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Considerações iniciais
Referências
ARON, Raymond. Os sistemas internacionais. Curso de relações exteriores. Brasília: Universidade
de Brasília, 1982.
BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. Tradução de Maria Celeste Cordeiro Leite dos
Santos. 10ª ed. Brasília: UnB, 1999.
BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. São Paulo: Malheiros Editores, 2005.
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DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
PROF. FABIANY LUCIANO
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Não há poder supranacional capaz de determinar, juridicamente, o que deve ser feito por
determinado Estado.
Nas relações internacionais impera um tipo de justiça privada: bloqueio econômico,
retaliações, extorsão nos preços de produtos essenciais, etc.
A humanidade busca o convívio fraternal e proveitoso entre os povos, e para tanto fazem
tratados e convenções para aproximar os Estados e tornar mais agradável a vida dos 8
cidadãos.
Atualmente vivemos tempos de globalização econômica e avanços tecnológicos, que
intensificaram o intercâmbio entre os povos na busca de conhecimentos, atividades de
lazer, do espírito de aventura, de outros fatores sociais e religiosos e pela necessidade
econômica.
O desenvolvimento dos meios de comunicação e dos meios de transporte aumentaram a
interação e a relação entre pessoas de diferentes lugares, regidos por legislações
diferentes. Entretanto, dessas relações surgem problemas que precisam ser resolvidos
pela justiça. Mas que justiça? De qual lugar? À luz de qual legislação?
O conflito de leis pode ser no tempo ou no espaço:
a) O conflito de leis no tempo (retroatividade e irretroatividade) é tratado pelo Direito
Intertemporal positivado no Brasil nos primeiros artigos da LINDB.
b) O conflito de leis no espaço (territorialidade e extraterritorialidade) é tratado pelo Direito
Internacional Privado, que tem sido entendido como uma técnica de aplicação do Direito.
Conceito
Direito internacional privado (DIPr) é o conjunto de normas jurídicas criado por uma
autoridade política autônoma (um Estado nacional ou uma sua província que disponha de uma
ordem jurídica autônoma) com o propósito de resolver os conflitos de leis no espaço.
Em termos simples, o DIPr é um conjunto de regras de direito interno que indica ao juiz
local que lei – se a do foro ou a estrangeira; ou dentre duas estrangeiras - deverá ser aplicada a
um caso (geralmente privado) que tenha relação com mais de um país.
Se as normas de direito internacional privado indicam o direito estrangeiro como aplicável,
este não se impõe ao juiz por força própria – a sua vontade depende sempre da vontde do
legislador e nunca do Estado estrangeiro.
Em suma, o DIP propicia meios para que o Direito externo ingresse no interno sem que a
soberania nacional seja afetada.
Anote-se, por fim, que predomina, ainda, o entendimento de que o Direito Internacional
Privado destina-se a resolver unicamente o conflito externo, ou seja, o conflito entre normas
internas e internacionais, e não o conflito interno, ou seja, conflito entre normas internas
reguladas de modo diverso.
Objeto
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As teorias italiana e alemã restringem o objeto do DIPr ao conflito de leis no espaço. Esta é
adotada por outros autores brasileiros como Eduardo Espínola e João Grandino Rodas.
As teorias francesa e norte-americana, conforme Niboyet, ampliam o objeto do DIPr para
considerar o conflito de leis no espaço, a nacionalidade, a condição jurídica do estrangeiro e os
direitos adquiridos (conflitos de jurisdições).
Para Del´Olmo, conforme a doutrina majoritária brasileira, e para efeitos de estudo da
matéria, o DIPr tem como objeto:
a) conflito de leis interespacial, 8
b) nacionalidade
c) condição jurídica do estrangeiro
d) direitos adquiridos
e) conflito de jurisdições
f) competência internacional
g) homologação de sentença estrangeira
Incluem-se temas de direito civil, comercial, trabalhista, industrial, fiscal, administrativo,
penal e processual.
que neles existem. Esses estudos comparativos são importantes em DIPr, pois quando da
aplicação de Direito Estrangeiro, o operador jurídico nacional deve analisar tal direito à luz do
método comparativo, e não seguindo os preceitos jurídicos do foro. Assim, em caso jusprivatista
internacional que deva ser resolvido por norma jurídica estrangeira, a leitura do direito estrangeiro
não pode ser feita tendo em consideração as formas de interpretação e de aplicação do direito
local> esse operador (juiz ou advogado) deverá analisar as normas de direito utilizando o método
hermenêutico de interpretação da norma.
8
Para Gadamer, a interpretação da lei é simplesmente uma tarefa criativa. A compreensão,
todavia, é a mola mestra da interpretação. Como afirma Lenio Luiz Streck, citando Fernandez-
Lago, "(...) a hermenêutica jurídica é uma proposta de descrever as condições reais do intérprete
e não uma oferta de critérios ou métodos científicos".
Levando-se em conta que a Hermenêutica pode ser definida como a arte da interpretação,
deduz-se, obviamente, que hermenêutica é compreensão. A Hermenêutica Jurídica seria então a
compreensão que daria o sentido à norma. Isso quer dizer que na norma ou no texto jurídico há
sempre um sentido que não está explicitamente demonstrado para que possa ser alcançado de
forma essencialista. Poderíamos nos arriscar a dizer que isso se aproxima um pouco da idéia
kantiana de fenômeno e coisa-em-si. A norma jurídica seria não o que Kant chamou de noumenon
(coisa-em-si) que é incognoscível, mas o fenômeno, tendo em vista que a norma é algo que para
ser conhecido, no sentido da interpretação, tem que haver, diríamos, uma construção desse
conhecimento. Isso significa que o conhecimento da norma passa pela compreensão da mesma,
não como um exercício de mera apreensão da dogmática jurídica, mas da interpretação criativa,
crítica, onde o sujeito, determinado por sua cultura será capaz de dar conta da
interpretação/hermenêutica como processo de compreensão do Direito.
A demanda por compreensão do conteúdo de uma norma gerou muitas discussões sobre
como interpretar. De acordo com Tércio Sampaio F. Junior, "a hermenêutica jurídica é uma forma
de pensar dogmaticamente o direito que permite um controle das consequências possíveis de sua
incidência sobre a realidade antes que elas ocorram."1 O sentido das normas, para o autor, é
"domesticado." Essa é uma concepção pragmática de interpretação, e suficientemente abstrata
para dar conta das variadas regras de interpretação que compõem a hermenêutica.Por exemplo,
a interpretação pela letra da lei é eminentemente gramatical. Dirá Tércio Sampaio, presume-se
que "a ordem das palavras e o modo como elas estão conectadas são importantes para obter-se
o correto significado da norma."
Pode-se dizer que a concepção da hermenêutica jurídica como interpretação, como processo de
construção e re-construção, implica na luta pela criação de condições de possibilidade de um ensino
jurídico de qualidade para a formação de uma verdadeira consciência ético-jurídica. É a única
possibilidade de realização da função social do Direito.
como o ramo do Direito em que as normas jurídicas são de natureza pública, ou seja, são normas
cogentes, e o Direito Privado como o ramo do Direito em que as normas são privatísticas.
A segunda corrente, que é a predominante, privilegia a natureza da pessoa envolvida na
relação jurídica, ou seja, baseia-se nas partes que compõem a relação jurídica, concebendo o
Direito Público como aquele que regulamenta situações jurídicas em que uma das partes é o
Estado, e o Direito Privado como aquele que regulamenta situações jurídicas em que o Estado
não é parte ou é equiparado a um particular.
O Direito Internacional Público é aquele, portanto, que regulamenta situações entre entes 8
soberanos, estatais, públicos, enquanto o Direito Internacional Privado regulamenta situações
entre entes privados, jurisdicionados, ou, ainda que públicos, que estejam na condição de
particulares.
Fontes do DIPr
As fontes são internas (leis de cada Estado) e externas (tratados). Em ambas as esferas a
doutrina, a jurisprudência e os costumes.
Tratados normativos. Regras, leis internacionais, pelas quais os pactuantes traçam regras de
direito, ex., leis cambiais. É o disciplinamento de determinado instituto jurídico. Lei internacional
que tem o mesmo papel de lei interna.
Lei interna. É a lei em sentido material. Toda norma jurídica escrita de um determinado
ordenamento que trata de resolver conflitos de leis. No nosso ordenamento viria da Constituição,
passando pela LICC, o Estatuto do Estrangeiro, pelo direito codificado, até aquela regra menor,
aquela instrução de serviço emanada de substituto do carimbador interino. É todo o aparato
legislativo de um determinado sistema.
Mas chegamos à conclusão de que o meio de produção do DIPr brasileiro será a lei. Pelo
art. 4º do LICC, quando a lei for omissa, o juiz decidirá de acordo com a analogia, os costumes e
princípios gerais do direito. Esse artigo permite duas leituras:
a) O único meio de produção do direito para o sistema jurídico brasileiro é a lei, pois é a própria
lei que, sabendo dos seus limites, diz que em caso de silêncio utiliza-se o costume, a
jurisprudência, como se lei fosse.
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b) Outra leitura seria que o principal meio de produção do sistema brasileiro seria a lei e, na sua
ausência, nas suas lacunas, admitir-se-ia a existência de meios de produção subsidiários e fontes
subsidiárias do direito.
Conjunto normativo do DIP:
Arts. 50, 12, 14 e 102 (l, g, h) da CF
Arts 98 e 100 do CTN
Arts. 88 e 337 do CPC
Arts. 30 do CC 8
Arts. 628 do CC
Arts.. 7ª ao 19 da LINDB
Leis n. 6.815/80 e 6.964/81 – Estatuto do Estrangeiro
Decreto n. 18.871/29: Código de Bustamante
HISTÓRICO DO DIPr
Antiguidade
Grécia
Meteco = estrangeiro em Atenas. Não tinha o status de cidadão, mas pagava taxa especial
para exercer atividades comerciais.
Isótele = meteco com gozo de certos direito políticos e civis.
Polemarca = nome da judicatura especial que protegia a família e os bens do estrangeiro.
Próxeno = cidadão encarregado de orientar o estrangeiro em suas relações comerciais e
zelar por seus interesses.
Asília = tratados entre as cidades para estabelecer os limites das relações de estrangeiro-
nacional, a fim de proteger os súditos e reguardá-los contra violências. Foram a origem dos
tratados de DIPr.
Roma
Os estrangeiros não participavam da vida jurídica, não admitindo os direitos locais cotejo
com direitos estrangeiros, o que afastava qualquer possibilidade de conflito. Existia apenas um
complexo de normas de direito material, sendo absoluta a territorialidade das leis.
A invasão dos bárbaros do Império Romano, em 476 de nossa era, vai alterar essas
situação. A partir de então passam a conviver, no mesmo contexto, pessoas de diferentes línguas,
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raças e condições econômicas e sociais. Nesse ínterim, surge a personalidade das leis, por meio
da qual cada ser humano será julgado pelas leis de sua tribo, seu povo, sua nação.
O romano, mais interessado no fator econômico, respeitava a lei e os costumes nativos já
quando de suas conquistas. Ex.: julgamento de Cristo, conduzido pelos hebreus e segundo as
leis hebraicas.
Após a invasão dos povos bárbaros as normas jurídicas vão vigorar nos lugares
dominados pelo jus sanguinis (direito de sangue), não pela territorialidade, levando em
consideração o elemento nação e não o território. Apenas em caso de conflito imperava a lei dos 8
vencedores. Vigiam lado a lado no mesmo espaço leis romanas, visigóticas, lombardas e
bávaras, mesmo assim, esse método não retirou a identidade dos povos conquistados.
A miscigenação vai fazer desaparecer o regime jurídico da personalidade do direito, que
extinguiu na Espanha (século VIII). Então surge o Codex Wisigothorum, o qual unifica o conjunto
de leis, suprimindo todas as legislações, inclusive a romana.
Feudalismo
Irinerius (1100) estuda Direito Romano na Escola de Bolonha e coloca notas lineares ou
marginais (glosas) no Digesto. Surge então a escola de glosadores, que busca nas leis romanas
o que existia sobre estrangeiros. NO século XIV surge Bartolo (1314-1357), de Saxoferrato, o pai
do DIPr: é a escola de pós-glosadores, com comentários próprios sobre as glosas, criando um
direito novo, comum, de possível aplicação às situações de seu tempo.
Bartolo foi o fundador da escola estatutária italiana e dividiu os estatutos em reais (lei da
situação da coisa) e pessoais (ligados á pessoa).
Em resumo, conforme síntese preconizada pelo sistema estatutário italiano, adotado até
nossos dias, tem-se:
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Codificação
No século XIX, surgem os grandes códigos: Còdigo Civil da França (1804) e Código Civil
do Chile (1855), com regras sobre o estrangeiro. Também houveram o da Itália (1865) e
Alemanha (1896).
Em 1855, com Andrés Bello, primeiro autor de obra autônoma sobre DIPr na America,
aparece o Código Civil do Chile, estabelecendo no artigo 57 que “a lei não reconhece diferença
entre o chileno e o estrangeiro, quanto à aquisição e gozo dos direitos civis que regra este
código”. Era um principio novo, ainda não estabelecido antes.
Haroldo Valladão exalta nesse legado chileno o espírito inovador, que, tendo o
territorialismo com princípio básico, quanto às pessoas, aos atos e aos bens situados no território,
e a nacionalidade em casos restritos – para o chileno que no estrangeiro pratica atos que viessem
produzir efeitos no Chile, e em suas relações de família com chilenos – se constituiu em
combinação equilibrada e sensata de regras de DIPr.
Doutrinas modernas
No século XIX vão despontar grandes precursores da doutrina de DIPr: Story, Savigny e
Mancini, que influenciarão as legislações, decisões judiciais, convenções e tratados a partir de
então.
Joseph Story – professor da Universidade de Harvard e membro da Suprema Corte
americana. Em 1834 publicou Conflict of Laws, que se tornou quase uma bíblia para os julgados e
a doutrina não só nos EUA como na Inglaterra. Ele ensinou à Europa uma concepção baseada na
equidade dos conflitos de leis, sem os limites da divisão estatutária. Ele substituiu a gentileza
internacional, a cortesia, pelo princípio da busca da boa justiça, na aplicação do direito
estrangeiro.
Friedrich Carl von Savigny – professor de Berlim. Escreveu Sistema de Direito Romano
Atual (1849). Ele traz a ideia de universalismo, de direito aplicável universal, pois entende que o
interesse das pessoas requer e merece igualdade de trato das questões jurídicas, em caso de
conflito de leis, preconizando que a solução seja a mesma, onde quer que ocorra o julgamento.
Assim, fundamenta a lei do domicílio como o elemento de conexão essencial.
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REFERÊNCIAS:
DEL´OLMO, Florisbal de Souza. Curso de Direito Internacional privado. Rio de Janeiro: Forense,
2010.