INTEGRAÇÃO ......... 43
4.3 O COMÉRCIO ENTRE OS PAÍSES DO MERCOSUL ............................... 45

5 CONCLUSÃO ........................................................................................... 51

6 REFERÊNCIAS

ANEXO A - ENTREVISTA COM O EMBAIXADOR BRUNO DE BRÍSIOS BATH

ANEXO B - ENTREVISTA COM O EMBAIXADOR REGIS PERCY ARSLANIAN

ANEXO C - ENTREVISTA COM O PROF. REINALDO GONÇALVES

ANEXO D - ENTREVISTA COM O PROF. ADILSON RODRIGUES PIRES

ANEXO E - AS MAIORES EMPRESAS DA AMÉRICA LATINA


13

1 INTRODUÇÃO

O Brasil como protagonista do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL)


destaca-se dentre seus membros por ser um ator de vulto decisório. Em outros
cenários internacionais tais como dentre os países lusófonos, os do G20 e os BRICS
o Brasil também é explicitado de forma positiva. Nesse sentido o País tem
perseguido a meta de integração regional, no intuito de possibilitar maior visibilidade
de conjunto nos foros internacionais e que constitui instrumento para o
fortalecimento econômico dos países integrantes do Bloco Econômico e, em
especial, no subcontinente sul-americano. Será o processo de integração regional
fundamental para maior inserção do MERCOSUL no cenário mundial? Será a
integração regional fator de vulto para que o Brasil prossiga em rumo comum ao do
MERCOSUL, visando o destaque do País no Concerto das Nações? Seguiremos na
busca das implicações do Bloco para a integração regional, considerando, em
especial, o papel do Brasil na sua consolidação.
Com o Objetivo Geral de identificar qual o papel do MERCOSUL no processo
de integração regional, devem-se considerar as assimetrias observadas entre seus
membros, a fim de se verificar a consolidação e a manutenção do Bloco como
veículo de fortalecimento econômico dos países integrantes.
Para a obtenção de respostas há que se analisar o processo de integração
entre os países membros do Cone Sul; avaliar a participação do Brasil no processo
de consolidação do Bloco; identificar os principais aspectos que levam à inserção
dos países membros no campo da competitividade, necessária para lançar o Bloco
nas disputas internacionais em condições razoavelmente favoráveis; e analisar a
viabilidade da manutenção da unidade do Bloco, considerando a tendência de
multilateralidade da economia mundial. São estes os Objetivos Específicos do
Trabalho.
Na análise do processo de integração dos países pertencentes ao Mercado
Comum do Sul (MERCOSUL) dever-se-á considerar seus aspectos históricos e
instrumentos para a consecução dos objetivos do Bloco. Os conceitos básicos
devem ser elucidados para o entendimento do Tema em lide e torna-se fundamental
o pleno conhecimento da estrutura do MERCOSUL, destacando-se em que ponto se
encontra a consolidação do Bloco e quais as principais divergências existentes entre
os seus membros.
14

A pesquisa foi delimitada entre o momento da assinatura Tratado de


Assunção (BRASIL, 1991) até os dias atuais, complementado pelo Protocolo de
Ouro Preto (BRASIL, 1996), com a abrangência definida na análise do processo de
integração dos países membros, considerando a efetividade da manutenção do
Bloco como elemento propulsor de seus componentes para a inserção do grupo no
cenário mundial. Entrevistas a personalidades que participaram da gênese do Bloco,
que atuaram e influenciaram diretamente nos caminhos trilhados pelos Estados
Partes, bem como estudiosos da Academia, constituem instrumentos utilizados para
embasar a pesquisa e constam dos Anexos A a D a este Trabalho de Conclusão de
Curso (TCC).
A Metodologia de Trabalho aplicada foi direcionada pelo processo de
obtenção de dados para a análise e será norteada por meio de pesquisa documental
e bibliográfica, entrevistas junto a autoridades afetas ao Governo e à Academia, bem
como o acesso a sites na internet, com vistas à apresentação de informações
embasadas, em que serão incluídas a descrição de tabelas e figuras, a fim de situar
a relação dos países membros no processo de integração e no desempenho do
Bloco como um todo.
Pretende-se enunciar os principais pontos que reforçam ou enfraqueçam o
compromisso constitucional brasileiro (BRASIL, 1988), para que a integração dos
países membros ocorra efetivamente e, assim, fortaleça o espaço político-
econômico como um todo, visando à obtenção do efeito sinergético, superior ao das
partes, nas negociações extra-Bloco.
15

2 O MERCOSUL

O Mercado Comum do Sul será inicialmente descrito por seus antecedentes,


seguidos por sua criação e pela organização institucional. Com isso as
características do Bloco serão explicitadas por meio de conceitos e definições para a
sua adequada compreensão.
Como descrito em seu site oficial1, o MERCOSUL está integrado pela
República Argentina, República Federativa do Brasil, República do Paraguai,
República Oriental do Uruguai e, mais recentemente pela República Bolivariana da
Venezuela. São os chamados “Estados Partes” que conformam o Bloco e
comungam valores que condizem com suas sociedades democráticas, pluralistas,
defensoras das liberdades fundamentais dos direitos humanos, de proteção e
preservação do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável, assim como seus
compromissos patentes com a consolidação da democracia, o combate à pobreza e
o desenvolvimento econômico e social.
Decorre estabelecer um conceito de “Bloco”, em seu sentido mais amplo,
como citado por Therezinha de Castro (CASTRO, 1997), como sendo o resultado da
catalisação de países por potências econômicas, atraindo-os para a sua esfera de
influência, e, por outro viés, uma evolução natural da sociedade contemporânea,
motivada pelo desenvolvimento da ciência e da tecnologia. As barreiras
naturalmente impostas, estas de origem econômicas, fiscais, monetárias,
financeiras, dentre outras, são superadas com o encurtamento das distâncias por
ação da harmonização dos modais de transporte e pelos meios de comunicação dos
países integrantes.
Com a tendência observada desde a década de 1990, a consolidação do
processo de globalização dos mercados indica melhora no nível de competitividade
de países que se agrupam e formam os chamados “Blocos Econômicos”, por o que
possibilita a inserção de todos no cenário internacional, este baseado na eficiência e
na competitividade.

2.1 - OS ANTECEDENTES
Recordar os antecedentes do Bloco é conveniente para ressaltar a intenção
de estabelecer o espírito de integração.

1
Disponível em: http://www.mercosul.gov.br/. Acesso em: 17 set. 2012.
16

A origem histórica do MERCOSUL remete-se à aproximação política entre


Brasil e Argentina, que se intensificou a partir da década de 1970, consubstanciada
em novembro de 1985, pela assinatura da Declaração de Iguaçu (ABACC, 1985)
pelos Presidentes José Sarney e Raúl Alfonsín. Esta aproximação ocorreu em
ambiente essencialmente político, num cenário que gerou o desencadeamento do
processo de integração regional. Até 1979, nas relações entre os vizinhos permeava
o sentimento de rivalidade, com a confiança e a cooperação na tônica do
relacionamento, ainda que em breves momentos. Com as profundas alterações que
ocorreram no cenário econômico internacional no final da década de 1970, foram
estabelecidos importantes restrições ao crescimento e ao desenvolvimento dos dois
países. Em meio a essas transformações na política sub-regional, ambos os países
foram marcados pelo chamado retorno aos regimes democráticos, bem como pelo
compartilhamento de percepções do sistema internacional. Com a constatação
fundamental de que a superação secular de desconfianças, incluindo o
estabelecimento de hipóteses de conflito, em paralelo com a intensificação dos laços
de amizade e cooperação, era de importância capital a consolidação das
democracias para a superação do difícil cenário econômico que se configurava para
os anos 1980, os mandatários decidiram levar adiante o ambicioso projeto de
integração regional. Firmava-se, assim, a Declaração de Iguaçu, um virtuoso
instrumento que buscava a recuperação das economias com foco na inserção no
mercado mundial.
Cumpre destacar o oitavo ponto da Declaração do Iguaçu (ABACC, 1985),
que menciona:
8 - Concordaram, igualmente, quanto à urgente necessidade de que
a América Latina reforce seu poder de negociação com o resto do
mundo, ampliando sua autonomia de decisão e evitando que os
países da região continuem vulneráveis aos efeitos das políticas
adotadas sem a sua participação. Portanto, resolveram conjugar e
coordenar os esforços dos respectivos Governos para revitalização
das políticas de cooperação e integração entre as Nações latino-
americanas.

A Declaração do Iguaçu explorava temas como a complementação industrial,


integração física das infraestruturas de energia, transportes e comunicações, bem
como o comércio bilateral, sem descurar da exploração de terceiros mercados. O
ponto de convergência de visões na ocasião, por parte do Brasil e da Argentina,
17

também foram compartilhados pelo Paraguai e pelo Uruguai, sintetizando que a aura
de Iguaçu está na gênese do MERCOSUL.
Quando da criação do bloco, o conceito de integração regional estava
sofrendo a influência norte americana que apresentava o contraponto ao modelo do
NAFTA (North America Free Trade Agreement ou Tratado Norte-Americano de Livre
Comércio), acompanhado da alternativa emoldurada pela ALCA (Área de Livre
Comércio das Américas).
O MERCOSUL também apresenta diferenciação de outras iniciativas de
integração, tais como a ALALC (Associação Latino-Americana de Livre Comércio) de
1960, que foi vista à época como instrumento de apoio ao processo de importações,
outrora conduzido pelo Brasil, e a ALADI (Associação Latino-Americana de
Desenvolvimento Integrado) de 1980, apesar de ter sido criado dentro de seu
âmbito, na forma de Acordo de Complementação Econômica. O MERCOSUL
apresentou-se como elemento inovador no contexto da integração regional, não
somente no Brasil, onde até o seu advento o País permanecia reticente a processos
de integração mais profundos.
Em 1979 foi realizado o Acordo Tripartite Argentina-Brasil-Paraguai, que veio
para solucionar o contencioso sobre a utilização de recursos hídricos nas fronteiras
comuns. Ainda no processo de aproximação do Brasil com a Argentina foi firmado o
Programa de Integração e Cooperação Econômica (PICE), este pautado na
negociação de acordos setoriais (SILVA, 2004).
Com a queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, e a decadência
do regime comunista, observou-se o fim do mundo bipolarizado que pautou a Guerra
Fria, ocorrendo, dentre tantas transformações na ordem mundial, a transferência dos
contenciosos da área político-ideológica para a econômica-comercial. Surgia então a
Tríade Capitalista (GÓES, 2012a) formada por Estados Unidos, Japão e União
Europeia (à época Comunidade Econômica Europeia). Ficou, então, patente a
tendência aos processos de regionalização ao nível mundial, com a interpretação de
que os países da América Latina ficariam à margem da área de interesse dos países
já desenvolvidos, o que contribuiu para a assinatura em 1988 do Tratado de
Integração, Cooperação e Desenvolvimento entre o Brasil e a Argentina (ABACC,
1988), que foi a consolidação do processo de integração, cooperação econômica e a
composição de um espaço econômico comum entre os dois países.
18

Ato contínuo, os presidentes do Brasil e da Argentina assinaram a Ata de


Buenos Aires (BRASIL, 1990), que visava estabelecer um mercado comum entre os
dois países, o qual deveria estar definitivamente conformado em 31 de dezembro de
1994. Paraguai e Uruguai foram, então, incorporados formando o MERCOSUL.

2.2 O TRATADO DE ASSUNÇÃO – A GÊNESE


A assinatura do Tratado de Assunção (BRASIL, 1991) em 26 de março de
1991 foi o instrumento fundador do MERCOSUL, quando os presidentes da
Argentina, do Brasil, do Paraguai e do Uruguai decidiram constituir um Mercado
Comum, até 31 de dezembro de 1994, e que se denominou "Mercado Comum do
Sul". Aquele Tratado implicou:
- em estabelecer um programa de desagravação tarifária e a livre circulação
de bens, serviços e fatores produtivos entre os países, através, entre outros, da
eliminação dos direitos alfandegários e restrições não tarifárias à circulação de
mercadorias e de qualquer outra medida de efeito equivalente;
- o estabelecimento de uma tarifa externa comum e a adoção de uma política
comercial comum em relação a terceiros Estados ou agrupamentos de Estados e a
coordenação de posições em foros econômico-comerciais regionais e internacionais;
- a coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais entre os Estados
Partes de comércio exterior, agrícola, industrial, fiscal, monetária, cambial e de
capitais, de serviços, alfandegárias, de transporte e comunicações e outras que se
acordem, a fim de assegurar condições adequadas de concorrência entre os
Estados Partes; e
- o compromisso dos Estados Partes de harmonizar suas legislações, nas
áreas pertinentes, para lograr o fortalecimento do processo de integração (BRASIL,
1991).
Na Reunião da Cúpula de Presidentes de Ouro Preto, em dezembro de 1994,
aprovou-se o Protocolo de Ouro Preto (BRASIL, 1996), adicional ao Tratado de
Assunção, por meio do qual se estabeleceu a estrutura institucional do MERCOSUL,
dotando-o de personalidade jurídica internacional, capacitando-o, assim, a negociar
como entidade única. Em Ouro Preto adotaram-se os instrumentos que regem a
zona de livre comércio e a união aduaneira, que caracterizam hoje o MERCOSUL.
Dentre as deliberações mais notáveis foi estabelecida a Tarifa Externa Comum
(TEC), consolidando e aprofundando a busca do objetivo de estabelecer um
19

mercado único, passando pelas etapas intermediárias de “zona de livre comércio” e


“união aduaneira”, com o fulcro de gerar crescimento das economias dos Estados
Partes e dar maior poder de negociação ao Bloco.
Como previsto no Tratado de Assunção, a partir de 1º de janeiro de 1995, os
então quatro Estados Partes do MERCOSUL adotaram a Tarifa Externa Comum
(TEC) 2, com base na Nomenclatura Comum do MERCOSUL (NCM), com os direitos
de importação incidentes sobre cada um desses itens. Segundo as diretrizes
estabelecidas, desde 1992, a TEC deve incentivar a competitividade dos Estados
Partes e seus níveis tarifários devem contribuir para evitar a formação de oligopólios
ou de reservas de mercado. Também foi acordado que a TEC deveria atender aos
seguintes critérios:
- ter pequeno número de alíquotas;
- baixa dispersão;
- maior homogeneidade possível das taxas de promoção efetiva (exportações)
e de proteção efetiva (importação); e
- que o nível de agregação para o qual seriam definidas as alíquotas era de
seis dígitos.
O MERCOSUL ficou, então, constituído por quatro órgãos principais (BRASIL,
2007):
a) Conselho do Mercado Comum (CMC): É o órgão superior responsável
pela condução política do processo de integração. Aprova Decisões
obrigatórias para os Estados Partes e é integrado pelos Ministros das
Relações Exteriores e da Economia dos membros do Bloco. Reúne-se
duas vezes por ano e, pelo menos uma vez ao ano com a participação dos
Presidentes da República.
b) Grupo Mercado Comum (GMC): É o órgão executivo, que aprova
Resoluções Obrigatórias para os Estados Partes. Reúne-se, em média,
quatro vezes ao ano ou de forma extraordinária. O GMC delega tarefas
aos seus catorze Subgrupos de Trabalho a Reuniões Especializadas.
c) Comissão de Representantes Permanentes do MERCOSUL (CRPM): É o
órgão do CMC, criado em 2003, com sede em Montevidéu. Está integrado
pelos Representantes Permanentes de cada Estado Parte do MERCOSUL

2
Disponível em: http://www.desenvolvimento.gov.br/portalmdic/sitio/interna/interna.php?area=
5&menu=1848. Acesso em: 8 jun. 2012.
20

e por um Presidente com mandato básico de dois anos, designado pelo


próprio CMC, por proposta dos Presidentes da República dos Estados
Partes. Tem como competências:
- assistir o CMC e a Presidência Pro Tempore do MERCOSUL em
todas as atividades requeridas;
- apresentar iniciativas ao CMC sobre matérias relativas ao processo
de integração do MERCOSUL, às negociações externas e à conformação
do Mercado Comum; e
- fortalecer as relações econômicas, sociais e parlamentares no
MERCOSUL, estabelecendo vínculos com a Comissão Parlamentar
Conjunta e o Foro Consultivo Econômico e Social, assim como com as
Reuniões Especializadas do MERCOSUL.
d) Comissão de Comércio do MERCOSUL (CCM): criada pelo Protocolo de
Ouro Preto (1994) é o órgão encarregado de velar pela aplicação dos
instrumentos de política comercial comum para o funcionamento da União
Aduaneira e aprova Diretrizes obrigatórias para os Estados Partes. Reúne-
se pelo menos uma vez ao mês, na sede da Secretaria do MERCOSUL,
em Montevidéu, e é quem delega tarefas aos Comitês Técnicos.
A Estrutura Institucional do MERCOSUL mais abrangente está descrita, na
forma do organograma da Figura 1, onde encontramos não somente os órgãos
principais supracitados, mas também os demais componentes:
21

Figura 1 – Organograma do MERCOSUL


Fonte: http://www.MERCOSUL.gov.br/organograma/organograma-MERCOSUL/view
22

3 A POLÍTICA E AS RELAÇÕES NO PROCESSO DE INTEGRAÇÃO REGIONAL


Serão analisadas as políticas e as relações que regem o processo de
integração sul-americano, praticadas pelos Estados Partes e Associados do
MERCOSUL.

3.1 O BRASIL NO PROCESSO DE CONSOLIDAÇÃO DO BLOCO


Será discorrida a participação do Brasil no processo de consolidação do
MERCOSUL e o desempenho dos membros participantes, no que diz respeito ao
processo de integração, além de identificar os principais aspectos para a inserção
dos Estados Partes e Associados no campo da competitividade, necessária para
lançar o Bloco nas disputas internacionais. Faz-se mister, também, definir o
entendimento sobre a Integração.

3.1.1 Integração
O Brasil em atendimento à premissa estabelecida no artigo 4º da sua
Constituição Federal (BRASIL, 1988) é participante, e grande interessado, no
estreitamento dos laços na América Latina, com uma alta prioridade da política
exterior brasileira direcionada à América do Sul.
Art. 4º [...]
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a
integração econômica, política, social e cultural dos povos da
América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-
americana de nações.

Sob a sombra da marginalização e da penalização, os países


subdesenvolvidos, em especial, buscam o fortalecimento da inserção internacional,
agrupando-se de modo a despender menores esforços, comparando com a situação
de prosseguir isoladamente (CASTRO, 1997).
Todas as iniciativas para a promoção de um processo de integração buscam
alguns aspectos, tais como a redução da dependência das grandes economias, o
incremento da capacidade de negociação externa, a modernização dos transportes
e das comunicações, a redução dos custos industriais, a plena utilização das
capacidades agrícolas e do próprio setor industrial, a expansão das exportações
com o devido equilíbrio da Balança Comercial e investimentos nos setores
produtivos para todos os países envolvidos no processo. Pressupõe-se, portanto,
que o desenvolvimento industrial e dos setores de Ciência, Tecnologia & Inovação
23

(C,T&I) são fundamentais para o estabelecimento de um processo de integração,


acompanhado e facilitado pela redução ou mesmo pela eliminação de barreiras
comerciais (SANTOS, 1993).
Não convém que nenhum país caminhe só, num mundo em que a sinergia
representa força tão eficaz para o sucesso. Não se vislumbra vantagem para o
isolamento de um país, mas somente a perda da força da negociação em bloco
(ARSLANIAN, 2012).

3.1.2 Formas de Integração


Em particular a integração econômica é um processo que propicia amplo
crescimento dos países componentes sem limitar-se à eliminação de barreiras
alfandegárias e impostos sobre a importação, mas harmonizando as políticas
econômicas vigentes entre os seus membros. A liberdade comercial passa pela
facilidade com que a estrutura de transportes dos mercados intrabloco está
dimensionada, buscando efetivamente a integração física entre países por meio de
pontes, ferrovias, estradas, hidrovias, dentre outros.
A integração passa também pela forma de medida global, a qual deverá estar
permeada por acordos que abarquem toda a vida econômica dos países envolvidos,
sendo fundamental a abolição de entraves tais como as barreiras alfandegárias, a
existência de obstáculos à livre circulação de produtos e a dicotomia entre suas
políticas econômicas. O processo também pode passar por sua forma setorial, na
qual se fomenta a integração setor a setor sucessivamente em diferentes áreas de
atividades, bem como para a execução de empreendimentos específicos que
atingem o interesse comum (SANTOS, 1993).
Os níveis de integração regional seguem classificação clássica, que pode ser
representada como na figura abaixo:
24

União
Econômica

Mercado Livre fluxo de bens, mão


Comum
de obra e capital.

União Criação de uma tarifa externa


Aduaneira comum (TEC).

Zona de Redução da alíquota tarifária


Livre
Comércio de importação igual a zero.

19

Figura 2 – Níveis de Integração Regional


Fonte: GÓES, 2012b

O ordenamento dos níveis de integração varia desde a concessão de


tarifas preferenciais até a completa união das economias dos países participantes do
Bloco.
Ficam definidos, assim, cada um dos níveis de integração como (GÓES,
2012b):
- Zona de Livre Comércio (ZLC) – Estabelecida mediante acordo entre os
participantes é a forma utilizada para a supressão de tarifas e o movimento de bens,
sem alterar a autonomia comercial e aduaneira dos países membros, ou seja, indica
ações para a prática de redução da alíquota tarifária de importação, entre os
Estados participantes, igual a zero. A delimitação de uma área sujeita à redução de
tarifas estabelecidas para determinados produtos pré-selecionados, sem, contudo,
configurar a supressão tributária a incidir, bem como restrições mais contundentes à
importação, pode vir a anteceder a instalação de uma ZLC;
- União Aduaneira – Consiste em estabelecer a liberdade total do comércio
entre seus membros e uma política comercial comum em relação a terceiros, com a
adoção de uma Tarifa Externa Comum (TEC), com a finalidade de eliminar
quaisquer diferenças entre as tarifas comerciais praticadas entre os integrantes do
Bloco;
- Mercado Comum – Os países membros suprimem todos os óbices
referentes ao livre trânsito de bens, mão de obra e capital. As restrições comerciais
25

são eliminadas e é franqueada a livre circulação de pessoas e de empresas


estabelecidas entre os países signatários; e
- União Econômica – é a supressão de toda e quaisquer restrições ao
movimento de mercadorias, com a consolidação por parte dos Estados integrantes
de políticas governamentais comuns e devidamente harmonizadas entre si.
Aponta-se, ainda, uma etapa de considerada como final, a chamada
Integração Total, que aponta para a união de todas as políticas nacionais dos países
signatários, tais como políticas financeiras, agrícolas, sociais, fiscais, econômicas e
monetárias, dentre outras. Além da harmonização dessas políticas comuns, são
estabelecidas, também, uma Autoridade Supranacional com poderes plenos sobre
as decisões a serem tomadas no foro, uma moeda única e uma instituição bancária
comum e central.

3.1.3 A Política Atual nos Estados Partes


Segue-se explicitando a situação política dos Estados Partes e dos
Estados Associados.

3.1.3.1 Situação dos Países Membros ou Estados Partes


Do final do século XX à primeira década do século XXI, a América do Sul
de um modo geral cumpriu um período de tranquilidade institucional. Eleições
aconteceram e, grosso modo, dentro dos parâmetros tidos como “democráticos”. A
democracia passou a se tornar regra e não exceção. Em praticamente todos os
países da região vivemos democracias emergentes, com processos por vezes
tumultuados de realinhamento partidário.
No Uruguai, durante várias décadas, os partidos Colorado e Blanco
dividiram o poder até Tabaré Vázquez assumir em 2004, pela Frente Ampla. Em
2010 assume o ex-guerrilheiro tupamaro José “Pepe” Mujica.
Na Argentina, a Frente País Solidário (FREPASO) mostrou-se como
alternativa, mas foi o Partido Justicialista que prevaleceu, retratando um governo de
partido único.
No Paraguai, país de menor grau de satisfação com a democracia no
subcontinente (conforme a Tabela 1), vem demonstrando pouca maturidade
constitucional. Dito como democrático, vem cumprindo o contido na sua Lei Maior,
26

contudo sua atual situação interna e a relação com seus pares do MERCOSUL e da
União dos Países Sul-Americanos (UNASUL) apresentam profundas fissuras.

Tabela 1 - Grau de Satisfação com a Democracia (%)


País Muito Satisfeito Satisfeito Insatisfeito Muito Insatisfeito
Argentina 3,59 50,11 40,91 5,39
Brasil 6,17 54,73 32,64 6,49
Paraguai 1,39 18,64 50,00 29,97
Uruguai 9,52 67,47 20,00 3,01
Fonte: Dados de 2008 ( D’Araujo, 2010, p.25)

Dentre os quatro países fundadores do MERCOSUL, o Paraguai chama a


atenção por seus indicadores. Praticamente todas as instituições clássicas da
democracia estão desacreditadas mesmo com eleições livres, voto universal e o
processo eleitoral como via de acesso para cargos públicos.
Com base nas cláusulas denominadas “democráticas”, contidas no
Protocolo de Ushuaia (BRASIL, 1998), o Paraguai foi suspenso do Bloco, por ação
dos demais Estados Partes em vinte e nove de junho de 2012, de acordo com
decisão contida na regulamentação do ato, firmada pelos mandatários da Argentina,
Brasil e Uruguai 3:
ARTIGO 1 - A plena vigência das instituições democráticas é
condição essencial para o desenvolvimento dos processos de
integração entre os Estados Partes do presente Protocolo.
ARTIGO 2 - O presente Protocolo se aplicará às relações que
decorram dos respectivos Acordos de Integração vigentes entre os
Estados Partes do presente protocolo, no caso de ruptura da ordem
democrática em algum deles.
ARTIGO 3 - Toda ruptura da ordem democrática em um dos Estados
Partes do presente Protocolo implicará a aplicação dos
procedimentos previstos nos artigos seguintes.
ARTIGO 4 - No caso de ruptura da ordem democrática em um
Estado Parte do presente Protocolo, os demais Estados Partes
promoverão as consultas pertinentes entre si e com o Estado
afetado.
ARTIGO 5 - Quando as consultas mencionadas no artigo anterior
resultarem infrutíferas, os demais Estados Partes do presente
Protocolo, no âmbito específico dos Acordos de Integração vigentes
entre eles, considerarão a natureza e o alcance das medidas a
serem aplicadas, levando em conta a gravidade da situação
existente. Tais medidas compreenderão desde a suspensão do

3
Disponível em:
http://www.mercosur.int/innovaportal/file/3862/1/dec_028-2012_es_reglam_suspension_paraguay.pdf.
Acesso em: 2 set. 2012.
27

direito de participar nos diferentes órgãos dos respectivos processos


de integração até a suspensão dos direitos e obrigações resultantes
destes processos.

Oportunamente, após o efeito suspensivo à participação paraguaia no


MERCOSUL, os Estados Partes remanescentes aprovaram a adesão da Venezuela
ao MERCOSUL, após firmarem Declaração tripartite, possibilitando sua admissão
oficial em 31 de julho de 2012 4.
No caso do Brasil, a conquista do Partido dos Trabalhadores (PT) com a
vitória do presidente Lula em 2002 simbolizou o proletariado no poder, fato notável
ante ao protagonismo das elites até então.
Presidente por dois mandatos consecutivos, Lula contribuiu de forma
contundente para a eleição de sua substituta Dilma Rousseff, também com passado
atrelado ao movimento revolucionário.
A recente redemocratização no subcontinente é visível e não indica
retrocesso. Como prevê D’Araújo (2010, p.36), as intervenções militares estão cada
vez mais distantes.
Parece unanimidade que, na América do Sul, as ameaças à
democracia não virão de um golpe militar tradicional, mas há
preocupação bastante disseminada quanto aos métodos políticos de
alguns líderes eleitos, seus ataques à imprensa, seu discurso
belicista, bem como a ingerência em questões internas de países
alinhados ou não ideologicamente entre si.

Desta forma, o atual panorama político da América do Sul está longe de ser
o ideal, todavia a partir de 1990, o quadro social foi otimizado.
As políticas sociais passaram a ter maior apelo do povo e atenção dos
governantes e o respeito às constituições tem sido a tônica. A integração regional
ajudou sobremaneira essa prática e a redemocratização acompanhada das
mudanças advindas se somam com o aumento da interdependência regional,
mesmo que utilizando pesos distintos representados pelas Balanças Comerciais de
cada país.
No caso da Venezuela, a década de 1990 e o início dos anos 2000
demonstraram focos de instabilidade política naquele país. O surto de populismo do
Coronel Hugo Chávez é o estopim para os constantes imbróglios internos e
externos, particularmente com os Estados Unidos. No aspecto institucional, houve
três tentativas de golpe de Estado, sendo duas em 1992 e uma em 2001. Em 1993 o

4
Disponível em: http://www.mercosur.int/innovaportal/file/4501/1/vzl.pdf. Acesso em: 2 set. 2012.
28

sociodemocrata Carlos Andrés Pérez, acusado de corrupção, foi afastado por


impeachment.
Petróleo e gás foram mobilizados como recursos políticos de barganha,
interna e externamente. Em face de suas investidas incisivas na política externa, as
Forças Armadas Bolivarianas têm sido equipadas com material de primeira linha, o
que não se pode afirmar da capacidade de seus operadores.
A ação de Chávez como mandatário foi dirigida distintamente aos
ambientes interno e externo. No campo externo, um de seus objetivos foi o de
recuperar os preços do petróleo praticados no início do governo, que variou entre 7
a 10 mil dólares americanos o barril. Para sua consecução tentou influenciar a
Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), com visitas a Sadam
Houssein e a Moamar Kadafi (VILLA, 2004).
Também promoveu junto a países como Noruega e Rússia uma estratégia
de aproximação, nos moldes de coalizão, na tentativa de aumentar os preços
internacionais do petróleo.
No segmento interno, Chávez aumentou a capacidade de produção de
petróleo, incrementando a autonomia do país, mesmo sem trocar excelentes
relações com os Estados Unidos, maior consumidor de petróleo do mundo, com
mais de vinte e cinco mil postos de abastecimento de gasolina (VILLA e URQUIDI,
2006, p.72).
Seguem o autoritarismo e a censura junto à mídia venezuelana, o que
arranha o processo democrático. Além disso, os institutos de pesquisas internos não
gozam do prestígio e da credibilidade internacionais, tampouco de considerável
parcela do povo daquele país.
É certo que a Venezuela conta com outros fatores estratégicos, pois é um
dos maiores países da América do Sul, contando com uma população de quase
trinta milhões de habitantes e um Produto Interno Bruto (PIB) que ronda os trezentos
e oitenta bilhões de dólares americanos 5. No início de 1990 percebe-se um ponto de
inflexão nestes parâmetros, com as mudanças no quadro político e o agravamento
do cenário econômico. Começava então a despertar o interesse por um bloco que
surgia, o MERCOSUL.

5
Disponível em: http://www.indexmundi.com/PT/Venezuela/produto_interno_bruto_(PIB).html.
Acesso em: 2 set. 2012.
29

Neste período, o Brasil era governado por Itamar Franco, seguido de


Fernando Henrique Cardoso e Lula. Em que pesem as diferenças entre os
mandatários, as relações bilaterais seguiram em viés crescente. A Venezuela
tornou-se um parceiro essencial do Brasil e hoje condiciona o ritmo do processo de
integração regional (FUCCILLE, 2006).
Todavia a Venezuela adentrou ao MERCOSUL, mesmo com o entrave
promovido pelo Congresso paraguaio, que até a data da suspensão do país por
motivos afetos à violação da cláusula democrática da carta de Ushuaia, não decidiu
quanto ao ingresso da República Bolivariana. Desde muito aspirando a um assento
como sócio pleno, faltava o aval paraguaio para sua adesão à União Aduaneira.
Como o Paraguai está temporariamente suspenso 6 até que retorne à
estabilização democrática, a Venezuela foi admitida como Estado Parte. A
suspensão de um dos fundadores do Bloco poderá suscitar crise, ante as razões
alegadas pelos demais Estados Partes, de que o Paraguai violou a cláusula
democrática, como descrita no Protocolo de Ushuaia, principalmente após o retorno
paraguaio ao Bloco.

3.1.3.2 Situação dos Estados Associados


Segue a análise da situação de cada Estado Associado ao MERCOSUL.
Dentre todos os países da América do Sul, somente a Guiana Francesa (território
ultramarino da França), Guiana e Suriname não constituem Estados Associados ao
MERCOSUL (BATH, 2012).

3.1.3.2.1 Estado Plurinacional da Bolívia


País com o menor PIB da América do Sul, a Bolívia possui uma história
que avoluma perdas territoriais e litígios com seus vizinhos Chile e Peru. Desde que
passou a ser um país mediterrâneo, suas possibilidades comerciais diminuíram e,
por consequência, suas finanças acompanharam a tendência.
A saída para o mar representa uma conquista sem precedentes para
aquele país mediterrâneo. Contudo, está longe de ocorrer, até por não depender
exclusivamente de um Governo, e sim, da ação diplomática e altruísta dos Governos
do Chile e do Peru (SAAVEDRA, 2006, p.28).

6
Até o término desta pesquisa, esta era a situação do Paraguai.
30

Com população majoritariamente indígena, tem como línguas oficiais o


espanhol, quíchua, aimará e o guarani. Disto redunda a necessidade de tradução
simultânea nas reuniões governamentais, desde que seu representante maior
assumiu o poder. Evo Morales, desde 2006, vem governando e colocando o seu
lado sindicalista como modus operandi. Líder cocaleiro, Evo notabilizou-se ao
enfrentar pressões norte-americanas no sentido de substituir o plantio da folha de
coca por monoculturas.
De orientação socialista, o foco de seu governo é a reforma agrária e a
nacionalização de setores estratégicos da economia, exemplo do que ocorreu com a
brasileira PETROBRAS em território boliviano.
Seu contato com o então Presidente Lula era amistoso, a quem chamava
de “mi hermano”. Como primeiro presidente de origem indígena, compôs seu
Parlamento com seus iguais, o que redundou numa “Torre de Babel” no Legislativo.
Lula e Morales acordaram o possível ingresso da Bolívia no MERCOSUL,
sem comprometer sua presença na Comunidade Andina de Nações (CAN),
integrada por Colômbia, Equador, Peru e Venezuela (esta em processo de
desvinculação).
Morales foi reeleito em 2009 com mais de 60% dos votos, deixando patente
que o povo boliviano repudia governos burgueses de uma sociedade colocada
distante dos anseios do povo que confundia os interesses particulares com os
nacionais. Tem em seus campos de gás a esperança de dias melhores, todavia
enfrenta movimentos de independência dos estados mais ricos do Leste, os quais
não aceitam submeter-se a uma quota única de imposto nacional.
A mediterraneidade da Bolívia é um fator de dependência e atraso. Para
buscar a solução de suas demandas, ficam obrigados a negociar com outros países
que possuem seus próprios objetivos nacionais. Associações bilaterais como, por
exemplo, com o Brasil, apresentam cordialidade, mas com tom de dependência.

3.1.3.2.2 República do Equador


Limitado ao Norte pela Colômbia, e leste e ao sul pelo Peru e a oeste pelo
Oceano Pacífico, a República do Equador é tal qual o Chile, um dos dois países da
América do sul que não fazem fronteira com o Brasil.
31

Conforme aponta o site oficial do Ministério das Relações Exteriores do


Brasil 7 em outubro de 2004, foi assinado entre os Estados Partes do MERCOSUL e
os três países membros da CAN (Colômbia, Equador e Venezuela), o Acordo de
Complementação Econômica nº 59 (ACE-59)8. O Acordo entrou em vigor entre todas
as Partes em abril de 2005.
Contudo, há tempos que os contatos diplomáticos entre os dois países
existem no sentido de acordar e assinar atos de cooperação recíproca.
A convite do Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, o Presidente da
República do Equador, economista Rafael Correa Delgado, fez visita de Estado ao
Brasil, em 4 de abril de 2007. Nesta visita, amplamente explicada em comunicado
conjunto, pela Nota 152 do Ministério das Relações Exteriores (MRE)9, Lula e Correa
registraram assinatura de alguns atos, traduzidos como passos importantes para a
inclusão do Equador ao MERCOSUL, dentre eles:
- Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da
República do Equador sobre Cooperação no Domínio da Defesa;
- Memorando de Entendimento sobre Cooperação entre o Instituto Rio Branco
do Ministério das Relações Exteriores do Brasil e a Academia Diplomática do
Ministério das Relações Exteriores, Comércio e Integração do Equador;
- Memorando de Entendimento entre o Governo da República Federativa do
Brasil e o Governo da República do Equador sobre Cooperação no Setor de
Energia; e
- Memorando de Entendimento entre a PETROBRAS e a Petroecuador para o
Desenvolvimento Conjunto de Biocombustíveis no Equador.
Lula e Correa progrediram em campos diversos desde o combate à fome e
erradicação ao trabalho infantil à implementação do Projeto para o Desenvolvimento
de Processos Agroprodutivos para Biocombustíveis limpos. Além disso, Lula ficou
particularmente satisfeito quando Correa prestou o apoio do Equador à postulação

7
Disponível em: http://www.itamaraty.gov.br/temas/america-do-sul-e-integracao-regional/aladi/
mercosul-colombia-equador-venezuela-ace-59. Acesso em: 2 set.2012.
8
Decreto nº 5.361, de 31 de janeiro de 2005. Dispõe sobre a execução do Acordo de
Complementação Econômica nº 59, entre os Governos da República Argentina, da República
Federativa do Brasil, da República do Paraguai e da República Oriental do Uruguai, Estados Partes
do MERCOSUL, e os Governos da República da Colômbia, da República do Equador e da República
Bolivariana da Venezuela, Países Membros da Comunidade Andina. Disponível em: http://www.
receita.fazenda.gov.br/legislacao/acordosinternacionais/AcordosComplEconomica/2005/Dec5361200
5.htm. Acesso em: 25 ago.2012.
9
Disponível em: http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/2007/04/05/visita-de-
estado-ao-brasil-do-presidente-do/?searchterm=ACE%2059. Acesso em: 24 ago.2012.
32

brasileira de ocupar assento permanente no Conselho de Segurança das Nações


Unidas10.
Sua atual Constituição, de 2008, permite a possibilidade de reeleição
presidencial.
Com importantes reservas de petróleo, que representam cerca de 40% de
suas exportações, é parceiro econômico ativo do Brasil no subcontinente sul-
americano.
Sua fronteira com a Colômbia é palco de preocupações internas e externas.
As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) são os protagonistas
dessa preocupação. O episódio da morte de Raul Reyes, líder dessa guerrilha, foi
alvo de muitas intervenções diplomáticas, inclusive brasileiras. O fato se deveu por
conta de Forças Colombianas terem alvejado o líder guerrilheiro em território
equatoriano sem o aviso prévio do presidente colombiano. Contudo, Uribe declara
que avisou com a devida antecipação 11.
A exemplo da Venezuela, que se integrou recentemente, o Equador quer
aderir ao MERCOSUL, mas apela para um tratamento diferenciado, que leve em
consideração a economia e o tamanho do país. O embaixador do Equador no Brasil,
Horacio Sevilla-Borja, disse que o esforço é para compatibilizar a participação do
12
país na Comunidade Andina das Nações (CAN) e no MERCOSUL . Em 2011, o
Alto Representante-Geral do MERCOSUL recolheu resposta positiva do Equador
sobre adesão, cujas condições mínimas ainda serão negociadas.

3.1.3.2.3 República da Colômbia


A Colômbia é um país que se encontra a noroeste da América do Sul.
Densamente povoado, com mais de 45 milhões de habitantes, se distribuem pelos
seus mais de dois milhões de quilômetros quadrados. É uma República
Presidencialista e as suas costas abarcam tanto o Oceano Pacífico como o Mar das
Caraíbas, sendo um dos poucos países sul-americanos que têm costa de ambos os
lados do território. A sua capital é Bogotá.

10
Idem.
11
Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,exercito-colombiano-mata-numero-
dois-das-farc,133207,0.htm. Acesso em: 23 ago.2012.
12
Disponível em: http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI6087429-EI8140,00-Rafael+Correa
+pede+empenho+para+entrada+do+Equador+no+Mercosul.html. Acesso em: 18 ago. 2012.
33

A história conflituosa da Colômbia é tão marcante que se confunde com a do


País. As tentativas de acordo entre as partes em litígio sempre foram em vão. O
Estado vem tentando a paz, mas por vezes se fez refém das Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia (FARC), com a sociedade sempre clamando por essa
paz, que custa a chegar.
Desde o final dos anos 1990, com a assunção de Andrés Pastrana à
presidência da Colômbia, nova iniciativa foi planejada. Foram prometidas reformas
na organização do Estado, aí incluída a proposta de negociar com as Forças
Guerrilheiras um acordo de paz.
Em 1998, sentou-se à mesa com Manuel Marulanda, o Tirofijo, apelido por
sua lendária pontaria, sendo o número um das FARC. O Estado teve que abrir mão
de alguma soberania quando cedeu parte do seu território para o controle das
Forças Revolucionárias. A partir daí houve uma espécie de soberania compartilhada
em território colombiano. Com isso e o aumento constante dos sequestros, mortes,
contrabando de armas e tráfico de drogas foram motivos suficientes para que os
norte-americanos entrassem para “auxiliar” na solução do problema, há muito
instalado e, assim, tornarem-se presentes.
Álvaro Uribe foi o presidente que se seguiu. Com tom mais desafiador, investe
contra a guerrilha e consegue alguns pontos vitoriosos. Com Tirofijo morto, em
operação em que o Brasil prestou apoio logístico, as Forças Regulares Bolivianas
alvejaram, em território equatoriano, o número dois das FARC – Raul Reyes,
consubstanciando mais uma vitória. Conforme constata o Observatório Político Sul-
13
Americano do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ ),
Uribe recebeu quase 80% de aprovação de seus atos em investir contra a guerrilha.
Não que a produção de coca tenha diminuído, mas a quantidade de sequestros e
homicídios baixou. Nessa altura os EUA já estavam apoiando o combate ao (narco)
terrorismo.
As FARC, fundadas há mais de 45 anos, são a principal guerrilha da
Colômbia, com cerca de 9.200 combatentes, segundo números do Ministério da
Defesa local. O governo considera as Forças Revolucionárias um grupo terrorista 14.

13
Disponível em: http://xa.yimg.com/kq/groups/15379434/82555027/name/CEPIK_Seguranca_na_
America_do_Sul.pdf. Acesso em: 27 ago.2012.
14
Noticiado em G1 on line. Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/08/colombia-e-
farc-assinam-acordo-para-comecar-negociar-paz-diz-tv.html. Acesso em: 28 ago.2012.
34

Novas rodadas de negociações seguem em pauta e o presidente da Colômbia, Juan


Manuel Santos, optou pela discrição ao confirmar que seu governo vem mantendo
15
conversas sigilosas com as FARC para iniciar um processo de paz. Frisou que as
operações militares ''continuarão no país enquanto a paz não for alcançada'' e
alertou que o diálogo com o grupo guerrilheiro tem como princípio a ''não-repetição
de erros de negociações anteriores''.
Uma pesquisa divulgada pelo jornal “El Tiempo” apontou que 74,2% dos
colombianos respaldam a possibilidade de que o governo Santos inicie um diálogo
16
com as FARC . O Governo colombiano não confirma nem desmente as notícias.
Contudo, desta vez, a intenção é que o fim da guerrilha e não uma pausa para
novas negociações. Este é um assunto recorrente que necessita solução que
contribuirá, sobremaneira, coma a Integração Sul-americana.
Além do café, petróleo e carvão – principais produtos de exportação – e o
Brasil ser um dos seus principais parceiros econômicos, paradoxalmente o turismo
vem recebendo posição de destaque, com uma oferta cultural e de lazer de bom
nível internacional.
Graças a diferentes acordos de livre comércio e preferências tarifárias
unilaterais outorgadas, a Colômbia conquistou o acesso a um mercado de mais de
um bilhão de pessoas 17.
Todavia, o mais preocupante, ainda, é o estado democrático de direito, que,
por vezes, é arranhado pela narcoguerrilha, a qual submete a sociedade colombiana
a uma eterna insegurança e, por falta de opção, aceita as intervenções externas
para o combate às FARC.

3.1.3.2.4 República do Chile


As relações do Chile com o Brasil, a Argentina e o MERCOSUL tornam-se
complexas, tanto pela riqueza de seus crescentes vínculos, quanto pelas relações
que os mantêm.
A primeira questão sobre o Chile é entender os motivos que deixaram aquele
País fora do Tratado de Assunção, que criou o MERCOSUL. Inicialmente pode-se

15
Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/08/cautela-para-nao-repetir-erros-marca-
novo-dialogo-entre-colombia-e-farc.html. Acesso em: 27 ago. 2012.
16
Idem.
17
Disponível em: http://pt.reingex.com/Colombia-ALC-Acordos.shtml. Acesso em: 27 ago. 2012.
35

apontar que o Chile possui índices econômicos bem razoáveis, que superam a
média dos índices dos países do MERCOSUL.
Conforme descrito18 abaixo, os dados econômicos chilenos merecem
destaque, visto que o Brasil figura dentre os seus principais parceiros:
- principais produtos exportados: frutas, cobre, peixes, papel, azeitonas, vinho
e produtos químicos;
- principais produtos importados: petróleo e derivados, produtos químicos,
máquinas industriais, equipamentos elétricos, automóveis e equipamentos
eletrônicos;
- principais parceiros econômicos (exportação): China, Estados Unidos,
Japão, Coréia do Sul, México e Brasil; e
- principais parceiros econômicos (importação): Estados Unidos, China,
Argentina, Brasil e Coréia do Sul.
O processo da formação dos grandes blocos econômicos chegou para ficar,
com o importante exemplo representado, mesmo com a crise no continente, pela
União Europeia, o qual ainda que não possua unanimidade de opiniões, consiste no
Bloco instalado melhor integrado e formalizado do planeta, tal e como comentado
pelas personalidades entrevistadas, como nos Anexos de A a D a este Trabalho de
Conclusão de Curso (ARSLANIAN, BATH, GONÇALVES e PIRES, 2012). Outro
grande bloco econômico formado pelos Estados Unidos, Canadá e México, com a
associação do Chile, é o NAFTA (North American Free Trade Agreement ou Tratado
Norte-Americano de Livre Comércio). Acordos bilaterais também foram celebrados
entre os Estados Unidos com os países da América Central, e entre o Canadá,
acompanhando essa tendência, também celebrou acordos com outros países, que
se estendem até a América do Sul, com a Colômbia, Peru e Chile.
Contudo, países como Peru, Colômbia e Chile têm setores industriais
modestos diante da concorrência com outros países, conformados, basicamente, em
petróleo e minérios, como observado no Anexo E a este TCC.
O Produto Interno Bruto (PIB) do Chile cresceu 5,5% no segundo trimestre de
2011, com relação ao mesmo período do ano anterior, em números anualizados,
como informou o Banco Central daquele país19. Em termos sazonalmente ajustados,

18
Disponível em: http://www.suapesquisa.com/paises/chile/. Acesso: em 30 ago.2012.
19
Disponível em: http://exame.abril.com.br/economia/noticias/pib-do-chile-cresce-5-5-no-2o-tri-e-5-4-
no-1o-sem. Acesso em: 2 set. 2012.
36

o PIB do país avançou 1,7% em relação ao primeiro trimestre. Durante o primeiro


semestre de 2012, o PIB chileno avançou 5,4%, segundo os números oficiais.
Conforme antecipa Pereira (2011):
A ideia hoje de desenvolvimento no âmbito da UNASUL, no conceito
de infraestrutura, é fazermos mais do que projetos tópicos, é
fazermos também alguns projetos emblemáticos e estruturantes: por
exemplo, algumas rodovias que possam conectar o sistema
rodoviário do Brasil do Atlântico até o Pacífico.

A possibilidade, na região sul da América do Sul, que vislumbra o acesso ao


Oceano Pacífico, se faz pelo Chile. Saindo de São Paulo e Curitiba, entrando pelo
sul do Paraguai e indo pelo norte da Argentina até o Chile.
Em um país como o Brasil, é importante não só ter somente uma saída para o
Pacífico, mas várias. Em médio prazo, conseguindo-se reconstruir a malha
ferroviária uruguaia, que conta com 820 quilômetros, e finalizando-se as obras do
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em ferrovias no Brasil, poderemos
sair de Buenos Aires e chegar até o Caribe pelo modal ferroviário. Isso se tornou
algo impensável há 20 anos (PEREIRA, 2011, p. 164).
20
Conforme consta no site do Ministério das Relações Exteriores (MRE) , o
MERCOSUL e o Chile assinaram, em 25 de junho de 1996, o Acordo de
Complementação Econômica n.º 35 (ACE-35), que tem como objetivos formar uma
área de livre-comércio entre as Partes, promover o desenvolvimento da
infraestrutura física, estimular os investimentos recíprocos entre os agentes
econômicos de ambos e fomentar a complementação e cooperação econômica,
energética, científica e tecnológica. O ACE-35 foi internalizado no Brasil pelo
Decreto n.º 2075, de 19 de novembro de 1996. Após a assinatura do diploma, o
Chile passou a gozar da condição de Estado Associado ao MERCOSUL e participa
de reuniões de diferentes instâncias institucionais do bloco. Na realidade, observou
21
o Informe MERCOSUL nº7 (2000 – 2001) , o Chile tem a intenção de ingressar ao
MERCOSUL há tempos. Este mesmo Informe de 2001 antecipou:
Para o Chile, o MERCOSUL representa um acordo estratégico na
medida em que representa mais do que um acordo comercial, ao
incluir posições de políticas sociais, aspectos educacionais e

20
Disponível em: http://www.itamaraty.gov.br/temas/america-do-sul-e-integracao-regional/aladi/
mercosul-chile-ace-35. Acesso em: 30 ago.2012.
21
Disponível em: http://books.google.com.br/books?id=guPEnhNx78EC&pg=PA62&lpg= PA62&dq=
chile++Mercosul&source=bl&ots=lfckhZOW4U&sig=rVyGUEqQptl0rEZ2HC8fD9A83-k&hl=pt-
BR&sa=X&ei=rHA_UPyoBcfr0gG12oHwCw&ved=0CDwQ6AEwAg#v=onepage&q=chile%20%20Merc
osul&f=false. Acesso em: 30 ago. 2012.
37

culturais, assim como a integração em matéria de infraestrutura para


o desenvolvimento do Cone Sul.

As restrições que se impunham nas preferências tarifárias entre o comércio


bilateral Chile - Estados Unidos podem ser apresentadas com menor peso político,
atualmente, contudo, vale lembrar que as tarifas praticadas neste bilateralismo se
mostraram mais vantajosas ao Chile do que a adesão ao MERCOSUL, à época de
sua criação.
Como analisa a Revista Brasileira de Política Internacional (2001), as relações
bilaterais entre Chile e os Estados Unidos já sofreram questionamentos:
A agenda "política" das relações bilaterais com os Estados Unidos
está, hoje, ausente, na medida em que não existem problemas
(incluindo alguns temas de caráter comercial, como as acusações
norte-americanas de dumping à indústria chilena do salmão e as
pressões norte-americanas por uma maior abertura de sua
economia, que, paradoxalmente, é uma das mais abertas do mundo).

Os objetivos que os Estados Unidos perseguem na região percebe o Chile


como “ator regional chave” em sua estratégia e, portanto, também em relação ao
MERCOSUL. Tudo com a intenção de aproximá-los o mais possível das aspirações
e objetivos da política comercial da Casa Branca (BERNAL-MEZA, 2001).
Não se pode olvidar a importância da Integração e do desenvolvimento da
infraestrutura física para a formação do espaço econômico da América do Sul. Isso
pode fazer a diferença nas mesas de negociações internacionais.

3.1.3.2.5 República do Peru


Com 1.285.215 km2, o Peru é o terceiro maior país da América do Sul depois
do Brasil e da Argentina e entre os 20 maiores do mundo. Possui 200 milhas
marítimas de Zona Econômica Exclusiva e, direitos territoriais sobre uma área de 60
milhões de hectares na Antártida.
Como parte de sua rica tradição cultural, o Peru possui diversas línguas
distintas. Embora o espanhol seja o idioma de uso comum, o quéchua é uma
importante herança do passado inca e em muitas regiões ainda é falado, com
ligeiras variações de acordo com a região. Há também outros dialetos, tais como o
aymara (Puno) e diversas línguas amazônicas22.

22
Disponível em: http://www.otca.info/portal/admin/_upload/paises/pdf/PERu-pt.pdf. Acesso em: 10
out. 2012.
38

No sistema presidencialista, os representantes do Executivo e do Legislativo


são eleitos por voto popular. De formação militar, o Presidente Constitucional é
Ollanta Moisés Humala Tasso e está no poder desde 28 de julho de 201123.
Conforme observa o site do Ministério das Relações Exteriores 24, foi em
fevereiro de 2006, que entrou em vigência o Acordo de Complementação Econômica
nº 58 (ACE-58), assinado em novembro de 2005, entre os Estados Partes do
MERCOSUL e a República do Peru. O ACE-5825 disciplina o relacionamento
comercial entre MERCOSUL e Peru e visa à criação de um espaço econômico
ampliado, com vistas a facilitar a livre circulação de bens e de serviços e a plena
utilização dos fatores produtivos. O livre comércio entre as Partes deverá ser
atingido até 2019. Em virtude de o ACE-58, o Peru adquiriu a condição de Estado
Associado ao MERCOSUL.
Como adianta Batista Jr. (2008), com o impasse na negociação da ALCA no
biênio 2003–2004, Washington voltou–se para a celebração de tratados bilaterais de
livre comércio. A fórmula foi sempre a mesma e a sua aceitação consagrou o quadro
de dependência das partes, com relação aos Estados Unidos. Trata–se do modelo
NAFTA–ALCA: poucas concessões em termos de acesso adicional ao mercado dos
Estados Unidos e grande perda de autonomia em diversas áreas cruciais (política
industrial, serviços, tratamento do capital estrangeiro, compras governamentais,
propriedade intelectual, entre outras).
Na América do Sul, o primeiro acordo desse tipo, que está em vigor desde
2004, foi o firmado com o Chile. Mais recentemente os Estados Unidos concluíram
tratados de livre comércio com a Colômbia e o Peru, o que resultou, na prática, no
esvaziamento da Comunidade Andina de Nações, sacramentado pela saída da
Venezuela em 2006. No mesmo ano, o Peru foi consagrado como Estado Parte do
MERCOSUL.
No âmbito da solução de conflitos na região andina, vale recordar o conflito do
Peru com o Equador, em que o Brasil atuou como mediador e integrou, em
novembro de 1997, o "grupo de países garantes", em conjunto com Argentina, Chile
e Estados Unidos, cujo compromisso de paz foi consubstanciado pela "Declaração

23
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ollanta_Humala. Acesso em: 10 out. 2012.
24
Disponível em: http://www.itamaraty.gov.br/temas/america-do-sul-e-integracao-regional/aladi/
mercosul-peru-ace-58. Acesso em: 10 out. 2012.
25
Disponível em: http://www.itamaraty.gov.br/temas/america-do-sul-e-integracao-regional/aladi/
mercosul-peru-ace-58. Acesso em: 10 out. 2012.
39

de Paz do Itamaraty" entre Peru e Equador, em 17 de fevereiro de 1995, na Capital


brasileira.
Apenas para acrescentar um exemplo que caracteriza, explicitamente, o
objetivo do Brasil em liderar a resolução dos conflitos ainda pendentes na região
andina, por meio da via diplomática, e com isso aumentar sua credibilidade
internacional, podemos citar o discurso oficial do Presidente Fernando Henrique
Cardoso por ocasião da assinatura do Acordo de Paz26: "Peru e Equador
demonstram a todo o mundo que o que distingue a América do Sul é o fato de ser
uma região de paz".
A situação interna do Peru é de instabilidade e a história traz lembranças de
atos de terrorismo praticados pelos guerrilheiros do Sendero Luminoso.
Invasões e sequestros foram de tal monta, que estremeceram as estruturas
do governo do ex-presidente Alberto Fujimori – preso, posteriormente, por violação
dos direitos humanos. O grupo terrorista peruano Túpac Amaru invadiu, em 1996, a
embaixada japonesa em Lima e obrigou Fujimori a, pessoalmente, negociar as
ações entre os terroristas e as Forças Regulares.
Nada parece ter mudado, o presidente Ollanta Humalla informou27 em 5 de
setembro passado que Rolando Cabezas Figueroa, um importante líder do Sendero
Luminoso, morreu em um confronto com as forças militares nacionais em Ayacucho
(Sudeste do país), em duro golpe contra a organização terrorista no VRAEM (Vale
dos Rios Apurímac, Ene e Mantaro).
Desde que assumiu o cargo em julho de 2011, Ollanta Humala enfatiza a
guerra às drogas, como uma de suas principais prioridades. Desde 2008, o Peru
gastou mais de US$ 120 milhões no combate ao narcotráfico 28. Conforme relata o
General López29, o terrorismo está em evolução, com espaço para proliferar:
O atual terrorismo no Peru é uma ameaça à segurança interna, que
põe em risco sua estabilidade e desenvolvimento. Este flagelo vem
evoluindo com o tempo. Seu principal método de ação é transformar-
se em uma opção de vida para a população mais pobre do país.

26 Disponível em: http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/ex-presidentes/fernando-henrique-cardoso/


discursos-1/1o-mandato/1998-2-semestre/26-de-outubro-de-1998-discurso-por-ocasiao-da-cerimonia-
de-assinatura-da-declaracao-de-paz-entre-o-equador-e-o-peru/at_download/file. Acesso em: 17 set.
2012.
27 Disponível em: http://dialogo-americas.com/pt/articles/rmisa/features/regional_news/2012/09/07/
feature-ex-3478. Acesso em: 10 out. 2012.
28 Disponível em: http://dialogo-americas.com/pt/articles/rmisa/features/regional_news/2012/03/19/aa-
sinaloa-shining-path-link. Acesso em: 10 out. 2012.
29 Disponível em: http://www.dialogo-americas.com/pt/articles/rmisa/features/special_reports/2012/08/
17/feature-ex-3413. Acesso em: 10 out. 2012.
40

Ainda em seu artigo intitulado “A economia ilegal e sua repercussão no Peru”,


o General-de-Brigada Leonardo José Longa López, do Exército do Peru, antecipa
que esta economia ilegal está baseada principalmente na produção de cloridrato de
cocaína, sem deixar de lado o corte ilegal de árvores, a mineração informal e o
contrabando.
Longa López prossegue citando que o perigo desta economia ilegal está no
fato de que, para a maioria da população pobre, ela se mostrou mais eficiente para
solucionar seus problemas; no entanto, passa despercebido o fato de ela estar
gerando maiores índices de corrupção na sociedade peruana.
Os governos de Fujimori retomaram o modelo liberal histórico do Peru e
ignorou os problemas do passado, deixando de lado duas questões estruturais da
sociedade peruana: a distribuição da renda e a inclusão social das populações
indígenas.
Contudo, o Peru desde sua descoberta segue como importante produtor de
minérios. A mineração ganhou muito espaço durante o governo Fujimori, que teve
sua política econômica baseada no incentivo às commodities (BARROS E HITNER,
2010). Os índices sobre seus minerais são de porte: hoje o país é o segundo
produtor mundial de prata, terceiro de zinco, cobre e estanho, quarto de chumbo e
molibdênio e quinto de ouro. Seus preços e quantidade exportada sustentaram o
crescimento do PIB peruano em vários períodos de sua história.
Como parte do animador quadro interno e outro de instabilidade constante, o
MERCOSUL como mediador em situações basicamente comerciais, pôde servir de
instrumento diplomático. O Brasil consegue instrumentalizar da melhor maneira o
papel de liderança e de potência regional. O significado político e geoestratégico do
MERCOSUL para o Brasil supera, em larga medida, seu sentido econômico-
comercial.
41

4 A MANUTENÇÃO DA UNIDADE DO BLOCO


As taxas de crescimento do comércio no âmbito do MERCOSUL indicam
que o Bloco possui vitalidade, ainda que se apresente como uma União Aduaneira
imperfeita. Pode se considerar superada a fase de consolidação como Zona de Livre
Comércio e destacar como importante objetivo dos Estados Partes, a constituição de
um Mercado Comum no cone sul-americano (BATH, 2012).
Traduziremos em números o desempenho do MERCOSUL, utilizando os
dados comerciais para medir o grau de êxito do Bloco 30:
Em 1980 o comércio entre os países que hoje conformam o MERCOSUL
era da ordem de US$ 3,6 bilhões e entre 1991 e 1997 o volume comercial entre os
Estados Partes cresceu de US$ 5,1 para US$ 21 bilhões. O fluxo do comércio foi
prejudicado pela seguidas crises na Ásia, na Rússia, da desvalorização cambial no
Brasil e a crise na Argentina de 2001 a 2002, mas desde então foi observada franca
recuperação. Em 2008 os países integrantes do Bloco movimentaram US$ 42
bilhões e mesmo com o advento da crise econômico-financeira mundial os números
de 2010 superaram os US$ 45 bilhões.
Outros aspectos atuais da integração que podem ser assinalados:
- O comércio intra MERCOSUL alcançou, em 2011, o valor recorde de US$
52 bilhões. Num contexto de crise internacional, o desempenho do Bloco certamente
amenizou seus efeitos no cone sul, multiplicando por 10 os índices de 1991
enquanto o intercâmbio com o mundo cresceu 7 vezes; e
- O Bloco é o mercado preferencial de exportação da indústria brasileira,
para onde a participação de manufaturados e semimanufaturados responde por 90%
da pauta. Esse percentual é o número inverso do total das exportações do Brasil
para o mundo, em que predominam os produtos primários e os manufaturados
representam 11%. Sendo, assim, a manutenção do Bloco é importante para a
sustentabilidade das exportações brasileiras de maior qualidade.
O Brasil vendeu para o MERCOSUL 11% das exportações em 2011 (após
a União Europeia, com 21% e a China, com 17%; para os EUA foram 10%). Mais
importante é a composição das exportações que para o MERCOSUL, como
supracitado, 89% são produtos manufaturados (para a UE, 32%; para a China, 12%,

30
Os dados apresentados neste Capítulo estão disponíveis no site da Delegação Permanente do
Brasil junto ao MERCOSUL e à ALADI em: http://brasaladi.itamaraty.gov.br. Acesso em: 28 mai.
2012.
42

e para os EUA, 45%). As vendas para o MERCOSUL cresceram mais do que o


comércio intra-MERCOSUL: de US$ 2,3 bilhões, em 1991, para US$ 27,8 bilhões,
em 2011 (12 vezes mais).
São, ainda, tendências relevantes no comércio exterior do MERCOSUL:
a) os produtos primários na exportação para o mundo pesam mais do que
no comércio intra-MERCOSUL, pois para o Brasil, representaram, em 2011, 48%
das exportações para o mundo e só 8% das que foram para o MERCOSUL. Daí a
importância do MERCOSUL para a indústria brasileira;
b) nas importações é a crescente presença da China, que entre 2001 e
2011, teve importante participação nas compras brasileiras e passou de 3% para
15%; na Argentina, de 5% para 14%; no Paraguai, de 11% para 30%; e no Uruguai,
de 4% para 14%. Como o mais novo país capitalista do mundo, a China atrai
empresas internacionais, que deixam seus países de origem e neles provocam
desemprego. Adicionalmente, exportam seus produtos de volta para esses países,
assim como para o Brasil e o para MERCOSUL, a preços mais baixos, com prejuízo
para a indústria local; e
c) a crise internacional poderá causar impacto negativo sobre o comércio
do MERCOSUL com influência na contração dos principais mercados para as
exportações (inclusive a China), com o aumento exagerado das importações de
produtos que antes se vendiam nos países centrais e com as variações pouco
previsíveis do câmbio31.

4.1 A ARGENTINA
Formando com o Brasil as unidades econômicas básicas do MERCOSUL,
a Argentina é o 3º maior mercado de exportações do país, do qual 93% das
transações referem-se a manufaturados e semimanufaturados e também constitui o
3º maior volume de importações para o Brasil. O setor automobilístico representa
60% do comércio entre Brasil e Argentina. Mesmo com os entraves e barreiras com
medidas protecionistas que vão de encontro ao espírito do Tratado de Assunção, a
Argentina tem como fonte primária de divisas o saldo da Balança Comercial, que
representa hoje um déficit de nove bilhões de dólares, dos quais cerca de seis se
deve ao comércio com o Brasil, seu principal parceiro (ARSLANIAN, 2012).

31
Dados disponíveis no site da Delegação Permanente do Brasil junto ao MERCOSUL e à ALADI em:
http://brasaladi.itamaraty.gov.br. Acesso em: 28 mai. 2012.
43

A Argentina com 81% das exportações brasileiras para o Bloco, não tem
acesso ao mercado financeiro internacional e só consegue fechar suas contas
ampliando o seu superávit comercial, pelo uso de medidas restritivas de acesso para
bens e serviços que impactam mais fortemente seus parceiros comerciais mais
superavitários. Em 2011: Brasil, US$ 5,8 bilhões; China, US$ 4,4 bilhões; e EUA,
US$ 3,4 bilhões. O total das trocas comerciais do Brasil com a Argentina foi de US$
39,6 bilhões (participação de 83,9% no Bloco), com o Uruguai foi US$ 3,9 bilhões
(8,3%) e com Paraguai foi US$ 3,7 bilhões (7,8%)32.

4.2 SITUAÇÃO E PROGRESSOS NO PROCESSO DE INTEGRAÇÃO


Foram alcançados objetivos e iniciativas centrais, tal como o compromisso
central de uma Zona de Livre Comércio, como base de um Mercado Comum, apesar
das exceções e das imperfeições, que foi efetivado na medida representada nos
números supra (BATH, 2012). A consolidação desse compromisso na atual etapa da
União Aduaneira depende do aperfeiçoamento da Tarifa Externa Comum,
principalmente da eliminação da sua dupla cobrança. Tema de grande complexidade
técnica e política.
No âmbito do MERCOSUL observa-se a disposição dos Chefes de Estado
em promover uma integração ampliada, fato também observado na vontade de
manutenção, por parte dos Estados Associados, da articulação com os demais
países fora dos limites da América do Sul, em especial a China, a União Europeia e
os Estados Unidos, de modo a ampliar as possibilidades. Todos os países sul-
americanos são defensores de um processo de integração amplo (BATH, 2012).
Houve progressos nas dimensões política, social, de infraestrutura física e
cidadã, tais como33:
a) Parlamento do MERCOSUL (PARLASUL) – órgão consultivo e sem
encargo para criar leis, iniciou em 2007 com a representação de 18 parlamentares
por país. Em 2009, o "Acordo Político para a Consolidação do MERCOSUL" adotou
o critério da representação cidadã, em duas etapas, ao final das quais, os
parlamentares serão eleitos direta e exclusivamente para o Parlamento do

32
Dados disponíveis no site da Delegação Permanente do Brasil junto ao MERCOSUL e à ALADI em:
http://brasaladi.itamaraty.gov.br. Acesso em: 28 mai. 2012.
33
Dados obtidos junto ao Departamento do MERCOSUL (DMSUL), órgão subordinado à Secretaria-
Geral da América do Sul, Central e Caribe (SGAS) do Ministério das Relações Exteriores (MRE) do
Brasil (BATH, 2012).
44

MERCOSUL (o Uruguai e Paraguai manterão seus 18 parlamentares; a Argentina


passará para 43 e o Brasil para 74), o que dará à Representação brasileira quase o
mesmo peso que as outras três somadas. A indecisão sobre o alcance da aplicação
prática desse critério dificultou os trabalhos do Parlamento, que não se reuniu em
2011. O PARLASUL oferece o espaço político indispensável para o debate entre os
parlamentos nacionais e contribui para que haja porosidade nas discussões. Existe
um compromisso de MERCOSUL de construir um estatuto de cidadania, que só
poderá ser conformado com a participação do PARLASUL;
b) Fundo para a Convergência Estrutural do MERCOSUL (FOCEM) – Tem
como finalidade precípua a de fortalecer os sócios do Bloco com a percepção de
integração como um esquema de soma positiva. Está voltado para a redução das
diferenças de desenvolvimento entre os Estados Partes, com investimentos tais
como a construção de estradas, linhas de transmissão, redes de saneamento
básico, moradias, reformas em escolas e ajuda a pequenas e médias empresas, as
quais aproveitam as oportunidades trazidas pelo processo de integração regional, o
que contribui para a redução das assimetrias que enfraquecem a todos. Um Fundo
com mais de US$ 1 bilhão em caixa aumenta consideravelmente o poder de atração
sobre a região. Desde 2007, 39 projetos somam US$ 1,12 bilhão, dos quais US$
827 milhões foram doados pelo Fundo. O Brasil é maior contribuinte (70% do capital)
e o Paraguai, o maior beneficiário (17 projetos no valor de US$ 609 milhões do
FOCEM). O Brasil e a Argentina podem receber até 10%, cada um, dos recursos do
Fundo;
c) Estatuto da Cidadania do MERCOSUL – será conformado até 2021 e
assegurará direitos e benefícios fundamentais para os nacionais dos Estados Partes,
em qualquer Estado Parte, garantindo a livre circulação de pessoas, acesso ao
trabalho, saúde, educação e previdência;
d) Na área comercial externa, a principal negociação, em curso há 12 anos
com a União Europeia (UE), foi retomada em 2010 e parece avançar ainda muito
lentamente, já que a crise internacional não lhe oferece o melhor contexto. Nos dois
outros pilares do acordo – diálogo político e cooperação – persistem distâncias em
temas como migrações e a mudança do clima. A reemergência do assunto referente
às Malvinas poderá consistir em mais uma dificuldade. O MERCOSUL é o 2º bloco
com que o Brasil mantém superávit comercial, atrás somente da União Europeia;
45

e) Algumas perspectivas para o aprofundamento da agenda de integração


política, econômica e comercial:
- integração política com a intensificação do diálogo e a coordenação com
a Representação no Parlamento do MERCOSUL, visando o aproveitamento dos
benefícios para o Brasil, que conta com a quase maioria dos votos;
- consolidação da adesão plena da Venezuela;
- direcionamento das pressões pela conformação do Estatuto da
Cidadania;
- ampliação do apoio ao FOCEM, visto que a autorização do nosso
Parlamento para a contribuição anual de US$ 70 milhões caducará em 2015; e
- incorporação, em dimensão regional, dos mecanismos e iniciativas de
desenvolvimento econômico e social de alcance nacional em áreas estratégicas e de
excelência, tais como as de financiamento, ciência, tecnologia e inovação,
agricultura familiar, inclusão social, dentre outras; e
f) No plano econômico destaca-se no âmbito do FOCEM, a iniciativa de
gestões para renovação da autorização parlamentar para as contribuições do Brasil
ao Fundo depois de 2015, bem como o aumento dos aportes brasileiros ao Fundo,
seja por meio de contribuição voluntária adicional, seja pelo anúncio, ao final da
Presidência Pro Tempore brasileira, em 2012, da duplicação da contribuição regular
ao Fundo, a ser incluída no orçamento federal para 2014, último do atual Governo. É
mister lançar mão da plena utilização dos recursos que ainda podem financiar
projetos brasileiros (cerca de US$ 50 milhões até 2015), com focos na integração de
infraestrutura, políticas sociais e ciência, tecnologia e inovação, com benefícios
concretos e visibilidade para o MERCOSUL.

4.3 O COMÉRCIO ENTRE OS PAÍSES DO MERCOSUL


Os dados referentes ao comércio bilateral do Brasil com os países do
MERCOSUL individualmente e ao comércio com o Bloco na sua totalidade podem
ser destacados com base do histórico afeto aos últimos dez anos, do qual podemos
destacar os seguintes fatos consolidados, estudados e extraídos do site do
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), em especial
junto à Secretaria de Comércio exterior (SECEX) 34:

34
Disponível em: http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/interna/busca.php?pagina_atual=79&&
busca_site=true&palavra_chave=MERCOSUL. Acesso em: 5 set. 2012.
46

- o comércio do Brasil com os países do MERCOSUL cresceu 428,9% nos


últimos dez anos, índice superior ao do crescimento do intercâmbio total do Brasil
com o mundo, que foi de 348%;
- em 2011, as trocas comerciais do Brasil com os países MERCOSUL
tiveram desempenho positivo, resultando no crescimento de 20,4% em relação ao
ano de 2010, em função do aumento das exportações, sobretudo de veículos,
automóveis e autopeças; e
- em 2011, os fluxos de comércio com os países do MERCOSUL
representaram 9,8% do total do comércio exterior do Brasil.
O intercâmbio comercial entre o Brasil e os países do MERCOSUL cresceu
substancialmente nos últimos dez anos, de US$ 8,9 bilhões, em 2002, para US$ 52
bilhões, em 2012. Dentro desse período, os resultados comerciais têm sido
tradicionalmente favoráveis ao Brasil, com exceção dos anos de 2002 (déficit de
US$ 2,3 bilhões) e de 2003 (déficit de US$ 919 mil). O total das trocas comerciais do
Brasil com a Argentina foi de US$ 39,6 bilhões (participação de 83,9% no Bloco),
com o Uruguai foi US$ 3,9 bilhões (8,3%) e com Paraguai foi US$ 3,7 bilhões
(7,8%).
As exportações brasileiras para os países do MERCOSUL cresceram de
US$ 3,3 bilhões, em 2002, para US$ 27,9 bilhões, em 2011, resultados estes
atribuídos, em grande parte, aos embarques de produtos manufaturados, para os
quais o MERCOSUL é o principal destino das exportações brasileiras. Em média, os
produtos manufaturados brasileiros têm representado 90% do total das exportações
para o Bloco. Em 2011, as vendas de manufaturados para o MERCOSUL
alcançaram a cifra recorde de US$ 25 bilhões, crescimento de 21,8% em relação a
2010, com as vendas de produtos básicos representando 7,6% e as dos
semimanufaturados 2,3%. A expansão das vendas dos manufaturados em 2011
pode ser explicada pelo aumento das exportações de veículos e acessórios (+US$
1,8 bilhão), de combustíveis (+US$ 801 milhões) e de máquinas mecânicas (+US$
640 milhões).
Como explicitado no subitem 4.1 deste TCC, as exportações brasileiras
para os países do MERCOSUL são historicamente concentradas na Argentina, que
tem representado, cerca de 80% do total com o Bloco. Em 2011, por exemplo, o
crescimento das vendas para o mercado argentino foi de 22,6%, passando de US$
18,5 bilhões, em 2010, para US$ 22,7 bilhões, em 2011, devidos principalmente ao
47

crescimento das exportações de automóveis, máquinas mecânicas, aparelhos


elétricos, minérios e combustíveis, que, somados, aumentaram em US$ 1,6 bilhão o
valor exportado para aquele país. Como já apresentado, a Argentina é o 3º destino
das exportações brasileiras, atrás apenas da China e dos Estados Unidos. É
importante sempre ressaltar que, na pauta de exportações brasileiras para a
Argentina, predominam os produtos manufaturados, enquanto prevalecem os
produtos básicos na pauta de exportações brasileiras para a China. A base
exportadora brasileira, em 2011, foi composta por pouco mais de seis mil empresas,
com destaque para a Fiat e a Renault.
O Paraguai foi o segundo destino das exportações brasileiras para o
MERCOSUL e o 20º país no ranking das exportações totais do Brasil em 2011, com
razoável crescimento, em 2011, de US$ 2,5 bilhões para US$ 2,9 bilhões, compondo
16,5% em relação a 2010. O crescimento registrado em 2011 deve-se ao aumento
das vendas de adubos ou fertilizantes, que cresceram de US$ 146 milhões para US$
198 milhões, e de máquinas agrícolas, que cresceram de US$ 31 milhões para US$
63 milhões.
A composição da pauta das exportações brasileiras para o Paraguai é
majoritariamente de produtos manufaturados, que representaram 92% das vendas,
em 2011, seguidas dos produtos básicos (6%); e dos semimanufaturados (1%). A
base exportadora foi composta por quase cinco mil empresas, com destaque para
John Deere e Bunge Fertilizantes. Foram os seguintes os principais grupos de
produtos exportados pelo Brasil para o Paraguai: máquinas mecânicas, adubos ou
fertilizantes, automóveis, combustíveis e aparelhos elétricos.
Embora as vendas destinadas ao Uruguai, em 2011, tenham representado
somente 7,8% do total exportado para os países do Bloco, o país platino teve a
melhor variação de crescimento em relação ao ano anterior, além de ganhar
posições no ranking das exportações totais do Brasil, passando do 30º para e 29º
lugar, com participação de 0,8% do total em 2011. Em 2011, os embarques de
produtos brasileiros para a o Uruguai cresceram 42,1% em relação a 2010, um
incremento de US$ 1,5 bilhão para US$ 2,2 bilhões. Essa diferença positiva de US$
644 milhões pode ser explicada principalmente pela inclusão de novos itens na
pauta de exportações brasileiras para ao Uruguai, tais como óleo diesel e petróleo
bruto (+US$ 76 milhões), assim como pelo crescimento das exportações de “fuel-oil”
(+US$ 150 milhões); aparelhos para telefonia celular (+ US$ 37 milhões); e de
48

açúcar (+US$ 20 milhões). A base exportadora foi composta por pouco mais de
quatro mil empresas, com destaque para a Petrobrás. Foram os seguintes os
principais grupos de produtos exportados pelo Brasil para o Uruguai: combustíveis,
automóveis, aparelhos elétricos e instrumentos mecânicos.
Nos últimos dez anos, as importações brasileiras originárias do
MERCOSUL acompanharam a tendência de crescimento das exportações,
crescendo de US$ 5,6 bilhões, em 2002, para US$ 19,4 bilhões, em 2011. Em 2011,
as importações brasileiras provenientes dos países do Bloco tiveram crescimento de
16,6% em relação a 2010. Essa expansão foi impulsionada pelo aumento das
aquisições de trigo, valor US$ 476 milhões superior àquele registrado em 2010, e de
veículos automóveis e seus acessórios, valor US$ 144 milhões superior a 2010. Em
2011, as importações com origens no MERCOSUL representaram 8,6% do total das
compras brasileiras.
Em 2011, os produtos manufaturados predominaram na pauta de
importações brasileira (78,2%), seguidos pelos básicos (18,8%), e pelos
semimanufaturados (3%). Em 2011, as importações de manufaturados alcançaram
cifra de US$ 15,2 bilhões, crescimento de 15,9% em relação a 2010. A Argentina
teve participação relativa de 87,3% nas compras brasileiras originárias do
MERCOSUL. Esse crescimento decorre do aumento das compras de cereais/trigo
(+US$ 511 milhões), veículos automóveis (+US$ 892 milhões) e de leite e laticínios
(+US$ 257 milhões). Embora tenha havido expansão em valores absolutos, em
2011, cabe registrar que as importações brasileiras de manufaturados reduziram-se
em meio ponto percentual sua participação relativa em comparação à participação
no total geral das importações brasileiras realizadas em 2010.
As importações brasileiras originárias do MERCOSUL são fortemente
concentradas na Argentina. Entre 2002 e 2011, as importações do Bloco cresceram
245%, passando de US$ 5,6 para US$ 19,4 bilhões. O principal país fornecedor
brasileiro no Bloco é, historicamente, a Argentina. O mercado argentino representa
quase 90% do total exportado pelos países do MERCOSUL para o Brasil. Em 2011,
as importações brasileiras da Argentina alcançaram a cifra de US$ 16,9 bilhões,
crescimento de 17,1% em relação a 2010. A Argentina manteve a 3ª posição no
ranking dos principais fornecedores do Brasil, com participação de 7,5% no total das
importações brasileiras. O crescimento das importações brasileiras originárias da
Argentina, em 2011, pode ser explicado pelo aumento dos valores das importações
49

de vários itens da pauta de importações, como veículos (de US$ 6,2 para US$ 7,1
bilhões), cereais, em especial o trigo (de US$ 1,1 para US$ 1,7 bilhão) e
combustíveis (de US$ 1,3 para US$ 1,5 bilhão). A base importadora brasileira conta
com pouco mais de cinco mil empresas brasileiras, com destaque para a Toyota e a
Fiat automóveis.
Entre 2002 e 2011, as importações brasileiras originárias do Uruguai
cresceram 261%, passando de US$ 485 milhões para US$ 1,8 bilhão. Em 2011, o
Uruguai foi o segundo maior fornecedor do MERCOSUL ao Brasil, com participação
de 11,4% do total do Bloco. As importações brasileiras originárias do mercado
uruguaio foram de US$ 1,6 bilhão, em 2010, e de US$ 1,8 bilhão, em 2011,
compondo o leve crescimento de 11,5%. Esse aumento deve-se à expansão das
compras de chassis com motor diesel de US$ 7 para US$ 87 milhões (+US$ 80
milhões), malte de US$ 139 para US$ 209 milhões (+US$ 70 milhões) e garrafões
de plástico de US$ 121 para US$ 148 milhões (+US$ 27 milhões). Em 2011, o
Uruguai ocupou o 29º lugar no “ranking” dos maiores supridores do Brasil. A
participação uruguaia no total das importações brasileiras foi de 0,8%. A base
importadora conta com 1.326 empresas brasileiras, com destaque para a Tangará e
a Brazil Trade.
As importações brasileiras originárias do Paraguai, no período entre 2002 e
2011, tiveram desempenho positivo passando de US$ 383 para US$ 716 milhões,
um crescimento de 87%. Em 2011, as aquisições brasileiras de origem paraguaia
foram 17% maiores que em 2010. Esse crescimento pode ser explicado pelo
aumento das aquisições nas categorias de produtos manufaturados (+46,3%),
semimanufaturados (+44,1%) e básicos (+2,5%). As maiores elevações em relação
a 2010 ocorreram nas importações de milho, passando de US$ 55 para US$ 125
milhões, fios de cobre, um aumento de US$ 2 para US$ 26 milhões, garrafões e
artigos de plástico, de US$ 30 para US$ 45 milhões e óleo de girassol, de US$ 11
para US$ 23 milhões.
O Paraguai ocupa, tradicionalmente, a última posição entre os países do
MERCOSUL fornecedores do Brasil. Em 2011, esse comércio representou apenas
3,7% do total das aquisições brasileiras originárias dos países do Bloco. No âmbito
geral, o Paraguai deixou a posição de 44º lugar, em 2010, para o 46º, em 2011,
entre os países supridores do Brasil, com participação 0,3% da pauta total importada
50

pelo Brasil. A pauta importadora conta com 582 empresas brasileiras, com destaque
para a Sadia S.A..
Seguem-se os resultados da Balança Comercial brasileira com os países
do MERCOSUL. Nos últimos dez anos, o Brasil tem logrado sucessivos e
expressivos superávits comerciais com o MERCOSUL, com exceção dos anos de
2002 e 2003. O déficit de US$ 2,3 bilhões auferido em 2002 decorreu da expressiva
queda das exportações naquele ano, que retraíram 47,9%, diminuindo de US$ 6,4
bilhões em 2001 para US$ 3,3 bilhões em 2002. Em 2003 as exportações voltaram a
crescer a registraram déficit de apenas US$ 919 mil.
Em 2011, o saldo do MERCOSUL em favor ao Brasil foi de 8,5 bilhões,
expressivo valor 41,7% superior ao superávit registrado em 2010. No mesmo ano, os
superávits do Brasil com os países do MERCOSUL foram:
- Argentina: US$ 5,8 bilhões;
- Paraguai: US$ 2,3 bilhões; e
- Uruguai: US$ 421 milhões.
51

5 CONCLUSÃO
Art. 4º [...]
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a
integração econômica, política, social e cultural dos povos da
América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-
americana de nações. (BRASIL, 1988)

A iniciativa de instalar o MERCOSUL captou o sentido das transformações


profundas por que passavam os Estados Partes naquele momento da gênese. O
Estado Democrático de Direito vigia na região, fazendo brotar o reconhecimento
mútuo e a identidade comum, num momento em que se fazia mister o desafio da
inserção das economias regionais, num mundo marcado pela formação de blocos
econômicos. A urgente necessidade de a América do Sul aumentar seu poder de
negociação e ampliar sua autonomia decisória, por meio de políticas de cooperação
e integração, foi objeto da Ata de Iguaçu, instrumento que proporcionou firmeza à
voz única dos países do cone sul-americano.
Mais do que o crescimento observado no comércio entre os Estados Partes
do MERCOSUL, aponta para a importante integração regional, premissa
constitucional brasileira, composta também pela vontade de agir em conjunto,
superando desafios que desconhecem fronteiras, tais como migrações, meio
ambiente, trabalho, previdência social, cooperação jurídica, agricultura, educação,
saúde, bem como todas as atividades que exigem políticas públicas. Com outras
iniciativas como a Estatuto da Cidadania, o papel do PARLASUL, o aprofundamento
do diálogo político e o estreitamento dos laços de cooperação em diferentes
domínios, observa-se a consolidação do processo de integração regional.
No plano econômico os avanços são patentes e os temas sensíveis como a
consolidação da cobrança da Tarifa Externa Comum, as disciplinas comerciais
comuns, o livre trânsito de pessoas, a evolução da institucionalidade e a superação
das assimetrias, trazem para o Bloco o dinamismo crescente no rumo do
entrelaçamento das economias, tornando o grupo mais forte, demonstrando
capacidade para reagir a crises, tal como a desencadeada em 2008, quando os
países da região cresceram mais de 8%.
Em mais de duas décadas, caminhamos para um sistema em que os
países do Sul ganham maior relevância e reforça-se, com isso, a importância do
MERCOSUL como instrumento para a construção de um futuro de crescente
prosperidade para a América do Sul.
52

Exemplo também contundente da maturidade do processo de integração


alavancado pelo MERCOSUL é a existência do Fundo de Convergência Estrutural
(FOCEM), que hoje representa uma carteira de mais de US$ 1 bilhão, voltado para
reduzir as diferenças assimétricas do desenvolvimento observada entre os sócios,
estas que enfraquecem a todos. Os recursos do FOCEM constroem estradas, linhas
de transmissão e redes de saneamento básico, bem como reformam escolas e
levantam moradias.
Turistas que viajam pela América do Sul sem o passaporte, pessoas que
obtêm com facilidade a residência permanente em outro país do Bloco, pessoas que
vivem no outro lado da fronteira e unificam o tempo de trabalho para suas
aposentadorias, estudantes e professores que transitam entre escolas e
universidades dos Estados Partes: para todos estes o MERCOSUL faz efetiva
diferença.
Ainda que enquadrado com uma União Aduaneira imperfeita, o
MERCOSUL representa um exercício de integração de grande complexidade,
formado por países em desenvolvimento que em que pesem suas assimetrias,
compartilham desafios semelhantes. Revela-se um Bloco que avança
simultaneamente sob os pilares de cunhos social, cidadão e econômico-comercial.
Com vistas à obtenção de um espaço regional estável, que gere
desenvolvimento, prosperidade, bem-estar e justiça social, sobre os quais se podem
apoiar a integração sul-americana, o MERCOSUL segue no caminho e no
compromisso de amalgamar os países da região, recebendo a adesão de países
como a Venezuela e o interesse de participação de outros como a Bolívia e o
Equador. Em que pese à situação política vigente nos vizinhos, isso não pode ser
encarado como um problema permanente e sim como conjuntural. Em futuro
próximo esse esforço não virá a penalizar seus povos, que não pagarão pela gestão
conturbada de seus líderes, que ora dominam o cenário.
Para o Brasil seguir no caminho do desenvolvimento e do destaque
internacional de forma autóctone, sem o concurso do MERCOSUL, deverá traçar a
agenda de um ator global que ultrapassa a instância regional. Consistiria um
retrocesso político-diplomático de enorme repercussão negativa a desvinculação do
Brasil do MERCOSUL, haja vista o patrimônio de integração acumulado até o
momento. Numa era de formação de alianças, parcerias e de blocos econômicos,
pode-se depreender a debilitação do alcance dos objetivos e interesses comerciais
53

brasileiros, num cenário do país com forte tendência de liderança regional seguir
sem os seus vizinhos mais próximos. O Brasil é visto no mundo como um país
participativo, solidário e com a marca da cooperação observada em todas as suas
relações, postura esta que atrai os olhares amistosos do seu entorno. Causaria
enorme estranheza por parte dos demais países, o caso de um afastamento do
Brasil de sua natureza, que é observada com admiração invejável, dada a facilidade
com que mantém uma relação de paz e profundo entendimento no Concerto das
Nações.
54

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57
A-1

ANEXO A

ENTREVISTA COM O EMBAIXADOR BRUNO DE BRÍSIOS BATH

Em 29 de maio de 2012, às 16 horas, na sala 16 do Anexo II do Palácio do


Itamaraty, em Brasília – DF, o autor conduziu entrevista com o Embaixador Bruno de
Brísios Bath, Chefe do Departamento do MERCOSUL (DMSUL), órgão subordinado
administrativamente à Subsecretaria-Geral da América do Sul, Central e do Caribe
(SGAS) do Ministério das Relações Exteriores (MRE).
Foram efetuadas as seguintes perguntas, que receberam a devida
autorização do diplomata entrevistado para citação neste Trabalho de Conclusão de
Curso:

1) Foi observada a mesma disposição que a praticada no Brasil, por parte dos
Chefes de Estado dos demais países da região apontando para a integração
regional?
Resposta: Dentro do MERCOSUL há a disposição dos Chefes de Estado em
promover uma integração ampliada, entretanto com relação aos Estados Associados
observa-se a vontade de manter a articulação com os demais países fora da
América do Sul, em especial a China, a UE e os EUA, de modo a não limitar as
possibilidades vislumbradas à região. Todos os países sul-americanos são
defensores de um processo de integração amplo.

2) Qual a situação do processo de adesão da Venezuela?


Resposta: A Venezuela decidiu aderir ao Bloco como Estado Parte e no
período de 2006 a 2007 foi negociado o projeto de adesão. Um país que deseja
aderir ao Bloco precisa atender alguns requisitos, tais como a adoção da Tarifa
Externa Comum (TEC), aceitação das decisões emanadas pelo Protocolo de Olivos
para a solução de controvérsias no MERCOSUL (BRASIL, 2002), etc..
Os processos de adesão são enviados aos Congressos dos Estados Partes
para aprovação. Destaca-se que atualmente somente o Congresso paraguaio ainda
não ratificou a inserção venezuelana no Bloco. A leitura do Chefe do Departamento
do MERCOSUL é que após a conclusão do processo eleitoral no Paraguai, com a
saída prevista do Presidente LUGO em 2013 e a esperada conquista da maioria na
A-2
58

Casa é que o pleito venezuelano poderá receber a aprovação daquele Estado Parte,
destacando que caso a decisão seja negativa, a legislação local prevê a quarentena
de 1(um) ano, para que possa transitar novamente em plenário. A aprovação no
nosso Congresso demandou 2(dois) anos de conversações para a obtenção do aval
do Legislativo, aceitando a inserção venezuelana no Bloco. A figura de Hugo Chaves
é o que aponta para a polêmica e a consequente morosidade do processo. A
posição brasileira foi afirmativa por ter sido considerado, principalmente, que é o
Povo Venezuelano quem receberá as benesses da entrada no Bloco, sendo do
interesse brasileiro compartilhar com o país irmão os bônus da cooperação e da
integração regional. A abertura para o Caribe, a integração energética com o
advento da Hidrelétrica de GURI, a participação brasileira com o trabalho de
construtoras nacionais na execução de obras de grande vulto, algumas contando,
inclusive, com financiamentos do BNDES, tais como o metrô de Caracas, construção
de estradas, aeroportos, etc.. O ato de associar-se a um país rico em recursos
naturais como é a Venezuela, aponta para um futuro com excelentes prognósticos
de sucesso.

3) Qual a situação dos Estados Associados ao Bloco?


Resposta: Todos os demais países sul-americanos, à exceção da Venezuela
que está em processo de adesão, Guiana Francesa (território ultramarino da
França), Suriname e Guiana, são considerados Estados Associados do
MERCOSUL, com os quais possui Acordos de Livre Comércio. Há requisitos que os
diferem dos países membros, tais como a não adoção de TEC e a não inclusão
daqueles países como parte da União Aduaneira.
Com vistas a atrair os países sul-americanos para a composição de um
Mercado Comum com a participação maciça de todos, atribui-se à “associação” ao
Bloco etapa classificada como primeiro passo.

4) Qual a previsão de que o MERCOSUL a adote a designação já enunciada


de “Mercado Comum”?
Resposta: É o objetivo de todos os Estados Partes, que possuem hoje um
quadro macroeconômico ainda diferenciado, e se comprometeram a atingir. É uma
Diretriz da Política Externa brasileira, que necessita de importante harmonização das
Políticas Econômicas, Fiscais e Tributárias.
A-3
59

5) O Bloco que já foi um dia uma Zona de Livre Comércio (ZLC), pode ser
considerado uma União Aduaneira?
Resposta: Com o objetivo do enquadramento do Bloco como um Mercado
Comum e respeitadas as imperfeições que vigem entre os Estados Partes, pode-se
considerar que a etapa de consolidação como Zona de Livre Comércio (ZLC) já
tenha sido superada e que, ato contínuo, está em curso o estabelecimento de uma
União Aduaneira na região.

6) Há previsão do estabelecimento de uma moeda única?


Resposta: Um dos importantes requisitos para que um Bloco Econômico se
torne um Mercado Comum é a adoção de uma moeda única, que ante às atuais
Políticas Econômicas dos países da região, aponta para que esse objetivo seja
alcançado em longo prazo, devendo o processo de harmonização retromencionado
seja concluído em etapa anterior.
Para iniciar a adoção da moeda única, deve-se blindar a sustentabilidade do
Bloco com o fortalecimento das moedas dos Estados Partes e Associados que visem
à composição do Mercado Comum, evitando incorrer no desequilíbrio observado
entre o dracma grego e as demais moedas europeias quando do início da vigência
do euro, tendo sido aquela uma das razões da crise que hoje é observada no Velho
Continente, arriscando, inclusive, a saída da Grécia da UE.

7) VExa vê o problema do diferendo do trigo plantado no sul do Brasil ser


menos acessível que o importado da Argentina, em face dos preços praticados na
região?
Resposta: Esse pode ser um bom exemplo de imperfeição que se observa
nas atividades do Bloco.
Sendo a carga fiscal e tributária praticada no Brasil bastante elevada em
comparação com os demais Estados Partes, os impostos incidentes no trigo
argentino receberem um tratamento mais brando por parte do vizinho do sul, bem
como as condições diferenciadas de financiamento de máquinas, insumos e demais
componentes para a realização de colheita competitiva no mercado internacional
serem mais favoráveis para o lado argentino, a solução do problema passa pela
criação de alternativas para atribuir maior competitividade para a face brasileira do
60
A-4

Bloco, sendo, assim, um caminho intrincado a ser trilhado com complexas opções
por parte do Brasil.

8) A UNASUL poderá em futuro próximo absorver o MERCOSUL e os demais


Blocos da região?
Resposta: Sim. Hoje todos os países da região possuem Acordos Comerciais
com a China e os EUA, por exemplo, em particular e com maior interesse e
importância o Chile, o Peru e a Colômbia. O processo de integração dos países do
MERCOSUL com os demais signatários da UNASUL passa por disciplinar o
comércio comum, não se bastando em si mesmos, mas sim se obtendo o tratamento
de “Bloco Único” para os Acordos que advirão com a predisposição de os atores
considerados reconhecerem como “único” representante do Bloco, a União que se
apresente em nome de todos.

9) Qual o papel do MERCOSUL no processo de integração sul-americana?


Resposta: O papel é fundamental, visto que os Estados Partes do Bloco
buscam um “casamento” com os demais Associados, com todos os vínculos sólidos
sempre com o objetivo de que o grupo seja representado por um único interlocutor
em todas as transações e tratativas que envolverem seus membros.

10) Poderá o Brasil seguir no caminho do desenvolvimento e do destaque no


concerto das nações de forma autóctone, sem o MERCOSUL?
Resposta: O Brasil tem superávit com todos os seus parceiros sul-
americanos, em especial com os demais Estados Partes do MERCOSUL. Hoje o
MERCOSUL representa para o Brasil o terceiro maior parceiro comercial, ficando
atrás da China e da UE, e adiante do tradicional e por muitos anos mais destacado
país importador, os EUA.
No mundo globalizado nenhum país segue exitosamente solitário e o Brasil,
em particular, tem inserido na sua “personalidade” a postura da negociação em
bloco e é visto no mundo como um país participativo, solidário e que apresenta a
cooperação como marca de seu relacionamento com todos os países do globo, com
os quais possui amplo trânsito e profícuas relações diplomáticas. Todos os demais
países da região enxergam o Brasil com olhos amistosos é unânime a percepção de
que possui uma histórica postura de cooperação, em especial com seus vizinhos.
A-5
61

11) Quais seriam as consequências de uma desintegração do Bloco?


Resposta: Um desastre. Serão décadas de cooperação em vão, que
sedimentaram a salutar e invejável relação de paz entre todos os países da região,
um aspecto de imensa importância se observada a admiração direcionada pelo
Concerto das Nações ao Brasil, que o encara como um país moderador e
cooperativo por excelência. A relação do Brasil com seus vizinhos é única no mundo
pela falta da ocorrência de conflitos entre as partes. O nosso país só perde em
número de vizinhos para a Rússia e a China, estes que possuem uma vizinhança
que apresenta situação diplomática bem mais complexa do que a que grassa na
América do Sul.

12) O que VExa entende pelo atual estado do MERCOSUL?


Resposta: O balanço histórico do MERCOSUL é positivo para o Bloco como
um todo e em particular para o Brasil. Em que pese o grupo do cone sul estar
vivenciando um momento difícil, a etapa pode ser diagnosticada com sendo parte do
processo de sua consolidação como União Aduaneira.
B-1
62

ANEXO B

ENTREVISTA COM O EMBAIXADOR REGIS PERCY ARSLANIAN

Em 20 de junho de 2012, o autor recebeu o resultado da entrevista com o


Embaixador Regis Percy Arslanian, Representante Permanente do Brasil junto ao
MERCOSUL e à ALADI, no período de 15 de março de 2007 a 24 de março de
2012.
Foram efetuadas as seguintes perguntas, que receberam a devida
autorização do diplomata entrevistado para citação neste Trabalho de Conclusão de
Curso:

1) O MERCOSUL, assinado em 26 de março de 1991, pelos governos de


Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai sofreu, nessas duas décadas, uma série de
modificações. De forma geral, o que se pode avaliar desta atualização?
Resposta: À exceção dos automóveis e do açúcar, todos os demais artigos
praticam a tarifa zero dentro do Bloco. As exceções se devem a não unificação de
necessidades tarifárias, o que demanda a adoção de flexibilidade para viabilizar as
operações comerciais. Um projeto rígido de integração está fadado ao insucesso,
pois cada país está preocupado com as suas políticas internas. O MERCOSUL
soube se flexibilizar para firmar-se de forma sustentável. Criou-se ademais a Tarifa
Externa Comum (TEC) que equaliza as taxas praticadas extra-zona, respeitando e
aderindo aos interesses de cada membro.

2) A atualização do Tratado de Assunção permitiu que outros países da AS


ingressassem no MERCOSUL. Qual o saldo, particularmente nos aspectos políticos
e econômicos, para o Brasil, com estas inclusões?
Resposta: Criado para constituir um Acordo de Integração do Sul e com a
prioridade da Política Externa brasileira para a América do Sul procurou-se convidar
os demais países da região para participar efetivamente do Bloco. Destaca-se que
todos os países sul-americanos possuem Acordo de Livre Comércio com o
MERCOSUL, que pratica tarifa zero para os produtos comercializados. Até a
presente data o único país que aceitou participar do Bloco é a Venezuela, que ainda
desperta restrições para sua aceitação no grupo, em especial pela avaliação política
conjuntural que hoje vive o nosso vizinho do Norte. Deve-se pensar em longo prazo,
B-2
63

situação em que atestaremos que foi o povo venezuelano quem aderiu ao Bloco e
não os mandatários anteriores que conduziram os destinos daquele país de
enormes recursos naturais, petróleo abundante e um caminho aberto para o Caribe,
um mercado muito atraente. O saldo sem dúvida é positivo, principalmente em
termos de reforçar o comprometimento com a integração regional.

3) O acordo inicial entre Brasil e Argentina mostravam que os dois países


foram os primeiros a intencionar acordos. Naquele acordo, os dois países
estabeleceram a formação de um espaço econômico comum, mediante a eliminação
de barreiras tarifárias e não tarifárias e a elaboração de políticas conjuntas. O atual
MERCOSUL contempla este intuito inicial?
Resposta: Barreiras tarifárias não são condizentes com o intuito inicial do
MERCOSUL nem com qualquer União Aduaneira estabelecida, mas há que se
admitir flexibilidade para o bom andamento das relações entre os membros. A
Argentina tem como fonte primária de divisas o saldo da Balança Comercial, que
hoje apresenta déficit de nove bilhões de dólares, dos quais quase seis se deve ao
comércio com o Brasil, seu principal parceiro. A crise que vive o país austral pode
conduzi-lo novamente a pedir moratória, com todas as consequências nefastas
dessa ação. Não poderá o Brasil virar as costas para o país que é o seu terceiro
parceiro comercial, que nas importações bilaterais os manufaturados representam
noventa e dois por cento.

4) Por que sim, ou por que não?


Resposta: Um projeto de integração não é concebido para estar concluído em
cinco ou dez anos. Estamos realizando um programa para nossos filhos e netos. A
União Europeia não possui até hoje um acordo que harmoniza as políticas e
legislações financeiras dos países membros e já conta com mais de setenta anos de
existência e não atingiu o ponto ideal.
É necessária uma convergência de leis em várias áreas como financeira,
saúde, educação, etc. para que seja efetivo um perfeito processo de integração,
uma meta a atingir que demanda amadurecimento. Por exemplo, para uma
adequada circulação de pessoas de forma livre, faz-se mister um banco de dados
confiável e unificado constando todos os cidadãos e veículos automotores do Bloco,
para operacionalizar o movimento nas fronteiras. A Cúpula de Foz do Iguaçu,
B-3
64

realizada em dezembro de 2010, decidiu que as placas dos veículos e o documento


de identidade dos cidadãos dos países do MERCOSUL fossem unificadas num
prazo de até 10 anos.

5) Qual a atual situação político-econômica dos Estados Associados ao


Bloco?
Resposta: A responsabilidade com o processo de integração de quem possui
dez vizinhos que vivem em paz e harmonia ao longo de faixas de fronteiras imensas
é patente e intransferível. Países como a já comentada Argentina, que será
ultrapassada pela Colômbia no próximo ano, na representação do seu Produto
Interno Bruto. O Paraguai cresce a taxas de sete por cento ao ano e junto com o
Uruguai representam países com economia menos complexa e pujante comparada
com o Brasil, porém são parceiros importantes em todos os foros que participam. O
Chile sempre teve olhos para o Pacífico, porém nunca se fecha para os acordos
propostos pelos países da região.
A aceitação da Venezuela em participar do Bloco e o entendimento de que o
povo venezuelano não deverá ser penalizado por não participar do processo capital
de integração, carreiam o entendimento de que sua adesão só virá a contribuir para
o engrandecimento do Bloco.
O Brasil no concerto das nações é visto como cooperativo, generoso e prima
pelas boas relações com todos.

6) Há uma previsão do estabelecimento de uma moeda única, tal qual o


Mercado Comum Europeu. Tendo em vista a posição do Brasil com sua economia
estável e num estado democrático de direito, definitivamente seria vantajoso para o
país ou somente para o bloco econômico?
Resposta: O passo para adoção de moeda única em qualquer Bloco
Econômico ou União Aduaneira representa uma meta que traz inúmeras dificuldades
para o seu atingimento. O amadurecimento do MERCOSUL ainda não permite alçar
esse nível, mas deve ser uma meta que todo Mercado Comum deve buscar.
Não há previsão de adoção da moeda única no MERCOSUL, o que há é um
sistema de moeda local para os pagamentos por meio dos Bancos Centrais dos
países membros.
65
B-4

7) Qual o papel do MERCOSUL no processo de integração sul-americana?


Resposta: O papel do MERCOSUL é fundamental, pois hoje já integra quatro
países e associa todos os outros da região com acordos de livre comércio bilaterais.
Para que se consolide plenamente no processo de integração sul-americano, há que
se unificar a política financeira, em especial a macroeconômica, e os Bancos
Centrais dos países envolvidos.
Após o êxito da União Aduaneira, parte-se para o objetivo de consolidar o
Mercado Comum, ainda que imperfeito, ante às assimetrias observadas entre os
países membros.

8) Podemos dizer que a disposição praticada pelos mandatários do Brasil se


assemelham com as praticadas por parte dos Chefes de Estado dos demais países
da região, apontando para a integração regional?
Resposta: Cada país possui seus próprios interesses a defender, entretanto,
há a disposição dos Chefes de Estado em promover uma integração ampliada. O
Brasil possui papel importante com seus dez vizinhos e tem a obrigação com o
processo de integração regional, tão importante para a promoção do bem comum na
América do Sul.
De todos os países convidados para integrar o Bloco, somente a Venezuela
manifestou-se favoravelmente para aderir ao MERCOSUL e o processo de
integração com os demais países segue de forma exitosa, obedecendo as
especificidades de cada Estado Associado. Todos os países sul-americanos são
defensores de um processo de integração amplo.

9) Com o acordado em 2011, a UNASUL tem como objetivo construir, de


maneira participativa e consensual, um espaço desarticulação no âmbito cultural,
social, econômico e político entre seus povos. Prioriza o diálogo político, as políticas
sociais, a educação, a energia, a infraestrutura, o financiamento e o meio ambiente,
entre outros, com vistas a criar a paz e a segurança, eliminar a desigualdade
socioeconômica, alcançar a inclusão social e a participação cidadã, fortalecer a
democracia e reduzir as assimetrias no marco do fortalecimento da soberania e
independência dos Estados. Diante de tal objetivo, o MERCOSUL poderá absorver o
MERCOSUL?
66
B-5

Resposta: Não há duplicidade entre o MERCOSUL e a UNASUL. Ambos


caminham em rumos paralelos concentrando as áreas de comércio, educação,
imigração e saúde no MERCOSUL e a infraestrutura, defesa, transportes, e
comunicações na UNASUL, sendo o último foro de diálogo e um projeto de
coordenação entre os membros. Deve-se concentrar os esforços na consolidação da
integração regional, objetivo de ambos os Institutos.

10) Poderá o Brasil seguir no caminho do desenvolvimento e do destaque no


concerto das nações de forma autóctone, sem o MERCOSUL?
Resposta: Não convém que o Brasil caminhe só, nem que qualquer outro país
adote essa postura, num mundo em que a sinergia representa força tão eficaz para
o sucesso. Não se vislumbra vantagem para o isolamento de um país, mas somente
a perda da força da negociação em bloco.

11) Com uma hipotética desintegração do MERCOSUL, o Brasil teria maior


possibilidades de acordos com outros Blocos Econômicos e/ou outros países?
Resposta: O Brasil é líder nesta região, situação esta aceita pelo mundo que
nunca aceitará o isolamento do país que sempre apresentou um projeto de
integração com seus vizinhos. Todos do entorno caminham conosco e é um dever
ajudá-los a prosseguir no bom caminho do desenvolvimento. A desintegração do
MERCOSUL seguramente não trará vantagens nem para o Brasil nem para os
demais países da região.

12) O que VExª. entende pelo atual estado do MERCOSUL?


Resposta: O MERCOSUL é necessário para a integração da América do Sul,
pois uniu quatro países e contribui para a aproximação entre os demais países.
Ainda que se entendam todas as dificuldades que enfrenta ante as assimetrias dos
envolvidos, pode-se classificá-lo como um Mercado Comum imperfeito, que está no
bom caminho do amadurecimento.
C-1
67

ANEXO C

ENTREVISTA COM O PROFESSOR REINALDO GONÇALVES

Em 28 de junho de 2012, o autor recebeu o resultado da entrevista com o


Professor Reinaldo Gonçalves, Professor Titular de Economia Internacional do
Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Foram efetuadas as seguintes perguntas, que receberam a devida
autorização do professor entrevistado para citação neste Trabalho de Conclusão de
Curso:

1) O MERCOSUL, assinado em 26 de março de 1991, pelos governos de


Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai sofreu, nessas duas décadas, uma série de
modificações. De forma geral, o que se pode avaliar desta atualização?
Resposta: O que de relevante deve ser destacado é que o MERCOSUL tem
duas fases distintas: ascensão (1991-2000), inflexão (2001-02) e queda (2003 em
diante). A primeira vai até o final da década de 1990. Na fase ascendente da
economia mundial (1993-2000) houve liquidez internacional suficiente para financiar
países como Argentina e Brasil. O resultado foi a expansão do MERCOSUL. Na
virada do século o MERCOSUL sofreu os abalos da conjuntura internacional, da
crise sistêmica argentina (2001-03) e dos graves problemas externos do Brasil
(1999, 2001 e 2002). A trajetória de queda iniciou-se em 2003. Desta vez a
conjuntura internacional favorável não foi suficiente para sustentar o MERCOSUL. A
partir de 2003 são cada vez mais evidentes as diferenças de modelos de
desenvolvimento existentes na Argentina e no Brasil. No primeiro caso, a tentativa
de romper com o modelo ultra-liberal herdado do governo Menem e, em resposta,
atualizar o modelo nacional-desenvolvimentista. No caso brasileiro o que há é o
aprofundamento do Modelo Liberal Periférico que vinha sendo implementado no país
desde 1990. As fragilidades e vulnerabilidades do Brasil e da Argentina, bem como
as crescentes diferenças de modelos de desenvolvimento, condenaram o
MERCOSUL ao fracasso.

2) A atualização do Tratado de Assunção permitiu que outros países da AS


ingressassem no MERCOSUL. Qual o saldo, particularmente nos aspectos políticos
e econômicos, para o Brasil, com estas inclusões?
68
C-2

Resposta: Na prática não se constatam ganhos nem significativos nem


marginais. As diferenças de modelos, interesses e políticas cresceram ainda mais.
Para ilustrar, de um lado há Chile e Colômbia como países associados cujos
compromissos são nulos ou irrelevantes. De outro há a Venezuela que foi proposta
como Estado Parte em 2005 e que até hoje não foi aprovada. Esta expansão
numérica não implica maior integração regional, nem política nem econômica.

3) O acordo inicial entre Brasil e Argentina mostravam que os dois países


foram os primeiros a intencionar acordos. Naquele acordo, os dois países
estabeleceram a formação de um espaço econômico comum, mediante a eliminação
de barreiras tarifárias e não tarifárias e a elaboração de políticas conjuntas. O atual
MERCOSUL contempla este intuito inicial? Explique.
Resposta: O MERCOSUL atual vai ao caminho oposto da fase de criação
visto que cada vez mais há restrições de acesso aos mercados. O fator determinante
é, sem dúvida, a mudança de modelo econômico na Argentina. Ademais, outros
países-membros ou associados continuaram liberalizando seu comércio em relação
ao resto do mundo o que torna o tratamento preferencial (no âmbito regional) cada
vez mais irrelevante.

4) Há uma previsão do estabelecimento de uma moeda única, tal qual o


Mercado Comum Europeu. Tendo em vista a posição do Brasil com sua economia
estável e num estado democrático de direito, definitivamente seria vantajoso para o
país ou somente para o bloco econômico?
Resposta: A proposta de moeda única não tem qualquer sentido. Em primeiro
lugar as economias da região são marcadas por instabilidade e vulnerabilidade,
inclusive o Brasil. Em segundo lugar a moeda brasileira é altamente instável, pois
com a vulnerabilidade externa do país e o regime de câmbio flutuante, a taxa de
câmbio é uma das mais voláteis do mundo. Para ilustrar, no segundo semestre de
2008, quando eclodiu a crise financeira global, o Real saiu de R$ 1,70 para R$ 2,50
entre julho e dezembro. Grandes bancos (Unibanco) e empresas (Sadia) tiveram
dificuldades sérias ou quebraram. Em terceiro lugar nenhum dos países tem força
suficiente para garantir uma eventual moeda supranacional. Fazendo paralelo com a
Zona do Euro, na América do Sul não há uma Alemanha e, ademais, todas as
69
C-3

economias têm perfis que se aproximam de países periféricos europeus como


Grécia, Irlanda e Portugal.

5) Qual o papel do MERCOSUL no processo de integração sul-americana?


Resposta: O papel está limitado ao âmbito sub-regional e é cada vez menor.
O MERCOSUL tende a desaparecer.

6) Podemos dizer que a disposição praticada pelos mandatários do Brasil se


assemelha com as praticadas por parte dos Chefes de Estado dos demais países da
região, apontando para a integração regional?
Resposta: A ênfase dada pelo Brasil ao MERCOSUL na sua política externa é
claramente um erro. O MERCOSUL restringe graus de liberdade na política
comercial e não tem qualquer importância nas dimensões social, política e
institucional.

7) Com o advento da UNASUL, que conta com objetivos nos âmbitos cultural,
social, econômico e político, qual sua percepção quanto a possibilidade de absorção
do MERCOSUL?
Resposta: A UNASUL é mais uma fantasia do que um arranjo jurídico-
institucional sério.

8) Poderá o Brasil seguir no caminho do desenvolvimento e em destaque no


concerto das nações de forma autóctone, sem o MERCOSUL?
Resposta: Certamente. Esta é a lição que a Argentina tem nos dado desde
2003. Nem Argentina nem Brasil precisam do MERCOSUL. Ele cria mais problemas
do que resolve.

9) Qual a atual situação político-econômica dos Estados Associados ao


Bloco?
Resposta: Há uma grande diferença de modelos e resultados. De um lado, há
os países que adoram o modelo ultra liberal (Uruguai e Chile). De outro há países
com projetos de orientação socialista (Venezuela, Equador, Bolívia) ou antiliberal
(Argentina). No meio ficam os países com os defeitos do liberalismo e do
C-4
70

antiliberalismo. Nestes países (Brasil e Paraguai) aplicam versões do Modelo Liberal


Periférico.

10) Com uma hipotética desintegração do MERCOSUL, o Brasil teria maiores


possibilidades de acordos com outros Blocos Econômicos e/ou outros países? O
Brasil, integrante do MERCOSUL, teria liberdade de negociar com outros parceiros
fora deste Mercado?
Resposta: Nada impedem negociações bilaterais ou plurilaterais. Os países-
membros, partes ou associados do MERCOSUL, todos têm acordos extra-
MERCOSUL. A tendência é aumentar estes acordos e, portanto, o MERCOSUL
perde importância cada vez maior.

11) O que VSª. entende pelo atual estado do MERCOSUL?


Resposta: O MERCOSUL não é um projeto condenado ao fracasso desde a
origem assim como foi a ALALC. Todo e qualquer acordo regional implica benefícios
de acesso a mercados regionais, porém reduz o grau de liberdade das políticas de
desenvolvimento. Países como o Brasil, com enorme vulnerabilidade externa
estrutural, precisam de graus de liberdade para implementar políticas de ajuste e de
desenvolvimento. Esta é a lição que países da periferia da Europa estão
aprendendo, de forma penosa, no momento com a crise do euro. Ainda bem que no
MERCOSUL temos a Argentina que desde 2003 tem ativamente trabalhado no
sentido de enfraquecer o MERCOSUL e, portanto, adquirir mais graus de liberdade
de políticas para ela e, portanto, para os outros países-membros. O MERCOSUL
precisa ser enterrado, sem honras, silenciosamente. O MERCOSUL foi mais um dos
erros da diplomacia e da política externa brasileira. Por fim, vale mencionar que a
análise acima está presente em trabalhos publicados que tenho publicado no
exterior e no Brasil há 20 anos.
71
D-1

ANEXO D

ENTREVISTA COM O PROF. ADILSON RODRIGUES PIRES

Em 28 de julho de 2012, o autor recebeu o resultado da entrevista com


Professor Dr. Adilson Rodrigues Pires, palestrante da Escola Superior de Guerra e
Professor Adjunto de Direito Financeiro e do Curso de Mestrado e Doutorado em
Direito Internacional da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ e
professor dos cursos de pós-graduação em Direito da FGV management.
Foram efetuadas as seguintes perguntas, que receberam a devida
autorização do professor entrevistado para citação neste Trabalho de Conclusão de
Curso:

1) Foi observada a mesma disposição que a praticada no Brasil, por parte dos
Chefes de Estado dos demais países da região apontando para a integração
regional?
Resposta: De certa forma, sim. A iniciativa para a criação do MERCOSUL
partiu dos presidentes do Brasil e da Argentina, José Sarney e Alfonsin, em
1985/1986, como parte de um processo de integração das Américas, na ocasião
intitulado Iniciativa para as Américas. Tendo em vista a dificuldade de integrar 34
países, com base no consenso, regra que determina a assinatura de tratados
internacionais, o Presidente Bush (pai) desistiu da ideia. Mais tarde, o Presidente
Clinton retomou a ideia, propondo, no entanto, que países se unissem “blocos”
menores, o que facilitaria o consenso, uma vez que cada organização votaria como
um conjunto. Inicialmente, só Brasil e Argentina assinaram o protocolo com vistas à
criação do MERCOSUL, permitindo, contudo, que outros países aderissem ao
projeto. Imediatamente, Paraguai e Uruguai passaram a participar dos encontros,
tendo os 4 países assinado, enfim, o Protocolo de Ouro Preto, em dezembro de
1994, que atribuiu a personalidade jurídica de direito público internacional ao
MERCOSUL, criado, efetivamente, em 01/01/95.

2) Qual a situação do processo de adesão da Venezuela?


Resposta: Apenas o congresso do Paraguai não havia homologado o
ingresso efetivo da Venezuela no MERCOSUL. Com a suspensão do Paraguai até a
D-2
72

realização de eleições livres no país, os 3 outros integrantes, precipitadamente, a


meu ver, decidiram pelo ingresso imediato. Como o Paraguai está suspenso e não
excluído, tenho dúvidas sobre a validade, sob o ponto de vista jurídico, dessa
decisão.

3) Qual a situação dos Estados Associados ao Bloco?


Resposta: Alguns problemas impedem ou, pelo menos, tornam inconveniente,
tecnicamente, o ingresso efetivo dos associados ao Bloco. Por exemplo, o Chile
possui uma única alíquota do imposto de importação, enquanto os demais seguem a
Tarifa Externa Comum (TEC) com alíquotas, até o limite de 35%, distribuídas entre
os mais de dez mil produtos passíveis de classificação. É fácil imaginar o retrocesso
naquele país, como a impossibilidade de os demais se adaptarem a uma sistemática
como essa.

4) Qual a previsão de que o MERCOSUL a adote a designação já enunciada


de “Mercado Comum”?
Resposta: A denominação já foi adotada desde 1995. A questão é atingir, de
fato, esse status. A União Europeia precisou de 25 anos para atingir esse ponto. A
criação da Aliança de Livre Comércio, assim como da União Aduaneira, entre nós foi
rápida, mas essa próxima etapa me parece longe de ser atingida, em face das
disparidades históricas, econômicas, sociais (talvez), jurídicas etc. Por exemplo, só
as Constituições da Argentina e do Paraguai preveem a criação de organismos
supranacionais. A nossa, por exemplo, simplesmente diz que “A República
Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos
povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana
de nações.” (parágrafo único do art. 4º). Isto, só, não basta. Não há uma
determinação concreta para que sejam criadas uma Corte comum, uma Comissão e
um Parlamento do MERCOSUL. Já progredimos nesse sentido, mas o problema
consiste na internalização das decisões desses organismos supranacionais no
ordenamento jurídico interno.

5) O Bloco que já foi um dia uma Zona de Livre Comércio (ZLC), pode ser
considerado uma União Aduaneira?
D-3
73

Resposta: Sim, sem dúvida, embora com o que chamam os especialistas de


“perfurações” na TEC, ou seja, ainda há exceções quanto à alíquota do imposto
incidente, em razão das assimetrias, sobretudo econômicas, entre os países.
Entendo, todavia, que esse fato não é empecilho ao avanço da União Aduaneira.

6) Há previsão do estabelecimento de uma moeda única?


Resposta: Não. Essa deve ser a última etapa do processo de integração. Há
cerca de 10 anos o ex-Presidente Menen lançou essa ideia, que, felizmente, não foi
adiante. A intenção era a adoção do dólar como moeda corrente no MERCOSUL.

7) Como VExª. vê o problema do diferendo do trigo plantado no sul do Brasil


ser menos acessível que o importado da Argentina, em face dos preços praticados
na região?
Resposta: Essa é, sem dúvida, uma questão econômica. Os fatores de
produção na Argentina, tendo em vista a situação econômica por que passa aquele
país, são mais baixos que no Brasil. Salários, direitos trabalhistas e previdenciários,
matéria-prima, insumos etc. saem muito mais em conta do que aqui. Além disso, a
taxa de câmbio provoca essa redução de preços. É fator econômico natural, que só
pode ser superado com o desenvolvimento econômico, o que não se pode prever
quando vá ocorrer.

8) A UNASUL poderá em futuro próximo absorver o MERCOSUL e os demais


Blocos da região?
Resposta: A ideia é factível. Com a criação de um organismo de maior
amplitude, no que se refere ao número de países, e abrangente, no que toca às
áreas de atuação previstas, pode-se vislumbrar esse cenário.

9) Qual o papel do MERCOSUL no processo de integração sul-americana?


Resposta: Assim como os demais organismos regionais, o MERCOSUL é
importante fator de integração regional, na medida em que desperta o espírito
agregador entre as nações. A Comunidade Andina de Nações, o NAFTA, o
CARICOM e, mais recentemente a Aliança dos Países do Pacífico, entre outros,
tendem a fortalecer os laços de cooperação com vistas ao desenvolvimento dos
países.
74
D-4

10) Poderá o Brasil seguir no caminho do desenvolvimento e do destaque no


concerto das nações de forma autóctone, sem o MERCOSUL?
Resposta: Hoje, em que pese à desaceleração do MERCOSUL, não creio que
um país isolado, por mais desenvolvido que seja, possa encontrar seu espaço no
mundo cada vez mais competitivo, como observamos. Principalmente, devido ao
desenvolvimento da tecnologia da informação e o desenvolvimento dos transportes.

11) Quais seriam as consequências de uma desintegração do Bloco?


Resposta: Em um primeiro momento, as consequências seriam, apenas,
políticas e diplomáticas. Talvez, desastrosas, sob o aspecto econômico, para o país.
A Argentina é, hoje, o 2º ou 3º maior parceiro do nosso país. Com o tempo, imagino
que o Brasil acabaria se aliando a outros blocos. Na verdade, nem imagino que isso
possa acontecer, pelo menos no curto ou médio prazo.

12) O que VExª. entende pelo atual estado do MERCOSUL?


Resposta: Vejo o MERCOSUL em um estado de estagnação, devido,
principalmente, à situação econômica, como já disse, do segundo maior PIB do
grupo. A adesão da Venezuela, caso se concretize, não acrescentará muita coisa.
Pelo contrário, a reação negativa dos Estados Unidos e de alguns países vizinhos
poderá levar a um isolamento (mitigado, é claro) do bloco. Acredito que, passada a
crise nos países europeus e nos Estados Unidos, ou seja, quando a prosperidade
voltar a ser a tônica no mundo, todos os países, incluindo a Argentina, o Paraguai e
o Uruguai, sairão ganhando e novamente a ideia da integração estará em pauta ou
em alta.
75
E-1

ANEXO E

AS MAIORES EMPRESAS DA AMÉRICA LATINA


Class. Empresa País Atividade Observação
Petróleos de
1 PDVSA Venezuela petróleo e gás
Venezuela S/A
2 Petrobras Brasil petróleo e gás
América Móvil e
3 México telecomunicações
Telmex
4 Vale Brasil minérios
Cementos
5 Cemex México cimento Mexicanos.
Corporación
6 Codelco Chile minérios Nacional del Cobre
diversificado, aço,
Techint, Teneric e
tubos de aço,
7 Ternium Argentina
construção
diversificado,
8 Grupo Votorantim Brasil cimento, minérios,
aço
Fomento Económico
9 Coca-Cola Femsa México bebidas Mexicano S/A
siderurgia,
10 Gerdau Brasil
metalurgia
diversificado,
11 Odebrecht Brasil
construção
Empresa Nacional
12 ENAP Chile petróleo, gás del Petróleo
13 Grupo Alfa México diversificado
Grupo México,
14 México minérios
Southern Copper
15 Braskem Brasil petroquímica
16 Grupo Bimbo México alimentos
17 Cencosud Chile comércio
siderurgia, Usinas Siderúrgicas
18 Usiminas Brasil
metalurgia de Minas Gerais S/A
Grupo Salinas, diversificado,
19 México
Grupo Elektra comércio
20 Falabella Chile comércio
siderurgia, Companhia
21 CSN Brasil
metalurgia Siderúrgica Nacional
indústria
22 Embraer Brasil
aeroespacial
Grupo Camargo
23 Brasil diversificado
Corrêa
24 Antofagasta Chile minérios
Sudamericana transporte,
25 Chile
de Valores logística
(Fonte: PEREIRA, 2001, p.157)

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