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Reforma trabalhista é
inconstitucional, diz
relatório do Ministério
Público
Ana Magalhães | Repórter Brasil | São Paulo -
10/07/2017 - 11h31
O MPT apresentou estudo no último dia 26 de junho onde recomendou que os senadores vetem os
pontos inconstitucionais do projeto de lei (confira abaixo cada um dos 12 pontos
inconstitucionais). O procurador-geral do trabalho já havia alertado representantes do governo
sobre a inconstitucionalidade de alguns artigos da reforma, quando foi chamado pelo Executivo a
dar sugestões e sugerir mudanças no texto. “Nenhuma das nossas sugestões foram acatadas. Até
onde sei, só foram acatadas as propostas apresentadas por empresas”, diz Fleury.
Caso a reforma seja aprovada como está, o Ministério Público do Trabalho vê dois caminhos
possíveis: entrar com uma ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF)
ou com ações civis públicas nas instâncias inferiores.
Fleury se refere ao artigo 7º da Constituição que garante direitos como férias remuneradas, 13º
salário, FGTS, contribuições previdenciárias, jornada máxima de 8 horas, licença-maternidade,
entre outros. Além disso, segundo o procurador, a pejotização permite que o empregador não
cumpra o dever constitucional de pagar valor superior ao salário mínimo.
A pejotização prevista na reforma também impede que o trabalhador autônomo conquiste seus
direitos na Justiça. Por exemplo: hoje, se um profissional autônomo comprova na Justiça do
Trabalho que tem vínculo de emprego (estabelecido pela pessoalidade, exclusividade e
subordinação), ele deve conseguir decisão favorável com relação a seus direitos, como férias
remuneradas e 13º salário.
No entanto, o artigo da reforma trabalhista que amplia a pejotização diz que “a contratação de
profissional autônomo afasta a qualidade de empregado”. Ou seja, caso a reforma seja aprovada, o
juiz não poderá considerar que o contrato de prestação de serviço existe para fraudar um vínculo
de emprego.
Fleury afirma ainda que as definições do projeto de lei sobre danos morais ferem o princípio
constitucional de que ‘todos são iguais perante a lei’. Isso acontece porque o projeto cria um limite
máximo de valor para a indenização por dano moral, que tem relação com o salário do trabalhador.
Ou seja: se o mesmo acidente de trabalho acontecer com um trabalhador que tem salário de R$ 10
mil e com um que ganha R$ 1 mil, a indenização do último será 10 vezes menor do que a do seu
colega de trabalho.
Veja abaixo todos os pontos considerados inconstitucionais pelo Ministério Público do Trabalho:
1. Pejotização
O texto da reforma trabalhista afirma que a contratação de autônomos, mesmo que com
exclusividade e de forma contínua, “afasta a qualidade de empregado”. Para o Ministério Público
do Trabalho, esse tipo de contratação viola o princípio constitucional dos direitos fundamentais
dos trabalhadores de ter uma relação de emprego “protegida” e com direitos garantidos, como
remuneração não inferior ao salário mínimo, FGTS, seguro-desemprego, 13º salário, férias
remuneradas, licença-maternidade, entre outros. Caso a reforma seja aprovada, o governo
promete impedir, via medida provisória, que exista uma cláusula de exclusividade no contrato de
prestação de serviço.
2. Terceirização
A terceirização de qualquer atividade foi liberada por outra lei aprovada neste ano, mas a reforma
trabalhista detalha os casos em que ela será permitida. Os dois projetos de lei permitem a empresa
terceirizar qualquer atividade, inclusive sua atividade principal. Segundo o MPT, a ampliação da
prática viola o princípio constitucional de que todos são iguais perante a lei porque permite
remunerações diferentes a trabalhadores que realizam a mesma função.
O MPT também alega que a terceirização em empresas públicas ou em economias mistas viola a
regra constitucional que estabelece concursos públicos para a contratação desses funcionários.
Além disso, a reforma diz que ajudas de custo (como auxílio-alimentação, diárias para viagem e
prêmios) não farão mais parte do salário, o que afronta dispositivo constitucional que diz que essas
verbas serão incorporadas à contribuição previdenciária e ao cálculo do FGTS.
O projeto de lei permite jornadas de trabalho superiores às oito horas diárias, estabelecida por
meio de acordos entre empregador e empregado. Há ainda a previsão de que o empregado
trabalhe 12 horas e folgue 36, regime que hoje não está em lei, mas já é permitido para algumas
profissões pelo Tribunal Superior do Trabalho.
As mudanças, segundo o MPT, violam a jornada constitucional e também vão contra acordos
internacionais assinados pelo Brasil, que preveem “que toda pessoa tem o direito de desfrutar de
condições justas de trabalho, que garantam o repouso, os lazeres e a limitação razoável do
trabalho.” O governo promete estabelecer, por Medida Provisória, que essa flexibilização só será
possível a partir de acordo ou convenção coletiva.
Marcello Casal Jr/Agência Brasil
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Para o teletrabalho (o “home-office”), a reforma diz que cabe ao empregador apenas “instruir” o
trabalhador sobre os riscos de doenças e acidentes de trabalho. Além disso, afirma que a
responsabilidade pela aquisição, manutenção ou fornecimento da infraestrutura necessária à
prestação do trabalho remoto (e o reembolso de despesas) será prevista em contrato escrito.
O MPT afirma que é responsabilidade constitucional do empregador cumprir e custear o
cumprimento das normas de saúde, higiene e segurança. Além disso, essas disposições transferem
parte dos riscos e dos custos ao empregado – o que pode gerar redução salarial, vetado pela
Constituição.
O projeto de lei permite que empregadores façam acordos individuais com trabalhadores que
tenham ensino superior e que ganhem valor igual ou superior a dois tetos do INSS (ou seja, R$
11.062,62).
Porém, a Constituição não autoriza, em nenhum momento, flexibilização de direitos por meio de
acordos individuais e proíbe distinção entre trabalhos (e trabalhadores) manuais, técnicos ou
intelectuais.
Na avaliação do MPT, esses acordos podem extinguir ou reduzir direitos, o que viola a Constituição.
Segundo a carta de 1988, a negociação coletiva serve para garantir que os trabalhadores
organizados em sindicatos possam conquistar direitos que melhorem sua condição social, o que
não está garantido no novo texto.
A proposta estabelece que empresas com mais de 200 empregados tenham “representantes dos
trabalhadores”, com a finalidade de facilitar o entendimento com empregadores, buscar soluções
para conflitos e encaminhar reivindicações.
Além de flexibilizar as horas de descanso, que podem ser decididas por acordo coletivo, o texto do
projeto de lei afirma que “regras sobre a duração do trabalho e intervalos não são consideradas
como normas de saúde, higiene e segurança”.
Segundo o MPT, isso permite que o trabalhador seja submetido a atividade prejudicial à sua saúde
em jornada de 12 horas. Mas a Constituição garante como direito do trabalhador a redução dos
riscos relacionados ao trabalho. Além disso, o Ministério Público do Trabalho afirma que a maior
parte dos acidentes de trabalho acontecem nas últimas duas horas da jornada, justamente devido
ao cansaço do trabalhador.
O projeto de lei determina faixa de valores para a indenização por danos morais, de acordo com o
salário do trabalhador. Atualmente, elas são determinadas pelos juízes. Se a ofensa for de natureza
leve, a indenização determinada pelo juiz poderá ser de até três vezes o valor do salário. Se for
gravíssima, de até cinquenta vezes.
A norma viola o princípio constitucional de que “todos são iguais perante a lei”, já que o projeto de
lei permite valores diferentes para trabalhadores com salários diferentes, e também pode impedir a
reparação integral do dano. Esse é outro ponto que o governo federal promete mudar através de
uma medida provisória.
O projeto de lei estabelece um rito específico para que a Justiça do Trabalho aprove decisões que
criam jurisprudência e aceleram processos semelhantes em instâncias inferiores, as súmulas
vinculantes. Segundo a reforma, elas têm que ser aprovadas por pelo menos dois terços dos
membros do tribunal, e a mesma matéria tem que ter sido decidida de forma unânime e idêntica
em pelo menos dez sessões anteriores, com a realização de uma audiência pública.
De acordo com a Constituição, as súmulas vinculantes hoje podem ser aprovadas por decisão de
dois terços dos membros do tribunal superior, mas sem a exigência de decisões anteriores ou de
audiências públicas.
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