O gravador de fita possibilitou o surgimento da música eletrônica. A partir dele os
artistas puderam trabalhar em cima do material gravado, alterando sua organização através da manipulação dos sons. Varèse foi um dos que sempre lutou pela fabricação de instrumentos eletrônicos. Mas apesar da falta de recursos isso não o impossibilitou de realizar o seu trabalho. Em sua obra Intrègales (1924-25) reproduziu com uma orquestra o efeito tocar uma fita de trás para frente. Para além disso, Varèse trouxe um importante refinamento da combinação de elementos rítmicos e tímbricos. Apesar de sua decepção pela falta de aparato técnico ele foi capaz de criar uma das grandes peças compostas em fitas e que era difundida por um grande número de alto-falantes: Poème Électronique. A gravação em fita permitia que o artista pudesse trabalhar em cima de sua obra com mais minúcia e cuidado. Muitos estúdios de música eletrônica apareceram na França nesse período, e podemos destacar dois nomes importantes: Pierre Schaeffer e Pierre Henry. Por outro lado, em Colônia, temos a figura de Stockhausen que se dedicava não a manipular são gravados da natureza, mas por criar músicas eletrônicas a partir de elementos puramente eletrônicos, como as frequências sonoras. Posteriormente ele uniu essas duas maneiras de compor música eletrônica. Ele percebeu que a altura, o timbre, o ritmo e a forma faziam parte de um mesmo fenômeno: a vibração. Abaixando-se muito a frequência de determinadas notas era possível encontrar por exemplo um som percussivo. Devido a falta de recursos na época, esse tipo de música puramente eletrônica foi muito criticada e a prática da manipulação de sons gravados foi aderida com mais força. Um dos maiores valores trazidos pela música eletrônica foi o seu senso rítmico e tímbrico. A chegado dos sintetizadores em 1964, sobretudo o Moog, revolucionaram a maneira de se fazer música eletrônica, pois os músicos não precisavam mais passar meses compondo uma única música. Com isso, a música gravada perdeu espaço. Todos agora queriam realizar música eletrônica ao vivo. Uma dos méritos de Stockhausen foi saber extrair com perspicácia sonoridades dos mais diversos instrumentos que iam além do âmbito que pareciam estar limitados. O uso dos aparelhos de rádio na produção da música eletrônica foi inaugurado por John Cage em 1951. Porém foi com o Stockhausen que essa prática ganhou um significado mais consistente. Segundo ele, o rádio tornava possível uma maior interação entre os músicos. E sendo o rádio algo espontâneo, transmitido ao vivo de todos os lugares e pelos mais diferentes tipos de pessoas ele representava a própria universalidade, emanava vida e criava uma unidade mais elevada entre os músicos. A música eletrônica rompeu as barreiras que existem entre o erudito e o popular, sendo amplamente utilizada tanto por músicos “sérios”, como por músicos pop. Terry Riley é um ótimo exemplo dessa tendência. Ele elaborou peças baseadas em temas modais que ficam se repetindo de maneira espontânea. Isso se popularizou entre os jovens que eram interessados por este tipo de sonoridade. Entretanto, uma forma de música eletrônica que não se popularizou foi a que envolve o uso de computadores, pois estes só estavam à disposição dos músicos de universidade. Através do computador se tornou possível programar os sons em praticamente toda a sua totalidade dentro do limite da música eletrônica. O computador também viabilizou o surgimento da música programada através de algorítmos matemáticos. Desta forma se tornou possível elaborar música a partir de cálculos probabilísticos gerados através do computador. Segundo o autor, ouvir uma música gravada já torna ela uma experiência de música eletrônica. Seja ela eletrônica ou não. E isso de certa forma influenciou na escuta e na composição das pessoas que tiveram contato com essa tecnologia.
Referência Bibliográfica
GRIFFITHS, Paul. A música moderna. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.