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CENTRO UNIVERSITARIO FACVEST – UNIFACVEST

DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO


PROF. FABIANY LUCIANO
MATERIAL DE APOIO

NOÇÕES FUNDAMENTAIS DE DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO - DIPr

Considerações iniciais

 A lei não estende seu comando além fronteiras – princípio da territorialidade.

O Princípio da Territorialidade é um princípio de Direito que permite estabelecer ou


delimitar a área geográfica em que um Estado exercerá a sua soberania. Essa área 8
geográfica é o território, que constitui a base geográfica do poder. O território compreende
a terra firme, as águas aí compreendidas (exemplos: rios e lagos), o mar territorial, o
subsolo, a plataforma continental, bem como o espaço aéreo correspondente ao domínio
terrestre e ao mar territorial. É também em virtude do Princípio da Territorialidade que se
delimita geograficamente o âmbito de validade jurídica e aplicação de normas e leis de um
Estado. Dessa forma, como regra geral, os efeitos jurídicos de determinada norma ou
conjunto de regras de um Estado são válidos e aplicáveis tão somente dentro dos limites
territoriais em que esse Estado exerce a sua soberania.
Com fundamento no Princípio da Territorialidade, Estados estão proibidos, por meio de
ameaça ou uso da força, de exercerem jurisdição ou qualquer outra forma de poder ou
intervenção em territórios de outros Estados soberanos. Assim, a um Estado soberano não
é permitido exercer jurisdição ou fazer ingerências jurídicas ou de qualquer outra forma ou
tipo sobre o território de outro Estado igualmente soberano. Trata-se do princípio de não
intervenção, constante no artigo 2.4 da Carta da ONU. De acordo com este artigo: “Todos
os membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso da força
contra a integridade territorial ou independência política de qualquer Estado, ou qualquer
outra ação incompatível com os Propósitos das Nações Unidas.”
Exceções ao Princípio da Territorialidade: Situações específicas existem em que o poder
do Estado é exercido além do seu território – extraterritorialidade – onde a validade de
normas jurídicas estatais pode alcançar cidadãos localizados fora do território do Estado
soberano. Por exemplo:
a) navios e aeronaves que possuírem registro em determinado Estado serão considerados
extensões territoriais deste Estado, mesmo que estejam localizados geograficamente fora
dele.
b) imunidades diplomáticas em que os chefes de Estado e os representantes de governo
estrangeiro estão excluídos da jurisdição criminal dos países em que exercerem as suas
funções. A imunidade diplomática alcança também a família do agente diplomático e o
corpo funcional das representações, excepcionando os empregados particulares
residentes, domiciliados e contratados no território em que se localiza a missão
diplomática.

Referências
ARON, Raymond. Os sistemas internacionais. Curso de relações exteriores. Brasília: Universidade
de Brasília, 1982.
BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. Tradução de Maria Celeste Cordeiro Leite dos
Santos. 10ª ed. Brasília: UnB, 1999.
BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. São Paulo: Malheiros Editores, 2005.
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HART, H.L.A. O Conceito de Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

 Não há poder supranacional capaz de determinar, juridicamente, o que deve ser feito por
determinado Estado.
 Nas relações internacionais impera um tipo de justiça privada: bloqueio econômico,
retaliações, extorsão nos preços de produtos essenciais, etc.
 A humanidade busca o convívio fraternal e proveitoso entre os povos, e para tanto fazem
tratados e convenções para aproximar os Estados e tornar mais agradável a vida dos 8
cidadãos.
 Atualmente vivemos tempos de globalização econômica e avanços tecnológicos, que
intensificaram o intercâmbio entre os povos na busca de conhecimentos, atividades de
lazer, do espírito de aventura, de outros fatores sociais e religiosos e pela necessidade
econômica.
 O desenvolvimento dos meios de comunicação e dos meios de transporte aumentaram a
interação e a relação entre pessoas de diferentes lugares, regidos por legislações
diferentes. Entretanto, dessas relações surgem problemas que precisam ser resolvidos
pela justiça. Mas que justiça? De qual lugar? À luz de qual legislação?
 O conflito de leis pode ser no tempo ou no espaço:
a) O conflito de leis no tempo (retroatividade e irretroatividade) é tratado pelo Direito
Intertemporal positivado no Brasil nos primeiros artigos da LINDB.
b) O conflito de leis no espaço (territorialidade e extraterritorialidade) é tratado pelo Direito
Internacional Privado, que tem sido entendido como uma técnica de aplicação do Direito.

Conceito
Direito internacional privado (DIPr) é o conjunto de normas jurídicas criado por uma
autoridade política autônoma (um Estado nacional ou uma sua província que disponha de uma
ordem jurídica autônoma) com o propósito de resolver os conflitos de leis no espaço.
Em termos simples, o DIPr é um conjunto de regras de direito interno que indica ao juiz
local que lei – se a do foro ou a estrangeira; ou dentre duas estrangeiras - deverá ser aplicada a
um caso (geralmente privado) que tenha relação com mais de um país.
Se as normas de direito internacional privado indicam o direito estrangeiro como aplicável,
este não se impõe ao juiz por força própria – a sua vontade depende sempre da vontde do
legislador e nunca do Estado estrangeiro.

Em suma, o DIP propicia meios para que o Direito externo ingresse no interno sem que a
soberania nacional seja afetada.
Anote-se, por fim, que predomina, ainda, o entendimento de que o Direito Internacional
Privado destina-se a resolver unicamente o conflito externo, ou seja, o conflito entre normas
internas e internacionais, e não o conflito interno, ou seja, conflito entre normas internas
reguladas de modo diverso.

Objeto
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As teorias italiana e alemã restringem o objeto do DIPr ao conflito de leis no espaço. Esta é
adotada por outros autores brasileiros como Eduardo Espínola e João Grandino Rodas.
As teorias francesa e norte-americana, conforme Niboyet, ampliam o objeto do DIPr para
considerar o conflito de leis no espaço, a nacionalidade, a condição jurídica do estrangeiro e os
direitos adquiridos (conflitos de jurisdições).
Para Del´Olmo, conforme a doutrina majoritária brasileira, e para efeitos de estudo da
matéria, o DIPr tem como objeto:
a) conflito de leis interespacial, 8
b) nacionalidade
c) condição jurídica do estrangeiro
d) direitos adquiridos
e) conflito de jurisdições
f) competência internacional
g) homologação de sentença estrangeira
Incluem-se temas de direito civil, comercial, trabalhista, industrial, fiscal, administrativo,
penal e processual.

OBJETIVOS DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO


Segundo Nádia de Araújo, “entende que a primeira finalidade do direito internacional
privado seja a proteção da pessoa humana, devendo os limites em relação à solução de conflitos
de lei ser traçados pelos direitos humanos.” Tratam-se os direitos humanos como lei universal,
conquanto, não podem esbarrar nas constituições dos diversos países. Observa-se que no Brasil
a constituição esbarra até mesmo esses direitos, pois a teor da Emenda Constitucional 45, de 08
de dezembro de 2004, diz que os tratados em relação aos direitos humanos fazem parte da
legislação interna a nível de Emenda Constitucional, senão vejamos:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos
respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.
Esclarecem os doutrinadores que a indicação de um direito material ou substantivo
estrangeiro, conforme as normas de direito privado da lei do foro, num caso concreto com
conexão internacional, por si só não constitui violação de qualquer direito humano.
E também, referidas normas não têm caráter discriminatório, pois as normas de direito
internacional privado é inerente à aplicação do direito material ou substantivo interno ou
estrangeiro, de acordo com o elemento de conexão a ser levado em consideração pelo juiz ao
caso concreto.

Direito Internacional Privado e Direito Comparado

Para o DIPr o Direito Comparado é uma ferramenta indispensável na aplicação do Direito


Estrangeiro, assim como na criação e na adaptação de institutos.
Direito comparado é realizar uma criteriosa comparação entre institutos jurídicos presentes
no ordenamento legal de diferentes países, buscando estabelecer pontos comuns e divergentes
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que neles existem. Esses estudos comparativos são importantes em DIPr, pois quando da
aplicação de Direito Estrangeiro, o operador jurídico nacional deve analisar tal direito à luz do
método comparativo, e não seguindo os preceitos jurídicos do foro. Assim, em caso jusprivatista
internacional que deva ser resolvido por norma jurídica estrangeira, a leitura do direito estrangeiro
não pode ser feita tendo em consideração as formas de interpretação e de aplicação do direito
local> esse operador (juiz ou advogado) deverá analisar as normas de direito utilizando o método
hermenêutico de interpretação da norma.
8
Para Gadamer, a interpretação da lei é simplesmente uma tarefa criativa. A compreensão,
todavia, é a mola mestra da interpretação. Como afirma Lenio Luiz Streck, citando Fernandez-
Lago, "(...) a hermenêutica jurídica é uma proposta de descrever as condições reais do intérprete
e não uma oferta de critérios ou métodos científicos".
Levando-se em conta que a Hermenêutica pode ser definida como a arte da interpretação,
deduz-se, obviamente, que hermenêutica é compreensão. A Hermenêutica Jurídica seria então a
compreensão que daria o sentido à norma. Isso quer dizer que na norma ou no texto jurídico há
sempre um sentido que não está explicitamente demonstrado para que possa ser alcançado de
forma essencialista. Poderíamos nos arriscar a dizer que isso se aproxima um pouco da idéia
kantiana de fenômeno e coisa-em-si. A norma jurídica seria não o que Kant chamou de noumenon
(coisa-em-si) que é incognoscível, mas o fenômeno, tendo em vista que a norma é algo que para
ser conhecido, no sentido da interpretação, tem que haver, diríamos, uma construção desse
conhecimento. Isso significa que o conhecimento da norma passa pela compreensão da mesma,
não como um exercício de mera apreensão da dogmática jurídica, mas da interpretação criativa,
crítica, onde o sujeito, determinado por sua cultura será capaz de dar conta da
interpretação/hermenêutica como processo de compreensão do Direito.
A demanda por compreensão do conteúdo de uma norma gerou muitas discussões sobre
como interpretar. De acordo com Tércio Sampaio F. Junior, "a hermenêutica jurídica é uma forma
de pensar dogmaticamente o direito que permite um controle das consequências possíveis de sua
incidência sobre a realidade antes que elas ocorram."1 O sentido das normas, para o autor, é
"domesticado." Essa é uma concepção pragmática de interpretação, e suficientemente abstrata
para dar conta das variadas regras de interpretação que compõem a hermenêutica.Por exemplo,
a interpretação pela letra da lei é eminentemente gramatical. Dirá Tércio Sampaio, presume-se
que "a ordem das palavras e o modo como elas estão conectadas são importantes para obter-se
o correto significado da norma."
Pode-se dizer que a concepção da hermenêutica jurídica como interpretação, como processo de
construção e re-construção, implica na luta pela criação de condições de possibilidade de um ensino
jurídico de qualidade para a formação de uma verdadeira consciência ético-jurídica. É a única
possibilidade de realização da função social do Direito.

Leia mais: http://jus.com.br/artigos/4324/hermeneutica-juridica#ixzz3Sat6m7z4

Direito Internacional Privado e Direito Internacional Público

Duas correntes doutrinárias pretendem diferenciar os ramos público e privado do Direito


Internacional. A primeira corrente privilegia a natureza da norma ao conceber o Direito Público
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como o ramo do Direito em que as normas jurídicas são de natureza pública, ou seja, são normas
cogentes, e o Direito Privado como o ramo do Direito em que as normas são privatísticas.
A segunda corrente, que é a predominante, privilegia a natureza da pessoa envolvida na
relação jurídica, ou seja, baseia-se nas partes que compõem a relação jurídica, concebendo o
Direito Público como aquele que regulamenta situações jurídicas em que uma das partes é o
Estado, e o Direito Privado como aquele que regulamenta situações jurídicas em que o Estado
não é parte ou é equiparado a um particular.
O Direito Internacional Público é aquele, portanto, que regulamenta situações entre entes 8
soberanos, estatais, públicos, enquanto o Direito Internacional Privado regulamenta situações
entre entes privados, jurisdicionados, ou, ainda que públicos, que estejam na condição de
particulares.
Fontes do DIPr

As fontes são internas (leis de cada Estado) e externas (tratados). Em ambas as esferas a
doutrina, a jurisprudência e os costumes.

Costume internacional. Prática reiterada de atos com a consciência de obrigatoriedade, mas em


caráter internacional.

Tratados normativos. Regras, leis internacionais, pelas quais os pactuantes traçam regras de
direito, ex., leis cambiais. É o disciplinamento de determinado instituto jurídico. Lei internacional
que tem o mesmo papel de lei interna.

Doutrina. É ela quem explica tudo, estando presente na jurisprudência, explicando e


diferenciando o costume social do costume jurídico, por exemplo.

Lei interna. É a lei em sentido material. Toda norma jurídica escrita de um determinado
ordenamento que trata de resolver conflitos de leis. No nosso ordenamento viria da Constituição,
passando pela LICC, o Estatuto do Estrangeiro, pelo direito codificado, até aquela regra menor,
aquela instrução de serviço emanada de substituto do carimbador interino. É todo o aparato
legislativo de um determinado sistema.

Costume interno. Reiteração de hábitos que cria caráter obrigatório.

Jurisprudência. Somatório de decisões judiciais num mesmo sentido, pressupondo repetição.

Mas chegamos à conclusão de que o meio de produção do DIPr brasileiro será a lei. Pelo
art. 4º do LICC, quando a lei for omissa, o juiz decidirá de acordo com a analogia, os costumes e
princípios gerais do direito. Esse artigo permite duas leituras:

a) O único meio de produção do direito para o sistema jurídico brasileiro é a lei, pois é a própria
lei que, sabendo dos seus limites, diz que em caso de silêncio utiliza-se o costume, a
jurisprudência, como se lei fosse.
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b) Outra leitura seria que o principal meio de produção do sistema brasileiro seria a lei e, na sua
ausência, nas suas lacunas, admitir-se-ia a existência de meios de produção subsidiários e fontes
subsidiárias do direito.
Conjunto normativo do DIP:
Arts. 50, 12, 14 e 102 (l, g, h) da CF
Arts 98 e 100 do CTN
Arts. 88 e 337 do CPC
Arts. 30 do CC 8
Arts. 628 do CC
Arts.. 7ª ao 19 da LINDB
Leis n. 6.815/80 e 6.964/81 – Estatuto do Estrangeiro
Decreto n. 18.871/29: Código de Bustamante

HISTÓRICO DO DIPr

Antiguidade

Na Antiguidade, não existiram normas de DIPr, porque o estrangeiro era considerado


inimigo, não possuindo direito e não podendo, o mais das vezes, casar, herdar, contratar ou
praticar o comércio. Algumas legislações, como a chinesa, permitiam até o sacrifício e a
destruição do estrangeiro.
Contudo, circunstâncias ensejavam relações entre os povos: expedições militares,
embates guerreiros, intercâmbio comercial. Isso impunha o surgimento de algum tipo de justiça
para os estrangeiros, já que o interesse econômico exigia.

Grécia

Meteco = estrangeiro em Atenas. Não tinha o status de cidadão, mas pagava taxa especial
para exercer atividades comerciais.
Isótele = meteco com gozo de certos direito políticos e civis.
Polemarca = nome da judicatura especial que protegia a família e os bens do estrangeiro.
Próxeno = cidadão encarregado de orientar o estrangeiro em suas relações comerciais e
zelar por seus interesses.
Asília = tratados entre as cidades para estabelecer os limites das relações de estrangeiro-
nacional, a fim de proteger os súditos e reguardá-los contra violências. Foram a origem dos
tratados de DIPr.

Roma

Os estrangeiros não participavam da vida jurídica, não admitindo os direitos locais cotejo
com direitos estrangeiros, o que afastava qualquer possibilidade de conflito. Existia apenas um
complexo de normas de direito material, sendo absoluta a territorialidade das leis.
A invasão dos bárbaros do Império Romano, em 476 de nossa era, vai alterar essas
situação. A partir de então passam a conviver, no mesmo contexto, pessoas de diferentes línguas,
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raças e condições econômicas e sociais. Nesse ínterim, surge a personalidade das leis, por meio
da qual cada ser humano será julgado pelas leis de sua tribo, seu povo, sua nação.
O romano, mais interessado no fator econômico, respeitava a lei e os costumes nativos já
quando de suas conquistas. Ex.: julgamento de Cristo, conduzido pelos hebreus e segundo as
leis hebraicas.
Após a invasão dos povos bárbaros as normas jurídicas vão vigorar nos lugares
dominados pelo jus sanguinis (direito de sangue), não pela territorialidade, levando em
consideração o elemento nação e não o território. Apenas em caso de conflito imperava a lei dos 8
vencedores. Vigiam lado a lado no mesmo espaço leis romanas, visigóticas, lombardas e
bávaras, mesmo assim, esse método não retirou a identidade dos povos conquistados.
A miscigenação vai fazer desaparecer o regime jurídico da personalidade do direito, que
extinguiu na Espanha (século VIII). Então surge o Codex Wisigothorum, o qual unifica o conjunto
de leis, suprimindo todas as legislações, inclusive a romana.

Feudalismo

A dissolução do império carolíngio (com a morte de Carlos Magno no século IX)


restabelece a territorialidade das leis como determinadora do conflito de leis no espaço.
A pouca força dos sucessores de Carlos Magno geraram a necessidade de proteção contra
invasores e malfeitores – a própria realeza reforçou o poder do senhor feudal, que determinou a
modus vivendi de seus súditos. Dentro de seus domínios o senhor feudal admitia apenas a sua
lei. É a territorialidade da lei, o jus soli.
Mas o feudalismo que dominou a Europa, não se firmou no norte da Itália, onde havia
grande intercâmbio comercial e industrial entre as cidades de Florença, Veneza, Pisa, Perúgia,
Milão, Bologna, Módena, etc. Elas eram repúblicas autônomas, com direito próprio chamado de
statuta (lex mercatória – resumo do antigo direito costumeiro dos comerciantes). O estatuto de
Gênova surgiu em 1145, o de Pisa em 1161, o de Ferrara em 1208, o de Milão em 1216, o de
Módena em 1218, o de Verona em 1128 e o de Veneza em 1242. Os estatutos continham
prescrições administrativas, penais, civis e comerciais.
Esse intercâmbio começou a gerar fatos que requeriam soluções jurídicas, não dirimidas
da mesma forma em seus estatutos. Note-se que não havia até esse momento normas de DiPr
para disciplinar tais relações.

Glosadores e escolas estatutárias

Irinerius (1100) estuda Direito Romano na Escola de Bolonha e coloca notas lineares ou
marginais (glosas) no Digesto. Surge então a escola de glosadores, que busca nas leis romanas
o que existia sobre estrangeiros. NO século XIV surge Bartolo (1314-1357), de Saxoferrato, o pai
do DIPr: é a escola de pós-glosadores, com comentários próprios sobre as glosas, criando um
direito novo, comum, de possível aplicação às situações de seu tempo.
Bartolo foi o fundador da escola estatutária italiana e dividiu os estatutos em reais (lei da
situação da coisa) e pessoais (ligados á pessoa).
Em resumo, conforme síntese preconizada pelo sistema estatutário italiano, adotado até
nossos dias, tem-se:
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a) bens imóveis: regido pela localização da coisa


b) sucessão: de acordo com o domicílio do falecido
c) formalidade da sucessão: pelo lugar da elaboração do ato
d) contratos e seus efeitos: conforme lugar da celebração (para as obrigações) e da
execução (para negligência e mora)
e) delitos: segundo a lei do lugar do ato

Outras escolas ou sistemas estatutários de relevância:A escola estatutária francesa, do 8


século XVI e XVII. A escola estatutária holandesa, do século XVII. A escola estatutária alemã, do
século XVIII.
As escolas não eram práticas, não alcançando êxito.

Codificação

No século XIX, surgem os grandes códigos: Còdigo Civil da França (1804) e Código Civil
do Chile (1855), com regras sobre o estrangeiro. Também houveram o da Itália (1865) e
Alemanha (1896).
Em 1855, com Andrés Bello, primeiro autor de obra autônoma sobre DIPr na America,
aparece o Código Civil do Chile, estabelecendo no artigo 57 que “a lei não reconhece diferença
entre o chileno e o estrangeiro, quanto à aquisição e gozo dos direitos civis que regra este
código”. Era um principio novo, ainda não estabelecido antes.
Haroldo Valladão exalta nesse legado chileno o espírito inovador, que, tendo o
territorialismo com princípio básico, quanto às pessoas, aos atos e aos bens situados no território,
e a nacionalidade em casos restritos – para o chileno que no estrangeiro pratica atos que viessem
produzir efeitos no Chile, e em suas relações de família com chilenos – se constituiu em
combinação equilibrada e sensata de regras de DIPr.

Doutrinas modernas

No século XIX vão despontar grandes precursores da doutrina de DIPr: Story, Savigny e
Mancini, que influenciarão as legislações, decisões judiciais, convenções e tratados a partir de
então.
Joseph Story – professor da Universidade de Harvard e membro da Suprema Corte
americana. Em 1834 publicou Conflict of Laws, que se tornou quase uma bíblia para os julgados e
a doutrina não só nos EUA como na Inglaterra. Ele ensinou à Europa uma concepção baseada na
equidade dos conflitos de leis, sem os limites da divisão estatutária. Ele substituiu a gentileza
internacional, a cortesia, pelo princípio da busca da boa justiça, na aplicação do direito
estrangeiro.
Friedrich Carl von Savigny – professor de Berlim. Escreveu Sistema de Direito Romano
Atual (1849). Ele traz a ideia de universalismo, de direito aplicável universal, pois entende que o
interesse das pessoas requer e merece igualdade de trato das questões jurídicas, em caso de
conflito de leis, preconizando que a solução seja a mesma, onde quer que ocorra o julgamento.
Assim, fundamenta a lei do domicílio como o elemento de conexão essencial.
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Pasquale Stanislao Mancini – italiano, fundador e presidente do Instituto de Direito


Internacional. Não deixou obra escrita, mas suas palestras e aulas, especialmente na
Universidade de Turim (1851) e de Roma, foram publicadas em 1874. Enfocou os fundamentos e
os princípios do DIPr. Sua doutrina se embasa na nacionalidade, com restrições, e influenciou a
Europa, onde a nacionalidade, contrariamente ao domicílio de Savigny, é o elemento de conexão
comum.

___________________________________ 8
REFERÊNCIAS:

DEL´OLMO, Florisbal de Souza. Curso de Direito Internacional privado. Rio de Janeiro: Forense,
2010.

NIARADI, G. A. Direito Internacional; coord, Fernando F. Castellani. Rio de Janeiro: Ed.


Academia.

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