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Estudo Dirigido Extra

Gabriel de Lima Franco, 2018.2

No início da década de 1920, ao final da Primeira Guerra Mundial, a Argentina


era um dos países mais ricos do mundo. Até a guerra estourar, o país apresentou
cinqüenta anos de crescimento contínuo, porém sob uma estrutura institucional
majoritariamente extrativista. Já o Brasil da mesma época possuía diferenças e
similaridades com seu vizinho: apesar de ser uma economia relativamente pouco
desenvolvida e que não apresentava nenhum padrão consistente de crescimento ou
recessão, também podemos caracterizar os governos e instituições da época como
extrativistas.
Entretanto, após o fim da guerra e a consequente queda dos preços das
principais commodities mundiais, as trajetórias econômica e política argentinas
mudaram quando a elite do país foi destituída do poder ao tentar implementar um
sistema político mais inclusivo - já não era mais possível controlar todos os grupos da
oposição espalhados pelo país. Até então, o crescimento econômico vivido pela
Argentina era resultado da alocação eficiente dos recursos na economia agrícola de
exportação associada a um momento de valorização dos principais produtos
exportados pelo país - carne, couro e grãos. O poder político, apesar de concentrado
na mão de uma pequena elite, foi utilizado com o objetivo de empregar os recursos do
país em setores produtivos.
Em termos de concentração política, o mesmo se observou no Brasil. O poder
era altamente concentrado na mão de uma elite, mas que, por outro lado, não possuía
o mesmo objetivo. Os governos brasileiros da época eram fortemente ligados a grupos
que pressionavam e influenciavam as decisões tomadas pelo Estado. Nesse sentido,
nunca foi possível alocar os recursos nacionais de forma a priorizar os setores com
maior potencial. A alocação sempre foi feita a partir da lógica clientelista e com o
objetivo máximo de proteger os interesses da elite.
Como a prosperidade econômica argentina não era sustentável, já que não havia
um processo de criação destrutiva e inovação atrelado à ela, a partir de 1920, o país
viveu décadas marcadas pela alta instabilidade política e durante as quais a alocação
eficiente de recursos já não era mais possível, aproximando o país à realidade
brasileira. O governo de Perón, no qual o sistema político era democrático, mas
extremamente corrupto e longe de ser pluralista, é uma boa ilustração desse processo
de aproximação. As instituições econômicas argentinas também passaram a ter como
objetivo máximo assegurar as receitas e interesses dos grupos ligados ao governo.
Por fim, também é possível traçar outro paralelo entre os dois países no que diz
respeito ao mecanismo de feedback e sinergia que existe entre as instituições políticas
e econômicas de um país majoritariamente extrativista: novos governos e elites
econômicas podem ascender, porém os incentivos em manter os mecanismos de
concentração de renda e poder funcionando são fortíssimos. O caso do líder Menem na
Argentina e do Partido dos Trabalhadores no Brasil são dois exemplos.
Portanto, conclui-se que, por mais que as duas democracias tenham seguido
caminhos opostos no campo econômico até a década de 1920, as nações
eventualmente convergiram para o mesmo destino histórico. Isso se deu devido ao
fato das instituições em ambos os países terem sido construídas, ou transformadas,
sob estruturas arraigadas em regimes e fundamentos extrativistas. A persistência
secular das desigualdades que leva os eleitores a votar em políticos radicais e as
instituições extrativistas subjacentes que tornam a política tão favorável e proveitosa
para homens poderosos ao invés de construir um sistema partidário eficaz na
produção de alternativas desejáveis em termos sociais são apenas algumas das
características em comum entre o Brasil e Argentina atualmente. Consequentemente,
caso não tenham mudanças institucionais no futuro, ambas as economias estão
fadadas a não prosperidade econômica.

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