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Apostila Tratamento de Esgotos SENAI Esgoto CEDAE
Apostila Tratamento de Esgotos SENAI Esgoto CEDAE
de esgotos
SENAI-RJ •
Tratamento
de esgotos
Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro
Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira
Presidente
Reginaldo Ramos
SENAI-RJ
Rio de Janeiro
2008
Tratamento de Esgoto
2008, 2ª ed.
FICHA TÉCNICA
1ª edição, 2006
Gerência de Educação Profissional Luís Roberto Arruda
Superintendência de Recursos Humanos (CEDAE) Dejair Ferreira da Silva
Gerência de Produto Bernardo Schlaepfer
Coordenação Flávia Pinto de Carvalho
Seleção de Conteúdos (CEDAE) Benito Piropo Da Rin
José Nunes Vieira Neto
Miguel F. Cunha
Reginaldo Ramos
Analista de Treinamento (CEDAE) Valdeci Francisco Baracho
Revisão Pedagógica Alda Lessa Bastos
Revisão Gramatical Marcia Cristina Carvalho de Brito
Projeto Gráfico Artae Design & Criação
Diagramação Geferson Gomes Coutinho
2ª edição, 2008
Gerência de Educação Profissional Regina Helena Malta do Nascimento
Gerência Executiva SESI-SENAI Tijuca Bernardo Schlaepfer
Coordenação Angela Elisabeth Denecke
Vera Regina Costa Abreu
Atualização dos Conteúdos (CEDAE) Benito Piropo Da Rin
José Nunes Vieira Neto
Miguel Freitas Cunha
Reginaldo Ramos
Coordenação de Recrutamento, Seleção, Valdeci Francisco Baracho
Treinamento e Desenvolvimento (CEDAE)
Revisão Pedagógica Gloria Micaelo
Nina Rosa Aguiar
Revisão Gramatical e Editorial Rosy Lamas
Colaboração Mary Cristina da Rocha
Editoração Daniela de Oliveira
7
LODOS ATIVADOS ........................................................... 105
7.1 Tanques de aeração ...................................................... 105
7.2 Constituição do lodo ativado .......................................... 106
7.3 Parâmetros de dimensionamento e operação ................... 107
7.4 Controle do processo .................................................... 117
7.5 Dimensionamento do sistema de aeração ........................ 126
7.6 Fornecimento de oxigênio.............................................. 130
8
LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO ........................................... 149
8.1 Lagoas aeradas............................................................ 149
8.2 Lagoas anaeróbias ....................................................... 150
8.3 Lagoas aeróbias ........................................................... 151
8.4 Lagoas de maturação ................................................... 152
8.5 Lagoas facultativas ....................................................... 152
8.6 Fatores intervenientes .................................................. 158
8.7 Dimensionamento ........................................................ 162
8.8 Lagoas em série........................................................... 172
9
TRATAMENTO DO LODO .................................................. 177
9.1 Produção e tipos de lodo ............................................... 177
9.2 Disposição final dos resíduos ......................................... 178
9.3 Fator econômico na seleção das técnicas ......................... 179
9.4 Técnicas de tratamento de lodo...................................... 181
9.5 Disposição final ............................................................ 195
12
DOENÇAS DE ORIGEM E VEICULAÇÃO HÍDRICA .............. 233
12.1 Doenças causadas por agentes microbianos e parasitários 233
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 Distribuição típica de compostos sólidos .............................23
Figura 2.1 Consumo de OD com o tempo, após o
lançamento de esgoto......................................................38
Figura 2.2 Reaeração com o tempo, após o lançamento de esgoto ........39
Figura 2.3 Curva de depleção de oxigênio ..........................................40
Figura 2.4 Zonas do curso de água após lançamento de esgoto ............42
Figura 2.5 Depleção total de oxigênio ...............................................43
Figura 2.6 Modelo simplificado do fenômeno de autodepuração ............46
Figura 6.1 Diagrama esquemático do filtro biológico............................91
Figura 6.2 Esquemas de recirculação ................................................96
Figura 6.3 Reator biológico rotativo de contato – RBC (acionado a ar) ...101
Figura 7.1 Variação das massas de substrato .....................................117
Figura 8.1 Lagoa facultativa.............................................................153
Figura 8. 2 Gráfico de Marais para projetos de lagoas facultativas ..........170
Figura 11.1 Fase líquida ....................................................................222
Figura 11.2 Tratamento do lodo .........................................................223
Figura 11.3 Garrafas coletoras em profundidade ..................................226
Figura 11.4 Draga de Petersen...........................................................226
Figura 11.5 Draga de Eckman ...........................................................226
Figura 11.6 Disco Secchi...................................................................227
LISTA DE TABELAS
Tabela 8.1 Taxas de aplicação de carga orgânica ............................. 163
Tabela 9.1 Relação temperatura-tempo de digestão ......................... 184
Tabela 11.1 Preservação de amostras por parâmetro de interesse ....... 228
Tabela 12.1 Microorganismos causadores de doenças ........................ 241
Tabela 12.2 Grupos de doença (AMAE)............................................. 242
Tratamento de esgotos - Apresentação
Apresentação
A dinâmica social dos tempos de globalização exige dos profissionais atualizações constantes.
Até mesmo as áreas tecnológicas de ponta ficam ultrapassadas em ciclos cada vez mais curtos, o que
gera desafios renovados a cada dia e obriga a educação a encontrar novas e rápidas respostas.
Nesse cenário, impõe-se a educação continuada, a qual exige que os profissionais busquem
atualização constante – e os docentes e participantes dos cursos do Serviço Nacional de Apren-
dizagem Industrial – Departamento Regional do Rio de Janeiro, SENAI-RJ, incluem-se nessas
novas demandas sociais.
É preciso, portanto, promover, tanto para os docentes como para os participantes da edu-
cação profissional, condições que propiciem o desenvolvimento de novas formas de ensinar e
aprender, favorecendo o trabalho de equipe, a pesquisa, a iniciativa e a criatividade, entre outros
aspectos, e ampliando suas possibilidades de atuar com autonomia e de forma competente.
Como parte desse esforço para atender às necessidades do mercado de trabalho, a Com-
panhia Estadual de Águas e Esgotos – CEDAE e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
Departamento Regional do Rio de Janeiro – SENAI-RJ organizaram o curso de Tratamento de
Esgotos em conformidade com as exigências legais da política de treinamento das pessoas que
atuam nos processos dessa área industrial. Visa-se, assim, oferecer aos profissionais a oportu-
nidade de desenvolver as competências técnicas fundamentais à execução de suas atividades.
Este material didático tem como finalidade principal servir como apoio à aprendizagem e o
seu conteúdo básico está estruturado em 12 unidades, sendo as nove primeiras responsáveis pelos
principais processos de tratamento de esgoto, na sequência em que eles se apresentam na estação de
tratamento (ETE) e as três últimas responsáveis por informações complementares sobre manutenção
de equipamentos, controle de qualidade do produto e saúde. Ao final encontra-se um quadro com
o significado das siglas aqui utilizadas e mais comumente empregadas nesse tipo de operação.
A CEDAE e o SENAI-RJ esperam que você, participante, alcance excelente proveito dos con-
teúdos aqui apresentados e que, ao utilizar as novas aprendizagens no seu dia-a-dia, o resultado
seja uma prática profissional mais competente e também consciente da importância do trata-
mento adequado de esgotos para a saúde da população e para a preservação do meio ambiente.
Compreenda que seu trabalho deve ser realizado sempre com segurança e qualidade.
SENAI-RJ 11
Tratamento de esgotos - Uma palavra inicial
Meio ambiente...
Saúde e segurança no trabalho...
O que é que nós temos a ver com isso?
Sabemos a resposta, mas nunca é demais refletir sobre esses dois pontos que merecem
destaque: a relação entre o processo produtivo e o meio ambiente, além da questão da saúde
e da segurança no trabalho.
As indústrias e os negócios são a base da economia moderna. Produzem os bens e serviços
necessários e dão acesso a emprego e renda, mas, para atender a essas necessidades, precisam usar
recursos e matérias-primas. Os impactos no meio ambiente, muito freqüentemente, decorrem
do tipo de indústria existente no local, do que ela produz e, principalmente, de como produz.
É preciso entender que todas as atividades humanas transformam o ambiente. Estamos sem-
pre retirando materiais da natureza, transformando-os e depois jogando o que “sobra” de volta no
ambiente natural. Ao retirar do meio ambiente os materiais necessários para produzir bens, altera-se
o equilíbrio dos ecossistemas e arrisca-se chegar ao esgotamento de diversos recursos naturais que
não são renováveis ou, quando o são, têm sua renovação prejudicada pela velocidade da extração,
superior à capacidade da natureza de se recompor. É necessário fazer planos de curto e longo prazo
para diminuir os impactos que o processo produtivo causa na natureza. Além disso, as indústrias
precisam se preocupar com a recomposição da paisagem e ter em mente a saúde dos seus traba-
lhadores e da população que vive ao seu redor.
Com o crescimento da industrialização e sua concentração em determinadas áreas, o problema
da poluição aumentou. A questão da poluição do ar e da água é bastante complexa, pois as emissões
poluentes se espalham de um ponto fixo para uma grande região, dependendo dos ventos, do curso
da água e das demais condições ambientais, tornando difícil localizar, com precisão, a origem do
problema. No entanto, é importante repetir que quando as indústrias depositam no solo os resí-
duos, quando lançam efluentes sem tratamento em rios, lagoas e demais corpos hídricos, estão
causando danos ao meio ambiente.
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Tratamento de esgotos - Uma palavra inicial
14 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Uma palavra inicial
SENAI-RJ 15
Tratamento de esgotos - Uma palavra inicial
II – Dos objetivos:
1. Estabelecer princípios, critérios, diretrizes e conceitos que orientem a Nova Cedae
na condução das atividades e ações que tenham como meta alcançar excelência na
prestação de serviços de saneamento ambiental e uma melhor qualidade de vida e
bem-estar social para a população da área de atuação desta Companhia.
2. Definir responsabilidades, alinhar conceitos e estabelecer posturas para toda a Com-
panhia, principalmente para áreas diretamente envolvidas com a questão ambiental e
no relacionamento com órgãos e instituições afins, mercado e a sociedade em geral.
3. Criar condições para disseminar e consolidar os conceitos e atividades da Companhia
relativas ao meio ambiente junto à comunidade interna e externa, visando:
• a educação sanitária e ambiental;
• o cumprimento da legislação pertinente;
• o relacionamento adequado com órgãos e instituições que regulamentam a questão
ambiental, principalmente nos assuntos relacionados com os recursos hídricos.
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Tratamento de esgotos - Uma palavra inicial
SENAI-RJ 17
Características dos
esgotos sanitários
Nesta unidade...
Características físicas
Características químicas
Características biológicas
1
Tratamento de esgotos - Características dos esgotos sanitários
1. Características
dos esgotos sanitários
SENAI-RJ 21
Tratamento de esgotos - Características dos esgotos sanitários
Sólidos totais
Os sólidos totais podem ainda ser subdivididos em: sólidos em suspensão ou dissolvidos
e sólidos fixos ou voláteis.
• Sólidos em suspensão (RNF) - são aqueles que ficam retidos no meio filtrante quando
se submete um volume conhecido de amostra à filtragem. O meio filtrante é escolhido
de forma que o diâmetro mínimo da partícula retida seja de 0,1µ. O nome “sólidos em
suspensão”, tem sido considerado inadequado, considerando-se que a determinação
é feita por filtração e que partículas sólidas de diâmetro aparente inferior a 0,1µ não
ficam retidas no filtro. Modernamente, sugere-se sua substituição pela expressão mais
apropriada “Resíduo Não-Filtrável”, ou RNF.
• Sólidos dissolvidos - são obtidos pela diferença entre os valores das massas de sólidos
totais e de sólidos em suspensão ou RNF. Sendo assim, e considerando a forma como
foram determinados, os sólidos dissolvidos incluem, além das substâncias presentes
em solução verdadeira, uma certa massa de substâncias em suspensão coloidal.
22 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Características dos esgotos sanitários
Na segunda maneira de subdividir os sólidos totais, e que pode ser aplicada tanto aos RNF
quanto aos sólidos dissolvidos, temos:
• Sólidos fixos (inertes) - são definidos como o resíduo remanescente após o total de
sólidos da amostra ter permanecido em estufa aquecida à temperatura de 600 ºC por
30 minutos.
• Sólidos voláteis - já a massa de sólidos voláteis é obtida por diferença entre as massas
de sólidos totais e fixos, posto que sólidos voláteis são aqueles perdidos por volatil-
ização durante a determinação da massa de sólidos fixos.
De uma forma geral os sólidos fixos servem, em primeira aproximação, como indicador
da parcela de substâncias minerais contidas na amostra, enquanto os voláteis podem servir,
de forma grosseira, como indicação da parcela de matéria orgânica.
Além das análises descritas para medir as concentrações em mg/L de matéria sólida pre-
sente no esgoto, usa-se ainda a determinação dos denominados sólidos decantáveis. Medidos
em ml/L, eles são definidos como o volume ocupado pelos sólidos sedimentados, após decan-
tação de 1 hora, em vasilhame padrão denominado Cone Imhoff. Trata-se de análise expedita
normalmente realizada pelo próprio operador de uma estação de tratamento de esgotos e
também extremamente útil como ferramenta de controle de eficiência de determinadas uni-
dades de tratamento. No entanto, apesar de tradicional, há que se notar que sua denominação
é errônea, sendo mais correta a de sólidos sedimentáveis (posto que partículas sólidas não
decantam, sedimentam).
SENAI-RJ 23
Tratamento de esgotos - Características dos esgotos sanitários
1.1.2 Temperatura
1.1.3 Cor
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Tratamento de esgotos - Características dos esgotos sanitários
1.1.4 Odor
O odor do esgoto sanitário deve-se aos gases produzidos pela decomposição da matéria
orgânica. O esgoto recém-produzido apresenta odor desagradável, porém não tão repulsivo
quanto o produzido pelo esgoto séptico quando, após a queda do teor de oxigênio dissolvido
a zero, determinados microrganismos passam a decompor a matéria orgânica com elevada
produção de gás sulfídrico, que se desprende do líquido, provocando a corrosão dos condutos
e um cheiro repugnante.
Quanto aos despejos industriais, sua composição química também depende essencial-
mente do tipo de indústria, da matéria-prima utilizada e do processo industrial. É, portanto,
bastante variável. Há despejos industriais com características tipicamente inorgânicas (in-
dústrias metalúrgica, siderúrgica, e outras) e orgânicas (indústrias de alimentos, frigoríficos,
laticínios, etc.). Existem ainda indústrias que geram efluentes de ambos os tipos (indústria
química, petroquímica, refinarias, etc.).
SENAI-RJ 25
Tratamento de esgotos - Características dos esgotos sanitários
As substâncias inorgânicas presentes nos esgotos não possuem grande importância sani-
tária, exceto se forem tóxicas.
A importância desses compostos decorre do fato de serem nutrientes básicos para as algas.
Como tal, se forem descarregados em excesso em corpos receptores com certas características,
tais como lagos ou estuários de pequena renovação de água, podem contribuir para que haja
excessiva proliferação de algas, dando margem ao fenômeno denominado eutrofização do corpo
líquido. Neste caso pode ser necessária a remoção de tais compostos antes do lançamento do
efluente sanitário ao corpo receptor.
Compostos de enxofre
Compostos de enxofre são importantes pela facilidade que apresentam de serem reduzi-
dos bioquimicamente em condições anaeróbicas a gás sulfídrico por organismos específicos
(sulfobactérias). O gás sulfídrico (H2S), além de apresentar mau cheiro característico e ser
extremamente tóxico em elevadas concentrações, pode ser oxidado bioquimicamente a ácido
sulfúrico (H2SO4) e causar sérios problemas de corrosão nas galerias de esgoto.
Uma porcentagem elevada dos sólidos contidos nos esgotos domésticos e em certos despejos
industriais é formada por matéria orgânica. Estes compostos têm enorme importância sanitária
devido à possibilidade de serem estabilizados através da oxidação bioquímica aeróbia (ou seja: serem
consumidos como alimento por organismos presentes no corpo receptor que fazem uso de oxigênio
26 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Características dos esgotos sanitários
em seu metabolismo). Em função disso o consumo de matéria orgânica pode reduzir a concentração
de oxigênio dissolvido dos corpos receptores a níveis impróprios à vida das espécies que necessi-
tam de oxigênio livre para subsistir (organismos aeróbios), provocando assim um forte desequilíbrio
na distribuição de espécies do ecossistema constituído pelo corpo receptor desses esgotos.
Além destas substâncias, existem outras, em menor proporção, que se apresentam sob
forma bastante variada, ou seja, desde moléculas muito simples até aquelas de extrema com-
plexidade estrutural. Podemos citar, entre elas, algumas de importância sanitária, tais como
fenóis, detergentes e alguns pesticidas. Nos últimos anos tem sido constatada, nos esgotos, a
presença destas últimas substâncias em concentrações cada vez mais representativas.
Por essa razão foi desenvolvido um método prático para avaliar, ou quantificar indireta-
mente, o conteúdo orgânico de uma amostra de esgoto.
Para compreender como tal medida se torna possível, é preciso entender o processo pelo
qual o oxigênio é consumido no corpo receptor. Com esse objetivo, vamos então examinar,
ainda que superficialmente, o metabolismo dos organismos aeróbios.
SENAI-RJ 27
Tratamento de esgotos - Características dos esgotos sanitários
Embora complexa, a produção de energia vital pelo processo metabólico pode ser com-
parada, grosseiramente, com o desempenho de um motor à combustão, no qual são introduzidos
oxigênio e combustível (alimento, no caso do metabolismo). Através da combustão (oxidação),
a energia é liberada e os produtos decorrentes da queima, ou seja, as substâncias oxidadas, são
descarregadas no ambiente. No processo metabólico, a matéria orgânica (alimento) é biodegra-
dada (combinada bioquimicamente com o oxigênio livre para produzir a energia necessária
à manutenção da vida) sendo eliminada para o ambiente na forma de produtos parcialmente
oxidados (excrementos), ainda como matéria orgânica, porém em um estágio de estabilização
mais elevado.
Um dos métodos desenvolvidos para avaliar o conteúdo orgânico de uma amostra de es-
goto, a seguir descrito de forma simplificada, é uma análise denominada Demanda Bioquímica
de Oxigênio (DBO). Na verdade, a DBO possibilita a transposição para laboratório do próprio
fenômeno que se processa na natureza. Vejamos como realizá-la:
• incubar essa amostra por um período fixo (usualmente cinco dias) e em temperatura
constante (20ºC);
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Tratamento de esgotos - Características dos esgotos sanitários
A DBO obtida conforme acima descrito também é denominada “DBO a cinco dias” ou
DBO5. Isso não significa que o consumo de oxigênio deixe de existir depois de cinco dias. Na
verdade, o consumo só vai cessar após um período de cerca de 20 dias. Mas, aguardar todo esse
tempo para conhecer os resultados de uma análise de laboratório pode ser de pouca valia para
executar, por exemplo, o controle da operação de uma estação de tratamento de esgotos. Por
isso foi adotado o período de cinco dias como padrão, considerando que, após esse tempo, cerca
de 2/3 do consumo total de oxigênio já foi exercido e a maior parte dos compostos orgânicos
carbonatados já se encontra estabilizada, restando, apenas, em sua maioria, os compostos
nitrogenados.
Apesar de ser considerado como padrão, o período de cinco dias para obter o resultado
de uma análise de DBO pode representar uma espera muito longa ou ser de pouca utilidade
quando se pretende avaliar a necessidade de oxigênio para estabilizar a totalidade das substân-
cias orgânicas de uma amostra (e não apenas a fração biodegradável). Para enfrentar situações
desse tipo foi então desenvolvido outro método de análise denominado Demanda Química
de Oxigênio (DQO).
SENAI-RJ 29
Tratamento de esgotos - Características dos esgotos sanitários
exceto em casos muito especiais, mais compostos são oxidados por via química do que por via
bioquímica, os resultados da DQO são, em geral, maiores do que os obtidos da DBO de uma
mesma amostra.
Uma avaliação direta do conteúdo orgânico de uma amostra de despejo pode ainda ser
obtida através do parâmetro denominado Carbono Orgânico Total (COT), que mede a concen-
tração, em mg/L, do elemento carbono ligado a moléculas orgânicas. A análise é efetuada com
o uso de equipamentos especiais que levam à combustão controlada todo o conteúdo de um
pequeno volume de amostra e possibilitam medir a massa de gás carbônico assim gerada. Sua
utilização é rara para esgotos sanitários, sendo mais comum em despejos industriais.
Protistas
30 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Características dos esgotos sanitários
Bactérias
Certamente são as mais importantes, não somente pelo fato de haver entre elas diver-
sas espécies patogênicas, transmissoras das chamadas doenças de veiculação hídrica,
como também pelo extraordinário papel que desempenham nos processos de tratamento
biológico, promovendo a estabilização da matéria orgânica.
Algas
Existem em pequena quantidade nos esgotos domésticos, mas podem ser encontradas
em elevadíssimas concentrações nos efluentes das chamadas lagoas de estabilização.
Protozoários
Vírus
SENAI-RJ 31
Tratamento de esgotos - Características dos esgotos sanitários
Quando certa vazão de esgotos é lançada em um corpo receptor, se o ambiente não for
propício à propagação dos organismos patogênicos, sua concentração vai paulatinamente
decrescendo seja por diluição, por morte ou decaimento bacteriano. Mas o isolamento e a
contagem desses seres exigiriam uma técnica de laboratório demorada, acurada e onerosa.
Procurou-se, então, encontrar um grupo de organismos, de fácil determinação e de contagem
simples em laboratório, que pudesse ser associado à poluição fecal, para servir como indica-
dor desse tipo de degradação. Com esse propósito foi selecionado o grupo dos organismos
coliformes.
32 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Características dos esgotos sanitários
SENAI-RJ 33
Autodepuração dos
corpos de água
Nesta unidade...
Zonas características
Autodepuração
2
Tratamento de esgotos - Autodepuração dos corpos de água
2. Autodepuração dos
corpos de água
Um corpo de água, em seu estado natural, constitui um ecossistema. Nele coexistem nu-
merosos organismos que se relacionam entre si e com o próprio ambiente. Qualquer modifica-
ção introduzida, seja nas espécies vivas, seja no ambiente, pode trazer conseqüências nefastas
que podem incluir a ruptura do equilíbrio ecológico.
Com exceção dos chamados microrganismos anaeróbios, todos os demais que vivem
no corpo d’água necessitam de oxigênio livre (dissolvido no meio líquido) para realizar seu
metabolismo.
A existência de seres vivos no meio líquido implica o consumo de certa quantidade de OD.
Caso não houvesse o contínuo suprimento de oxigênio, a tendência seria baixar o teor de OD
até níveis que impossibilitassem a sobrevivência dos organismos. A morte de alguns peixes,
por exemplo, pode ocorrer em ambientes com teores de OD iguais ou inferiores a 5mg/L.
SENAI-RJ 37
Tratamento de esgotos - Autodepuração dos corpos de água
Por outro lado, os cursos de água têm a capacidade de absorver oxigênio da atmosfera
(reaeração) para suprir aquele consumido no seu interior. Mas essa capacidade depende de
diversos fatores, dentre os quais:
• a temperatura;
• o estado de agitação das águas;
• o efeito dos ventos;
• a velocidade do curso de água; e
• o próprio teor de oxigênio dissolvido no líquido (quanto mais baixo o OD, mais rapi-
damente se dá a reaeração).
Portanto, em condições naturais, há equilíbrio entre o oxigênio consumido pelos seres vivos e o
oxigênio fornecido ao corpo líquido. Equilíbrio este que mantém o teor de OD em um nível estável.
F
Figura 2.1 –
Consumo de OD com
C
o tempo, após o
llançamento de esgoto
38 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Autodepuração dos corpos de água
Figura 2
2.2
2 – Reaeração com o tempo
tempo, após o lançamento de esgoto
Nessas condições, o teor de OD no curso de água sofre as influências opostas das duas
ações acima descritas: uma tendência a cair devido ao consumo e uma tendência a recuperar-
se devido à reaeração.
SENAI-RJ 39
Tratamento de esgotos - Autodepuração dos corpos de água
Figura 2
2.3
3 – Curva de depleção de oxigênio
40 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Autodepuração dos corpos de água
Zona de degradação
Os peixes e outras formas de vida mais complexas podem ser extintos ou expulsos. Sub-
sistem alguns fungos e grande número de bactérias.
Localiza-se abaixo da zona de degradação e corresponde aos níveis mais baixos de OD.
Caracteriza-se pela decomposição anaeróbica em toda a massa líquida, sendo também ob-
servada a formação de bolhas de gás. Porções de lodo podem aflorar à superfície, formando
escuma negra. Há desprendimento de mau cheiro.
Zona de recuperação
SENAI-RJ 41
Tratamento de esgotos - Autodepuração dos corpos de água
Devido ao fenômeno da reaeração, o curso de água recupera tanto o seu teor de OD, resta-
belecendo o equilíbrio, quanto a aparência de seu estado natural.
Figura 2
2.4
4 – Zonas do curso de água após lançamento de esgoto
2.2 Autodepuração
Conforme vimos, após receber uma carga de poluição, os cursos de água, embora sofram
modificações em suas características, tendem a restabelecer por processos naturais as condições
existentes antes do lançamento dos esgotos. Este fenômeno é conhecido como autodepuração,
isto é, a capacidade do curso de água de receber uma determinada carga poluidora e eliminá-
la, gradativamente, mediante ações naturais.
É evidente que, caso se pretenda manter o nível mínimo de OD (ponto crítico) acima de
um dado valor, existe um certo limite na carga poluidora a ser lançada no corpo receptor. Se as
necessidades de oxigênio para estabilizar a matéria orgânica contida no esgoto lançado forem
demasiadamente elevadas, todo o OD do corpo receptor poderá ser consumido e, no ponto
crítico, ocorrerá ausência total de OD. Dependendo da carga poluidora, esta situação pode se
prolongar por um longo trecho do rio, o que é altamente indesejado. A curva de OD do corpo
receptor terá, então, o aspecto mostrado na Figura 2.5.
42 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Autodepuração dos corpos de água
• taxa de reaeração, que quantifica o oxigênio disponível para suprir as necessidades da carga
poluidora.
dDd = K1Ldt
Equação 2.1
Onde:
dDd = variação (aumento) do déficit de OD devido à desoxigenação.
L = DBO exercida após o tempo t.
K1 = constante de desoxigenação.
dt = variação do tempo t.
SENAI-RJ 43
Tratamento de esgotos - Autodepuração dos corpos de água
Por outro lado, o estudo da transferência de gases nos mostra que a rapidez com que esse
fenômeno se processa é proporcional à diferença entre a concentração do gás no líquido e a
concentração de saturação deste gás no líquido, ou seja, no nosso caso, a diminuição do dé-
ficit de oxigênio devido à reaeração é diretamente proporcional ao próprio déficit, o que nos
permite escrever:
Equação 2.2
Onde:
dDr = variação (decréscimo) do déficit de OD devido à reaeração natural.
K2 = constante de reaeração.
D = déficit de oxigênio.
A variação total do déficit de OD ao longo do tempo será então representada pela soma
algébrica dos dois efeitos:
Equação 2.3
Na prática, para usar a (Equação 2.3), a DBO exercida deverá ser expressa em função da
DBO de primeiro estágio da mistura despejo/água do corpo receptor (L0), através da conhecida
equação da estabilização da DBO:
Equação 2.4
44 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Autodepuração dos corpos de água
Isto feito, pode-se integrar a Equação 2.3, substituindo também o valor de L pelo expresso
na Equação 2.4, o que nos leva à expressão do déficit de OD, aqui identificado pela letra D:
Equação 2.5
Onde:
A Equação 2.5 evidencia que o déficit de OD passa por um ponto notável. Trata-se do déficit
máximo, que corresponde ao teor mínimo de OD encontrado no ponto crítico. O tempo gasto
para atingir o ponto crítico, tc, poderá então ser obtido através da determinação da abscissa
deste ponto notável, representada por:
Equação 2.6
Equação 2.7
Equação 2.8
Onde:
SENAI-RJ 45
Tratamento de esgotos - Autodepuração dos corpos de água
A Figura 2.6, a seguir, representa graficamente as Equações 2.1, 2.2 e 2.5, utilizadas para o
estudo simplificado do fenômeno de autodepuração dos cursos de água.
Figura 2
2.6
6 – Modelo simplificado
simplificado do fenômeno de autodepuração
Este modelo simplificado pode ser utilizado como uma primeira aproximação para o
modelo matemático do fenômeno de autodepuração. Os possíveis desvios que ele apresenta
são devidos ao fato de não serem consideradas:
46 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Autodepuração dos corpos de água
Equação 2.9
Onde:
Onde:
SENAI-RJ 47
Tratamento de esgotos - Autodepuração dos corpos de água
Equação 2.12
48 SENAI-RJ
Processos de
tratamento de esgotos
Nesta unidade...
Tratamento preliminar
Tratamento primário
Tratamento secundário
Tratamento terciário
3
Tratamento de esgotos - Processos de tratamento de esgotos
3. Processos de tratamento
de esgotos
Na literatura técnica é usual a subdivisão dos processos de tratamento de esgotos em
fases ou estágios, a saber:
• preliminar;
• primário;
• secundário; e
• terciário.
Embora seja amplamente utilizada, deve-se notar que esta classificação é inteiramente
arbitrária e não se apóia em qualquer critério científico. Mais racional seria adotar um critério
que agrupasse as operações ou processos de tratamento segundo os fundamentos teóricos nos
quais se baseia a obtenção de seus parâmetros de dimensionamento e operação, que seria:
Nesta unidade veremos um breve resumo de cada um dos quatro tipos de processos,
identificando as operações que os compõem. Nas unidades seguintes abordaremos em mais
detalhes os principais tratamentos de cada grupo.
SENAI-RJ 51
Tratamento de esgotos - Processos de tratamento de esgotos
• Espessamento:
- espessadores por gravidade;
- espessadores por flotação; e
- centrifugação.
• Estabilização:
- digestão aeróbia;
- digestão anaeróbia;
- tratamento químico;
- tratamento térmico; e
- compostagem.
• Condicionamento:
- condicionamento químico;
- elutriação; e
- condicionamento térmico.
52 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Processos de tratamento de esgotos
• Remoção de umidade:
- secagem natural;
- filtração a vácuo;
- centrifugação; e
- filtração à pressão (filtros prensa)
• Incineração:
- fornalhas de múltiplos estágios;
- leitos fluidizados.
• Destino final:
- lançamento no oceano;
- utilização como adubo; e
- disposição no terreno.
• Filtração. • Deionização.
SENAI-RJ 53
Tratamento preliminar
e primário
Nesta unidade...
Tratamento preliminar
Tratamento primário e
sistemas conjugados
4
Tratamento de esgotos - Tratamento preliminar e primário
4. Tratamento preliminar e
primário
Por cuidarem essencialmente da remoção de sólidos, faremos nesta unidade uma abor-
dagem conjunta dos tratamentos preliminar e primário.
Quando usado na cabeceira de uma estação de tratamento de esgotos, sua função é pre-
parar os esgotos para tratamento nas unidades subseqüentes evitando obstruções causadas
pelos sólidos grosseiros em tubulações e dispositivos de tratamento e assoreamentos causados
pelas areias em canais e unidades de tratamento.
SENAI-RJ 57
Tratamento de esgotos - Tratamento preliminar e primário
• Grades: retenção e posterior remoção do material retido entre as barras de uma grade
metálica, que deve ser encaminhado ao destino final (geralmente o mesmo do lixo
urbano).
Grades
A remoção manual é feita por meio de um ancinho cujo espaçamento entre dentes é igual
ao espaçamento entre as barras da grade. O operador maneja o ancinho de modo a fazê-lo
penetrar entre as barras, junto ao fundo do canal da grade, e arrasta o material retido para
fora do canal.
A limpeza mecânica é realizada através de rastelo (ancinho mecânico) acionado por motor
elétrico, comandado por meio de temporizador ou por sensor da diferença de nível entre os
trechos de montante e jusante de grade, pois à proporção que o material vai se acumulando
junto às barras da grade a perda de carga no canal de grades aumenta fazendo subir o nível de
montante. Quando esse desnível atinge um valor predeterminado, o rastelo é acionado.
As grades podem ser instaladas verticalmente ou inclinadas em ângulo de 45° a 60º com
a horizontal.
As grades de limpeza manual devem ser inclinadas para facilitar a remoção do material.
58 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento preliminar e primário
Crivos
Crivos são placas metálicas perfuradas instaladas transversalmente em um canal por onde
flui o esgoto. O líquido passa pelos furos e os sólidos, de dimensões superiores ao tamanho dos
orifícios, são retidos na placa e se acumulam em uma caçamba situada em sua parte inferior.
A operação de limpeza é realizada da seguinte forma:
Peneiras
As peneiras são telas metálicas interpostas ao fluxo dos esgotos. Geralmente são utilizadas
quando se deseja remover sólidos de pequenas dimensões. Podem ser montadas em discos
rotativos, tambores giratórios ou molduras metálicas de acionamento vertical.
A remoção do material retido se dá por meio de jato de água, sob pressão, que atravessa
o dispositivo em sentido contrário ao fluxo dos esgotos. O volume do material retido pode ser
estimado entre 15 a 25 1itros por habitante, por ano.
SENAI-RJ 59
Tratamento de esgotos - Tratamento preliminar e primário
Microgrades
Tambor rotativo
A micrograde tipo tambor rotativo consiste em um tambor de eixo horizontal cuja superfície
curva é formada pela grade metálica. Sua operação consiste em obrigar o fluxo de esgotos a
atravessar transversalmente o tambor. O líquido pode atravessar inteiramente o tambor, nele
penetrando de cima para baixo na região próxima a sua geratriz superior e dele saindo pela parte
inferior, ou pode atravessá-lo apenas de dentro para fora, penetrando pela parte central.
No primeiro caso o material é retirado da superfície externa do tambor por meio de lâmina
fixa, cuja função é raspar esta superfície à proporção que o tambor executa seu movimento
de rotação. O fato da micrograde ser atravessada pelo esgoto em
ambos os sentidos, força o fenômeno conhecido por “autolimpeza”,
arrastando para fora as pequenas partículas, eventualmente retidas
entre os fios, evitando que se colmate.
60 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento preliminar e primário
Estática
Trituradores
SENAI-RJ 61
Tratamento de esgotos - Tratamento preliminar e primário
Como regra geral, recomenda-se a utilização deste tipo de dispositivo apenas em situa-
ções onde a remoção do material grosseiro retido nos demais dispositivos seja extremamente
inconveniente.
Como as areias removidas dos esgotos são constituídas por substâncias minerais não
passíveis de decomposição, elas podem ser encaminhadas ao mesmo destino final dos sólidos
grosseiros removidos na grade.
Os principais tipos de dispositivos utilizados para remoção de areias dos esgotos sanitários são:
• caixas de areia; e
• ciclones.
Caixas de areia
São unidades de tratamento que promovem a separação das areias por diferença de densi-
dade (sedimentação) em virtude do fenômeno (operação unitária) denominado sedimentação
discreta.
Geralmente, as caixas de areia são dimensionadas para reter partículas de diâmetro médio
igual ou superior a 0,2mm. A velocidade horizontal do fluxo em seu interior deve se situar em
torno dos 0,30m/s já que, acima de 0,40m/s, poderia haver o arraste de partículas de menor
diâmetro e, abaixo de 0,20m/s, poderia ocorrer a sedimentação de partículas de matéria
orgânica.
As caixas de areia podem ser de fluxo horizontal ou do tipo vortex. As primeiras consistem
em canais ou tanques de pequena profundidade e fundo horizontal, atravessados pelo esgoto,
nos quais as partículas de areia são retidas por sedimentação. As do tipo vortex são tanques
circulares, em planta e de fundo tronco-cônico, nos quais o esgoto penetra tangencialmente
e a separação das areias ocorre pela centrifugação provocada pelo movimento de rotação do
líquido no interior da unidade. Neste caso, a remoção de areias se dá pela combinação das ações
62 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento preliminar e primário
Caixas de areia com remoção manual devem ser sempre instaladas com, no mínimo, duas
unidades em paralelo, pois a operação de limpeza exige a paralisação de uma delas. Por isso
deve-se prover um volume adicional no fundo da unidade com profundidade de 0,2m ocupando
toda a extensão do canal para acumular a areia até a época de limpeza.
As caixas com remoção manual geralmente têm a forma de canais retangulares, com
comprimento cerca de 15 vezes maior que a largura.
As caixas de areia de fluxo horizontal e com limpeza mecânica são dotadas de lâminas
que promovem a raspagem continuada do fundo da unidade, encaminhando as partículas
sedimentadas para poço lateral, do qual são removidas por raspador lateral tipo “vai-vem”,
correia transportadora, caçamba ou parafuso sem-fim. Das caixas tipo vortex o material retido
no fundo é, em geral, removido por ejetor pneumático.
Ciclones
As partículas de areia são deslocadas para junto da parede e se dirigem, por ação da gravi-
dade, para a seção de menor área, de onde são removidas.
SENAI-RJ 63
Tratamento de esgotos - Tratamento preliminar e primário
• decantação;
• neutralização;
• equalização; e
64 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento preliminar e primário
4.2.1 Decantação
Os decantadores utilizados para o tratamento primário são tanques com tempo de de-
tenção variando entre 1 e 2 horas (referido à vazão máxima afluente) nos quais os esgotos
fluem de forma a permitir que as partículas sedimentáveis se depositem no fundo e os sólidos
flutuantes se dirijam à superfície.
SENAI-RJ 65
Tratamento de esgotos - Tratamento preliminar e primário
Tipos
Os decantadores mecanizados são, em geral, de grande porte e podem ter fundo plano ou
pouco inclinado. Neste caso, a utilização do dispositivo mecânico de remoção do lodo implica
economia, tanto em escavação quanto em estrutura.
Funcionamento
Nos decantadores circulares ou quadrados a admissão é feita em geral pelo centro e a re-
tirada do efluente pela periferia. Nos decantadores retangulares a admissão se dá por um dos
lados de menor dimensão e a retirada do efluente pelo lado oposto.
A raspagem do lodo depositado no fundo dos decantadores deve ser feita de modo contín-
uo, sem interrupção, para evitar que esse material entre em decomposição anaeróbia dentro
da unidade e se dirija para a superfície, arrastado pelas bolhas de gás formadas no processo.
66 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento preliminar e primário
4.2.3 Neutralização
Como o pH dos esgotos sanitários não costuma exigir correção, a neutralização é uma
operação unitária de uso restrito aos despejos industriais.
4.2.4 Equalização
SENAI-RJ 67
Tratamento de esgotos - Tratamento preliminar e primário
Se, por um lado, sua eficiência é baixa, bastante inferior à dos processos biológicos se-
cundários, por outro sua simplicidade de construção implica em custo extremamente baixo,
fazendo com que essas instalações sejam consideradas alternativas viáveis para o tratamento de
esgotos em regiões não dotadas de rede de esgotos sanitários e, portanto, com vasta aplicação
em casos de domicílios isolados ou de pequenos grupos de edificações.
Fossa séptica
Funcionamento
Todos os despejos sanitários domiciliares devem ser encaminhados à fossa séptica que
não deve, entretanto, receber quaisquer contribuições de águas pluviais, inclusive aquelas
provenientes de ralos de áreas internas descobertas.
68 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento preliminar e primário
O efluente de uma fossa séptica deve se apresentar isento de sólidos sedimentáveis, porém
contém uma considerável quantidade de sólidos em suspensão e microrganismos.
A redução de DBO obtida em uma fossa é de cerca de 50%. Seu efluente pode ser
encaminhado a sumidouros, valas de infiltração, galerias de águas pluviais ou lançado
diretamente no corpo receptor.
Parte dos sólidos em suspensão que penetram na fossa são removidos por sedimenta-
ção e se dirigem para o fundo, onde são estabilizados bioquimicamente pelo processo de
digestão anaeróbia. Os sólidos flutuantes se dirigem para a superfície, onde permanecem
retidos pelas chicanas colocadas em frente aos orifícios de entrada e saída. E a matéria
orgânica remanescente no líquido sofre estabilização anaeróbia parcial, face ao elevado
tempo de detenção no interior da unidade.
SENAI-RJ 69
Tratamento de esgotos - Tratamento preliminar e primário
Tipos
Os diversos tipos de fossa séptica foram desenvolvidos a partir do modelo básico já descrito,
no qual foram introduzidas modificações visando melhorar o seu funcionamento. São eles:
• fossa séptica de câmaras em série, e
• fossa séptica de câmaras sobrepostas.
A fossa de câmaras em série consiste em um tanque longo e estreito no qual foram
introduzidos um ou mais septos verticais perfurados de forma transversal ao sentido do
fluxo, visando subdividir o processo em duas ou mais fases.
Já a fossa de câmaras sobrepostas é obtida a partir da construção, no interior da unidade,
de uma câmara longitudinal ao sentido do fluxo, dotada de fendas na parte inferior, na qual
se processa a sedimentação. Os sólidos sedimentados se dirigem por gravidade, através
da fenda, à câmara inferior, onde se processa a digestão. Esta modificação foi introduzida
com o intuito de evitar a interferência da digestão na sedimentação, não permitindo que,
ao se dirigir à superfície, bolhas de gás ou massas de lodo digerido arrastem partículas
sedimentáveis que se perderiam pela tubulação efluente.
Tanques Imhoff
Tanques Imhoff podem receber a contribuição de até 5.000 habitantes e ser utilizados como
único dispositivo de tratamento ou como estágio de tratamento primário em uma estação de
tratamento biológico.
70 SENAI-RJ
Noções de biologia
sanitária
Nesta unidade...
5
Tratamento de esgotos - Noções de biologia sanitária
Equação 5.1
SENAI-RJ 73
Tratamento de esgotos - Noções de biologia sanitária
Os organismos anaeróbios, por sua vez, dispensam o oxigênio do ambiente, já que são
capazes de produzir energia sem o seu uso através de um procedimento denominado fermen-
tação. Nesse tipo de metabolismo os produtos finais não são estáveis, como no caso anterior.
Em conseqüência disso, o rendimento energético é menor, pois os compostos instáveis ainda
contêm alguma energia.
Equação 5.2
Tais organismos são as algas que, através da fotossíntese, utilizam o gás carbônico e a
energia luminosa para sintetizar a matéria orgânica da qual irão se nutrir, liberando para o
ambiente o oxigênio produzido. A fotossíntese pode ser representada de forma simplificada
pela reação representada na Equação 5.3:
Equação 5.3
74 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Noções de biologia sanitária
Algas são organismos aquáticos que proliferam em grande quantidade nas chamadas lagoas
de estabilização. Enquanto o oxigênio (produzido pela fotossíntese e liberado na massa líquida)
é utilizado pelos organismos aeróbios presentes na lagoa para estabilizar a matéria orgânica
dos esgotos, a glicose, resultante da reação, é usada para a nutrição das próprias algas.
Assim, a matéria orgânica consumida pelas algas é fabricada por elas mesmas. Por serem
capazes de sintetizar o próprio alimento a partir de compostos inorgânicos utilizando uma
fonte de energia externa, as algas são denominadas organismos autotróficos.
Além das algas e demais vegetais clorofilados, existem outros seres autotróficos,
inclusive algumas bactérias.
Rotíferos
SENAI-RJ 75
Tratamento de esgotos - Noções de biologia sanitária
Crustáceos
Vírus
Os vírus são as estruturas biológicas mais simples. São os menores seres capazes de conter
as informações necessárias à sua reprodução. Seu tamanho é tão diminuto que apenas podem
ser vistos através do auxílio de um microscópio eletrônico.
Vírus não se nutrem nem necessitam produzir energia. Sua única função é se reproduzir.
São obrigatoriamente parasitas e se reproduzem através da invasão de uma célula, cujos
mecanismos de reprodução se utilizam para replicar o material de que são constituídos.
Assim, quando penetram em uma célula, os vírus se reproduzem rapidamente, destruindo
a célula parasitada, que se rompe e libera um enorme número de novos vírus à procura de
novas células para invadir e, assim, continuar o processo de reprodução.
Para o tratamento de esgotos, esses organismos são importantes devido a dois aspectos:
1. Grande número de espécies de vírus são patogênicos para o homem e a sua resistência
aos processos usuais de desinfecção é extremamente elevada. Além disso, os vírus apre-
sentam uma sobrevivência muito mais longa do que as bactérias após o lançamento aos
corpos receptores, o que constitui sério problema sanitário.
2. Alguns vírus são parasitas específicos de determinadas bactérias. Esse tipo é denomi-
nado bacteriófago e pode ser utilizado para o controle de certas bactérias patogênicas
em estações de tratamento de esgotos. Este assunto encontra-se ainda em fase de pes-
quisas.
76 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Noções de biologia sanitária
Protistas
Conjunto de seres que há alguns anos eram designados coletivamente por micróbios.
Seu agrupamento em um novo reino da natureza foi proposto pelo naturalista alemão Ernst
Haeckel em 1866. A partir de então se considera que os seres vivos da natureza se agrupam
em três reinos:
• vegetal;
• animal; e
• protistas.
O reino dos protistas é formado pelos protozoários, fungos, algas e bactérias. A característica
comum a todos os protistas e que os distingue dos demais seres vivos é o fato de não apresen-
tarem diferenciação de células e tecidos, ou seja, são organismos unicelulares (formados por
uma única célula ou por um conjunto de células idênticas). As características dos protistas de
maior interesse para o tratamento dos esgotos serão discutidas a seguir.
Protozoários
Em sua grande maioria os protozoários são aeróbios, havendo, entretanto, algumas espécies
anaeróbias. São de maior porte que as bactérias e freqüentemente se nutrem delas, o que os
torna particularmente úteis para a engenharia sanitária por contribuírem para a manutenção
do equilíbrio biológico nas unidades de tratamento.
SENAI-RJ 77
Tratamento de esgotos - Noções de biologia sanitária
Fungos
Algas
2.Em corpos líquidos ricos em nutrientes, com pouca movimentação e baixa renovação
de águas, as algas podem se reproduzir tão intensamente que chegam a cobrir toda
a superfície líquida, arruinando o seu valor estético e podendo até mesmo impedir a
navegação.
3.As algas, sendo organismos fotossintéticos, são utilizadas nas lagoas de estabilização
como fonte de oxigênio.
Para sintetizar seu material celular, além do carbono (contido no CO2), as algas necessi-
tam de outros nutrientes básicos, notadamente nitrogênio e fósforo. A proporção desses três
78 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Noções de biologia sanitária
elementos considerada ideal para a reprodução da maioria das algas é de 370 (C): 20 (N): 1 (P).
A inexistência de um dos elementos impede a reprodução das algas, enquanto a existência de
um deles abaixo da proporção indicada torna-se fator limitante para seu crescimento. Esse fato
é importante sob dois aspectos:
1.Em uma lagoa de estabilização a existência de algas é fundamental para o próprio fun-
cionamento do processo. Assim sendo, é imprescindível que o esgoto afluente contenha
tais nutrientes básicos. O esgoto doméstico normalmente supre essas necessidades de
nutrientes em quantidades adequadas, o que nem sempre ocorre com certos despejos
industriais, que além da escassez de nutrientes podem conter substâncias tóxicas para
as algas. Por isso as lagoas de estabilização não são particularmente adequadas para o
tratamento deste tipo de despejo industrial ou para tratar efluentes sanitários que os
contenham em proporção significativa.
2.O segundo aspecto está relacionado ao controle de proliferação de algas em corpos líqui-
dos. Aqui, a situação é exatamente a oposta, ou seja: a intenção é limitar o crescimento das
algas através da remoção de um ou mais nutrientes básicos do efluente lançado ao corpo
receptor. Dada a evidente impossibilidade de se remover todos os compostos de carbono
do efluente de uma ETE, o que se procura fazer é remover grande parte do nitrogênio, do
fósforo ou de ambos. Em geral, o fósforo é removido por precipitação química, enquanto
a remoção do nitrogênio se dá por processos biológicos ou químicos.
Bactérias
São seres unicelulares que se alimentam de substâncias dissolvidas. Isso não significa que
partículas de matéria orgânica em suspensão não possam ser utilizadas por esses organismos.
Vejamos o que ocorre com tais partículas:
A absorção de compostos solúveis pela célula, assim como a adsorção das partículas, são
fenômenos muito rápidos. Mas a solubilização (hidrólise) das partículas adsorvidas é muito
mais lenta, fato que assume importância na variante do processo de LA (lodo ativado) denomi-
nada bioadsorção ou estabilização por contato, como veremos ao discutir as características
das variantes de LA.
A forma (aspecto físico) das bactérias varia de acordo com a espécie. Mas embora existam
SENAI-RJ 79
Tratamento de esgotos - Noções de biologia sanitária
milhares de diferentes espécies bacterianas, suas células se apresentam apenas sob três formas
básicas:
• Bactérias cilíndricas – denominam-se bacilos. Suas dimensões variam de 0,3 a 1,5 micra
de diâmetro e de 1 a 10 micra de comprimento, de acordo com a espécie. Bactérias
cilíndricas encurvadas chamam-se vibriões.
80 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Noções de biologia sanitária
O tempo requerido para que uma nova célula volte a se bipartir denomina-se tempo de
geração e varia de 20 minutos até alguns dias em função das condições ambientais, da dispo-
nibilidade de nutrientes e de outros fatores. Isso significa que, se nenhum fator limitante do
crescimento se manifestar, a população bacteriana tende a dobrar a cada tempo de geração,
configurando o chamado crescimento geométrico.
Temperatura
• mesófilas - sobrevivem na faixa de 20°C a 45°C, sendo considerada como faixa ótima
a que vai de 28°C a 38°C; e
Além de ter efeito seletivo, a temperatura influi fortemente sobre a taxa de crescimento
bacteriano; esse efeito é exponencial, duplicando a taxa a cada incremento de 10°C (Lei
de Arrhenius).
pH
SENAI-RJ 81
Tratamento de esgotos - Noções de biologia sanitária
Tensão de oxigênio
Segundo a forma pela qual utilizam o oxigênio para suas reações metabólicas, as bactérias
podem se classificar em: essencialmente aeróbias, essencialmente anaeróbias, ou facultativas.
Umidade
82 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Noções de biologia sanitária
O processo metabólico das bactérias aeróbias pode ser entendido, de forma simplificada,
como a soma de três atividades concomitantes: osmose, síntese e respiração endógena, con-
forme veremos a seguir.
Osmose
Síntese
Parte do substrato armazenado é utilizada para a formação do material celular, por meio
de uma série de reações bioquímicas extremamente complexas. Tais reações utilizam como
reagentes determinados compostos presentes no ambiente e, como catalisadores, as enzimas
produzidas pelas próprias células. Essas enzimas são essenciais para o metabolismo, sendo
específicas para o substrato, ou seja: a célula deve produzir uma enzima para cada tipo de
substrato utilizado. É a ação das enzimas que distingue as reações bioquímicas das simples
reações químicas. Reações bioquímicas são sempre catalisadas por enzimas.
Por meio das reações de síntese as células conseguem produzir todo o seu material celular
a partir de compostos mais simples, presentes no ambiente. Os aminoácidos, por exemplo, são
utilizados para produzir proteínas.
Respiração endógena
Sendo a síntese um processo que produz moléculas mais complexas a partir de moléculas
mais simples, evidentemente impõe certo dispêndio de energia. Além da energia consumida
nos processos anabólicos, o ser vivo necessita de energia para desempenhar certas funções
SENAI-RJ 83
Tratamento de esgotos - Noções de biologia sanitária
vitais como mobilidade, transporte de massa no interior da célula, etc. Essa energia é obtida
pela oxidação de parte do substrato previamente armazenado. O processo de produção de
energia vital denomina-se catabolismo.
Reações de oxidação geralmente liberam energia sob a forma de calor. Entretanto, como
as bactérias não são máquinas térmicas, não poderiam utilizar a energia assim liberada. Por
isso a energia gerada pelo catabolismo é armazenada sob a forma de compostos de elevado
teor energético (trifosfato de adenosina, ou ATP), através de um ciclo altamente complexo de
reações enzimáticas coordenadas, nas quais as perdas de energia térmica são minimizadas.
• a seguir, pela oxidação do próprio material celular; ou seja: a célula se utiliza como subs-
trato do próprio material previamente sintetizado por si mesma ou por outras células.
Conforme visto anteriormente, 90% do peso seco do material celular se constitui de ma-
téria orgânica, o que resultou na adoção dos SSV (sólidos em suspensão voláteis) como repre-
sentativos da massa de organismos presentes nos reatores biológicos. Entretanto nem toda a
matéria orgânica é biodegradável, ou seja, pode ser utilizada pelos organismos como fonte de
energia na respiração endógena. Vejamos por que.
Cerca de 20% da fração orgânica do material celular é constituída por sólidos voláteis
dificilmente biodegradáveis formados, em sua maioria, por polissacarídeos complexos oriundos
84 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Noções de biologia sanitária
da cápsula bacteriana. Isso significa que 20% dos sólidos voláteis do material celular dos or-
ganismos, consumidos por respiração endógena, tendem a permanecer no sistema.
Esta parcela dos SSV é denominada resíduo endógeno, que se torna maior à medida que
diminui a disponibilidade de substrato. Nestes casos a massa dos SSV já não representa a massa
de organismos contidos no reator com um grau de aproximação razoável. Esse fenômeno as-
sume importância significativa nos processos de tratamento em que o tempo de permanência
dos organismos no sistema é elevado, como a variante do processo de LA, denominada aeração
prolongada.
SENAI-RJ 85
Filtros biológicos
Nesta unidade...
6
Tratamento de esgotos - Filtros biológicos
6. Filtros biológicos
Os filtros biológicos (FB) nasceram no final do século passado como uma tentativa de
aplicar aos esgotos as mesmas técnicas de filtração em areia utilizadas no tratamento de água.
A experiência mostrou que adaptações precisavam ser feitas para o caso do uso desses filtros
ao esgoto.
O processo inicial era operado em batelada nos dispositivos denominados leitos de contato,
constituídos por tanques cheios de pedra britada ou cascalho para os quais se encaminhavam
os esgotos até submergir as pedras. O líquido permanecia em contato com as pedras durante
certo período após o qual o leito era esvaziado, permanecendo em repouso por mais algum
tempo; depois, o ciclo era reiniciado. Os ciclos duravam 12 horas das quais 6 horas eram des-
tinadas à permanência do leito em repouso.
SENAI-RJ 89
Tratamento de esgotos - Filtros biológicos
Ainda hoje existem alguns poucos filtros biológicos utilizando bocais fixos. Entretanto, a
tendência à obstrução dos bocais levou à adoção dos distribuidores rotativos, hoje utilizados
quase que universalmente.
A grande vantagem desse tipo de distribuição é a economia de energia, pois não é necessária
nenhuma fonte de energia externa para acionar o mecanismo exceto a própria energia hidráu-
lica aplicada ao dispositivo.
Na Figura 6.1 pode-se observar que filtros biológicos dotados de distribuidores rotativos
são constituídos de tanques circulares cujo enchimento consiste de um meio através do qual
o líquido percola e na superfície do qual se fixam as colônias de organismos que efetuarão o
tratamento de esgotos.
90 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Filtros biológicos
O meio percolante pode ser constituído de qualquer material, desde que preencha as
seguintes condições:
• não ser solúvel em água, nem ser atacado quimicamente pelas substâncias presentes
nos esgotos;
• apresentar grande superfície livre por unidade de volume;
• apresentar um coeficiente de vazios suficientemente grande para permitir que o líquido
percole livremente através do meio e o ar atmosférico escoe facilmente pelos vazios;
• não ser sujeito à obstrução;
• ter grande durabilidade; e
• apresentar baixo custo.
Geralmente, o meio utilizado é a pedra britada, com diâmetro aparente de 2,5. a 7,5cm,
que preenche as condições exigidas e é encontrada na maioria das regiões do país. Porém,
em determinadas localidades onde há carência desse material ou em certos casos, quando se
deseja diminuir o peso da unidade, outros materiais podem ser utilizados.
SENAI-RJ 91
Tratamento de esgotos - Filtros biológicos
A literatura tem apontado o uso de vários meios percolantes como, por exemplo, lava vul-
cânica, carvão mineral, escória de alto forno, etc. Não há praticamente nenhuma restrição em
usá-los, exceto as condições já listadas; por isso, materiais pouco convencionais como espigas
de milho e cascas de coco têm sido também empregados.
Meios plásticos são fáceis de transportar, leves, simples de montar no interior da unidade
e altamente eficientes. Sua principal desvantagem é o custo, bem mais elevado que o dos ma-
teriais usuais.
O líquido, após atravessar o meio percolante, é removido pelo fundo da unidade através
de um sistema de drenos formado por canais cobertos com grelhas ou por telhas drenantes, as-
sentadas no fundo da unidade. Os drenos convergem para um canal central que escoa o líquido
para fora do filtro biológico, cujo fundo é ligeiramente inclinado no sentido do canal central.
Para cumprir as suas funções os drenos devem ser dimensionados para atuar como canais,
sem jamais permanecer afogados mesmo ao receber a vazão máxima admissível. Devem ainda
ser abertos em ambas as extremidades para se comunicar com a atmosfera.
O fluxo de ar através dos drenos e do meio percolante pode ser natural ou forçado.
92 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Filtros biológicos
Fluxo natural
Filtros biológicos descobertos utilizam a ventilação natural. Neste caso o sentido do fluxo
de ar depende da diferença de temperatura entre o ar externo e o contido nos vazios do meio
percolante. Em geral, a ventilação natural é satisfatória desde que sejam atendidas as seguintes
condições:
Fluxo forçado
O fluxo forçado de ar é utilizado em filtros cobertos em cuja cúpula são instalados venti-
ladores que insuflam o ar para o interior da unidade.
Neste caso o fluxo se dá no sentido do escoamento dos esgotos (de cima para baixo) para
evitar que gases formados no processo biológico corroam as partes metálicas do distribuidor
rotativo e dos ventiladores mantidos em ambiente fechado.
A proliferação desse inseto pode ser controlada por meio do afogamento (inundação
controlada) da unidade, que segue os seguintes passos:
1.fechar a comporta do canal de saída do filtro, permitindo que ele seja inundado pelo
esgoto, de onde o líquido é removido por vertedor superficial;
2.remover do filtro, por meio de um vertedor junto à superfície, as larvas de moscas que
tendem a flutuar; e
SENAI-RJ 93
Tratamento de esgotos - Filtros biológicos
Essa operação deve ser executada em intervalos inferiores ao ciclo vital da psychoda. Em
casos extremos de proliferação pode-se apelar para a cloração do afluente, de forma a pro-
duzir um residual de cloro da ordem de 0,5 a 1 mg/L ou então pode-se também fazer uso de
inseticidas.
Em sua grande maioria, os organismos presentes no filtro biológico são bactérias da es-
pécie zooglea ramigera, o que levou ao uso da denominação genérica zooglea para a camada
gelatinosa que recobre os elementos do meio percolante. Além de bactérias (aeróbias, an-
aeróbias e facultativas), o conjunto de organismos consiste em fungos, algas (que existem
somente junto à superfície, onde há luz) e protozoários. É possível ainda encontrar vermes
e larvas de insetos que, juntamente com os protozoários, alimentam-se de bactérias,
contribuindo para o equilíbrio biológico do processo.
O oxigênio do ar pode se difundir pela camada de zooglea. Porém seu consumo é muito
rápido e todo o oxigênio disponível pode ser consumido na zona mais externa da camada de
zooglea. Por isto, à medida que ela aumenta de espessura, forma-se na zona mais interna, próx-
ima ao meio percolante, uma camada de organismos anaeróbios que podem sobreviver porque
não necessitam de oxigênio e se alimentam da matéria orgânica dos esgotos que atravessa
as camadas externas. Porém, na proporção que aumenta a espessura total da camada, os or-
ganismos anaeróbios deixam de receber alimento (que é inteiramente utilizado nas camadas
externas). Esta falta de alimento acaba levando-os à morte, o que os faz perder a habilidade
de aderir ao meio percolante. Como conseqüência, fragmentos de zooglea se desprendem dos
elementos do meio percolante e são arrastados para fora da unidade. A rapidez com que a
massa de zooglea é removida depende da massa de substrato disponível (carga orgânica sobre
o filtro) e da velocidade de percolação do líquido.
94 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Filtros biológicos
Esse fenômeno traz duas conseqüências importantes. A primeira é a sua utilização nos
filtros biológicos de alta capacidade para controle da biomassa, conforme veremos mais adiante.
A segunda é a presença, no efluente do FB, de sólidos em suspensão, constituídos, sobretudo,
pelos fragmentos de zooglea desprendidos. Tais sólidos, por se constituírem de matéria orgânica,
não devem ser encaminhados ao corpo receptor, o que implica na necessidade de removê-los
posteriormente.
De acordo com a carga orgânica e hidráulica, os filtros biológicos são classificados como
de baixa e de alta capacidade, conforme veremos a seguir.
FB de baixa capacidade
• a carga orgânica deve ser inferior a 0,2kg DBO/d.m3 referida ao volume do material
percolante; e
A biomassa aderida ao meio percolante recebe, então, uma massa de substrato relativa-
mente pequena e a velocidade de percolação do líquido é baixa, o que permite a biomassa
SENAI-RJ 95
Tratamento de esgotos - Filtros biológicos
permanecer aderida ao meio por um longo período. A permanência é tão longa que, quando a
zooglea se desprende, é constituída predominantemente por material celular resultante da respi-
ração endógena, o que concede ao lodo removido no DS um razoável grau de estabilidade.
FB de alta capacidade
Nos filtros biológicos de alta capacidade, aplicam-se cargas hidráulicas muito mais eleva-
das (de 8,5 a 28 m3/dia.m2 referida à superfície do meio percolante), obtidas pela recirculação
do efluente tratado.
Figura 6
6.2
2 – Esquemas de recirculação
Observe que a recirculação consiste em retornar para um ponto situado à montante do filtro
parte da vazão do líquido que já passou pelo próprio filtro e por isso mesmo teve a maior fração
de sua matéria orgânica estabilizada. Com isto é possível aumentar muito a carga hidráulica
aplicada sem que haja um acréscimo proporcional da carga orgânica. Este procedimento per-
mite aumentar significativamente a velocidade de percolação do líquido, causando o aumento
de sua capacidade de arraste da película de zooglea para fora do meio percolante, forçando a
renovação mais rápida da biomassa.
Como parte da matéria orgânica contida nos esgotos é incorporada ao material celular
dos organismos, uma renovação mais rápida desses organismos implica em maior capacidade
de remoção de carga orgânica da unidade de tratamento. Por isto a carga orgânica aplicada a
filtros de alta capacidade pode se situar na faixa de 0,5 a 1,8kg DBO/dia.m3 de material perco-
lante, o que permite sensível redução no volume e na área do meio percolante e a conseqüente
redução do porte da unidade.
96 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Filtros biológicos
Vale ressaltar que a recirculação do efluente tratado, indispensável nos FB de alta capaci-
dade, tem como principal objetivo aumentar a carga hidráulica aplicada sobre o filtro sem
que haja um acréscimo proporcional da aplicação da carga orgânica para reforçar o efeito de
lavagem da biomassa. Além disso, este procedimento traz outros benefícios, tais como:
• parte do efluente do filtro para a entrada do próprio filtro; com isso, é possível retornar
para o processo alguns organismos ativos removidos do filtro;
Equação 6.1
SENAI-RJ 97
Tratamento de esgotos - Filtros biológicos
O valor de R depende dos valores das cargas orgânica e hidráulica aplicadas ao filtro e da
concentração de DBO do esgoto bruto. Ele é estabelecido de maneira a fornecer a combinação
desejada de cargas hidráulica e orgânica posto que, ao aumentar R também é aumentada a
carga hidráulica praticamente sem aumentar a carga orgânica. Os valores usuais de R variam
na faixa de 1 a 4.
FB de baixa capacidade
FB de alta capacidade
98 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Filtros biológicos
de organismos ativos é praticamente impossível, pois ela se encontra aderida a uma grande
superfície de meio percolante sem estar distribuída de modo uniforme. Na maioria dos casos
o procedimento consiste em considerar que um determinado volume de meio percolante
contém a massa de organismos capaz de estabilizar, na unidade de tempo, uma dada massa
de substrato afluente. Em geral, isso é feito através de equações empíricas.
Método do NRC
Equação 6.2
Onde:
Si = Concentração de DBO no afluente (mg/L)
S = Concentração de DBO no efluente (mg/L)
W = Carga orgânica aplicada (libra/d)
V = Volume do meio percolante (acre x pé)
F = Fator de recirculação.
Equação 6.3
Onde:
Equação 6.4
SENAI-RJ 99
Tratamento de esgotos - Filtros biológicos
Método de Eckenfelder
Baseado na cinética de remoção de um substrato orgânico por uma cultura mista de or-
ganismos, Eckenfelder propõe o uso da seguinte expressão:
Equação 6.5
Onde:
S = Concentração de DBO no efluente (mg/L)
Si = Concentração de DBO no afluente (mg/L)
R = Relação de recirculação.
f = um expoente constituído por:`
Equação 6.6
Onde:
D = Profundidade do meio percolante
Q = Taxa de aplicação hidráulica (Vazão/Área)
n = Constante característica do meio percolante
K = Constante característica do despejo (taxa de remoção de substrato).
100 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Filtros biológicos
O reator deve ser coberto para evitar a proliferação de algas, a lavagem pelas chuvas, e a
exposição direta ao sol.
Os RBC podem ser utilizados seja como único reator biológico em uma ETE, seja como
suporte auxiliar para a biomassa no interior de tanques de aeração do processo de LA visando
aumentar a capacidade de instalação existente.
SENAI-RJ 101
Lodos ativados
Nesta unidade...
Tanques de aeração
Controle do processo
7
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
7. Lodos ativados
A possibilidade de efetuar o tratamento de esgotos através da aeração artificial foi cogitada
pela primeira vez em 1914, na Inglaterra, por Ardern e Lockett, que realizaram experiências
sobre a oxidação de esgotos sem o emprego de filtros. A denominação lodos ativados (LA), então
dada ao processo, devia-se à hipótese de que o próprio lodo contido no esgoto bruto, quando
submetido à aeração, adquiria a propriedade de estabilizar a matéria orgânica afluente, sendo
de alguma forma ativado com a aeração.
A partir de 1920, o processo difundiu-se e vem sendo extensamente utilizado até os dias
atuais tanto em sua forma original - o chamado lodo ativado convencional - quanto sob a forma
de variantes, todas elas baseadas no processo convencional.
SENAI-RJ 105
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
106 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
Essa constatação permitiu concluir que esgotos altamente concentrados deveriam per-
manecer mais tempo sob aeração, pois, em um mesmo volume, continham maior massa de
substrato a ser removida. Assim, esgotos mais concentrados exigiriam uma permanência maior
sob aeração e, portanto, um volume maior de TA para a mesma vazão afluente (Q).
Este critério, com pequenas modificações, vem sendo utilizado até os dias de hoje. As
modificações consistiram, basicamente, em avaliar mais corretamente as massas de substrato
e de organismos.
Isto decorre do fato da massa de substrato afluente não espelhar a quantidade de substrato efe-
tivamente utilizada pelos organismos. Para expressarmos convenientemente a massa utilizada, deve-
mos também levar em conta a massa de substrato efluente do sistema, e, portanto, não utilizada.
SENAI-RJ 107
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
A massa de substrato efetivamente utilizada ao longo de certo período (dMS/dt) poderá ser
obtida da soma algébrica das massas de substrato afluente e efluente nesse mesmo período:
Equação 7. 1
Onde:
dMS/dt = variação (decréscimo) da massa de substrato no sistema no intervalo de tempo dt;
Q = vazão afluente;
Si = concentração de substrato no afluente; e
S = concentração de substrato no efluente.
O lodo ativado (sólidos em suspensão no tanque de aeração) é constituído não apenas por
células de organismos ativos como também por outras substâncias em suspensão.
A maior parte das substâncias em suspensão contidas no lodo ativado e não constituídas
por organismos ativos (células vivas) é introduzida no sistema juntamente com o esgoto afluente.
Os sólidos em suspensão afluentes são constituídos por uma fração fixa e uma fração volátil.
A última é, em grande parte, formada por matéria orgânica biodegradável, que é removida
do sistema (consumida pelos organismos ativos no TA). Assim, acaba restando apenas uma
pequena fração dos SSV afluentes não-biodegradáveis que, juntamente com a fração fixa, tende
a se acumular no sistema, já que retorna ao TA com o lodo ativado.
108 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
Equação 7. 2
Onde:
MXv = massa de organismos presentes na câmara de aeração, em kg;
Xv = sólidos em suspensão voláteis, em kg/m3;
V = volume do TA, em m3.
Equação 7. 3
Com efeito, conhecidas a vazão (Q), a concentração de substrato (Si) afluente, e arbitrada
a concentração de substrato efluente (S) que é desejada para o sistema, pode-se determinar a
massa de substrato utilizada por dia (dMS/dt). Esse valor, relacionado ao parâmetro alimento/
microrganismos (U) arbitrado (e expresso em termos de kg de substrato fornecido diariamente
SENAI-RJ 109
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
a cada kg de Xv), fornecerá a massa necessária de sólidos em suspensão voláteis (MXv), expressa
em kg:
Equação 7. 4
Equação 7. 5
7.3.4 Dimensionamento do TA
110 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
Equação 7. 6
Onde:
dMXv = massa de excesso de lodo, em kg, medida em termos de SSV, produzida no inter-
valo de tempo dt;
dXv = variação (aumento) da concentração de SSV no tanque de aeração, em kg/m3;
V = volume do TA, em m3;
dt = intervalo de tempo, em dias.
A massa a ser descartada periodicamente, dMXv/dt, poderá ser retirada de qualquer ponto
do sistema. Usualmente, a retirada é feita a partir da linha de recalque do lodo que retorna do
fundo do DS para o TA a fim de:
SENAI-RJ 111
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
• clarificar o afluente líquido e adensar o lodo ativado a ser retornado ao TA, pois o lodo
removido do fundo do DS, adensado no interior do próprio DS, tem uma concentração
de sólidos voláteis superior à apresentada no TA. Observe que o DS cumpre, assim,
uma dupla função: unidade de clarificação do líquido e de adensamento do lodo.
A concentração de SSV no lodo que retornou ao TA será aqui representada por Xvu. Logo, quanto
maior Xvu, menor deverá ser a vazão Qr a ser retornada. Assim, a remoção do excesso do lodo a partir
da linha de retorno de lodo (com uma concentração Xvu) implica retirar do sistema um volume menor
de excesso de lodo se comparado ao volume necessário no caso da remoção ser feita diretamente
do TA (com uma concentração Xv) para descartar a mesma massa dMXv/dt.
Essas razões de ordem prática tornaram quase universal a retirada do excesso de lodo
através da própria linha de retorno do lodo ativado. Como o objetivo do descarte de excesso de
lodo é apenas manter o sistema em equilíbrio através da manutenção de Xv próximo ao valor
de projeto, igual resultado seria obtido se o excesso de lodo fosse descartado diretamente do
TA. Neste caso, bastaria remover diariamente do sistema, um volume do líquido sob aeração
que promovesse a retirada da mesma massa de lodo em excesso.
O destino a ser dado ao excesso de lodo removido do sistema vai depender, entre outros fatores,
do tipo da instalação, de aspectos econômicos e das características do processo. Assim, o excesso de
lodo removido de uma estação de lodos ativados pelo processo convencional, dotada de um decan-
tador primário onde o esgoto bruto é submetido à decantação antes de ser introduzido no TA, poderá
ser encaminhado ao DP, onde se sedimentará novamente e de onde será removido juntamente com
o chamado lodo primário e submetido ao tratamento adequado,
geralmente digestão anaeróbia.
O lodo removido
O excesso de lodo também pode ser estabilizado, em se- do sistema deve
parado, através da digestão aeróbia e, depois, ser encaminha- ter sempre um des-
do ao destino final. Ou ainda, em certas variantes do processo tino final adequado mas, o
de lodos ativados que operam em faixas de relação alimento/ que vai ser feito com ele em
microrganismos muito baixas (aeração prolongada), o excesso nada influi no desempenho
pode ser encaminhado diretamente à secagem natural, posto do sistema de tratamento do
que já se apresenta razoavelmente estabilizado. efluente líquido.
112 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
Se a cada dia é retirada do sistema uma determinada massa dMXv/dt de lodo em excesso, a
relação entre massa total (MXv) e massa removida diariamente (dMXv) fornece o tempo médio,
em dias, que uma partícula de lodo permanece no sistema.
Vejamos o seguinte exemplo: se a cada dia é formada e removida uma massa de excesso
de lodo dMXv correspondente a 10% da massa total do lodo MXv, serão removidos, diariamente,
10% dos organismos presentes, que deverão ser substituídos por igual porcentagem de novos
organismos. Isso significa que existe a probabilidade de todo o conteúdo do TA ser renovado
em 10 dias. Portanto, ao longo de um certo tempo pode-se afirmar que cada organismo per-
manece, em média, 10 dias no sistema. Logo, a idade do lodo (θc) é 10 dias.
Define se, então, o parâmetro idade do lodo ou tempo médio de residência celular (θc)
como a relação entre massa total de lodo presente no TA (MXv) e a massa de lodo descartada a
cada intervalo de tempo dt (geralmente 1 dia):
Equação 7. 7
Equação 7. 8
SENAI-RJ 113
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
Se o descarte é feito a partir da linha de retorno de lodo ativado (portanto, com concentra-
ção de SSV igual a Xvu), a vazão q′ a ser descartada no intervalo dt corresponderá a um volume
v′, em m3, tal que:
Equação 7. 9
Logo:
Equação 7. 10
Equação 7. 11
Caso essa vazão q′ seja retirada continuamente do sistema, os intervalos dt e dt′ serão
iguais. O caso mais comum é adotar dt = dt′ = 1 dia.
Equação 7. 12
Portanto, para determinar q′, seria necessária a determinação diária de Xv e Xvu; ou seja:
quando se descarta o lodo a cada dia, a partir da linha de retorno de lodo, é necessário deter-
minar, diariamente, em laboratório, as concentrações de SSV tanto no TA quanto na linha de
retorno do lodo.
Outra hipótese seria promover o descarte do lodo diretamente do tanque de aeração. Nesse
caso, a massa de SSV (dMXv) removida do TA será na concentração Xv. O volume v, em m3/d, a
ser removido no intervalo dt será então:
Equação 7. 13
114 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
Equação 7. 14
Equação 7. 15
Equação 7. 16
-1
Onde q/V está expresso em d .
Isso significa que uma determinada idade do lodo θc será mantida desde que se retire do
TA, continuamente, uma vazão q, de modo que a relação entre o volume removido no intervalo
dt e o volume do TA seja numericamente igual ao inverso da idade do lodo.
Vamos exemplificar: para manter uma idade do lodo de, por exemplo, 15 dias, basta retirar
diariamente um volume v de líquido do TA igual a 1/15 do volume V do TA.
Essa técnica introduz uma evidente simplificação, pois torna desnecessária a determinação
tanto de Xv quanto de Xvu para se manter uma determinada θc.
Para determinar a exata natureza dessa correlação - de forma que possa ser utilizada na
construção de um modelo matemático para o processo de lodos ativados - tomamos como base
SENAI-RJ 115
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
Equação 7. 17
Onde:
Y e b são constantes.
Equação 7. 18
Equação 7. 19
Equação 7. 20
Equação 7. 21
Equação 7. 22
116 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
• ao se fixar uma determinada θc, através da remoção diária de uma fração fixa da
massa total de lodo presente no reator, a relação alimento/microrganismos será au-
tomaticamente ajustada em um valor correspondente, ou seja, a concentração Xv se
auto-ajustará.
A concentração S poderá ser obtida a partir de considerações sobre a variação das massas
de substrato ou de SSV no processo. Veja a Figura 7.1.
Fi
Figura 7 1–V
7.1 i ã d
Variação das massas d b t t
de substrato
SENAI-RJ 117
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
1. Massa de substrato que ingressa no sistema, no intervalo dt, trazida pelo esgoto afluente
(em kg/d):
Equação 7. 23
Equação 7. 24
portanto:
Equação 7. 25
3. Massa de substrato retirada do sistema no intervalo dt, juntamente com o esgoto eflu-
ente (em kg/d):
Equação 7. 26
4. Massa de substrato retirada do sistema no intervalo dt, juntamente com o lodo descar-
tado diretamente do reator (em kg/d):
Equação 7. 27
118 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
Equação 7. 28
Substituindo na Equação 7.28 os valores fornecidos pelas Equações 7.23, 7.25, 7.26 e
7. 27 (em kg/d):
Equação 7. 29
Equação 7. 30
Equação 7. 31
Equação 7. 32
Equação 7. 33
Equação 7. 34
SENAI-RJ 119
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
Equação 7. 35
Para obter o valor em kg/d, multiplicamos ambos os membros da Equação 7.35 pelo vo-
lume do reator:
Equação 7. 36
Equação 7. 37
Equação 7. 38
Equação 7. 39
120 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
A variação total da massa de SSV no sistema (em kg/d) pode ser então obtida utilizando-se
as Equações 7.36, 7.38 e 7.39:
Equação 7. 40
Substituindo agora pelos valores fornecidos pelas Equações 7.36, 7.38 e 7.39:
Equação 7. 41
Equação 7. 42
Quando o descarte de excesso do lodo é feito diretamente do TA, podemos fazer uso da
Equação 7.16, substituindo o valor de q/V. Assim, chegamos às três equações seguintes, com
valores expressos em d-1:
Equação 7. 43
Equação 7. 44
Equação 7. 45
SENAI-RJ 121
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
Equação 7. 46
A Equação 7.46 exprime o fato de que S pode ser expresso somente em função de θc e dos
valores das constantes do sistema b, Y, e K. Ela significa que a manutenção de θc em um valor
constante irá igualmente implicar na manutenção da concentração de substrato efluente em
um valor também constante, ou seja, demonstra que o sistema também pode ser administrado
através do controle de θc.
2. Fixando-se uma certa idade de lodo θc, através do descarte periódico de um determinado
volume do líquido do TA.
122 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
1. Vamos considerar um sistema que opera através do controle de θc, sabendo que é re-
movida diariamente do reator a massa de organismos igual a uma fração fixa da massa
total contida no sistema.
2. Vamos supor ainda que, por uma razão qualquer, a massa total de organismos contida
no reator seja menor do que aquela correspondente à idade do lodo θc. Podemos então
afirmar que, havendo relativamente poucos organismos no sistema, cada reator receberá
uma quantidade de substrato (Q . Si)proporcionalmente maior se comparada àquela a ser
recebida caso o número (ou massa) total de organismos estivesse em seu valor correto.
Esse fato implica em:
• maior produção de organismos que a fração retirada diariamente. Com isso, a con-
centração de substrato no reator tende a subir, provocando aumento de organismos
sintetizados; e
• elevação da concentração Xv, até um ponto em que o lodo descartado seja exatamente
igual ao excesso produzido.
A opção por um ou outro método de controle deverá ser feita após o estudo comparativo
das vantagens e desvantagens de cada um.
A massa de substrato utilizada dependerá tanto de Q quanto de Si. Esses valores sofrem
variações ao longo do tempo, alterando, portanto, o valor da relação U. Normalmente, o que se
faz para o estabelecimento da desejada relação U, é considerar que tanto Q quanto Si variam
em torno de valores médios. Essa consideração é válida quando a oscilação se dá de forma
SENAI-RJ 123
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
lenta e em períodos relativamente curtos. Quando isso não ocorre, o sistema pode ser levado ao
desajuste, com o conseqüente deslocamento do valor de S para fora dos limites admissíveis.
Esta aparente discrepância ocorre porque, na proporção que os SSV permanecem mais
tempo retidos no sistema (elevadas θc), maior é a tendência de acumular resíduos em suspen-
são voláteis não constituídos por organismos ativos. Estes resíduos são trazidos com o esgoto
afluente ou produzidos no interior do reator por efeito da respiração endógena, formando o
chamado resíduo endógeno.
Grande parte do material constituinte da célula dos organismos ativos é composta por
matéria orgânica biodegradável, consumida no processo. Entretanto, certa fração f da massa
dos organismos é composta de matéria orgânica não-biodegradável que irá formar o resíduo
endógeno. Isto significa que a formação do resíduo endógeno é proporcional à massa de organis-
mos consumida por respiração endógena, sendo f, o fator de proporcionalidade. Considerando
Xe a concentração de resíduo endógeno no sistema, em kg/m3.d, temos:
Equação 7. 47
Logo, de acordo com a definição da taxa específica de respiração endógena, como visto
na Equação 7.37:
Equação 7. 48
124 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
Por outro lado, o controle por meio da θc se mostra mais simples. Com efeito, é possível
manter a idade do lodo exatamente no valor desejado removendo diariamente do interior do
TA uma fração de seu volume numericamente igual ao inverso da idade do lodo expressa em
dias. Tudo isto sem depender dos valores de Q, Si e Xv.
A desvantagem da técnica de controle do processo pela idade do lodo é que ela exige a
remoção do lodo descartado diretamente do TA, ou seja, na concentração Xv. Como a concentra-
ção Xv é geralmente baixa, da ordem de 1 a 4g/L, o volume do lodo descartado e encaminhado
ao destino final é relativamente alto.
SENAI-RJ 125
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
retornado para a entrada da instalação ou ser encaminhado para fora do sistema, juntamente
com o efluente final (já que é constituído de esgoto tratado). O lodo espessado, com uma apre-
ciável redução de volume, será então encaminhado ao destino final adequado.
Equação 7. 49
126 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
O valor de r pode ser obtido em função das concentrações de SSV vigentes respectivamente
no tanque de aeração (Xv) e no fundo do decantador secundário (Xvu) por meio de um balanço
de matéria em torno do TA.
3. A massa de SSV removida do processo com o excesso de lodo seria exatamente igual à
produção de SSV por síntese do material celular no mesmo período. Assim, toda a massa
de SSV introduzida no TA seria aquela trazida pela vazão Qr na concentração Xvu, e toda
a massa de SSV removida do TA seria pela vazão (Q + Qr) na concentração Xv.
Equação 7. 50
Equação 7. 51
A Equação 7.51 exprime o fato de que r (e portanto Qr) depende de Xvu. Ela mostra também
que o decantador secundário não é apenas uma unidade acessória, destinada meramente a
clarificar o efluente, mas uma peça extremamente importante do sistema, da qual depende a
eficiência de todo o processo. Isso porque, caso o DS não tenha a capacidade de adensar o lodo
até a concentração de SSV conveniente, a vazão de retorno de lodo Qr não bastará para trans-
portar o lodo de volta para o TA com a mesma rapidez com que ele o deixa. Em conseqüência,
o lodo vai se acumular no DS, até se perder pelo vertedor de saída com o efluente final, fazendo
a massa de lodo contida no sistema cair até valores inferiores ao de projeto, o que pode levar o
processo ao colapso (além de, naturalmente, prejudicar a qualidade do efluente).
SENAI-RJ 127
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
de sólidos Xu obtida no fundo do DS. Isso significa que o simples aumento de Qr visando atingir
maior rapidez no retorno dos sólidos ao TA não resolve o problema de um sistema que começou
a perder sólidos pelo efluente por incapacidade de adensar o lodo até o valor necessário. Caso se
tente a solução apenas pelo aumento de Qr, ocorrerá o aumento da taxa de aplicação de sólidos
sobre o DS o que implicará na redução de Xu, voltando o sistema a se desequilibrar.
128 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
orgânica afluente. A massa de lodo ativado poderá ser expressa em função da massa de sólidos
em suspensão totais, contida no TA, MX. Assim, os métodos modernos de dimensionamento
para o reator biológico do processo de lodos ativados fornecem o valor de MX em função dos
dados básicos de projeto e das constantes do processo. O valor de V, em m3, é determinado em
função da concentração X escolhida pelo projetista, conforme equação a seguir:
Equação 7. 52
A Equação 7.52 evidencia que o projetista pode variar o valor de V dentro de certa margem
sem alterar as características do processo, desde que varie igualmente X pois, como o valor de
MX é fixo, a variação de X implica variação do valor determinado para V. Em outras palavras:
fixados Q e Si, o valor de V será determinado em função de X, ou seja, X representará o volume
do TA.
Equação 7. 53
Equação 7. 54
SENAI-RJ 129
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
Então, o estudo da decantação zonal mostra que StL depende tanto de X quanto de Xu, e a
Equação 7.53 mostra que r depende igualmente de X e Xu. Assim, para uma determinada vazão
afluente Q, a área A dependerá apenas de X e Xu. O projetista poderá então, dentro de certa
medida, variar a área A e, em conseqüência, o valor esperado para Xu.
Portanto, um exame sucinto do que foi apresentado evidencia claramente que as grandezas
V, A e Qr são interdependentes e que o grau de interdependência é elevadíssimo. O projetista
tem uma determinada margem de variação de qualquer um desses valores, sabendo, entretanto,
que a variação de um deles implicará variação de pelo menos um dos dois restantes. Esse fato
é fundamental para o desempenho do sistema de aeração, e deve ser levado em consideração
no seu dimensionamento.
130 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
Em nosso caso a massa de material celular sintetizado é medida em termos de massa de SSVTA.
Conhecemos também o fator de conversão entre massa de substrato e massa de material celular,
ou seja, o próprio coeficiente de produção (Y). Entretanto, para exprimir a massa de substrato sin-
tetizada nas mesmas unidades utilizadas para quantificar o substrato, ou seja, o seu equivalente em
oxigênio (DBO ou COD), é preciso conhecer o fator de conversão apropriado.
Ao discutir a fisiologia bacteriana, mencionamos também que uma composição teórica para
o material celular bacteriano seria C5H7O2N. Sendo assim, as necessidades de oxigênio para oxidar
completamente este composto químico poderiam ser avaliadas a partir da seguinte reação:
Equação 7. 55
SENAI-RJ 131
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
O cálculo estequiométrico aplicado a essa reação mostra que são necessários 1,42kg de
oxigênio para oxidar 1kg de material celular. Esse valor teórico foi comprovado em inúmeras
aplicações práticas e, ao considerá-lo, podemos afirmar que, para exprimir a massa de mate-
rial celular em termos de seu equivalente em oxigênio, basta multiplicá-la pelo fator 1,42. Ela
pode ser representada, em kg/d, como:
Equação 7. 56
Onde:
Equação 7. 57
ou
Equação 7. 58
Onde:
A massa de oxigênio que satisfaz a demanda da respiração endógena será aquela neces-
sária para oxidar bioquimicamente a massa de material celular biodegradável, consumida por
respiração endógena. Já mencionamos também que nem todo o material contido nas células
destruídas por respiração endógena é oxidado bioquimicamente, pois uma determinada fração
f de sua massa permanece no processo como resíduo endógeno. Portanto, podemos afirmar
que a fração do material celular destruída por respiração endógena (oxidada bioquimicamente)
é expressa por (1- f ) e sua massa será, em kg/d:
Equação 7. 59
132 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
Através da taxa específica de respiração endógena b, essa massa referida à massa total de
organismos ativos contidos no TA fornece, ainda em kg/d:
Equação 7. 60
Equação 7. 61
Fazendo MXa = MXv (o que é justificável por questões de segurança já que MXv é sempre
maior que MXa), temos a seguinte representação, em kg/d:
Equação 7. 62
Caso não seja prevista a nitrificação biológica, as necessidades de oxigênio para o processo,
em kg/d, poderão ser expressas por:
Equação 7. 63
Equação 7. 64
Considerando que f é igual a 0,2, e levando-se em conta a Equação 7.1, teremos, em kg/d:
Equação 7. 65
SENAI-RJ 133
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
A avaliação da massa de oxigênio necessária à nitrificação pode ser feita por meio do cálculo
estequiométrico aplicado à reação química que representa o fenômeno global de nitrificação
biológica. Essa reação evidencia a necessidade de 4,6 unidades de massa de oxigênio para
nitrificar uma unidade de massa de nitrogênio amoniacal.
Como considera-se que todo o NTK (Nitrogênio Total Kjeldahl) deve ser convertido em
nitrogênio amoniacal para posterior nitrificação, as necessidades de oxigênio são baseadas
na fração da massa de nitrogênio amoniacal convertida em nitratos, ou seja, aquela que foi
realmente nitrificada. Portanto, considerando-se que a concentração de nitratos no afluente
é em geral desprezível, a massa de oxigênio necessária para satisfazer a demanda proveniente
da nitrificação é obtida em função da concentração de nitrogênio de nitratos (ou moléculas
do elemento N ligadas ao radical NO3) no efluente, Nn.
Equação 7. 66
Equação 7. 67
O processo dos lodos ativados sofreu ampla disseminação e tem sido empregado em todo
o mundo seguindo diversas variantes. Embora todas adotem os mesmos princípios básicos, há
diferenças entre elas no que se refere:
• ao tanque de aeração;
134 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
Ar difuso
Difusores tipo bocais, orifícios ou certos dispositivos especiais fornecem bolhas grosseiras.
São menos eficientes, pois exigem a introdução de maior massa de ar para obter um dado teor de
OD. Porém sua manutenção é mais simples porque apresentam menor risco de obstrução.
Difusores tipo placas porosas, tecidos e similares fornecem bolhas finas. São mais eficientes
se comparados aos citados anteriormente. Porém, exigem maior purificação do ar, pois são
mais sujeitos à obstrução, seja pelas impurezas porventura contidas no ar, seja pelos sólidos
em suspensão no TA em caso de paralisação do fluxo de ar.
SENAI-RJ 135
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
• a eficiência dos difusores (de 8% a 20% para bolhas finas e de 2% a 5% para bolhas
grosseiras);
• a temperatura do TA;
• a altitude local; e
Aeração mecânica
A aeração mecânica é feita por meio de aeradores superficiais, que consistem em disposi-
tivos giratórios de eixo horizontal ou vertical, dotados de palhetas ou lâminas que entram em
contato com a superfície líquida, promovendo grande agitação, lançando gotículas de líquido
para a atmosfera, e introduzindo pequenas bolhas de ar na massa líquida.
Os dispositivos giratórios de eixo horizontal, tais como rotores tipo gaiola ou similar, são
utilizados principalmente nos tanques de aeração tipo valo de oxidação, visto que tendem a
produzir fluxo principalmente no sentido horizontal.
Os rotores de eixo horizontal são acionados por motor elétrico acoplado a redutor de
velocidade e giram a cerca de 70 a 110rpm. Seu diâmetro varia de 0,7 a 1,20m.
136 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
As principais variantes sob as quais o processo dos LA é utilizado e que serão sumari-
amente descritas a seguir são:
• aeração proporcional;
• aeração escalonada;
• mistura completa;
• aeração prolongada.
SENAI-RJ 137
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
Em sua origem, o processo de lodos ativados foi utilizado sob essa forma. Nela, os esgotos,
após decantação primária, são lançados na cabeceira de um tanque de aeração longo e estreito
(fluxo de pistão) onde é igualmente lançado o lodo ativado retornado do fundo do DS.
Aeração proporcional
A rigor não se trata de uma variante no sentido estrito do termo, mas de uma pequena
modificação no processo convencional visando, sobretudo, economizar energia. Isso por que o
fluxo de pistão utilizado no processo convencional faz com que as necessidades de oxigênio se-
jam maiores na cabeceira do TA, onde ingressa o esgoto pré-decantado, e decresçam na medida
que a DBO é paulatinamente satisfeita ao longo do tanque. Com isto os teores de OD alcançados
junto à extremidade de jusante são excessivamente altos, gerando, como conseqüência, algum
desperdício de energia, pois o excesso de oxigênio não é utilizado no processo.
• A regulagem é feita em geral por meio da aeração por ar difuso, seja espaçando mais
os difusores na região próxima à saída, seja regulando o fluxo de ar, diminuindo-o
junto à extremidade de jusante do tanque.
138 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
Aeração escalonada
Nessa variante o intuito é evitar os inconvenientes do fluxo de pistão através de uma dis-
tribuição do afluente ao longo de todo o TA.
• Esta variante permite tanto o uso de aeração mecânica quanto por ar difuso.
• A variante pode ser empregada para tratar esgotos de diversos tipos, oferecendo efi-
ciência na faixa de 85% a 90% de remoção de DBO.
Mistura completa
SENAI-RJ 139
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
• A alta resistência a choques permite aumentar o teor de SSVTA, que varia na faixa de
3.000 a 5.000mg/L.
• O excesso de lodo ativado também pode ser removido a partir da linha de retorno do
lodo e encaminhado ao DP, ou então removido diretamente do TA a fim de permitir o
controle do processo pela idade do lodo. Neste caso, o excesso de lodo é geralmente
encaminhado a um adensador antes do tratamento do lodo.
• As concentrações de SSTA podem ser muito altas, na faixa de 3.500 a 5.000mg/L, le-
vando a tempos de detenção extremamente curtos (0,5 a 2 horas).
140 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
Os processos de absorção dos compostos solúveis e de adsorção das partículas são muito
rápidos, enquanto o processo intermediário de hidrólise das partículas é bem mais lento.
Da câmara de contato, o líquido sob aeração é encaminhado para um DS, cujo efluente
se dirige para o corpo receptor; enquanto o lodo (que, neste caso, é composto pela biomassa e
pelas partículas orgânicas a ela adsorvida), em vez de retornar à câmara de contato, é lançado
em um segundo tanque de aeração, denominado câmara de reaeração, onde permanece por
um período de 3 a 6 horas.
SENAI-RJ 141
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
A aeração por oxigênio puro permite aumentar a atividade bacteriana, facultando não
somente o aumento de relação U para a faixa de 0,25 a 1,0kgDBO/kg SSVTA.d, como também
a manutenção de concentrações de SSTA muito elevadas (4.000 a 6.000mg/L). Com isso, é pos-
sível obter uma redução extraordinária de volume do TA, resultando em tempos de detenção
da ordem de 1 a 3 horas.
• A produção de excesso de lodo é muito baixa, fazendo com que, mesmo diante de
uma faixa elevada de relações U, a idade do lodo se mantenha entre 8 e 20 dias.
142 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
• Os aeradores são, em geral, difusores de oxigênio. Isso porque o fluxo de oxigênio, por
ser muito menor que o equivalente fluxo de ar, não é suficiente para causar o turbi-
lhonamento necessário para manter em suspensão o lodo ativado. Por isso, torna-se
necessário suplementar a energia de mistura introduzida no tanque, seja pelo uso de
agitadores tipo hélice submersa, ou pela utilização de aeradores superficiais comuns.
• A eficiência dos difusores de oxigênio deve ser extremamente elevada, pois sendo rela-
tivamente altos os custos de produção do oxigênio puro introduzido no sistema, não se
deve permitir qualquer perda para a atmosfera. Por isto os difusores devem ser altamente
eficientes, gerando bolhas de gás diminutas e promovendo um turbilhonamento intenso,
permitindo que todo o oxigênio se dissolva na massa líquida e nela seja inteiramente
consumido antes que as bolhas atinjam a superfície. Uma alternativa é usar tanques
cobertos, dotados de aeradores superficiais. Assim, a fração da massa do oxigênio que
eventualmente venha a aflorar à superfície formará uma atmosfera saturada e oxigênio
acima do nível d’água. Os aeradores superficiais, neste caso, servem tanto para suple-
mentar a energia de mistura quanto para introduzir no líquido o oxigênio que escapou
da massa líquida.
• O processo apresenta eficiência elevada, de 85% a 95% de remoção de DBO, porém seu
custo é relativamente alto devido à necessidade de gerar ou estocar oxigênio puro.
• A aeração por oxigênio puro apresenta elevada resistência a variações de carga orgânica.
• Vale a pena destacar ainda que essa variante é muito flexível e a sua operação bastante
simples.
Aeração prolongada
Este fenômeno é conhecido como respiração endógena e pode ser aproveitado para o
tratamento de esgotos quando é importante reduzir a produção de excesso de lodo e gerar um
lodo ativado no qual a fração de organismos ativos seja relativamente baixa, permitindo, assim,
sua disposição final por simples secagem natural por não precisar de estabilização prévia.
SENAI-RJ 143
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
• Em conseqüência disto as idades do lodo resultantes são elevadas (20 a 30 dias), assim
como as concentrações de SSTA (3.000 a 5.000mg/L).
• O excesso de lodo pode ser removido da linha de retorno ou diretamente do TA, quando,
então, deve ser adensado antes do lançamento aos leitos de secagem - LS. Neste caso,
o controle da operação pela idade do lodo torna-se extremamente simples.
• O grande volume do TA em relação à vazão afluente permite uma diluição tão grande
que o fluxo hidráulico passa a ser de mistura completa, quase que independentemente
do formato do TA, oferecendo extrema resistência a choques.
• Os aeradores podem ser mecânicos ou por ar difuso. Muitas das instalações por ae-
ração prolongada utilizam tanques valos de oxidação.
As propriedades construtivas desses valos permitem a sua implantação com custos muito
baixos, o que os tornam um reator biológico ideal para processos econômicos de tratamento,
especialmente o de aeração prolongada, cuja principal característica é a baixa aplicação
de cargas orgânicas.
O consumo de material celular pelos próprios organismos para satisfazer suas necessi-
dades energéticas (respiração endógena) pode ser interpretado como eliminação de uma fração
considerável do excesso de lodo por digestão aeróbia no interior do próprio reator biológico.
144 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
• sólidos em suspensão fixos trazidos para o interior do reator biológico pelo esgoto
afluente; e
Os sólidos inertes que tendem a se acumular nos reatores biológicos em aeração prolon-
gada, devido às elevadas idades do lodo adotadas, concedem ao lodo um grau de estabilidade
tão elevado que permite encaminhá-lo à secagem ou destino final sem necessidade de prévia
estabilização.
Por outro lado, neste caso, o tanque de aeração, por receber a carga orgânica adicional cor-
respondente aos sólidos orgânicos sedimentáveis, precisa ser convenientemente dimensionado
e levar em conta esta carga. Para isto o TA deverá não apenas apresentar maior volume como,
sobretudo, dispor de maior capacidade instalada de aeração.
Assim, antes de decidir pela adoção da variante em Aeração Prolongada, deve-se fazer um
cuidadoso estudo de viabilidade econômica que leve em conta não apenas os custos de inves-
timento como também os custos operacionais ao longo de toda a vida útil da instalação.
SENAI-RJ 145
Tratamento de esgotos - Lodos ativados
• reator biológico;
• decantador final;
• leitos de secagem.
Caso sejam adotados valos de oxidação operados intermitentemente como reatores bi-
ológicos, o decantador final, a elevatória de lodos e os leitos de secagem podem ser eliminados.
Neste caso é comum, nas pequenas instalações, dispensar também as caixas de areia. Assim,
toda a ETE estará resumida a uma grade de barras de limpeza manual e um valo de oxidação.
A respiração endógena, para exercer influência tão marcante a ponto de gerar um excesso
de lodo estável, necessita que a disponibilidade de substrato orgânico seja muito pequena, isto
é, as relações alimento/microrganismos sejam muito baixas. Essa necessidade vai implicar na
presença de uma grande massa de organismos ativos para receber uma determinada massa
de substrato.
Os organismos ativos, como já vimos, constituem uma fração relativamente pequena dos
sólidos em suspensão no reator biológico. Portanto, a massa de sólidos em suspensão, contida
nos reatores biológicos em aeração prolongada deve ser extremamente elevada se comparada
com outras variantes dos LA, principalmente se levarmos em conta a carga adicional resultante
da eliminação do DP. Assim, para conter uma massa tão elevada não é suficiente aumentar,
apenas, a concentração dos sólidos no reator biológico, mas, também, aumentar o próprio vo-
lume do reator. Esse aumento vai resultar em tanques de aeração muito grandes, com tempos
de detenção da ordem de 24 horas, o que justifica a denominação de aeração prolongada.
146 SENAI-RJ
Lagoas de estabilização
Nesta unidade...
Lagoas aeradas
Lagoas anaeróbias
Lagoas aeróbias
Lagoas de maturação
Lagoas facultativas
Fatores intervenientes
Dimensionamento
Lagoas em série
8
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização
8. Lagoas de estabilização
Diversos processos de tratamento de esgotos se encontram agrupados sob o nome genérico
de lagoa de estabilização. Mas, na realidade, a única característica que têm em comum é o fato
de utilizarem um tanque artificialmente construído onde se desenrolam certos fenômenos e
cuja finalidade é tratar os esgotos a ele encaminhados.
Os processos de tratamento que se agrupam sobre o nome genérico de lagoas podem ser
bastante diferentes tanto no que toca à sua natureza quanto no que diz respeito a seus objetivos
e fenômenos intervenientes e guardam pouco em comum além do nome.
Infelizmente não há ainda uma nomenclatura consistente e aceita em todo o mundo para
designá-los, o que tem gerado alguma confusão.
• lagoas aeradas;
• lagoas anaeróbias;
• lagoas aeróbias;
• lagoas de maturação; e
• lagoas facultativas.
• lagoas aeradas/aeróbias; e
• lagoas aeradas/facultativas.
SENAI-RJ 149
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização
Aeradas/aeróbias
Nessas lagoas a “densidade de potência” dos aeradores artificiais é suficiente para criar
um nível de turbulência que impeça qualquer deposição de sólidos no interior da lagoa. Neste
caso, o processo se desenrola como uma variante dos lodos ativados na qual não há retorno
de lodo.
Aeradas/facultativas
Neste tipo de lagoas a potência dos dispositivos de aeração é suficiente para suprir todo
o oxigênio necessário à estabilização bioquímica da matéria orgânica afluente, mas não o
bastante para manter todos os sólidos em suspensão. Como conseqüência, há alguma de-
posição de sólidos nas áreas do fundo do tanque mais afastadas do turbilhonamento provocado
pelos aeradores. Este lodo depositado no fundo entra em decomposição anaeróbia. Neste
caso, o processo se desenrola como uma variante dos LA, mas a carga adicional gerada pelos
produtos da decomposição anaeróbia do lodo do fundo deve ser levada em consideração no
dimensionamento.
150 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização
Como a produção de oxigênio pelas algas depende da luz solar, lagoas estritamente aeróbias
não podem ter profundidades elevadas, posto que os raios solares não penetrariam até as
camadas inferiores. Para garantir condições aeróbias permanentes, a profundidade não deve
exceder 0,45m, o que exige a utilização de grande área. Mas, mesmo mantendo a profundidade
dentro dos limites recomendados, é praticamente impossível evitar a deposição de sólidos no
fundo da lagoa, onde se formaria então uma camada anaeróbia. Isto faz da lagoa aeróbia um
dispositivo ideal, porém impossível de se obter na prática.
SENAI-RJ 151
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização
Podem ser usadas para eliminar diversos poluentes e contaminantes. Sua utilização para
uso específico de redução da colimetria será abordado adiante ao discutirmos lagoas em série.
Uma lagoa facultativa se caracteriza pela (e deve seu nome a) existência de:
Algas produzem oxigênio através do fenômeno conhecido por fotossíntese. Para realizar a
fotossíntese, além da energia luminosa, as algas se utilizam dos produtos finais do metabolismo
tanto dos seres aeróbios das camadas superiores quanto dos seres anaeróbios da camada junto
ao fundo. Há, portanto, uma constante interação entre os organismos presentes, conforme
esquematizado na Figura 8.1.
152 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização
Figura 8
8.1
1 – Lagoa facultativa
Podemos então afirmar que uma lagoa facultativa se constitui em um ecossistema no qual
a manutenção do equilíbrio biológico é fundamental para o funcionamento do processo.
Além disso, as algas liberam para o líquido, substâncias em suspensão sedimentáveis seja
sob a forma de produtos de metabolismo, ou sob a forma de material celular morto, que se
depositarão no fundo.
O oxigênio liberado pelas algas (além da pequena parcela obtida por reaeração natural) é
utilizado pelos organismos aeróbios para metabolizar a matéria orgânica em solução ou sus-
pensão coloidal e parte dos compostos de N e P trazidos pelo afluente, além dos compostos
orgânicos em solução, oriundos do metabolismo dos organismos anaeróbios do fundo e libera-
dos para o meio. Esta utilização se perfaz através da reação básica do metabolismo aeróbio:
SENAI-RJ 153
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização
Grande parte do gás carbônico liberado é utilizada pelas algas; o restante acaba se per-
dendo pela superfície ou pelo efluente.
A liberação do oxigênio para o meio se processa apenas na camada superior onde penetra
a luz solar. A penetração da luz nas regiões de maior profundidade é dificultada pelo aspecto
turvo do líquido, causado, principalmente, pela presença das próprias algas.
A profundidade até a qual penetra a luz no interior da lagoa pode ser avaliada através da
utilização do disco de Secchi. Trata-se de um disco pesado, com 30cm de diâmetro, pintado
de branco. Para usá-lo, deve-se:
Para atingir os olhos do observador a luz refletida pelo disco de Secchi pre-
cisa atravessar duas vezes a camada de água até chegar à profundidade
alcançada pelo disco. Considerando esse fato, pode-se então estimar a pro-
fundidade máxima de penetração da luz como o dobro da imersão em que o
disco permanece visível.
A camada de lodo que se forma no fundo da lagoa é rica em matéria orgânica, mas to-
talmente carente de oxigênio, que é todo consumido nas camadas superiores. No fundo pre-
dominam então as condições anóxicas e o consumo da matéria orgânica se faz por organismos
anaeróbios através da reação:
A produção de oxigênio por fotossíntese não depende apenas da energia luminosa, mas
de diversos outros fatores, como disponibilidade de nutrientes e temperatura do meio.
154 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização
Temperatura
Luminosidade
SENAI-RJ 155
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização
O gás metano liberado se perde para a atmosfera. O gás carbônico é, em sua maior parte,
utilizado pelas algas para a fotossíntese, juntamente com certos compostos de N e P, igualmente
liberados. Além disto, o metabolismo anaeróbio produz sólidos sedimentáveis estabilizados que
constituem o húmus do fundo e também libera uma determinada quantidade de compostos
orgânicos solúveis, utilizados pelos organismos aeróbios presentes nas camadas superiores.
Nestas regiões, durante o inverno, a atividade bacteriana no lodo do fundo é inibida pelas
baixas temperaturas (lembrar que, de acordo com a Lei de Arrhenius, um decréscimo de dez
graus centígrados na temperatura ambiente reduz a atividade bacteriana à metade). Neste
período em que praticamente não é metabolizada, a matéria orgânica vai se acumulando no
fundo e a espessura do lençol de lodo aumenta progressivamente.
156 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização
A carga orgânica liberada a partir do fundo se somará à introduzida com o esgoto afluente,
num fenômeno de realimentação que, em certos casos, pode sobrecarregar o sistema e romper
o equilíbrio biológico. Mas, mesmo que esse problema não ocorra, verifica-se uma flutuação
sazonal na qualidade do efluente, que tende a se deteriorar logo após o inverno. Esse fenômeno
é denominado spring turnover.
A espessura do lençol de lodo no fundo de uma lagoa facultativa costuma variar durante
o ano.
Assim que a unidade entra em funcionamento ocorre, a cada ano, um pequeno acréscimo
da espessura. O equilíbrio somente é atingido quando todo o depósito efetuado durante um
ano for consumido nesse mesmo período. A partir daí, a espessura do lençol passa a variar
sazonalmente em torno de um valor médio, que não mais se altera.
Em climas quentes esse equilíbrio é atingido em cerca de cinco anos, podendo, entretanto,
tardar até 20 anos em regiões de climas frios.
A presença das algas representa o mais sério inconveniente para a utilização de lagoas
facultativas. Então, quando são lançadas ao corpo receptor, caso não encontrem aí as mesmas
condições ambientais favoráveis, não conseguirão sobreviver e se transformarão em material
celular morto que passará a exercer demanda de oxigênio.
Uma lagoa facultativa deve ser então encarada como um processo de conversão de car-
bono, uma vez que uma fração substancial da matéria orgânica presente nos esgotos é indire-
SENAI-RJ 157
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização
tamente incorporada ao material celular das algas. O carbono orgânico contido no afluente,
ou grande parte dele, é convertido em carbono constituinte do material celular e lançado ao
corpo receptor.
Efluentes de lagoas contendo algas podem exercer marcante influência nas condições ambi-
entais do curso de água que os recebe por uma distância desde algumas jardas até muitas milhas
à jusante. O comprimento do trecho afetado irá depender, em cada caso, do grau de diluição do
efluente e do turbilhonamento do curso de água. Pequenos córregos, que recebem efluentes de
lagoas, parecem ser pouco mais que uma série linear de filtros biológicos (corredeiras) e unidades
de sedimentação e digestão (trechos calmos). Assim, o curso de água que recebe o efluente de uma
lagoa deve ser considerado como parte integrante do sistema total de tratamento, e a utilização
do curso de água deve ser reconhecida e admitida, onde quer que as lagoas sejam usadas.
Desse modo, antes da implantação de uma lagoa, é preciso verificar se o corpo receptor
pode arcar com essa carga.
• não-controláveis;
• parcialmente controláveis; ou
• controláveis.
158 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização
Temperatura
Por outro lado, climas excessivamente quentes também podem gerar problemas, pois se a
temperatura da lagoa ultrapassar os 35°C grande parte das algas não sobreviverá, o que implica
ruptura do equilíbrio biológico do sistema. Neste caso, todo o sistema pode se tornar anaeróbio
por carência de oxigênio, acarretando grande desprendimento de odores desagradáveis e
completa deterioração da qualidade do efluente.
Uma lagoa na qual o equilíbrio biológico foi rompido pode se tornar ana-
eróbia em menos de um dia. A recuperação do equilíbrio pode levar cerca
de 15 a 30 dias, durante os quais ela deverá receber, somente, uma pequena
fração da vazão afluente.
Insolação
A insolação é outro fator influente no processo, uma vez que a luz é indispensável para a
fotossíntese.
No que se refere a este fator, é preciso levar em conta não apenas a intensidade média da
iluminação como também a duração do período diurno, posto que as algas liberam oxigênio
somente durante o dia. Portanto, é fundamental conhecer:
Existem tabelas que permitem avaliar os valores prováveis da energia solar visível que
incide sobre uma superfície horizontal ao nível do mar em função da latitude e da época do
ano e com isso, pode-se efetuar a correção da altitude.
SENAI-RJ 159
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização
Evaporação e precipitação
Evaporação e precipitação podem, em casos raros, exercer alguma influência. Isto porque,
sendo a lagoa um reator biológico no qual o tempo médio de residência celular é igual ao tempo
de detenção hidráulico, quaisquer variações significativas no tempo de detenção podem al-
terar o comportamento do sistema. É evidente que influências significativas ocorrem somente
quando a evaporação ou precipitação alcançam valores extremos.
Regime de ventos
O regime de ventos pode influenciar não somente a escolha do local de instalação da lagoa
como também a eficiência de seu funcionamento. Por isso, ao selecionar a área para implan-
tação da unidade, devem ser considerados alguns aspetos, tais como:
• os ventos dominantes devem transportar possíveis odores para longe da área urbana; e
No que concerne ao grau de mistura das águas da lagoa, o regime de ventos também é
importantíssimo, particularmente em regiões quentes onde há tendência de estratificação
térmica das águas.
Caso não haja alguma mistura das águas da lagoa, não haverá disponibilidade de oxigênio
nas camadas inferiores, que permanecerão anaeróbias.
Este fenômeno (presença de oxigênio apenas em uma camada relativamente fina junto à
superfície) pode causar uma sobrecarga no sistema e levá-lo ao desequilíbrio.
160 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização
Se a topografia local permitir, o formato das lagoas facultativas deve ser retangular, com
uma relação comprimento:largura da ordem de 2:1 a 3:1.
A posição da lagoa deve ser escolhida de tal forma que os ventos dominantes soprem na
direção do comprimento, sentido de jusante para montante.
SENAI-RJ 161
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização
8.7 Dimensionamento
O dimensionamento de lagoas facultativas tem sido feito com base em diversos critérios,
empíricos e racionais, que serão examinados a seguir. Antes, convém ressaltar que a obtenção
de um modelo matemático que realmente represente o processo é extremamente difícil devido
ao elevado número de fatores intervenientes, em sua maioria não-controláveis pelo operador,
havendo ainda outros cuja influência é dificilmente quantificável. Dessa forma, qualquer que
seja o critério empregado, sua aplicação não deve dispensar uma crítica judiciosa baseada,
sobretudo, na experiência do projetista.
Os valores da taxa variam largamente de acordo com as características locais como, por
exemplo:
162 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização
Taxa de aplicação
Condições Ambientais
(kgDBO/ha.d)
<10 Zonas muito frias. Cobertura de gelo sazonal. Águas com
temperaturas uniformemente baixas. Nebulosidade
variável.
10 a 50 Clima sazonalmente frio, com cobertura de gelo sazonal
e verão curto, com temperaturas temperadas.
50 a 150 Clima entre temperado e semi-tropical. Cobertura de gelo
ocasional, sem nebulosidade persistente.
O dimensionamento da lagoa através desta técnica está resumido nos passos apresentados
a seguir:
Equação 8. 1
Onde:
Q = vazão média afluente (m3/d)
Si5 = DBO5 do esgoto afluente (kg/m3)
T = taxa de aplicação superficial de carga orgânica (kgDBO5/ha.d)
A = área da lagoa (ha)
O critério da
b) Determinação do volume, em m3: taxa de apli-
cação super-
ficial de carga
Onde: Equação 8. 2
orgânica é extremamente
V = volume da lagoa (m3) simples; recomenda-se a
A = área da lagoa (ha) sua utilização para pré-
dimensionamento e veri-
H = profundidade (m)
ficação de projetos.
SENAI-RJ 163
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização
Equação 8. 3
Onde:
PO2= produção de oxigênio pelas algas (kgO2/m2.d)
E = energia solar visível média (langleys/dia; 1lagley = 1cal/m2)
F = eficiência fotossintética (%)
• da temperatura da lagoa; e
O parâmetro E, energia solar incidente média sobre a superfície da lagoa na forma de luz
visível, pode ser determinado, em langley/d, pela expressão:
Equação 8. 4
Onde:
P = fração média do tempo diurno que o sol permanece sobre o horizonte
Emax = energia solar visível máxima (langley/d)
Emin = energia solar visível mínima (langley/d)
164 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização
A carga orgânica a ser considerada é a expressa pela DBO última, posto que os tempos
de detenção em lagoas de oxidação geralmente são maiores que cinco dias, o que impede a
utilização da DBO5. Portanto, o valor da taxa de aplicação superficial de carga orgânica T pode
ser obtido, em kg/m3, da Equação 8.5:
Equação 8. 5
Onde:
Igualando o consumo de oxigênio expresso pela Equação 8.5 com a produção expressa
pela Equação 8.3 e operando, temos o valor da área, em m2:
Equação 8. 6
Equação 8. 7
SENAI-RJ 165
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização
Equação 8.8
Onde:
Como to foi determinado para a temperatura de 35°C e DBO afluente de 200mg/L, a apli-
cação com valores diferentes destes deve ser feita por meio de fatores de correção.
166 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização
Equação 8.9
Onde:
Si = DBO do esgoto afluente (kg/m3)
θ = coeficiente de correção de temperatura (θ = 1,085)
T = temperatura da lagoa (°C)
Equação 8.10
Utilizando as unidades:
V- m3
Q - m3/d
Si - mg/L
Esta equação é aplicável nas faixas de temperaturas entre 4 e 35°C e profundidades entre
0,9 e 2,4m.
Os autores recomendam ainda que se utilize para Si o valor da DBO5 quando se tratar de
esgotos pouco concentrados ou previamente decantados e da DBO última para esgotos brutos
muito concentrados.
SENAI-RJ 167
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização
Com efeito, em condições normais, pelo menos ao longo de cada período de 24 horas
o conteúdo da lagoa é completamente misturado. Isto porque a temperatura do líquido das
camadas inferiores varia pouco, enquanto a das camadas superiores acompanha a variação da
temperatura ambiente. Durante a noite as camadas superficiais, ao se resfriarem, tornam-se
mais densas que as do fundo e provocam o revolvimento completo do conteúdo da lagoa, por
convecção. Se considerarmos que os períodos de detenção usuais para lagoas fotossintéticas
se estendem por vários dias, o total revolvimento do conteúdo a cada 24h simula um compor-
tamento bastante próximo ao da mistura completa.
O modelo cinético adotado por Marais e Shaw para aplicação nas lagoas fotossintéticas é
o modelo simplificado, que presume uma cinética de primeira ordem na qual, em ambientes
onde predomine baixa concentração de substrato, a remoção de substrato pela cultura de mi-
crorganismos é diretamente proporcional à concentração de substrato no meio. Esse fenômeno
é representado pela relação a seguir, em kg:
Equação 8. 11
Onde:
168 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização
A medida geralmente usada para o substrato orgânico é a DBO, que representa sua ava-
liação indireta através do oxigênio necessário para estabilizá-lo bioquimicamente. O substrato
removido ao longo do tempo será então, em m3/d:
Equação 8. 12
Onde:
Q = vazão média afluente (m3/d)
Si = DBO afluente (mg/L)
S = DBO efluente (mg/L)
Sendo a lagoa considerada por Marais e Shaw um reator em mistura completa, S representa
igualmente a DBO no interior da lagoa.
A massa de organismos ativos contida no reator pode ser avaliada pelo produto de sua
concentração pelo volume do reator, em m3:
Equação 8. 13
Onde:
A substituição dos valores fornecidos pelas Equações 8.12 e 8.13, na Equação 8.11 leva à
seguinte expressão, em kg/d:
Equação 8. 14
Nos reatores biológicos de lodos ativados o valor de Xa é obtido por aproximação conside-
rando que a concentração de organismos ativos é representada pela concentração de sólidos
em suspensão voláteis no tanque de aeração (SSVTA). No caso das lagoas, entretanto, o procedi-
mento aplicado aos reatores apresentaria desvios tão grandes que invalidariam completamente
o critério. Isso porque, nas lagoas, além dos organismos aeróbios participantes do processo
de estabilização da matéria orgânica, encontra-se presente uma considerável massa de algas
que não mantêm uma proporção constante com a massa de organismos ativos e cuja massa é
computada no cálculo dos SSV.
SENAI-RJ 169
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização
Equação 8. 15
Onde:
O valor de K varia com a temperatura da lagoa sendo, por isso, um parâmetro cujo valor é
de difícil previsão. Este fato levou Marais a tentar correlacionar o valor de K com a temperatura
atmosférica e não da água. O autor chegou a esta conclusão analisando o resultado de extensas
pesquisas realizadas em lagoas situadas no sul da África, que demonstraram que a temperatura
da água de uma lagoa em um dado período é função, principalmente, da temperatura máxima
do ambiente, neste mesmo período. Essa constatação permitiu construir o gráfico reproduzido
na Figura 8.2.
Figura 8. 2 – Gráfi
á co de Marais para projetos de lagoas facultativas
Observe, na Figura 8.2, que o valor de K é expresso em função das temperaturas médias e
máximas, respectivamente, do mês mais frio e do mês mais quente. Esse procedimento facilita
bastante o dimensionamento, posto que tais valores são conhecidos e estão tabulados para a
maioria das regiões do globo.
170 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização
Equação 8. 16
Onde:
Substituindo-se os valores das Equações 8.15 e 8.16 na Equação 8.14 e, depois, operando,
temos o valor de substrato em mg/L:
Equação 8. 17
A Equação 8.17 fornece a concentração de DBO em solução no efluente da lagoa. Ela pode,
evidentemente, ser aplicada a um conjunto de lagoas em série, no qual o efluente de cada
unidade será o afluente da seguinte, conforme veremos mais adiante. Para este caso Marais
demonstrou que a máxima eficiência é atingida quando todas as lagoas da série são de igual
volume e, portanto, com o mesmo tempo de detenção. Assim, podemos escrever:
Equação 8. 18
Onde:
Si = DBO afluente à primeira lagoa (mg/L)
Sn = DBO efluente da última lagoa da série (mg/L)
n = número de lagoas em série
t = tempo de detenção de cada lagoa da série (d)
Equação 8. 19
Onde:
Smax = máxima DBO compatível com condições aeróbias no interior da lagoa, mg/L
H = profundidade da lagoa, m.
SENAI-RJ 171
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização
O dimensionamento de uma única lagoa fotossintética pode ser feito diretamente através
da Equação 8.17, ou seja o valor de Si é um dado de projeto, enquanto o valor de K pode ser
obtido do gráfico apresentado na Figura 8.2. O projetista escolhe, então, o valor desejado para
a DBO efluente S e determina o tempo de detenção necessário.
Em seguida, é preciso:
• arbitrar a profundidade H, que, segundo Marais, deve se situar entre 1,2 e 2,2m; e
Com o valor de H e através da Equação 8.19, o projetista deve verificar se o valor S escolhido
é compatível com as condições aeróbias.
O critério de Marais e Shaw tem obtido extensa utilização, apresentando bons resultados
e possui ainda a vantagem de fornecer o dimensionamento apenas em função da vazão e
carga orgânica afluentes, da qualidade desejada para o efluente e das temperaturas máximas
ambientes.
1. Arbitrar uma profundidade H na faixa de 1,2 a 2,2m e calcular Smax, usando a Equação
8.19.
Com isto é possível determinar o tempo de detenção t dessa lagoa que, para as condições
de máxima eficiência, será igual ao das demais lagoas da série.
172 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização
O valor de n é obtido por tentativas através da Equação 8.18, na qual S é o valor desejado
para a DBO do efluente final do sistema.
Na maioria dos casos o tempo de detenção nas lagoas assim dimensionadas resultará em
um valor superior a cinco dias. Isto significa que, caso seja adotado o valor usual da DBO a
cinco dias, corre-se o risco de subdimensionar o sistema, visto que o mesmo deverá satisfazer
uma demanda superior à estabelecida. O autor do método aconselha, então, adotar a DBO
última, Siu, para dimensionamento.
SENAI-RJ 173
Tratamento do Lodo
Nesta unidade...
Disposição final
9
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo
9. Tratamento do Lodo
O tratamento de esgotos é um ramo da tecnologia relativamente novo. Não obstante, os
recursos disponíveis apresentam potencial para alcançar qualquer grau de tratamento desejado
como, por exemplo, promover o reuso da água em regiões onde há escassez de recursos hídri-
cos. Na verdade, o desenvolvimento de técnicas que permitem este reuso tem sido a principal
área de pesquisas no campo do tratamento de efluentes líquidos.
SENAI-RJ 177
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo
primário, ou pode ainda ser misturado ao lodo primário removido do DP. A essa mistura se dá
o nome de lodo misto.
Tanto o lodo primário quanto os lodos secundário, misto e, na maioria dos casos, o excesso
de lodo, apresentam uma elevada fração de matéria orgânica putrescível, secam com dificul-
dade, geram mau odor e produzem gases. Geralmente, devem ser submetidos à estabilização
antes de serem encaminhados ao destino final, conforme veremos mais adiante.
• sob a forma de produtos químicos, que agirão como coagulantes para aumentar a
eficiência da decantação; ou
Há, no entanto, uma relação entre cada uma das possibilidades citadas e as características
apresentadas pelo lodo. Por exemplo: quando se pretende lançar o lodo ao mar por meio de
178 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo
tubulação submersa, sua umidade não deve ser removida, mas, caso a intenção seja incinerá-
lo, a remoção da umidade é obrigatória.
Por conseguinte, a escolha das técnicas de tratamento de lodo depende do tipo de dis-
posição final a ser adotado e das características originais do próprio lodo.
• a incineração do lodo não exige estabilização prévia, mas solicita a remoção de umi-
dade;
SENAI-RJ 179
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo
Diante do exposto, podemos concluir que o problema do tratamento de lodos deve ser
objeto de uma abordagem racional, baseada nas características do lodo gerado no processo
de tratamento e no elenco dos possíveis métodos de destino final. Entre esses dois pólos as
técnicas se encadearão em uma seqüência que visa adequar o lodo produzido às condições
exigidas pelo método de disposição final, selecionadas da maneira mais econômica possível.
As técnicas de tratamento disponíveis para adequar o lodo ao destino final selecionado são:
• estabilização: por digestão anaeróbia, aeróbia, tratamento térmico, tratamento
químico e compostagem;
• condicionamento dos lodos: por espessamento, condicionamento químico, elutriação
e condicionamento térmico; e
• remoção de umidade: por
secagem natural e mecânica É possível combinar qualquer das
180 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo
9.4.1 Estabilização
Vimos, anteriormente, que o lodo primário, misto, secundário e, na maioria dos casos, o
excesso de lodo, carregam consigo uma quantidade elevada de organismos patogênicos e são
formados por uma fração considerável de matéria orgânica putrescível. Se lançados in natura
ou cru ao destino final, podem agredir o meio ambiente, produzir maus odores, provocar de-
manda excessiva de oxigênio em corpos líquidos ou pôr em risco a saúde das pessoas e dos
animais. Todavia, esses inconvenientes podem ser minimizados se o lodo cru for submetido a
uma das técnicas de estabilização abaixo descritas.
Digestão anaeróbia
O lodo digerido apresenta cor negra, odor semelhante ao de piche ou alcatrão e seca com
facilidade. A água intersticial é clara, não apresenta mau cheiro e se separa com facilidade. O
teor de umidade é da ordem de 95% a 96% e a DBO é inferior a 100mg/L. A redução de volume
durante a digestão é apreciável, já que o lodo digerido tem um volume de 30% a 40% do lodo
bruto que o originou. Tipicamente, um lodo bem digerido apresenta 45% de matéria orgânica
e 55% de substâncias minerais.
A digestão é um processo natural que pode ocorrer sem nenhuma intervenção externa.
Os próprios microrganismos presentes no lodo, ao encontrarem condições propícias à vida,
proliferam em grande número e promovem as modificações bioquímicas na matéria orgânica
SENAI-RJ 181
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo
presente. Esse tipo de digestão é denominado digestão técnica e se processa em três estágios:
acidificação, liquefação e gaseificação.
Estágio I – Acidificação
A digestão é um processo lento, com duração de cerca de 60 dias. Sua taxa de reação
sofre influência dos seguintes fatores: inoculação, pH, temperatura e agitação do meio.
182 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo
Inoculação
pH
Temperatura
É desejável que o período de digestão seja o mais curto possível para obter
unidades de tratamento menores.
SENAI-RJ 183
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo
20 45
25 35
30 28
35 25
Agitação do meio
• recirculação de gases.
• nitrogênio (N2);
• hidrogênio (H2);
• oxigênio (O2); e
O produto gasoso da digestão é denominado gás de esgoto que é, na verdade, uma mistura
de diversos gases. A sua principal característica é possuir poder calorífico de 5.000 a 6.000cal/
m³, o que faz dele um combustível de grande teor energético.
184 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo
Digestores primários
São tanques fechados, onde o lodo cru é introduzido. O interior desse tanque deve ser
homogeneizado e, dependendo do clima local, aquecido.
A homogeneização pode ser feita por:
O a q u e c i m e n t o, q u e e m
• agitação mecânica;
geral utiliza o próprio gás
• recirculação de lodo; e
gerado na digestão como
• recirculação de gás. combustível, pode ser feito por
bombeamento de água quente
Digestores secundários através de serpentinas instaladas no
SENAI-RJ 185
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo
A digestão anaeróbia é, portanto, ideal para estabilizar lodo primário ou lodo misto. É um
processo eficiente, barato e de tecnologia fartamente conhecida em todo o mundo. Tanto o gás
como o próprio lodo digerido podem ser aproveitados, o primeiro como combustível e o segundo
como fertilizante. Seu único inconveniente é o grande volume exigido pelos digestores.
Digestão aeróbia
Tratamento térmico
186 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo
• a elevada pressão necessária para “cozinhar” o lodo tem causado acidentes graves,
em alguns casos, a morte de operadores.
Tratamento químico
A adição de cloro dificulta a secagem artificial, pois interfere nos condicionantes quími-
cos, enquanto a de cal facilita esse tipo de secagem. Para atingir o objetivo pretendido, deve-se
adicionar cal até obter pH em torno de 12 ou cerca de 2.000mg/L de cloro.
Compostagem
SENAI-RJ 187
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo
9.4.2 Condicionamento
Espessamento
Suponhamos que, por meio de um espessamento, a umidade foi reduzida destes 97% até
91%. Uma redução, portanto, de apenas 6% de umidade. Não obstante, esta aparentemente
pequena redução dos valores porcentuais corresponde a uma significativa redução do volume.
Com efeito, no caso usado como exemplo, o lodo espessado apresenta um volume correspon-
dente a um terço do valor original. Podemos entender melhor o fato lembrando que:
188 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo
• estes 91% corresponderão, nessa nova situação, a 30,3L de água (calcule por meio de
uma regra-de-três simples); e
O espessamento dos lodos pode ser feito por gravidade, por flotação ou por centrifugação.
SENAI-RJ 189
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo
A flotação pode ser compreendida como uma sedimentação “de cabeça para baixo”,
na qual as partículas são levadas a flutuar pela ação de bolhas de ar a elas adsorvidas. A
técnica mais comumente empregada para a formação dessas bolhas de ar na massa líquida
consiste em dissolver o ar à alta pressão (cerca de 3atm) em parte do próprio efluente do
tanque, que é então reciclado e liberado à pressão atmosférica no interior do mesmo. À
brusca redução da pressão irá corresponder uma diminuição na solubilidade do ar, que
se desprende sob a forma de pequenas bolhas gasosas. Em seu movimento ascendente
estas bolhas acabam adsorvendo e arrastando para cima as partículas de sólidos em sus-
pensão, promovendo, assim, a concentração destes sólidos junto à superfície líquida, de
onde são levados para fora da unidade através de raspadores mecânicos superficiais. Essa
técnica é denominada flotação por ar dissolvido, sendo especialmente indicada para o
espessamento de lodos de má sedimentabilidade, como os oriundos de certas variantes
dos lodos ativados.
Condicionamento químico
190 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo
em suspensão, formando elos de união entre partículas que se comportam como núcleos
de floculação e agregando, em flocos, um grande número de pequenas partículas.
Elutriação
O líquido sobrenadante dos tanques de elutriação deve ser encaminhado à entrada da ETE.
É justamente esse fato que constitui a principal desvantagem da técnica, pois esse líquido car-
rega uma concentração relativamente alta de sólidos finos em suspensão e, em conseqüência,
pode implicar severa sobrecarga à ETE.
Condicionamento térmico
SENAI-RJ 191
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo
Esta técnica consiste na elevação da temperatura do lodo até cerca de 75ºC, mantendo-a
neste patamar por cerca de 1 hora e, em seguida, abaixá-la bruscamente. Desta forma, é pos-
sível reduzir a concentração de coliformes para valores inferiores a 10³coli/100ml.
A pasteurização é muito eficiente, embora raramente seja utilizada devido ao custo elevado.
A remoção de umidade ou secagem tem por finalidade reduzir o volume do lodo a fim de
adequá-lo a certos métodos de disposição final, como incineração, aterro sanitário, etc., além
de reduzir os custos de transporte.
Considera-se “seco” o lodo com cerca de 25% de sólidos (75% de umidade). Nestas
condições o lodo pode ser até mesmo pulverizado para espalhamento no terreno. Com teores
de umidade próximos a 80% o lodo se comporta como um sólido e apresenta consistência
semelhante à da massa plástica para modelar.
Secagem natural
Entre todos os métodos utilizados, a secagem natural do lodo é o mais antigo e barato.
Ele se processa em unidades de tratamento denominadas leitos de secagem, que consistem
em tanques rasos de piso drenante nos quais se descarrega o lodo úmido até uma altura de
cerca de 30cm.
O piso do leito de secagem é, em geral, formado por tijolos maciços com juntas de 2,5cm
tomadas com areia, assentados sobre uma camada de pedra britada (cuja granulometria au-
menta de cima para baixo) disposta sobre um fundo inclinado impermeável. Parte do líquido
intersticial do lodo se dirige para baixo, penetra no piso drenante e é removido do leito de
secagem por gravidade, sendo encaminhado à entrada da ETE. Parte da umidade restante se
evapora e o lodo pode ser removido do leito com teores de umidade inferiores a 70%.
192 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo
A secagem natural exige estabilização prévia. Lodos crus não secam com facilidade e tendem
a entrar em decomposição nos leitos, gerando problemas sanitários e estéticos muito sérios.
Os leitos de secagem exigem o emprego de muita mão-de-obra para remoção do lodo seco,
além de ocuparem uma área elevadíssima se comparados às técnicas de secagem mecânica.
Entretanto, sempre que possível, devem ser preferidos devido à sua simplicidade operacional e
à qualidade do lodo gerado. Não é por acaso que, em todo o mundo, há milhares de instalações
de tratamento de pequeno, médio e grande porte utilizando para tratamento do lodo apenas a
digestão anaeróbia seguida de secagem natural e utilização do lodo seco como fertilizante.
Secagem artificial
Em todos os casos são utilizadas unidades mecânicas de custo inicial elevado, com ope-
ração e manutenção caras e trabalhosas, que exigem sempre o condicionamento do lodo. Em
contrapartida, a área ocupada é irrisória se comparada à dos leitos de secagem. Além disso, a
secagem artificial não depende das condições climáticas, exigem menos mão-de-obra (embora
mais especializada) e podem receber lodo cru ou estabilizado, variando-se apenas a dosagem
de condicionante químico.
Filtros a vácuo
SENAI-RJ 193
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo
que faz a torta do lodo perder a aderência, facilitando sua remoção através de raspagem
com lâmina metálica.
O lodo seco em filtros a vácuo pode se apresentar com até 30% de sólidos dependendo
dos seguintes fatores:
• meio filtrante;
• tipo de lodo; e
• tipo e dosagem do condicionante químico utilizado.
Filtros prensa
São unidades mecânicas compostas por placas metálicas justapostas, perfuradas, forra-
das por um meio filtrante de tecido especial, que deixam espaços vazios entre as placas.
As placas são dotadas de molduras metálicas que, quando pressionadas umas contra
as outras, vedam completamente o vão deixado entre elas, impedindo a passagem de
líquido.
O lodo é, então, bombeado à alta pressão (cerca de 250psi) para estes vãos através de
orifícios no centro de cada placa. Não podendo se evadir por entre as molduras das placas,
o líquido é forçado a atravessar o meio filtrante e a escoar por perfurações conveniente-
mente dispostas nas próprias placas, ficando o lodo seco retido entre elas.
194 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo
Centrifugação
A remoção do lodo pela outra extremidade é feita por meio de um parafuso sem-fim
que gira com velocidade ligeiramente menor que o “copo” e em seu interior, quase tocando
sua parede interna. Este dispositivo empurra o lodo para junto de uma das extremidades
do “copo” de onde é expelido pela própria rotação do mesmo.
As centrífugas dificilmente produzem uma torta com umidade inferior a 75%. O líqui-
do efluente pode ser muito agressivo e essa agressividade varia inversamente em relação
à umidade da torta, ou seja, quanto menos úmido o lodo produzido, mais agressivo o
líquido efluente.
Nem sempre é possível preencher todos os requisitos citados. A incineração, por exemplo,
satisfaz o quarto requisito e pode igualmente satisfazer o primeiro e o segundo, se tomados os cui-
dados convenientes, porém não atende o terceiro. O lançamento do lodo em minas abandonadas
SENAI-RJ 195
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo
ou o preenchimento de cavidades do terreno pode satisfazer os três primeiros, mas não o úl-
timo. Portanto, é preciso escolher uma solução capaz de atender de forma satisfatória o maior
número possível de requisitos, lembrando que os dois primeiros são obrigatórios.
Já foi mencionado que a disposição final do lodo pode ser feita na atmosfera, em corpos
líquidos e no solo. No primeiro caso é usada a incineração e as precauções devem se voltar
principalmente para a emissão de gases e partículas (poluição do ar). Se for em corpos líqui-
dos, deve-se evitar prejuízo aos usos benéficos da água, impedindo sua poluição. Finalmente,
se adotada a disposição final no solo, deve-se prevenir a emissão de gases e maus odores, a
poluição das águas superficiais e do subsolo, além da contaminação de colheitas e do próprio
solo, conforme veremos a seguir.
Os sólidos presentes no lodo cru ou digerido são constituídos, principalmente, por matéria
orgânica. Quando submetidos à remoção de umidade até um grau suficiente, podem ser leva-
dos à combustão, gerando uma quantidade extremamente pequena de resíduo inerte. Tanto
o lodo digerido quanto o lodo cru podem sustentar o processo sem necessidade da adição de
combustíveis, dependendo apenas de seu teor de umidade. Assim, quanto mais eficiente o
processo de remoção de umidade, mais econômica será a incineração.
O poder calorífico do lodo deve ser suficiente para fornecer energia necessária
à eliminação completa da água remanescente.
O poder calorífico do lodo varia grandemente em função de sua origem, tipo, condiciona-
mento e composição, havendo fórmulas empíricas que fornecem seu valor aproximado baseadas
seja na composição do lodo, no conteúdo de sólidos voláteis, ou na dosagem de coagulantes
utilizados nos processos de condicionamento. Sempre que se pretende incinerar lodo, o seu
poder calorífico deve ser determinado experimentalmente. Em geral, o poder calorífico do lodo
cru em relação à massa de sólidos secos se situa em torno de 4.500cal/g e do lodo digerido em
cerca de 2.500cal/g.
196 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo
• o lodo seco, com teor de umidade inferior a 70%, é introduzido no nível superior e vai
sendo empurrado por dispositivos mecânicos para os estágios inferiores;
• o ar, previamente aquecido, é introduzido junto ao estágio inferior e flui de baixo para
cima;
• nos estágios inferiores são processados a queima lenta dos compostos de difícil com-
bustão e o arrefecimento da cinzas, que são retiradas por uma abertura inferior;
Leito fluidizado
O leito fluidizado consiste em um recipiente que contém um leito de areia sobre o qual o
lodo seco é introduzido. A areia é previamente aquecida até cerca de 800ºC. A combustão do
material volátil do lodo e, se necessário, do combustível utilizado, provoca um fluxo ascendente
do ar introduzido na parte inferior do recipiente, além de gases oriundos da combustão, que
mantêm o conteúdo homogêneo, sem necessidade de equipamento de mistura.
SENAI-RJ 197
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo
Seja qual for o tipo de equipamento utilizado, é necessário que nele seja introduzido um
volume de ar suficiente para suprir o oxigênio necessário à combustão. Além disso, devem ser in-
stalados dispositivos de controle de emissão de partículas para evitar a poluição atmosférica.
O lançamento deve ser feito em locais em que ocorram correntes fortes, capazes de provocar
a diluição rápida e a absorção do lodo pelo ambiente aquático. Deve ser evitado o lançamento
ao mar fora da plataforma continental por meio de longas linhas de recalque que descarreguem
à grande profundidade, pois o equilíbrio ecológico das águas profundas é extremamente frágil.
Por conseguinte, o lançamento desse lodo pode ter efeitos desastrosos.
198 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo
O lançamento do lodo sobre o terreno é o processo mais antigo adotado pelo homem, e
também o mais difundido. Talvez seja o mais racional no que se refere à utilização de recursos
naturais. Isso porque o lodo pode reciclar para o ambiente a matéria orgânica nele contida.
Logo, esse tipo de lançamento pode ser considerado ideal do ponto de vista ecológico.
Você sabia que na Inglaterra, em 1865, a primeira Comissão Real Sobre a Dis-
posição de Esgotos concluiu que a maneira correta de se dispor dos esgotos
das cidades é aplicá-los continuamente ao solo?
Quando a disposição do lodo no solo não tem a finalidade de aproveitá-lo como fertili-
zante, para evitar danos à saúde humana devem ser tomadas algumas precauções ainda que
rudimentares posto que são pequenos os riscos de contato com o lodo. Este é o caso do lança-
mento em minas abandonadas ou cavidades do terreno e lagoas de lodo, em que se pretende,
apenas, dar um destino ao resíduo constituído pelo lodo, ou seja, mantê-lo para sempre em
um determinado local conforme veremos mais adiante.
A disposição no terreno exige, na quase totalidade dos casos, a prévia estabilização do lodo
com a conseqüente redução das bactérias patogênicas. Entretanto, a sobrevivência dos vírus
e de ovos de helmintos, assim como das bactérias remanescentes, desaconselha o uso do lodo
após simples digestão como fertilizante para verduras a ser ingeridas cruas ou em circunstân-
cias que propiciem a contaminação das águas subterrâneas. Nestes casos é preciso adotar um
método de tratamento que permita a eliminação de patogênicos, como o tratamento térmico,
a pasteurização, ou o tratamento químico com cal, cloro ou compostagem.
A remoção da umidade do lodo antes da disposição no solo para uso como fertilizante não
é obrigatória e visa, exclusivamente, a redução de volume para diminuir os custos do trans-
porte. Portanto, dependendo de estudo econômico, esta remoção pode ser feita das seguintes
formas:
SENAI-RJ 199
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo
• até o nível de um simples espessamento – para o lodo ser transportado por bombea-
mento ou caminhões tanques;
• até a secagem – para o lodo ser transportado por caminhões, carretas, ou correias
transportadoras.
O lodo estabilizado pode ser aplicado em quase todos os tipos de solo, com significativo
aumento da produtividade e praticamente sem efeitos indesejáveis. Sua ação benéfica é devida
à adição de matéria orgânica. Porém não deve ser considerado como adubo, na acepção do
termo, mas, sim, como um condicionador de solos.
O método adotado para aplicação ao solo depende do teor de umidade do lodo a ser
utilizado, isto é:
• com teores acima de 90% os lodos podem ser espargidos sobre o terreno empregando
as mesmas técnicas utilizadas para irrigação, ou bombeados para o subsolo, onde
se infiltram. Podem ainda ser espalhados diretamente sobre o terreno por meio de
caminhões-tanques especiais, que também podem ser utilizados para o transporte; e
• com teores abaixo de 70% os lodos podem ser pulverizados e espalhados sobre o ter-
reno. Essa é a técnica mais difundida em todo o mundo e, geralmente, utiliza lodo
primário ou lodo misto, estabilizado em digestores anaeróbios e seco em leitos de
secagem.
No caso de grandes cavidades artificiais abertas para a remoção de areia, saibro, ou que
sejam provenientes da exploração de minas (geralmente de carvão) a céu aberto, pode-se
considerar o benefício, a longo prazo, da recuperação do terreno, ao menos do ponto de vista
estético. Mas esta situação não pode ser considerada solução permanente, pois a atividade
deverá ser interrompida tão logo as cavidades venham a se encher. Além disso, não promove
a reciclagem da matéria orgânica.
200 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo
Lagoas de lodo
As lagoas de lodo podem ser limitadas por diques artificiais. Para elas, não há limite de
área ou de profundidade, pois irão se constituir apenas em depósitos destinados à acumulação
temporária ou permanentemente do lodo. No último caso o terreno pode ser considerado per-
dido, porque a remoção posterior de todo o lodo de uma lagoa é extremamente cara e difícil.
Aterros sanitários
A disposição final em aterros sanitários exige que o lodo seja seco, embora não obriga-
toriamente estabilizado. Entretanto as dificuldades para secagem do lodo cru fazem com que,
na grande maioria dos casos, o lodo lançado em aterros seja estabilizado.
Em geral, o aterro é feito com lixo e lodo e a técnica empregada é a mesma utilizada em
aterros sanitários com lixo urbano, ou seja, espalha-se uma camada do material e sobre ela
uma camada de terra. As camadas sucessivas são compactadas.
SENAI-RJ 201
Noções de manutenção
e operação de
equipamentos para
tratamento de esgotos
Nesta unidade...
Instalações elétricas
Equipamentos
10
Tratamento de esgotos - Noções de manutenção e operação de equipamentos para tratamento de esgotos
A seguir, vamos apresentar os conceitos básicos que você precisa dominar para com-
preender o funcionamento das instalações e dos equipamentos de uma ETE e, assim, poder
identificar possíveis anormalidades operacionais na estação.
SENAI-RJ 205
Tratamento de esgotos - Noções de manutenção e operação de equipamentos para tratamento de esgotos
10.1.1 Subestação
• transformadores.
206 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Noções de manutenção e operação de equipamentos para tratamento de esgotos
Identificação de anormalidades
Algumas anormalidades podem ser reconhecidas até mesmo por pessoa não-qualificada.
São elas:
São dispositivos nos quais pode-se operar os diversos equipamentos do processo de trata-
mento, através do acionamento de chaves seletoras, botões de comando e do monitoramento
dos parâmetros de controle, apresentados em diversos tipos de medidores, instalados no painel,
sendo os principais: voltímetros, amperímetros, medidores de vazão e medidores de nível.
SENAI-RJ 207
Tratamento de esgotos - Noções de manutenção e operação de equipamentos para tratamento de esgotos
Identificação de anormalidades
Condições anormais são anunciadas por alarmes visuais ou sonoros, tais como:
• alarme de falta de fluxo - indica risco de danos em bombas, por falha da selagem
(água), ou por superaquecimento em bombas (shut off);
10.2 Equipamentos
As estações de tratamento empregam diversos equipamentos para o processamento do
esgoto bruto, tais como: comportas, grades, motores elétricos, bombas, roscas transportadoras,
sopradores, raspadores, centrífugas e instrumentos de controle do processo, entre outros.
Identificação de anormalidades
As falhas verificadas nos equipamentos costumam ser variadas, mas, de uma forma
genérica, podemos identificá-las como:
• vibração excessiva;
• elevação de temperatura;
• ruídos anormais;
• corrosão; e
• sujeira.
208 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Noções de manutenção e operação de equipamentos para tratamento de esgotos
10.2.1 Comportas
• falha de vedação; e
10.2.2 Grades
As grades retêm os sólidos grosseiros e devem ser limpas sempre que houver acúmulo
excessivo de material. A falha na limpeza resulta na indesejável redução da vazão e na eleva-
ção do nível à montante da grade, ocasionando perigosos transbordamentos dos canais onde
estão instaladas.
SENAI-RJ 209
Tratamento de esgotos - Noções de manutenção e operação de equipamentos para tratamento de esgotos
• ausência da ventoinha;
• danos no acoplamento;
• desalinhamento; e
10.2.4 Bombas
As bombas utilizadas nas estações de tratamento são de diversos tipos, podendo ser em-
pregadas nos seguintes sistemas:
• esgoto bruto;
• lodo;
• drenagem.
Em geral, as bombas utilizadas nas ETEs podem ser classificadas de acordo com a seguinte
ordem: centrífugas, de cavidade progressiva e de outros tipos.
Bombas centrífugas
210 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Noções de manutenção e operação de equipamentos para tratamento de esgotos
É importante frisar para o operador que, nas centrífugas, a partida sempre deve ocorrer
com a válvula de bloqueio de recalque totalmente fechada, devendo ser aberta gradualmente,
mantendo a corrente do motor abaixo do valor nominal.
A partida da bomba com a válvula fechada, com vazão nula (shut off), reduz a carga no
eixo durante a partida do motor, e deve ser efetuada, exclusivamente, na válvula de recalque.
O fechamento da válvula de sucção na partida poderá ocasionar sérios danos às bombas.
• vibração excessiva;
A vedação do eixo entre o interior da bomba e o meio externo ocorre através da caixa de
gaxetas, composta por uma caixa cilíndrica que acomoda um determinado número de anéis
de gaxeta em volta do eixo. Os anéis são comprimidos para o ajuste desejado, através da sobre-
posta, tendo como principal função proteger a bomba contra vazamentos nos pontos onde o
eixo passa através da carcaça, ou então impedir a entrada de ar (selagem), caso a pressão de
sucção seja negativa.
Este é um outro tipo de bomba largamente utilizada nas estações de tratamento, em siste-
mas de lodo. Nela, o eixo horizontal, do tipo parafuso helicoidal, forma espaços com a carcaça
cilíndrica e com cavidades onduladas. Esses espaços se deslocam, axialmente, da aspiração
para o recalque.
Diferentemente das centrífugas, sua partida deverá somente ocorrer com a válvula de
bloqueio de recalque aberta, caso contrário, poderá resultar em sobrecarga no motor, com a
conseqüente atuação das proteções.
SENAI-RJ 211
Tratamento de esgotos - Noções de manutenção e operação de equipamentos para tratamento de esgotos
• bombas parafuso;
• bombas de diafragma; e
• bombas de pistão.
As bombas acima citadas, por serem de uso esporádico em ETE, não serão
abordadas em nosso estudo.
O operador deve manter-se atento para evitar o acúmulo de material retido nos mancais
intermediários. Esse problema ocorre após grande período de inatividade da rosca, resultando
no endurecimento do lodo acumulado nos mancais e, por conseguinte, criando resistência
para o giro da rosca.
10.2.6 Sopradores
212 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Noções de manutenção e operação de equipamentos para tratamento de esgotos
• vibração excessiva.
10.2.7 Raspadores
São equipamentos que auxiliam a retirada de lodo dos decantadores, ou de areia dos
desaeradores.
Nas caixas de areia, o material sedimentado é arrastado para um canal de coleta na peri-
feria, onde, através de roscas transportadoras, será retirado para caçambas de resíduos.
SENAI-RJ 213
Tratamento de esgotos - Noções de manutenção e operação de equipamentos para tratamento de esgotos
10.2.8 Centrífugas
Esses equipamentos separam os sólidos da água por diferença de força centrífuga, e são
empregados na desidratação ou adensamento do lodo.
10.2.9 Instrumentação
Amperímetros
Voltímetros
214 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Noções de manutenção e operação de equipamentos para tratamento de esgotos
Sensores/medidores de nível
Sensores/medidores de vazão
• lodo digerido;
• outros.
Tubulações e tanques
É necessário, também, que o operador esteja atento para os diversos problemas que podem
ocorrer nas tubulações. As principais ocorrências são:
SENAI-RJ 215
Tratamento de esgotos - Noções de manutenção e operação de equipamentos para tratamento de esgotos
216 SENAI-RJ
Controle de qualidade
e amostragens em
uma ETE
Nesta unidade...
Parâmetros analíticos
11
Tratamento de esgotos - Controle de qualidade e amostragens em uma ETE
• atender às exigências de controle impostas pela legislação pertinente (NT 202 r.10
e a DZ 215 r.3 – FEEMA, Resoluções CONAMA, etc.), cabendo o seu cumprimento à
CEDAE e acatar as restrições estabelecidas nas licenças de operação (LO);
Portanto, para serem lançados em corpos receptores, os efluentes tratados nas ETEs devem
obedecer aos requisitos mencionados, ou seja, às qualidades: física, química, bacteriológica e
biológica. A realização desse tipo de controle é fundamental, especialmente no Estado do Rio de
Janeiro, onde as águas superficiais são utilizadas para o abastecimento de quase toda a popu-
lação e também para outros fins importantes, tais como: recreação, pesca, irrigação, etc.
SENAI-RJ 219
Tratamento de esgotos - Controle de qualidade e amostragens em uma ETE
• CH4 - Metano;
• Cloretos;
• coliformes termotolerantes;
• coliformes totais;
• DBO;
• DQO;
• OD - Oxigênio dissolvido;
• pH - Potencial de Hidrogênio;
• Sulfetos; e
• Turbidez.
• Os mais comuns: DQO; colimetria fecal; pH; N-NO3; P-Total; P-PO4; O&G e cloretos.
220 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Controle de qualidade e amostragens em uma ETE
• Os eventuais: DQO; colimetria fecal; RNFT; RNFV; NTK; O&G; cloretos e temperatura.
O controle de processo feito na caixa de areia (nos pontos 2, 2a e 3 da Figura 11.1) faz uso
dos seguintes parâmetros:
O controle de processo feito na decantação primária (nos pontos 3 e 4 da Figura 11.1) faz
uso dos seguintes parâmetros:
O controle de processo feito nos lodos ativados (pontos 4, 4b, 4c e 5 da Figura 11.1) utiliza
os seguintes parâmetros:
• Ponto 4b (líquido do TA): OD; RNFT; RNFV; temperatura; Ssed (proveta) e N-NO3.
SENAI-RJ 221
Tratamento de esgotos - Controle de qualidade e amostragens em uma ETE
O controle de processo feito na digestão anaeróbia (ver Figura 11.1) utiliza os seguintes
parâmetros:
Figura 11
Fi 11.1
1–F
Fase lí
líquida
id
222 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Controle de qualidade e amostragens em uma ETE
Figura 11
Fi 11.2
2–T
Tratamento
t t ddo llodo
d
SENAI-RJ 223
Tratamento de esgotos - Controle de qualidade e amostragens em uma ETE
Frascaria
Sacos plásticos
Identificação
224 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Controle de qualidade e amostragens em uma ETE
• nome/assinatura do coletor;
• temperatura ambiente;
• temperatura da amostra;
• pH;
• condições climáticas; e
Equipamento de coleta
Existe uma série de equipamentos usados nas campanhas de amostragem, os quais devem
ser preparados e verificados com antecedência, a fim de evitar problemas na hora da coleta.
Um desses equipamentos é o balde de 5L, amarrado por uma corda forte, muito utilizado para
coletas em superfície. Ao realizar esse procedimento, é preciso ter cuidado com a fragilidade
das alças, pois caso arrebentem, o balde vai afundar num decantador, causando problemas
em equipamentos subseqüentes.
Coletores Automáticos
Alguns coletores automáticos contam ainda com refrigeração e podem ser controlados
à distância por telemetria.
SENAI-RJ 225
Tratamento de esgotos - Controle de qualidade e amostragens em uma ETE
Garrafas de profundidade
Atualmente, a garrafa de profundidade mais usada é do tipo Van Dorn, devido à sua
robustez, com capacidade de 3 litros, que evita qualquer contato da amostra com metal.
Existem modelos em PVC transparente, porém o mais comum é do tipo opaco. Veja a
Figura 11.3.
Dragas
226 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Controle de qualidade e amostragens em uma ETE
Disco Secchi
Técnicas de coleta
Coletas de superfície
Essas coletas devem ser feitas a uma profundidade de aproximadamente 20cm, colocando-
se o frasco em contato direto com o efluente, com a boca virada contra a corrente.
No caso dos frascos já conterem preservativo, a coleta de superfície deve ser evitada para
não contaminar o local e prejudicar outras amostragens. Para contornar o problema, podem
ser usadas garrafas de profundidade, por serem leves e de fácil manipulação, porém tomando
o cuidado de não deixar o tubo de escoamento da garrafa encostar no frasco de amostra.
Coletas de profundidade
Amostras simples
Amostras compostas
Resultam da mistura de várias coletas simples, que são retiradas do efluente, do corpo d’água
ou da caçamba de lodo, a intervalos de tempo iguais, durante um determinado período. O
volume de cada porção única é variável de acordo com o tempo total em que se queira efetuar
a amostra composta, não devendo ser jamais inferior a 120ml.
SENAI-RJ 227
Tratamento de esgotos - Controle de qualidade e amostragens em uma ETE
Devido à dificuldade em se analisar uma amostra logo após a sua coleta, é necessário
utilizar técnicas de preservação para mantê-la praticamente inalterada, até o momento do
exame em laboratório. Essas técnicas se restringem a:
228 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Controle de qualidade e amostragens em uma ETE
Continuação
Parâmetro Frasco Vol. Mín. Prazo de análise Método de preservação
(ml)
Fósforo total V 1000 7 dias refrigeração a 4ºC
Mercúrio V(a)/P(a) 500 28 dias ácido nítrico concentrado até
pH<2, 4ºC
Nitrato V/P 200 24 horas refrigeração a 4ºC
Nitrito V/P 200 24 horas refrigeração a 4ºC
Óleos & Graxas V 1000 7 dias ácido sulfúrico até pH<2
Resíduos V/P 1000 7 dias refrigeração a 4ºC
Salinidade V(1) 500 6 meses - -----
Sílica P ---- 28 dias refrigeração a 4ºC
Sulfato V/P 300 7 dias refrigeração a 4ºC
Sulfeto V 1000 6 meses refrigeração a 4ºC
TKN V/P 500 7 dias refrigeração e ácido sulfúrico
até pH<2
Turbidez V/P 500 24 horas guardar no escuro sob refrigera-
ção a 4ºC
Cromo total V 1000 6 meses refrigeração a 4ºC
Estanho V/P 500 6 meses ácido nítrico até pH=2
Ferro total V/P 1000 6 meses ácido nítrico até pH=2
Níquel V/P 500 6 meses ácido nítrico até pH=2
Potássio P 500 6 meses ácido nítrico até pH=2
Zinco V/P 500 6 meses ácido nítrico até pH=2
Legenda:
V = vidro;
V(1) = vidro com cera de vedação;
V(a) = rinsado com HNO3 1:1;
P = polietileno;
P(a) = rinsado com HNO3 1:1
SENAI-RJ 229
Tratamento de esgotos - Controle de qualidade e amostragens em uma ETE
• Ter muito cuidado ao realizar coletas nos tanques de aeração, pois, devido à baixa
densidade do líquido misturado com ar, o risco de afogamento é iminente.
230 SENAI-RJ
Doenças de origem
e veiculação hídrica
Nesta unidade...
12
Tratamento de esgotos - Doenças de origem e veiculação hídrica
• qualidade biológica da água – devido à sua capacidade para veicular tanto microrganismos
causadores de doenças transmissíveis, quanto algas produtoras de substâncias tóxicas;
• quantidade - na prevenção de algumas doenças, esse fator tem tanto ou mais importância
que a qualidade; a escassez de água, dificultando a limpeza corporal e a do ambiente,
por exemplo, permite a disseminação de enfermidades associadas à falta de higiene.
Nos itens a seguir, vamos analisar a atuação desses fatores em várias doenças provocadas
por agentes microbianos, parasitários e químicos.
SENAI-RJ 233
Tratamento de esgotos - Doenças de origem e veiculação hídrica
Febre tifóide
A febre tifóide tem um período de incubação de uma a três semanas. É transmitida por
contato direto ou indireto, através da água dos alimentos contaminados e ingeridos crus, e dos
insetos (moscas), que podem servir como vetores passivos. Os sintomas mais graves são a febre
elevada e contínua, o delírio, a distensão abdominal e a hemorragia intestinal.
A febre tifóide de origem hídrica se manifesta conforme as circunstâncias, seja por casos
isolados ou epidemias explosivas. No segundo caso, a gravidade e extensão dependem do
grau de contaminação, do volume e das condições do abastecimento de água, do número
e da suscetibilidade dos indivíduos expostos ao risco. Essas epidemias são caracterizadas
pelo número elevado de pessoas que adoecem num prazo curto. Às vezes, o mapa da área de
localização domiciliar dos casos revela, expressivamente, qual o setor do abastecimento que
sofreu contaminação.
234 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Doenças de origem e veiculação hídrica
Cólera
Infecção intestinal aguda, causada pela bactéria, vibrio cholerae, que é um bacilo levemente
encurvado. A fonte de infecção é o homem, doente ou portador, e o período de incubação varia
de algumas horas a cinco dias, em média.
Os vibriões são eliminados pelas fezes, pelos vômitos dos doentes e, ocasionalmente,
pela urina. A sua transmissão ocorre de modo direto ou indireto, através de água e alimentos
contaminados. As moscas, formigas e ratos também atuam como vetores passivos.
Entre todas as doenças deste grupo, é na cólera que a água representa papel mais importante.
O vibrião colérico pode sobreviver na água vários dias ou semanas e, conforme as circunstâncias,
até mesmo se multiplicar, sendo responsável por epidemias explosivas de caráter muito grave.
Em geral, a moléstia começa com intensa dor nas costas, pernas e braços. Pode também
principiar com diarréia e cólicas. Geralmente, há fortes vômitos e desidratação acentuada.
Muitas vítimas se restabelecem, mas continuam a expelir os germes nas evacuações. A pessoa
recuperada da enfermidade deve, preferencialmente, submeter-se a análise laboratorial como
garantia da erradicação da doença.
Amebíase
SENAI-RJ 235
Tratamento de esgotos - Doenças de origem e veiculação hídrica
O modo de transmissão pode ser direto ou indireto, através da água ou de alimentos con-
taminados, especialmente frutas e verduras cruas, quando irrigados ou refrescados com água
poluída por fezes ou cultivados em solos adubados diretamente com dejetos humanos. Moscas
e baratas que tiveram contato com excretos de infectados podem contaminar os alimentos.
Os sintomas da amebíase vão desde a diarréia com cólicas e aumento dos sons intestinais,
até a diarréia mais intensa com perda de sangue nas fezes, febre e emagrecimento. Nesses casos,
ocorre invasão da parede do intestino grosso com inflamação mais intensa, o que os médicos
chamam de colite. Podem ocorrer ulcerações no revestimento interno do intestino grosso,
provocando sangramento. Raramente, a infecção causa perfuração do intestino, mas, quando
ocorre, a manifestação é de doença abdominal grave com dor intensa, rigidez e aumento da
sensibilidade da parede, além de prostração extrema. A doença pode apresentar-se de forma
mais branda, com diarréia intermitente, levando muitos anos até surgir algum comprometi-
mento do estado geral.
Os cistos de ameba resistem, na água, de uma semana até vários meses, conforme o caso.
Águas poluídas com esgoto representam importante papel na veiculação da doença. A co-
agulação e a filtração rápida convencionais são parcialmente eficientes na remoção dos cistos
de ameba. Os filtros de terra diatomácea parecem mais eficazes que os de areia. O cloro, nas
doses usualmente empregadas, não destrói os cistos, sendo necessária a supercloração. Para
tratamento de emergência ou individual, recomenda-se a fervura da água ou o uso de iodo,
que é um bom cisticida.
236 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Doenças de origem e veiculação hídrica
Quando a diarréia é acompanhada da presença de sangue visível nas fezes, dizemos que
se trata de disenteria, isto é, uma infecção bacteriana aguda do intestino, causada por bactérias
do gênero shigella – SH dysenteriae, SH sonnei, SH flexneri, SH boydi, etc.
Trata-se de doença de distribuição universal, de gravidade variável, sendo uma das princi-
pais causas de mortalidade infantil, pois sua maior incidência é dos seis meses aos quatro anos
de idade. A fonte de infecção é o homem, doente ou portador e o período de incubação pode
ser de um a sete dias. O modo de transmissão pode ser direto ou indireto, através da água ou
de alimentos contaminados. As moscas representam papel importante como vetores.
Hepatite infecciosa
É uma infecção aguda, com sintomas como febre, mal-estar e comprometimento do fígado.
O paciente pode ou não apresentar icterícia. A fonte de infecção é o homem doente, com vírus
presente nas fezes e no sangue. O período de incubação é de 10 a 40 dias, em geral 25 dias.
SENAI-RJ 237
Tratamento de esgotos - Doenças de origem e veiculação hídrica
A transmissão é por contato direto, através de transfusão sanguínea, pelo uso de agulhas
e seringas de injeção mal desinfetadas, pela água, leite ou alimentos contaminados.
O vírus da hepatite infecciosa é muito resistente. Na água, pode se conservar vivo e virulento
por um período de quatro a dez semanas. Suporta bem o calor (permanece ativo mesmo em
temperaturas de 50oC durante 30 minutos). Além disso, também não é totalmente removido
pela coagulação e filtração comumente praticadas.
A sua destruição pelo cloro exige, após coagulação e filtração, uma dose que permita
manter, depois de 30 minutos de contato, um residual de cloro total livre, de pelo menos 1,1 e
0,4mg/L, respectivamente.
Poliomielite
É uma enfermidade aguda, febril, às vezes de caráter epidêmica, que, nos casos graves,
produz paralisia muscular, sendo causada pelos vírus da poliomielite. A fonte de infecção é o
homem, principalmente crianças.
O vírus é eliminado pelas secreções faringianas e fezes, a sua porta de entrada é por via
oral, principalmente. O período de incubação vai de 5 a 21 dias, em geral de 7 a 12 dias.
A transmissão usual é pelo contato direto e pelas gotículas das descargas buco-faringianas
e raramente ocorre por via indireta. Nesse caso, a contaminação se dá através do leite e, pos-
sivelmente, da água.
O vírus eliminado pelas fezes é encontrado nos esgotos, podendo resistir até quatro me-
ses não só na água, mas também nos esgotos. Sua inativação pelo cloro exige pré-cloração
suficiente para produzir um residual de cloro livre de no mínimo 0,3 a 0,4 mg/L, durante todo
o percurso da água na Estação de Tratamento, e um mínimo de 0,2 a 0,3 mg/L de cloro livre
no efluente final.
238 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Doenças de origem e veiculação hídrica
Algas tóxicas
Águas sujeitas à proliferação de algas azuis (cianofíceas) têm se mostrado tóxicas para
vários animais, tais como, cavalos, bois, galinhas e também admite-se que o homem possa
ficar exposto a essa ação tóxica.
É uma doença crônica, com período de incubação de quatro a seis semanas, causada por
um helminto, o schistossoma mansoni, que tem como fonte principal de infecção o homem
parasitado.
• Esquistossomose aguda - após três a sete semanas de exposição, pode aparecer quadro
caracterizado por febre, anorexia, dor abdominal e cefaléia.
• Esquistossomose crônica - essa fase se inicia a partir do sexto mês após a infecção,
podendo durar vários anos. Nela, costumam surgir os sinais de progressão da doença
para diversos órgãos, atingindo graus extremos de severidade como: hipertensão
pulmonar e portal, ascite e ruptura de varizes do esôfago.
SENAI-RJ 239
Tratamento de esgotos - Doenças de origem e veiculação hídrica
Portal: relativo à veia porta: grande veia do abdômen que drena o sangue
dos órgãos digestivos para o fígado.
É fundamental ressaltar que o tratamento pela coagulação e filtração não são suficientes
para remover todas as larvas da água. A inatividade do schistossoma mansoni exige:
Leptospirose
Estão mais sujeitos a doença os que trabalham em contato com a água e os que se banham
ou mergulham acidentalmente em águas contaminadas. O contato direto com os animais
infectados também pode produzir a doença.
240 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Doenças de origem e veiculação hídrica
A Tabela 12.1 apresenta uma síntese dos microrganismos causadores de algumas doenças
estudadas.
SENAI-RJ 241
Tratamento de esgotos - Doenças de origem e veiculação hídrica
A Tabela 12.2 apresenta uma síntese de vários grupos de doenças e suas formas de trans-
missão e prevenção.
Os efeitos que os poluentes naturais ou artificiais podem exercer sobre o organismo hu-
mano vão desde perturbações ligeiras, não-específicas, até intoxicações graves, com sintomas
definidos e características visíveis dos agentes que os produziram. Esses efeitos dependem da
concentração da substância na água, da toxidez específica para o ser humano e da suscetibili-
dade individual. Praticamente, para todos os poluentes, existem concentrações inofensivas.
242 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Doenças de origem e veiculação hídrica
À proporção que essas concentrações aumentam, começam a agir sobre o organismo e, quando
atingem certo nível, os fenômenos tóxicos irão se acentuar, podendo levar até à morte.
Às vezes, os sintomas de intoxicação são agudos; em outros casos, quando o tóxico é cumulativo,
doses isoladamente inofensivas podem, com o consumo continuado, acarretar doenças de eclosão
tardia. Há ainda situações, embora pouco usuais, em que os malefícios à saúde decorrem não do
excesso, mas da carência do elemento na água, e acabam se revelando a longo prazo.
Arsenito
Bário
• não é cumulativo;
Cádmio
• é irritante gastro-intestinal;
• é poderoso emético;
SENAI-RJ 243
Tratamento de esgotos - Doenças de origem e veiculação hídrica
Cromo
Cianetos
Chumbo
244 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Doenças de origem e veiculação hídrica
Prata
Nitratos
Iodo
SENAI-RJ 245
Tratamento de esgotos - Anexos
SENAI-RJ 247
Tratamento de esgotos - Anexos
OD Oxigênio Dissolvido
RBC Rotating Biological Contactors
RNA Ácido Ribonucléico
RNF Resíduo Não-Filtrável
RNFF Resíduos Não-Filtráveis Fixos
RNFT Resíduos Não-Filtráveis Totais
RNFV Resíduos Não-Filtráveis Voláteis
SGA Superintendência de Gestão Ambiental
SENAI-RJ Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, Departamento
Regional do Rio de Janeiro
SS Sólidos em Suspensão
SSV Sólidos em Suspensão Voláteis
TA Tanque de Aeração
TOC Total Organic Carbon
TPQA Tratamento Primário Quimicamente Aprimorado
248 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Referências
Referências
AMAE – Agência Municipal de Água e Esgoto – Agência Reguladora de Joinvile, SC. http://www.
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SENAI-RJ 249
FIRJAN
CIRJ
SESI
SENAI
IEL