Você está na página 1de 252

Tratamento

de esgotos

SENAI-RJ •
Tratamento
de esgotos
Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro
Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira
Presidente

Diretor Geral do Sistema FIRJAN


Augusto Cesar Franco de Alencar
Diretor

Diretor Regional SENAI-RJ


Roterdam Pinto Salomão
Diretor

Diretor Regional SENAI-RJ


Andréa Marinho de Souza Franco
Diretora
Tratamento
de esgotos
Benito Piropo Da-Rin

José Nunes Vieira Neto

Miguel Freitas Cunha

Reginaldo Ramos

SENAI-RJ
Rio de Janeiro
2008
Tratamento de Esgoto
2008, 2ª ed.

SENAI – Rio de Janeiro


Diretoria de Educação

FICHA TÉCNICA
1ª edição, 2006
Gerência de Educação Profissional Luís Roberto Arruda
Superintendência de Recursos Humanos (CEDAE) Dejair Ferreira da Silva
Gerência de Produto Bernardo Schlaepfer
Coordenação Flávia Pinto de Carvalho
Seleção de Conteúdos (CEDAE) Benito Piropo Da Rin
José Nunes Vieira Neto
Miguel F. Cunha
Reginaldo Ramos
Analista de Treinamento (CEDAE) Valdeci Francisco Baracho
Revisão Pedagógica Alda Lessa Bastos
Revisão Gramatical Marcia Cristina Carvalho de Brito
Projeto Gráfico Artae Design & Criação
Diagramação Geferson Gomes Coutinho

2ª edição, 2008
Gerência de Educação Profissional Regina Helena Malta do Nascimento
Gerência Executiva SESI-SENAI Tijuca Bernardo Schlaepfer
Coordenação Angela Elisabeth Denecke
Vera Regina Costa Abreu
Atualização dos Conteúdos (CEDAE) Benito Piropo Da Rin
José Nunes Vieira Neto
Miguel Freitas Cunha
Reginaldo Ramos
Coordenação de Recrutamento, Seleção, Valdeci Francisco Baracho
Treinamento e Desenvolvimento (CEDAE)
Revisão Pedagógica Gloria Micaelo
Nina Rosa Aguiar
Revisão Gramatical e Editorial Rosy Lamas
Colaboração Mary Cristina da Rocha
Editoração Daniela de Oliveira

Edição revista e atualizada do material didático Técnicas de Tratamento de


Esgoto, publicado pelo SENAI-RJ, em parceria com a CEDAE, em 2006.

GEP – Gerência de Educação Profissional


Rua Mariz e Barros, 678 – Tijuca
20270-903 – Rio de Janeiro – RJ
Tel.:(21) 2587.1323
Fax:(21 ) 2254.2884
E-mail: GEP@rj.senai.br
http://www.rj.senai.br
Sumário
Apresentação .................................................................... 11
Uma palavra inicial ............................................................ 13

CARACTERÍSTICAS DOS ESGOTOS SANITÁRIOS.............. 21

1 1.1 Características físicas ................................................... 21


1.2 Características químicas ................................................ 25
1.3 Características biológicas .............................................. 30

2 AUTODEPURAÇÃO DOS CORPOS DE ÁGUA ....................... 37


2.1 Zonas características .................................................... 40
2.2 Autodepuração ............................................................ 42

3 PROCESSOS DE TRATAMENTO DE ESGOTOS .................... 51


3.1 Tratamento preliminar .................................................. 52
3.2 Tratamento primário ..................................................... 52
3.3 Tratamento secundário ................................................. 53
3.4 Tratamento terciário ..................................................... 53

4 TRATAMENTO PRELIMINAR E PRIMÁRIO ........................ 57


4.1 Tratamento preliminar .................................................. 57
4.2 Tratamento primário e sistemas conjugados .................... 64

5 NOÇÕES DE BIOLOGIA SANITÁRIA ................................. 73


5.1 Organismos aeróbios e anaeróbios ................................. 73
5.2 Organismos autotróficos e heterotróficos ......................... 74
5.3 Organismos de interesse para o tratamento de esgotos ..... 75
5.4 Metabolismo dos seres vivos.......................................... 82
6 FILTROS BIOLÓGICOS .................................................... 89
6.1 Composição e funcionamento dos filtros biológicos ........... 89
6.2 Reator biológico rotativo de contato ................................ 100

7
LODOS ATIVADOS ........................................................... 105
7.1 Tanques de aeração ...................................................... 105
7.2 Constituição do lodo ativado .......................................... 106
7.3 Parâmetros de dimensionamento e operação ................... 107
7.4 Controle do processo .................................................... 117
7.5 Dimensionamento do sistema de aeração ........................ 126
7.6 Fornecimento de oxigênio.............................................. 130

8
LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO ........................................... 149
8.1 Lagoas aeradas............................................................ 149
8.2 Lagoas anaeróbias ....................................................... 150
8.3 Lagoas aeróbias ........................................................... 151
8.4 Lagoas de maturação ................................................... 152
8.5 Lagoas facultativas ....................................................... 152
8.6 Fatores intervenientes .................................................. 158
8.7 Dimensionamento ........................................................ 162
8.8 Lagoas em série........................................................... 172

9
TRATAMENTO DO LODO .................................................. 177
9.1 Produção e tipos de lodo ............................................... 177
9.2 Disposição final dos resíduos ......................................... 178
9.3 Fator econômico na seleção das técnicas ......................... 179
9.4 Técnicas de tratamento de lodo...................................... 181
9.5 Disposição final ............................................................ 195

10 NOÇÕES DE MANUTENÇÃO E OPERAÇÃO DE EQUIPAMENTOS


PARA TRATAMENTO DE ESGOTOS ................................... 205
10.1 Instalações elétricas ................................................... 206
10.2 Equipamentos ............................................................ 208
11
CONTROLE DE QUALIDADE E AMOSTRAGENS EM UMA ETE . 219
11.1 Parâmetros analíticos .................................................. 219
11.2 Possíveis pontos de coleta ........................................... 222
11.3 Amostragem: preparativos, material e técnicas
gerais de coleta ................................................................. 223

12
DOENÇAS DE ORIGEM E VEICULAÇÃO HÍDRICA .............. 233
12.1 Doenças causadas por agentes microbianos e parasitários 233

Anexo - siglas utilizadas ..................................................... 247

Referências ....................................................................... 249

LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 Distribuição típica de compostos sólidos .............................23
Figura 2.1 Consumo de OD com o tempo, após o
lançamento de esgoto......................................................38
Figura 2.2 Reaeração com o tempo, após o lançamento de esgoto ........39
Figura 2.3 Curva de depleção de oxigênio ..........................................40
Figura 2.4 Zonas do curso de água após lançamento de esgoto ............42
Figura 2.5 Depleção total de oxigênio ...............................................43
Figura 2.6 Modelo simplificado do fenômeno de autodepuração ............46
Figura 6.1 Diagrama esquemático do filtro biológico............................91
Figura 6.2 Esquemas de recirculação ................................................96
Figura 6.3 Reator biológico rotativo de contato – RBC (acionado a ar) ...101
Figura 7.1 Variação das massas de substrato .....................................117
Figura 8.1 Lagoa facultativa.............................................................153
Figura 8. 2 Gráfico de Marais para projetos de lagoas facultativas ..........170
Figura 11.1 Fase líquida ....................................................................222
Figura 11.2 Tratamento do lodo .........................................................223
Figura 11.3 Garrafas coletoras em profundidade ..................................226
Figura 11.4 Draga de Petersen...........................................................226
Figura 11.5 Draga de Eckman ...........................................................226
Figura 11.6 Disco Secchi...................................................................227
LISTA DE TABELAS
Tabela 8.1 Taxas de aplicação de carga orgânica ............................. 163
Tabela 9.1 Relação temperatura-tempo de digestão ......................... 184
Tabela 11.1 Preservação de amostras por parâmetro de interesse ....... 228
Tabela 12.1 Microorganismos causadores de doenças ........................ 241
Tabela 12.2 Grupos de doença (AMAE)............................................. 242
Tratamento de esgotos - Apresentação

Apresentação
A dinâmica social dos tempos de globalização exige dos profissionais atualizações constantes.
Até mesmo as áreas tecnológicas de ponta ficam ultrapassadas em ciclos cada vez mais curtos, o que
gera desafios renovados a cada dia e obriga a educação a encontrar novas e rápidas respostas.
Nesse cenário, impõe-se a educação continuada, a qual exige que os profissionais busquem
atualização constante – e os docentes e participantes dos cursos do Serviço Nacional de Apren-
dizagem Industrial – Departamento Regional do Rio de Janeiro, SENAI-RJ, incluem-se nessas
novas demandas sociais.
É preciso, portanto, promover, tanto para os docentes como para os participantes da edu-
cação profissional, condições que propiciem o desenvolvimento de novas formas de ensinar e
aprender, favorecendo o trabalho de equipe, a pesquisa, a iniciativa e a criatividade, entre outros
aspectos, e ampliando suas possibilidades de atuar com autonomia e de forma competente.
Como parte desse esforço para atender às necessidades do mercado de trabalho, a Com-
panhia Estadual de Águas e Esgotos – CEDAE e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
Departamento Regional do Rio de Janeiro – SENAI-RJ organizaram o curso de Tratamento de
Esgotos em conformidade com as exigências legais da política de treinamento das pessoas que
atuam nos processos dessa área industrial. Visa-se, assim, oferecer aos profissionais a oportu-
nidade de desenvolver as competências técnicas fundamentais à execução de suas atividades.
Este material didático tem como finalidade principal servir como apoio à aprendizagem e o
seu conteúdo básico está estruturado em 12 unidades, sendo as nove primeiras responsáveis pelos
principais processos de tratamento de esgoto, na sequência em que eles se apresentam na estação de
tratamento (ETE) e as três últimas responsáveis por informações complementares sobre manutenção
de equipamentos, controle de qualidade do produto e saúde. Ao final encontra-se um quadro com
o significado das siglas aqui utilizadas e mais comumente empregadas nesse tipo de operação.
A CEDAE e o SENAI-RJ esperam que você, participante, alcance excelente proveito dos con-
teúdos aqui apresentados e que, ao utilizar as novas aprendizagens no seu dia-a-dia, o resultado
seja uma prática profissional mais competente e também consciente da importância do trata-
mento adequado de esgotos para a saúde da população e para a preservação do meio ambiente.
Compreenda que seu trabalho deve ser realizado sempre com segurança e qualidade.

SENAI-RJ 11
Tratamento de esgotos - Uma palavra inicial

Uma palavra inicial

Meio ambiente...
Saúde e segurança no trabalho...
O que é que nós temos a ver com isso?
Sabemos a resposta, mas nunca é demais refletir sobre esses dois pontos que merecem
destaque: a relação entre o processo produtivo e o meio ambiente, além da questão da saúde
e da segurança no trabalho.
As indústrias e os negócios são a base da economia moderna. Produzem os bens e serviços
necessários e dão acesso a emprego e renda, mas, para atender a essas necessidades, precisam usar
recursos e matérias-primas. Os impactos no meio ambiente, muito freqüentemente, decorrem
do tipo de indústria existente no local, do que ela produz e, principalmente, de como produz.
É preciso entender que todas as atividades humanas transformam o ambiente. Estamos sem-
pre retirando materiais da natureza, transformando-os e depois jogando o que “sobra” de volta no
ambiente natural. Ao retirar do meio ambiente os materiais necessários para produzir bens, altera-se
o equilíbrio dos ecossistemas e arrisca-se chegar ao esgotamento de diversos recursos naturais que
não são renováveis ou, quando o são, têm sua renovação prejudicada pela velocidade da extração,
superior à capacidade da natureza de se recompor. É necessário fazer planos de curto e longo prazo
para diminuir os impactos que o processo produtivo causa na natureza. Além disso, as indústrias
precisam se preocupar com a recomposição da paisagem e ter em mente a saúde dos seus traba-
lhadores e da população que vive ao seu redor.
Com o crescimento da industrialização e sua concentração em determinadas áreas, o problema
da poluição aumentou. A questão da poluição do ar e da água é bastante complexa, pois as emissões
poluentes se espalham de um ponto fixo para uma grande região, dependendo dos ventos, do curso
da água e das demais condições ambientais, tornando difícil localizar, com precisão, a origem do
problema. No entanto, é importante repetir que quando as indústrias depositam no solo os resí-
duos, quando lançam efluentes sem tratamento em rios, lagoas e demais corpos hídricos, estão
causando danos ao meio ambiente.

SENAI-RJ 13
Tratamento de esgotos - Uma palavra inicial

O uso indiscriminado dos recursos naturais e a contínua acumulação de lixo mostram a


falha básica de nosso sistema produtivo: ele opera em linha reta. Extraem-se as matérias-primas
por meio de processos de produção desperdiçadores, que produzem subprodutos tóxicos.
Fabricam-se produtos de utilidade limitada que, finalmente, viram lixo, o qual se acumula nos
aterros. Produzir, consumir e descartar bens dessa forma obviamente não é sustentável.
Enquanto os resíduos naturais (que não podem, propriamente, ser chamados de “lixo”)
são absorvidos e reaproveitados pela natureza, a maioria dos resíduos deixados pelas indústrias
não têm aproveitamento para qualquer espécie de organismo vivo e, para alguns, pode até ser
fatal. O meio ambiente pode absorver resíduos, redistribuí-los e transformá-los. Mas, da mes-
ma forma que a Terra possui uma capacidade limitada de produzir recursos renováveis, sua
capacidade de receber resíduo também é restrita e a de receber resíduo tóxico é praticamente
inexistente.
Ganha força, atualmente, a idéia de que as empresas devem ter procedimentos éticos que
considerem a preservação do ambiente como uma parte de sua missão. Isto quer dizer que se
devem adotar práticas que incluam tal preocupação, introduzindo processos que reduzam o
uso de matérias-primas e energias, diminuam os resíduos e impeçam a poluição.
Cada indústria tem suas próprias características. Mas já sabemos que a conservação de
recursos é importante. Qualquer indústria deve então ter crescente preocupação com a quali-
dade, durabilidade, possibilidade de conserto e vida útil de seus produtos.
As empresas precisam não apenas continuar reduzindo a poluição, mas também buscar novas
formas de economizar energia, melhorar os efluentes, reduzir o lixo e também o uso de matérias-
primas. Reciclar e conservar energia são atitudes essenciais no mundo contemporâneo.
É difícil ter uma visão única que seja útil a todas as empresas. Cada uma enfrenta desafios
diferentes e pode se beneficiar de sua própria visão de futuro. Ao olhar para o futuro, podemos
decidir quais alternativas são mais desejáveis e trabalhar com elas.
No entanto, tanto os indivíduos quanto as instituições só mudarão suas práticas quando
acreditarem que seu novo comportamento lhes trará benefícios – sejam eles financeiros, para
sua reputação e imagem ou para sua segurança.
A mudança de hábitos não é algo que possa ser imposto. Deve ser uma escolha de pesso-
as bem-informadas a favor de bens e serviços sustentáveis. A tarefa que se impõe é a de criar
condições que melhorem a capacidade das pessoas escolherem, usarem e disporem de bens
e serviços de forma sustentável.
Além dos impactos causados na natureza, diversos são os malefícios à saúde humana
provocados pela poluição do ar, dos rios e mares, assim como são inerentes aos processos
produtivos alguns riscos à saúde e à segurança do trabalhador. Atualmente, os acidentes de
trabalho constituem uma questão que preocupa os empregadores, empregados e governantes,
uma vez que suas conseqüências afetam a todos.

14 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Uma palavra inicial

De um lado, é necessário que os trabalhadores adotem um comportamento seguro no


trabalho, usando os equipamentos de proteção individual e coletiva; de outro, cabe aos em-
pregadores prover a empresa com esses equipamentos, orientar quanto ao seu uso, fiscalizar
as condições da cadeia produtiva e a adequação dos equipamentos de proteção.
A redução do número de acidentes só será possível à medida que cada um – empregado,
empregador e governo – assuma, em todas as situações, atitudes preventivas capazes de res-
guardar a segurança de todos.
Devemos considerar também que cada indústria possui um sistema produtivo próprio
e, portanto, é necessário analisá-lo em sua especificidade para determinar seu impacto sobre
o meio ambiente e a saúde e os riscos que o sistema oferece à segurança dos trabalhadores,
propondo alternativas que possam levar à melhoria das condições de vida de todos.
Da conscientização, partimos para a ação: cresce cada vez mais o número de países, empre-
sas e indivíduos que vêm desenvolvendo ações que contribuem para proteger o meio ambiente
e cuidar da nossa saúde. Mas, isso ainda não é suficiente... faz-se necessário ampliar tais ações,
e a educação é um valioso recurso que pode e deve ser usado para atingir esse objetivo. Assim,
iniciamos nosso curso conversando sobre o meio ambiente, a saúde e a segurança no trabalho,
lembrando que, no exercício profissional diário, o operador deve agir de forma harmoniosa
com o ambiente, zelando também pela segurança e saúde de todos no trabalho.
Agora tente responder novamente à pergunta que inicia este texto. Meio ambiente, saúde
e segurança no trabalho – o que é que eu tenho a ver com isso? Depois é partir para a ação.
Cada um de nós é responsável. Vamos fazer a nossa parte?

POLÍTICA INSTITUCIONAL DE MEIO AMBIENTE DA NOVA CEDAE


I – Dos princípios:
1. Visão sistêmica da questão ambiental que permita o planejamento de ações integradas
em conformidade com o conceito de desenvolvimento sustentável.
2. Obediência à legislação ambiental, que deve ser vista como instrumento para que a
Nova Cedae atinja os seus objetivos.
3. Planejamento das ações que vise a preservação, conservação e recuperação dos re-
cursos hídricos de forma sustentável.
4. Promoção de capacitação, treinamento e participação em ações de educação ambi-
ental, no que se refere às atividades da Companhia, que visem ao aperfeiçoamento de
processos e incorporação de novas tecnologias na busca da melhoria contínua.
5. Parceria institucional com entidades que desenvolvam atividades diretamente rela-
cionadas à conservação e preservação do meio ambiente.

SENAI-RJ 15
Tratamento de esgotos - Uma palavra inicial

6. Consolidação e disseminação interna e externamente da cultura, conhecimentos e


experiências relacionadas com o meio ambiente na Nova Cedae.
7. Máximo rigor com o veto a produtos e serviços aplicados em obras e atividades que
não resguardem a qualidade ambiental.
8. Valorização e fomento à pesquisa, desenvolvimento e consolidação de tecnologia,
voltados à conservação do meio ambiente, principalmente dos recursos hídricos.

II – Dos objetivos:
1. Estabelecer princípios, critérios, diretrizes e conceitos que orientem a Nova Cedae
na condução das atividades e ações que tenham como meta alcançar excelência na
prestação de serviços de saneamento ambiental e uma melhor qualidade de vida e
bem-estar social para a população da área de atuação desta Companhia.
2. Definir responsabilidades, alinhar conceitos e estabelecer posturas para toda a Com-
panhia, principalmente para áreas diretamente envolvidas com a questão ambiental e
no relacionamento com órgãos e instituições afins, mercado e a sociedade em geral.
3. Criar condições para disseminar e consolidar os conceitos e atividades da Companhia
relativas ao meio ambiente junto à comunidade interna e externa, visando:
• a educação sanitária e ambiental;
• o cumprimento da legislação pertinente;
• o relacionamento adequado com órgãos e instituições que regulamentam a questão
ambiental, principalmente nos assuntos relacionados com os recursos hídricos.

III – Das diretrizes estratégicas:


1. Todos os projetos devem contemplar:
• uso racional e desenvolvimento sustentado dos recursos hídricos;
• conservação, proteção e recuperação do meio ambiente;
• viabilidade técnica, econômica, financeira, ambiental e social;
• atendimento à legislação ambiental;
• envolvimento sistemático dos órgãos gerenciais regionais da Companhia no tratamen-
to e decisões das questões ambientais das suas respectivas bacias hidrográficas; e
• busca da certificação das atividades da Companhia pela ISO 14000.

16 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Uma palavra inicial

2. O relacionamento com os órgãos oficiais gestores do meio ambiente, entidades da


sociedade civil e com o mercado deve ser pautado por:
1. ética;
2. transparência;
3. espírito de cooperação constante e sinergia; e
4. empenho na recuperação, proteção e conservação da quantidade e qualidade dos recur-
sos hídricos e racionalização do uso de recursos naturais e combate ao desperdício.
3. A Nova Cedae deve agir:
• pró-ativamente no sentido de marcar a sua imagem como uma Companhia que se ca-
racteriza pela preocupação com o meio ambiente e com o saneamento ambiental;
• pró-ativamente na formulação e aperfeiçoamento da legislação ambiental.
4. Todas as ações e iniciativas relativas ao meio ambiente devem ser executadas de forma
descentralizada pelos órgãos gerenciais:
• seguindo diretrizes padronizadas, quando fizerem seus contatos, de assuntos rotinei-
ros, diretamente com órgãos externos;
• em sintonia com a diretoria colegiada, quando fizerem seus contatos, de assuntos não
rotineiros, diretamente com órgãos externos;
• lembrando que o processo de verificação da viabilidade ambiental é parte integrante
dos planos diretores e que os projetos devem ser elaborados no âmbito das respec-
tivas diretorias, com assessoria da Superintendência de Gestão Ambiental – SGA e
da Assessoria Jurídica – AJUR, no que couber;
• que devem consolidar equipe especializada para coordenar e apoiar ações na elabo-
ração dos estudos de viabilidade ambiental; e
• que terão participação direta nas atividades de licenciamento e de obtenção de outorga
executadas pela SGA.

IV. Das disposições finais:


1. A comissão designada pela O.S. no 8.252, de 14 de abril de 2004, responsável pela
elaboração dessa Política, passa a ser denominada Grupo Executivo de Meio Ambi-
ente – GEMA.
2. Será da competência do GEMA propor, implementar, acompanhar e avaliar a eficá-
cia do Sistema de Gestão Ambiental, bem como o seu desempenho ambiental, em
consonância com a Política Institucional de Meio Ambiente da Nova Cedae e o seu
Regimento Interno.

(Aprovada na Reunião de Diretoria de 28 de junho de 2004)

SENAI-RJ 17
Características dos
esgotos sanitários
Nesta unidade...

Características físicas

Características químicas

Características biológicas

1
Tratamento de esgotos - Características dos esgotos sanitários

1. Características
dos esgotos sanitários

Vamos iniciar conhecendo um pouco sobre as características físicas, químicas e biológicas


do que denominamos genericamente de esgotos sanitários. Também conhecidos como “águas
servidas”, “águas residuárias”, “despejos líquidos”, “esgotos” ou “efluentes líquidos”, esses eflu-
entes são resíduos líquidos resultantes da utilização doméstica ou industrial da água de abas-
tecimento. Como carregam substâncias agressivas ao meio ambiente adicionadas durante o
próprio processo de utilização da água, devem ser encaminhados a um destino final adequado
(eventualmente após tratamento). Por conseguinte, é indispensável conhecer a natureza des-
tas substâncias e qual o efeito de seu lançamento no meio ambiente para escolher a forma de
descarte que minimize os danos ambientais.

Aqui vamos abordar com maior ênfase as características de um determinado tipo de


efluente líquido: os esgotos sanitários de origem domiciliar. Essas características variam de
região para região, de acordo com diversos fatores como clima, hábitos da população, dis-
ponibilidade de água potável e outros, porém sem se afastarem demasiadamente de certos
valores centrais.

Tais características decorrem de substâncias ou impurezas adicionadas à água durante


a sua utilização e são classificadas em físicas, químicas e biológicas, de acordo com o agente
introduzido no processo.

1.1 Características físicas


As características físicas dos esgotos sanitários de origem domiciliar a serem observadas
são: presença de matéria sólida, temperatura, cor e odor.

SENAI-RJ 21
Tratamento de esgotos - Características dos esgotos sanitários

1.1.1 Presença de matéria sólida

O esgoto consiste basicamente de água. O conteúdo de matéria sólida raramente ultrapassa


0,1 % da massa total do efluente. Portanto, a água representa 99,9 % deste total. Contudo, a
presença de sólidos, mesmo em porcentagem reduzida, assume grande importância sanitária
em virtude de seus efeitos nocivos sobre o meio ambiente. Estes sólidos, além de serem adi-
cionados durante a utilização da água, podem provir de infiltrações na rede de esgotos e de
substâncias dissolvidas na própria água de abastecimento.

Sólidos totais

O conteúdo total de sólidos em uma amostra de esgotos, denominado sólidos totais, é


definido como o resíduo remanescente após evaporação a 105ºC da totalidade da água contida
em um volume conhecido da amostra. Geralmente é expresso em mg/L.

Os sólidos totais podem ainda ser subdivididos em: sólidos em suspensão ou dissolvidos
e sólidos fixos ou voláteis.

Na primeira subdivisão, temos:

• Sólidos em suspensão (RNF) - são aqueles que ficam retidos no meio filtrante quando
se submete um volume conhecido de amostra à filtragem. O meio filtrante é escolhido
de forma que o diâmetro mínimo da partícula retida seja de 0,1µ. O nome “sólidos em
suspensão”, tem sido considerado inadequado, considerando-se que a determinação
é feita por filtração e que partículas sólidas de diâmetro aparente inferior a 0,1µ não
ficam retidas no filtro. Modernamente, sugere-se sua substituição pela expressão mais
apropriada “Resíduo Não-Filtrável”, ou RNF.

• Sólidos dissolvidos - são obtidos pela diferença entre os valores das massas de sólidos
totais e de sólidos em suspensão ou RNF. Sendo assim, e considerando a forma como
foram determinados, os sólidos dissolvidos incluem, além das substâncias presentes
em solução verdadeira, uma certa massa de substâncias em suspensão coloidal.

Entendemos que a denominação sólidos dissolvidos parece imprópria,


sendo mais pertinente a designação sólidos filtráveis. Entretanto, por
ser mais usual, vamos adotá-la em nosso estudo.

22 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Características dos esgotos sanitários

Na segunda maneira de subdividir os sólidos totais, e que pode ser aplicada tanto aos RNF
quanto aos sólidos dissolvidos, temos:

• Sólidos fixos (inertes) - são definidos como o resíduo remanescente após o total de
sólidos da amostra ter permanecido em estufa aquecida à temperatura de 600 ºC por
30 minutos.

• Sólidos voláteis - já a massa de sólidos voláteis é obtida por diferença entre as massas
de sólidos totais e fixos, posto que sólidos voláteis são aqueles perdidos por volatil-
ização durante a determinação da massa de sólidos fixos.

De uma forma geral os sólidos fixos servem, em primeira aproximação, como indicador
da parcela de substâncias minerais contidas na amostra, enquanto os voláteis podem servir,
de forma grosseira, como indicação da parcela de matéria orgânica.

Observe na Figura 1.1 as concentrações de matéria sólida tipicamente encontradas em


uma amostra de esgoto doméstico, assim como as porcentagens em que usualmente se dis-
tribuem.

Figura 1.1 – Distribuição


ã típica
í de compostos sólidos
ó

Além das análises descritas para medir as concentrações em mg/L de matéria sólida pre-
sente no esgoto, usa-se ainda a determinação dos denominados sólidos decantáveis. Medidos
em ml/L, eles são definidos como o volume ocupado pelos sólidos sedimentados, após decan-
tação de 1 hora, em vasilhame padrão denominado Cone Imhoff. Trata-se de análise expedita
normalmente realizada pelo próprio operador de uma estação de tratamento de esgotos e
também extremamente útil como ferramenta de controle de eficiência de determinadas uni-
dades de tratamento. No entanto, apesar de tradicional, há que se notar que sua denominação
é errônea, sendo mais correta a de sólidos sedimentáveis (posto que partículas sólidas não
decantam, sedimentam).

SENAI-RJ 23
Tratamento de esgotos - Características dos esgotos sanitários

1.1.2 Temperatura

Em geral, a temperatura do esgoto doméstico é ligeiramente mais elevada que a da água


de abastecimento, em virtude da adição de água quente aos despejos. No Brasil ela costuma
variar de região para região, porém mantendo-se quase sempre na faixa entre 15ºC e 25ºC.

A temperatura é uma característica importante porque pode gerar modificações na biota


do corpo receptor de um despejo que tenha temperatura muito diferente da natural do corpo
d’água provocando aumento ou redução da rapidez das reações químicas e do metabolismo
bacteriano. Além disso, a variação da temperatura exerce influência sobre a solubilidade dos
gases, especialmente o oxigênio.

Biota: conjunto de seres vivos de um determinado ecossistema.

Corpo receptor: qualquer coleção de água superficial que recebe o lança-


mento de efluentes líquidos.

1.1.3 Cor

A cor do esgoto doméstico serve como indicador Septicidade:


de seu estado de septicidade. Em geral, o esgoto novo qualidade
ou fresco apresenta coloração cinza claro. À proporção ou caráter de
que vai envelhecendo, sua coloração se torna castanha séptico; que causa
ou marrom e a matéria orgânica presente começa a ser putrefação ou infecção.
atacada pelas bactérias existentes no próprio esgoto,
com a concomitante redução do teor de oxigênio dis-
solvido. Na medida em que prosseguem as reações de
decomposição da matéria orgânica, aumenta o con-
sumo do oxigênio dissolvido e sua concentração pode
Variações ines-
cair a zero. Isto faz com que o esgoto entre no chamado
peradas de cor
estado séptico, atingindo a coloração negra.
significam adi-
A cor dos despejos industriais depende do tipo de ção de um produto não-
indústria, da matéria-prima empregada e do processo habitual e podem impli-
industrial. Em geral, cada tipo de despejo apresenta cor car em modificações nas
peculiar, que pode variar, no mesmo despejo, em de- demais características dos
corrência da natureza da operação industrial executada despejos.
em uma dada ocasião.

24 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Características dos esgotos sanitários

1.1.4 Odor

O odor do esgoto sanitário deve-se aos gases produzidos pela decomposição da matéria
orgânica. O esgoto recém-produzido apresenta odor desagradável, porém não tão repulsivo
quanto o produzido pelo esgoto séptico quando, após a queda do teor de oxigênio dissolvido
a zero, determinados microrganismos passam a decompor a matéria orgânica com elevada
produção de gás sulfídrico, que se desprende do líquido, provocando a corrosão dos condutos
e um cheiro repugnante.

As considerações anteriormente apresentadas em relação à cor dos despejos


industriais também se aplicam ao seu odor.

1.2 Características químicas


A composição química das diversas substâncias presentes no esgoto doméstico é extrema-
mente variável, pois depende de diversos fatores que incluem os hábitos da população. Ultima-
mente, com a crescente variedade de novos produtos químicos para uso doméstico disponíveis
no mercado, o grau de complexidade da composição química das substâncias presentes nos
esgotos tipicamente domésticos tem aumentado significativamente, sendo exemplo notório
a presença de detergentes em concentrações cada vez maiores.

Quanto aos despejos industriais, sua composição química também depende essencial-
mente do tipo de indústria, da matéria-prima utilizada e do processo industrial. É, portanto,
bastante variável. Há despejos industriais com características tipicamente inorgânicas (in-
dústrias metalúrgica, siderúrgica, e outras) e orgânicas (indústrias de alimentos, frigoríficos,
laticínios, etc.). Existem ainda indústrias que geram efluentes de ambos os tipos (indústria
química, petroquímica, refinarias, etc.).

A seguir, vamos abordar apenas os compostos ou categorias de compostos que, em função


de suas características, podem exercer alguma influência no corpo receptor ou nos processos
de tratamento de esgotos.

SENAI-RJ 25
Tratamento de esgotos - Características dos esgotos sanitários

1.2.1 Substâncias inorgânicas

As substâncias inorgânicas presentes nos esgotos não possuem grande importância sani-
tária, exceto se forem tóxicas.

A presença de substâncias tóxicas, freqüente nos despejos industriais, é ra-


ramente constatada nos esgotos domésticos em concentrações que possam
afetar a biota do corpo receptor ou a saúde de pessoas ou animais.

Dentre as substâncias inorgânicas usualmente encontradas nos esgotos domésticos são


importantes, do ponto de vista da engenharia sanitária, os compostos de nitrogênio, fósforo
e enxofre.

Compostos de nitrogênio e fósforo

A importância desses compostos decorre do fato de serem nutrientes básicos para as algas.
Como tal, se forem descarregados em excesso em corpos receptores com certas características,
tais como lagos ou estuários de pequena renovação de água, podem contribuir para que haja
excessiva proliferação de algas, dando margem ao fenômeno denominado eutrofização do corpo
líquido. Neste caso pode ser necessária a remoção de tais compostos antes do lançamento do
efluente sanitário ao corpo receptor.

Compostos de enxofre

Compostos de enxofre são importantes pela facilidade que apresentam de serem reduzi-
dos bioquimicamente em condições anaeróbicas a gás sulfídrico por organismos específicos
(sulfobactérias). O gás sulfídrico (H2S), além de apresentar mau cheiro característico e ser
extremamente tóxico em elevadas concentrações, pode ser oxidado bioquimicamente a ácido
sulfúrico (H2SO4) e causar sérios problemas de corrosão nas galerias de esgoto.

1.2.2 Matéria orgânica

Uma porcentagem elevada dos sólidos contidos nos esgotos domésticos e em certos despejos
industriais é formada por matéria orgânica. Estes compostos têm enorme importância sanitária
devido à possibilidade de serem estabilizados através da oxidação bioquímica aeróbia (ou seja: serem
consumidos como alimento por organismos presentes no corpo receptor que fazem uso de oxigênio

26 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Características dos esgotos sanitários

em seu metabolismo). Em função disso o consumo de matéria orgânica pode reduzir a concentração
de oxigênio dissolvido dos corpos receptores a níveis impróprios à vida das espécies que necessi-
tam de oxigênio livre para subsistir (organismos aeróbios), provocando assim um forte desequilíbrio
na distribuição de espécies do ecossistema constituído pelo corpo receptor desses esgotos.

Os principais grupos de substâncias orgânicas presentes nos esgotos são:

• proteínas (40% a 60 %);

• carboidratos (25% a 50 %); e

• matérias graxas (10 %).

A uréia também é encontrada em proporções razoáveis, porém apenas no esgoto fresco,


devido à sua tendência de se decompor rapidamente (e gerar compostos de nitrogênio).

Além destas substâncias, existem outras, em menor proporção, que se apresentam sob
forma bastante variada, ou seja, desde moléculas muito simples até aquelas de extrema com-
plexidade estrutural. Podemos citar, entre elas, algumas de importância sanitária, tais como
fenóis, detergentes e alguns pesticidas. Nos últimos anos tem sido constatada, nos esgotos, a
presença destas últimas substâncias em concentrações cada vez mais representativas.

Avaliação do conteúdo da matéria orgânica

Em função da extrema variedade e da alta complexidade molecular das substâncias orgâni-


cas presentes nos esgotos, uma análise quantitativa de tais substâncias torna-se praticamente
impossível devido à dificuldade de execução e ao seu alto custo.

Por essa razão foi desenvolvido um método prático para avaliar, ou quantificar indireta-
mente, o conteúdo orgânico de uma amostra de esgoto.

Ao reconhecer que o maior inconveniente causado pela presença de matéria orgânica no


esgoto é a sua capacidade de consumir, por oxidação bioquímica, o oxigênio existente no corpo
receptor, considera-se que uma avaliação indireta de seu conteúdo possa consistir, justamente,
na medida da quantidade de oxigênio necessário para estabilizá-la bioquimicamente. Esse
processo oferece dupla vantagem, ou seja:

• avaliar, apenas, a quantidade de matéria orgânica biodegradável, isto é, aquela que


contribui diretamente para o consumo do oxigênio livre no corpo receptor; e

• medir a quantidade de oxigênio necessária à estabilização da matéria orgânica, isto


é, a quantidade do oxigênio do corpo receptor que será consumida.

Para compreender como tal medida se torna possível, é preciso entender o processo pelo
qual o oxigênio é consumido no corpo receptor. Com esse objetivo, vamos então examinar,
ainda que superficialmente, o metabolismo dos organismos aeróbios.

SENAI-RJ 27
Tratamento de esgotos - Características dos esgotos sanitários

Os organismos aeróbios utilizam o oxigênio livre (não-combinado) dos ambientes em que


vivem para a manutenção do seu ciclo vital. Todos os animais superiores, além de muitas espé-
cies de microrganismos, são seres aeróbios, organismos que se utilizam do oxigênio disponível
no ambiente para reagir com a matéria orgânica e fazer dela fonte de energia e matéria prima
para gerar material celular. Sua energia vital é obtida, exatamente, pela oxidação bioquímica
de parte da matéria orgânica. O processo bioquímico pelo qual ocorre a oxidação é muito
complexo e se denomina metabolismo.

Embora complexa, a produção de energia vital pelo processo metabólico pode ser com-
parada, grosseiramente, com o desempenho de um motor à combustão, no qual são introduzidos
oxigênio e combustível (alimento, no caso do metabolismo). Através da combustão (oxidação),
a energia é liberada e os produtos decorrentes da queima, ou seja, as substâncias oxidadas, são
descarregadas no ambiente. No processo metabólico, a matéria orgânica (alimento) é biodegra-
dada (combinada bioquimicamente com o oxigênio livre para produzir a energia necessária
à manutenção da vida) sendo eliminada para o ambiente na forma de produtos parcialmente
oxidados (excrementos), ainda como matéria orgânica, porém em um estágio de estabilização
mais elevado.

Os fenômenos descritos ocorrem em qualquer ambiente em que coexistam alimentos, seres


aeróbios e oxigênio livre. Por exemplo: se um despejo com alto conteúdo de matéria orgânica
biodegradável (alimento) for lançado em um corpo de água com elevado teor natural de oxigênio
dissolvido, os organismos aeróbios existentes no corpo líquido e no próprio despejo, encon-
trando condições ambientais propícias, vão se multiplicar rapidamente e consumir o oxigênio
disponível. Caso as circunstâncias permitam, eles irão exaurir completamente o oxigênio livre
do corpo receptor, causando sérios prejuízos ecológicos.

Demanda bioquímica de oxigênio (DBO)

Um dos métodos desenvolvidos para avaliar o conteúdo orgânico de uma amostra de es-
goto, a seguir descrito de forma simplificada, é uma análise denominada Demanda Bioquímica
de Oxigênio (DBO). Na verdade, a DBO possibilita a transposição para laboratório do próprio
fenômeno que se processa na natureza. Vejamos como realizá-la:

• colher um certo volume de amostra de esgoto e diluí-la em um volume conhecido de água


destilada, na qual foi previamente dissolvido oxigênio em uma concentração conhecida;

• incubar essa amostra por um período fixo (usualmente cinco dias) e em temperatura
constante (20ºC);

• transcorrido este período, medir a concentração de oxigênio dissolvido e encontrar,


por diferença, a quantidade de oxigênio utilizada para estabilizar bioquimicamente
a matéria orgânica contida no volume da amostra utilizada; e

28 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Características dos esgotos sanitários

• com base na quantidade de oxigênio utilizada para estabilizar bioquimicamente a


matéria orgânica presente no volume de amostra analisado, calcular proporciona-
lmente a quantidade necessária para estabilizar a matéria orgânica contida em um
litro de esgoto; assim, a DBO é encontrada em mg/L.

Como os esgotos domésticos já contêm elevado número de microrganismos


aeróbios, não é necessário semeá-los no frasco a ser incubado. Na análise
de despejos industriais, porém, esse procedimento geralmente é imprescin-
dível.

A DBO obtida conforme acima descrito também é denominada “DBO a cinco dias” ou
DBO5. Isso não significa que o consumo de oxigênio deixe de existir depois de cinco dias. Na
verdade, o consumo só vai cessar após um período de cerca de 20 dias. Mas, aguardar todo esse
tempo para conhecer os resultados de uma análise de laboratório pode ser de pouca valia para
executar, por exemplo, o controle da operação de uma estação de tratamento de esgotos. Por
isso foi adotado o período de cinco dias como padrão, considerando que, após esse tempo, cerca
de 2/3 do consumo total de oxigênio já foi exercido e a maior parte dos compostos orgânicos
carbonatados já se encontra estabilizada, restando, apenas, em sua maioria, os compostos
nitrogenados.

A Demanda Bioquímica de Oxigênio é um parâmetro de importância fun-


damental para os diversos processos de tratamento de esgoto. Portanto, é
essencial compreender os seus princípios básicos.

Demanda química de oxigênio (DQO)

Apesar de ser considerado como padrão, o período de cinco dias para obter o resultado
de uma análise de DBO pode representar uma espera muito longa ou ser de pouca utilidade
quando se pretende avaliar a necessidade de oxigênio para estabilizar a totalidade das substân-
cias orgânicas de uma amostra (e não apenas a fração biodegradável). Para enfrentar situações
desse tipo foi então desenvolvido outro método de análise denominado Demanda Química
de Oxigênio (DQO).

Nesta análise utiliza-se um enérgico agente oxidante, normalmente o dicromato de po-


tássio ou permanganato de potássio, em meio ácido, para oxidar a totalidade dos compostos
orgânicos presentes no esgoto e, assim, calcular a quantidade de oxigênio consumida. Como,

SENAI-RJ 29
Tratamento de esgotos - Características dos esgotos sanitários

exceto em casos muito especiais, mais compostos são oxidados por via química do que por via
bioquímica, os resultados da DQO são, em geral, maiores do que os obtidos da DBO de uma
mesma amostra.

Para muitos tipos de esgoto é possível correlacionar os resultados da DBO


com os da DQO, o que é vantajoso, pois a análise da DQO é executada em
três horas enquanto a da DBO necessita de cinco dias de espera.

Carbono orgânico total (COT ou TOC)

Uma avaliação direta do conteúdo orgânico de uma amostra de despejo pode ainda ser
obtida através do parâmetro denominado Carbono Orgânico Total (COT), que mede a concen-
tração, em mg/L, do elemento carbono ligado a moléculas orgânicas. A análise é efetuada com
o uso de equipamentos especiais que levam à combustão controlada todo o conteúdo de um
pequeno volume de amostra e possibilitam medir a massa de gás carbônico assim gerada. Sua
utilização é rara para esgotos sanitários, sendo mais comum em despejos industriais.

1.3 Características biológicas


Do ponto de vista sanitário, as características biológicas são aquelas relativas aos principais
grupos de microrganismos presentes nos esgotos, em especial os patogênicos e aqueles utilizados
quer nos processos biológicos de tratamento de esgotos, quer como indicadores de poluição.

1.3.1 Principais grupos de microrganismos


presentes no esgoto

Veremos dois grupos: os protistas e os vírus.

Protistas

Os protistas constituem o grupo mais importante de microrganismos usualmente encon-


trados nos esgotos domésticos; em seguida estão os vírus. Vejamos a sua importância para a
engenharia sanitária. Fazem parte desse grupo as bactérias, as algas e os protozoários.

30 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Características dos esgotos sanitários

Bactérias

Certamente são as mais importantes, não somente pelo fato de haver entre elas diver-
sas espécies patogênicas, transmissoras das chamadas doenças de veiculação hídrica,
como também pelo extraordinário papel que desempenham nos processos de tratamento
biológico, promovendo a estabilização da matéria orgânica.

Entre as bactérias, encontram-se os organismos do grupo coliforme, cuja


utilidade será discutida adiante.

Algas

Existem em pequena quantidade nos esgotos domésticos, mas podem ser encontradas
em elevadíssimas concentrações nos efluentes das chamadas lagoas de estabilização.

A presença de algas em grande quantidade em um efluente lançado a um corpo receptor


pode resultar sérios inconvenientes para este corpo receptor seja pelos problemas causados
à captação eventual de água para abastecimento, seja pelo fenômeno conhecido como
floração de algas, comum em corpos de água com elevada concentração de nutrientes
(corpos de água eutrofizados).

Protozoários

Os protozoários existentes no esgoto e de interesse para a engenharia sanitária incluem


amebas, flagelados e ciliados livres. Esses organismos se alimentam de bactérias e outros
parasitas; são considerados essenciais para a manutenção do equilíbrio biológico, em
processos de tratamento biológico.

Vírus

A importância dos vírus para a engenharia sanitária se deve à


Patogenicidade: é
patogenicidade de certas espécies. Eles são altamente resistentes ao
a capacidade que
tratamento biológico e aos processos usuais de desinfecção, podendo
um organismo
subsistir por longo tempo nos esgotos ou nos corpos receptores. As
possui de causar
experiências têm mostrado que a sua remoção é extremamente difí-
doenças em outros
cil; por isso, nos dias atuais, várias pesquisas estão em andamento
organismos.
com a finalidade de buscar soluções para o problema.

SENAI-RJ 31
Tratamento de esgotos - Características dos esgotos sanitários

1.3.2 Organismos utilizados como indicadores


de poluição

Conforme mencionado, os esgotos domésticos contêm uma enorme variedade de micror-


ganismos, alguns dos quais patogênicos, que precisam ser controlados.

Quando certa vazão de esgotos é lançada em um corpo receptor, se o ambiente não for
propício à propagação dos organismos patogênicos, sua concentração vai paulatinamente
decrescendo seja por diluição, por morte ou decaimento bacteriano. Mas o isolamento e a
contagem desses seres exigiriam uma técnica de laboratório demorada, acurada e onerosa.
Procurou-se, então, encontrar um grupo de organismos, de fácil determinação e de contagem
simples em laboratório, que pudesse ser associado à poluição fecal, para servir como indica-
dor desse tipo de degradação. Com esse propósito foi selecionado o grupo dos organismos
coliformes.

Embora não sendo, em geral, patogênicos, os organismos do grupo coliforme passaram a


ser utilizados com indicadores de poluição fecal porque existem em abundância no intestino
humano e são excretados com as fezes. Isso significa que uma água com elevada contagem
de coliformes pode também conter organismos patogênicos, enquanto uma água isenta de
coliformes é considerada segura, do ponto de vista sanitário.

A medida da quantidade de organismos do grupo coliforme presentes em uma amostra


denomina-se colimetria. A técnica usualmente empregada para sua determinação consiste
no chamado teste presuntivo, baseado na capacidade dos coliformes, e apenas deles, de fer-
mentar a lactose, com produção de gás, quando incubados no meio de cultura adequado e em
temperatura conveniente. A incubação é realizada com diferentes diluições de uma mesma
amostra e os resultados são submetidos a uma análise estatística e expressos através da unidade
NMPcoli/100ml (Número Mais Provável de organismos do grupo coliforme encontrados em
100ml de amostra).

É possível, através de técnica específica, determinar em laboratório o NMP de


organismos coliformes de origem fecal cultivando-os em um meio não propí-
cio ao desenvolvimento de outras espécies. Esta determinação denomina-se
colimetria fecal.

32 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Características dos esgotos sanitários

O resultado da colimetria não representa a concentração real dos organismos na amostra,


mas apenas uma estimativa baseada em análise estatística. Portanto, trata-se apenas de um
indicador de poluição. Caso seja desenvolvido um processo para eliminar unicamente coli-
formes, o que é possível do ponto de vista técnico, ainda assim a contaminação vai persistir,
pois os organismos patogênicos, eventualmente presentes, lá irão permanecer. Na verdade,
essa tentativa de eliminar uma ferramenta eficiente de controle só serviria para “esconder” a
contaminação.

Nas unidades referentes a tratamento biológico de efluentes orgânicos vol-


taremos ao estudo dos microrganismos com ênfase em seu metabolismo.

SENAI-RJ 33
Autodepuração dos
corpos de água
Nesta unidade...

Zonas características

Autodepuração

2
Tratamento de esgotos - Autodepuração dos corpos de água

2. Autodepuração dos
corpos de água
Um corpo de água, em seu estado natural, constitui um ecossistema. Nele coexistem nu-
merosos organismos que se relacionam entre si e com o próprio ambiente. Qualquer modifica-
ção introduzida, seja nas espécies vivas, seja no ambiente, pode trazer conseqüências nefastas
que podem incluir a ruptura do equilíbrio ecológico.

No ecossistema, alguns seres vivos se alimentam de substâncias existentes no ambiente.


Outros se alimentam de organismos vivos, vegetais ou animais. Esta teia complexa de elementos
forma a chamada “cadeia alimentar”.

Com exceção dos chamados microrganismos anaeróbios, todos os demais que vivem
no corpo d’água necessitam de oxigênio livre (dissolvido no meio líquido) para realizar seu
metabolismo.

O oxigênio existe em abundância na atmosfera e tem a propriedade de ser solúvel em água.


O teor máximo (saturação) de oxigênio dissolvido (OD) na água depende de diversos fatores,
inclusive a temperatura.

Vale destacar que a 25ºC o teor de saturação de OD em água limpa é de


8,26 mg/L.

A existência de seres vivos no meio líquido implica o consumo de certa quantidade de OD.
Caso não houvesse o contínuo suprimento de oxigênio, a tendência seria baixar o teor de OD
até níveis que impossibilitassem a sobrevivência dos organismos. A morte de alguns peixes,
por exemplo, pode ocorrer em ambientes com teores de OD iguais ou inferiores a 5mg/L.

SENAI-RJ 37
Tratamento de esgotos - Autodepuração dos corpos de água

Por outro lado, os cursos de água têm a capacidade de absorver oxigênio da atmosfera
(reaeração) para suprir aquele consumido no seu interior. Mas essa capacidade depende de
diversos fatores, dentre os quais:
• a temperatura;
• o estado de agitação das águas;
• o efeito dos ventos;
• a velocidade do curso de água; e
• o próprio teor de oxigênio dissolvido no líquido (quanto mais baixo o OD, mais rapi-
damente se dá a reaeração).

Além do oxigênio suprido diretamente pela atmosfera, o corpo líquido


recebe oxigênio fornecido pelas plantas aquáticas através do fenômeno
denominado fotossíntese a ser abordado adiante.

Portanto, em condições naturais, há equilíbrio entre o oxigênio consumido pelos seres vivos e o
oxigênio fornecido ao corpo líquido. Equilíbrio este que mantém o teor de OD em um nível estável.

Quando certa quantidade de esgoto é lançada em um corpo líquido, há uma tendência de


rompimento do equilíbrio devido à avidez do esgoto por oxigênio (DBO). Com o consumo de OD
pelo esgoto (a rigor, pelos organismos que se alimentam da matéria orgânica contida neste esgoto,
como veremos adiante), o nível de OD no corpo líquido diminui. Caso não houvesse reaeração a
tendência seria que este nível baixasse continuamente, no princípio com rapidez, depois de forma
mais lenta, até atingir níveis extremamente baixos conforme mostra a Figura 2.1, onde a abscissa
(t) representa o tempo decorrido após o lançamento do esgoto e a ordenada (c) a quantidade de
oxigênio consumida. O momento do lançamento do esgoto está caracterizado na figura como t0,
assim como a quantidade inicial de oxigênio no corpo líquido, c0. A linha pontilhada cs representa
a quantidade de oxigênio no ponto de saturação para esse corpo líquido.

F
Figura 2.1 –
Consumo de OD com
C
o tempo, após o
llançamento de esgoto

38 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Autodepuração dos corpos de água

O curso de água, no entanto, é capaz de recuperar oxigênio em virtude do fenômeno da


reaeração (reposição de oxigênio). A capacidade do líquido de receber oxigênio é função, en-
tre outros parâmetros, do próprio teor de OD: quanto menor este teor, maior será a diferença
entre ele e o teor de saturação e mais rápida será a captura de oxigênio. Como, à medida que
o oxigênio é reposto, menor se torna essa diferença, a rapidez com que o oxigênio é capturado
diminui quando o teor de OD cresce. Assim, a quantidade de oxigênio recuperada pelo curso
de água varia de acordo com a Figura 2.2.

Figura 2
2.2
2 – Reaeração com o tempo
tempo, após o lançamento de esgoto

Nessas condições, o teor de OD no curso de água sofre as influências opostas das duas
ações acima descritas: uma tendência a cair devido ao consumo e uma tendência a recuperar-
se devido à reaeração.

No início do fenômeno, quando a massa de OD consumido é maior que a de OD recuperado,


o teor de OD no corpo líquido irá cair até atingir seu valor mínimo (ponto crítico). Mas, a partir
do momento que o consumo de OD tornar-se menor que a massa reposta por reaeração, seu
nível no corpo líquido irá subir até, eventualmente, recuperar as condições existentes antes
do lançamento. Portanto, o fenômeno se desenrola como a soma das duas curvas vistas ante-
riormente. No início, o teor de OD do corpo líquido cai (enquanto o consumo de OD for maior
que o OD fornecido pela reaeração), até atingir o ponto crítico, ou seja, quando os dois valores
se igualam. A partir deste ponto começa então a subir (quando o OD fornecido já é maior que
o consumido), até atingir o valor existente antes do lançamento do esgoto.

A variação do teor de OD do corpo líquido é representada esquematicamente na Figura 2.3.

SENAI-RJ 39
Tratamento de esgotos - Autodepuração dos corpos de água

Figura 2
2.3
3 – Curva de depleção de oxigênio

A variação do teor de OD ao longo do curso de água causada pelo consumo de oxigênio


devido ao lançamento de esgotos e sua recuperação devida ao fenômeno da reaeração pode
exercer grande influência sobre as condições ambientais do ecossistema constituído pelo corpo
de água. Isto porque há uma correspondência entre os diversos níveis de OD e determinados
organismos capazes de se ambientar às condições vigentes. Assim, a situação ou circunstância
apresentada pelo curso de água determina a formação de zonas ao longo das quais há predo-
minância de determinados organismos.

A biota existente antes do lançamento, adaptada a um nível de OD mais elevado, começa


a sofrer modificações à proporção que o OD vai caindo. E, assim, à jusante do lançamento,
podem ser distinguidas as zonas características do estado do curso de água, que correspondem
ao nível de OD.

Jusante: direção em que vaza a maré, ou para onde corre um curso


de água.

2.1 Zonas características


Ao longo do curso de água, após o lançamento de uma determinada vazão de esgotos,
dependendo da proporção entre esta vazão e a do curso de água, pode-se distinguir a forma-
ção das seguintes zonas características: degradação, decomposição ativa, recuperação e água
limpa. Elas serão resumidamente descritas a seguir, com ênfase no que toca à sua localização,
ao nível de OD e aos seres vivos nelas presentes.

40 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Autodepuração dos corpos de água

Zona de degradação

Localiza-se logo após o lançamento. A água apresenta-se turva e escura. Os sólidos


sedimentáveis do esgoto tendem a se depositar no fundo, onde entram em decomposição
anaeróbica. O OD cai rapidamente e pode-se constatar a presença de gás carbônico e amônia
provenientes da decomposição.

Os peixes e outras formas de vida mais complexas podem ser extintos ou expulsos. Sub-
sistem alguns fungos e grande número de bactérias.

Zona de decomposição ativa

Localiza-se abaixo da zona de degradação e corresponde aos níveis mais baixos de OD.
Caracteriza-se pela decomposição anaeróbica em toda a massa líquida, sendo também ob-
servada a formação de bolhas de gás. Porções de lodo podem aflorar à superfície, formando
escuma negra. Há desprendimento de mau cheiro.

As formas de vida se limitam, em sua maioria, a microrganismos anaeróbicos; os fungos


desaparecem. As formas de vida mais complexas são representadas por alguns vermes e larvas
de insetos.

Na zona de decomposição ativa localiza-se o “ponto crítico”, onde o teor de


OD pode chegar a zero em caso de poluição maciça.

Zona de recuperação

Localiza-se após a zona de decomposição ativa e corresponde a um lento crescimento


do nível de OD. Como a maior parte da matéria orgânica já foi parcialmente estabilizada nas
zonas de montante, diminui o consumo de OD, cujo nível tende então a subir em virtude da
quantidade de oxigênio fornecida pela reaeração ser superior ao consumo.

O gás carbônico e a amônia decrescem e nota-se a presença de nitratos e nitritos, prove-


nientes da mineralização da matéria orgânica. O número
de bactérias diminui devido à redução da matéria orgâni-
ca que lhes serve de alimento. Montante: di-

Reaparecem os fungos e algumas algas. Começam reção da nas-

a reaparecer algumas plantas aquáticas e certos peixes cente do curso

mais resistentes. de água.

SENAI-RJ 41
Tratamento de esgotos - Autodepuração dos corpos de água

Zona de água limpa

Devido ao fenômeno da reaeração, o curso de água recupera tanto o seu teor de OD, resta-
belecendo o equilíbrio, quanto a aparência de seu estado natural.

Os organismos aeróbios inferiores crescem em quantidade, devido à ação fertilizante da


poluição (massa de nutrientes lançada no ecossistema) e servem de alimento às formas de
vida mais complexas, que reaparecem. O rio retorna, então, às suas características de nor-
malidade.

A correspondência entre as zonas descritas e a curva de OD do corpo líquido é mostrada


na Figura 2.4.

Figura 2
2.4
4 – Zonas do curso de água após lançamento de esgoto

2.2 Autodepuração
Conforme vimos, após receber uma carga de poluição, os cursos de água, embora sofram
modificações em suas características, tendem a restabelecer por processos naturais as condições
existentes antes do lançamento dos esgotos. Este fenômeno é conhecido como autodepuração,
isto é, a capacidade do curso de água de receber uma determinada carga poluidora e eliminá-
la, gradativamente, mediante ações naturais.

É evidente que, caso se pretenda manter o nível mínimo de OD (ponto crítico) acima de
um dado valor, existe um certo limite na carga poluidora a ser lançada no corpo receptor. Se as
necessidades de oxigênio para estabilizar a matéria orgânica contida no esgoto lançado forem
demasiadamente elevadas, todo o OD do corpo receptor poderá ser consumido e, no ponto
crítico, ocorrerá ausência total de OD. Dependendo da carga poluidora, esta situação pode se
prolongar por um longo trecho do rio, o que é altamente indesejado. A curva de OD do corpo
receptor terá, então, o aspecto mostrado na Figura 2.5.

42 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Autodepuração dos corpos de água

A carga poluidora lançada


ao corpo de água irá determinar
a necessidade total de oxigênio a
ser consumido. Ela depende da
vazão de esgoto lançado e da DBO
deste esgoto. Já a capacidade de
autodepuração vai depender dos
seguintes fatores:

• teor de OD do corpo recep-


Figura 2
Fi 2.5
5–D
Depleção
l ã ttotal
t ldde oxigênio
i ênio
tor antes do lançamento;

• vazão do corpo receptor; e

• taxa de reaeração, que quantifica o oxigênio disponível para suprir as necessidades da carga
poluidora.

Conhecidos esses elementos, pode-se então determinar o teor mínimo de OD no ponto


critico.

2.2.1 Modelo de Streeter e Phelps

O tratamento matemático do problema, descrito a seguir de forma simplificada, é de autoria


de Streeter e Phelps. Esses autores consideram que o déficit D de oxigênio (isto é, a diferença entre
o teor de saturação de OD e o teor de OD medido num tempo t após o lançamento do despejo)
pode ser expresso como a soma algébrica das duas tendências já mencionadas, ou seja:

• redução devida ao consumo de O2 correspondente à DBO exercida pelo despejo (des-


oxigenação); e

• crescimento devido à reposição natural de O2 (reaeração).

O aumento do déficit causado pela DBO exercida ao longo do tempo é diretamente


proporcional a essa mesma DBO, sendo K1 o coeficiente de proporcionalidade. Podemos,
então, escrever:

dDd = K1Ldt
Equação 2.1
Onde:
dDd = variação (aumento) do déficit de OD devido à desoxigenação.
L = DBO exercida após o tempo t.
K1 = constante de desoxigenação.
dt = variação do tempo t.

SENAI-RJ 43
Tratamento de esgotos - Autodepuração dos corpos de água

A identificação do número da equação é importante para futuras referências


ao longo do texto.

Por outro lado, o estudo da transferência de gases nos mostra que a rapidez com que esse
fenômeno se processa é proporcional à diferença entre a concentração do gás no líquido e a
concentração de saturação deste gás no líquido, ou seja, no nosso caso, a diminuição do dé-
ficit de oxigênio devido à reaeração é diretamente proporcional ao próprio déficit, o que nos
permite escrever:

Equação 2.2

Onde:
dDr = variação (decréscimo) do déficit de OD devido à reaeração natural.
K2 = constante de reaeração.
D = déficit de oxigênio.

A variação total do déficit de OD ao longo do tempo será então representada pela soma
algébrica dos dois efeitos:

Equação 2.3

Na prática, para usar a (Equação 2.3), a DBO exercida deverá ser expressa em função da
DBO de primeiro estágio da mistura despejo/água do corpo receptor (L0), através da conhecida
equação da estabilização da DBO:

Equação 2.4

Onde K1 assume o mesmo valor que na Equação 2.1.

44 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Autodepuração dos corpos de água

Isto feito, pode-se integrar a Equação 2.3, substituindo também o valor de L pelo expresso
na Equação 2.4, o que nos leva à expressão do déficit de OD, aqui identificado pela letra D:

Equação 2.5

Onde:

D0 = déficit inicial de OD, ou seja, déficit de OD imediatamente à montante do lançamento


do despejo.

A Equação 2.5 evidencia que o déficit de OD passa por um ponto notável. Trata-se do déficit
máximo, que corresponde ao teor mínimo de OD encontrado no ponto crítico. O tempo gasto
para atingir o ponto crítico, tc, poderá então ser obtido através da determinação da abscissa
deste ponto notável, representada por:

Equação 2.6

O valor de tc permitirá calcular o déficit crítico, Dc, ou seja, o déficit de O2 encontrado no


ponto crítico:

Equação 2.7

A concentração de OD no ponto crítico (Cc, a menor concentração a ser encontrada no


corpo receptor) poderá então ser expressa por:

Equação 2.8
Onde:

Cs = concentração de saturação de O2 no corpo receptor para as condições dadas de tem-


peratura e salinidade.

SENAI-RJ 45
Tratamento de esgotos - Autodepuração dos corpos de água

A Figura 2.6, a seguir, representa graficamente as Equações 2.1, 2.2 e 2.5, utilizadas para o
estudo simplificado do fenômeno de autodepuração dos cursos de água.

Figura 2
2.6
6 – Modelo simplificado
simplificado do fenômeno de autodepuração

Este modelo simplificado pode ser utilizado como uma primeira aproximação para o
modelo matemático do fenômeno de autodepuração. Os possíveis desvios que ele apresenta
são devidos ao fato de não serem consideradas:

• a demanda de OD causada pelo lodo orgânico, possivelmente presente no fundo do


curso de água (demanda bentônica);

• a redução do consumo de OD, devido à possível sedimentação da parcela de matéria


orgânica representada por sólidos em suspensão; e

• a possível introdução de oxigênio produzido por fotossíntese pelos organismos


clorofilados.

Demanda bentônica: demanda advinda de animal ou vegetal que vive no


fundo dos cursos de água.

As duas primeiras ações descritas tendem a se equilibrar, e a terceira é,


geralmente, considerada desprezível, o que explica a extensa utilização do
modelo apresentado.

46 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Autodepuração dos corpos de água

2.2.2 Determinação dos coeficientes K1 e K2

Os coeficientes K1 e K2 podem ser determinados experimentalmente. O valor de K1 depende


tanto da velocidade das reações bioquímicas (portanto, da temperatura e da possível presença
de substâncias tóxicas ou inibidoras) quanto da presença de uma biota adaptada ao substrato
orgânico contido no despejo.

Caso não se disponha de valores determinados experimentalmente, pode-se adotar para


K1 o valor de 0,17dia-1 em rios que já receberam considerável carga orgânica à montante. Caso
contrário, e quando a DBO de primeiro estágio da mistura esgoto-água do corpo receptor for
inferior a 12mg/L, sugere-se para K1 o valor de 0,1dia-1. Esses valores se aplicam para tempera-
tura de 20ºC. E a variação de K1 com a temperatura pode ser expressa por:

Equação 2.9

Onde:

(K1)T = valor de K1 na temperatura T.


(K1)20 = valor de K1 a 20ºC.

O valor de K2 depende, principalmente, das condições de escoamento do curso de água


(velocidade, profundidade, turbulência), que podem facilitar ou dificultar o fenômeno de reae-
ração natural. Alguns autores propõem formulações matemáticas que fornecem o valor de K2
em função das condições de escoamento. As principais são as propostas por Owens, Edwards
e Gebbs, para rios com velocidades entre 0,03 e 1,5m/s e profundidades entre 0,12 e 3,30m
(conforme Equação 2.10), e por O’Connor, para rios com velocidades compreendidas entre
0,15 e 0,5m/s e profundidades entre 0,3 e 9m (conforme Equação 2.11).

Equação 2.10 Equação 2.11

Onde:

V = velocidade de escoamento do curso de água, em m/s.


H = profundidade, em m.

SENAI-RJ 47
Tratamento de esgotos - Autodepuração dos corpos de água

As Equações 2.10 e 2.11 fornecem os valores de K2 para temperatura de 20ºC. Já a correção


de temperatura poderá ser feita pela equação a seguir.

Equação 2.12

O modelo de Streeter e Phelps é de fácil aplicação e permite não apenas


avaliar a extensão do curso de água atingido pelos efeitos do lançamento
do despejo como também determinar os teores de OD ao longo do trecho
afetado, com aproximação aceitável para a maioria dos casos práticos. Mas
deve-se notar que trata-se de um modelo expedito usado apenas para estimativas.
Atualmente existem modelos matemáticos sofisticados, tridimensionais, que,
com o uso de computadores, permitem avaliar com grande precisão as condições
do corpo receptor após receber uma determinada carga de esgotos.

48 SENAI-RJ
Processos de
tratamento de esgotos
Nesta unidade...

Tratamento preliminar

Tratamento primário

Tratamento secundário

Tratamento terciário

3
Tratamento de esgotos - Processos de tratamento de esgotos

3. Processos de tratamento
de esgotos
Na literatura técnica é usual a subdivisão dos processos de tratamento de esgotos em
fases ou estágios, a saber:

• preliminar;

• primário;

• secundário; e

• terciário.

Embora seja amplamente utilizada, deve-se notar que esta classificação é inteiramente
arbitrária e não se apóia em qualquer critério científico. Mais racional seria adotar um critério
que agrupasse as operações ou processos de tratamento segundo os fundamentos teóricos nos
quais se baseia a obtenção de seus parâmetros de dimensionamento e operação, que seria:

• operações unitárias (aquelas que utilizam apenas mecanismos físicos);

• processos químicos unitários; e

• processos biológicos unitários.

Entretanto, como a classificação usual é de emprego amplo e já estabelecido, será aqui


adotada.

Nesta unidade veremos um breve resumo de cada um dos quatro tipos de processos,
identificando as operações que os compõem. Nas unidades seguintes abordaremos em mais
detalhes os principais tratamentos de cada grupo.

SENAI-RJ 51
Tratamento de esgotos - Processos de tratamento de esgotos

3.1 Tratamento preliminar


Etapa inicial do tratamento de esgotos - considera-se parte da fase preliminar as operações
destinadas à remoção de:

• sólidos grosseiros (através de grades, peneiras e desintegradores); e

• areias (através de caixas de areia e ciclones).

3.2 Tratamento primário


O tratamento primário é definido como a seqüência de operações destinadas a remover
sólidos em suspensão (quando a remoção é feita por diferença de densidade) e a realizar os
procedimentos adicionais necessários ao tratamento dos materiais removidos. Portanto, inclui
os seguintes processos.

• Remoção de sólidos em suspensão:


- decantação simples;
- decantação com adição de coagulantes ou polieletrólitos;
- flotação por ar dissolvido;
- sistemas conjugados (tanques Imhoff e fossas sépticas); e
- microgradeamento.

• Tratamento do material removido (lodo)

• Espessamento:
- espessadores por gravidade;
- espessadores por flotação; e
- centrifugação.

• Estabilização:
- digestão aeróbia;
- digestão anaeróbia;
- tratamento químico;
- tratamento térmico; e
- compostagem.

• Condicionamento:
- condicionamento químico;
- elutriação; e
- condicionamento térmico.

52 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Processos de tratamento de esgotos

• Remoção de umidade:
- secagem natural;
- filtração a vácuo;
- centrifugação; e
- filtração à pressão (filtros prensa)

• Incineração:
- fornalhas de múltiplos estágios;
- leitos fluidizados.

• Destino final:
- lançamento no oceano;
- utilização como adubo; e
- disposição no terreno.

3.3 Tratamento secundário


Classificam-se como tratamento secundário os processos biológicos utilizados para
estabilizar bioquimicamente a matéria orgânica contida no esgoto bruto ou no efluente do
tratamento primário, assim como para efetuar a remoção e a disposição final ou reciclagem
das substâncias formadas no processo biológico. Inclui as seguintes operações:
• Filtração biológica.
• Lagoas de estabilização (aeróbias, facultativas e anaeróbias).
• Lodos ativados e suas variantes.
• Tratamento anaeróbio de efluentes líquidos.

3.4 Tratamento terciário


São considerados como parte do tratamento terciário os processos destinados a remover do
efluente do tratamento secundário substâncias em solução, partículas finamente divididas em
suspensão, poluentes ou impurezas específicas. Inclui as seguintes operações:

• Desinfecção por cloração ou ozonização. • Osmose reversa.

• Filtração. • Deionização.

• Adsorção por carvão ativado. • Remoção de nutrientes.

SENAI-RJ 53
Tratamento preliminar
e primário
Nesta unidade...

Tratamento preliminar

Tratamento primário e
sistemas conjugados

4
Tratamento de esgotos - Tratamento preliminar e primário

4. Tratamento preliminar e
primário
Por cuidarem essencialmente da remoção de sólidos, faremos nesta unidade uma abor-
dagem conjunta dos tratamentos preliminar e primário.

4.1 Tratamento preliminar


O tratamento preliminar se destina à remoção de sólidos grosseiros e areias. Recebeu
este nome em virtude de pouco ou nada alterar as principais características dos esgotos, prati-
camente não afetando a carga poluidora (já que não reduz significativamente seja a DBO, a
concentração de sólidos em suspensão ou a colimetria).

Quando usado na cabeceira de uma estação de tratamento de esgotos, sua função é pre-
parar os esgotos para tratamento nas unidades subseqüentes evitando obstruções causadas
pelos sólidos grosseiros em tubulações e dispositivos de tratamento e assoreamentos causados
pelas areias em canais e unidades de tratamento.

Quando usado imediatamente à montante de um lançamento, visa evitar inconvenientes


estéticos devido à presença de materiais sólidos flutuantes e prevenir o assoreamento do corpo
líquido nas imediações do ponto de lançamento em razão da deposição de areias.

4.1.1 Remoção de sólidos grosseiros

A remoção de sólidos grosseiros é executada tanto à montante de uma estação de tratamento


ou elevatória – a fim de proteger as bombas, tubulações e demais unidades de tratamento – quanto
à montante de um lançamento de esgotos, visando a proteção do corpo receptor apenas do
ponto de vista estético.

SENAI-RJ 57
Tratamento de esgotos - Tratamento preliminar e primário

A operação pode ser realizada através de:

• Grades: retenção e posterior remoção do material retido entre as barras de uma grade
metálica, que deve ser encaminhado ao destino final (geralmente o mesmo do lixo
urbano).

• Crivos: idem, em placas perfuradas.

• Peneiras ou microgrades: idem, em dispositivos formados por malhas ou peneiras


metálicas.

• Trituradores (ou desintegradores): retenção, moagem e devolução do material ao


esgoto.

Grades

A operação de gradeamento é efetuada obrigando o fluxo dos esgotos a atravessar uma


grade metálica de barras paralelas. O líquido e os sólidos de dimensões inferiores ao espaça-
mento entre as barras atravessam o dispositivo enquanto os sólidos de dimensões superiores
permanecem retidos na grade.

A remoção do material retido pode ser feita manual ou mecanicamente.

A remoção manual é feita por meio de um ancinho cujo espaçamento entre dentes é igual
ao espaçamento entre as barras da grade. O operador maneja o ancinho de modo a fazê-lo
penetrar entre as barras, junto ao fundo do canal da grade, e arrasta o material retido para
fora do canal.

A limpeza mecânica é realizada através de rastelo (ancinho mecânico) acionado por motor
elétrico, comandado por meio de temporizador ou por sensor da diferença de nível entre os
trechos de montante e jusante de grade, pois à proporção que o material vai se acumulando
junto às barras da grade a perda de carga no canal de grades aumenta fazendo subir o nível de
montante. Quando esse desnível atinge um valor predeterminado, o rastelo é acionado.

As grades podem ser instaladas verticalmente ou inclinadas em ângulo de 45° a 60º com
a horizontal.

As grades de limpeza manual devem ser inclinadas para facilitar a remoção do material.

O volume do material removido por uma grade é bastante variável, pois


depende das características dos esgotos, dos hábitos da população e do
espaçamento entre barras. A título de estimativa, pode-se adotar a faixa de
0,1 litros a 0,025 litros de material por metro cúbico de esgoto tratado.

58 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento preliminar e primário

Classificação das grades

Quanto ao espaçamento entre barras, as grades se classificam em:

• finas (menor que 2cm);

• médias (de 2 a 4cm); e

• grosseiras (maior que 4cm).

Grades grosseiras em geral são usadas à montante de elevatórias ou em locais de onde


a remoção do material retido é muito difícil. Essas grades geralmente são seguidas de grades
médias ou finas situadas em um ponto mais à jusante.

Crivos

Crivos são placas metálicas perfuradas instaladas transversalmente em um canal por onde
flui o esgoto. O líquido passa pelos furos e os sólidos, de dimensões superiores ao tamanho dos
orifícios, são retidos na placa e se acumulam em uma caçamba situada em sua parte inferior.
A operação de limpeza é realizada da seguinte forma:

1. uma comporta situada no canal deve ser fechada, à montante do crivo;

2. o dispositivo deve ser içado por meio de cabo de aço e manivela;

3. os sólidos da caçamba devem ser removidos manualmente; e

4. o dispositivo deve ser recolocado na posição de operação e abre-se a comporta.

Os crivos são pouco usados devido à dificuldade em realizar a operação de


limpeza e à elevada perda de carga que provocam.

Peneiras

As peneiras são telas metálicas interpostas ao fluxo dos esgotos. Geralmente são utilizadas
quando se deseja remover sólidos de pequenas dimensões. Podem ser montadas em discos
rotativos, tambores giratórios ou molduras metálicas de acionamento vertical.

A remoção do material retido se dá por meio de jato de água, sob pressão, que atravessa
o dispositivo em sentido contrário ao fluxo dos esgotos. O volume do material retido pode ser
estimado entre 15 a 25 1itros por habitante, por ano.

SENAI-RJ 59
Tratamento de esgotos - Tratamento preliminar e primário

Em casos especiais, quando há escassez de área disponível e dependendo do processo de trata-


mento subseqüente, pode-se utilizar peneiras de malhas finas em substituição aos decantadores
primários, o que permite obter eficiência de remoção de sólidos em suspensão da ordem de 20%.

Microgrades

A operação de microgradeamento consiste em fazer o fluxo de esgotos atravessar uma


superfície formada por fios de aço ligeiramente espaçados, de modo a criar uma grade de
pequena abertura.

O espaçamento entre fios (ou abertura da micrograde) varia de 0,025mm a 2,5mm.

A pequena abertura da grade viabiliza a retenção de sólidos de dimensões extremamente


reduzidas, o que permite a utilização do dispositivo para:
• substituir decantadores primários à montante da unidade de tratamento biológico
com grande economia de área, porém com menor eficiência de remoção de sólidos
em suspensão (que raramente ultrapassa os 30%);
• remover sólidos flutuantes à montante de lançamento submarino de esgotos; ou
• remover algas do efluente de lagoas de estabilização.

As microgrades podem ser de dois tipos: tambor rotativo e estáticas.

Tambor rotativo

A micrograde tipo tambor rotativo consiste em um tambor de eixo horizontal cuja superfície
curva é formada pela grade metálica. Sua operação consiste em obrigar o fluxo de esgotos a
atravessar transversalmente o tambor. O líquido pode atravessar inteiramente o tambor, nele
penetrando de cima para baixo na região próxima a sua geratriz superior e dele saindo pela parte
inferior, ou pode atravessá-lo apenas de dentro para fora, penetrando pela parte central.

No primeiro caso o material é retirado da superfície externa do tambor por meio de lâmina
fixa, cuja função é raspar esta superfície à proporção que o tambor executa seu movimento
de rotação. O fato da micrograde ser atravessada pelo esgoto em
ambos os sentidos, força o fenômeno conhecido por “autolimpeza”,
arrastando para fora as pequenas partículas, eventualmente retidas
entre os fios, evitando que se colmate.

No segundo caso, o material retido na região interna do tambor


é removido por jato de água que atravessa de fora para dentro a
Colmatar: tapar
superfície do tambor nas proximidades de sua geratriz superior e
fendas ou brechas,
encaminha o material a canal suspenso, situado longitudinalmente,
relacionada a
em seu interior.
entupimento.

60 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento preliminar e primário

Estática

As microgrades estáticas consistem de telas inclinadas que for-


mam uma superfície por onde o esgoto é obrigado a escoar. O líquido
atravessa a superfície e é removido pela parte inferior da unidade. Os
Colmatação: ter-
sólidos retidos vão rolando sobre a superfície inclinada até caírem
mo muito utiliza-
em um depósito externo.
do para o ato de
Os fios metálicos que formam a micrograde têm um perfil cujo
colmatar, embora
formato impede a acumulação de material entre os espaços visando
colmatagem seja o
evitar a colmatação do dispositivo.
termo encontrado
Periodicamente o operador deve aplicar sobre toda a superfície nos dicionários.
um jato de água de alta pressão para remover partículas eventual-
mente nela retidas.

Em alguns países, como o Chile, peneiras ou microgrades têm sido utiliza-


das com alguma freqüência para tratamento de esgotos imediatamente à
montante de emissários submarinos.

Trituradores

Trituradores ou desintegradores são unidades que capturam os sólidos grosseiros do esgoto


bruto, reduzem seu tamanho por trituração ou corte e, em seguida, devolvem o material ao
esgoto. Geralmente utilizam lâminas giratórias que se movimentam entre as fendas horizontais
de um tambor vertical atravessado pelo esgoto. Os sólidos retidos nas fendas sofrem redução
de tamanho e penetram no tambor com o esgoto.

Segundo seus fabricantes, a vantagem deste tipo de dispositivo é eliminar as operações


de remoção e destino final do material retido. Entretanto, existem desvantagens que precisam
ser também consideradas, tais como:

• produção de mau cheiro;

• abrasão pelas areias;

• colmatação (em virtude da retenção de materiais fibrosos como estopas e tecidos); e

• sobrecarga dos decantadores e digestores devido ao aumento da afluência de sólidos


a estas unidades.

SENAI-RJ 61
Tratamento de esgotos - Tratamento preliminar e primário

Como regra geral, recomenda-se a utilização deste tipo de dispositivo apenas em situa-
ções onde a remoção do material grosseiro retido nos demais dispositivos seja extremamente
inconveniente.

4.1.2 Remoção de areias

A remoção de areias é promovida à montante de uma estação elevatória ou de tratamento


de esgotos com os seguintes objetivos:

• proteger da abrasão as bombas e tubulações;

• evitar o assoreamento de canalizações ou unidades de tratamento; e

• facilitar o transporte do material removido nos decantadores.

Como as areias removidas dos esgotos são constituídas por substâncias minerais não
passíveis de decomposição, elas podem ser encaminhadas ao mesmo destino final dos sólidos
grosseiros removidos na grade.

Os principais tipos de dispositivos utilizados para remoção de areias dos esgotos sanitários são:

• caixas de areia; e

• ciclones.

Caixas de areia

São unidades de tratamento que promovem a separação das areias por diferença de densi-
dade (sedimentação) em virtude do fenômeno (operação unitária) denominado sedimentação
discreta.

Geralmente, as caixas de areia são dimensionadas para reter partículas de diâmetro médio
igual ou superior a 0,2mm. A velocidade horizontal do fluxo em seu interior deve se situar em
torno dos 0,30m/s já que, acima de 0,40m/s, poderia haver o arraste de partículas de menor
diâmetro e, abaixo de 0,20m/s, poderia ocorrer a sedimentação de partículas de matéria
orgânica.

As caixas de areia podem ser de fluxo horizontal ou do tipo vortex. As primeiras consistem
em canais ou tanques de pequena profundidade e fundo horizontal, atravessados pelo esgoto,
nos quais as partículas de areia são retidas por sedimentação. As do tipo vortex são tanques
circulares, em planta e de fundo tronco-cônico, nos quais o esgoto penetra tangencialmente
e a separação das areias ocorre pela centrifugação provocada pelo movimento de rotação do
líquido no interior da unidade. Neste caso, a remoção de areias se dá pela combinação das ações

62 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento preliminar e primário

de sedimentação e da força centrífuga gerada pelo fluxo helicoidal no interior da unidade. O


material retido se deposita no fundo e o líquido é removido pelo centro, junto à superfície da
unidade.

Caixas de areia com remoção manual devem ser sempre instaladas com, no mínimo, duas
unidades em paralelo, pois a operação de limpeza exige a paralisação de uma delas. Por isso
deve-se prover um volume adicional no fundo da unidade com profundidade de 0,2m ocupando
toda a extensão do canal para acumular a areia até a época de limpeza.

O nível de areia deve ser medido periodicamente e, quando a capacidade máxima de


acumulação for atingida, a unidade deve ser esgotada e a areia retirada por meio de pás, baldes
ou caçambas.

As caixas com remoção manual geralmente têm a forma de canais retangulares, com
comprimento cerca de 15 vezes maior que a largura.

As caixas de areia de fluxo horizontal e com limpeza mecânica são dotadas de lâminas
que promovem a raspagem continuada do fundo da unidade, encaminhando as partículas
sedimentadas para poço lateral, do qual são removidas por raspador lateral tipo “vai-vem”,
correia transportadora, caçamba ou parafuso sem-fim. Das caixas tipo vortex o material retido
no fundo é, em geral, removido por ejetor pneumático.

Ciclones

Ciclones são dispositivos de tratamento de formato tronco-cônico que promovem a


separação das areias por ação da força centrífuga. O afluente é admitido tangencialmente e
retirado pelo centro da secção de maior área, o que imprime um movimento helicoidal à massa
líquida.

As partículas de areia são deslocadas para junto da parede e se dirigem, por ação da gravi-
dade, para a seção de menor área, de onde são removidas.

SENAI-RJ 63
Tratamento de esgotos - Tratamento preliminar e primário

4.2 Tratamento primário e


sistemas conjugados
O tratamento primário se destina, primordialmente, à remoção de partículas em suspensão
por diferença de densidade. Como tais partículas são constituídas predominantemente por
matéria orgânica, sua remoção implica reduzir a DBO do esgoto em 30% a 50%.

Caso as condições do corpo receptor suportem a carga orgânica remanescente, o efluente


do tratamento primário pode ser lançado diretamente nele. Caso contrário, o tratamento
primário é utilizado como condicionamento do efluente para submetê-lo a tratamento adicio-
nal, em geral por processos biológicos tais como a filtração biológica e a maioria das variantes
dos lodos ativados.

Os sólidos removidos pelo tratamento primário constituem o chamado lodo primário


que, devido à sua natureza predominantemente orgânica, deve ser submetido a posterior
tratamento.

Em função de sua importância no funcionamento da ETE, o tratamento do


lodo será abordado detalhadamente mais adiante.

A seguir, vamos analisar as principais operações destinadas à remoção de sólidos em


suspensão, a saber:

• decantação;

• flotação por ar dissolvido;

• neutralização;

• equalização; e

• sistemas conjugados (fossa séptica e os tanque Imhoff ).

64 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento preliminar e primário

4.2.1 Decantação

A operação mais amplamente adotada para remoção de sólidos em suspensão é a decanta-


ção, seja simples, ou com adição de coagulantes ou polieletrólitos. Ambas se dão em unidades
de tratamento denominadas decantadores.

A adição de coagulantes ou polieletrólitos aumenta a eficiência da decantação fazendo com


que os flocos formados no processo tendam a se aglutinar a partículas de pequenas dimensões
e arrastá-las para o fundo. Como tais partículas não são removíveis pela sedimentação simples,
este aumento de eficiência pode ser significativo, eventualmente atingindo (ou chegando
próximo a) o patamar dos processos menos eficientes de tratamento biológico.

Atualmente, as exigências cada vez mais rígidas de qualidade de efluentes de estações de


tratamento vêm tornando raro o uso exclusivo do tratamento primário. E, com isto, a coagula-
ção química ou adição de polieletrólitos ao esgoto bruto se encontra praticamente em desuso
(mas ainda é empregada no chamado tratamento avançado ou terciário no qual se adicionam
produtos químicos ao efluente biológico para remover certos compostos específicos). A exceção
é o denominado TPQA - Tratamento Primário Quimicamente Aprimorado (ou CEPT - Chemi-
cally Enhanced Primary Treatment) onde se adicionam sucessivamente, coagulante químico
e polieletrólito em pequenas concentrações contando com o sinergismo entre eles, o que
aumenta significativamente sua ação de coagulação.

Os decantadores utilizados para o tratamento primário são tanques com tempo de de-
tenção variando entre 1 e 2 horas (referido à vazão máxima afluente) nos quais os esgotos
fluem de forma a permitir que as partículas sedimentáveis se depositem no fundo e os sólidos
flutuantes se dirijam à superfície.

A remoção do lodo depositado no fundo pode ser feita por:

• simples pressão hidrostática (decantadores tipo Dortmund);

• dispositivos mecânicos, que raspam o material depositado no fundo, dirigindo-o para


um poço central, do qual é removido por pressão hidrostática; e

• dispositivos mecânicos de remoção do lodo por sucção ou por sifonagem, geralmente


empregados nos decantadores secundários de estações de lodos ativados.

O material flutuante (escuma) é removido por uma lâmina acoplada ao dispositivo de


raspagem do fundo que arrasta a escuma acumulada na superfície líquida para a periferia do
tanque e a encaminha a um poço lateral, junto à borda do decantador, do qual é removida, por
gravidade, e conduzida ao mesmo destino do lodo.

SENAI-RJ 65
Tratamento de esgotos - Tratamento preliminar e primário

Tipos

Os decantadores primários podem ser:


• não-mecanizados; ou
• mecanizados.

Os decantadores não-mecanizados geralmente são de pequeno porte. Seu fundo, em


formato de cone ou pirâmide invertida, tem inclinação de 45º a 60º com a horizontal.

Os decantadores mecanizados são, em geral, de grande porte e podem ter fundo plano ou
pouco inclinado. Neste caso, a utilização do dispositivo mecânico de remoção do lodo implica
economia, tanto em escavação quanto em estrutura.

Quanto à forma em planta, os decantadores podem ser:


• circulares;
• quadrados; ou
• retangulares.

Os decantadores circulares implicam em menor aproveitamento da área disponível, porém


possuem mecanismos de remoção de lodo mais simples e eficientes que os outros dois tipos.

Funcionamento

O esgoto é admitido no decantador através de um dispositivo disciplinador de fluxo que


evita o turbilhonamento e facilita a sedimentação.

Nos decantadores circulares ou quadrados a admissão é feita em geral pelo centro e a re-
tirada do efluente pela periferia. Nos decantadores retangulares a admissão se dá por um dos
lados de menor dimensão e a retirada do efluente pelo lado oposto.

Os dispositivos de entrada podem ser do tipo vertedor com dispositivo disciplinador de


fluxo tipo cortina simples, perfurada ou tubo central. Os de saída são, em geral, vertedores
simples, calhas ou vertedores múltiplos.

A raspagem do lodo depositado no fundo dos decantadores deve ser feita de modo contín-
uo, sem interrupção, para evitar que esse material entre em decomposição anaeróbia dentro
da unidade e se dirija para a superfície, arrastado pelas bolhas de gás formadas no processo.

O lodo removido do decantador primário apresenta teor de umidade de 95%


a 97%, contém grande quantidade de matéria orgânica putrescível, apre-
senta aspecto e odor extremamente desagradáveis e deve ser encaminhado
imediatamente a tratamento.

66 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento preliminar e primário

4.2.2 Flotação por ar dissolvido

A flotação é uma operação unitária destinada a remover sólidos em suspensão e é pouco


utilizada no tratamento primário de esgotos sanitários. Ocorre em tanques de flotação que re-
cebem como afluente esgoto saturado com ar dissolvido em alta pressão. Ao penetrar, através
de uma válvula redutora de pressão, no tanque onde reina a pressão atmosférica, o ar passa à
condição de supersaturação e se desprende da massa líquida, formando bolhas microscópi-
cas que, à medida que se aglutinam, sobem à superfície. Em virtude do fenômeno superficial
denominado adsorção essas bolhas capturam partículas sólidas de baixa densidade que estão
em suspensão e as arrastam para a superfície do tanque, de onde são removidas por dispositivo
de raspagem superficial.

4.2.3 Neutralização

A neutralização é o processo unitário destinado a corrigir o pH dos esgotos, sendo efetuada:

• em tanques de neutralização para despejos ácidos ou alcalinos, através da adição de


uma substância química ácida (em geral, ácido sulfúrico ou clorídrico) ou alcalina
(normalmente, cal, soda cáustica, carbonato de cálcio ou amônia); ou

• através da percolação em leitos de calcário (para despejos ácidos).

Como o pH dos esgotos sanitários não costuma exigir correção, a neutralização é uma
operação unitária de uso restrito aos despejos industriais.

4.2.4 Equalização

A equalização é a operação unitária que visa eliminar as


variações de vazão dos esgotos afluentes. Ocorre nos chamados
tanques de equalização. Esses tanques são dimensionados através
do hidrograma da vazão afluente (curva que mostra a variação
O uso de tanques de
da vazão ao longo do tempo) e podem ser aerados para evitar a
equalização é extre-
entrada do líquido no estado séptico e a conseqüente produção
mamente raro em es-
de mau cheiro.
tações de tratamento
Nas horas em que a vazão afluente for maior que a vazão de esgotos domésticos,
média, um determinado volume de esgoto é armazenado nos sendo mais comum
tanques de equalização, que o libera quando a vazão afluente cai no tratamento de des-
para valores inferiores à média. pejos industriais.

SENAI-RJ 67
Tratamento de esgotos - Tratamento preliminar e primário

4.2.5 Sistemas conjugados

Os sistemas conjugados consistem em unidades de tratamento que recebem esgoto bruto


e promovem, em seu interior, não somente a sedimentação das partículas como também a es-
tabilização parcial do lodo sedimentado. São instalações simples, em que se procura minimizar
a incidência das tarefas de operação e manutenção.

Se, por um lado, sua eficiência é baixa, bastante inferior à dos processos biológicos se-
cundários, por outro sua simplicidade de construção implica em custo extremamente baixo,
fazendo com que essas instalações sejam consideradas alternativas viáveis para o tratamento de
esgotos em regiões não dotadas de rede de esgotos sanitários e, portanto, com vasta aplicação
em casos de domicílios isolados ou de pequenos grupos de edificações.

Fossa séptica

É uma unidade de sedimentação e digestão de fluxo contínuo destinada ao tratamento de


esgotos domésticos.

Fossas podem receber o efluente de um ou mais domicílios (fossas individuais e coletivas).

A construção e a instalação das fossas sépticas são reguladas por norma


específica emitida pela ABNT (NBR 7229)

Funcionamento

A fossa séptica consiste, essencialmente, de um reservatório cilíndrico ou prismático,


dotado de:
• chicanas ou qualquer outro dispositivo tranqüilizador de fluxo junto à entrada e à
saída; e
• uma abertura na parte superior, normalmente fechada com tampões herméticos,
para permitir a inspeção e limpeza.

O período de detenção dos esgotos no interior da unidade varia de 12 horas a 24 horas,


sendo previsto, ainda, um volume adicional para armazenamento do lodo acumulado
entre limpezas sucessivas.

Todos os despejos sanitários domiciliares devem ser encaminhados à fossa séptica que
não deve, entretanto, receber quaisquer contribuições de águas pluviais, inclusive aquelas
provenientes de ralos de áreas internas descobertas.

68 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento preliminar e primário

O efluente de uma fossa séptica deve se apresentar isento de sólidos sedimentáveis, porém
contém uma considerável quantidade de sólidos em suspensão e microrganismos.

A redução de DBO obtida em uma fossa é de cerca de 50%. Seu efluente pode ser
encaminhado a sumidouros, valas de infiltração, galerias de águas pluviais ou lançado
diretamente no corpo receptor.

Parte dos sólidos em suspensão que penetram na fossa são removidos por sedimenta-
ção e se dirigem para o fundo, onde são estabilizados bioquimicamente pelo processo de
digestão anaeróbia. Os sólidos flutuantes se dirigem para a superfície, onde permanecem
retidos pelas chicanas colocadas em frente aos orifícios de entrada e saída. E a matéria
orgânica remanescente no líquido sofre estabilização anaeróbia parcial, face ao elevado
tempo de detenção no interior da unidade.

O processo de digestão anaeróbia será examinado posteriormente no tópico


referente à estabilização do lodo.

Remoção e destino do material

Após a estabilização, o material retido permanece no fundo da fossa e tenderia a ocupar


todo o volume útil caso não fosse periodicamente removido. A remoção deve ser feita em
intervalos de aproximadamente seis meses, sendo que cerca de 10% do material retido no
fundo (lodo digerido) deve permanecer no interior da unidade após a limpeza, para servir
como semeadura de organismos que irão continuar o processo da digestão anaeróbia do
novo material afluente.

Durante a limpeza, ou em qualquer outra ocasião, o lançamento de desinfe-


tantes à fossa deve ser evitado, pois essa prática pode prejudicar o processo
biológico anaeróbio.

Quanto à sua destinação, o lodo removido da fossa pode ser:


• encaminhado ao leito de secagem de uma estação de tratamento de esgotos que
por acaso exista nas proximidades;
• lançado à rede de esgotos sanitários, em certos poços de visita previamente mar-
cados pela autoridade responsável; ou
• enterrado em valetas (de pelo menos 0,60m de profundidade).

SENAI-RJ 69
Tratamento de esgotos - Tratamento preliminar e primário

Tipos

Os diversos tipos de fossa séptica foram desenvolvidos a partir do modelo básico já descrito,
no qual foram introduzidas modificações visando melhorar o seu funcionamento. São eles:
• fossa séptica de câmaras em série, e
• fossa séptica de câmaras sobrepostas.
A fossa de câmaras em série consiste em um tanque longo e estreito no qual foram
introduzidos um ou mais septos verticais perfurados de forma transversal ao sentido do
fluxo, visando subdividir o processo em duas ou mais fases.
Já a fossa de câmaras sobrepostas é obtida a partir da construção, no interior da unidade,
de uma câmara longitudinal ao sentido do fluxo, dotada de fendas na parte inferior, na qual
se processa a sedimentação. Os sólidos sedimentados se dirigem por gravidade, através
da fenda, à câmara inferior, onde se processa a digestão. Esta modificação foi introduzida
com o intuito de evitar a interferência da digestão na sedimentação, não permitindo que,
ao se dirigir à superfície, bolhas de gás ou massas de lodo digerido arrastem partículas
sedimentáveis que se perderiam pela tubulação efluente.

As fossas devem Fossas sépticas devem ser construídas em local de fá-

ser instaladas cil acesso para permitir a limpeza e obedecer às seguintes

em locais do ter- distâncias mínimas:

reno da edificação que facilitem • 20m de poço ou manancial;


a ligação de seu efluente à rede
• 6m de construções; e
de esgotos a ser construída no
futuro. • 12m do limite de terreno.

Tanques Imhoff

Os tanques Imhoff são unidades de tratamento semelhantes às fossas sépticas de câmaras


sobrepostas, delas diferindo apenas no que toca à sua maior capacidade e à possibilidade que
apresentam de remover o lodo digerido por pressão hidrostática, sem paralisar o funcionamento
da unidade. A remoção é feita por meio de tubulação que parte do fundo da unidade.

Tanques Imhoff podem receber a contribuição de até 5.000 habitantes e ser utilizados como
único dispositivo de tratamento ou como estágio de tratamento primário em uma estação de
tratamento biológico.

Em geral, o lodo removido dos Tanques de Imhoff é submetido à secagem natural em


leitos de secagem.

70 SENAI-RJ
Noções de biologia
sanitária
Nesta unidade...

Organismos aeróbios e anaeróbios

Organismos autotróficos e heterotróficos

Organismos de interesse para


o tratamento de esgotos

Metabolismo dos seres vivos

5
Tratamento de esgotos - Noções de biologia sanitária

5. Noções de biologia sanitária

Antes de abordarmos os tratamentos biológicos propriamente ditos, faremos nesta unidade


uma apresentação dos termos que embasam esse tipo de tratamento, enfocando os diferentes
organismos que consomem a matéria orgânica dos esgotos e alguns processos metabólicos
desses organismos.

O tratamento biológico consiste na estabilização da matéria orgânica contida nos esgotos


através de sua oxidação bioquímica promovida pelo metabolismo de certos microrganismos.
O fenômeno é, basicamente, o mesmo que ocorre em condições naturais em corpos líquidos
que recebem descargas de esgotos. O objetivo do tratamento é, portanto, propiciar condições
para que o fenômeno transcorra de forma mais rápida e controlada no interior das unidades
de tratamento.

5.1 Organismos aeróbios e anaeróbios


O consumo bioquímico da matéria orgânica é realizado por dois tipos de organismos:
aeróbio e anaeróbio.

Organismos aeróbios utilizam em seu metabolismo o oxigênio livre encontrado no ambiente.


Neste tipo de metabolismo a energia vital é gerada por meio do processo denominado respiração,
através do qual um conjunto de complexas reações enzimáticas é empregado para transformar
os compostos orgânicos, utilizados como alimento, em glicose, a qual, por sua vez, será oxidada
a fim de gerar energia. A oxidação se processa através de uma série de reações enzimáticas, po-
dendo ser representada, de modo simplificado, pela reação descrita na Equação 5.1:

Equação 5.1

SENAI-RJ 73
Tratamento de esgotos - Noções de biologia sanitária

Os organismos anaeróbios, por sua vez, dispensam o oxigênio do ambiente, já que são
capazes de produzir energia sem o seu uso através de um procedimento denominado fermen-
tação. Nesse tipo de metabolismo os produtos finais não são estáveis, como no caso anterior.
Em conseqüência disso, o rendimento energético é menor, pois os compostos instáveis ainda
contêm alguma energia.

O procedimento básico da fermentação pode ser expresso, de modo simplificado, pela


reação química representada na Equação 5.2:

Equação 5.2

O tratamento de esgotos adota os dois procedimentos citados. Os organismos


que os promovem são predominantemente bactérias, havendo, entretanto,
uma grande variedade de outros organismos também participantes dos
processos biológicos de tratamento.

5.2 Organismos autotróficos e


heterotróficos
Além dos seres vivos que intervêm no tratamento de esgotos promovendo o consumo
bioquímico da matéria orgânica, nos interessa ainda os organismos utilizados como fonte de
oxigênio no processo de tratamento denominado lagoa de estabilização.

Tais organismos são as algas que, através da fotossíntese, utilizam o gás carbônico e a
energia luminosa para sintetizar a matéria orgânica da qual irão se nutrir, liberando para o
ambiente o oxigênio produzido. A fotossíntese pode ser representada de forma simplificada
pela reação representada na Equação 5.3:

Equação 5.3

74 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Noções de biologia sanitária

As lagoas de estabilização serão discutidas em outro tópico, onde serão


abordados a teoria do processo, os fatores intervenientes e seus critérios de
dimensionamento.

Algas são organismos aquáticos que proliferam em grande quantidade nas chamadas lagoas
de estabilização. Enquanto o oxigênio (produzido pela fotossíntese e liberado na massa líquida)
é utilizado pelos organismos aeróbios presentes na lagoa para estabilizar a matéria orgânica
dos esgotos, a glicose, resultante da reação, é usada para a nutrição das próprias algas.

Assim, a matéria orgânica consumida pelas algas é fabricada por elas mesmas. Por serem
capazes de sintetizar o próprio alimento a partir de compostos inorgânicos utilizando uma
fonte de energia externa, as algas são denominadas organismos autotróficos.

Além das algas e demais vegetais clorofilados, existem outros seres autotróficos,
inclusive algumas bactérias.

Os seres incapazes de sintetizar seu próprio alimento só podem se nutrir da matéria


orgânica disponível no ambiente em que vivem, notadamente do material celular dos demais
seres vivos. Tais seres são denominados heterotróficos.

5.3 Organismos de interesse


para o tratamento de esgotos
Existem diversos grupos de organismos envolvidos nos processos biológicos de trata-
mento de esgotos. A seguir, vamos examinar alguns deles, de forma sucinta, abordando suas
principais características.

Rotíferos

Os rotíferos são animais multicelulares, aeróbios e heterotróficos. Alimentam-se de partícu-


las de matéria orgânica e de bactérias. Sua presença nas unidades de tratamento biológico
indica um elevado grau de eficiência.

SENAI-RJ 75
Tratamento de esgotos - Noções de biologia sanitária

Crustáceos

Os crustáceos são animais multicelulares, aeróbios e heterotróficos, providos de uma


casca ou envoltório protetor de elevada resistência. São utilizados como alimento pelos peixes,
existindo abundantemente em certos corpos d’água naturais.

Crustáceos necessitam de oxigênio livre em concentrações mais elevadas que os protistas


e, por isso mesmo, não costumam proliferar em estações de tratamento de esgotos, exceto em
lagoas de estabilização que operam subcarregadas. Neste caso, certas espécies de microcrustá-
ceos, notadamente os do gênero bosmina, experimentam grande floração, cobrindo a superfície
das lagoas e transmitindo-lhe uma coloração avermelhada. A presença de crustáceos indica
um efluente com baixa concentração de matéria orgânica e elevado teor de OD.

Vírus

Os vírus são as estruturas biológicas mais simples. São os menores seres capazes de conter
as informações necessárias à sua reprodução. Seu tamanho é tão diminuto que apenas podem
ser vistos através do auxílio de um microscópio eletrônico.

Vírus consistem, essencialmente, de uma molécula de ácido desoxirribonucléico (DNA)


ou de ácido ribonucléico (RNA) envolta em uma cápsula protéica.

Vírus não se nutrem nem necessitam produzir energia. Sua única função é se reproduzir.
São obrigatoriamente parasitas e se reproduzem através da invasão de uma célula, cujos
mecanismos de reprodução se utilizam para replicar o material de que são constituídos.
Assim, quando penetram em uma célula, os vírus se reproduzem rapidamente, destruindo
a célula parasitada, que se rompe e libera um enorme número de novos vírus à procura de
novas células para invadir e, assim, continuar o processo de reprodução.

Para o tratamento de esgotos, esses organismos são importantes devido a dois aspectos:

1. Grande número de espécies de vírus são patogênicos para o homem e a sua resistência
aos processos usuais de desinfecção é extremamente elevada. Além disso, os vírus apre-
sentam uma sobrevivência muito mais longa do que as bactérias após o lançamento aos
corpos receptores, o que constitui sério problema sanitário.

2. Alguns vírus são parasitas específicos de determinadas bactérias. Esse tipo é denomi-
nado bacteriófago e pode ser utilizado para o controle de certas bactérias patogênicas
em estações de tratamento de esgotos. Este assunto encontra-se ainda em fase de pes-
quisas.

76 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Noções de biologia sanitária

Protistas

Conjunto de seres que há alguns anos eram designados coletivamente por micróbios.
Seu agrupamento em um novo reino da natureza foi proposto pelo naturalista alemão Ernst
Haeckel em 1866. A partir de então se considera que os seres vivos da natureza se agrupam
em três reinos:

• vegetal;

• animal; e

• protistas.

O reino dos protistas é formado pelos protozoários, fungos, algas e bactérias. A característica
comum a todos os protistas e que os distingue dos demais seres vivos é o fato de não apresen-
tarem diferenciação de células e tecidos, ou seja, são organismos unicelulares (formados por
uma única célula ou por um conjunto de células idênticas). As características dos protistas de
maior interesse para o tratamento dos esgotos serão discutidas a seguir.

Protozoários

Os protozoários são organismos microscópicos, móveis e geralmente unicelulares. Dentre


os protistas, são os seres mais desenvolvidos. Embora não dispondo de órgãos ou tecidos, dis-
põem de certas estruturas internas que cumprem o papel exercido pelos órgãos nos organismos
superiores. Estas estruturas são denominadas organelas.

Em sua grande maioria os protozoários são aeróbios, havendo, entretanto, algumas espécies
anaeróbias. São de maior porte que as bactérias e freqüentemente se nutrem delas, o que os
torna particularmente úteis para a engenharia sanitária por contribuírem para a manutenção
do equilíbrio biológico nas unidades de tratamento.

Existem alguns protozoários patogênicos, como a endamoeba histolítica (relacionado a


distúrbios intestinais) e plasmodium (relacionado à malária).

A presença de protozoários nas unidades de tratamento biológico, notadamente de certos


ciliados livres, denota bom funcionamento da unidade.

Ciliado: também denominado cilióforo, é uma espécime de organismo pro-


tista dotado de cílios para a locomoção e auxílio na alimentação.

SENAI-RJ 77
Tratamento de esgotos - Noções de biologia sanitária

Fungos

Os fungos de interesse para a engenharia sanitária são organismos multicelulares (porém


formados por agrupamentos de células idênticas) e heterotróficos. A grande maioria dos fungos
é estritamente aeróbia. Suas necessidades de nitrogênio como nutriente básico são extrema-
mente baixas e podem sobreviver em ambientes muito ácidos (resistem a pH de até 2). Essas
duas propriedades os tornam muito úteis para o tratamento de certos despejos industriais.

Podem se desenvolver em ambientes com baixa umidade, sendo extremamente atuantes


na operação denominada compostagem de lodo e resíduos sólidos.

Algas

São organismos uni ou multicelulares, autotróficos e fotossintéticos. Sua importância para


a engenharia sanitária deriva de três características:

1.Determinadas espécies de algas segregam compostos que transmitem à água sabor e


odor indesejáveis. Além disso, se admitidas em uma estação de tratamento de águas,
podem colmatar rapidamente as unidades de filtração.

2.Em corpos líquidos ricos em nutrientes, com pouca movimentação e baixa renovação
de águas, as algas podem se reproduzir tão intensamente que chegam a cobrir toda
a superfície líquida, arruinando o seu valor estético e podendo até mesmo impedir a
navegação.

3.As algas, sendo organismos fotossintéticos, são utilizadas nas lagoas de estabilização
como fonte de oxigênio.

Além da fotossíntese, abordada anteriormente, as algas se valem do processo denomi-


nado respiração, através do qual a matéria orgânica, por elas próprias sintetizadas, é oxidada
bioquimicamente para a produção da energia vital segundo o ciclo aeróbio.

A respiração, ao contrário da fotossíntese, não depende de energia luminosa. Ela é exer-


cida continuamente para fornecer energia para as funções vitais dos organismos aeróbios. Por
essa razão, corpos líquidos onde as algas contribuem significativamente para a manutenção
do OD como certos corpos naturais e particularmente as lagoas de estabilização, apresentam
uma variação cíclica do teor de OD ao longo das 24 horas do dia devido à variação do fluxo
de energia luminosa. A concentração de OD aumenta durante período diurno porque nele a
produção de oxigênio por fotossíntese é maior que o consumo pela respiração e se reduz no
período noturno em virtude de cessar a produção de oxigênio, mas persistir o consumo.

Para sintetizar seu material celular, além do carbono (contido no CO2), as algas necessi-
tam de outros nutrientes básicos, notadamente nitrogênio e fósforo. A proporção desses três

78 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Noções de biologia sanitária

elementos considerada ideal para a reprodução da maioria das algas é de 370 (C): 20 (N): 1 (P).
A inexistência de um dos elementos impede a reprodução das algas, enquanto a existência de
um deles abaixo da proporção indicada torna-se fator limitante para seu crescimento. Esse fato
é importante sob dois aspectos:

1.Em uma lagoa de estabilização a existência de algas é fundamental para o próprio fun-
cionamento do processo. Assim sendo, é imprescindível que o esgoto afluente contenha
tais nutrientes básicos. O esgoto doméstico normalmente supre essas necessidades de
nutrientes em quantidades adequadas, o que nem sempre ocorre com certos despejos
industriais, que além da escassez de nutrientes podem conter substâncias tóxicas para
as algas. Por isso as lagoas de estabilização não são particularmente adequadas para o
tratamento deste tipo de despejo industrial ou para tratar efluentes sanitários que os
contenham em proporção significativa.

2.O segundo aspecto está relacionado ao controle de proliferação de algas em corpos líqui-
dos. Aqui, a situação é exatamente a oposta, ou seja: a intenção é limitar o crescimento das
algas através da remoção de um ou mais nutrientes básicos do efluente lançado ao corpo
receptor. Dada a evidente impossibilidade de se remover todos os compostos de carbono
do efluente de uma ETE, o que se procura fazer é remover grande parte do nitrogênio, do
fósforo ou de ambos. Em geral, o fósforo é removido por precipitação química, enquanto
a remoção do nitrogênio se dá por processos biológicos ou químicos.

Bactérias

São seres unicelulares que se alimentam de substâncias dissolvidas. Isso não significa que
partículas de matéria orgânica em suspensão não possam ser utilizadas por esses organismos.
Vejamos o que ocorre com tais partículas:

• elas são captadas pelas células por adsorção;

• em seguida são transformadas em substâncias dissolvidas por meio de reações com


enzimas extracelulares, segregadas pelas próprias bactérias; e

• posteriormente são admitidas para o interior da célula através da membrana celular


(por osmose).

A absorção de compostos solúveis pela célula, assim como a adsorção das partículas, são
fenômenos muito rápidos. Mas a solubilização (hidrólise) das partículas adsorvidas é muito
mais lenta, fato que assume importância na variante do processo de LA (lodo ativado) denomi-
nada bioadsorção ou estabilização por contato, como veremos ao discutir as características
das variantes de LA.

A forma (aspecto físico) das bactérias varia de acordo com a espécie. Mas embora existam

SENAI-RJ 79
Tratamento de esgotos - Noções de biologia sanitária

milhares de diferentes espécies bacterianas, suas células se apresentam apenas sob três formas
básicas:

• Bactérias esféricas - são denominadas cocos. Medem de 0,5 a 1 mícron de diâmetro e


podem se apresentar agrupadas em cadeias (estreptococos) ou em cachos (estafilococos).

• Bactérias cilíndricas – denominam-se bacilos. Suas dimensões variam de 0,3 a 1,5 micra
de diâmetro e de 1 a 10 micra de comprimento, de acordo com a espécie. Bactérias
cilíndricas encurvadas chamam-se vibriões.

• Bactérias helicoidais - são denominadas espirilos e podem atingir comprimento de


até 50 micra.

As bactérias consistem de um plasma interior denominado citossoma contido por uma


membrana celular que controla a passagem de nutrientes para o interior da célula e de produtos
excretados para fora da mesma. No interior da célula encontra-se o material nuclear, que con-
trola a organização da atividade celular e contém as informações genéticas do organismo.

Algumas espécies são providas de um


apêndice, denominado flagelo, responsável
Apêndice – parte saliente do
por sua mobilidade. Podem ainda apresentar
corpo de um animal, usada
uma camada de material gelatinoso circun-
em diversas funções como lo-
dando a membrana celular, denominada
comoção e alimentação; filamento.
cápsula.
Cissiparidade - Forma de reprodução
Análises da composição do material
assexuada em que um organismo
celular de diversas espécies bacterianas de-
unicelular (p. ex., uma bactéria) se di-
monstraram que 80% desse material se cons-
vide em dois organismos unicelulares
titui de água; os 20% restantes constituem-se,
semelhantes.
principalmente, de matéria orgânica (90%)
e poucos compostos minerais de fósforo,
enxofre, sódio, cálcio, magnésio e ferro. Uma composição média para a fração orgânica seria
C5H7O2N. Como todos esses elementos são obtidos do ambiente, a carência de qualquer um
deles poderá limitar o crescimento.

Em geral, as bactérias se reproduzem assexuadamente por cissiparidade. O volume original


da célula se expande. Ao se expandir, é formada uma constrição em sua parte média, gerando
dois compartimentos que permanecem unidos por algum tempo. Em seguida, os comparti-
mentos se separam para constituir duas novas células.

É importante considerar que, do ponto de vista conceitual, crescimento bacte-


riano significa aumento do número de organismos e não do seu tamanho.

80 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Noções de biologia sanitária

O tempo requerido para que uma nova célula volte a se bipartir denomina-se tempo de
geração e varia de 20 minutos até alguns dias em função das condições ambientais, da dispo-
nibilidade de nutrientes e de outros fatores. Isso significa que, se nenhum fator limitante do
crescimento se manifestar, a população bacteriana tende a dobrar a cada tempo de geração,
configurando o chamado crescimento geométrico.

Na prática, no entanto, o crescimento bacteriano é limitado por diversos fatores. Os


mais importantes são: temperatura, pH, tensão de oxigênio e umidade, conforme veremos a
seguir.

Temperatura

Cada espécie se reproduz em uma determinada faixa de temperatura; isso significa


que a temperatura pode agir como fator de seleção de espécies. Considerando as faixas
propícias à reprodução, as bactérias, em geral, são classificadas em:

• psicrófilas - sobrevivem na faixa de 2°C a 20°C , sendo considerada como faixa


ótima a que vai de 12°C a 18°C;

• mesófilas - sobrevivem na faixa de 20°C a 45°C, sendo considerada como faixa ótima
a que vai de 28°C a 38°C; e

• termófilas - sobrevivem na faixa de 45°C a 75°C , sendo considerada como faixa


ótima a que vai de 55°C a 65°C.

Além de ter efeito seletivo, a temperatura influi fortemente sobre a taxa de crescimento
bacteriano; esse efeito é exponencial, duplicando a taxa a cada incremento de 10°C (Lei
de Arrhenius).

pH

A maioria das espécies bacterianas é favorecida por um pH próximo da neutralidade


(valor igual a 7), sendo a faixa ótima situada entre 6,5 e 7,5.

Fora desta faixa, a taxa de crescimento se reduz drasticamente.

A maioria das bactérias tem seu crescimento completamente inibido em


meios de pH inferior a 4 ou superior a 9,5.

SENAI-RJ 81
Tratamento de esgotos - Noções de biologia sanitária

Tensão de oxigênio

Segundo a forma pela qual utilizam o oxigênio para suas reações metabólicas, as bactérias
podem se classificar em: essencialmente aeróbias, essencialmente anaeróbias, ou facultativas.

As primeiras, apenas sobrevivem na presença de oxigênio livre. As essencialmente anae-


róbias apenas sobrevivem na ausência do oxigênio, que é inibidor de seu crescimento. E as
facultativas podem se utilizar ou não do oxigênio livre, empregando tanto o metabolismo
aeróbio quanto o anaeróbio. No entanto, utilizam, preferivelmente, o oxigênio livre, ou
seja, sempre que houver disponibilidade de oxigênio no ambiente, elas se comportam
como aeróbias.

Umidade

A água é essencial para o crescimento bacteriano. As bactérias apenas se reproduzem


em meio líquido. A maioria das espécies é insensível à salinidade do meio.

5.4 Metabolismo dos seres vivos


Os processos biológicos de tratamento de esgotos se alicerçam na capacidade apresentada
por certos organismos de estabilizar bioquimicamente um substrato orgânico. O processo em
que um organismo se utiliza de um dado substrato para a produção de energia vital e novo
material celular denomina-se metabolismo. A unidade de tratamento onde se promovem tais
fenômenos é o reator biológico.

O objetivo do tratamento biológico é reduzir a massa de substrato contida no esgoto para


impedir que esse substrato venha a ser consumido no corpo receptor, provocando queda do
teor de oxigênio dissolvido em suas águas. A redução da massa de substrato é efetuada pelo
metabolismo dos organismos presentes através de reações bioquímicas extremamente com-
plexas.

O substrato orgânico contido nos esgotos domésticos é bastante heterogêneo, constituído


por uma enorme diversidade de compostos. A biota existente em um reator biológico também
é complexa, sendo formada por uma grande quantidade de organismos de diversas espécies.
Nela coexistem bactérias, fungos, algas, protozoários, rotíferos, crustáceos, etc.

A distribuição relativa do número e das espécies de organismos oferece um quadro das


condições de equilíbrio do sistema e de sua capacidade de reduzir o substrato. Entretanto,
no que concerne à remoção de substrato, as bactérias são, de longe, as mais importantes nos
processos de tratamento.

82 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Noções de biologia sanitária

5.4.1 Processo metabólico das bactérias aeróbias

Algumas unidades de tratamento utilizam organismos anaeróbios. Contudo, a imensa


maioria dos reatores biológicos emprega organismos aeróbios, dentre os quais predominam
as bactérias; por isso, a nossa discussão vai se centrar no metabolismo aeróbio bacteriano.

O processo metabólico das bactérias aeróbias pode ser entendido, de forma simplificada,
como a soma de três atividades concomitantes: osmose, síntese e respiração endógena, con-
forme veremos a seguir.

Osmose

É um fenômeno de transporte de massa entre soluções de diferentes concentrações sepa-


radas por uma membrana com características especiais (membrana semipermeável).

O substrato é removido do ambiente para o interior do organismo por osmose, através da


membrana celular, dos compostos dissolvidos do meio e também dos compostos previamente
adsorvidos e solubilizados pelas enzimas segregadas pelo organismo. O substrato introduzido
na célula é utilizado tanto como fonte de energia quanto como matéria-prima para a fabrica-
ção (síntese) do material celular dos organismos. O acúmulo do substrato no interior da célula
corresponde a armazenamento de energia.

Síntese

Parte do substrato armazenado é utilizada para a formação do material celular, por meio
de uma série de reações bioquímicas extremamente complexas. Tais reações utilizam como
reagentes determinados compostos presentes no ambiente e, como catalisadores, as enzimas
produzidas pelas próprias células. Essas enzimas são essenciais para o metabolismo, sendo
específicas para o substrato, ou seja: a célula deve produzir uma enzima para cada tipo de
substrato utilizado. É a ação das enzimas que distingue as reações bioquímicas das simples
reações químicas. Reações bioquímicas são sempre catalisadas por enzimas.

Por meio das reações de síntese as células conseguem produzir todo o seu material celular
a partir de compostos mais simples, presentes no ambiente. Os aminoácidos, por exemplo, são
utilizados para produzir proteínas.

O processo de síntese de material celular é denominado anabolismo.

Respiração endógena

Sendo a síntese um processo que produz moléculas mais complexas a partir de moléculas
mais simples, evidentemente impõe certo dispêndio de energia. Além da energia consumida
nos processos anabólicos, o ser vivo necessita de energia para desempenhar certas funções

SENAI-RJ 83
Tratamento de esgotos - Noções de biologia sanitária

vitais como mobilidade, transporte de massa no interior da célula, etc. Essa energia é obtida
pela oxidação de parte do substrato previamente armazenado. O processo de produção de
energia vital denomina-se catabolismo.

Assim, o substrato orgânico, introduzido na célula, é parcialmente utilizado para for-


mação de novo material celular (anabolismo) e o restante, usado para a produção de energia
(catabolismo). Ao processo global de utilização de substrato, constituído por essas duas fases
concomitantes, denomina-se metabolismo.

Reações de oxidação geralmente liberam energia sob a forma de calor. Entretanto, como
as bactérias não são máquinas térmicas, não poderiam utilizar a energia assim liberada. Por
isso a energia gerada pelo catabolismo é armazenada sob a forma de compostos de elevado
teor energético (trifosfato de adenosina, ou ATP), através de um ciclo altamente complexo de
reações enzimáticas coordenadas, nas quais as perdas de energia térmica são minimizadas.

O composto diretamente metabolizado para a produção de energia é a glicose (C6H12O6).


Como vimos, sua oxidação aeróbia pode ser representada, de modo simplificado, pela reação
expressa na Equação 5.1.

Na realidade esta reação química é uma representação extremamente simplificada de


uma cadeia de 21 reações bioquímicas sucessivas, cada uma delas catalisada por uma enzima
específica, nas quais a glicose é, inicialmente, transformada em ácido pirúvico através do ciclo
Emben-Meyeroff Pornas (EMP). A seguir, esse composto é oxidado através do denominado
ciclo de Krebs, com a produção de água, gás carbônico e energia. A energia é, então, armazenada
sob a forma de ATP e utilizada pelo organismo nas reações de síntese e demais funções vitais.

A energia vital é essencial à sobrevivência do organismo, especialmente em condições


ambientais adversas. Assim, em certas condições, sobretudo quando há escassez de substrato
no ambiente, a célula obtém energia da seguinte forma:

• inicialmente, pela oxidação de substrato armazenado em seu interior; e

• a seguir, pela oxidação do próprio material celular; ou seja: a célula se utiliza como subs-
trato do próprio material previamente sintetizado por si mesma ou por outras células.

Esse processo de utilização do material celular é denominado respiração endógena.

Conforme visto anteriormente, 90% do peso seco do material celular se constitui de ma-
téria orgânica, o que resultou na adoção dos SSV (sólidos em suspensão voláteis) como repre-
sentativos da massa de organismos presentes nos reatores biológicos. Entretanto nem toda a
matéria orgânica é biodegradável, ou seja, pode ser utilizada pelos organismos como fonte de
energia na respiração endógena. Vejamos por que.

Cerca de 20% da fração orgânica do material celular é constituída por sólidos voláteis
dificilmente biodegradáveis formados, em sua maioria, por polissacarídeos complexos oriundos

84 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Noções de biologia sanitária

da cápsula bacteriana. Isso significa que 20% dos sólidos voláteis do material celular dos or-
ganismos, consumidos por respiração endógena, tendem a permanecer no sistema.

Também já foi mencionado que a respiração endógena assume importância em condições


de escassez de substrato. Nesta situação há uma tendência para o acúmulo no meio líquido de
SSV não-biodegradáveis oriundos da respiração endógena.

Esta parcela dos SSV é denominada resíduo endógeno, que se torna maior à medida que
diminui a disponibilidade de substrato. Nestes casos a massa dos SSV já não representa a massa
de organismos contidos no reator com um grau de aproximação razoável. Esse fenômeno as-
sume importância significativa nos processos de tratamento em que o tempo de permanência
dos organismos no sistema é elevado, como a variante do processo de LA, denominada aeração
prolongada.

SENAI-RJ 85
Filtros biológicos

Nesta unidade...

Composição e funcionamento dos filtros biológicos

Reator biológico rotativo de contato

6
Tratamento de esgotos - Filtros biológicos

6. Filtros biológicos

Os filtros biológicos (FB) nasceram no final do século passado como uma tentativa de
aplicar aos esgotos as mesmas técnicas de filtração em areia utilizadas no tratamento de água.
A experiência mostrou que adaptações precisavam ser feitas para o caso do uso desses filtros
ao esgoto.

6.1 Composição e funcionamento


dos filtros biológicos
No início do seu uso, observou-se que os filtros de areia se colmatavam rapidamente ao
receber os esgotos, mas ofereciam um efluente com sensível redução da DBO, embora com
razoável presença de sólidos em suspensão. Pesquisando a razão desse fenômeno, constatou-
se que em torno dos grãos de areia do filtro se formava uma película gelatinosa, constituída
de colônias de organismos que utilizavam a matéria orgânica dos esgotos como alimento
estabilizando-a parcialmente. Essa experiência foi então aproveitada no tratamento de esgoto,
como uso de granulometria do meio aumentada até um ponto em que não mais houvesse a
colmatação. Isso foi feito substituindo a areia por cascalho ou pedra britada.

O processo inicial era operado em batelada nos dispositivos denominados leitos de contato,
constituídos por tanques cheios de pedra britada ou cascalho para os quais se encaminhavam
os esgotos até submergir as pedras. O líquido permanecia em contato com as pedras durante
certo período após o qual o leito era esvaziado, permanecendo em repouso por mais algum
tempo; depois, o ciclo era reiniciado. Os ciclos duravam 12 horas das quais 6 horas eram des-
tinadas à permanência do leito em repouso.

SENAI-RJ 89
Tratamento de esgotos - Filtros biológicos

O processo apresentava grandes limitações, dentre as quais ressaltamos:

• o fato de ser operado em batelada;

• o período prolongado de repouso necessário;

• a pequena carga orgânica suportada; e

• a tendência de colmatação do meio.

Para evitar esses inconvenientes procurou-se operar o processo continuamente aspergindo


os esgotos sobre as pedras com o uso de bocais fixos que irrigavam a área circunjacente e
faziam os esgotos percolarem entre as pedras, sem jamais preencher inteiramente os vazios
onde circulava o ar atmosférico.

Ainda hoje existem alguns poucos filtros biológicos utilizando bocais fixos. Entretanto, a
tendência à obstrução dos bocais levou à adoção dos distribuidores rotativos, hoje utilizados
quase que universalmente.

Os distribuidores rotativos consistem de uma tubulação horizontal que gira em torno


de um eixo vertical situado no centro do filtro biológico. O esgoto, introduzido por esse eixo,
escoa através dos dois braços perfurados, formados pela tubulação horizontal. As perfurações
são dispostas horizontalmente ao longo de cada braço, em lados opostos. Ao escoar por esses
orifícios o líquido forma um sistema de forças tipo binário que faz a tubulação horizontal se
movimentar, girando em torno do eixo central, em um efeito idêntico ao do molinete hidráulico,
desta forma distribuindo homogeneamente o líquido por toda a superfície da unidade.

A grande vantagem desse tipo de distribuição é a economia de energia, pois não é necessária
nenhuma fonte de energia externa para acionar o mecanismo exceto a própria energia hidráu-
lica aplicada ao dispositivo.

Na Figura 6.1 pode-se observar que filtros biológicos dotados de distribuidores rotativos
são constituídos de tanques circulares cujo enchimento consiste de um meio através do qual
o líquido percola e na superfície do qual se fixam as colônias de organismos que efetuarão o
tratamento de esgotos.

O nome filtro biológico é inadequado, pois o fenômeno que nele se desenrola


não é uma filtração, mas sim uma percolação. No entanto é de uso corrente
e será aqui utilizado.

90 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Filtros biológicos

Figura 6.1- Diagrama esquemático do filtro biológico

6.1.1 Características do meio percolante

O meio percolante pode ser constituído de qualquer material, desde que preencha as
seguintes condições:
• não ser solúvel em água, nem ser atacado quimicamente pelas substâncias presentes
nos esgotos;
• apresentar grande superfície livre por unidade de volume;
• apresentar um coeficiente de vazios suficientemente grande para permitir que o líquido
percole livremente através do meio e o ar atmosférico escoe facilmente pelos vazios;
• não ser sujeito à obstrução;
• ter grande durabilidade; e
• apresentar baixo custo.

Geralmente, o meio utilizado é a pedra britada, com diâmetro aparente de 2,5. a 7,5cm,
que preenche as condições exigidas e é encontrada na maioria das regiões do país. Porém,
em determinadas localidades onde há carência desse material ou em certos casos, quando se
deseja diminuir o peso da unidade, outros materiais podem ser utilizados.

SENAI-RJ 91
Tratamento de esgotos - Filtros biológicos

A literatura tem apontado o uso de vários meios percolantes como, por exemplo, lava vul-
cânica, carvão mineral, escória de alto forno, etc. Não há praticamente nenhuma restrição em
usá-los, exceto as condições já listadas; por isso, materiais pouco convencionais como espigas
de milho e cascas de coco têm sido também empregados.

No Estado do Rio de Janeiro, Município de Maricá, há uma ETE na qual o


meio percolante de pedra britada foi substituído por varas de bambu de-
vido à necessidade de reduzir o peso da unidade de tratamento que sofria
um processo de recalque do terreno. A ETE funcionou assim por vários anos
apresentando excelentes resultados.

Ultimamente vem se difundindo a tendência de utilizar meios percolantes de materiais


plásticos. Neste caso o enchimento do filtro consiste de colméias de plástico de formato ir-
regular, cuja forma varia de acordo com o fabricante.

Meios plásticos são fáceis de transportar, leves, simples de montar no interior da unidade
e altamente eficientes. Sua principal desvantagem é o custo, bem mais elevado que o dos ma-
teriais usuais.

6.1.2 Sistema de drenos

O líquido, após atravessar o meio percolante, é removido pelo fundo da unidade através
de um sistema de drenos formado por canais cobertos com grelhas ou por telhas drenantes, as-
sentadas no fundo da unidade. Os drenos convergem para um canal central que escoa o líquido
para fora do filtro biológico, cujo fundo é ligeiramente inclinado no sentido do canal central.

O sistema de drenos cumpre duas funções importantes:

• propicia o escoamento do líquido para fora da unidade; e

• é responsável pela circulação do ar no interior do meio percolante.

Para cumprir as suas funções os drenos devem ser dimensionados para atuar como canais,
sem jamais permanecer afogados mesmo ao receber a vazão máxima admissível. Devem ainda
ser abertos em ambas as extremidades para se comunicar com a atmosfera.

O fluxo de ar através dos drenos e do meio percolante pode ser natural ou forçado.

92 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Filtros biológicos

Fluxo natural

Filtros biológicos descobertos utilizam a ventilação natural. Neste caso o sentido do fluxo
de ar depende da diferença de temperatura entre o ar externo e o contido nos vazios do meio
percolante. Em geral, a ventilação natural é satisfatória desde que sejam atendidas as seguintes
condições:

• os drenos precisam ser dimensionados de forma a escoar no máximo à meia seção;

• os drenos devem ser abertos na extremidade de montante; e

• o canal central necessita ser aberto em ambas as extremidades.

Fluxo forçado

O fluxo forçado de ar é utilizado em filtros cobertos em cuja cúpula são instalados venti-
ladores que insuflam o ar para o interior da unidade.

Neste caso o fluxo se dá no sentido do escoamento dos esgotos (de cima para baixo) para
evitar que gases formados no processo biológico corroam as partes metálicas do distribuidor
rotativo e dos ventiladores mantidos em ambiente fechado.

6.1.3 Controle da mosca de filtro

Um dos inconvenientes da utilização dos FB é a proliferação da chamada mosca de filtro


(psychoda alternata), pequeno inseto que se reproduz no interior do meio percolante. Seu raio
de ação atinge apenas algumas centenas de metros, mas podem ser levadas mais longe pelo
vento. Elas se reproduzem com tamanha rapidez que podem cobrir inteiramente as paredes
das edificações vizinhas ao filtro. Além disso, são extremamente incômodas, penetrando na
boca e no nariz das pessoas. Seu ciclo vital varia de 7 a 22 dias.

A proliferação desse inseto pode ser controlada por meio do afogamento (inundação
controlada) da unidade, que segue os seguintes passos:

1.fechar a comporta do canal de saída do filtro, permitindo que ele seja inundado pelo
esgoto, de onde o líquido é removido por vertedor superficial;

2.remover do filtro, por meio de um vertedor junto à superfície, as larvas de moscas que
tendem a flutuar; e

3.restabelecer o funcionamento normal abrindo a comporta.

SENAI-RJ 93
Tratamento de esgotos - Filtros biológicos

Essa operação deve ser executada em intervalos inferiores ao ciclo vital da psychoda. Em
casos extremos de proliferação pode-se apelar para a cloração do afluente, de forma a pro-
duzir um residual de cloro da ordem de 0,5 a 1 mg/L ou então pode-se também fazer uso de
inseticidas.

A prática da cloração do afluente deve ser empregada apenas em último caso,


pois pode prejudicar os organismos intervenientes no processo de tratamento.
Os inseticidas também devem ser usados com cautela, já que acabam sendo
lançados ao corpo receptor.

6.1.4 Organismos presentes no FB

Em sua grande maioria, os organismos presentes no filtro biológico são bactérias da es-
pécie zooglea ramigera, o que levou ao uso da denominação genérica zooglea para a camada
gelatinosa que recobre os elementos do meio percolante. Além de bactérias (aeróbias, an-
aeróbias e facultativas), o conjunto de organismos consiste em fungos, algas (que existem
somente junto à superfície, onde há luz) e protozoários. É possível ainda encontrar vermes
e larvas de insetos que, juntamente com os protozoários, alimentam-se de bactérias,
contribuindo para o equilíbrio biológico do processo.

Os principais agentes da estabilização da matéria orgânica são as bactérias. A zooglea que


recobre os elementos do meio percolante apresenta, usualmente, uma espessura de alguns
décimos de milímetros. Os organismos que se situam na superfície externa, em contato com
o esgoto e o ar atmosférico, são predominantemente aeróbios ou facultativos.

O oxigênio do ar pode se difundir pela camada de zooglea. Porém seu consumo é muito
rápido e todo o oxigênio disponível pode ser consumido na zona mais externa da camada de
zooglea. Por isto, à medida que ela aumenta de espessura, forma-se na zona mais interna, próx-
ima ao meio percolante, uma camada de organismos anaeróbios que podem sobreviver porque
não necessitam de oxigênio e se alimentam da matéria orgânica dos esgotos que atravessa
as camadas externas. Porém, na proporção que aumenta a espessura total da camada, os or-
ganismos anaeróbios deixam de receber alimento (que é inteiramente utilizado nas camadas
externas). Esta falta de alimento acaba levando-os à morte, o que os faz perder a habilidade
de aderir ao meio percolante. Como conseqüência, fragmentos de zooglea se desprendem dos
elementos do meio percolante e são arrastados para fora da unidade. A rapidez com que a
massa de zooglea é removida depende da massa de substrato disponível (carga orgânica sobre
o filtro) e da velocidade de percolação do líquido.

94 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Filtros biológicos

Esse fenômeno traz duas conseqüências importantes. A primeira é a sua utilização nos
filtros biológicos de alta capacidade para controle da biomassa, conforme veremos mais adiante.
A segunda é a presença, no efluente do FB, de sólidos em suspensão, constituídos, sobretudo,
pelos fragmentos de zooglea desprendidos. Tais sólidos, por se constituírem de matéria orgânica,
não devem ser encaminhados ao corpo receptor, o que implica na necessidade de removê-los
posteriormente.

A remoção desses sólidos é efetuada por simples sedimentação no denominado decan-


tador secundário (DS).

É importante destacar que, no processo de filtração biológica, a única função


do DS é remover os sólidos em suspensão do efluente do FB e encaminhá-los
para fora do processo, ao contrário do que ocorre com os lodos ativados em
que a biomassa removida pelo fundo do DS deve retornar ao processo.

Os FB exigem que os esgotos afluentes sejam submetidos à pré-decantação a fim de não


somente reduzir a carga orgânica aplicada como também evitar a obstrução do meio percolante.
Assim, na maioria dos casos, o material removido do fundo do DS (lodo biológico ou secundário)
é bombeado para a entrada do decantador primário (DP), de onde será encaminhado para as
unidades de tratamento do lodo.

6.1.5 Classificação dos FB

De acordo com a carga orgânica e hidráulica, os filtros biológicos são classificados como
de baixa e de alta capacidade, conforme veremos a seguir.

FB de baixa capacidade

É um dispositivo de tratamento muito simples, resistente a variações de cargas orgânicas


e de fácil operação. Sua principal característica é o baixo valor das cargas aplicadas, ou seja:

• a carga orgânica deve ser inferior a 0,2kg DBO/d.m3 referida ao volume do material
percolante; e

• as cargas hidráulicas devem se situar na faixa de 0,8 a 1,8m3/dia.m2 a referida à


superfície do meio percolante.

A biomassa aderida ao meio percolante recebe, então, uma massa de substrato relativa-
mente pequena e a velocidade de percolação do líquido é baixa, o que permite a biomassa

SENAI-RJ 95
Tratamento de esgotos - Filtros biológicos

permanecer aderida ao meio por um longo período. A permanência é tão longa que, quando a
zooglea se desprende, é constituída predominantemente por material celular resultante da respi-
ração endógena, o que concede ao lodo removido no DS um razoável grau de estabilidade.

FB de alta capacidade

Nos filtros biológicos de alta capacidade, aplicam-se cargas hidráulicas muito mais eleva-
das (de 8,5 a 28 m3/dia.m2 referida à superfície do meio percolante), obtidas pela recirculação
do efluente tratado.

6.1.6 Esquemas de recirculação

A Figura 6.2, a seguir, apresenta um esboço do processo.

Figura 6
6.2
2 – Esquemas de recirculação

Observe que a recirculação consiste em retornar para um ponto situado à montante do filtro
parte da vazão do líquido que já passou pelo próprio filtro e por isso mesmo teve a maior fração
de sua matéria orgânica estabilizada. Com isto é possível aumentar muito a carga hidráulica
aplicada sem que haja um acréscimo proporcional da carga orgânica. Este procedimento per-
mite aumentar significativamente a velocidade de percolação do líquido, causando o aumento
de sua capacidade de arraste da película de zooglea para fora do meio percolante, forçando a
renovação mais rápida da biomassa.

Como parte da matéria orgânica contida nos esgotos é incorporada ao material celular
dos organismos, uma renovação mais rápida desses organismos implica em maior capacidade
de remoção de carga orgânica da unidade de tratamento. Por isto a carga orgânica aplicada a
filtros de alta capacidade pode se situar na faixa de 0,5 a 1,8kg DBO/dia.m3 de material perco-
lante, o que permite sensível redução no volume e na área do meio percolante e a conseqüente
redução do porte da unidade.

96 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Filtros biológicos

Vale ressaltar que a recirculação do efluente tratado, indispensável nos FB de alta capaci-
dade, tem como principal objetivo aumentar a carga hidráulica aplicada sobre o filtro sem
que haja um acréscimo proporcional da aplicação da carga orgânica para reforçar o efeito de
lavagem da biomassa. Além disso, este procedimento traz outros benefícios, tais como:

• redução da tendência à colmatação;

• eliminação do desprendimento de maus odores; e

• diminuição da proliferação de moscas de filtro.

Há diferenças fundamentais entre a recirculação empregada em FB e em


LA, ou seja: enquanto no processo de LA o lodo removido do fundo do DS é
recirculado para o reator biológico (TA – tanque de aeração) visando o re-
torno dos organismos para esse reator, no processo de FB se recircula o líquido
tratado com o intuito de aumentar a vazão que atravessa o reator biológico.

Considerando que o interesse principal é simplesmente o aumento da vazão sobre o FB, a


recirculação pode ser feita a partir de qualquer ponto de jusante para qualquer ponto à mon-
tante do FB, de acordo com certas conveniências do processo. Assim, pode se recircular:

• parte do efluente do filtro para a entrada do próprio filtro; com isso, é possível retornar
para o processo alguns organismos ativos removidos do filtro;

• parte do efluente do DS para a entrada do filtro, conseguindo com isso:

- amortecer a variação de vazão devido ao volume acumulado nos decantadores; e

- remover, do líquido a ser recirculado, os SS (sólidos em suspensão) produzidos no


filtro e que podem obstruir o meio filtrante.

• parte do efluente do filtro para a entrada do DP; com isso, é possível:

- amortecer a variação de vazões e remover os SS produzidos no FB; e

- diminuir a produção de escuma no DP, tornando mais fresco o afluente ao FB.

Evidentemente, quando se recircula através de um decantador, a unidade deve ser di-


mensionada levando em conta a vazão de recirculação. Essa vazão Qr é, em geral, expressa em
função da vazão média afluente Q, através da denominada relação de recirculação R, onde:

Equação 6.1

SENAI-RJ 97
Tratamento de esgotos - Filtros biológicos

O valor de R depende dos valores das cargas orgânica e hidráulica aplicadas ao filtro e da
concentração de DBO do esgoto bruto. Ele é estabelecido de maneira a fornecer a combinação
desejada de cargas hidráulica e orgânica posto que, ao aumentar R também é aumentada a
carga hidráulica praticamente sem aumentar a carga orgânica. Os valores usuais de R variam
na faixa de 1 a 4.

6.1.7 Distinções entre FB de baixa e de alta capacidade

A opção entre FB de baixa ou de alta capacidade depende das características do processo


e de fatores locais. Comparando um ao outro, destacam-se as seguintes distinções:

FB de baixa capacidade

• tem maior profundidade (2 a 6m, contra 0,9 a 2m para FB de alta capacidade);

• apresenta maior volume (5 a 10 vezes mais que os FB de alta capacidade);

• propicia elevada incidência de moscas de filtro;

• não exige recirculação e sua operação é simples; e

• oferece um efluente nitrificado.

FB de alta capacidade

• atinge as mesmas eficiências com unidades muito mais compactas;

• apresenta poucos problemas com moscas de filtro;

• exige um gasto de energia da ordem de 2,5HP/1000m 3 de esgotos tratados a


15HP/1000m3 de esgotos tratados;

• apresenta maior complexidade operacional; e

• somente oferece um efluente nitrificado se operado com baixas aplicações de cargas


orgânicas.

6.1.8 Remoção do substrato orgânico

Nos FB a remoção do substrato orgânico contido no esgoto obedece à mesma cinética


que rege o processo dos LA. No entanto, cabe ressaltar que a avaliação da massa presente

98 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Filtros biológicos

de organismos ativos é praticamente impossível, pois ela se encontra aderida a uma grande
superfície de meio percolante sem estar distribuída de modo uniforme. Na maioria dos casos
o procedimento consiste em considerar que um determinado volume de meio percolante
contém a massa de organismos capaz de estabilizar, na unidade de tempo, uma dada massa
de substrato afluente. Em geral, isso é feito através de equações empíricas.

Método do NRC

O National Research Council dos EUA, examinando o desempenho de 34 FB utilizados em


instalações militares americanas, durante 8 meses de operação contínua, sugere a utilização
da seguinte relação:

Equação 6.2

Onde:
Si = Concentração de DBO no afluente (mg/L)
S = Concentração de DBO no efluente (mg/L)
W = Carga orgânica aplicada (libra/d)
V = Volume do meio percolante (acre x pé)

F = Fator de recirculação.

O fator de recirculação F é definido por:

Equação 6.3

Onde:

R = relação de recirculação (adimensional).

A fórmula do NRC em unidades métricas assume o aspecto:

Equação 6.4

Com S e Si em mg/L, V em m3 e W em kg DBO5/d (F é adimensional).

SENAI-RJ 99
Tratamento de esgotos - Filtros biológicos

Método de Eckenfelder

Baseado na cinética de remoção de um substrato orgânico por uma cultura mista de or-
ganismos, Eckenfelder propõe o uso da seguinte expressão:

Equação 6.5

Onde:
S = Concentração de DBO no efluente (mg/L)
Si = Concentração de DBO no afluente (mg/L)
R = Relação de recirculação.
f = um expoente constituído por:`

Equação 6.6
Onde:
D = Profundidade do meio percolante
Q = Taxa de aplicação hidráulica (Vazão/Área)
n = Constante característica do meio percolante
K = Constante característica do despejo (taxa de remoção de substrato).

6.2 Reator biológico rotativo de


contato
Nos últimos anos, vem se disseminando o uso de reatores biológicos rotativos de contato
(RBC - rotating biological contactors) cuja constituição é mostrada esquematicamente na
Figura 6.3.

100 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Filtros biológicos

Figura 6.3 – Reator biológico rotativo de contato – RBC (acionado a ar)

Observe que o RBC é constituído de um conjunto de discos ou de um meio suporte cilín-


drico, em geral de material plástico (polietileno de alta densidade), montado em um eixo hori-
zontal. O conjunto gira lentamente (cerca de 2rpm) de forma que o meio plástico permaneça
semi-imerso no esgoto previamente decantado.

O princípio básico de funcionamento é o mesmo que o dos filtros biológicos, ou seja, a


superfície do meio plástico, sucessivamente mergulhada no esgoto e em contato com o ar,
serve como suporte para a biomassa que nela se forma. Os organismos recebem o substrato
orgânico do esgoto quando imersos no líquido e o estabilizam quando emersos, utilizando o
oxigênio do ar. A passagem pelos esgotos propicia certo efeito de lavagem do meio que causa o
desprendimento de partes da película de zooglea, o que obriga a decantação do efluente para
remover esses sólidos.

O reator deve ser coberto para evitar a proliferação de algas, a lavagem pelas chuvas, e a
exposição direta ao sol.

Os RBC podem ser utilizados seja como único reator biológico em uma ETE, seja como
suporte auxiliar para a biomassa no interior de tanques de aeração do processo de LA visando
aumentar a capacidade de instalação existente.

Em geral, os sistemas que utilizam RBC são patenteados pelos fabricantes.

SENAI-RJ 101
Lodos ativados

Nesta unidade...

Tanques de aeração

Constituição do lodo ativado

Parâmetros de dimensionamento e operação

Controle do processo

Dimensionamento do sistema de aeração

7
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

7. Lodos ativados
A possibilidade de efetuar o tratamento de esgotos através da aeração artificial foi cogitada
pela primeira vez em 1914, na Inglaterra, por Ardern e Lockett, que realizaram experiências
sobre a oxidação de esgotos sem o emprego de filtros. A denominação lodos ativados (LA), então
dada ao processo, devia-se à hipótese de que o próprio lodo contido no esgoto bruto, quando
submetido à aeração, adquiria a propriedade de estabilizar a matéria orgânica afluente, sendo
de alguma forma ativado com a aeração.

A partir de 1920, o processo difundiu-se e vem sendo extensamente utilizado até os dias
atuais tanto em sua forma original - o chamado lodo ativado convencional - quanto sob a forma
de variantes, todas elas baseadas no processo convencional.

7.1 Tanques de aeração


O processo dos lodos ativados consiste, essencialmente, em submeter esgotos brutos
ou pré-decantados à aeração artificial, em unidades de tratamento denominadas tanques de
aeração (TA). A aeração artificial pode ser promovida tanto pela insuflação de ar comprimido
no interior do TA quanto pela agitação da superfície líquida do TA usando, para isto, pás gi-
ratórias de eixo horizontal (rotores tipo gaiola) ou vertical (cones de aeração). A ação desses
dispositivos de aeração visa:

• dissolver, no interior do líquido, o oxigênio do ar atmosférico;

• manter a massa sob aeração em constante agitação, de forma a homogeneizar seu


conteúdo e impedir que partículas em suspensão se depositem no fundo do TA.

SENAI-RJ 105
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

7.2 Constituição do lodo ativado


Os esgotos brutos ou pré-decantados contêm microrganismos em concentrações relativa-
mente baixas, além de matéria orgânica abundante. Os microrganismos, ao ingressarem no TA,
encontram condições ambientais extremamente propícias ao seu desenvolvimento,ou seja, há
alimento em abundância (matéria orgânica) e concentrações adequadas de oxigênio dissolvido
(suprido pelos aeradores artificiais). Essas duas condições, aliadas à presença de nutrientes
básicos normalmente encontrados nos esgotos domésticos e a outros fatores ambientais (como
temperatura adequada) permitem que os organismos se reproduzam rapidamente e se agrupem
em colônias, que permanecem em suspensão devido à turbulência causada pelos dispositivos
de aeração. Tais colônias formam os chamados flocos do lodo ativado. Portanto, o lodo ativado
é constituído por colônias de organismos em suspensão em um líquido, contendo em solução
nutrientes básicos, oxigênio e um substrato (matéria orgânica) que lhes serve de alimento.

Os organismos, através de suas funções naturais de nutrição e reprodução, utilizam-se


do substrato orgânico como fonte de energia promovendo sua oxidação (estabilização). Com
isso, o conteúdo orgânico dos esgotos é drasticamente reduzido no interior do TA. Portanto,
o efluente do TA é formado por grande quantidade de colônias de organismos em suspensão
em um líquido com baixa concentração de matéria orgânica. Este líquido não deve ser lançado
diretamente ao corpo receptor por duas razões:

1. os organismos existentes no TA, sem encontrar no corpo receptor as mesmas condições de


abundância de alimento e oxigênio ali vigentes, não sobreviverão, passando eles mesmos à
condição de matéria orgânica (material celular) com efeitos danosos ao corpo receptor; e

2. tais organismos são os próprios agentes biológicos da estabilização da matéria orgânica


dos esgotos e, sendo extremamente úteis ao processo, seria indesejável perdê-los com
o efluente.

Por isso, torna-se necessário submeter o efluente do TA à decantação em uma unidade de


tratamento denominada decantador secundário (DS).

No interior do DS, os flocos de lodo ativado (que se mantinham em suspensão no TA,


devido à turbulência promovida pelos dispositivos de aeração) são separados por sedimenta-
ção, dirigindo-se ao fundo da unidade de onde são removidos e bombeados de volta ao tanque
de aeração.

O líquido removido junto à superfície do DS (esgoto tratado) pode, na maioria


dos casos, ser descarregado sem inconvenientes ao corpo receptor.

106 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

O procedimento descrito constitui a linha-mestra em torno da qual se desenvolveu o pro-


cesso convencional dos lodos ativados e suas diversas variantes e pode ser resumido através
dos seguintes passos:

1.introduzir em um tanque de aeração o esgoto bruto ou pré-decantado, juntamente com


o lodo ativado removido do DS;

2.submeter esta mistura à aeração artificial, durante a qual a concentração de matéria


orgânica do esgoto bruto é reduzida; e

3.separar, em um DS, o lodo ativado que retorna ao tanque de aeração, descarregando ao


corpo receptor o esgoto tratado que foi removido da superfície do DS.

7.3 Parâmetros de dimensionamento


e operação
Em decorrência da grande difusão do processo a partir de 1914, foram realizadas intensas
pesquisas sobre o mecanismo biológico e os fundamentos que constituíram a teoria dos lodos
ativados. Com base nos resultados obtidos, o procedimento empírico de dimensionamento
baseado no tempo de aeração ou tempo de detenção hidráulico (R), inicialmente utilizado,
foi sendo gradualmente abandonado na medida em que se percebeu a importância da carga
orgânica do esgoto afluente como substrato (fonte de energia) para os organismos atuantes
no processo. Como a finalidade do processo era exatamente a estabilização do substrato,
constatou-se a importância de sua concentração no esgoto afluente.

Essa constatação permitiu concluir que esgotos altamente concentrados deveriam per-
manecer mais tempo sob aeração, pois, em um mesmo volume, continham maior massa de
substrato a ser removida. Assim, esgotos mais concentrados exigiriam uma permanência maior
sob aeração e, portanto, um volume maior de TA para a mesma vazão afluente (Q).

O passo seguinte foi a percepção da importância da quantidade de lodo presente no TA,


pois, sendo esse lodo o próprio agente biológico do processo, sua massa não poderia deixar
de ser considerada.

Este critério, com pequenas modificações, vem sendo utilizado até os dias de hoje. As
modificações consistiram, basicamente, em avaliar mais corretamente as massas de substrato
e de organismos.

Isto decorre do fato da massa de substrato afluente não espelhar a quantidade de substrato efe-
tivamente utilizada pelos organismos. Para expressarmos convenientemente a massa utilizada, deve-
mos também levar em conta a massa de substrato efluente do sistema, e, portanto, não utilizada.

SENAI-RJ 107
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

7.3.1 Massa de substrato utilizada

A massa de substrato efetivamente utilizada ao longo de certo período (dMS/dt) poderá ser
obtida da soma algébrica das massas de substrato afluente e efluente nesse mesmo período:

Equação 7. 1

Onde:
dMS/dt = variação (decréscimo) da massa de substrato no sistema no intervalo de tempo dt;
Q = vazão afluente;
Si = concentração de substrato no afluente; e
S = concentração de substrato no efluente.

Deve-se notar que dMS/dt, exprimindo a quantidade (massa) de substrato utilizada ao


longo do intervalo de tempo dt, representa a quantidade de alimento consumido pelos orga-
nismos naquele intervalo.

7.3.2 Considerações sobre os sólidos em


suspensão afluentes

O lodo ativado (sólidos em suspensão no tanque de aeração) é constituído não apenas por
células de organismos ativos como também por outras substâncias em suspensão.

A maior parte das substâncias em suspensão contidas no lodo ativado e não constituídas
por organismos ativos (células vivas) é introduzida no sistema juntamente com o esgoto afluente.
Os sólidos em suspensão afluentes são constituídos por uma fração fixa e uma fração volátil.
A última é, em grande parte, formada por matéria orgânica biodegradável, que é removida
do sistema (consumida pelos organismos ativos no TA). Assim, acaba restando apenas uma
pequena fração dos SSV afluentes não-biodegradáveis que, juntamente com a fração fixa, tende
a se acumular no sistema, já que retorna ao TA com o lodo ativado.

O valor relativo da fração volátil não-biodegradável dos sólidos em suspensão afluentes é


muito pequeno se comparado com a fração fixa. Desse modo, pode-se considerar que os sóli-
dos em suspensão contidos no lodo ativado e não constituídos por células vivas são formados,
principalmente, por sólidos fixos.

108 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

7.3.3 Relação alimento/microrganismos

Resultados de estudos extensivos sobre os organismos normalmente constituintes do lodo


ativado demonstraram que 90% da matéria sólida de seu material celular se apresenta sob a
forma volátil. Então, pode-se considerar com uma aproximação razoável, que a concentra-
ção de SSV no TA (SSVTA ou Xv) representa a concentração de organismos que participam do
processo. A massa de organismos presentes na câmara de aeração poderá então ser avaliada
através do produto de sua concentração, medida em termos de sólidos em suspensão voláteis,
pelo volume do TA, conforme Equação 7.2:

Equação 7. 2

Onde:
MXv = massa de organismos presentes na câmara de aeração, em kg;
Xv = sólidos em suspensão voláteis, em kg/m3;
V = volume do TA, em m3.

O critério de dimensionamento consiste, então, em relacionar a massa de substrato uti-


lizado em um dado período (alimento) com a massa de sólidos em suspensão voláteis contida
no TA (microrganismos), dando origem, assim, ao parâmetro denominado relação alimento/
microrganismos (Relação A/M ou U), definido pela Equação 7.3, em kg/kg.d:

Equação 7. 3

A relação alimento/microrganismos acima definida é um parâmetro básico


extremamente importante e bastante utilizado para dimensionamento e
operação das instalações de lodos ativados.

Com efeito, conhecidas a vazão (Q), a concentração de substrato (Si) afluente, e arbitrada
a concentração de substrato efluente (S) que é desejada para o sistema, pode-se determinar a
massa de substrato utilizada por dia (dMS/dt). Esse valor, relacionado ao parâmetro alimento/
microrganismos (U) arbitrado (e expresso em termos de kg de substrato fornecido diariamente

SENAI-RJ 109
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

a cada kg de Xv), fornecerá a massa necessária de sólidos em suspensão voláteis (MXv), expressa
em kg:

Equação 7. 4

O valor de MXv relacionado à concentração desejada de Xv irá fornecer o volume, em m3,


necessário para o TA:

Equação 7. 5

7.3.4 Dimensionamento do TA

O dimensionamento de um tanque de aeração para lodos ativados pelo critério de relação


alimento/microrganismos pressupõe que tanto a vazão afluente (Q) como a concentração
de substrato no afluente (Si) não irão variar consideravelmente ao longo do tempo. Dessa
maneira, a operação será controlada mantendo-se no interior do TA a massa necessária de
organismos (MXv) para consumir determinada fração da massa de alimento introduzida em
um dado período. Como para cada instalação o volume de TA (V) é fixo, o controle consistirá
em manter a concentração de Xv tanto quanto possível próxima do valor do projeto. Assim,
considerando constantes Q e Si, a manutenção de Xv em torno de um valor constante também
manterá constante o valor de U, fixando, desse modo, o valor de S e atingindo, então, a eficiên-
cia do projeto.

A manutenção de Xv em torno de um dado valor implica periódico descarte, ou retirada


do sistema, de uma determinada massa de SSV. Isso porque os organismos presentes no TA,
recebendo constantemente certa massa de substrato (alimento) aportada pelo esgoto afluente,
tenderão a se multiplicar na razão direta da massa de alimento utilizada. Como conseqüência,
há uma tendência para o contínuo aumento de Xv. A massa de organismos descartada é denomi-
nada excesso de lodo. Assim, um sistema em operação contínua tende a aumentar, paulatina e
continuamente, sua concentração de SSVTA em virtude da formação de excesso de lodo.

7.3.5 Avaliação do excesso de lodo

Como a formação do excesso de lodo é proporcional à massa de alimento utilizada,


sistemas que operam em elevadas relações alimento/microrganismos tendem a formar uma
massa de excesso de lodo proporcionalmente maior que sistemas que operam em valores
mais baixos dessa relação. Isto porque organismos que dispõem de alimento em abundância

110 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

(elevadas relações U) tendem a transformar mais rapidamente o alimento em material celular,


reproduzindo-se mais rapidamente e dando origem à elevada produção de excesso de lodo. Por
outro lado, organismos que vivem em ambiente onde o alimento escasseia (baixas relações U),
dispondo de menor quantidade de energia (substrato) tendem a utilizá-lo mais lentamente,
dando origem à menor formação de excesso de lodo.

A produção do excesso de lodo pode ser avaliada pelo acréscimo da concentração de Xv


em um dado período (dXv/dt), referida ao volume do TA:

Equação 7. 6

Onde:
dMXv = massa de excesso de lodo, em kg, medida em termos de SSV, produzida no inter-
valo de tempo dt;
dXv = variação (aumento) da concentração de SSV no tanque de aeração, em kg/m3;
V = volume do TA, em m3;
dt = intervalo de tempo, em dias.

Assim, dMXv/dt é a massa de lodo ativado produzida no interior do TA no decurso de um


intervalo de tempo dt. Massa esta que deve ser retirada do sistema a cada intervalo dt, caso se
pretenda manter Xv no valor de projeto. Em outras palavras: se, no decurso de um dia, a concen-
tração de SSVTA aumentar de um valor dXv, deve se retirar diariamente do sistema uma certa
massa de lodo exatamente igual a esta (a massa produzida nesse dia) visando fazer retornar a
concentração Xv ao valor inicial.

7.3.6 Remoção da massa de lodo ativado

A massa a ser descartada periodicamente, dMXv/dt, poderá ser retirada de qualquer ponto
do sistema. Usualmente, a retirada é feita a partir da linha de recalque do lodo que retorna do
fundo do DS para o TA a fim de:

• aproveitar as mesmas bombas, isto é, a própria bomba da elevatória de retorno de


lodo ativado é utilizada para recalcar o excesso de lodo para fora do sistema mediante
uma simples manobra de registros; e

SENAI-RJ 111
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

• clarificar o afluente líquido e adensar o lodo ativado a ser retornado ao TA, pois o lodo
removido do fundo do DS, adensado no interior do próprio DS, tem uma concentração
de sólidos voláteis superior à apresentada no TA. Observe que o DS cumpre, assim,
uma dupla função: unidade de clarificação do líquido e de adensamento do lodo.

O objetivo de retornar o lodo ativado ao TA é trazer de volta ao processo toda a massa de


lodo ativado removida pelo fundo do DS. Desse modo, quanto mais a massa do lodo ativado
for adensada no próprio DS, menor será a vazão recalcada pela elevatória de retorno de lodo
ativado, o que resulta em economia para o sistema.

A concentração de SSV no lodo que retornou ao TA será aqui representada por Xvu. Logo, quanto
maior Xvu, menor deverá ser a vazão Qr a ser retornada. Assim, a remoção do excesso do lodo a partir
da linha de retorno de lodo (com uma concentração Xvu) implica retirar do sistema um volume menor
de excesso de lodo se comparado ao volume necessário no caso da remoção ser feita diretamente
do TA (com uma concentração Xv) para descartar a mesma massa dMXv/dt.

Essas razões de ordem prática tornaram quase universal a retirada do excesso de lodo
através da própria linha de retorno do lodo ativado. Como o objetivo do descarte de excesso de
lodo é apenas manter o sistema em equilíbrio através da manutenção de Xv próximo ao valor
de projeto, igual resultado seria obtido se o excesso de lodo fosse descartado diretamente do
TA. Neste caso, bastaria remover diariamente do sistema, um volume do líquido sob aeração
que promovesse a retirada da mesma massa de lodo em excesso.

7.3.7 Destino do lodo removido

O destino a ser dado ao excesso de lodo removido do sistema vai depender, entre outros fatores,
do tipo da instalação, de aspectos econômicos e das características do processo. Assim, o excesso de
lodo removido de uma estação de lodos ativados pelo processo convencional, dotada de um decan-
tador primário onde o esgoto bruto é submetido à decantação antes de ser introduzido no TA, poderá
ser encaminhado ao DP, onde se sedimentará novamente e de onde será removido juntamente com
o chamado lodo primário e submetido ao tratamento adequado,
geralmente digestão anaeróbia.
O lodo removido
O excesso de lodo também pode ser estabilizado, em se- do sistema deve
parado, através da digestão aeróbia e, depois, ser encaminha- ter sempre um des-
do ao destino final. Ou ainda, em certas variantes do processo tino final adequado mas, o
de lodos ativados que operam em faixas de relação alimento/ que vai ser feito com ele em
microrganismos muito baixas (aeração prolongada), o excesso nada influi no desempenho
pode ser encaminhado diretamente à secagem natural, posto do sistema de tratamento do
que já se apresenta razoavelmente estabilizado. efluente líquido.

112 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

7.3.8 Parâmetro idade do lodo

A necessidade de retirada periódica do excesso de lodo produzido no TA deu origem a


um novo conceito, ou parâmetro de projeto, baseado na relação entre massa do lodo ativado
presente no TA e massa de lodo em excesso removida diariamente.

Se a cada dia é retirada do sistema uma determinada massa dMXv/dt de lodo em excesso, a
relação entre massa total (MXv) e massa removida diariamente (dMXv) fornece o tempo médio,
em dias, que uma partícula de lodo permanece no sistema.

Vejamos o seguinte exemplo: se a cada dia é formada e removida uma massa de excesso
de lodo dMXv correspondente a 10% da massa total do lodo MXv, serão removidos, diariamente,
10% dos organismos presentes, que deverão ser substituídos por igual porcentagem de novos
organismos. Isso significa que existe a probabilidade de todo o conteúdo do TA ser renovado
em 10 dias. Portanto, ao longo de um certo tempo pode-se afirmar que cada organismo per-
manece, em média, 10 dias no sistema. Logo, a idade do lodo (θc) é 10 dias.

Define se, então, o parâmetro idade do lodo ou tempo médio de residência celular (θc)
como a relação entre massa total de lodo presente no TA (MXv) e a massa de lodo descartada a
cada intervalo de tempo dt (geralmente 1 dia):

Equação 7. 7

Em um sistema em operação contínua, a idade do lodo pode ser controlada retirando-se


do sistema, a cada intervalo fixo dt (em geral dt = 1 dia), uma determinada massa de sólidos
em suspensão voláteis dMXv, de tal forma que a relação entre a massa total contida no TA
(MXv) e a massa dMXv seja igual em valor absoluto a θc, expressa em unidade dt. Isso porque,
fazendo-se:

dt = 1, a Equação 7.7 fica:

Equação 7. 8

SENAI-RJ 113
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

Se o descarte é feito a partir da linha de retorno de lodo ativado (portanto, com concentra-
ção de SSV igual a Xvu), a vazão q′ a ser descartada no intervalo dt corresponderá a um volume
v′, em m3, tal que:

Equação 7. 9

Logo:

Equação 7. 10

E a vazão q′, em m3/d, será:

Equação 7. 11

Caso essa vazão q′ seja retirada continuamente do sistema, os intervalos dt e dt′ serão
iguais. O caso mais comum é adotar dt = dt′ = 1 dia.

Então, a vazão q′, em m3/d, terá um valor numérico de:

Equação 7. 12

Portanto, para determinar q′, seria necessária a determinação diária de Xv e Xvu; ou seja:
quando se descarta o lodo a cada dia, a partir da linha de retorno de lodo, é necessário deter-
minar, diariamente, em laboratório, as concentrações de SSV tanto no TA quanto na linha de
retorno do lodo.

Outra hipótese seria promover o descarte do lodo diretamente do tanque de aeração. Nesse
caso, a massa de SSV (dMXv) removida do TA será na concentração Xv. O volume v, em m3/d, a
ser removido no intervalo dt será então:

Equação 7. 13

114 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

E a vazão q, em m3/d, para retirar o volume v no intervalo dt′ será:

Equação 7. 14

Se a vazão for removida continuamente do TA (caso em que dt = dt′):

Equação 7. 15

Dividindo ambos os membros da Equação 7.15 por V, volume do TA:

Equação 7. 16
-1
Onde q/V está expresso em d .

Isso significa que uma determinada idade do lodo θc será mantida desde que se retire do
TA, continuamente, uma vazão q, de modo que a relação entre o volume removido no intervalo
dt e o volume do TA seja numericamente igual ao inverso da idade do lodo.

Vamos exemplificar: para manter uma idade do lodo de, por exemplo, 15 dias, basta retirar
diariamente um volume v de líquido do TA igual a 1/15 do volume V do TA.

Essa técnica introduz uma evidente simplificação, pois torna desnecessária a determinação
tanto de Xv quanto de Xvu para se manter uma determinada θc.

7.3.9 Produção de lodo

Conforme mencionado anteriormente, altas relações alimento/microrganismos (U) dão


origem, proporcionalmente, a elevadas produções de excesso de lodo, enquanto menores rela-
ções alimento/microrganismos também dão origem, proporcionalmente, a baixas produções
de excesso de lodo. Uma vez que, para efetuar o controle do sistema, o lodo descartado di-
ariamente deve corresponder ao excesso produzido ao longo do dia, pode se concluir que
os parâmetros U e θc se correlacionam na razão inversa, ou seja, elevadas U correspondem a
pequenas θc e vice-versa.

Para determinar a exata natureza dessa correlação - de forma que possa ser utilizada na
construção de um modelo matemático para o processo de lodos ativados - tomamos como base

SENAI-RJ 115
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

os conhecimentos acerca da natureza dos organismos intervenientes no processo e da rapidez


com que se reproduzem, utilizando o substrato orgânico como fonte de energia.

Tais informações foram abordadas anteriormente (item 7.3.5) e levaram ao estabelecimento


da relação a seguir, que será a base do desenvolvimento da correlação procurada, isto é:

Equação 7. 17

Onde:

dXv/dt está expresso em kg/d;

Y e b são constantes.

Dividindo os dois lados da equação 7.17 por Xv, tem-se:

Equação 7. 18

Transformando as concentrações em massas, através da multiplicação pelo volume do


reator (V), obtemos a Equação 7.19, expressa em d-1, e que pode também ter a forma das
Equações 7.20 e 7.21:

Equação 7. 19

Equação 7. 20

Equação 7. 21

Substituindo-se na Equação 7.21 os valores fornecidos pelas Equações 7.3 e 7.7:

Equação 7. 22

116 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

A Equação 7.22 exprime, então, a correlação procurada entre θc e U.

Conforme observamos nessa equação, a correlação entre U e θc não depende de nenhum


outro fator, à exceção dos valores de Y e b, ambos constantes, característicos da população
bacteriana e do substrato utilizado. Isso significa que, para um dado sistema em operação, a
fixação de qualquer um dos parâmetros (U ou θc) implica na automática fixação de outro. Em
outras palavras, podemos afirmar que:

• ao se fixar uma determinada relação U através da manutenção da concentração Xv em um


valor estabelecido, θc ficará automaticamente fixada em um valor correspondente;

• ao se fixar uma determinada θc, através da remoção diária de uma fração fixa da
massa total de lodo presente no reator, a relação alimento/microrganismos será au-
tomaticamente ajustada em um valor correspondente, ou seja, a concentração Xv se
auto-ajustará.

7.4 Controle do processo


A finalidade principal do tratamento de esgotos é a redução da concentração de substrato
no esgoto efluente (S). O processo só manterá a sua eficiência caso o valor de S venha se situar
dentro dos limites desejados. Controlar o processo significa, portanto, manter o valor de S
nesses limites.

7.4.1 Variação da massa de substrato

A concentração S poderá ser obtida a partir de considerações sobre a variação das massas
de substrato ou de SSV no processo. Veja a Figura 7.1.

Fi
Figura 7 1–V
7.1 i ã d
Variação das massas d b t t
de substrato

SENAI-RJ 117
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

A variação ao longo de um intervalo de tempo dt da massa de substrato no sistema (dMS/


dt) decorre de:

1. Massa de substrato que ingressa no sistema, no intervalo dt, trazida pelo esgoto afluente
(em kg/d):

Equação 7. 23

2. Variação (decréscimo) da massa do substrato no interior do reator no intervalo dt (em


kg/d), devido a utilização de substrato pelos organismos, obtida por meio da variação da
concentração de substrato (em kg/m3.d):

Equação 7. 24

portanto:

Equação 7. 25

3. Massa de substrato retirada do sistema no intervalo dt, juntamente com o esgoto eflu-
ente (em kg/d):

Equação 7. 26

4. Massa de substrato retirada do sistema no intervalo dt, juntamente com o lodo descar-
tado diretamente do reator (em kg/d):

Equação 7. 27

118 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

A variação total da massa do substrato no sistema será então (em kg/d):

Equação 7. 28

Substituindo na Equação 7.28 os valores fornecidos pelas Equações 7.23, 7.25, 7.26 e
7. 27 (em kg/d):

Equação 7. 29

Quando a operação está em regime contínuo, dS/dt = 0, logo, a concentração de substrato


pode ser expressa pelas equações a seguir, sendo as duas primeiras em kg/m3.d e a terceira em
kg/kg.d :

Equação 7. 30

Equação 7. 31

Equação 7. 32

A expressão do lado esquerdo da Equação 7.32, corresponde ao valor de U, conforme foi


visto na Equação 7.3, logo (em kg/kg.d):

Equação 7. 33

O valor de S pode então ser expresso como (em kg/m3):

Equação 7. 34

SENAI-RJ 119
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

A Equação 7.34 exprime o fato de que S depende exclusivamente da relação U e do valor de K,


que é uma constante do sistema. Ela demonstra que a manutenção de U em um valor constante
fará S se manter constante, ou seja, controla o processo.

Esta conclusão foi obtida a partir da observação da variação da massa de substrato no


sistema, ao longo do tempo.

Em contrapartida, a observação da variação da massa de sólidos em suspensão voláteis


no sistema ao longo do tempo (dXv/dt) leva ao seguinte:

1. Variação (aumento) da concentração de SSV no interior do reator no intervalo dt devido


à síntese de material celular, medida em kg/m3.d:

Equação 7. 35

Para obter o valor em kg/d, multiplicamos ambos os membros da Equação 7.35 pelo vo-
lume do reator:

Equação 7. 36

2. Variação (decréscimo) da concentração de SSV no interior do reator, no intervalo dt,


devido à destruição de material celular por respiração endógena, (kg/m3.d):

Equação 7. 37

Novamente, para obter o valor em kg/d, multiplicamos pelo volume do reator:

Equação 7. 38

3. Massa de SSV retirada do sistema (descarte do excesso de lodo), em kg/d:

Equação 7. 39

120 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

A variação total da massa de SSV no sistema (em kg/d) pode ser então obtida utilizando-se
as Equações 7.36, 7.38 e 7.39:

Equação 7. 40

Substituindo agora pelos valores fornecidos pelas Equações 7.36, 7.38 e 7.39:

Equação 7. 41

Em regime contÍnuo, dMXv/dt = 0, logo, exprimindo em termos de kg/m3.d:

Equação 7. 42

Quando o descarte de excesso do lodo é feito diretamente do TA, podemos fazer uso da
Equação 7.16, substituindo o valor de q/V. Assim, chegamos às três equações seguintes, com
valores expressos em d-1:

Equação 7. 43

Equação 7. 44

Equação 7. 45

SENAI-RJ 121
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

O valor de S pode então ser expresso, em kg/m3, como:

Equação 7. 46

A Equação 7.46 exprime o fato de que S pode ser expresso somente em função de θc e dos
valores das constantes do sistema b, Y, e K. Ela significa que a manutenção de θc em um valor
constante irá igualmente implicar na manutenção da concentração de substrato efluente em
um valor também constante, ou seja, demonstra que o sistema também pode ser administrado
através do controle de θc.

Como os valores de b, Y, K, e θc não dependem nem de Q nem de Si (ao contrário do que


ocorre com o valor de U), o controle do sistema através de θc pode se demonstrar efetivo mesmo
em face de variações de Q e Si. De fato, conforme veremos adiante, o controle de θc torna o
sistema auto-regulável.

7.4.2 Métodos de controle do processo

O processo de lodos ativados pode ser controlado de duas maneiras:

1. Fixando-se uma determinada relação U através do controle de Xv.

Esse modo implica determinar o valor de Xv em intervalos fixos e descartar do sistema


uma determinada massa de lodo correspondente ao excesso, de forma a manter essa
concentração no valor desejado.

Se os valores de Q e Si se mantiverem constantes, sendo também constante a massa de


organismos no sistema (Xv constante), a produção de excesso de lodo em intervalos iguais
será também constante. Essa situação corresponderá a uma idade de lodo igualmente
constante e equivalente à relação U que se fixou.

2. Fixando-se uma certa idade de lodo θc, através do descarte periódico de um determinado
volume do líquido do TA.

Conforme examinado anteriormente, a idade do lodo pode ser mantida em um valor


constante através da retirada diária de um volume de líquido do TA igual ao inverso do
valor da idade do lodo, expressa em dias.

Dada a correlação entre U e θc, a fixação de θc corresponde à fixação de uma correspondente


relação U; o que parece simples de ser entendido se considerarmos constantes os valores Q e
Si. Mas, vamos examinar um pouco mais a matéria com base em algumas suposições:

122 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

1. Vamos considerar um sistema que opera através do controle de θc, sabendo que é re-
movida diariamente do reator a massa de organismos igual a uma fração fixa da massa
total contida no sistema.

2. Vamos supor ainda que, por uma razão qualquer, a massa total de organismos contida
no reator seja menor do que aquela correspondente à idade do lodo θc. Podemos então
afirmar que, havendo relativamente poucos organismos no sistema, cada reator receberá
uma quantidade de substrato (Q . Si)proporcionalmente maior se comparada àquela a ser
recebida caso o número (ou massa) total de organismos estivesse em seu valor correto.
Esse fato implica em:

• maior disponibilidade de substrato para cada organismo (ou unidade de massa de


organismos) presente;

• maior produção de organismos que a fração retirada diariamente. Com isso, a con-
centração de substrato no reator tende a subir, provocando aumento de organismos
sintetizados; e

• elevação da concentração Xv, até um ponto em que o lodo descartado seja exatamente
igual ao excesso produzido.

3. Concluindo: a partir do aumento da concentração Xv, o sistema entra em equilíbrio,


pois sendo constantes Q e Si, também será constante a produção do excesso de lodo pela
população de organismos presentes. Retirando, então, uma quantidade invariante de lodo
do TA, podemos fixar o valor de Xv. Como foram considerados constantes os valores de Q
e Si, o que corresponde a um valor constante de S que não varia, teremos fixada a relação
U, exatamente no ponto correspondente à θc desejada.

A técnica de controle do sistema pela fixação de θc tem a vantagem de ser auto-regulável.


Com efeito, qualquer variação de Q, Si ou de ambos, ao longo do tempo, fará o sistema desequili-
brar, aumentando ou diminuindo a produção de lodo em excesso. Entretanto, este desequilíbrio
será eliminado pelo próprio sistema através de um mecanismo idêntico ao já exposto, pois o
valor de Xv irá crescer ou decrescer na exata medida do desajuste introduzido e o equilíbrio,
então, será novamente atingido.

A opção por um ou outro método de controle deverá ser feita após o estudo comparativo
das vantagens e desvantagens de cada um.

O controle através da relação U, extremamente difundido, implica na avaliação da massa


de substrato utilizada e da massa de organismos presentes.

A massa de substrato utilizada dependerá tanto de Q quanto de Si. Esses valores sofrem
variações ao longo do tempo, alterando, portanto, o valor da relação U. Normalmente, o que se
faz para o estabelecimento da desejada relação U, é considerar que tanto Q quanto Si variam
em torno de valores médios. Essa consideração é válida quando a oscilação se dá de forma

SENAI-RJ 123
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

lenta e em períodos relativamente curtos. Quando isso não ocorre, o sistema pode ser levado ao
desajuste, com o conseqüente deslocamento do valor de S para fora dos limites admissíveis.

A avaliação exata da massa de organismos ativos apresenta dificuldades técnicas incon-


tornáveis até os dias de hoje. A assunção usual de associar essa massa à massa de SSV presente
no tanque de aeração é apenas parcialmente válida, pois, por um lado, aproxima-se da reali-
dade nos valores relativamente altos da relação U (pequenas θc) e, por outro, afasta-se dela
razoavelmente em sistemas onde o valor de U é baixo (elevadas θc).

Esta aparente discrepância ocorre porque, na proporção que os SSV permanecem mais
tempo retidos no sistema (elevadas θc), maior é a tendência de acumular resíduos em suspen-
são voláteis não constituídos por organismos ativos. Estes resíduos são trazidos com o esgoto
afluente ou produzidos no interior do reator por efeito da respiração endógena, formando o
chamado resíduo endógeno.

O resultado dessa tendência de acúmulo de SSV não-biodegradáveis (isto é, não passíveis


de utilização pelos organismos ativos) é que, na medida em que a relação U diminui (ou θc au-
menta), o valor medido da massa de SSVTA se afasta cada vez mais do valor que se quer medir,
ou seja, da massa de organismos ativos (células vivas) no sistema.

O acúmulo de SSV não-biodegradável (resíduo endógeno) no sistema pode ser quantificado


com base no processo de formação desse resíduo gerado a partir da destruição de material
celular.

Grande parte do material constituinte da célula dos organismos ativos é composta por
matéria orgânica biodegradável, consumida no processo. Entretanto, certa fração f da massa
dos organismos é composta de matéria orgânica não-biodegradável que irá formar o resíduo
endógeno. Isto significa que a formação do resíduo endógeno é proporcional à massa de organis-
mos consumida por respiração endógena, sendo f, o fator de proporcionalidade. Considerando
Xe a concentração de resíduo endógeno no sistema, em kg/m3.d, temos:

Equação 7. 47

Logo, de acordo com a definição da taxa específica de respiração endógena, como visto
na Equação 7.37:

Equação 7. 48

124 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

A Equação 7.48 mostra que quanto mais pronunciadamente se manifestar a respiração


endógena (elevadas θc), maior será o acúmulo de resíduo endógeno.

Por outro lado, o controle por meio da θc se mostra mais simples. Com efeito, é possível
manter a idade do lodo exatamente no valor desejado removendo diariamente do interior do
TA uma fração de seu volume numericamente igual ao inverso da idade do lodo expressa em
dias. Tudo isto sem depender dos valores de Q, Si e Xv.

Torna-se evidente a maior exatidão da técnica de controle através da θc quan-


do consideramos a finalidade que temos em vista: retirar, periodicamente,
do sistema uma determinada fração da massa de organismos ativos, seja
qual for a concentração dos organismos e sem se importar com a proporção
em que se apresentam em relação à massa total de sólidos em suspensão no TA.

É certo ainda que, removendo-se um volume constante diariamente do TA, a fração


removida da massa de organismos será sempre a mesma, considerando que o líquido
no interior deste TA se distribui de forma homogênea por todo volume do tanque, qual-
quer que seja o volume retirado. Portanto, esse tipo de controle se mostra igualmente
rigoroso em toda a faixa de variação da idade do lodo.

O fato de se retirar, de forma periódica, um certo volume do líquido do TA, independente-


mente da concentração de SSVTA, torna-se desnecessário determinar esta concentração para
fins de controle do processo. No entanto, é preciso monitorar o desempenho do processo. Para
isto executam-se análises de laboratório com menor freqüência. Para controlar a operação
propriamente dita (ou seja, para manter o valor da concentração S no efluente em seu valor
de projeto), basta medir o volume líquido periodicamente descartado do TA. Todos os demais
parâmetros devem ser obtidos apenas com o intuito de acompanhar o processo.

Como o controle de θc pode ser efetuado, exclusivamente, com a remoção periódica de um


determinado volume V de líquido do TA, a vazão q desse descarte poderá ser ajustada de acordo
com a conveniência da operação. Isto quer dizer que, sendo o volume V removido, digamos,
diariamente, não importa se essa remoção é feita continuamente ou apenas durante parte do
dia. Cabe ao operador da instalação fazer a opção, de acordo com as suas conveniências.

A desvantagem da técnica de controle do processo pela idade do lodo é que ela exige a
remoção do lodo descartado diretamente do TA, ou seja, na concentração Xv. Como a concentra-
ção Xv é geralmente baixa, da ordem de 1 a 4g/L, o volume do lodo descartado e encaminhado
ao destino final é relativamente alto.

O problema poderá ser contornado ao se prover a instalação de um espessador de lodo,


ao qual se encaminhará o descarte de lodo. O efluente líquido dessa unidade poderá ser

SENAI-RJ 125
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

retornado para a entrada da instalação ou ser encaminhado para fora do sistema, juntamente
com o efluente final (já que é constituído de esgoto tratado). O lodo espessado, com uma apre-
ciável redução de volume, será então encaminhado ao destino final adequado.

O espessador pode ser uma unidade por gravidade ou flotação. Em qualquer


caso, será de pequeno porte se comparado às demais unidades da instalação
(em face do pequeno valor de q se comparado a Q).

7.5 Dimensionamento do sistema


de aeração
Sendo os organismos ativos presentes no lodo ativado a peça fundamental do processo,
é indispensável que eles estejam presentes no TA na concentração adequada para receber e
estabilizar a matéria orgânica afluente. Porém, como o processo é contínuo, estes organismos
estão constantemente deixando o TA junto com o líquido que se encaminha para o DS.

Para o processo funcionar a contento, isto é, com a concentração de SSVTA constante, é


preciso que o lodo retorne ao TA com a mesma rapidez com que ele é arrastado para fora do
TA pelo afluente ao DS. Isso significa que todo o lodo sedimentado no DS deve retornar ime-
diatamente ao TA.

7.5.1 Retorno do lodo ativado

O retorno se processa por meio de bombeamento para o TA do lodo sedimentado no


fundo do DS. A vazão bombeada Qr deverá ser capaz de levar de volta ao TA todo o lodo que
de lá saiu transportado pela vazão (Q+Qr), conforme visto na Figura 7.1. Geralmente, a vazão
de retorno de lodo, Qr, é expressa em função da vazão Q, afluente ao sistema, sendo o fator de
proporcionalidade r denominado relação de recirculação. Logo, exprimindo em m3/d:

Equação 7. 49

126 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

O valor de r pode ser obtido em função das concentrações de SSV vigentes respectivamente
no tanque de aeração (Xv) e no fundo do decantador secundário (Xvu) por meio de um balanço
de matéria em torno do TA.

Vamos admitir as seguintes condições:

1. Todos os SSV seriam removidos pelo fundo do DS e retornados ao TA na concentração


Xvu (o que equivale a desprezar a perda de SSV pelo efluente do sistema).

2. Todos os SSV introduzidos no TA pelo esgoto afluente seriam biodegradáveis e, por-


tanto, consumidos no processo, não interferindo no balanço da matéria.

3. A massa de SSV removida do processo com o excesso de lodo seria exatamente igual à
produção de SSV por síntese do material celular no mesmo período. Assim, toda a massa
de SSV introduzida no TA seria aquela trazida pela vazão Qr na concentração Xvu, e toda
a massa de SSV removida do TA seria pela vazão (Q + Qr) na concentração Xv.

Desse modo, em regime contínuo, teremos, em kg/d:

Equação 7. 50

Levando em conta a Equação 7.49, obtemos o valor de r, adimensional:

Equação 7. 51

A Equação 7.51 exprime o fato de que r (e portanto Qr) depende de Xvu. Ela mostra também
que o decantador secundário não é apenas uma unidade acessória, destinada meramente a
clarificar o efluente, mas uma peça extremamente importante do sistema, da qual depende a
eficiência de todo o processo. Isso porque, caso o DS não tenha a capacidade de adensar o lodo
até a concentração de SSV conveniente, a vazão de retorno de lodo Qr não bastará para trans-
portar o lodo de volta para o TA com a mesma rapidez com que ele o deixa. Em conseqüência,
o lodo vai se acumular no DS, até se perder pelo vertedor de saída com o efluente final, fazendo
a massa de lodo contida no sistema cair até valores inferiores ao de projeto, o que pode levar o
processo ao colapso (além de, naturalmente, prejudicar a qualidade do efluente).

O valor da concentração de lodo no fundo do DS depende da capacidade dessa unidade


para efetuar o adensamento, podendo ser avaliada pela taxa de aplicação de sólidos sobre o DS.
Quanto maior a taxa, ou seja, quanto maior o produto X (Q + Qr), menor será a concentração

SENAI-RJ 127
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

de sólidos Xu obtida no fundo do DS. Isso significa que o simples aumento de Qr visando atingir
maior rapidez no retorno dos sólidos ao TA não resolve o problema de um sistema que começou
a perder sólidos pelo efluente por incapacidade de adensar o lodo até o valor necessário. Caso se
tente a solução apenas pelo aumento de Qr, ocorrerá o aumento da taxa de aplicação de sólidos
sobre o DS o que implicará na redução de Xu, voltando o sistema a se desequilibrar.

A única forma de o sistema operar no ponto satisfatório é dimensioná-lo conveniente-


mente. Isto quer dizer que a área A do DS deve ser tal que, recebendo a taxa de aplicação de
sólidos correspondente à vazão (Q + Qr) na concentração Xv, forneça um lodo adensado até
a concentração Xu, de modo que a vazão Qr possa transportar de volta ao TA toda a massa de
SS admitida ao DS. Como a concentração X (da qual depende a taxa de aplicação de sólidos
sobre o DS) depende do volume V do TA porque o processo é dimensionado para conter uma
determinada massa constante MX de SS, as três unidades, isto é, TA, DS e ELA (Elevatória de
Lodo Ativado) são peças de um mesmo sistema com elevado grau de interdependência.

Esta interdependência deve ser considerada ainda na fase de dimensionamento do pro-


cesso. Isto significa que o projeto não deve levar em conta apenas os fenômenos que ocorrem
no reator biológico, mas considerar, também, a sedimentação e o adensamento do lodo no DS.
Esses fenômenos ocorrem segundo a chamada decantação zonal, cujos métodos de análise
disponíveis, de acordo com a Coe & Clevenger e a Yoshioka, baseiam-se na teoria de Kinch e
se destinam especificamente ao dimensionamento de espessadores de lodo. Para o processo
dos LA, Da Rin e Nascimento desenvolveram um método de dimensionamento integrado que
denominaram “Curvas de Operação”.

7.5.2 Grandezas a serem calculadas

O dimensionamento de um sistema de aeração implica, basicamente, na determinação


de três grandezas:

• volume V do tanque de aeração;

• área A do decantador secundário; e

• capacidade de recalque da ELA, representada pela vazão de retorno de lodo Qr.

A determinação dessas grandezas é feita, sobretudo, com base na vazão Q afluente ao


sistema; na concentração Si do substrato afluente; na eficiência desejada de remoção de
substrato; e em dados acessórios, como as características de sedimentabilidade do lodo e as
constantes do processo.

Usualmente, a determinação do volume V do TA é feita através do dimensionamento


da massa de lodo ativado que deverá ser contida no TA, necessária à estabilização da carga

128 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

orgânica afluente. A massa de lodo ativado poderá ser expressa em função da massa de sólidos
em suspensão totais, contida no TA, MX. Assim, os métodos modernos de dimensionamento
para o reator biológico do processo de lodos ativados fornecem o valor de MX em função dos
dados básicos de projeto e das constantes do processo. O valor de V, em m3, é determinado em
função da concentração X escolhida pelo projetista, conforme equação a seguir:

Equação 7. 52

A Equação 7.52 evidencia que o projetista pode variar o valor de V dentro de certa margem
sem alterar as características do processo, desde que varie igualmente X pois, como o valor de
MX é fixo, a variação de X implica variação do valor determinado para V. Em outras palavras:
fixados Q e Si, o valor de V será determinado em função de X, ou seja, X representará o volume
do TA.

A capacidade de recalque instalada na Elevatória de LA será obtida em função da vazão de


retorno de lodo Qr estabelecida pelo projeto. O valor de Qr é usualmente expresso em função
de Q, através do fator de proporcionalidade r, denominado relação de recirculação, definido
pela Equação 7.51. Sendo assim, r representará a capacidade de recalque da Elevatória do LA. O
valor de r a ser utilizado seria obtido através da Equação 7.51, levando em conta a existência de
uma proporção fixa entre os SS totais e voláteis em cada sistema. Nesse caso, pode-se observar
que a constante adimensional r é obtida também por:

Equação 7. 53

Portanto, a capacidade de recalque da Elevatória de LA depende tanto de X quanto de Xu.

Finalmente, para obter a área A do DS devem ser considerados a clarificação do afluente


e o adensamento do lodo. Da Rin e Nascimento desenvolveram um método que permite a
abordagem de ambas as funções através de uma única técnica, baseada primordialmente
no estudo do adensamento do lodo. Admitindo que o adensamento do lodo constitui função
preponderante, o estudo da decantação zonal nos mostra que a área A será obtida em função
do parâmetro StL, ou fluxo total limitante, com o uso da Equação 7.50, onde a vazão afluente
ao DS será a soma de Q e Qr, ou seja, ((1 + r) . Q). Logo, exprimindo a área em m2:

Equação 7. 54

SENAI-RJ 129
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

Então, o estudo da decantação zonal mostra que StL depende tanto de X quanto de Xu, e a
Equação 7.53 mostra que r depende igualmente de X e Xu. Assim, para uma determinada vazão
afluente Q, a área A dependerá apenas de X e Xu. O projetista poderá então, dentro de certa
medida, variar a área A e, em conseqüência, o valor esperado para Xu.

Portanto, um exame sucinto do que foi apresentado evidencia claramente que as grandezas
V, A e Qr são interdependentes e que o grau de interdependência é elevadíssimo. O projetista
tem uma determinada margem de variação de qualquer um desses valores, sabendo, entretanto,
que a variação de um deles implicará variação de pelo menos um dos dois restantes. Esse fato
é fundamental para o desempenho do sistema de aeração, e deve ser levado em consideração
no seu dimensionamento.

7.6 Fornecimento de oxigênio


A matéria orgânica contida no esgoto é estabilizada por oxidação bioquímica através do
metabolismo bacteriano. Assim, a presença de OD em níveis adequados no líquido sob aeração
é essencial ao desempenho do processo. Embora a maior parte dos organismos intervenientes
possa resistir a períodos de anoxia relativamente longos, seus processos metabólicos são mais
eficientes em meios com teores de OD acima de 0,5 mg/L.

Os tanques de aeração devem, então, ser mantidos com


teores de OD na faixa de 0,5mg/L a 1,5mg/L, salvo em processos
destinados a promover a nitrificação biológica dos efluentes,
onde são desejáveis níveis mais elevados.
Anoxia - ausência de
Como o próprio processo de estabilização implica consumo oxigênio no ar, no sangue
de oxigênio, para manter o teor de OD em nível constante no TA arterial ou nos tecidos.
é necessário introduzi-lo, permanentemente, na massa líquida
na mesma taxa em que é consumido no processo.

7.6.1 Necessidades de oxigênio

A necessidade de oxigênio para manter o desempenho do processo em um nível adequado


é expressa em termos de massa de oxigênio a ser introduzida no reator biológico ao longo
do tempo, isto é, MO/dt. A massa deve ser suficiente para suprir a demanda oriunda de três
diferentes fenômenos, a saber:

• oxigênio suficiente para satisfazer as necessidades de energia dos organismos durante


a síntese do material celular;

130 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

• oxigênio necessário para oxidar bioquimicamente o material celular consumido por


respiração endógena; e

• oxigênio suficiente para satisfazer as necessidades de energia para a nitrificação bio-


lógica, caso o processo seja dimensionado para tal.

Ao discutir a fisiologia bacteriana, mencionamos que os organismos necessitam de ener-


gia para manter seus processos vitais. Comentamos ainda que a energia é obtida do próprio
substrato, ou seja, uma determinada fração de substrato é diretamente oxidada ou queimada
bioquimicamente para a produção de energia, enquanto a parcela restante é incorporada ao
material celular. Sendo assim, a massa de oxigênio que satisfaz às necessidades de energia
durante a síntese deve ser correspondente à oxidação da fração de substrato não convertida
em material celular.

Em geral, a avaliação da massa de substrato é feita indiretamente, através


do conhecimento da massa de oxigênio necessária para oxidá-lo bioqui-
micamente. Mas, do ponto de vista conceitual, é importante frisar que ao
se quantificar o substrato através da massa de DBO ou do carbono orgânico
dissolvido (COD), não estamos de fato nos referindo a uma determinada massa de
substrato, mas sim à massa de oxigênio proporcional àquela massa de substrato.

Em nosso caso a massa de material celular sintetizado é medida em termos de massa de SSVTA.
Conhecemos também o fator de conversão entre massa de substrato e massa de material celular,
ou seja, o próprio coeficiente de produção (Y). Entretanto, para exprimir a massa de substrato sin-
tetizada nas mesmas unidades utilizadas para quantificar o substrato, ou seja, o seu equivalente em
oxigênio (DBO ou COD), é preciso conhecer o fator de conversão apropriado.

O fator de conversão seria a massa de oxigênio necessária para estabilizar bioquimica-


mente a massa unitária de material celular. Portanto, ele seria o elo que une uma massa à outra.
Como a massa de substrato é indiretamente quantificada com base na massa de oxigênio, o
fator de conversão seria o ponto de referência comum entre elas, pois permitiria expressá-las
em função de seu equivalente de oxigênio.

Ao discutir a fisiologia bacteriana, mencionamos também que uma composição teórica para
o material celular bacteriano seria C5H7O2N. Sendo assim, as necessidades de oxigênio para oxidar
completamente este composto químico poderiam ser avaliadas a partir da seguinte reação:

Equação 7. 55

SENAI-RJ 131
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

O cálculo estequiométrico aplicado a essa reação mostra que são necessários 1,42kg de
oxigênio para oxidar 1kg de material celular. Esse valor teórico foi comprovado em inúmeras
aplicações práticas e, ao considerá-lo, podemos afirmar que, para exprimir a massa de mate-
rial celular em termos de seu equivalente em oxigênio, basta multiplicá-la pelo fator 1,42. Ela
pode ser representada, em kg/d, como:

Equação 7. 56
Onde:

dMXa = variação da massa de organismos ativos contida no TA.

Como a massa de substrato é expressa em equivalentes de oxigênio, evidentemente o


valor numérico será igual ao da massa de oxigênio necessária à sua oxidação. Podemos então
representá-la, em kg/d, como:

Equação 7. 57

ou

Equação 7. 58
Onde:

(dMO/dt)1 = massa de oxigênio necessária para oxidar bioquimicamente a fração de subs-


trato não convertida em material celular, metabolizada durante o intervalo dt.

A massa de oxigênio que satisfaz a demanda da respiração endógena será aquela neces-
sária para oxidar bioquimicamente a massa de material celular biodegradável, consumida por
respiração endógena. Já mencionamos também que nem todo o material contido nas células
destruídas por respiração endógena é oxidado bioquimicamente, pois uma determinada fração
f de sua massa permanece no processo como resíduo endógeno. Portanto, podemos afirmar
que a fração do material celular destruída por respiração endógena (oxidada bioquimicamente)
é expressa por (1- f ) e sua massa será, em kg/d:

Equação 7. 59

132 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

Através da taxa específica de respiração endógena b, essa massa referida à massa total de
organismos ativos contidos no TA fornece, ainda em kg/d:

Equação 7. 60

Essa massa, expressa em equivalentes de oxigênio, será igual à própria necessidade de


oxigênio para oxidá-la bioquimicamente. Então:

Equação 7. 61

Fazendo MXa = MXv (o que é justificável por questões de segurança já que MXv é sempre
maior que MXa), temos a seguinte representação, em kg/d:

Equação 7. 62

Caso não seja prevista a nitrificação biológica, as necessidades de oxigênio para o processo,
em kg/d, poderão ser expressas por:

Equação 7. 63

Substituindo os valores fornecidos pelas Equações 7.58 e 7.61:

Equação 7. 64

Considerando que f é igual a 0,2, e levando-se em conta a Equação 7.1, teremos, em kg/d:

Equação 7. 65

SENAI-RJ 133
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

Finalmente, se o processo for dimensionado para promover a nitrificação biológica devem


ainda ser levadas em conta as necessidades de oxigênio para suprir a demanda correspon-
dente.

A avaliação da massa de oxigênio necessária à nitrificação pode ser feita por meio do cálculo
estequiométrico aplicado à reação química que representa o fenômeno global de nitrificação
biológica. Essa reação evidencia a necessidade de 4,6 unidades de massa de oxigênio para
nitrificar uma unidade de massa de nitrogênio amoniacal.

Como considera-se que todo o NTK (Nitrogênio Total Kjeldahl) deve ser convertido em
nitrogênio amoniacal para posterior nitrificação, as necessidades de oxigênio são baseadas
na fração da massa de nitrogênio amoniacal convertida em nitratos, ou seja, aquela que foi
realmente nitrificada. Portanto, considerando-se que a concentração de nitratos no afluente
é em geral desprezível, a massa de oxigênio necessária para satisfazer a demanda proveniente
da nitrificação é obtida em função da concentração de nitrogênio de nitratos (ou moléculas
do elemento N ligadas ao radical NO3) no efluente, Nn.

A massa de nitrogênio nitrificada ao longo do tempo é expressa, em kg/d, por:

Equação 7. 66

Se admitirmos a necessidade de 4,6kg de oxigênio para promover a nitrificação de 1kg de


nitrogênio, teremos, em kg/d:

Equação 7. 67

7.6.2 Variantes do processo

O processo dos lodos ativados sofreu ampla disseminação e tem sido empregado em todo
o mundo seguindo diversas variantes. Embora todas adotem os mesmos princípios básicos, há
diferenças entre elas no que se refere:

• ao tipo de fluxo hidráulico;

• ao tanque de aeração;

• à forma pela qual o oxigênio é suprido;

• aos parâmetros do processo; e

• ao grau de pré-tratamento dos esgotos afluentes.

134 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

O fluxo hidráulico no interior de um TA em operação contínua já foi exa-


minado anteriormente.

O oxigênio introduzido no TA é, em geral, o disponível no ar (as exceções correm por conta


das variantes que se utilizam de oxigênio puro). A introdução se faz por meio de dispositivos
denominados aeradores, que devem não somente dissolver o ar atmosférico no interior do
tanque como também provocar um grau de turbulência suficiente para impedir a sedimen-
tação do lodo ativado no interior do TA, mantendo assim uma distribuição de partículas tão
homogêneas quanto possível.

7.6.3 Métodos de aeração

Existem dois métodos básicos para promover a aeração: introduzir o ar atmosférico na


massa líquida através de bocais ou de materiais porosos submersos (ar difuso) ou promover a
agitação da superfície líquida (aeração mecânica).

Ar difuso

O método de aeração por ar difuso utiliza um fluxo de ar produzido por compressores ou


sopradores e transportado por tubulações dotadas de válvulas que permitem variar a massa de
ar introduzida. O ar é liberado no interior no tanque através de bocais, orifícios, placas porosas,
tecidos, tubos perfurados ou dispositivos especiais patenteados. Recentemente as membranas
elásticas perfuradas têm obtido grande aceitação.

A escolha do difusor depende das características do processo, da disponibilidade de ma-


terial e de custos.

Difusores tipo bocais, orifícios ou certos dispositivos especiais fornecem bolhas grosseiras.
São menos eficientes, pois exigem a introdução de maior massa de ar para obter um dado teor de
OD. Porém sua manutenção é mais simples porque apresentam menor risco de obstrução.

Difusores tipo placas porosas, tecidos e similares fornecem bolhas finas. São mais eficientes
se comparados aos citados anteriormente. Porém, exigem maior purificação do ar, pois são
mais sujeitos à obstrução, seja pelas impurezas porventura contidas no ar, seja pelos sólidos
em suspensão no TA em caso de paralisação do fluxo de ar.

SENAI-RJ 135
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

O dimensionamento de um sistema de difusores consiste na determinação da massa de


ar a ser introduzida na unidade de tempo, a partir do conhecimento da massa de oxigênio a
ser utilizada no processo. Portanto, é preciso considerar:

• a porcentagem de oxigênio no ar;

• a eficiência dos difusores (de 8% a 20% para bolhas finas e de 2% a 5% para bolhas
grosseiras);

• a temperatura do TA;

• a altitude local; e

• as características do líquido sob aeração.

Os difusores podem se localizar em uma linha longitudinal, próxima ao fundo do TA, ao


longo do centro ou de um dos seus lados, sendo a última disposição a mais comum. Podem
ser fixos ou montados em braços articulados visando sua retirada para efetuar a manutenção
sem interromper o processo, evitando assim a necessidade de esvaziar o tanque.

Aeração mecânica

A aeração mecânica é feita por meio de aeradores superficiais, que consistem em disposi-
tivos giratórios de eixo horizontal ou vertical, dotados de palhetas ou lâminas que entram em
contato com a superfície líquida, promovendo grande agitação, lançando gotículas de líquido
para a atmosfera, e introduzindo pequenas bolhas de ar na massa líquida.

Os dispositivos giratórios de eixo horizontal, tais como rotores tipo gaiola ou similar, são
utilizados principalmente nos tanques de aeração tipo valo de oxidação, visto que tendem a
produzir fluxo principalmente no sentido horizontal.

Valo de oxidação: Reator biológico aeróbio de formato característico, que


pode ser utilizado para qualquer variante do processo de lodos ativados
que comporte um reator em mistura completa.

Os rotores de eixo horizontal são acionados por motor elétrico acoplado a redutor de
velocidade e giram a cerca de 70 a 110rpm. Seu diâmetro varia de 0,7 a 1,20m.

Os dispositivos giratórios de eixo vertical são utilizados principalmente em tanques


convencionais retangulares. Porém, podem também ser instalados junto à parede central de
valos de oxidação de grande profundidade e de valos de oxidação de fluxo orbital, conhecidos
comercialmente como carrossel.

136 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

Os diâmetros desse tipo de dispositivo variam diretamente em função da potência. São


acionados por motores elétricos acoplados a redutores de velocidade, nos modelos de baixa
rotação (40 a 60rpm), ou diretamente conectados ao rotor, nos modelos de alta rotação (rotor
tipo turbinas, 500 a 800rpm).

Podem ser montados em estrutura fixa no interior do tanque ou em apoios flutuantes. No


primeiro caso, a massa de ar introduzida no líquido pode ser controlada variando a imersão
das palhetas através da variação do nível do líquido no interior do tanque. No segundo caso, o
controle é obtido ligando e desligando certo número de unidades.

O dimensionamento consiste na determinação da potência necessária à introdução da


massa de oxigênio a ser consumida no processo levando em consideração:

• a eficiência do dispositivo de aeração (expressa em kgO2/HPxh e fornecida pelo fabri-


cante);

• a temperatura no interior do tanque; Aeradores de boa qualidade


• a altitude; são capazes de fornecer de
1 kgO2/HP.h a 1,5 kgO2/HP.h
• o teor de OD a ser mantido no TA; e
em água limpa com tempe-
• as características do líquido sob aeração. ratura de 20°C e ao nível do mar.

7.6.4 Principais variantes

As principais variantes sob as quais o processo dos LA é utilizado e que serão sumari-
amente descritas a seguir são:

• lodo ativado convencional;

• aeração proporcional;

• aeração escalonada;

• mistura completa;

• aeração de alta capacidade;

• bioadsorção ou estabilização por contato;

• aeração por oxigênio puro; e

• aeração prolongada.

SENAI-RJ 137
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

Lodo ativado convencional

Em sua origem, o processo de lodos ativados foi utilizado sob essa forma. Nela, os esgotos,
após decantação primária, são lançados na cabeceira de um tanque de aeração longo e estreito
(fluxo de pistão) onde é igualmente lançado o lodo ativado retornado do fundo do DS.

Geralmente, o excesso de LA é retirado da própria tubulação de retorno e encaminhado


ao decantador primário, onde se sedimenta e é removido do sistema.

As características dessa variante são:

• A variante permite o uso de aeração mecânica ou por ar difuso.

• O tipo de fluxo hidráulico no TA não permite a aplicação de cargas muito elevadas ao


processo.

• As relações alimento/microrganismos se situam na faixa de 0,2 a 0,4kgDBO/kgSSVTA.d,


o que corresponde a idades de lodo na faixa de 8 a 15 dias.

• O teor de SSVTA usual se situa na faixa de 1.500 a 2.000mg/L.

• O tempo de detenção correspondente a esses parâmetros varia de 4 a 8 horas.

• O processo é geralmente utilizado para tratamento de esgotos domésticos não muito


concentrados e oferece eficiência na faixa de 85% a 95% da remoção de DBO.

Aeração proporcional

A rigor não se trata de uma variante no sentido estrito do termo, mas de uma pequena
modificação no processo convencional visando, sobretudo, economizar energia. Isso por que o
fluxo de pistão utilizado no processo convencional faz com que as necessidades de oxigênio se-
jam maiores na cabeceira do TA, onde ingressa o esgoto pré-decantado, e decresçam na medida
que a DBO é paulatinamente satisfeita ao longo do tanque. Com isto os teores de OD alcançados
junto à extremidade de jusante são excessivamente altos, gerando, como conseqüência, algum
desperdício de energia, pois o excesso de oxigênio não é utilizado no processo.

As características desta variante são:

• Consiste, exclusivamente, em regular a oferta de oxigênio de acordo com a demanda


ao longo do tanque.

• A regulagem é feita em geral por meio da aeração por ar difuso, seja espaçando mais
os difusores na região próxima à saída, seja regulando o fluxo de ar, diminuindo-o
junto à extremidade de jusante do tanque.

138 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

Todas as demais características do processo de aeração proporcional são


semelhantes às da variante anterior, isto é, do processo de lodo ativado
convencional.

Aeração escalonada

Nessa variante o intuito é evitar os inconvenientes do fluxo de pistão através de uma dis-
tribuição do afluente ao longo de todo o TA.

As características desta variante são:

• Utilização de TA longo e estreito.

• O lodo ativado de retorno é introduzido na cabeceira do tanque, como na variante anterior.

• O esgoto afluente pré-decantado é distribuído ao longo de todo o tanque (ou de parte


dele) por meio de um canal lateral ou central, com comportas de ingresso ao tanque
igualmente espaçadas. Com isto, a demanda de oxigênio é distribuída ao longo do
tanque não havendo, portanto, necessidade de regular a sua oferta.

• A distribuição da carga orgânica afluente por um volume maior do tanque torna o


processo mais resistente a choques provenientes de variações bruscas da carga orgâ-
nica afluente. Assim, é possível manter uma concentração maior de SSTA, na faixa de
2.000 a 3.500mg/L, fazendo cair o tempo de detenção para a faixa de 3 a 5 horas.

• A redução no tempo de detenção resulta em economia devido ao menor volume do TA.

• Esta variante permite tanto o uso de aeração mecânica quanto por ar difuso.

• A relação U se situa na faixa de 0,2 a 0,4kgDBO/kg MLVSS.d, e a idade do lodo se as-


senta na faixa correspondente de 8 a 15 dias.

• A variante pode ser empregada para tratar esgotos de diversos tipos, oferecendo efi-
ciência na faixa de 85% a 90% de remoção de DBO.

Mistura completa

Nesta variante o intuito é aumentar a eficiência do processo através do uso do fluxo em


mistura completa, que permite a distribuição uniforme tanto da carga orgânica quanto do
fornecimento do oxigênio por todo o tanque. A mistura completa consiste em fazer com que
o esgoto pré-decantado e o lodo ativado retornado penetrem no TA por um canal central ou
lateral com diversas aberturas. O efluente é retirado por diversos vertedores, no lado oposto
fazendo com que o fluxo ocorra transversalmente ao tanque.

SENAI-RJ 139
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

As características desta variante são:

• O conteúdo do TA é mantido tão homogêneo quanto possível por meio de dispositivos


de aeração que podem ser mecânicos ou por ar difuso. Com isto, torna-se possível
aumentar a carga orgânica do processo, que pode trabalhar com relações U na faixa
de 0,2 a 0,6kgDBO/kg SSVTA.d (idades do lodo de 4 a 15 dias).

• A alta resistência a choques permite aumentar o teor de SSVTA, que varia na faixa de
3.000 a 5.000mg/L.

• Os tempos de aeração correspondentes se situam na faixa de 2 a 5 horas.

• O excesso de lodo ativado também pode ser removido a partir da linha de retorno do
lodo e encaminhado ao DP, ou então removido diretamente do TA a fim de permitir o
controle do processo pela idade do lodo. Neste caso, o excesso de lodo é geralmente
encaminhado a um adensador antes do tratamento do lodo.

• O processo é extremamente resistente a choques e pode ser aplicado a uma extensa


gama de despejos, com eficiência na faixa de 90% a 95% de remoção de DBO. Porém é
propício à manifestação do problema operacional conhecido como intumescimento
do lodo ou bulking.

Aeração de alta capacidade

Conforme visto anteriormente a aeração de um substrato orgânico em meio de alta con-


centração de substrato ocorre segundo uma cinética de ordem zero, ou seja, a velocidade de
reação é elevada e independe da concentração de substrato no meio. Esse fenômeno pode ser
utilizado no tratamento de esgotos, desde que não haja necessidade de um efluente de alta
qualidade (quando uma concentração de substrato relativamente elevada pode ser tolerada
no efluente). Em termos práticos, a utilização dessa propriedade significa aproveitar a grande
velocidade inicial de reação (remoção de DBO) em meios de alta concentração de substrato,
trabalhando em faixas de relações U extremamente elevadas, da ordem de 1 a 5kgDBO/kg
SSVTA.d (idades de lodo de 0,2 a 0,5 dias).

As características desta variante são:

• A produção de excesso de lodo é elevadíssima.

• As concentrações de SSTA podem ser muito altas, na faixa de 3.500 a 5.000mg/L, le-
vando a tempos de detenção extremamente curtos (0,5 a 2 horas).

• O fluxo hidráulico é, geralmente, o de mistura completa, utilizando aeradores superficiais.

• O processo apresenta baixa eficiência, na faixa de 65% a 75% de remoção de DBO.


Porém, o uso de tanques de aeração pequenos resulta em apreciável economia, que

140 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

pode ser maximizada por meio da eliminação do DP e da introdução do esgoto bruto


diretamente ao TA após tratamento apenas em nível preliminar.

• O excesso de LA pode ser retirado da linha de retorno de lodo ou diretamente do TA,


neste caso devendo ser adensado.

Bioadsorção ou estabilização por contato

As bactérias constituintes do LA só podem se nutrir diretamente de substrato em solução,


que absorvem por osmose. A matéria orgânica em suspensão (partículas não solúveis) não
pode ser introduzida diretamente na célula.

Para utilizá-las, os organismos inicialmente adsorvem as partículas atraindo-as para junto da


membrana celular e posteriormente as hidrolisam (transformam em compostos solúveis) por meio
de reações com enzimas extracelulares (exoenzimas), segregadas pelos próprios organismos. Os
compostos solúveis resultantes da hidrólise são, então, absorvidos pelas células por osmose.

Os processos de absorção dos compostos solúveis e de adsorção das partículas são muito
rápidos, enquanto o processo intermediário de hidrólise das partículas é bem mais lento.

Esse fenômeno é aproveitado para o tratamento de esgotos na variante dos LA denomi-


nada bioadsorção.

Os esgotos brutos ou pré-decantados são introduzidos em um tanque de aeração de-


nominado “câmara de contato” onde permanecem por um período muito curto (0,5 a 1 hora)
no qual se processam os fenômenos de absorção do substrato em solução e de adsorção das
partículas de matéria orgânica em suspensão.

Da câmara de contato, o líquido sob aeração é encaminhado para um DS, cujo efluente
se dirige para o corpo receptor; enquanto o lodo (que, neste caso, é composto pela biomassa e
pelas partículas orgânicas a ela adsorvida), em vez de retornar à câmara de contato, é lançado
em um segundo tanque de aeração, denominado câmara de reaeração, onde permanece por
um período de 3 a 6 horas.

Nesta última câmara os organismos recebem o oxigênio necessário à estabilização da


matéria orgânica das partículas adsorvidas, sendo encaminhados posteriormente à câmara
de contato, onde recebem nova carga de matéria orgânica.

As características desta variante são:

• O fluxo hidráulico na câmara de reaeração é geralmente do tipo pistão, podendo ser


utilizados aeradores mecânicos ou por ar difuso.

• As relações U (calculadas em relação à massa total de SSV contida no sistema) se


situam na faixa de 0,2 a 0,6kgDBO/kg SSVTA.d (idades do lodo de 4 a 15 dias).

SENAI-RJ 141
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

• As concentrações de SSVTA variam, na câmara de contato, nas faixas de 1.000 a


3.000mg/L, e na câmara de reaeração, nas faixas de 4.000 a 10.000mg/L.

• O volume total do TA resultante (soma dos volumes das câmaras de contato e de


reaeração) é comparativamente baixo, pois, mesmo que sejam considerados os tempos
de detenção relativamente altos do lodo na câmara de reaeração, há que se levar em conta
que a vazão de lodo retornado é de cerca de 25% a 50% da vazão de esgoto afluente.

• A economia já se torna evidente com a possibilidade da eliminação do DP (ou utilização


de uma unidade menos eficiente e, portanto, menor), visto que a matéria orgânica
em suspensão será adsorvida pelos organismos.

• A eficiência do processo é ligeiramente mais baixa que das variantes anteriores,


situando-se na faixa de 80% a 90% da remoção de DBO.

• A variante é extremamente flexível e ideal para a ampliação da capacidade de insta-


lações existentes. Para tanto, basta utilizar o trecho inicial de um TA (por exemplo, da
variante aeração escalonada) como câmara de reaeração, encaminhando-se para a
cabeceira do TA o lodo retornado, mas não aduzindo o esgoto efluente, que somente
será admitido na parte final do tanque, que funcionará como câmara de contato.

• O excesso de LA pode ser retirado da linha de retorno de lodo ativado e encaminhado


ao DP ou a um trecho estanque do próprio TA, que funcionaria, então, como digestor
aeróbio. Assim, é possível obter um aumento razoável da capacidade da variante, com
baixo custo de investimento.

• A variante apresenta, entretanto, algumas desvantagens como sensibilidade a variações


de carga orgânica, instabilidade operacional e geração de um lodo com características
insatisfatórias de sedimentabilidade.

Aeração por oxigênio puro

A aeração por oxigênio puro permite aumentar a atividade bacteriana, facultando não
somente o aumento de relação U para a faixa de 0,25 a 1,0kgDBO/kg SSVTA.d, como também
a manutenção de concentrações de SSTA muito elevadas (4.000 a 6.000mg/L). Com isso, é pos-
sível obter uma redução extraordinária de volume do TA, resultando em tempos de detenção
da ordem de 1 a 3 horas.

As características desta variante são:

• A produção de excesso de lodo é muito baixa, fazendo com que, mesmo diante de
uma faixa elevada de relações U, a idade do lodo se mantenha entre 8 e 20 dias.

• O fluxo deve ser tipo mistura completa.

142 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

• Os aeradores são, em geral, difusores de oxigênio. Isso porque o fluxo de oxigênio, por
ser muito menor que o equivalente fluxo de ar, não é suficiente para causar o turbi-
lhonamento necessário para manter em suspensão o lodo ativado. Por isso, torna-se
necessário suplementar a energia de mistura introduzida no tanque, seja pelo uso de
agitadores tipo hélice submersa, ou pela utilização de aeradores superficiais comuns.

• A eficiência dos difusores de oxigênio deve ser extremamente elevada, pois sendo rela-
tivamente altos os custos de produção do oxigênio puro introduzido no sistema, não se
deve permitir qualquer perda para a atmosfera. Por isto os difusores devem ser altamente
eficientes, gerando bolhas de gás diminutas e promovendo um turbilhonamento intenso,
permitindo que todo o oxigênio se dissolva na massa líquida e nela seja inteiramente
consumido antes que as bolhas atinjam a superfície. Uma alternativa é usar tanques
cobertos, dotados de aeradores superficiais. Assim, a fração da massa do oxigênio que
eventualmente venha a aflorar à superfície formará uma atmosfera saturada e oxigênio
acima do nível d’água. Os aeradores superficiais, neste caso, servem tanto para suple-
mentar a energia de mistura quanto para introduzir no líquido o oxigênio que escapou
da massa líquida.

• O processo apresenta eficiência elevada, de 85% a 95% de remoção de DBO, porém seu
custo é relativamente alto devido à necessidade de gerar ou estocar oxigênio puro.

• A aeração por oxigênio puro apresenta elevada resistência a variações de carga orgânica.

• Em geral é utilizada em locais onde há pequena disponibilidade de área ou facilidade


de obtenção de oxigênio puro e a baixo custo, mas, também pode ser usada em outras
situações como, por exemplo, aumentar a capacidade de instalação de LA existente, em
local onde não há disponibilidade de área para expansão.

• Outra característica é o fato de ser aplicável ao tratamento de extensa gama de despejos,


inclusive de origem industrial.

• Vale a pena destacar ainda que essa variante é muito flexível e a sua operação bastante
simples.

Aeração prolongada

Conforme visto anteriormente, organismos presentes em um meio onde a disponibilidade


de substrato é baixa tendem a se utilizar de seu próprio material celular para sobreviver.

Este fenômeno é conhecido como respiração endógena e pode ser aproveitado para o
tratamento de esgotos quando é importante reduzir a produção de excesso de lodo e gerar um
lodo ativado no qual a fração de organismos ativos seja relativamente baixa, permitindo, assim,
sua disposição final por simples secagem natural por não precisar de estabilização prévia.

SENAI-RJ 143
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

As características desta variante são:

• Trabalha em uma faixa de relações U extremamente baixas (0,05 a 0,15kgDBO/kg


SSVTA.d) visando reduzir a disponibilidade de substrato.

• Em conseqüência disto as idades do lodo resultantes são elevadas (20 a 30 dias), assim
como as concentrações de SSTA (3.000 a 5.000mg/L).

• O excesso de lodo pode ser removido da linha de retorno ou diretamente do TA, quando,
então, deve ser adensado antes do lançamento aos leitos de secagem - LS. Neste caso,
o controle da operação pela idade do lodo torna-se extremamente simples.

• O grande volume do TA em relação à vazão afluente permite uma diluição tão grande
que o fluxo hidráulico passa a ser de mistura completa, quase que independentemente
do formato do TA, oferecendo extrema resistência a choques.

• Os aeradores podem ser mecânicos ou por ar difuso. Muitas das instalações por ae-
ração prolongada utilizam tanques valos de oxidação.

As pesquisas de Pasveer, que resultaram no emprego de valos de oxidação, foram orientadas


no sentido de reproduzir os fenômenos de autodepuração ocorridos em rios não encachoei-
rados, que implicam baixas aplicações de cargas orgânicas.

As propriedades construtivas desses valos permitem a sua implantação com custos muito
baixos, o que os tornam um reator biológico ideal para processos econômicos de tratamento,
especialmente o de aeração prolongada, cuja principal característica é a baixa aplicação
de cargas orgânicas.

O fato de a maioria dos valos de oxidação existentes no mundo adotarem a variante de


aeração prolongada tem gerado grande confusão, fazendo crer que exista um processo
de tratamento ou uma variante dos lodos ativados denominada valos de oxidação. Na verdade,
é preciso distinguir o reator biológico do processo que o adota. Um valo de oxidação é apenas
um reator biológico de formato peculiar que, embora adotado principalmente para a variante
dos LA denominada Aeração Prolongada, pode ser adotado para qualquer outra variante.

A pequena aplicação de cargas orgânicas à biomassa é a característica principal da aera-


ção prolongada. A aplicação sendo baixa, haverá pouca disponibilidade de substrato para a
biomassa presente, resultando em uma produção de excesso de lodo muito pequena, posto
que a maior parte da massa de substrato convertida em material celular pelos organismos
intervenientes é consumida por eles mesmos para produção de energia.

O consumo de material celular pelos próprios organismos para satisfazer suas necessi-
dades energéticas (respiração endógena) pode ser interpretado como eliminação de uma fração
considerável do excesso de lodo por digestão aeróbia no interior do próprio reator biológico.

144 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

Observe que dessa interpretação surgiu o conceito de aeração prolongada,


adotado oficialmente pelas associações americanas de entidades ligadas à
engenharia ambiental ou seja: “uma variante do processo dos lodos ativados
que promove a digestão aeróbia dos lodos no interior do tanque de aeração”.

O excesso de lodo gerado, além de ser produzido em pequena quantidade, apresenta a


característica adicional de não padecer da instabilidade típica dos lodos presentes nas demais
variantes do processo dos LA devido à fração elevada de material não-biodegradável nele con-
tida. De fato, a fração ativa biodegradável do lodo presente em um reator biológico de aeração
prolongada é, geralmente, inferior a 50%. 0 restante, isto é, a maior parte é constituída por:

• sólidos em suspensão fixos trazidos para o interior do reator biológico pelo esgoto
afluente; e

• resíduos do próprio material celular consumido pela respiração endógena, formados


por polissacarídeos complexos de difícil biodegradabilidade.

Os sólidos inertes que tendem a se acumular nos reatores biológicos em aeração prolon-
gada, devido às elevadas idades do lodo adotadas, concedem ao lodo um grau de estabilidade
tão elevado que permite encaminhá-lo à secagem ou destino final sem necessidade de prévia
estabilização.

Ora, como o excesso de lodo ativado dispensa estabilização, eliminando-se a produção


de lodo primário, pode-se, igualmente, eliminar as unidades destinadas à sua estabilização.
Isto pode ser conseguido lançando o esgoto afluente diretamente no tanque de aeração, elimi-
nando assim o DP.

Por outro lado, neste caso, o tanque de aeração, por receber a carga orgânica adicional cor-
respondente aos sólidos orgânicos sedimentáveis, precisa ser convenientemente dimensionado
e levar em conta esta carga. Para isto o TA deverá não apenas apresentar maior volume como,
sobretudo, dispor de maior capacidade instalada de aeração.

O acréscimo dos custos de investimento devido a este aumento é largamente compensado


pela eliminação do DP e das unidades de estabilização de lodos. Por outro lado, os custos opera-
cionais aumentam significativamente devido ao maior consumo de energia elétrica, principal
componente dos custos operacionais de ETEs por lodos ativados.

Assim, antes de decidir pela adoção da variante em Aeração Prolongada, deve-se fazer um
cuidadoso estudo de viabilidade econômica que leve em conta não apenas os custos de inves-
timento como também os custos operacionais ao longo de toda a vida útil da instalação.

SENAI-RJ 145
Tratamento de esgotos - Lodos ativados

Quando se adota a variante por Aeração Prolongada, a instalação de tratamento torna-se


extremamente simples, resumindo-se em:

• unidades de tratamento preliminar;

• reator biológico;

• decantador final;

• elevatória de lodos ativados; e

• leitos de secagem.

Caso sejam adotados valos de oxidação operados intermitentemente como reatores bi-
ológicos, o decantador final, a elevatória de lodos e os leitos de secagem podem ser eliminados.
Neste caso é comum, nas pequenas instalações, dispensar também as caixas de areia. Assim,
toda a ETE estará resumida a uma grade de barras de limpeza manual e um valo de oxidação.

A respiração endógena, para exercer influência tão marcante a ponto de gerar um excesso
de lodo estável, necessita que a disponibilidade de substrato orgânico seja muito pequena, isto
é, as relações alimento/microrganismos sejam muito baixas. Essa necessidade vai implicar na
presença de uma grande massa de organismos ativos para receber uma determinada massa
de substrato.

Os organismos ativos, como já vimos, constituem uma fração relativamente pequena dos
sólidos em suspensão no reator biológico. Portanto, a massa de sólidos em suspensão, contida
nos reatores biológicos em aeração prolongada deve ser extremamente elevada se comparada
com outras variantes dos LA, principalmente se levarmos em conta a carga adicional resultante
da eliminação do DP. Assim, para conter uma massa tão elevada não é suficiente aumentar,
apenas, a concentração dos sólidos no reator biológico, mas, também, aumentar o próprio vo-
lume do reator. Esse aumento vai resultar em tanques de aeração muito grandes, com tempos
de detenção da ordem de 24 horas, o que justifica a denominação de aeração prolongada.

146 SENAI-RJ
Lagoas de estabilização

Nesta unidade...

Lagoas aeradas

Lagoas anaeróbias

Lagoas aeróbias

Lagoas de maturação

Lagoas facultativas

Fatores intervenientes

Dimensionamento

Lagoas em série

8
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização

8. Lagoas de estabilização
Diversos processos de tratamento de esgotos se encontram agrupados sob o nome genérico
de lagoa de estabilização. Mas, na realidade, a única característica que têm em comum é o fato
de utilizarem um tanque artificialmente construído onde se desenrolam certos fenômenos e
cuja finalidade é tratar os esgotos a ele encaminhados.

Os processos de tratamento que se agrupam sobre o nome genérico de lagoas podem ser
bastante diferentes tanto no que toca à sua natureza quanto no que diz respeito a seus objetivos
e fenômenos intervenientes e guardam pouco em comum além do nome.

Infelizmente não há ainda uma nomenclatura consistente e aceita em todo o mundo para
designá-los, o que tem gerado alguma confusão.

Nesta unidade vamos adotar as seguintes designações:

• lagoas aeradas;

• lagoas anaeróbias;

• lagoas aeróbias;

• lagoas de maturação; e

• lagoas facultativas.

8.1 Lagoas aeradas


Lagoas aeradas são unidades de tratamento destinadas a estabilizar a matéria orgânica
dos esgotos por oxidação bioquímica onde o oxigênio necessário é inteiramente suprido por
aeradores artificiais.

Podem ser de dois tipos:

• lagoas aeradas/aeróbias; e

• lagoas aeradas/facultativas.

SENAI-RJ 149
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização

Aeradas/aeróbias

Nessas lagoas a “densidade de potência” dos aeradores artificiais é suficiente para criar
um nível de turbulência que impeça qualquer deposição de sólidos no interior da lagoa. Neste
caso, o processo se desenrola como uma variante dos lodos ativados na qual não há retorno
de lodo.

Suas principais características são:

• a idade do lodo do processo é idêntica ao tempo de detenção hidráulico;

• o teor de SSV depende do tempo de detenção e da concentração de substrato no esgoto


afluente;

• os parâmetros e a técnica de dimensionamento são os mesmos utilizados para o


processo dos lodos ativados.

Aeradas/facultativas

Neste tipo de lagoas a potência dos dispositivos de aeração é suficiente para suprir todo
o oxigênio necessário à estabilização bioquímica da matéria orgânica afluente, mas não o
bastante para manter todos os sólidos em suspensão. Como conseqüência, há alguma de-
posição de sólidos nas áreas do fundo do tanque mais afastadas do turbilhonamento provocado
pelos aeradores. Este lodo depositado no fundo entra em decomposição anaeróbia. Neste
caso, o processo se desenrola como uma variante dos LA, mas a carga adicional gerada pelos
produtos da decomposição anaeróbia do lodo do fundo deve ser levada em consideração no
dimensionamento.

8.2 Lagoas anaeróbias


São tanques que recebem esgoto bruto, destinados ao pré-tratamento de esgotos por
estabilização anaeróbia parcial da matéria orgânica afluente. Todo o conteúdo do tanque se
mantém anaeróbio. O processo se desenrola de forma semelhante ao que se passa em grandes
fossas sépticas: enquanto a matéria orgânica em suspensão se deposita no fundo da unidade,
onde entra em digestão anaeróbia, a matéria orgânica contida no líquido sofre, também, uma
parcial estabilização anaeróbia.

Suas principais características são:

• o efluente de lagoas anaeróbias apresenta uma redução de DBO da ordem de 40% a


60%;

150 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização

• as profundidades usuais se situam em torno dos 3 a 6m e os tempos de detenção na


faixa de 2 a 6 dias;

• o dimensionamento é feito com base na taxa de aplicação volumétrica de carga orgânica,


sendo recomendadas taxas de aplicação da ordem de 0,01 a 0,08 kgDBO/d.m3;

• a eficiência da lagoa anaeróbia é maior no verão que no inverno em virtude da maior


atividade bacteriana em altas temperaturas;

• odores desagradáveis podem ser desprendidos de lagoas anaeróbias, especialmente


quando submetidas a elevadas taxas de aplicação.

Quando a lagoa anaeróbia é utilizada como pré-tratamento à montante de


uma lagoa facultativa, odores desagradáveis podem ser evitados mediante a
recirculação de parte do efluente da facultativa para a entrada da anaeróbia.
Recomendam-se relações de recirculação na faixa de 0,1 a 0,4.

8.3 Lagoas aeróbias


Lagoas aeróbias são tanques para os quais se encaminham os esgotos e onde as algas
proliferam intensamente devido às condições ambientais propícias. Por meio da fotossíntese,
as algas liberam no líquido o oxigênio necessário tanto à manutenção de condições aeróbias
em toda a massa líquida quanto à estabilização bioquímica da matéria orgânica por meio do
metabolismo de organismos aeróbios.

Como a produção de oxigênio pelas algas depende da luz solar, lagoas estritamente aeróbias
não podem ter profundidades elevadas, posto que os raios solares não penetrariam até as
camadas inferiores. Para garantir condições aeróbias permanentes, a profundidade não deve
exceder 0,45m, o que exige a utilização de grande área. Mas, mesmo mantendo a profundidade
dentro dos limites recomendados, é praticamente impossível evitar a deposição de sólidos no
fundo da lagoa, onde se formaria então uma camada anaeróbia. Isto faz da lagoa aeróbia um
dispositivo ideal, porém impossível de se obter na prática.

SENAI-RJ 151
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização

8.4 Lagoas de maturação


São tanques que recebem o efluente de estações de tratamento convencionais ou de outras
lagoas com a finalidade de polir este efluente reduzindo, principalmente, a concentração de
sólidos sedimentáveis e de organismos patogênicos.

Lagoas de maturação são, portanto, dispositivos de tratamento terciário, e não se desti-


nam à estabilização da matéria orgânica, mas sim, a propiciar uma melhoria na qualidade do
efluente de instalações de tratamento secundário.

Podem ser usadas para eliminar diversos poluentes e contaminantes. Sua utilização para
uso específico de redução da colimetria será abordado adiante ao discutirmos lagoas em série.

8.5 Lagoas facultativas


São dispositivos de tratamento para os quais são encaminhados esgotos brutos ou pré-
tratados visando a estabilização bioquímica da matéria orgânica neles contida por meio do
metabolismo de organismos aeróbios. Estes organismos se utilizam, para seu metabolismo,
do oxigênio produzido pelas algas presentes na lagoa devido à manutenção de condições am-
bientais favoráveis. Uma parte da carga orgânica presente no afluente sob a forma de sólidos
sedimentáveis se fixa no fundo da lagoa e serve de alimento a organismos anaeróbios que ali
proliferam.

Lagoas facultativas constituem a imensa maioria das lagoas de estabilização existentes


no mundo. Por isso, vamos abordá-las de forma mais detalhada.

Uma lagoa facultativa se caracteriza pela (e deve seu nome a) existência de:

• uma camada superior, onde predominam as condições aeróbias; e

• uma camada junto ao fundo, onde predominam as condições anaeróbias.

O oxigênio necessário à manutenção das condições aeróbias na camada superior provém


quase exclusivamente das algas ali existentes, sendo pouco significativa a parcela obtida por
aeração natural.

Algas produzem oxigênio através do fenômeno conhecido por fotossíntese. Para realizar a
fotossíntese, além da energia luminosa, as algas se utilizam dos produtos finais do metabolismo
tanto dos seres aeróbios das camadas superiores quanto dos seres anaeróbios da camada junto
ao fundo. Há, portanto, uma constante interação entre os organismos presentes, conforme
esquematizado na Figura 8.1.

152 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização

Figura 8
8.1
1 – Lagoa facultativa

Podemos então afirmar que uma lagoa facultativa se constitui em um ecossistema no qual
a manutenção do equilíbrio biológico é fundamental para o funcionamento do processo.

O esgoto bruto introduz no ecossistema compostos de carbono inorgânico, nitrogênio,


fósforo e demais nutrientes básicos, além de matéria orgânica instável, seja em solução, ou em
suspensão. Através da superfície líquida, penetram nitrogênio, gás carbônico e oxigênio do ar
atmosférico, vindos do ambiente exterior. No período diurno, há luz solar em abundância, cujos
raios luminosos penetram na lagoa e fornecem energia para a fotossíntese. Estas condições
ambientais são propícias à proliferação de algas. Ao se utilizarem de compostos de carbono
inorgânico e de N e P trazidos pelo afluente, nitrogênio e gás carbônico difundido pela super-
fície e, principalmente, dos produtos do metabolismo dos organismos aeróbios e anaeróbios
(CO2, compostos de N e P), as algas sintetizam a matéria orgânica que necessitam e liberam
oxigênio para o ambiente através da reação básica da fotossíntese:

6CO2 + 6H20 + 673kcal → C6H12O6 + 6O2

Além disso, as algas liberam para o líquido, substâncias em suspensão sedimentáveis seja
sob a forma de produtos de metabolismo, ou sob a forma de material celular morto, que se
depositarão no fundo.

O oxigênio liberado pelas algas (além da pequena parcela obtida por reaeração natural) é
utilizado pelos organismos aeróbios para metabolizar a matéria orgânica em solução ou sus-
pensão coloidal e parte dos compostos de N e P trazidos pelo afluente, além dos compostos
orgânicos em solução, oriundos do metabolismo dos organismos anaeróbios do fundo e libera-
dos para o meio. Esta utilização se perfaz através da reação básica do metabolismo aeróbio:

C6H12O6 + 6O2 → 6CO2 + 6H2O + 673kcal

SENAI-RJ 153
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização

Grande parte do gás carbônico liberado é utilizada pelas algas; o restante acaba se per-
dendo pela superfície ou pelo efluente.

Do metabolismo aeróbio resultam igualmente sólidos sedimentáveis, seja sob a forma


de produtos do metabolismo, ou sob a forma de material celular morto, que se depositam no
fundo.

A liberação do oxigênio para o meio se processa apenas na camada superior onde penetra
a luz solar. A penetração da luz nas regiões de maior profundidade é dificultada pelo aspecto
turvo do líquido, causado, principalmente, pela presença das próprias algas.

A profundidade até a qual penetra a luz no interior da lagoa pode ser avaliada através da
utilização do disco de Secchi. Trata-se de um disco pesado, com 30cm de diâmetro, pintado
de branco. Para usá-lo, deve-se:

• imergir o disco na lagoa; e

• registrar a profundidade em que o observador já não consegue mais distinguir o disco.

Para atingir os olhos do observador a luz refletida pelo disco de Secchi pre-
cisa atravessar duas vezes a camada de água até chegar à profundidade
alcançada pelo disco. Considerando esse fato, pode-se então estimar a pro-
fundidade máxima de penetração da luz como o dobro da imersão em que o
disco permanece visível.

A camada de lodo que se forma no fundo da lagoa é rica em matéria orgânica, mas to-
talmente carente de oxigênio, que é todo consumido nas camadas superiores. No fundo pre-
dominam então as condições anóxicas e o consumo da matéria orgânica se faz por organismos
anaeróbios através da reação:

C6H12O6 → 3CH4 + 3CO2 + 35kcal

8.5.1 Fatores limitantes

A produção de oxigênio por fotossíntese não depende apenas da energia luminosa, mas
de diversos outros fatores, como disponibilidade de nutrientes e temperatura do meio.

Em meios onde há fartura de nutrientes, tanto a temperatura quanto a luminosidade do


ambiente podem se tornar fatores limitantes. Isto porque a fotossíntese (cuja representação sob

154 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização

a forma da reação química vista anteriormente é extraordinariamente simplificada) consiste,


de fato, no encadeamento altamente complexo de diversas reações, algumas bioquímicas (ca-
talisadas por enzimas), outras de natureza fotoquímica (dependentes da energia luminosa).

Temperatura

Nas reações bioquímicas (enzimáticas) a influência da temperatura é decisiva e obedece


à Lei de Arrhenius (o que significa que a rapidez da reação varia exponencialmente com a tem-
peratura, dobrando a cada dez graus centígrados de aumento da temperatura do ambiente).

Já nas reações bioquímicas fotoquímicas a temperatura não exerce influência, mas a


disponibilidade de luz é fundamental. Por isso, nas camadas superiores mais próximas da
superfície, onde há abundância de energia luminosa, a temperatura é o fator limitante, pois
a luminosidade se faz presente em tal excesso que apenas de 5% a 7% da energia disponível
será utilizada para a fotossíntese. Nesta região, a rapidez da fotossíntese será controlada pela
produção de enzimas, variando exponencialmente com a temperatura na faixa compreendida
entre 4 e 35°C.

Se a temperatura não estiver na faixa compreendida entre 4 e 35°C o metabo-


lismo das algas é inibido e a produção de oxigênio decresce rapidamente.

Luminosidade

À proporção em que se penetra na direção do fundo da lagoa, a disponibilidade de energia


luminosa decresce em virtude da absorção da luz pela turbidez das camadas superiores. Chega-
se, então, a um ponto em que, para as condições de temperatura vigentes, o fator limitante
será a luminosidade.

Nessa região, a produção de oxigênio decresce na medida em que a disponibilidade de


energia luminosa vai sendo reduzida, até atingir um ponto no qual todo o oxigênio produzido
por fotossíntese passa a ser consumido pela própria respiração das algas. Esse ponto é denomi-
nado ponto de compensação e se manifesta nas lagoas em uma profundidade conhecida como
profundidade de compensação, abaixo da qual não há liberação de oxigênio para o meio.

Em lagoas de estabilização fotossintética a profundidade de compensação se situa na faixa


de 0,50 a 0,70m e coincide, geralmente, com a metade da profundidade máxima alcançada
pela luz.

SENAI-RJ 155
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização

Abaixo do ponto de compensação é possível ainda encontrar oxigênio dissolvido que


migrou das camadas superiores por difusão (em teores muito baixos) e, principalmente, por
mistura pela ação dos ventos. Entretanto, em condições de calmaria, o teor de OD decresce
com o aumento da profundidade, chegando a zero no nível correspondente à profundidade de
compensação. Abaixo desse ponto predominam as condições de anaerobiose, especialmente na
camada do fundo, onde se depositam os sólidos sedimentáveis formando uma camada de lodo
constituída principalmente por matéria orgânica biodegradável, seja trazida com o afluente,
ou resultante dos processos metabólicos das algas e dos organismos aeróbios em suspensão.

A mistura pela ação dos ventos é extremamente importante para o desempe-


nho da lagoa; seus efeitos serão abordados detalhadamente mais adiante.

8.5.2 Atividade anaeróbia junto ao fundo

A matéria orgânica é metabolizada pelos organismos anaeróbios que proliferam junto ao


fundo obedecendo à reação básica do metabolismo anaeróbio:

C6H12O6 → 3CH4 + 3CO2 + 35kcal

O gás metano liberado se perde para a atmosfera. O gás carbônico é, em sua maior parte,
utilizado pelas algas para a fotossíntese, juntamente com certos compostos de N e P, igualmente
liberados. Além disto, o metabolismo anaeróbio produz sólidos sedimentáveis estabilizados que
constituem o húmus do fundo e também libera uma determinada quantidade de compostos
orgânicos solúveis, utilizados pelos organismos aeróbios presentes nas camadas superiores.

A liberação de compostos orgânicos instáveis provenientes do lençol de lodo adquire


particular importância em regiões onde há sensível variação de temperatura entre verão e
inverno.

Nestas regiões, durante o inverno, a atividade bacteriana no lodo do fundo é inibida pelas
baixas temperaturas (lembrar que, de acordo com a Lei de Arrhenius, um decréscimo de dez
graus centígrados na temperatura ambiente reduz a atividade bacteriana à metade). Neste
período em que praticamente não é metabolizada, a matéria orgânica vai se acumulando no
fundo e a espessura do lençol de lodo aumenta progressivamente.

156 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização

Com a elevação da temperatura no final do inverno, a atividade bacteriana aumenta e


toda a massa de lodo acumulada durante o inverno passa a ser rapidamente estabilizada,
com a conseqüente liberação, para o meio, de líquido com razoável quantidade de compostos
orgânicos.

A carga orgânica liberada a partir do fundo se somará à introduzida com o esgoto afluente,
num fenômeno de realimentação que, em certos casos, pode sobrecarregar o sistema e romper
o equilíbrio biológico. Mas, mesmo que esse problema não ocorra, verifica-se uma flutuação
sazonal na qualidade do efluente, que tende a se deteriorar logo após o inverno. Esse fenômeno
é denominado spring turnover.

A espessura do lençol de lodo no fundo de uma lagoa facultativa costuma variar durante
o ano.

Assim que a unidade entra em funcionamento ocorre, a cada ano, um pequeno acréscimo
da espessura. O equilíbrio somente é atingido quando todo o depósito efetuado durante um
ano for consumido nesse mesmo período. A partir daí, a espessura do lençol passa a variar
sazonalmente em torno de um valor médio, que não mais se altera.

Em climas quentes esse equilíbrio é atingido em cerca de cinco anos, podendo, entretanto,
tardar até 20 anos em regiões de climas frios.

8.5.3 O afluente de uma lagoa facultativa

Essa corrente contém:

• uma pequena quantidade de matéria orgânica em elevado grau de estabilização;

• compostos minerais e compostos de N e P em solução;

• certa quantidade de bactérias; e, sobretudo,

• grande quantidade de algas.

A presença das algas representa o mais sério inconveniente para a utilização de lagoas
facultativas. Então, quando são lançadas ao corpo receptor, caso não encontrem aí as mesmas
condições ambientais favoráveis, não conseguirão sobreviver e se transformarão em material
celular morto que passará a exercer demanda de oxigênio.

Dependendo das condições ambientais e do funcionamento da lagoa, essa demanda de


oxigênio pode ser extremamente elevada.

Uma lagoa facultativa deve ser então encarada como um processo de conversão de car-
bono, uma vez que uma fração substancial da matéria orgânica presente nos esgotos é indire-

SENAI-RJ 157
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização

tamente incorporada ao material celular das algas. O carbono orgânico contido no afluente,
ou grande parte dele, é convertido em carbono constituinte do material celular e lançado ao
corpo receptor.

King e outros autores, em trabalho intitulado Efeitos do Efluente de Lagoas em um Curso


de Água Receptor, apresentado no 2° Simpósio Internacional sobre Lagoas para Tratamento
de Esgotos (Kansas City, 1970), concluem, textualmente:

Efluentes de lagoas contendo algas podem exercer marcante influência nas condições ambi-
entais do curso de água que os recebe por uma distância desde algumas jardas até muitas milhas
à jusante. O comprimento do trecho afetado irá depender, em cada caso, do grau de diluição do
efluente e do turbilhonamento do curso de água. Pequenos córregos, que recebem efluentes de
lagoas, parecem ser pouco mais que uma série linear de filtros biológicos (corredeiras) e unidades
de sedimentação e digestão (trechos calmos). Assim, o curso de água que recebe o efluente de uma
lagoa deve ser considerado como parte integrante do sistema total de tratamento, e a utilização
do curso de água deve ser reconhecida e admitida, onde quer que as lagoas sejam usadas.

Desse modo, antes da implantação de uma lagoa, é preciso verificar se o corpo receptor
pode arcar com essa carga.

8.6 Fatores intervenientes


A implantação de uma lagoa de estabilização exige a avaliação de certos fatores que exer-
cem influência sobre o desempenho do processo. Em relação à possibilidade de controle pelos
responsáveis pela operação tais fatores podem ser:

• não-controláveis;

• parcialmente controláveis; ou

• controláveis.

8.6.1 Fatores não-controláveis

Entre os fatores não-controláveis destacam-se as características climáticas da região,


conforme veremos a seguir.

158 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização

Temperatura

A temperatura ambiente é importante porque influencia tanto a fotossíntese quanto a


rapidez dos processos metabólicos de estabilização bioquímica. Temperaturas muito baixas,
inferiores a 10°C, são absolutamente desfavoráveis.

Por outro lado, climas excessivamente quentes também podem gerar problemas, pois se a
temperatura da lagoa ultrapassar os 35°C grande parte das algas não sobreviverá, o que implica
ruptura do equilíbrio biológico do sistema. Neste caso, todo o sistema pode se tornar anaeróbio
por carência de oxigênio, acarretando grande desprendimento de odores desagradáveis e
completa deterioração da qualidade do efluente.

Uma lagoa na qual o equilíbrio biológico foi rompido pode se tornar ana-
eróbia em menos de um dia. A recuperação do equilíbrio pode levar cerca
de 15 a 30 dias, durante os quais ela deverá receber, somente, uma pequena
fração da vazão afluente.

Insolação

A insolação é outro fator influente no processo, uma vez que a luz é indispensável para a
fotossíntese.

No que se refere a este fator, é preciso levar em conta não apenas a intensidade média da
iluminação como também a duração do período diurno, posto que as algas liberam oxigênio
somente durante o dia. Portanto, é fundamental conhecer:

• a duração do período diurno, que depende exclusivamente da latitude e da época do


ano; e

• a intensidade média da iluminação, que depende tanto da latitude quanto de fatores


outros, como nebulosidade, etc.

Existem tabelas que permitem avaliar os valores prováveis da energia solar visível que
incide sobre uma superfície horizontal ao nível do mar em função da latitude e da época do
ano e com isso, pode-se efetuar a correção da altitude.

Já no que concerne à nebulosidade, apenas um estudo dos dados climatológicos locais


poderá avaliar sua influência, em geral expressa em porcentagem de luminosidade, referindo-
se ao período do ano em que ocorrem formações de nuvens suficientemente densas durante o
dia a ponto de absorver uma fração significativa da energia luminosa incidente.

SENAI-RJ 159
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização

Evaporação e precipitação

Evaporação e precipitação podem, em casos raros, exercer alguma influência. Isto porque,
sendo a lagoa um reator biológico no qual o tempo médio de residência celular é igual ao tempo
de detenção hidráulico, quaisquer variações significativas no tempo de detenção podem al-
terar o comportamento do sistema. É evidente que influências significativas ocorrem somente
quando a evaporação ou precipitação alcançam valores extremos.

No entanto, mesmo sendo pequena a possibilidade de interferência, ao se executar um


projeto devem ser feitas as verificações da influência dos fatores em questão no mês em que
a diferença entre altura média de precipitação e de evaporação for máxima. Caso a altura de
precipitação média no mês mais desfavorável venha a ser muito maior que a altura de evapora-
ção, o tempo de detenção hidráulico poderá sofrer uma redução sensível, acarretando prejuízos
óbvios para o desempenho do processo. No caso oposto, em que a altura de evaporação é muito
mais elevada que a de precipitação, pode ocorrer um abaixamento do nível da lagoa ou uma
elevação da salinidade do líquido até limites que interfiram no desempenho do processo.

Regime de ventos

O regime de ventos pode influenciar não somente a escolha do local de instalação da lagoa
como também a eficiência de seu funcionamento. Por isso, ao selecionar a área para implan-
tação da unidade, devem ser considerados alguns aspetos, tais como:

• os ventos dominantes devem transportar possíveis odores para longe da área urbana; e

• os ventos dominantes devem soprar de jusante para montante, na tentativa de evitar


a formação de curtos-circuitos.

No que concerne ao grau de mistura das águas da lagoa, o regime de ventos também é
importantíssimo, particularmente em regiões quentes onde há tendência de estratificação
térmica das águas.

Esta tendência se manifesta através da formação (e permanência por períodos signifi-


cativos) de uma camada líquida de temperatura mais elevada junto à superfície, onde a luz
solar pode penetrar e, portanto, se dá a produção de oxigênio. Esta camada se situa acima de
outra, de águas mais frias, onde a luz não penetra devido à turbidez, e prevalecem as condições
anóxicas.

Caso não haja alguma mistura das águas da lagoa, não haverá disponibilidade de oxigênio
nas camadas inferiores, que permanecerão anaeróbias.

Este fenômeno (presença de oxigênio apenas em uma camada relativamente fina junto à
superfície) pode causar uma sobrecarga no sistema e levá-lo ao desequilíbrio.

160 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização

Em climas quentes, com predominância de ventos pouco intensos, pode se


tornar necessária a instalação de misturadores mecânicos (mixers) na lagoa
a fim de promover a homogeneização do líquido e romper a estratificação
térmica.

8.6.2 Fatores parcialmente controláveis

Dentre os fatores parcialmente controláveis, destacam-se:

• as características dos esgotos afluentes – grandes variações de vazão ou carga orgânica


afluente podem causar a ruptura do equilíbrio biológico na região onde o afluente é
lançado à lagoa. Esse desequilíbrio tende a se propagar por toda a massa líquida (este
problema pode ser controlado com a adoção de tanques equalizadores); e

• a presença de nutrientes básicos no esgoto afluente – ela é fundamental para o desem-


penho do processo já que as algas, responsáveis pela produção de oxigênio, exigem a
presença de nutrientes no meio líquido, especialmente nitrogênio e fósforo. Por outro
lado, substâncias tóxicas devem ser evitadas no afluente das lagoas, pois as algas são
bastante sensíveis à sua presença. Esta sensibilidade acaba tornando o processo pouco
indicado para o tratamento de despejos industriais contendo compostos tóxicos e
pobres em nutrientes. Da mesma forma, devem ser evitados despejos industriais
que contenham substâncias que emprestam cor ao líquido da lagoa, em virtude da
dificuldade que causam para a penetração da luz.

8.6.3 Fatores controláveis

Finalmente, os fatores controláveis dizem respeito às características construtivas que


podem influir no desempenho do processo, tais como: formato, posição, propriedades do ter-
reno e profundidade.

Se a topografia local permitir, o formato das lagoas facultativas deve ser retangular, com
uma relação comprimento:largura da ordem de 2:1 a 3:1.

A posição da lagoa deve ser escolhida de tal forma que os ventos dominantes soprem na
direção do comprimento, sentido de jusante para montante.

A profundidade da lagoa facultativa deve variar na faixa de 1,5 a 3,0m.

SENAI-RJ 161
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização

Caso o fundo da lagoa seja demasiadamente permeável (terrenos predominantemente areno-


sos) deve-se estudar a possibilidade de impermeabilização com uma manta de plástico ou com
uma camada de argila compactada de cerca de 10cm. No entanto, se o grau de permeabilidade
for moderado e alguma infiltração for tolerada por um período limitado, pode-se evitar a imper-
meabilização posto que o próprio acúmulo de material sedimentado no fundo tenderá a colmatar
a superfície, impermeabilizando-a ou reduzindo significativamente o grau da infiltração.

8.7 Dimensionamento
O dimensionamento de lagoas facultativas tem sido feito com base em diversos critérios,
empíricos e racionais, que serão examinados a seguir. Antes, convém ressaltar que a obtenção
de um modelo matemático que realmente represente o processo é extremamente difícil devido
ao elevado número de fatores intervenientes, em sua maioria não-controláveis pelo operador,
havendo ainda outros cuja influência é dificilmente quantificável. Dessa forma, qualquer que
seja o critério empregado, sua aplicação não deve dispensar uma crítica judiciosa baseada,
sobretudo, na experiência do projetista.

8.7.1 Taxa de aplicação superficial de carga orgânica

Esse critério empírico, extremamente difundido, consiste em determinar a área da lagoa


por meio do simples quociente entre a carga orgânica diária afluente e uma taxa de aplicação
superficial de carga orgânica, arbitrada pelo projetista, levando em conta os diversos fatores
de influência sobre o processo.

A profundidade da lagoa facultativa, escolhida pelo projetista, se situa na


faixa usualmente recomendada de 1,5 a 3,0m.

Os valores da taxa variam largamente de acordo com as características locais como, por
exemplo:

• nos EUA os valores recomendados situam-se na faixa de 10 a 60kgDBO/ha.d;

• no Chile, a Dirección de Obras Sanitárias recomenda taxas de aplicação que variam


desde 10 a 50kgDBO/ha.d para o extremo sul do pais até 180 a 260kgDBO/ha.d para
o extremo norte.

162 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização

A publicação Waste Stabilization Ponds, da Organização Mundial da Saúde, recomenda


as taxas de aplicação transcritas na tabela a seguir.

Tabela 8.1 – Taxas de aplicação de carga orgânica

Taxa de aplicação
Condições Ambientais
(kgDBO/ha.d)
<10 Zonas muito frias. Cobertura de gelo sazonal. Águas com
temperaturas uniformemente baixas. Nebulosidade
variável.
10 a 50 Clima sazonalmente frio, com cobertura de gelo sazonal
e verão curto, com temperaturas temperadas.
50 a 150 Clima entre temperado e semi-tropical. Cobertura de gelo
ocasional, sem nebulosidade persistente.

150 a 300 Clima tropical, temperatura e insolações uniformes, sem


nebulosidade sazonal.

O dimensionamento da lagoa através desta técnica está resumido nos passos apresentados
a seguir:

a) Determinação da área, em m2:

Equação 8. 1

Onde:
Q = vazão média afluente (m3/d)
Si5 = DBO5 do esgoto afluente (kg/m3)
T = taxa de aplicação superficial de carga orgânica (kgDBO5/ha.d)
A = área da lagoa (ha)
O critério da
b) Determinação do volume, em m3: taxa de apli-
cação super-
ficial de carga
Onde: Equação 8. 2
orgânica é extremamente
V = volume da lagoa (m3) simples; recomenda-se a
A = área da lagoa (ha) sua utilização para pré-
dimensionamento e veri-
H = profundidade (m)
ficação de projetos.

SENAI-RJ 163
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização

8.7.2 Critério de Oswald e Gotaas

Trata-se de critério inteiramente racional, baseado na produção de oxigênio pelas algas no


interior da lagoa. Seus autores efetuaram um balanço energético que levou em conta a utiliza-
ção da energia luminosa para sintetizar o material celular das algas e a energia disponível, em
cal/g, neste material celular. Através desse balanço determinaram que a produção de oxigênio
pelas algas referida à área da lagoa podia ser expressa, em kgO2/m2.d, por:

Equação 8. 3

Onde:
PO2= produção de oxigênio pelas algas (kgO2/m2.d)
E = energia solar visível média (langleys/dia; 1lagley = 1cal/m2)
F = eficiência fotossintética (%)

O parâmetro F, eficiência fotossintética, exprime a porcentagem da energia total da luz


visível que é utilizada pelas algas e incorporada à biomassa sob a forma de material celular.
Geralmente seu valor varia de 0,5% a 6%, em função:

• da concentração da DBO aplicada;

• da temperatura da lagoa; e

• do tempo em que o sol permanece sobre o horizonte.

O parâmetro E, energia solar incidente média sobre a superfície da lagoa na forma de luz
visível, pode ser determinado, em langley/d, pela expressão:

Equação 8. 4

Onde:
P = fração média do tempo diurno que o sol permanece sobre o horizonte
Emax = energia solar visível máxima (langley/d)
Emin = energia solar visível mínima (langley/d)

Os valores de Emax, Emin e P variam com a latitude e a época do ano. Existem


tabelas que fornecem seus valores mês a mês para diversas latitudes; também
é possível obter o valor de F em função de seus fatores intervenientes.

164 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização

O critério de dimensionamento baseia-se na igualdade entre produção e consumo de


oxigênio, sendo expresso sob a forma de taxa de aplicação superficial de carga orgânica T.

A carga orgânica a ser considerada é a expressa pela DBO última, posto que os tempos
de detenção em lagoas de oxidação geralmente são maiores que cinco dias, o que impede a
utilização da DBO5. Portanto, o valor da taxa de aplicação superficial de carga orgânica T pode
ser obtido, em kg/m3, da Equação 8.5:

Equação 8. 5

Onde:

Siu = DBO última do afluente (kg/m3)

Igualando o consumo de oxigênio expresso pela Equação 8.5 com a produção expressa
pela Equação 8.3 e operando, temos o valor da área, em m2:

Equação 8. 6

Nesta equação, homogênea, os valores são expressos nas seguintes unidades:


A - m2
Q - m3/d
Siu - kg/m3
E - langley/d
F-%

Esta mesma relação pode ser expressa por:

Equação 8. 7

Com os parâmetros expressos nas seguintes unidades:


A - ha
Q - m3/d
Siu - mg/L
F-%
E - langley/d

SENAI-RJ 165
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização

O critério de Oswald e Gotaas foi testado em lagoas piloto de laboratório


com resultados aceitáveis. Ele se baseia, entretanto, em equações racionais,
levando em conta quase exclusivamente a radiação solar que teoricamente
incidiria sobre a lagoa e desprezando outras características e peculiaridades
do local, cuja influência pode alterar sensivelmente o desempenho previsto.

8.7.3 Critério de Herman e Gloyna

Trata-se de critério desenvolvido a partir da observação do comportamento de lagoas


facultativas de laboratório e de instalações piloto. As pesquisas efetuadas por Herman e Gloyna
concluíram que, para oferecer uma redução de DBO entre 85% e 95%, a condição ótima de
funcionamento de uma lagoa de estabilização fotossintética que receba um afluente de esgo-
tos domésticos com uma DBO de 200mg/L, seria operar em uma temperatura de 35°C, com
sete dias de detenção. A relação sugerida para dimensionamento é, portanto, baseada nessas
observações, incluindo os devidos fatores de correção.

A relação básica, ou seja, a que exprime a condição ótima, seria, em m3:

Equação 8.8

Onde:

V = volume da lagoa (m3)

Q = vazão média afluente (m3/d)

to = tempo de detenção para as condições ótimas (to=7 dias)

Como to foi determinado para a temperatura de 35°C e DBO afluente de 200mg/L, a apli-
cação com valores diferentes destes deve ser feita por meio de fatores de correção.

A variação do tempo de detenção com a temperatura obedece a Lei de Arrhenius, com


um coeficiente θ =1,085. E a correção relativa à concentração de DBO afluente se dará na razão
direta da relação entre a DBO afluente ao sistema e a DBO afluente utilizada nas pesquisas, de
0,2kg/m3 (200mg/L).

166 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização

A inclusão dos fatores de correção leva a:

Equação 8.9

Onde:
Si = DBO do esgoto afluente (kg/m3)
θ = coeficiente de correção de temperatura (θ = 1,085)
T = temperatura da lagoa (°C)

Substituindo o valor de to = 7 dias e exprimindo a DBO em mg/L, a relação da Equação 8.9


se apresenta na forma sob a qual é mais conhecida:

Equação 8.10

Utilizando as unidades:
V- m3
Q - m3/d
Si - mg/L

Esta equação é aplicável nas faixas de temperaturas entre 4 e 35°C e profundidades entre
0,9 e 2,4m.

Os autores recomendam ainda que se utilize para Si o valor da DBO5 quando se tratar de
esgotos pouco concentrados ou previamente decantados e da DBO última para esgotos brutos
muito concentrados.

O critério de Herman e Gloyna é extensamente utilizado devido, sobretudo,


à sua simplicidade, sendo possível a construção de ábacos que tornam o
dimensionamento uma tarefa bastante elementar desde que conhecidas a
vazão e carga orgânica afluente, além da temperatura da lagoa. O problema é
que esta última temperatura em geral deve ser estimada, posto que não há um modelo
matemático capaz de determiná-la com o grau de precisão adequado.

SENAI-RJ 167
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização

8.7.4 Critério de Marais e Shaw

Marais e Shaw consideram que a lagoa fotossintética se comporta aproximadamente como


um reator biológico em mistura completa.

Partindo desta premissa desenvolveram seu critério aplicando ao reator a cinética de


remoção de um substrato orgânico por uma cultura mista, à semelhança do que é feito para a
análise do processo dos lodos ativados.

A aproximação feita pelos autores implica um evidente desvio em relação às condições


reais já que claramente lagoas de estabilização não são reatores em mistura completa. Este
desvio, porém, não é tão grande quanto se poderia supor à primeira vista.

Com efeito, em condições normais, pelo menos ao longo de cada período de 24 horas
o conteúdo da lagoa é completamente misturado. Isto porque a temperatura do líquido das
camadas inferiores varia pouco, enquanto a das camadas superiores acompanha a variação da
temperatura ambiente. Durante a noite as camadas superficiais, ao se resfriarem, tornam-se
mais densas que as do fundo e provocam o revolvimento completo do conteúdo da lagoa, por
convecção. Se considerarmos que os períodos de detenção usuais para lagoas fotossintéticas
se estendem por vários dias, o total revolvimento do conteúdo a cada 24h simula um compor-
tamento bastante próximo ao da mistura completa.

O modelo cinético adotado por Marais e Shaw para aplicação nas lagoas fotossintéticas é
o modelo simplificado, que presume uma cinética de primeira ordem na qual, em ambientes
onde predomine baixa concentração de substrato, a remoção de substrato pela cultura de mi-
crorganismos é diretamente proporcional à concentração de substrato no meio. Esse fenômeno
é representado pela relação a seguir, em kg:

Equação 8. 11

Onde:

dMS/dt = massa de substrato removida no reator durante o intervalo dt (kg)

MXa = massa de organismos ativos participantes do processo no reator (kg)

S = concentração de substrato orgânico no reator (mg/L)

k = constante de proporcionalidade (taxa específica de remoção de substrato)

168 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização

A medida geralmente usada para o substrato orgânico é a DBO, que representa sua ava-
liação indireta através do oxigênio necessário para estabilizá-lo bioquimicamente. O substrato
removido ao longo do tempo será então, em m3/d:

Equação 8. 12
Onde:
Q = vazão média afluente (m3/d)
Si = DBO afluente (mg/L)
S = DBO efluente (mg/L)

Sendo a lagoa considerada por Marais e Shaw um reator em mistura completa, S representa
igualmente a DBO no interior da lagoa.

A massa de organismos ativos contida no reator pode ser avaliada pelo produto de sua
concentração pelo volume do reator, em m3:

Equação 8. 13
Onde:

V = volume da lagoa (m3)

Xa = concentração de organismos ativos no líquido da lagoa (kg/m3)

A substituição dos valores fornecidos pelas Equações 8.12 e 8.13, na Equação 8.11 leva à
seguinte expressão, em kg/d:

Equação 8. 14

Nos reatores biológicos de lodos ativados o valor de Xa é obtido por aproximação conside-
rando que a concentração de organismos ativos é representada pela concentração de sólidos
em suspensão voláteis no tanque de aeração (SSVTA). No caso das lagoas, entretanto, o procedi-
mento aplicado aos reatores apresentaria desvios tão grandes que invalidariam completamente
o critério. Isso porque, nas lagoas, além dos organismos aeróbios participantes do processo
de estabilização da matéria orgânica, encontra-se presente uma considerável massa de algas
que não mantêm uma proporção constante com a massa de organismos ativos e cuja massa é
computada no cálculo dos SSV.

SENAI-RJ 169
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização

Entretanto, considerando que a lagoa é um reator biológico sem reciclo, a concentração de


organismos ativos em seu interior não pode ser alterada pelo operador e ela dependerá apenas
das condições do processo. Portanto, não deve apresentar grandes flutuações. Levando-se em
conta mais esta simplificação, é válido considerá-la como uma constante do processo. Isto
levará à definição de uma nova constante (K), em d-1, por meio da relação:

Equação 8. 15

Onde:

K = taxa de remoção de substrato (d-1)

O valor de K varia com a temperatura da lagoa sendo, por isso, um parâmetro cujo valor é
de difícil previsão. Este fato levou Marais a tentar correlacionar o valor de K com a temperatura
atmosférica e não da água. O autor chegou a esta conclusão analisando o resultado de extensas
pesquisas realizadas em lagoas situadas no sul da África, que demonstraram que a temperatura
da água de uma lagoa em um dado período é função, principalmente, da temperatura máxima
do ambiente, neste mesmo período. Essa constatação permitiu construir o gráfico reproduzido
na Figura 8.2.

Figura 8. 2 – Gráfi
á co de Marais para projetos de lagoas facultativas

Observe, na Figura 8.2, que o valor de K é expresso em função das temperaturas médias e
máximas, respectivamente, do mês mais frio e do mês mais quente. Esse procedimento facilita
bastante o dimensionamento, posto que tais valores são conhecidos e estão tabulados para a
maioria das regiões do globo.

170 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização

Pode-se, então, exprimir o volume do reator biológico, em m3, pela relação:

Equação 8. 16

Onde:

t = tempo de detenção hidráulica (d)

Substituindo-se os valores das Equações 8.15 e 8.16 na Equação 8.14 e, depois, operando,
temos o valor de substrato em mg/L:

Equação 8. 17

A Equação 8.17 fornece a concentração de DBO em solução no efluente da lagoa. Ela pode,
evidentemente, ser aplicada a um conjunto de lagoas em série, no qual o efluente de cada
unidade será o afluente da seguinte, conforme veremos mais adiante. Para este caso Marais
demonstrou que a máxima eficiência é atingida quando todas as lagoas da série são de igual
volume e, portanto, com o mesmo tempo de detenção. Assim, podemos escrever:

Equação 8. 18
Onde:
Si = DBO afluente à primeira lagoa (mg/L)
Sn = DBO efluente da última lagoa da série (mg/L)
n = número de lagoas em série
t = tempo de detenção de cada lagoa da série (d)

Marais determinou, igualmente, que a máxima concentração de DBO possível de ser


mantida em uma lagoa fotossintética de forma a assegurar as condições aeróbias é função
exclusiva da profundidade, e pode ser expressa pela relação:

Equação 8. 19

Onde:

Smax = máxima DBO compatível com condições aeróbias no interior da lagoa, mg/L

H = profundidade da lagoa, m.

SENAI-RJ 171
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização

O dimensionamento de uma única lagoa fotossintética pode ser feito diretamente através
da Equação 8.17, ou seja o valor de Si é um dado de projeto, enquanto o valor de K pode ser
obtido do gráfico apresentado na Figura 8.2. O projetista escolhe, então, o valor desejado para
a DBO efluente S e determina o tempo de detenção necessário.

Em seguida, é preciso:

• determinar o volume V por meio da Equação 8.16;

• arbitrar a profundidade H, que, segundo Marais, deve se situar entre 1,2 e 2,2m; e

• depois, calcular a área A necessária.

Com o valor de H e através da Equação 8.19, o projetista deve verificar se o valor S escolhido
é compatível com as condições aeróbias.

O critério de Marais e Shaw tem obtido extensa utilização, apresentando bons resultados
e possui ainda a vantagem de fornecer o dimensionamento apenas em função da vazão e
carga orgânica afluentes, da qualidade desejada para o efluente e das temperaturas máximas
ambientes.

Como, de uma maneira grosseira, a temperatura ambiente máxima depende da latitude,


o critério de certa forma incorpora a influência da energia luminosa. Convém ressaltar, ainda,
que o menor valor da média das máximas do mês mais frio previsto no gráfico para a determi-
nação de K é de 0°C. Isso porque o método não se aplica a regiões onde, nos meses mais frios,
a superfície da lagoa venha a se congelar.

8.8 Lagoas em série


É possível demonstrar que um conjunto de lagoas em série é muito mais eficiente que
uma única lagoa de volume equivalente. Por isto, torna-se sempre mais compensador projetar
um conjunto de lagoas em série em lugar de uma única. Para realizar esse projeto, emprega-se
o seguinte procedimento:

1. Arbitrar uma profundidade H na faixa de 1,2 a 2,2m e calcular Smax, usando a Equação
8.19.

2.Considerar Smax como a DBO efluente da primeira lagoa da série.

Com isto é possível determinar o tempo de detenção t dessa lagoa que, para as condições
de máxima eficiência, será igual ao das demais lagoas da série.

A determinação do tempo de detenção é feita através da Equação 8.17, fazendo S=Smax , e


adotando o valor de K estabelecido no gráfico da Figura 8.2.

172 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Lagoas de estabilização

Conhecido o valor de t, determina-se o número de lagoas n necessário para atingir o valor


desejado da DBO, no efluente do sistema.

O valor de n é obtido por tentativas através da Equação 8.18, na qual S é o valor desejado
para a DBO do efluente final do sistema.

Na maioria dos casos o tempo de detenção nas lagoas assim dimensionadas resultará em
um valor superior a cinco dias. Isto significa que, caso seja adotado o valor usual da DBO a
cinco dias, corre-se o risco de subdimensionar o sistema, visto que o mesmo deverá satisfazer
uma demanda superior à estabelecida. O autor do método aconselha, então, adotar a DBO
última, Siu, para dimensionamento.

É importante lembrar que todos os critérios de dimensionamento apresen-


tados consideram como DBO efluente o valor obtido com o efluente filtrado,
não levando em conta, portanto, a presença das algas e de possíveis sólidos
suspensos. A utilização desse valor para avaliar a carga sobre o corpo receptor
implicará em sérios desvios.

SENAI-RJ 173
Tratamento do Lodo

Nesta unidade...

Produção e tipos de lodo

Disposição final dos resíduos

Fator econômico na seleção das técnicas

Técnicas de tratamento de lodo

Disposição final

9
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo

9. Tratamento do Lodo
O tratamento de esgotos é um ramo da tecnologia relativamente novo. Não obstante, os
recursos disponíveis apresentam potencial para alcançar qualquer grau de tratamento desejado
como, por exemplo, promover o reuso da água em regiões onde há escassez de recursos hídri-
cos. Na verdade, o desenvolvimento de técnicas que permitem este reuso tem sido a principal
área de pesquisas no campo do tratamento de efluentes líquidos.

Este grau elevado de sofisticação não é, entretanto, alcançado impunemente: à propor-


ção que o efluente vai se tornando mais puro, mais se acumularão os resíduos originados do
tratamento. Esses resíduos, formados principalmente pelos sólidos em suspensão removidos
da fase líquida, assumem o nome genérico de lodo.

9.1 Produção e tipos de lodo


Os sólidos em suspensão penetram na ETE carreados pelo próprio esgoto bruto, são gera-
dos no próprio processo de tratamento ou, ainda, podem ser adicionados ao esgoto durante
o tratamento.

Os primeiros, isto é – os sólidos em suspensão de origem orgânica que penetram na ETE


carreados pelo próprio esgoto bruto – são, em geral, removidos nos decantadores primários
ou em flotadores e irão originar o denominado lodo primário.

Já os sólidos em suspensão formados nos processos de tratamento são constituídos por


microrganismos que proliferam no interior dos reatores biológicos dos processos de lodo ati-
vado (e suas variantes) e de filtração biológica. Geralmente são removidos nos decantadores
secundários e originam o chamado excesso de lodo ativado (ou simplesmente excesso de lodo)
no caso dos lodos ativados, ou lodo secundário no caso dos filtros biológicos.

Em algumas instalações o excesso de lodo ou o lodo secundário é encaminhado à entrada


do decantador primário, onde se sedimenta e de onde é removido juntamente com o lodo

SENAI-RJ 177
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo

primário, ou pode ainda ser misturado ao lodo primário removido do DP. A essa mistura se dá
o nome de lodo misto.

Tanto o lodo primário quanto os lodos secundário, misto e, na maioria dos casos, o excesso
de lodo, apresentam uma elevada fração de matéria orgânica putrescível, secam com dificul-
dade, geram mau odor e produzem gases. Geralmente, devem ser submetidos à estabilização
antes de serem encaminhados ao destino final, conforme veremos mais adiante.

Finalmente, os sólidos adicionados aos esgotos durante o tratamento se apresentam:

• sob a forma de produtos químicos, que agirão como coagulantes para aumentar a
eficiência da decantação; ou

• como reagentes, para precipitar os compostas de fósforos, no caso da remoção química


de fósforo.

A coagulação química é raramente empregada no tratamento de esgotos e


origina um lodo muito semelhante ao primário, porém mais abundante.
O lodo oriundo da remoção química de fósforo é inerte e sua composição
depende do reagente empregado.

9.2 Disposição final dos resíduos


Aos resíduos sólidos removidos do processo deve ser dado um destino final adequado,
ou seja, que não agrida ao ambiente, não ponha em risco a saúde do homem e dos animais
e seja economicamente viável. Existem várias possibilidades para efetuar a disposição desse
material, tais como:

• no mar ou em outros corpos líquidos, por meio de tubulações submersas ou transporte


em embarcações;

• na atmosfera, por incineração, sendo transformado em gases e vapores; e

• sobre o terreno (é a prática mais comum), através de irrigação superficial, espalhamento,


aterro sanitário, lançamento em cavas, minas abandonadas ou cavidades naturais do
terreno. Pode ser ainda usado como fertilizante ou lançado em lagoas de lodo.

Há, no entanto, uma relação entre cada uma das possibilidades citadas e as características
apresentadas pelo lodo. Por exemplo: quando se pretende lançar o lodo ao mar por meio de

178 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo

tubulação submersa, sua umidade não deve ser removida, mas, caso a intenção seja incinerá-
lo, a remoção da umidade é obrigatória.

Por conseguinte, a escolha das técnicas de tratamento de lodo depende do tipo de dis-
posição final a ser adotado e das características originais do próprio lodo.

9.3 Fator econômico na seleção


das técnicas
Um critério importante a ser considerado na seleção das técnicas de tratamento de lodo
diz respeito ao fator econômico, o que implica analisar todas as variáveis intervenientes. Veja-
mos um exemplo: por vezes o destino final escolhido para o material não exige a remoção de
umidade, mas, considerando o custo do transporte até o local previsto, podemos concluir que
é mais econômico proceder à secagem prévia do lodo para reduzir os custos do transporte,
devido à redução do volume a ser transportado.

O exemplo citado serve para demonstrar a importância de serem computados cuidadosa-


mente todos os custos envolvidos no processo.

A seguir, estão relacionados alguns pontos que implicam economia:

• a incineração do lodo não exige estabilização prévia, mas solicita a remoção de umi-
dade;

• lodos estabilizados secam com mais facilidade, exigindo um menor consumo de


aditivos químicos quando submetidos à secagem artificial;

• a estabilização por digestão anaeróbia produz grandes quantidades de metano, gás


inflamável que pode ser utilizado como combustível no incinerador. Este fato pode
ser vantajoso, mesmo levando-se em conta que lodos estabilizados têm menor poder
calorífico, exigindo assim mais combustível; e

• as hipóteses seguintes devem ser consideradas:


- secagem artificial do lodo cru + incineração: computar os custos prováveis dos
aditivos químicos utilizados para secar o lodo cru e o consumo previsto de com-
bustível levando em conta o poder calorífico do lodo cru; e
- digestão anaeróbia + secagem artificial do lodo digerido + incineração (usando
o metano como combustível no incinerador): computar os custos (menores) dos
aditivos químicos necessários à secagem do lodo digerido e verificar se a produção
esperada de metano na digestão anaeróbia é suficiente para suprir a demanda de
combustível (maior) para incinerar o lodo digerido.

SENAI-RJ 179
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo

Dependendo dos preços dos aditivos químicos e do combustível, a economia


introduzida na segunda hipótese pode compensar os gastos adicionais com a
implantação e operação do digestor anaeróbio, à primeira vista desnecessário. Este
exemplo aleatório serve para esclarecer como os múltiplos fatores intervenientes podem
se combinar gerando situações complexas que devem merecer cuidadosa análise.

Diante do exposto, podemos concluir que o problema do tratamento de lodos deve ser
objeto de uma abordagem racional, baseada nas características do lodo gerado no processo
de tratamento e no elenco dos possíveis métodos de destino final. Entre esses dois pólos as
técnicas se encadearão em uma seqüência que visa adequar o lodo produzido às condições
exigidas pelo método de disposição final, selecionadas da maneira mais econômica possível.

Os pontos a serem considerados podem ser resumidos da seguinte forma:


• o destino final deve ser selecionado em primeiro lugar;
• em seguida, de acordo com as características do lodo produzido pelo processo de trata-
mento, são selecionadas as técnicas de tratamento mais adequadas para conceder ao
lodo as características de estabilidade, umidade, etc., exigidas pelo destino final; e
• deve-se notar que a própria escolha do processo de tratamento do efluente líquido,
responsável pelas características originais do lodo ( quantidade, umidade, grau de es-
tabilização, etc.), pode ser condicionado pelo destino final e pelo custo de tratamento
do lodo. Em muitos casos, quando o tratamento e a disposição final dos lodos forem
particularmente complexos ou onerosos, pode ser vantajoso selecionar um processo
para o tratamento do efluente que forneça lodo em menor quantidade ou mais estável,
mesmo implicando gastos adicionais na própria linha de tratamento do efluente.

As técnicas de tratamento disponíveis para adequar o lodo ao destino final selecionado são:
• estabilização: por digestão anaeróbia, aeróbia, tratamento térmico, tratamento
químico e compostagem;
• condicionamento dos lodos: por espessamento, condicionamento químico, elutriação
e condicionamento térmico; e
• remoção de umidade: por
secagem natural e mecânica É possível combinar qualquer das

(filtração a vácuo ou à pressão técnicas citadas. Mas a combina-

e centrifugação). ção escolhida deve oferecer como


produto final o lodo com as caracte-
rísticas desejadas, a menor custo.

180 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo

9.4 Técnicas de tratamento de lodo


Aqui trataremos das principais técnicas relacionadas à estabilização, condicionamento e
remoção da umidade.

9.4.1 Estabilização

Vimos, anteriormente, que o lodo primário, misto, secundário e, na maioria dos casos, o
excesso de lodo, carregam consigo uma quantidade elevada de organismos patogênicos e são
formados por uma fração considerável de matéria orgânica putrescível. Se lançados in natura
ou cru ao destino final, podem agredir o meio ambiente, produzir maus odores, provocar de-
manda excessiva de oxigênio em corpos líquidos ou pôr em risco a saúde das pessoas e dos
animais. Todavia, esses inconvenientes podem ser minimizados se o lodo cru for submetido a
uma das técnicas de estabilização abaixo descritas.

Digestão anaeróbia

É um tratamento biológico em que a matéria orgânica é parcialmente estabilizada através


do metabolismo de microrganismos anaeróbicos e da produção de gases e outros compostos
mais estáveis. Ao produto final da digestão dos lodos denomina-se lodo digerido.

A digestão de lodo é, portanto, um processo de decomposição anaeróbia conduzido sob


condições controladas com o objetivo de:

• destruir microrganismos patogênicos;

• reduzir e estabilizar a matéria orgânica dos lodos frescos; e

• reduzir o volume de lodos através da liquefação e gaseificação de compostos sólidos


e retirada do gás e do líquido gerado.

O lodo digerido apresenta cor negra, odor semelhante ao de piche ou alcatrão e seca com
facilidade. A água intersticial é clara, não apresenta mau cheiro e se separa com facilidade. O
teor de umidade é da ordem de 95% a 96% e a DBO é inferior a 100mg/L. A redução de volume
durante a digestão é apreciável, já que o lodo digerido tem um volume de 30% a 40% do lodo
bruto que o originou. Tipicamente, um lodo bem digerido apresenta 45% de matéria orgânica
e 55% de substâncias minerais.

A digestão é um processo natural que pode ocorrer sem nenhuma intervenção externa.
Os próprios microrganismos presentes no lodo, ao encontrarem condições propícias à vida,
proliferam em grande número e promovem as modificações bioquímicas na matéria orgânica

SENAI-RJ 181
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo

presente. Esse tipo de digestão é denominado digestão técnica e se processa em três estágios:
acidificação, liquefação e gaseificação.

Estágio I – Acidificação

Quando o processo de digestão anaeróbia se inicia, os compostos orgânicos de mais


fácil decomposição presentes no lodo cru são os primeiros a serem atacados. São eles:
• lipídios;
• protídeos;
• glicídios;
• amiláceos; e
• gorduras.

Esses compostos são metabolizados por microrganismos facultativos e transformados


em compostos nitrogenados mais estáveis e ácidos orgânicos. Durante essa fase, há uma
grande produção de gás carbônico (CO2) e gás sulfídrico (H2S), que se desprendem do
meio. Devido a grande produção de ácidos orgânicos, o pH do meio cai e se mantém na
zona ácida (5,1 a 6,8), podendo atingir valores da ordem de 4,7.

Estágio II - Liquefação ou regressão ácida

Neste estágio os ácidos orgânicos e produtos nitrogenados, produzidos anteriormente,


são atacados por microrganismos exclusivamente anaeróbios. À proporção que os ácidos
orgânicos vão sendo metabolizados e sua concentração decresce, o pH do meio se eleva,
chegando a valores próximos de 7. São produzidas grandes quantidades de compostos
amoniacais e há grande formação de escuma além de alguma produção de gases, princi-
palmente gás carbônico (CO2), hidrogênio (H2) e nitrogênio (N2).

Estágio III - Gaseificação ou fermentação alcalina

É a fase final da digestão. Os compostos mais resistentes (proteínas, aminoácidos,


celuloses, e alguns produtos nitrogenados) são atacados pelos organismos anaeróbios
presentes em grande quantidade. Há produção de amônia (NH3) e sais de ácidos orgâni-
cos. Existe uma grande produção de gases, principalmente metano (CH4), além de alguma
quantidade de gás carbônico (CO2) e nitrogênio (N2). Ocorre forte redução da DBO e o pH
se eleva para a zona alcalina, mantendo-se entre 6,9 e 7,4.

A digestão é um processo lento, com duração de cerca de 60 dias. Sua taxa de reação
sofre influência dos seguintes fatores: inoculação, pH, temperatura e agitação do meio.

182 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo

É uma prática freqüente reduzir o tempo de digestão através da manipulação


dos fatores influentes com o objetivo de diminuir o tamanho das unidades
de tratamento utilizadas para a digestão.

Inoculação

A digestão anaeróbia depende da quantidade de microrganismos presentes no lodo em


digestão. No início do processo esta quantidade é pequena, porém aumenta à proporção
que os microrganismos vão se reproduzindo e, no final do processo, tende a decrescer
devido à diminuição da quantidade de alimentos (matéria orgânica instável). A adição
diária de quantidades adequadas de lodo estabelece o equilíbrio entre o número de or-
ganismos e a quantidade de alimentos, acelerando o processo.

pH

O processo de digestão se desenvolve com maior rapidez em um meio de pH ligeira-


mente alcalino (entre 7 e 7,4).

Temperatura

A temperatura é um fator de influência em qualquer processo biológico, em especial


nos processos anaeróbios. Mas, a digestão de lodos se dá com maior eficiência em duas
faixas:

• de 30 a 45ºC - denominada digestão mesófila; e

• de 45 a 57ºC - denominada digestão termófila.

Na prática, a temperatura considerada ótima situa-se entre 30 e 35ºC. Em países de


clima frio é costume aquecer artificialmente os digestores para acelerar o processo e, com
isto, reduzir o volume dos digestores.

É desejável que o período de digestão seja o mais curto possível para obter
unidades de tratamento menores.

SENAI-RJ 183
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo

A Tabela 9.1 apresenta a relação entre temperatura e período de digestão.

Tabela 9.1 – Relação temperatura-tempo de digestão

Temperatura (oC) Tempo de digestão (d)


15 55

20 45

25 35
30 28

35 25

Agitação do meio

A agitação do material em digestão acelera o processo porque, além de favorecer o


escoamento dos gases produzidos no interior da massa em digestão, homogeneiza o ma-
terial diminuindo as variações de pH.

A agitação no interior dos digestores pode ser feita através de:

• agitadores mecânicos (misturadores, ou mixers);

• recirculação dos lodos por meio de bombas; e

• recirculação de gases.

Durante diversas fases do processo de digestão há formação de gases, com a predominância


de metano e gás carbônico. Sua distribuição é a seguinte:

• metano (CH4) - cerca de 67%;

• gás carbônico (CO2) - cerca de 30%;

• nitrogênio (N2);

• hidrogênio (H2);

• oxigênio (O2); e

• outros (menos de 1%).

O produto gasoso da digestão é denominado gás de esgoto que é, na verdade, uma mistura
de diversos gases. A sua principal característica é possuir poder calorífico de 5.000 a 6.000cal/
m³, o que faz dele um combustível de grande teor energético.

184 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo

Em algumas estações de tratamento de esgotos o gás produzido pela digestão de lodos


é canalizado e utilizado no laboratório de controle da ETE, para aquecimento dos digestores
ou como combustível, seja para geração de energia elétrica seja para o acionamento direto de
alguns equipamentos, especialmente bombas e compressores.

Nas ETEs a digestão anaeróbia se processa em unidades de tratamento denominadas


digestores primários, e, eventualmente, se processa também nos digestores secundários.

Digestores primários

São tanques fechados, onde o lodo cru é introduzido. O interior desse tanque deve ser
homogeneizado e, dependendo do clima local, aquecido.
A homogeneização pode ser feita por:
O a q u e c i m e n t o, q u e e m
• agitação mecânica;
geral utiliza o próprio gás
• recirculação de lodo; e
gerado na digestão como
• recirculação de gás. combustível, pode ser feito por
bombeamento de água quente
Digestores secundários através de serpentinas instaladas no

No digestor primário grande parte do interior do digestor, ou por aquecimento

material sólido do lodo bruto é convertido do próprio lodo em trocadores de calor

em substâncias líquidas que devem ser externos e reintroduzido no digestor.

removidas antes de encaminhá-lo à seca-


gem ou ao destino final. Essa separação é
feita em tanques abertos, não-homogeneizados, denominados digestores secundários.
O líquido removido, denominado sobrenadante, não deve ser descarregado diretamente
no corpo receptor, pois iria exercer uma demanda elevadíssima de oxigênio. Em geral ele
é encaminhado à entrada da ETE.
A despeito de seu nome, a função dos digestores secundários não é promover a digestão,
que é realizada inteiramente nos digestores primários, mas manter o lodo digerido em
repouso visando promover a separação e remoção do sobrenadante e o adensamento do
lodo. Além disto, digestores secundários são usados para armazenar o lodo digerido antes
de seu encaminhamento a tratamento posterior ou ao destino final.

Digestores não-homogeneizados e não-aquecidos (digestores de baixa capa-


cidade) devem reter o lodo por um período de 30 a 60d. Unidades aquecidas
e homogeneizadas podem promover a chamada digestão de alta capacidade
em um período de 10 a 20d.

SENAI-RJ 185
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo

A digestão anaeróbia é, portanto, ideal para estabilizar lodo primário ou lodo misto. É um
processo eficiente, barato e de tecnologia fartamente conhecida em todo o mundo. Tanto o gás
como o próprio lodo digerido podem ser aproveitados, o primeiro como combustível e o segundo
como fertilizante. Seu único inconveniente é o grande volume exigido pelos digestores.

Digestão aeróbia

A digestão aeróbia consiste na estabilização da matéria orgânica contida no lodo através


do metabolismo de organismos aeróbios. Para tanto, basta fornecer oxigênio ao lodo por um
período suficientemente longo (cerca de 10d) em um tanque homogeneizado, o digestor aeróbio.
Ela se processa da seguinte forma:

• Inicialmente a matéria orgânica presente no lodo é metabolizada pelos organismos


presentes. Parte dela é oxidada para produção de energia (com liberação de CO2 e água)
e parte é incorporada ao material celular dos microrganismos que proliferam rapida-
mente devido à abundância de alimento e grande disponibilidade de oxigênio.

• Em seguida, ao se esgotar o alimento disponível, os organismos passam a metabolizar


seu próprio material celular através do fenômeno conhecido por respiração endógena.
O resultado é um lodo estável, que seca com facilidade e apresenta volume reduzido.
A concentração de patogênicos é extremamente baixa.

Esse processo, ao contrário da digestão anaeróbia, consome ponderável quantidade de


energia. Entretanto, dispensa a cobertura dos tanques e pode ocorrer em unidades de volume
proporcionalmente menor.

Embora lodos primários ou mistos possam ser digeridos aerobiamente, este


processo é aconselhável especialmente para excesso de lodo. Há instalações
de lodos ativados onde o lodo primário é digerido anaerobiamente e o ex-
cesso de lodo, aerobiamente.

Tratamento térmico

O tratamento térmico para a estabilização consiste, fundamentalmente, em “cozinhar”


o lodo sob alta pressão (cerca de 20kg/cm²) e elevada temperatura (cerca de 200ºC), por um
período de 20 a 30min. Esse procedimento rompe as células dos organismos constituintes do
floco de excesso de lodo liberando o citossoma, além de reduzir as moléculas orgânicas mais
complexas do lodo primário a formas mais estáveis. O lodo resultante é muito estável e seca
com facilidade.

186 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo

Esse processo apresenta, entretanto, dois inconvenientes graves:

• o líquido resultante é extremamente agressivo (COD na faixa de 16.000 a 30.000mg/L)


e pode constituir enorme sobrecarga para ETE ; e

• a elevada pressão necessária para “cozinhar” o lodo tem causado acidentes graves,
em alguns casos, a morte de operadores.

Existem três processos patenteados para tratamento térmico, a saber: Porteus,


Zimpro e Ferrer, que diferem entre si apenas em detalhes operacionais e em
faixas de pressão adotadas. Mas devido a seus inconvenientes a estabilização
térmica é pouco utilizada.

Tratamento químico

A estabilização química consiste no bloqueio da atividade biológica no lodo através da


adição de um composto químico que inibe a ação metabólica dos organismos, impedindo
assim o prosseguimento da putrefação da matéria orgânica. A inibição é feita adicionando cal
ou cloro. Em ambos os casos a concentração de patogênicos é extremamente reduzida e o lodo
pode ser submetido à secagem natural sem inconvenientes.

A adição de cloro dificulta a secagem artificial, pois interfere nos condicionantes quími-
cos, enquanto a de cal facilita esse tipo de secagem. Para atingir o objetivo pretendido, deve-se
adicionar cal até obter pH em torno de 12 ou cerca de 2.000mg/L de cloro.

Compostagem

Consiste em promover a estabilização da matéria orgânica do lodo, seja sozinho, ou mis-


turado com o lixo urbano, por meio de um processo de decomposição controlada. Esse processo
gera um produto final que é utilizado como fertilizante de boa qualidade.

O processo ocorre ao ar livre em montes de lodo constantemente revolvidos ou em reatores


biológicos nos quais se fazem a injeção de ar e o controle da temperatura e também a injeção
de lodo com cerca de 70% de umidade e de um produto que funcione como fonte de carbono,
ou seja, serragem, gravetos ou lixo urbano catado. Nesse caso, o processo só é viável se atender
os seguintes requisitos:

• a usina de compostagem deve estar situada próxima à ETE; e

• as autoridades responsáveis pelo tratamento de esgotos e lixo devem manter bom


relacionamento e interesse pelo fertilizante produzido.

SENAI-RJ 187
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo

9.4.2 Condicionamento

Entende-se por condicionamento o pré-tratamento do lodo visando a modificação de suas


características de forma a facilitar a operação subseqüente na linha de tratamento. Portanto,
trata-se de uma preparação para a operação seguinte. A rigor, a própria estabilização seria,
segundo esse aspecto, uma operação de condicionamento, posto que facilita a secagem. Não
é, entretanto, assim considerada, porque o seu principal objetivo é outro, conforme já visto.

Espessamento

O espessamento é a operação unitária destinada a aumentar a concentração de sólidos em


suspensão no lodo por meio da remoção de parte da água nele contida. Seu objetivo é reduzir
o volume do lodo visando facilitar as operações subseqüentes. Geralmente, o espessamento é
utilizado antes das operações de digestão ou secagem.

Como a secagem, trata-se de uma técnica destinada, primordialmente, a reduzir o volume


do lodo através da remoção parcial da umidade. O que distingue o espessamento da secagem
é o teor de sólidos do lodo resultante: considera-se que o lodo foi espessado quando, após o
processo, ele ainda pode ser bombeado. Portanto, a operação de espessamento gera um lodo
com até 10% de sólidos (geralmente com muito menos) já que com menos de 90% de água o
bombeamento já se torna bastante difícil.

A operação que resulta em lodo com menos de 85% de umidade é denomi-


nada secagem conforme veremos mais adiante.

Na verdade, o espessamento é extremamente eficiente no que concerne à redução do


volume de lodo. Vejamos, como exemplo, um lodo primário removido do decantador com
aproximadamente 97% de umidade, valor muito comum na prática.

Suponhamos que, por meio de um espessamento, a umidade foi reduzida destes 97% até
91%. Uma redução, portanto, de apenas 6% de umidade. Não obstante, esta aparentemente
pequena redução dos valores porcentuais corresponde a uma significativa redução do volume.
Com efeito, no caso usado como exemplo, o lodo espessado apresenta um volume correspon-
dente a um terço do valor original. Podemos entender melhor o fato lembrando que:

• a massa de sólidos permaneceu a mesma;

• em 100kg de lodo a 97% de umidade há 3kg de sólidos e 97L de água;

188 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo

• o espessamento corresponde a uma remoção da água e não de sólidos; assim, após o


adensamento, teremos ainda os mesmos 3kg de sólidos que, agora, corresponderão
a 9% do total (já que a água agora corresponde a 91%);

• estes 91% corresponderão, nessa nova situação, a 30,3L de água (calcule por meio de
uma regra-de-três simples); e

• portanto, o volume total de lodo adensado será, então, de aproximadamente 33,3L


(30,3L de água somados a cerca 3L de sólidos) que corresponde a 1/3 do volume
original.

O espessamento dos lodos pode ser feito por gravidade, por flotação ou por centrifugação.

Espessamento por gravidade

Se processa em unidades de tratamento semelhantes a decantadores primários


mecanizados. Na verdade trata-se da mesma operação unitária na qual o objetivo principal
é a concentração dos sólidos no fundo em vez da clarificação do líquido sobrenadante. O
modelo teórico do fenômeno é a chamada sedimentação zonal.

A eficiência do processo depende decisivamente do tipo de lodo. Lodo primário cru ou


digerido pode ser espessado por gravidade até cerca de 10% de sólidos (ou 90% de umi-
dade), enquanto para o lodo misto não se deve esperar mais que 5% a 8% de sólidos (95% a
92% de umidade). Já o espessamento por gravidade do excesso de lodo ativado dificilmente
pode gerar um lodo com teor de sólidos superior a 4% (ou umidade inferior a 96%).

Espessadores por gravidade são muito utilizados para reduzir o volume de


lodo primário ou misto antes da digestão anaeróbia, pois propiciam notável
diminuição do volume dos digestores primários. O líquido sobrenadante
desses espessadores deve ser encaminhado à entrada da ETE.

Espessamento por flotação

O espessamento por flotação é indicado para concentrar partículas em suspensão que


sejam mais facilmente levadas a flutuar do que a se dirigir ao fundo. Por isto é uma operação
unitária particularmente indicada para espessar excesso de lodo, que pode ter a umidade
reduzida para valores inferiores a 96%. Se considerarmos que o excesso de lodo removido
do processo biológico apresenta, em geral, cerca de 99% de umidade, constatamos que a
redução pode chegar a um quarto do volume original.

SENAI-RJ 189
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo

A flotação pode ser compreendida como uma sedimentação “de cabeça para baixo”,
na qual as partículas são levadas a flutuar pela ação de bolhas de ar a elas adsorvidas. A
técnica mais comumente empregada para a formação dessas bolhas de ar na massa líquida
consiste em dissolver o ar à alta pressão (cerca de 3atm) em parte do próprio efluente do
tanque, que é então reciclado e liberado à pressão atmosférica no interior do mesmo. À
brusca redução da pressão irá corresponder uma diminuição na solubilidade do ar, que
se desprende sob a forma de pequenas bolhas gasosas. Em seu movimento ascendente
estas bolhas acabam adsorvendo e arrastando para cima as partículas de sólidos em sus-
pensão, promovendo, assim, a concentração destes sólidos junto à superfície líquida, de
onde são levados para fora da unidade através de raspadores mecânicos superficiais. Essa
técnica é denominada flotação por ar dissolvido, sendo especialmente indicada para o
espessamento de lodos de má sedimentabilidade, como os oriundos de certas variantes
dos lodos ativados.

Espessamento por centrifugação

Os lodos podem ainda ser espessados por centrifugação, especialmente quando


constituídos por partículas leves que não se compactam com facilidade. Entretanto, se
comparada com os demais métodos de espessamento, a centrifugação se mostra pouco
atraente devido aos custos do equipamento e os elevados gastos de energia.

A centrifugação é mais utilizada para secagem do lodo, como veremos adiante.

Condicionamento químico

Consiste na adição de compostos químicos visando facilitar a operação de remoção de


umidade.

É utilizado com maior freqüência à montante das operações de secagem mecânica e


espessamento, especialmente quando se usa o espessamento por flotação a ar dissolvido ou
centrifugação.

Os compostos químicos utilizados podem ser:

• coagulantes (em geral os mesmos classicamente adotados como auxiliares na decan-


tação: cal, cloreto férrico, sulfato de alumínio, etc.). Atuam sobre as cargas elétricas
que circundam as partículas em suspensão, permitindo que a força de atração entre
as partículas (atração de Van de Vaals) predomine sobre a força de repulsão (potencial
Zeta), aglomerando pequenas partículas em flocos maiores; ou

• polieletrólitos: compostos orgânicos cujas moléculas são extremamente longas e com-


plexas. Agem através da neutralização das cargas superficiais de minúsculas partículas

190 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo

em suspensão, formando elos de união entre partículas que se comportam como núcleos
de floculação e agregando, em flocos, um grande número de pequenas partículas.

Os flocos formados seja pela coagulação química, ou pela utilização de polieletrólitos,


resultam na formação de “tortas” de baixa resistência à filtragem durante as operações de
secagem artificial.

Existem técnicas de laboratório destinadas a determinar o tipo e a dosagem


ótima de aditivos químicos. Entretanto, com o uso cada vez mais amplo de
técnicas de tratamento de lodo que exigem o condicionamento químico e a
conseqüente abundância de tipos de aditivo disponíveis, o mais aconselhável
é o teste direto em instalações piloto.

Elutriação

Consiste na lavagem do lodo para remover partículas minúsculas em suspensão, além de


reduzir a alcalinidade e remover certos compostos químicos que dificultam a secagem, impe-
dem ou reduzem a ação de coagulantes químicos.

Trata-se de uma técnica praticamente em desuso. Quando empregada, é usada após a


digestão anaeróbia visando facilitar a secagem artificial.

De forma semelhante a dos espessadores por gravidade, a elutriação se processa em


tanques nos quais são introduzidos lodo e água de lavagem (retirada do corpo receptor ou,
normalmente, o próprio efluente da ETE) em uma proporção de 1:2, para que as partículas
possam sedimentar.

A elutriação diminui sensivelmente o consumo de condicionantes químicos, mas tende


a remover do lodo uma considerável fração dos compostos nitrogenados, diminuindo assim
a sua ação fertilizante.

O líquido sobrenadante dos tanques de elutriação deve ser encaminhado à entrada da ETE.
É justamente esse fato que constitui a principal desvantagem da técnica, pois esse líquido car-
rega uma concentração relativamente alta de sólidos finos em suspensão e, em conseqüência,
pode implicar severa sobrecarga à ETE.

Condicionamento térmico

Consiste na aplicação da técnica conhecida por pasteurização, para remover organismos


patogênicos do lodo cru ou digerido.

SENAI-RJ 191
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo

Esta técnica consiste na elevação da temperatura do lodo até cerca de 75ºC, mantendo-a
neste patamar por cerca de 1 hora e, em seguida, abaixá-la bruscamente. Desta forma, é pos-
sível reduzir a concentração de coliformes para valores inferiores a 10³coli/100ml.

A pasteurização é muito eficiente, embora raramente seja utilizada devido ao custo elevado.

O tratamento térmico para estabilização do lodo anteriormente descrito pode


ser considerado como condicionamento, posto que facilita a operação de
secagem, embora não seja este seu principal objetivo.

9.4.3 Remoção de umidade

A remoção de umidade ou secagem tem por finalidade reduzir o volume do lodo a fim de
adequá-lo a certos métodos de disposição final, como incineração, aterro sanitário, etc., além
de reduzir os custos de transporte.

Considera-se “seco” o lodo com cerca de 25% de sólidos (75% de umidade). Nestas
condições o lodo pode ser até mesmo pulverizado para espalhamento no terreno. Com teores
de umidade próximos a 80% o lodo se comporta como um sólido e apresenta consistência
semelhante à da massa plástica para modelar.

Secagem natural

Entre todos os métodos utilizados, a secagem natural do lodo é o mais antigo e barato.
Ele se processa em unidades de tratamento denominadas leitos de secagem, que consistem
em tanques rasos de piso drenante nos quais se descarrega o lodo úmido até uma altura de
cerca de 30cm.

O piso do leito de secagem é, em geral, formado por tijolos maciços com juntas de 2,5cm
tomadas com areia, assentados sobre uma camada de pedra britada (cuja granulometria au-
menta de cima para baixo) disposta sobre um fundo inclinado impermeável. Parte do líquido
intersticial do lodo se dirige para baixo, penetra no piso drenante e é removido do leito de
secagem por gravidade, sendo encaminhado à entrada da ETE. Parte da umidade restante se
evapora e o lodo pode ser removido do leito com teores de umidade inferiores a 70%.

A secagem natural depende das condições climáticas, principalmente dos valores da


evaporação e precipitação médias anuais.

192 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo

Para as condições médias vigentes no Brasil pode-se avaliar o período de


secagem nos leitos em cerca de 20 dias.

A secagem natural exige estabilização prévia. Lodos crus não secam com facilidade e tendem
a entrar em decomposição nos leitos, gerando problemas sanitários e estéticos muito sérios.

Os leitos de secagem exigem o emprego de muita mão-de-obra para remoção do lodo seco,
além de ocuparem uma área elevadíssima se comparados às técnicas de secagem mecânica.
Entretanto, sempre que possível, devem ser preferidos devido à sua simplicidade operacional e
à qualidade do lodo gerado. Não é por acaso que, em todo o mundo, há milhares de instalações
de tratamento de pequeno, médio e grande porte utilizando para tratamento do lodo apenas a
digestão anaeróbia seguida de secagem natural e utilização do lodo seco como fertilizante.

Secagem artificial

Quando há carência de área para a utilização da secagem natural, custo de mão-de-obra


elevado ou condições climáticas inadequadas pode-se adotar a secagem artificial, que é feita
em filtros a vácuo, filtros prensa, ou centrífugas.

Em todos os casos são utilizadas unidades mecânicas de custo inicial elevado, com ope-
ração e manutenção caras e trabalhosas, que exigem sempre o condicionamento do lodo. Em
contrapartida, a área ocupada é irrisória se comparada à dos leitos de secagem. Além disso, a
secagem artificial não depende das condições climáticas, exigem menos mão-de-obra (embora
mais especializada) e podem receber lodo cru ou estabilizado, variando-se apenas a dosagem
de condicionante químico.

Filtros a vácuo

Consistem em tambores rotativos perfurados e cobertos por um meio filtrante, formado


por tecido ou tela metálico, no interior do qual é feito o vácuo parcial.

O tambor gira parcialmente imerso em um tanque no qual o lodo é introduzido e


adere ao meio filtrante em virtude do efeito de sucção provocado pelo vácuo do interior
do tambor. Esse mesmo efeito faz com que a água seja sugada para o interior do tambor,
deixando o lodo aderido ao meio filtrante.

Pouco antes de penetrar novamente no tanque de lodo o meio filtrante é afastado da


face do tambor por meio de dispositivos mecânicos convenientemente posicionados, o

SENAI-RJ 193
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo

que faz a torta do lodo perder a aderência, facilitando sua remoção através de raspagem
com lâmina metálica.

O lodo seco em filtros a vácuo pode se apresentar com até 30% de sólidos dependendo
dos seguintes fatores:
• meio filtrante;
• tipo de lodo; e
• tipo e dosagem do condicionante químico utilizado.

A qualidade do filtrado (líquido removido do lodo) depende, também, dos


fatores acima; ele pode ser tão agressivo que um tratamento separado pode
ser necessário.

Filtros prensa

São unidades mecânicas compostas por placas metálicas justapostas, perfuradas, forra-
das por um meio filtrante de tecido especial, que deixam espaços vazios entre as placas.

As placas são dotadas de molduras metálicas que, quando pressionadas umas contra
as outras, vedam completamente o vão deixado entre elas, impedindo a passagem de
líquido.

O lodo é, então, bombeado à alta pressão (cerca de 250psi) para estes vãos através de
orifícios no centro de cada placa. Não podendo se evadir por entre as molduras das placas,
o líquido é forçado a atravessar o meio filtrante e a escoar por perfurações conveniente-
mente dispostas nas próprias placas, ficando o lodo seco retido entre elas.

Após um determinado período, cessa o bombeamento e as placas são afastadas: as tortas


de lodo formadas entre as placas caem em uma esteira rolante ou caçamba apropriada,
as placas se justapõem novamente e o processo recomeça.

Em relação aos filtros a vácuo, os filtros à pressão apresentam as desvantagens


de exigir maior emprego de mão-de-obra e utilizar a operação em batelada.
Em contrapartida, para o mesmo tipo de lodo, em geral apresentam um fil-
trado de melhor qualidade e uma torta com maior teor de sólidos, podendo
chegar até 40%.

194 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo

Centrifugação

A secagem de lodos por centrifugação se processa, na maioria dos casos, em centrífu-


gas tipo “copo” ligeiramente cônico, de eixo horizontal, que gira em alta velocidade em
operação contínua.

O lodo úmido é introduzido através do eixo central e é impelido na direção da parede


do cilindro por ação da força centrífuga. Os sólidos mais pesados se acumulam junto à
parede; o líquido permanece mais afastado da parede e flui para a extremidade oposta ao
ponto de ingresso do lodo por efeito da ligeira conicidade do “copo”.

A remoção do lodo pela outra extremidade é feita por meio de um parafuso sem-fim
que gira com velocidade ligeiramente menor que o “copo” e em seu interior, quase tocando
sua parede interna. Este dispositivo empurra o lodo para junto de uma das extremidades
do “copo” de onde é expelido pela própria rotação do mesmo.

As centrífugas dificilmente produzem uma torta com umidade inferior a 75%. O líqui-
do efluente pode ser muito agressivo e essa agressividade varia inversamente em relação
à umidade da torta, ou seja, quanto menos úmido o lodo produzido, mais agressivo o
líquido efluente.

As centrífugas exigem constante manutenção e condicionamento químico


do lodo.

9.5 Disposição final


A disposição final do lodo deve ser feita de forma a satisfazer os seguintes requisitos:

• não poluir o ar ou a água;

• ser economicamente viável;

• conservar a matéria orgânica para reutilização (reciclagem); e

• ser uma solução permanente.

Nem sempre é possível preencher todos os requisitos citados. A incineração, por exemplo,
satisfaz o quarto requisito e pode igualmente satisfazer o primeiro e o segundo, se tomados os cui-
dados convenientes, porém não atende o terceiro. O lançamento do lodo em minas abandonadas

SENAI-RJ 195
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo

ou o preenchimento de cavidades do terreno pode satisfazer os três primeiros, mas não o úl-
timo. Portanto, é preciso escolher uma solução capaz de atender de forma satisfatória o maior
número possível de requisitos, lembrando que os dois primeiros são obrigatórios.

O tratamento de despejos é uma atividade voltada especificamente para o controle da


poluição; por isso, não é compreensível nem aceitável que ela possa gerar efeitos contrários
ao seu próprio objetivo. Assim, qualquer que seja o método empregado para a disposição final
dos lodos, devem ser tomadas precauções que impeçam uma agressão ao ambiente ou à saúde
do homem e dos animais.

Já foi mencionado que a disposição final do lodo pode ser feita na atmosfera, em corpos
líquidos e no solo. No primeiro caso é usada a incineração e as precauções devem se voltar
principalmente para a emissão de gases e partículas (poluição do ar). Se for em corpos líqui-
dos, deve-se evitar prejuízo aos usos benéficos da água, impedindo sua poluição. Finalmente,
se adotada a disposição final no solo, deve-se prevenir a emissão de gases e maus odores, a
poluição das águas superficiais e do subsolo, além da contaminação de colheitas e do próprio
solo, conforme veremos a seguir.

9.5.1 Disposição final na atmosfera

Os sólidos presentes no lodo cru ou digerido são constituídos, principalmente, por matéria
orgânica. Quando submetidos à remoção de umidade até um grau suficiente, podem ser leva-
dos à combustão, gerando uma quantidade extremamente pequena de resíduo inerte. Tanto
o lodo digerido quanto o lodo cru podem sustentar o processo sem necessidade da adição de
combustíveis, dependendo apenas de seu teor de umidade. Assim, quanto mais eficiente o
processo de remoção de umidade, mais econômica será a incineração.

O poder calorífico do lodo deve ser suficiente para fornecer energia necessária
à eliminação completa da água remanescente.

O poder calorífico do lodo varia grandemente em função de sua origem, tipo, condiciona-
mento e composição, havendo fórmulas empíricas que fornecem seu valor aproximado baseadas
seja na composição do lodo, no conteúdo de sólidos voláteis, ou na dosagem de coagulantes
utilizados nos processos de condicionamento. Sempre que se pretende incinerar lodo, o seu
poder calorífico deve ser determinado experimentalmente. Em geral, o poder calorífico do lodo
cru em relação à massa de sólidos secos se situa em torno de 4.500cal/g e do lodo digerido em
cerca de 2.500cal/g.

196 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo

Normalmente a incineração se processa em fornos de múltiplos estágios ou em fornalhas


de leito fluidizado.

Forno de múltiplos estágios

O forno de múltiplos estágios consiste em uma estrutura cilíndrica, vertical, composta


por vários estágios ou andares. Funciona da seguinte forma:

• o lodo seco, com teor de umidade inferior a 70%, é introduzido no nível superior e vai
sendo empurrado por dispositivos mecânicos para os estágios inferiores;

• o ar, previamente aquecido, é introduzido junto ao estágio inferior e flui de baixo para
cima;

• nos estágios ou “andares” superiores se processam a vaporização da umidade e o


esfriamento dos gases;

• os compostos voláteis do lodo entram em combustão nos estágios intermediários;

• nos estágios inferiores são processados a queima lenta dos compostos de difícil com-
bustão e o arrefecimento da cinzas, que são retiradas por uma abertura inferior;

• a temperatura no interior da fornalha varia de:

- cerca de 55ºC nos estágios superiores;

- 900ºC a 1.000ºC nos estágios intermediários; e

- cerca de 350ºC nos estágios inferiores.

No mercado, existem unidades com capacidades de 5 a 1.200t/d de lodo.


A cinza é inteiramente inerte e pode ser usada como agregado leve para
concreto ou ser levada ao mesmo destino do lixo urbano.

Leito fluidizado

O leito fluidizado consiste em um recipiente que contém um leito de areia sobre o qual o
lodo seco é introduzido. A areia é previamente aquecida até cerca de 800ºC. A combustão do
material volátil do lodo e, se necessário, do combustível utilizado, provoca um fluxo ascendente
do ar introduzido na parte inferior do recipiente, além de gases oriundos da combustão, que
mantêm o conteúdo homogêneo, sem necessidade de equipamento de mistura.

SENAI-RJ 197
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo

Seja qual for o tipo de equipamento utilizado, é necessário que nele seja introduzido um
volume de ar suficiente para suprir o oxigênio necessário à combustão. Além disso, devem ser in-
stalados dispositivos de controle de emissão de partículas para evitar a poluição atmosférica.

9.5.2 Disposição final em corpos líquidos

Em geral, o lançamento de lodo em corpos líquidos deve se restringir ao lançamento ao


mar de lodo digerido, evitando-se o lançamento nos demais ecossistemas hidráulicos. Mesmo
no mar, o lançamento de lodo cru deve ser evitado ou, ao menos, cercado de extremos cuidados
e sob permanente monitoramento.

O lançamento deve ser feito em locais em que ocorram correntes fortes, capazes de provocar
a diluição rápida e a absorção do lodo pelo ambiente aquático. Deve ser evitado o lançamento
ao mar fora da plataforma continental por meio de longas linhas de recalque que descarreguem
à grande profundidade, pois o equilíbrio ecológico das águas profundas é extremamente frágil.
Por conseguinte, o lançamento desse lodo pode ter efeitos desastrosos.

O lançamento ao mar pode ser feito por:

• tubulações submersas – o lodo é bombeado diretamente para a tubulação, após a


digestão. A monitoração do processo é feita através de inspeções freqüentes. Já o
dimensionamento do sistema deve ser feito de forma semelhante ao do lançamento
submarino de esgotos, isto é, devem ser considerados os seguintes fatores:
- a diluição inicial;
- a dispersão oceânica;
- o decaimento bacteriano; e
- as características das águas receptoras.

• barcaças – o lançamento deve ser feito em local previamente demarcado e, como


no caso anterior, submetido à inspeções freqüentes visando monitorar o processo.
O lodo pode ter sua umidade previamente removida, devendo ser feito um balanço
de custos entre o transporte do lodo úmido e os processos de remoção de umidade.
Freqüentemente, um simples espessamento por gravidade, às vezes nas próprias
lagoas de lodo, é suficiente para minimizar os custos.

Quando as condições são favoráveis, o lançamento ao mar de lodo digerido


é, geralmente, o método mais econômico para disposição final.

198 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo

9.5.3 Disposição final sobre o solo

O lançamento do lodo sobre o terreno é o processo mais antigo adotado pelo homem, e
também o mais difundido. Talvez seja o mais racional no que se refere à utilização de recursos
naturais. Isso porque o lodo pode reciclar para o ambiente a matéria orgânica nele contida.
Logo, esse tipo de lançamento pode ser considerado ideal do ponto de vista ecológico.

Você sabia que na Inglaterra, em 1865, a primeira Comissão Real Sobre a Dis-
posição de Esgotos concluiu que a maneira correta de se dispor dos esgotos
das cidades é aplicá-los continuamente ao solo?

Quando a disposição do lodo no solo não tem a finalidade de aproveitá-lo como fertili-
zante, para evitar danos à saúde humana devem ser tomadas algumas precauções ainda que
rudimentares posto que são pequenos os riscos de contato com o lodo. Este é o caso do lança-
mento em minas abandonadas ou cavidades do terreno e lagoas de lodo, em que se pretende,
apenas, dar um destino ao resíduo constituído pelo lodo, ou seja, mantê-lo para sempre em
um determinado local conforme veremos mais adiante.

Uso do lodo como fertilizante

Quando se pretende utilizar o lodo como fertilizante ou recuperador de solos, o risco de


contato direto ou indireto com o homem exige que sejam tomadas medidas de proteção mais
rigorosas, sobretudo no que concerne à possível presença de organismos patogênicos e metais
pesados. Este é o caso do uso agrícola por irrigação superficial, subsuperficial, espalhamento
de lodo seco ou aterro sanitário.

A disposição no terreno exige, na quase totalidade dos casos, a prévia estabilização do lodo
com a conseqüente redução das bactérias patogênicas. Entretanto, a sobrevivência dos vírus
e de ovos de helmintos, assim como das bactérias remanescentes, desaconselha o uso do lodo
após simples digestão como fertilizante para verduras a ser ingeridas cruas ou em circunstân-
cias que propiciem a contaminação das águas subterrâneas. Nestes casos é preciso adotar um
método de tratamento que permita a eliminação de patogênicos, como o tratamento térmico,
a pasteurização, ou o tratamento químico com cal, cloro ou compostagem.

A remoção da umidade do lodo antes da disposição no solo para uso como fertilizante não
é obrigatória e visa, exclusivamente, a redução de volume para diminuir os custos do trans-
porte. Portanto, dependendo de estudo econômico, esta remoção pode ser feita das seguintes
formas:

SENAI-RJ 199
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo

• até o nível de um simples espessamento – para o lodo ser transportado por bombea-
mento ou caminhões tanques;

• até a secagem – para o lodo ser transportado por caminhões, carretas, ou correias
transportadoras.

O lodo estabilizado pode ser aplicado em quase todos os tipos de solo, com significativo
aumento da produtividade e praticamente sem efeitos indesejáveis. Sua ação benéfica é devida
à adição de matéria orgânica. Porém não deve ser considerado como adubo, na acepção do
termo, mas, sim, como um condicionador de solos.

Em relação ao conteúdo de fósforo, o lodo proveniente do esgoto doméstico


é, em geral, excessivamente rico em nitrogênio e muito pobre em potássio.

O método adotado para aplicação ao solo depende do teor de umidade do lodo a ser
utilizado, isto é:

• com teores acima de 90% os lodos podem ser espargidos sobre o terreno empregando
as mesmas técnicas utilizadas para irrigação, ou bombeados para o subsolo, onde
se infiltram. Podem ainda ser espalhados diretamente sobre o terreno por meio de
caminhões-tanques especiais, que também podem ser utilizados para o transporte; e

• com teores abaixo de 70% os lodos podem ser pulverizados e espalhados sobre o ter-
reno. Essa é a técnica mais difundida em todo o mundo e, geralmente, utiliza lodo
primário ou lodo misto, estabilizado em digestores anaeróbios e seco em leitos de
secagem.

Lançamento em cavidades do terreno

Geralmente, o lançamento do lodo em cavidades do terreno ou minas abandonadas é


feito após estabilização e remoção da umidade e visa exclusivamente dar um destino final ao
material.

No caso de grandes cavidades artificiais abertas para a remoção de areia, saibro, ou que
sejam provenientes da exploração de minas (geralmente de carvão) a céu aberto, pode-se
considerar o benefício, a longo prazo, da recuperação do terreno, ao menos do ponto de vista
estético. Mas esta situação não pode ser considerada solução permanente, pois a atividade
deverá ser interrompida tão logo as cavidades venham a se encher. Além disso, não promove
a reciclagem da matéria orgânica.

200 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Tratamento do lodo

Lagoas de lodo

Uma solução que pode vir a ser extraordinariamente econômica é o aproveitamento


de cavidades ou minas existentes nas proximidades das estações de tratamento. Se, ao invés
do lodo seco, essas cavidades receberem lodo estabilizado com elevado teor de umidade, se
constituirão em lagoas de lodo.

As lagoas de lodo podem ser limitadas por diques artificiais. Para elas, não há limite de
área ou de profundidade, pois irão se constituir apenas em depósitos destinados à acumulação
temporária ou permanentemente do lodo. No último caso o terreno pode ser considerado per-
dido, porque a remoção posterior de todo o lodo de uma lagoa é extremamente cara e difícil.

Aterros sanitários

A disposição final em aterros sanitários exige que o lodo seja seco, embora não obriga-
toriamente estabilizado. Entretanto as dificuldades para secagem do lodo cru fazem com que,
na grande maioria dos casos, o lodo lançado em aterros seja estabilizado.

Em geral, o aterro é feito com lixo e lodo e a técnica empregada é a mesma utilizada em
aterros sanitários com lixo urbano, ou seja, espalha-se uma camada do material e sobre ela
uma camada de terra. As camadas sucessivas são compactadas.

Decorridos cerca de 20 anos, após terminado o aterro, o terreno pode ser


utilizado para a construção.

SENAI-RJ 201
Noções de manutenção
e operação de
equipamentos para
tratamento de esgotos
Nesta unidade...

Instalações elétricas

Equipamentos

10
Tratamento de esgotos - Noções de manutenção e operação de equipamentos para tratamento de esgotos

10. Noções de manutenção


e operação de equipamentos
para tratamento de esgotos
Costuma-se definir manutenção como um conjunto de ações que permite manter ou
restabelecer um bem em condições de funcionamento. Com base nesse conceito, entendemos
que a implantação de um serviço de manutenção requer o estabelecimento de uma estrutura
organizacional treinada e equipada para minimizar as causas das indisponibilidades no âm-
bito do processo produtivo, garantindo o pleno funcionamento de um bem qualquer, durante
a vigência de seu tempo de vida útil estimado. Além dessa função, há outra muito importante,
que é garantir as condições necessárias para a segurança e o bem-estar dos operadores.

Em uma estação de tratamento de esgotos, como em qualquer outro processo de produção


industrial, a função manutenção deve ser exercida por uma equipe qualificada e destinada
especificamente à realização desse serviço. O operador de uma ETE, por exemplo, tem o dever
de auxiliar na conservação dos equipamentos, operando-os de acordo com os procedimentos
determinados pelos fabricantes, e também identificar anormalidades em seu funcionamento,
comunicando-as aos responsáveis pelo setor de manutenção. Portanto, para desempenhar essa
função, é preciso ter conhecimentos básicos acerca do manuseio correto e do funcionamento
dos equipamentos, bem como do sistema de tratamento de esgoto como um todo.

Do ponto de vista dos equipamentos, podemos caracterizar resumidamente o funciona-


mento de uma estação de tratamento como um conjunto de instalações elétricas, hidráulicas e
mecânicas, que proporciona os meios necessários para a operação de tratamento de esgotos.

A seguir, vamos apresentar os conceitos básicos que você precisa dominar para com-
preender o funcionamento das instalações e dos equipamentos de uma ETE e, assim, poder
identificar possíveis anormalidades operacionais na estação.

SENAI-RJ 205
Tratamento de esgotos - Noções de manutenção e operação de equipamentos para tratamento de esgotos

10.1 Instalações elétricas


O objetivo das instalações elétricas é fornecer energia necessária ao funcionamento dos
equipamentos, à iluminação, e a outros propósitos, em geral, de apoio à ETE. Basicamente,
a instalação elétrica se inicia no ponto de alimentação da concessionária. Para pequenas
instalações, a tensão de alimentação é de 220V. Já em estações de grande porte, é usual o for-
necimento da energia em alta tensão (13.800 a 69.000V). Ao final, a energia é conduzida aos
motores elétricos de bombas e de outros equipamentos e, também, aos demais consumidores
de uma planta (iluminação, sistemas de proteção contra incêndio, sistemas de comunicação,
sistemas de controle e supervisão, dentre outros).

10.1.1 Subestação

Uma subestação é composta, basicamente, de:

• um elemento de medição de energia elétrica;

• disjuntores e chaves seccionadoras;

• sistema de proteção (relés);

• cubículos metálicos para o confinamento das partes energizadas; e

• transformadores.

A norma regulamentadora NR-10 – Segurança em instalações e serviços em


eletricidade –, estabelecida em portaria nº 598 de 07/12/2004, dispõe sobre
diretrizes básicas para a implementação de medidas de controle e sistema
preventivo, destinado a garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores
que direta ou indiretamente interajam em instalações elétricas. Procure orientações
do chefe da manutenção sobre o que pode e o que não pode ser feito pelos operadores
em subestações e em áreas de risco elétrico.

206 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Noções de manutenção e operação de equipamentos para tratamento de esgotos

Identificação de anormalidades

Algumas anormalidades podem ser reconhecidas até mesmo por pessoa não-qualificada.
São elas:

• incandescência de contatos de chaves ou barramentos - indica mau contato elétrico,


podendo resultar em interrupções nos circuitos de força, ou falhas por superaqueci-
mento nos demais elementos da subestação;

• disjuntores - principais responsáveis pelo seccionamento da alimentação de uma


subestação, podem apresentar vazamento de óleo isolante e, conseqüentemente,
riscos de explosão;

• transformadores - esse tipo de equipamento também apresenta óleo como meio


isolante. O vazamento de óleo é de fácil reconhecimento e extremamente perigoso,
podendo provocar explosão do equipamento, quando há falha em seu sistema de
proteção; e

• relés de proteção dos cubículos das subestações - destinam-se ao monitoramento


da corrente elétrica e tensão do sistema, comparando os valores medidos com os
parâmetros estabelecidos como normais. Quando um parâmetro medido é superior
ao valor adotado como normal, caracterizando uma falha do sistema, um sinal é en-
viado ao disjuntor para que se proceda a sua abertura, a fim de evitar danos maiores
na instalação elétrica e nos equipamentos. Esse procedimento é realizado através de
um sistema de corrente contínua independente, composto por retificador e bateria.

A ausência de sinalização nos relés (leds ou medidores apagados) e bateria


com nível baixo de solução indicam falhas graves, que devem ser comuni-
cadas imediatamente ao setor de manutenção.

10.1.2 Painéis elétricos

São dispositivos nos quais pode-se operar os diversos equipamentos do processo de trata-
mento, através do acionamento de chaves seletoras, botões de comando e do monitoramento
dos parâmetros de controle, apresentados em diversos tipos de medidores, instalados no painel,
sendo os principais: voltímetros, amperímetros, medidores de vazão e medidores de nível.

SENAI-RJ 207
Tratamento de esgotos - Noções de manutenção e operação de equipamentos para tratamento de esgotos

Identificação de anormalidades

Condições anormais são anunciadas por alarmes visuais ou sonoros, tais como:

• alarme de sobrecarga - indica solicitações acima do permitido para um determinado


equipamento;

• alarme de temperatura alta - indica falhas elétricas, atritos mecânicos indesejáveis,


ou resultado de sobrecargas;

• alarme de nível alto - indica níveis perigosamente altos (risco de extravasamento) ou


baixos (risco de danos em bombas) em poços contendo esgoto ou lodo;

• alarme de falta de fluxo - indica risco de danos em bombas, por falha da selagem
(água), ou por superaquecimento em bombas (shut off);

• alarmes indicativos de outros tipos de falha.

Após o alarme, segue-se, normalmente, o desligamento automático dos res-


pectivos equipamentos, caso nenhuma ação seja executada para sanar a
causa do alarme.

10.2 Equipamentos
As estações de tratamento empregam diversos equipamentos para o processamento do
esgoto bruto, tais como: comportas, grades, motores elétricos, bombas, roscas transportadoras,
sopradores, raspadores, centrífugas e instrumentos de controle do processo, entre outros.

Adiante comentaremos sobre esses principais equipamentos.

Identificação de anormalidades

As falhas verificadas nos equipamentos costumam ser variadas, mas, de uma forma
genérica, podemos identificá-las como:
• vibração excessiva;
• elevação de temperatura;
• ruídos anormais;
• corrosão; e
• sujeira.

208 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Noções de manutenção e operação de equipamentos para tratamento de esgotos

As anormalidades citadas decorrem de diversos motivos, porém, em gran-


de parte, são oriundas de falhas de lubrificação e de desalinhamento dos
equipamentos.

10.2.1 Comportas

As comportas interrompem ou regulam vazões em canais. Podem ser acionadas manu-


almente, através de volante com caixa redutora e eixo sem-fim, ou de forma automática, pelo
emprego de motor elétrico, de acionamento pneumático ou hidráulico.

Alguns problemas que podem ser encontrados nesses equipamentos:

• defeito no indicador de posição;

• falha de vedação; e

• defeito em equipamentos auxiliares, tais como: compressores, unidade hidráulica,


atuador pneumático ou hidráulico, motores elétricos e vazamentos de ar comprimido
ou óleo, nos sistemas de alimentação dos atuadores.

10.2.2 Grades

As grades retêm os sólidos grosseiros e devem ser limpas sempre que houver acúmulo
excessivo de material. A falha na limpeza resulta na indesejável redução da vazão e na eleva-
ção do nível à montante da grade, ocasionando perigosos transbordamentos dos canais onde
estão instaladas.

A operação de limpeza automática ocorre quando a diferença entre os níveis de montante


e jusante da grade atinge um valor pré-especificado ou através do emprego de elemento tem-
porizador, ou seja: a limpeza da grade (operação do rastelo) ocorre em intervalos de tempo
ajustados no painel de comando. Portanto, é obrigação do operador verificar se o tempo ajustado
é compatível com a quantidade de resíduos retidos na grade neste intervalo.

Principais problemas encontrados nas grades:

• falha nos sensores de nível;

• obstruções na grade (material aderido e não retirado na passagem do rastelo).

SENAI-RJ 209
Tratamento de esgotos - Noções de manutenção e operação de equipamentos para tratamento de esgotos

10.2.3 Motores elétricos

A maioria dos motores elétricos é empregada no acionamento de bombas. São também


encontrados em comportas, grades mecanizadas, roscas transportadoras, compressores,
sopradores, raspadores de lodo em decantadores, centrífugas, pontes rolantes e exaustores,
dentre outros.

Principais problemas encontrados nos motores elétricos:

• ausência da tampa da caixa de ligação dos cabos elétricos;

• ausência da ventoinha;

• danos no acoplamento;

• desalinhamento; e

• falhas na lubrificação dos mancais.

10.2.4 Bombas

As bombas utilizadas nas estações de tratamento são de diversos tipos, podendo ser em-
pregadas nos seguintes sistemas:

• esgoto bruto;

• lodo;

• água para selagem, lavagem e outros serviços;

• polímeros ou outros produtos químicos; e

• drenagem.

Em geral, as bombas utilizadas nas ETEs podem ser classificadas de acordo com a seguinte
ordem: centrífugas, de cavidade progressiva e de outros tipos.

Bombas centrífugas

Sua principal característica é possuir um elemento rotatório dotado de pás, denominado


rotor, responsável pelo fornecimento da energia cinética ao líquido. Na voluta, a energia cinética
é convertida em energia de pressão.

Vários são os tipos de bombas centrífugas empregadas em estações de tratamento de


esgotos, entretanto, podem ser classificadas, segundo a sua disposição, em bombas de eixo
vertical ou de eixo horizontal.

210 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Noções de manutenção e operação de equipamentos para tratamento de esgotos

É importante frisar para o operador que, nas centrífugas, a partida sempre deve ocorrer
com a válvula de bloqueio de recalque totalmente fechada, devendo ser aberta gradualmente,
mantendo a corrente do motor abaixo do valor nominal.

A partida da bomba com a válvula fechada, com vazão nula (shut off), reduz a carga no
eixo durante a partida do motor, e deve ser efetuada, exclusivamente, na válvula de recalque.
O fechamento da válvula de sucção na partida poderá ocasionar sérios danos às bombas.

Principais problemas encontrados nas bombas centrífugas:

• vibração excessiva;

• falhas na lubrificação dos mancais;

• falha na alimentação da água de selagem; e

• vazamento excessivo de água nas gaxetas.

A vedação do eixo entre o interior da bomba e o meio externo ocorre através da caixa de
gaxetas, composta por uma caixa cilíndrica que acomoda um determinado número de anéis
de gaxeta em volta do eixo. Os anéis são comprimidos para o ajuste desejado, através da sobre-
posta, tendo como principal função proteger a bomba contra vazamentos nos pontos onde o
eixo passa através da carcaça, ou então impedir a entrada de ar (selagem), caso a pressão de
sucção seja negativa.

Em virtude do atrito que ocorre entre as gaxetas e o eixo, é necessário o emprego de um


sistema de água para lubrificação da área de contato, sendo comum a existência de pequenos
vazamentos (gotejamento) na caixa de gaxeta. A água oriunda da caixa de gaxeta deve ser con-
duzida a um sistema de drenagem adequado.

Bombas de cavidade progressiva

Este é um outro tipo de bomba largamente utilizada nas estações de tratamento, em siste-
mas de lodo. Nela, o eixo horizontal, do tipo parafuso helicoidal, forma espaços com a carcaça
cilíndrica e com cavidades onduladas. Esses espaços se deslocam, axialmente, da aspiração
para o recalque.

Diferentemente das centrífugas, sua partida deverá somente ocorrer com a válvula de
bloqueio de recalque aberta, caso contrário, poderá resultar em sobrecarga no motor, com a
conseqüente atuação das proteções.

Principais problemas encontrados nas bombas de cavidade progressiva:

• desalinhamento de polias ou ausência de uma ou mais correias em sistemas de


transmissão;

SENAI-RJ 211
Tratamento de esgotos - Noções de manutenção e operação de equipamentos para tratamento de esgotos

• obstrução interna, em virtude da existência de lodo endurecido entre o rotor e a car-


caça. Nesse caso, é necessário realizar a lavagem interna da bomba para a retomada
do funcionamento; e

• falta de água de selagem.

Outros tipos de bomba

Em menor número, outros tipos de bomba também são empregados em estações de


tratamento, a saber:

• bombas parafuso;

• bombas de diafragma; e

• bombas de pistão.

As bombas acima citadas, por serem de uso esporádico em ETE, não serão
abordadas em nosso estudo.

10.2.5 Roscas transportadoras

São estruturas metálicas, em forma de parafuso ou helicóide, destinadas à transferência de


material sólido (cal, lodo seco e areia) ou pastoso (lodo desidratado), ambos difíceis de serem
conduzidos por bombas.

O operador deve manter-se atento para evitar o acúmulo de material retido nos mancais
intermediários. Esse problema ocorre após grande período de inatividade da rosca, resultando
no endurecimento do lodo acumulado nos mancais e, por conseguinte, criando resistência
para o giro da rosca.

10.2.6 Sopradores

Têm a função de suprir o oxigênio necessário à etapa biológica do processo aeróbio de


tratamento (tanque de aeração), bem como promover a homogeneização.

Possuem, na entrada de ar, dispositivos de filtração, visando à retirada de partículas que


possam danificar o equipamento, ou reduzir a eficiência do processo.

212 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Noções de manutenção e operação de equipamentos para tratamento de esgotos

É importante destacar a necessidade de partida com carga reduzida no soprador. Essa


condição é obtida quando se utiliza uma válvula de alívio de pressão, instalada na descarga do
soprador, que deverá estar aberta quando for dada a partida e estar fechada quando o equipa-
mento atingir a velocidade nominal.

Outro método empregado é a utilização de válvula de bloqueio fechada na entrada de ar


do soprador, que deve ser aberta, gradativamente, após o equipamento alcançar a velocidade
nominal. O operador deve, portanto, verificar se esta válvula encontra-se fechada antes da
partida do soprador.

Principais problemas encontrados nos sopradores:

• filtros com sujeira;

• desalinhamento de polias ou ausência de uma ou mais correias em sistemas de trans-


missão;

• falhas de lubrificação dos mancais; e

• vibração excessiva.

10.2.7 Raspadores

São equipamentos que auxiliam a retirada de lodo dos decantadores, ou de areia dos
desaeradores.

Em decantadores circulares, o lodo é raspado para o centro do decantador, de onde é re-


tirado através de bombas de lodo, ou pela ação da gravidade. Pode ocorrer também a sucção
direta nos braços raspadores. A mesma estrutura metálica também é responsável pela condução
do sobrenadante (escuma) para um tubo de coleta (tubo escumador), ou outro dispositivo
equivalente.

Em decantadores retangulares, uma ponte rolante ou um sistema com engrenagem e


correntes se desloca no sentido longitudinal, raspando o lodo para uma das extremidades,
e conduzindo a escuma para a extremidade oposta.

Nas caixas de areia, o material sedimentado é arrastado para um canal de coleta na peri-
feria, onde, através de roscas transportadoras, será retirado para caçambas de resíduos.

Normalmente, o maior problema nos raspadores é a possibilidade de existirem obstruções


em seu curso, impedindo o seu movimento.

SENAI-RJ 213
Tratamento de esgotos - Noções de manutenção e operação de equipamentos para tratamento de esgotos

10.2.8 Centrífugas

Esses equipamentos separam os sólidos da água por diferença de força centrífuga, e são
empregados na desidratação ou adensamento do lodo.

O seu funcionamento está condicionado ao das respectivas bombas de lodo e de polímero;


falhas nessas bombas podem impedir o trabalho da centrífuga.

O principal problema verificado nas centrífugas decorre da negligência na lavagem do


seu interior, após o período de funcionamento. O lodo endurecido, depois de longo tempo de
inatividade do equipamento, impede o giro do tambor e do raspador interno.

10.2.9 Instrumentação

É caracterizada pelo conjunto de elementos sensores e indicadores, necessários no con-


trole do processo de tratamento dos esgotos. Alguns transmitem sinais de leitura contínua de
determinados parâmetros de processo (sinais analógicos: pressão, nível, corrente, etc.), ou
de estados (sinais digitais: equipamento ligado/desligado) para um Centro de Controle e
Operação (CCO). No CCO, os sinais de leitura são visualizados na tela de um monitor e podem
orientar o controle automático das diversas etapas do processo de tratamento.

A seguir, veremos quais são os principais instrumentos.

Amperímetros

Localizados nos painéis de comando, indicam a corrente elétrica de circuitos de força ou


de equipamentos. São úteis no monitoramento de sobrecargas nos diversos equipamentos,
através da comparação, pelo operador, dos valores medidos com os valores nominais deter-
minados pelos fabricantes.

Voltímetros

Também estão localizados nos painéis de comando e indicam a tensão de alimentação


dos respectivos painéis. O funcionamento anormal de alguns equipamentos pode ser explicado
pelo desbalanceamento ou falta de fase, facilmente identificado através da leitura de tensão
de cada fase no voltímetro.

214 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Noções de manutenção e operação de equipamentos para tratamento de esgotos

Manômetros e sensores de pressão

Possibilitam a leitura da pressão em diversos sistemas, permitindo ao operador verificar


as pressões máximas e mínimas estipuladas no projeto.

Sensores/medidores de nível

São utilizados, principalmente:

• no monitoramento de níveis de poços (elevatória de esgoto bruto, por exemplo);

• no controle de grades mecanizadas através do nível à montante; e

• na medição do nível (com conversão do nível em vazão) de calhas Parshall e em di-


versos outros sistemas.

Os medidores eletrônicos permitem uma leitura local, em display digital,


pelo operador.

Sensores/medidores de vazão

São medidores eletrônicos, utilizados no monitoramento da vazão de diversos sistemas,


tais como:

• recirculação de lodo ativado;

• lodo digerido;

• lodo para centrífuga;

• solução de polímero para centrífuga;

• água de diluição de polímero;

• ar para tanque de aeração; e

• outros.

Tubulações e tanques

É necessário, também, que o operador esteja atento para os diversos problemas que podem
ocorrer nas tubulações. As principais ocorrências são:

SENAI-RJ 215
Tratamento de esgotos - Noções de manutenção e operação de equipamentos para tratamento de esgotos

• vazamentos de esgoto e lodo nas principais tubulações;

• vazamentos de água nos sistemas de combate a incêndios, de água de selagem e de


serviços;

• vazamentos de ar em sistemas de aeração de tanques, ou de ar comprimido para


controle de comportas ou outros dispositivos;

• vazamentos de óleo de controle de comportas ou de sistemas de lubrificação; e

• defeitos em válvulas, caracterizados pela dificuldade de manobra ou falha de veda-


ção.

Em tanques, o cuidado mais importante é preservar a integridade dos dispo-


sitivos de proteção, do tipo guarda-corpo de escadas e bordas. A ausência ou
a má conservação desses dispositivos devem ser apontadas imediatamente
pelo operador ao setor de manutenção da ETE.

216 SENAI-RJ
Controle de qualidade
e amostragens em
uma ETE
Nesta unidade...

Parâmetros analíticos

Possíveis pontos de coleta

Amostragem: preparativos, material e


técnicas gerais de coleta

11
Tratamento de esgotos - Controle de qualidade e amostragens em uma ETE

11. Controle de qualidade e


amostragens em uma ETE
O objetivo primordial do controle de qualidade é conhecer as características: física,
química, bacteriológica e biológica do esgoto que entra e sai em cada etapa do tratamento,
até o efluente final (tratado).

Esse conhecimento é necessário para:

• atender às exigências de controle impostas pela legislação pertinente (NT 202 r.10
e a DZ 215 r.3 – FEEMA, Resoluções CONAMA, etc.), cabendo o seu cumprimento à
CEDAE e acatar as restrições estabelecidas nas licenças de operação (LO);

• verificar o desempenho de cada etapa do tratamento e do processo em sua totalidade;

• manter um registro histórico dos dados do sistema sob controle; e

• avaliar dispositivos de tratamento de esgotos segundo a O.S. 8.147 de 12 de fevereiro


de 2004.

Portanto, para serem lançados em corpos receptores, os efluentes tratados nas ETEs devem
obedecer aos requisitos mencionados, ou seja, às qualidades: física, química, bacteriológica e
biológica. A realização desse tipo de controle é fundamental, especialmente no Estado do Rio de
Janeiro, onde as águas superficiais são utilizadas para o abastecimento de quase toda a popu-
lação e também para outros fins importantes, tais como: recreação, pesca, irrigação, etc.

11.1 Parâmetros analíticos


Apresentamos a seguir os parâmetros físicos, químicos e biológicos que são mais co-
mumente avaliados, sendo que neste último grupo uma classe bem específica são os micro-
biológicos.

SENAI-RJ 219
Tratamento de esgotos - Controle de qualidade e amostragens em uma ETE

• CH4 - Metano;

• Cloretos;

• CO2 - Dióxido de carbono ou gás carbônico;

• coliformes termotolerantes;

• coliformes totais;

• DBO;

• DQO;

• MBAS - Substâncias ativas ao azul de metileno (detergentes);

• N-NO2 - Nitrogênio na forma de nitrito;

• N-NH3 - Nitrogênio amoniacal;

• N-NO3 - Nitrogênio na forma de nitrato;

• NTK ou TKN - Nitrogênio Kjeldahl Total;

• OD - Oxigênio dissolvido;

• O & G - Óleos e graxas;

• pH - Potencial de Hidrogênio;

• P-PO4 - Fósforo na forma de ortofosfato;

• P-Total - Fósforo total;

• RNFF - Resíduos Não-Filtráveis Fixos (sólidos em suspensão fixos);

• RNFT - Resíduos Não-Filtráveis Totais (sólidos em suspensão totais);

• RNFV - Resíduos Não-Filtráveis Voláteis (sólidos em suspensão voláteis);

• Ssed – Sólidos sedimentáveis;

• Sulfetos; e

• Turbidez.

As exigências legais, ou por força contratual, determinam os seguintes parâmetros para


avaliação, todos em amostras do efluente final, conforme ponto 6 da Figura 11.1:

• Em geral, os parâmetros mínimos são: DBO; RNFT e colimetria total.

• Os mais comuns: DQO; colimetria fecal; pH; N-NO3; P-Total; P-PO4; O&G e cloretos.

• Os parâmetros possíveis de serem requeridos: RNFF; RNFT; RNFV; NTK; N-NH3;


N-NO2; detergentes; cloro residual e turbidez.

220 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Controle de qualidade e amostragens em uma ETE

Nos pontos 1 e 6 da Figura 11.1, os parâmetros de verificação do desempenho da ETE e


caracterização do afluente são:

• Os mais comuns: DBO; RNFT; pH e colimetria total.

• Os eventuais: DQO; colimetria fecal; RNFT; RNFV; NTK; O&G; cloretos e temperatura.

• Os parâmetros possíveis, dependendo do processo: NH3; N-NO3; N-NO2; P-Total; P-PO4


e detergentes.

• Apenas no ponto 1: sulfetos.

• Apenas no ponto 6: cloro residual; turbidez.

O controle de processo feito na caixa de areia (nos pontos 2, 2a e 3 da Figura 11.1) faz uso
dos seguintes parâmetros:

• Pontos 2 e 3: RNFT (amostragem junto ao fundo do canal).

• Ponto 2a (amostra de areia): % de sólidos voláteis.

O controle de processo feito na decantação primária (nos pontos 3 e 4 da Figura 11.1) faz
uso dos seguintes parâmetros:

• Comuns: RNFT e DBO.

• Eventuais: DQO; pH; NTK e NH3.

• Lodo primário: RNFT e RNFV.

O Controle de processo feito no filtro biológico (pontos 4, 4a e 5 da Figura 11.1) utiliza os


seguintes parâmetros:

• Comuns: DBO; RNFT e Ph.

• Eventuais: NH3; N-NO3 e OD (só no ponto 5).

• Ponto 4a (eventuais): NH3; N-NO3 e OD.

• Lodo biológico: RNFT e RNFV.

O controle de processo feito nos lodos ativados (pontos 4, 4b, 4c e 5 da Figura 11.1) utiliza
os seguintes parâmetros:

• Comuns: DBO; RNFT e pH ( pontos 4 e 5).

• Eventuais: NH3; N-NO3; N-NO2 e OD (só no ponto 5).

• Ponto 4b (líquido do TA): OD; RNFT; RNFV; temperatura; Ssed (proveta) e N-NO3.

SENAI-RJ 221
Tratamento de esgotos - Controle de qualidade e amostragens em uma ETE

O controle de processo feito na desinfecção (pontos 5 e 6 da Figura 11.1) utiliza os seguintes


parâmetros:

• Comuns: colimetria total e cloro residual (só no ponto 6).

• Eventuais: colimetria fecal e streptococos fecais.

O controle de processo feito na digestão anaeróbia (ver Figura 11.1) utiliza os seguintes
parâmetros:

• Ponto 4d: CH4 e CO2.

• Ponto 1d: RNFT; RNFV; pH e alcalinidade.

• Ponto 2d: RNFT; RNFV; ácidos voláteis e NTK.

• Ponto 3d: temperatura; ácidos voláteis; pH; alcalinidade e metais.

11.2 Possíveis pontos de coleta


Os pontos de controle podem variar conforme o processo de tratamento de esgotos. No
nosso caso, vamos considerar o desenho normalmente encontrado nas ETEs da CEDAE, con-
forme é mostrado nas Figuras 11.1 e 11.2, a seguir.

Figura 11
Fi 11.1
1–F
Fase lí
líquida
id

222 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Controle de qualidade e amostragens em uma ETE

Figura 11
Fi 11.2
2–T
Tratamento
t t ddo llodo
d

11.3 Amostragem: preparativos,


material e técnicas gerais de coleta
Quando não é possível analisar todo o universo estatístico, a amostragem é uma técnica
de fundamental importância para qualquer avaliação. Uma amostra implica na escolha ou
seleção de parte representativa do universo que se deseja estudar. Não significa, apenas, o ato
de se aproximar do decantador e mergulhar um balde para retirar uma porção de substância,
em qualquer horário, e levá-la até o laboratório. O processo de amostragem envolve observa-
ção e bom senso, por parte de quem planeja e de quem realiza a técnica, de modo a obter uma
parcela de fato representativa do fenômeno a ser avaliado.

A amostragem envolve a realização de medições de campo e a coleta de material nos


pontos mais representativos, utilizando equipamentos adequados e métodos de preservação
do que foi colhido, para ser transportado e analisado.

11.3.1 Freqüência de amostragem

O estabelecimento dos períodos de freqüência de coleta é de responsabilidade de um


profissional qualificado. Porém, é importante ressaltar que a definição desses momentos não
é feita de maneira aleatória, ela depende de uma série de informações sobre:

• a qualidade do corpo receptor;

• o afluente para a ETE; e

• o processo de tratamento utilizado.

SENAI-RJ 223
Tratamento de esgotos - Controle de qualidade e amostragens em uma ETE

11.3.2 Preparativos para amostragem, material e


técnicas gerais de coleta

A seguir, vamos analisar o processo de amostragem, desde a frascaria utilizada até os


cuidados relativos à segurança da coleta.

Frascaria

Podem ser utilizados frascos de vidro ou plástico, dependendo, principalmente, do tipo


de parâmetro de interesse. A seguir, veremos alguns de uso mais freqüente.

Cabe ao laboratório ou aos profissionais vinculados ao controle de qualidade


fornecer as orientações relativas ao tipo de frasco e aos preservativos a serem
utilizados, bem como aos cuidados a serem adotadas na coleta.

Frasco para coletas bacteriológicas


Podem ser de vidro borossilicato ou de polietileno autoclavável, de boca larga, com
volume aproximado de 200ml. Após a lavagem e antes da esterilização, é preciso cobrir a
tampa e a boca do frasco com papel metálico, para evitar a contaminação das amostras.

Frasco para amostragens de gases dissolvidos (OD, CO2)


De vidro borossilicato refratário (tipo pyrex), de boca esmerilhada e tampa, com 300ml
de volume.

Frasco para pesticidas


De vidro escuro, com 1000ml de volume, e gargalo isolado com papel de alumínio, antes
de ser colocada a tampa plástica.

Sacos plásticos

No transporte de lodo de esgoto ou sedimento de qualquer natureza são usados sacos


com capacidade de 1 a 5kg.

Identificação

Um dos aspectos mais importantes nos programas de amostragem é a correta identificação


das amostras. Para isso, são utilizadas fitas adesivas nos frascos de coleta, com as seguintes
informações pertinentes à amostragem em águas naturais:

224 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Controle de qualidade e amostragens em uma ETE

• identificação do ponto de coleta; e

• data e horário em que a coleta foi realizada.

Ficha de coleta para amostragens

Para complementar as informações já relacionadas, são também usadas fichas de coleta,


que devem ser preenchidas no campo, contendo os seguintes itens:

• data e horário em que a coleta foi realizada;

• nome/assinatura do coletor;

• identificação do ponto de coleta;

• temperatura ambiente;

• temperatura da amostra;

• pH;

• condições climáticas; e

• observações a respeito da técnica empregada na coleta ou de fatores que a influenciaram.

Equipamento de coleta

Existe uma série de equipamentos usados nas campanhas de amostragem, os quais devem
ser preparados e verificados com antecedência, a fim de evitar problemas na hora da coleta.
Um desses equipamentos é o balde de 5L, amarrado por uma corda forte, muito utilizado para
coletas em superfície. Ao realizar esse procedimento, é preciso ter cuidado com a fragilidade
das alças, pois caso arrebentem, o balde vai afundar num decantador, causando problemas
em equipamentos subseqüentes.

Vejamos alguns tipos usados com freqüência.

Coletores Automáticos

São equipamentos compostos, em sua maioria, de uma bomba peristáltica controlada


por um sistema eletrônico, o qual pode ser programado para realizar a coleta em intervalos
e volumes variados. Estes coletores podem ser acoplados a um ou mais recipientes que
receberão as alíquotas de amostras.

Alguns coletores automáticos contam ainda com refrigeração e podem ser controlados
à distância por telemetria.

SENAI-RJ 225
Tratamento de esgotos - Controle de qualidade e amostragens em uma ETE

Garrafas de profundidade

São instrumentos usados com a finalidade de coletar água em profundidades variáveis.

Atualmente, a garrafa de profundidade mais usada é do tipo Van Dorn, devido à sua
robustez, com capacidade de 3 litros, que evita qualquer contato da amostra com metal.

Existem modelos em PVC transparente, porém o mais comum é do tipo opaco. Veja a
Figura 11.3.

Figura 11.3 – Garrafas coletoras em profundidade

Dragas

São equipamentos usados para obter amostras dos


substratos de diferentes corpos d’água.

Existem diversos tipos de amostradores de fundo,


cada um específico para o sedimento a ser coletado, e de
acordo com o meio líquido em que vai ser submerso.
Figura 11
Fi 11.4
4–D
Draga d
de P
Petersen
A draga de Petersen, por exemplo, é muito emprega-
da em substratos de areia grossa. Veja a Figura 11.4.

Um outro exemplo, é a draga de Eckman, utilizada


para estudos quantitativos da fauna limnológica em
fundo do tipo lodoso e macio. Veja a Figura 11.5.
Figura 11.5 – Draga d
de Eckman
k

226 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Controle de qualidade e amostragens em uma ETE

Limnológica: referente a limnologia: estudo científico das extensões de água


doce (como lagos, pântanos etc. incluindo, por vezes, águas correntes) com
respeito a suas condições ou aspectos biológicos, químicos, físicos, meteoro-
lógicos, geológicos ou ecológicos.

Disco Secchi

Tem por finalidade medir a transparência da


água. Encontra-se disponível sob duas formas:
em plástico branco opaco, ou em metal, com
a superfície dividida em dois quadrantes, um
branco e outro preto. Veja a Figura 11.6. Figura 11.6 – Disco Secchi

Técnicas de coleta

As coletas podem ser de superfície ou de profundidade; as amostras, simples ou compos-


tas, conforme veremos a seguir.

Coletas de superfície

Essas coletas devem ser feitas a uma profundidade de aproximadamente 20cm, colocando-
se o frasco em contato direto com o efluente, com a boca virada contra a corrente.

No caso dos frascos já conterem preservativo, a coleta de superfície deve ser evitada para
não contaminar o local e prejudicar outras amostragens. Para contornar o problema, podem
ser usadas garrafas de profundidade, por serem leves e de fácil manipulação, porém tomando
o cuidado de não deixar o tubo de escoamento da garrafa encostar no frasco de amostra.

Coletas de profundidade

São feitas com os diversos tipos de garrafas de profundidade descritos anteriormente.

Amostras simples

Consistem em se retirar, tomar um determinado volume ou porção de amostra do universo


a ser avaliado (esgoto, água, lodo de esgoto etc.), com os devidos cuidados, de acordo com o
parâmetro a ser analisado.

Amostras compostas

Resultam da mistura de várias coletas simples, que são retiradas do efluente, do corpo d’água
ou da caçamba de lodo, a intervalos de tempo iguais, durante um determinado período. O
volume de cada porção única é variável de acordo com o tempo total em que se queira efetuar
a amostra composta, não devendo ser jamais inferior a 120ml.

SENAI-RJ 227
Tratamento de esgotos - Controle de qualidade e amostragens em uma ETE

11.3.3 Métodos de preservação e acondicionamento


de amostras

Devido à dificuldade em se analisar uma amostra logo após a sua coleta, é necessário
utilizar técnicas de preservação para mantê-la praticamente inalterada, até o momento do
exame em laboratório. Essas técnicas se restringem a:

• retardar a ação biológica e a hidrólise de compostos químicos complexos;

• reduzir a volatilidade dos constituintes; e

• reduzir a adsorção no frasco de coleta.

Os métodos de preservação estão geralmente limitados ao controle de pH, à adição de


reagentes químicos e à refrigeração.

A Tabela 11.1 apresenta informações relevantes acerca da preservação de amostras.

Tabela 11.1 – Preservação de amostras por parâmetro de interesse

Parâmetro Frasco Vol. Mín. Prazo de análise Método de preservação


(ml)
Acidez P 200 24 horas refrigeração a 4ºC
Alcalinidade V/P 200 24 horas refrigeração a 4ºC
Amônia V/P 500 7 dias ácido sulfúrico até pH<2
Arsênio V/P 500 6 meses ácido nítrico até pH=2
Bário V/P 500 6 meses ácido nítrico até pH=2
Berílio P 500 6 meses ácido nítrico até pH=2
Boro V/P 500 6 meses ácido nítrico até pH=2
Cádmio V/P 500 6 meses ácido nítrico até pH=2
Cálcio V/P 500 6 meses ácido nítrico até pH=2
Chumbo V/P 500 6 meses ácido nítrico até pH=2
Cianeto Total V/P 1000 24 horas NaOH até pH>12
Cloreto V/P 200 7 dias não é necessário
Cobre V 500 6 meses ácido nítrico até pH=2
Condutividade V/P 500 28 dias refrigeração a 4ºC
Cor V/P 500 48 horas refrigeração a 4ºC
Cromo Hexavalente V/P 500 24 horas refrigeração a 4ºC
DBO V/P 1000 24 horas refrigeração a 4ºC
DQO V/P 200 7 dias ácido sulfúrico
concentrado até pH=2
Dureza P/V 500 6 meses adicionar ácido nítrico até pH<2
Fluoreto P 500 7 dias refrigeração a 4ºC
Fosfato V(a) 200 48 horas refrigeração a 4ºC
Continua...

228 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Controle de qualidade e amostragens em uma ETE

Continuação
Parâmetro Frasco Vol. Mín. Prazo de análise Método de preservação
(ml)
Fósforo total V 1000 7 dias refrigeração a 4ºC
Mercúrio V(a)/P(a) 500 28 dias ácido nítrico concentrado até
pH<2, 4ºC
Nitrato V/P 200 24 horas refrigeração a 4ºC
Nitrito V/P 200 24 horas refrigeração a 4ºC
Óleos & Graxas V 1000 7 dias ácido sulfúrico até pH<2
Resíduos V/P 1000 7 dias refrigeração a 4ºC
Salinidade V(1) 500 6 meses - -----
Sílica P ---- 28 dias refrigeração a 4ºC
Sulfato V/P 300 7 dias refrigeração a 4ºC
Sulfeto V 1000 6 meses refrigeração a 4ºC
TKN V/P 500 7 dias refrigeração e ácido sulfúrico
até pH<2
Turbidez V/P 500 24 horas guardar no escuro sob refrigera-
ção a 4ºC
Cromo total V 1000 6 meses refrigeração a 4ºC
Estanho V/P 500 6 meses ácido nítrico até pH=2
Ferro total V/P 1000 6 meses ácido nítrico até pH=2
Níquel V/P 500 6 meses ácido nítrico até pH=2
Potássio P 500 6 meses ácido nítrico até pH=2
Zinco V/P 500 6 meses ácido nítrico até pH=2

Legenda:
V = vidro;
V(1) = vidro com cera de vedação;
V(a) = rinsado com HNO3 1:1;
P = polietileno;
P(a) = rinsado com HNO3 1:1

Na preservação, o ácido deve ser adicionado imediatamente após a coleta.


O controle é feito com o papel de pH.

SENAI-RJ 229
Tratamento de esgotos - Controle de qualidade e amostragens em uma ETE

11.3.4 Segurança durante as coletas

As principais recomendações relacionadas à segurança são:

• Ter muito cuidado ao realizar coletas nos tanques de aeração, pois, devido à baixa
densidade do líquido misturado com ar, o risco de afogamento é iminente.

• Ter bastante cuidado com parapeitos na hora de puxar as garrafas de profundidade


ou dragas.

• Em locais de difícil acesso, carregar apenas o material estritamente necessário à coleta,


pois há sempre perigo de queda.

• Trabalhar sempre devidamente uniformizado, usando luvas, botas, capacetes e, em


alguns casos, máscara contra gases, de acordo com os fatores de risco presentes na
atividade.

230 SENAI-RJ
Doenças de origem
e veiculação hídrica
Nesta unidade...

Doenças causadas por agentes


microbianos e parasitários

12
Tratamento de esgotos - Doenças de origem e veiculação hídrica

12. Doenças de origem e


veiculação hídrica
As enfermidades devidas à composição natural da água (excesso de arsênio, fluoreto,
etc.) são chamadas de origem hídrica. As enfermidades causadas por substâncias que não
fazem parte dessa composição (contaminação por chumbo, cianeto, etc.) ou por micróbios
patogênicos, são chamadas de veiculação hídrica. Estudos científicos têm demonstrado que
essa nocividade está relacionada aos seguintes fatores:

• qualidade biológica da água – devido à sua capacidade para veicular tanto microrganismos
causadores de doenças transmissíveis, quanto algas produtoras de substâncias tóxicas;

• qualidade química da água - pois pode conter substâncias químicas dissolvidas em


concentração tóxicas para o organismo humano; em alguns casos, a carência de certos
elementos químicos também afetam a saúde; e

• quantidade - na prevenção de algumas doenças, esse fator tem tanto ou mais importância
que a qualidade; a escassez de água, dificultando a limpeza corporal e a do ambiente,
por exemplo, permite a disseminação de enfermidades associadas à falta de higiene.

Nos itens a seguir, vamos analisar a atuação desses fatores em várias doenças provocadas
por agentes microbianos, parasitários e químicos.

12.1 Doenças causadas por agentes


microbianos e parasitários
A água pode veicular doenças infecciosas causadas por agentes microbianos patogênicos
que são freqüentemente eliminados pelos excretos (fezes e/ou urina). A sua porta de entrada
no organismo humano é, na maioria das vezes, a via oral.

SENAI-RJ 233
Tratamento de esgotos - Doenças de origem e veiculação hídrica

12.1.1 Doenças adquiridas por via oral


Nesse grupo, incluem-se algumas doenças típicas da veiculação hídrica, já que a ingestão
da água pode representar fator importante à sua disseminação.

Febre tifóide

Doença de distribuição universal, também chamada Febre intestinal ou Tifo abdominal.


Trata-se de uma infecção aguda, generalizada, causada pela bactéria salmonela typhi. A fonte
de infecção é o homem, doente ou portador de germes, às vezes eliminados pelas fezes.

A febre tifóide tem um período de incubação de uma a três semanas. É transmitida por
contato direto ou indireto, através da água dos alimentos contaminados e ingeridos crus, e dos
insetos (moscas), que podem servir como vetores passivos. Os sintomas mais graves são a febre
elevada e contínua, o delírio, a distensão abdominal e a hemorragia intestinal.

Em última análise, podemos afirmar que se trata de uma doença decorrente


de saneamento básico deficiente.

A água é um meio desfavorável à sobrevivência da salmonela typhi que, no entanto, pode


permanecer viável durante um período de tempo suficiente para infectar pessoas (experiência
de Houston).

A febre tifóide de origem hídrica se manifesta conforme as circunstâncias, seja por casos
isolados ou epidemias explosivas. No segundo caso, a gravidade e extensão dependem do
grau de contaminação, do volume e das condições do abastecimento de água, do número
e da suscetibilidade dos indivíduos expostos ao risco. Essas epidemias são caracterizadas
pelo número elevado de pessoas que adoecem num prazo curto. Às vezes, o mapa da área de
localização domiciliar dos casos revela, expressivamente, qual o setor do abastecimento que
sofreu contaminação.

Cuidados com a água


No tocante ao controle da febre tifóide e das doenças de veiculação semelhante, as
providências referentes à água incluem:
• proteção dos mananciais, inclusive medidas de controle de poluição da água;

234 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Doenças de origem e veiculação hídrica

• tratamento adequado da água, como operação continuamente satisfatória;


• sistema de distribuição de água bem projetado, construído e operado de modo a
manter, sempre que possível, a água na rede com pressão suficiente, evitando, as-
sim, contaminação por pressão negativa de valas de esgotos ou águas subterrâneas,
através de falhas na canalização;
• controle permanente da qualidade físico-química e bacteriológica da água na rede
de distribuição ou, preferivelmente, na torneira do consumidor; e
• solução sanitária para o problema dos esgotos, incluindo os sistemas de coleta, trata-
mento e destino final, com a finalidade de proteger o abastecimento de água potável.

Cólera

Infecção intestinal aguda, causada pela bactéria, vibrio cholerae, que é um bacilo levemente
encurvado. A fonte de infecção é o homem, doente ou portador, e o período de incubação varia
de algumas horas a cinco dias, em média.

Os vibriões são eliminados pelas fezes, pelos vômitos dos doentes e, ocasionalmente,
pela urina. A sua transmissão ocorre de modo direto ou indireto, através de água e alimentos
contaminados. As moscas, formigas e ratos também atuam como vetores passivos.

Entre todas as doenças deste grupo, é na cólera que a água representa papel mais importante.
O vibrião colérico pode sobreviver na água vários dias ou semanas e, conforme as circunstâncias,
até mesmo se multiplicar, sendo responsável por epidemias explosivas de caráter muito grave.

Em geral, a moléstia começa com intensa dor nas costas, pernas e braços. Pode também
principiar com diarréia e cólicas. Geralmente, há fortes vômitos e desidratação acentuada.
Muitas vítimas se restabelecem, mas continuam a expelir os germes nas evacuações. A pessoa
recuperada da enfermidade deve, preferencialmente, submeter-se a análise laboratorial como
garantia da erradicação da doença.

Amebíase

Infecção crônica, principalmente no intestino grosso (cólon), causada pelo protozoário


entamoeba histolytica.

Muitas pessoas infectadas não apresentam sintomas clínicos, ou o fazem intermitentemente.


Em geral, os sintomas se caracterizam por períodos alternados de diarréia e prisão de ventre. A
fonte de infecção é o homem, doente crônico ou portador, que elimina o protozoário pelas fezes.
O período de incubação é, em média, de três a quatro semanas, mas pode ser também de cinco
dias, para infecções mais graves, e até de vários meses, nas subagudas ou crônicas.

SENAI-RJ 235
Tratamento de esgotos - Doenças de origem e veiculação hídrica

O modo de transmissão pode ser direto ou indireto, através da água ou de alimentos con-
taminados, especialmente frutas e verduras cruas, quando irrigados ou refrescados com água
poluída por fezes ou cultivados em solos adubados diretamente com dejetos humanos. Moscas
e baratas que tiveram contato com excretos de infectados podem contaminar os alimentos.

Os sintomas da amebíase vão desde a diarréia com cólicas e aumento dos sons intestinais,
até a diarréia mais intensa com perda de sangue nas fezes, febre e emagrecimento. Nesses casos,
ocorre invasão da parede do intestino grosso com inflamação mais intensa, o que os médicos
chamam de colite. Podem ocorrer ulcerações no revestimento interno do intestino grosso,
provocando sangramento. Raramente, a infecção causa perfuração do intestino, mas, quando
ocorre, a manifestação é de doença abdominal grave com dor intensa, rigidez e aumento da
sensibilidade da parede, além de prostração extrema. A doença pode apresentar-se de forma
mais branda, com diarréia intermitente, levando muitos anos até surgir algum comprometi-
mento do estado geral.

Não muito comumente, o protozoário pode penetrar na circulação e formar abscessos no


fígado, que causam dor e febre com calafrios. Os abscessos podem se romper para o interior
do abdome ou mesmo do tórax, comprometendo as pleuras ou o pericárdio. As situações de
doença extra-intestinal ou invasiva são as que levam a situações mais extremas e evoluem para
a morte do indivíduo infectado.

Abscesso: acumulação de pus numa cavidade formada acidentalmente


nos tecidos orgânicos, ou mesmo em órgão cavitário, em conseqüência de
inflamação.
Pleura: camada que reveste os pulmões.
Pericárdio: camada que reveste o coração.

Os cistos de ameba resistem, na água, de uma semana até vários meses, conforme o caso.
Águas poluídas com esgoto representam importante papel na veiculação da doença. A co-
agulação e a filtração rápida convencionais são parcialmente eficientes na remoção dos cistos
de ameba. Os filtros de terra diatomácea parecem mais eficazes que os de areia. O cloro, nas
doses usualmente empregadas, não destrói os cistos, sendo necessária a supercloração. Para
tratamento de emergência ou individual, recomenda-se a fervura da água ou o uso de iodo,
que é um bom cisticida.

236 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Doenças de origem e veiculação hídrica

Shigelose ou disenteria bacilar

Quando a diarréia é acompanhada da presença de sangue visível nas fezes, dizemos que
se trata de disenteria, isto é, uma infecção bacteriana aguda do intestino, causada por bactérias
do gênero shigella – SH dysenteriae, SH sonnei, SH flexneri, SH boydi, etc.

Trata-se de doença de distribuição universal, de gravidade variável, sendo uma das princi-
pais causas de mortalidade infantil, pois sua maior incidência é dos seis meses aos quatro anos
de idade. A fonte de infecção é o homem, doente ou portador e o período de incubação pode
ser de um a sete dias. O modo de transmissão pode ser direto ou indireto, através da água ou
de alimentos contaminados. As moscas representam papel importante como vetores.

Os microrganismos que causam disenteria, tais como, shiguela, salmonela, vibrião da


cólera, amebas, podem invadir e lesar (machucar) a parede do intestino e são disseminados
pelas mãos, por alimentos e águas contaminados com fezes ou resíduos fecais.

A Shigelose é, por excelência, doença decorrente do mau saneamento e da


falta de higiene pessoal e doméstica. Para ocorrer contaminação através das
mãos, basta existir, apenas, um pequeno número de bactérias, por exemplo,
de 10 a 100.

Suspeita-se de disenteria através da observação de sangue visível nas fezes e, às vezes, de


secreção purulenta (pus) e muco (catarro). Em geral, as pessoas infectadas apresentam febre,
cólicas intestinais e diminuição do apetite, o que pode levar rapidamente à perda de peso e até
a desnutrição. A disenteria pode se complicar causando, por exemplo, perfuração intestinal e
morte.

Em geral, as shigelas sucumbem rapidamente na água e as epidemias de origem hídrica


não são muito freqüentes. Ocorrem, principalmente, quando há contaminação maciça de
pequenos volumes de água em comunidades fechadas, porque, nessas condições, não se dispõe
de tempo suficiente para desvitalização das shigelas antes da água ser ingerida. Portanto, no
caso citado, a quantidade é relativamente mais importante que a sua qualidade.

Hepatite infecciosa

É uma infecção aguda, com sintomas como febre, mal-estar e comprometimento do fígado.
O paciente pode ou não apresentar icterícia. A fonte de infecção é o homem doente, com vírus
presente nas fezes e no sangue. O período de incubação é de 10 a 40 dias, em geral 25 dias.

SENAI-RJ 237
Tratamento de esgotos - Doenças de origem e veiculação hídrica

A transmissão é por contato direto, através de transfusão sanguínea, pelo uso de agulhas
e seringas de injeção mal desinfetadas, pela água, leite ou alimentos contaminados.

O vírus da hepatite infecciosa é muito resistente. Na água, pode se conservar vivo e virulento
por um período de quatro a dez semanas. Suporta bem o calor (permanece ativo mesmo em
temperaturas de 50oC durante 30 minutos). Além disso, também não é totalmente removido
pela coagulação e filtração comumente praticadas.

A sua destruição pelo cloro exige, após coagulação e filtração, uma dose que permita
manter, depois de 30 minutos de contato, um residual de cloro total livre, de pelo menos 1,1 e
0,4mg/L, respectivamente.

Para o controle de doenças cujo sintoma principal é a diarréia, exige-se


combate ao pauperismo, educação sanitária com ênfase na melhoria dos
hábitos higiênicos e alimentares e medidas de saneamento do meio. Essas
medidas incluem, principalmente, destino satisfatório para dejetos, controle
de moscas, baratas, ratos, e etc., higienização e proteção dos alimentos, suprimentos de
água de boa qualidade e em quantidade suficiente para permitir a higiene individual
e domiciliar.

Poliomielite

É uma enfermidade aguda, febril, às vezes de caráter epidêmica, que, nos casos graves,
produz paralisia muscular, sendo causada pelos vírus da poliomielite. A fonte de infecção é o
homem, principalmente crianças.

O vírus é eliminado pelas secreções faringianas e fezes, a sua porta de entrada é por via
oral, principalmente. O período de incubação vai de 5 a 21 dias, em geral de 7 a 12 dias.

A transmissão usual é pelo contato direto e pelas gotículas das descargas buco-faringianas
e raramente ocorre por via indireta. Nesse caso, a contaminação se dá através do leite e, pos-
sivelmente, da água.

O vírus eliminado pelas fezes é encontrado nos esgotos, podendo resistir até quatro me-
ses não só na água, mas também nos esgotos. Sua inativação pelo cloro exige pré-cloração
suficiente para produzir um residual de cloro livre de no mínimo 0,3 a 0,4 mg/L, durante todo
o percurso da água na Estação de Tratamento, e um mínimo de 0,2 a 0,3 mg/L de cloro livre
no efluente final.

238 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Doenças de origem e veiculação hídrica

Algas tóxicas

Águas sujeitas à proliferação de algas azuis (cianofíceas) têm se mostrado tóxicas para
vários animais, tais como, cavalos, bois, galinhas e também admite-se que o homem possa
ficar exposto a essa ação tóxica.

12.1.2 Doenças adquiridas principalmente através


da pele ou das mucosas

A equistossomose e a leptospirose são enfermidades adquiridas principalmente através


da pele ou das mucosas e que, infelizmente, ainda acometem muitas vítimas. Por isso, vamos
conhecê-las um pouco mais.

Esquistossomose mansônica ou intestinal

É uma doença crônica, com período de incubação de quatro a seis semanas, causada por
um helminto, o schistossoma mansoni, que tem como fonte principal de infecção o homem
parasitado.

A infecção se processa principalmente através da pele das pessoas que trabalham ou se


banham nas coleções líquidas onde existem as larvas do helminto. Mas, também pode ser
provocada por ingestão de água, apesar de não estar ainda provado que as larvas sejam resis-
tentes à acidez do suco gástrico.

A maioria das pessoas infectadas pode permanecer assintomática, dependendo da inten-


sidade da infecção. A sintomatologia clínica corresponde ao estágio de desenvolvimento do
parasito no hospedeiro, podendo ser dividida em:

• Dermatite cercariana - corresponde à fase de penetração das larvas (cercárias) através


da pele. Varia desde um quadro assintomático até a apresentação de quadro clínico
de dermatite, podendo durar até cinco dias após a infecção.

• Esquistossomose aguda - após três a sete semanas de exposição, pode aparecer quadro
caracterizado por febre, anorexia, dor abdominal e cefaléia.

• Esquistossomose crônica - essa fase se inicia a partir do sexto mês após a infecção,
podendo durar vários anos. Nela, costumam surgir os sinais de progressão da doença
para diversos órgãos, atingindo graus extremos de severidade como: hipertensão
pulmonar e portal, ascite e ruptura de varizes do esôfago.

SENAI-RJ 239
Tratamento de esgotos - Doenças de origem e veiculação hídrica

Portal: relativo à veia porta: grande veia do abdômen que drena o sangue
dos órgãos digestivos para o fígado.

Ascite: acúmulo de líquido seroso ou serofibroso no peritônio.

É fundamental ressaltar que o tratamento pela coagulação e filtração não são suficientes
para remover todas as larvas da água. A inatividade do schistossoma mansoni exige:

• de cloro gasoso, taxa de 0,8 mg/L para um contato de 30 minutos; e

• o hipoclorito de sódio, 1,0 mg/L em cloro disponível, para igual prazo.

As medidas de profilaxia de esquistossomose se apóiam, principalmente, nas atividades


da engenharia sanitária, principalmente no setor de saneamento básico e são elas:

• combate à poluição da água e do solo pelos excretos, mediante programa de construção


de privadas higiênicas;

• construção de poços protegidos ou abastecimento de água de superfície, com trata-


mento, para as comunidades, além de instalação de banheiros e tanques de lavar
roupa coletiva, a fim de evitar o uso dos rios contaminados;

• cuidados na construção e manutenção dos canais de irrigação agrícolas, que podem


ser criadores de caramujos; e

• combate ao caramujo por meio de moluscocidas, usando principalmente a cal,


o sulfato de cobre ou o pentaclorofenato de sódio, que é o mais eficiente.

Leptospirose

Trata-se de enfermidade de distribuição universal. No homem, se caracteriza por infecções


agudas, com febre e intenso mal-estar e, ocasionalmente, podem surgir icterícia e hemorragia
cutâneo-mucosas. As infecções são causadas por bactérias de corpo espiralado pertencentes
ao gênero leptospira.

A fonte de infecção é a urina e, possivelmente, os tecidos infectados dos animais doentes


crônicos (gado vacum, cães, porcos, raposa, ratos, etc.). A contaminação se dá, principalmente,
pelo contato da pele e das mucosas com a água poluída pela urina dos animais infectados.

Estão mais sujeitos a doença os que trabalham em contato com a água e os que se banham
ou mergulham acidentalmente em águas contaminadas. O contato direto com os animais
infectados também pode produzir a doença.

240 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Doenças de origem e veiculação hídrica

A água é o veículo usual da doença. As leptospiras sobrevivem melhor quando o pH está


entre cinco e oito, até por quatro semanas, em condições experimentais. Observações russas
indicam um máximo de 36 dias de sobrevivência em água de rio.

O cloro, em pH 5 com 0,5mg/L destrói as leptospiras em um minuto, e a 3mg/L em três


minutos. Já em pH 8, a dose para um minuto e três minutos é, respectivamente, 6 e 3 mg/L.

A Tabela 12.1 apresenta uma síntese dos microrganismos causadores de algumas doenças
estudadas.

Tabela 12.1 – Microrganismos causadores de doenças

Tipo de microrganismo Espécie Doença


Bactéria leptospira Leptospirose
salmonella typhi Febre tifóide
salmonella paratyphi Febre pratifóide
shigella dysenteriae Disenteria bacilar
vibrio choleare Cólera

Protozoário lamblia giárdia Amebíase


entamoeba histolytica Giardíase
Verme ancillos tomoduodenale Ancilostomose
ancillos lumbricoidis Ascaridíase
shistosoma mansoni Esquistossomose
Vírus Hepatite
Poliomielite
Coxsackie

Coxsackie: enterovírus relacionado a uma doença humana qualquer (por


exemplo, à meningite).

SENAI-RJ 241
Tratamento de esgotos - Doenças de origem e veiculação hídrica

A Tabela 12.2 apresenta uma síntese de vários grupos de doenças e suas formas de trans-
missão e prevenção.

Tabela 12.2 – Grupos de doença (AMAE)

Grupos de Doenças Formas de Transmissão Principais Doenças Formas de Prevenção

Transmitidas pela via O organismo patogênico Diarréia e disenteria, Proteger e tratar as


feco-oral (ingestão (agente causador da como a cólera e a gi- águas de abasteci-
de alimentos ou água doença) é ingerido ardíase, febre tifóide e mento e evitar o uso
contaminados com paratifóide, leptospiro- de fontes contamina-
fezes) se, amebíase, hepatite das, fornecer água em
infecciosa e ascaridíase quantidade adequada
(lombriga) e promover a higiene
pessoal, doméstica e
dos alimentos
Controladas pela A falta de água e a higiene Infecções na pele e nos Fornecer água em
limpeza com água pessoal insuficiente criam olhos, como o tracoma quantidade adequada
(associadas ao abas- condições favoráveis à e o tifo relacionado e promover a higiene
tecimento insufi- sua disseminação com piolhos e a escar- pessoal e doméstica
ciente de água) biose

Associadas à água O patogênico penetra Esquistossomose Proteger os manan-


(parte do ciclo vital pela pele ou é ingerido ciais, adotar medidas
do agente infeccioso adequadas para a dis-
ocorre em um ani- posição dos esgotos,
mal aquático) combater o hospedeiro
intermediário e evitar
o contato de pessoas
com a água poluída
Transmitidas por As doenças são propa- Malária, febre amarela, Eliminar condições
vetores que se rela- gadas por insetos que dengue e filariose (ele- que possam favorecer
cionam com a água nascem na água ou picam fantíase) criadouros, evitar con-
perto dela tato com criadouros
e combater os insetos
transmissores

12.1.3 Doenças causadas por agentes químicos

Os efeitos que os poluentes naturais ou artificiais podem exercer sobre o organismo hu-
mano vão desde perturbações ligeiras, não-específicas, até intoxicações graves, com sintomas
definidos e características visíveis dos agentes que os produziram. Esses efeitos dependem da
concentração da substância na água, da toxidez específica para o ser humano e da suscetibili-
dade individual. Praticamente, para todos os poluentes, existem concentrações inofensivas.

242 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Doenças de origem e veiculação hídrica

À proporção que essas concentrações aumentam, começam a agir sobre o organismo e, quando
atingem certo nível, os fenômenos tóxicos irão se acentuar, podendo levar até à morte.

Às vezes, os sintomas de intoxicação são agudos; em outros casos, quando o tóxico é cumulativo,
doses isoladamente inofensivas podem, com o consumo continuado, acarretar doenças de eclosão
tardia. Há ainda situações, embora pouco usuais, em que os malefícios à saúde decorrem não do
excesso, mas da carência do elemento na água, e acabam se revelando a longo prazo.

Vejamos, agora, os limites máximos permitidos e as principais características dos agentes


químicos.

Arsenito

• limite máximo permitido: 0,5mg/L;

• é cumulativo; em pequenas doses causa intoxicação;

• pode causar câncer (fígado e pele); e

• é encontrado em despejos industriais, atividades de mineração, lavagem superficial


do solo (herbicida e inseticida).

Bário

• limite máximo permitido: 1,0mg/L;

• não é cumulativo;

• é considerado estimulante muscular, especialmente do coração;

• é capaz de causar bloqueio nervoso; e

• é encontrado nos afluentes de mineração.

Cádmio

• limite máximo permitido: 0,005mg/L;

• é irritante gastro-intestinal;

• é poderoso emético;

• causa intoxicação aguda e crônica, quando sob a forma de sais solúveis; e

• encontra-se nos despejos de indústria de galvanoplastia como contaminante de zinco,


empregado na galvanização.

SENAI-RJ 243
Tratamento de esgotos - Doenças de origem e veiculação hídrica

Emético: que ou o que provoca vômito; vomitório, vomitivo (diz-se de subs-


tância).

Cromo

• limite máximo permitido: ausente;

• não é cumulativo; até hoje não apresentou anormalidades; e

• encontra-se nos despejos: niquelagem e cromagem de metais, anodização do alumínio,


indústria de couro, de tintas, e de corantes.

Cianetos

• limite máximo permitido: 0,1mg/L;

• é altamente tóxico, sendo fatal em pequenas doses; e

• está presente nos despejos industriais: fábricas de gás e coquerias, galvanoplastia e


limpeza de metais.

Chumbo

• limite máximo permitido: 0,05mg/L;

• é cumulativo e provoca intoxicação crônica (Saturnismo); e

• encontra-se nos efluentes de indústrias ou minas.

Saturnismo: intoxicação aguda ou crônica por chumbo ou por algum dos


seus sais; plumbismo.

244 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Doenças de origem e veiculação hídrica

Prata

• é cumulativo e leva à morte; e

• é utilizada em fabricação de tintas, fotografia, galvanoplastia e indústria de artigos de


prata.

Nitratos

• decorre da aplicação excessiva de fertilizantes, além de poluição por matéria orgânica.

Iodo

• a sua falta pode provocar bócio simples (papeira).

SENAI-RJ 245
Tratamento de esgotos - Anexos

Anexo - siglas utilizadas

AJUR Assessoria Jurídica


AMAE Agência Municipal de Água e Esgoto
ATP Trifosfato de Adenosina
CEDAE Companhia Estadual de Águas e Esgotos
CEPT Chemically Enhanced Primary Treatment
CCO Centro de Controle e Operação
COD Carbono Orgânico Dissolvido
COT Carbono Orgânico Total
DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio
DNA Ácido Desoxirribonucléico
DP Decantador Primário
DQO Demanda Química de Oxigênio
DS Decantador Secundário
ELA Elevatório de Lodo Ativado
EMP Emben-Meyeroff Pornas
ETE Estação de Tratamento de Esgoto
FB Filtro Biológico
FIRJAN Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro
GEMA Grupo Executivo de Meio Ambiente
GEP Gerência de Educação Profissional
ISO International Organization for Standardization
LA Lodo Ativado
LO Licença de Operação
LS Leito de Secagem
NMP Número Mais Provável
NTK Nitrogênio Total Kjeldahl

SENAI-RJ 247
Tratamento de esgotos - Anexos

OD Oxigênio Dissolvido
RBC Rotating Biological Contactors
RNA Ácido Ribonucléico
RNF Resíduo Não-Filtrável
RNFF Resíduos Não-Filtráveis Fixos
RNFT Resíduos Não-Filtráveis Totais
RNFV Resíduos Não-Filtráveis Voláteis
SGA Superintendência de Gestão Ambiental
SENAI-RJ Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, Departamento
Regional do Rio de Janeiro
SS Sólidos em Suspensão
SSV Sólidos em Suspensão Voláteis
TA Tanque de Aeração
TOC Total Organic Carbon
TPQA Tratamento Primário Quimicamente Aprimorado

248 SENAI-RJ
Tratamento de esgotos - Referências

Referências

AMAE – Agência Municipal de Água e Esgoto – Agência Reguladora de Joinvile, SC. http://www.
amae.sc.gov.br/abastecimento_saude.php . Acessado em outubro de 2008.

ANDREOLI, C. V., VON SPERLING, M., FERNANDES, F. (ed). Lodo de esgotos. Tratamento e
disposição final. Belo Horizonte e Curitiba: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambi-
ental – UFMG; Companhia de Saneamento do Paraná – SANEPAR, 2001. 484 p. (Princípios do
tratamento biológico de águas residuárias, v. 6.)

DA-RIN, B. P. Amostragem em uma ETE. Rio de Janeiro, CEDAE, 2005.

GREENBERG, A. et al. Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater. Denver:
American Water Works Association, 1999.1220 p.

JORDÃO, E. P. & PESSOA, C. A. Tratamento de Esgotos Domésticos. 4 ed. Rio de Janeiro: Asso-
ciação Brasileira de Engenharia Sanitária – ABES, 2005. 890 p.

VON SPERLING, M. Estudos e modelagem da qualidade da água de rios. Belo Horizonte: Depar-
tamento de Engenharia Sanitária e Ambiental – UFMG, 2007. 588 p. (Princípios do tratamento
biológico de águas residuárias, v. 7.)

________________. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. 3 ed. Belo


Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental – UFMG, 2005. 452 p. (Princípios
do tratamento biológico de águas residuárias, v. 1.)

________________. Lagoas de estabilização. 2 ed. Belo Horizonte: Departamento de Engenha-


ria Sanitária e Ambiental – UFMG, 2002.. 196 p. (Princípios do tratamento biológico de águas
residuárias, v. 3.)

________________. Lodos ativados. 2.ed. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária


e Ambiental – UFMG, 2002.. 428 p. (Princípios do tratamento biológico de águas residuárias,
v. 4.)

________________. Princípios básicos do tratamento de esgotos. Belo Horizonte: Departamento


de Engenharia Sanitária e Ambiental – UFMG, 1996. 211 p. (Princípios do tratamento biológico
de águas residuárias, v. 2.)

SENAI-RJ 249
FIRJAN
CIRJ
SESI
SENAI
IEL

FIRJAN SENAI Av. Graça Aranha, 1 – Centro


Federação Serviço Nacional CEP: 20030-002 – Rio de Janeiro – RJ
das Indústrias de Aprendizagem Tel.: (21) 2563-4526
do Estado do Industrial do Central de Atendimento:
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 0800-231231

Você também pode gostar