No início da década de 1920, ao final da Primeira Guerra Mundial, a Argentina
era um dos países mais ricos do mundo. Até a guerra estourar, o país apresentou cinqüenta anos de crescimento contínuo, porém sob uma estrutura institucional majoritariamente extrativista. Já o Brasil da mesma época possuía diferenças e similaridades com seu vizinho: apesar de ser uma economia relativamente pouco desenvolvida e que não apresentava nenhum padrão consistente de crescimento ou recessão, também podemos caracterizar os governos e instituições da época como extrativistas. Entretanto, após o fim da guerra e a consequente queda dos preços das principais commodities mundiais, as trajetórias econômica e política argentinas mudaram quando a elite do país foi destituída do poder ao tentar implementar um sistema político mais inclusivo - já não era mais possível controlar todos os grupos da oposição espalhados pelo país. Até então, o crescimento econômico vivido pela Argentina era resultado da alocação eficiente dos recursos na economia agrícola de exportação associada a um momento de valorização dos principais produtos exportados pelo país - carne, couro e grãos. O poder político, apesar de concentrado na mão de uma pequena elite, foi utilizado com o objetivo de empregar os recursos do país em setores produtivos. Em termos de concentração política, o mesmo se observou no Brasil. O poder era altamente concentrado na mão de uma elite, mas que, por outro lado, não possuía o mesmo objetivo. Os governos brasileiros da época eram fortemente ligados a grupos que pressionavam e influenciavam as decisões tomadas pelo Estado. Nesse sentido, nunca foi possível alocar os recursos nacionais de forma a priorizar os setores com maior potencial. A alocação sempre foi feita a partir da lógica clientelista e com o objetivo máximo de proteger os interesses da elite. Como a prosperidade econômica argentina não era sustentável, já que não havia um processo de criação destrutiva e inovação atrelado à ela, a partir de 1920, o país viveu décadas marcadas pela alta instabilidade política e durante as quais a alocação eficiente de recursos já não era mais possível, aproximando o país à realidade brasileira. O governo de Perón, no qual o sistema político era democrático, mas extremamente corrupto e longe de ser pluralista, é uma boa ilustração desse processo de aproximação. As instituições econômicas argentinas também passaram a ter como objetivo máximo assegurar as receitas e interesses dos grupos ligados ao governo. Por fim, também é possível traçar outro paralelo entre os dois países no que diz respeito ao mecanismo de feedback e sinergia que existe entre as instituições políticas e econômicas de um país majoritariamente extrativista: novos governos e elites econômicas podem ascender, porém os incentivos em manter os mecanismos de concentração de renda e poder funcionando são fortíssimos. O caso do líder Menem na Argentina e do Partido dos Trabalhadores no Brasil são dois exemplos. Portanto, conclui-se que, por mais que as duas democracias tenham seguido caminhos opostos no campo econômico até a década de 1920, as nações eventualmente convergiram para o mesmo destino histórico. Isso se deu devido ao fato das instituições em ambos os países terem sido construídas, ou transformadas, sob estruturas arraigadas em regimes e fundamentos extrativistas. A persistência secular das desigualdades que leva os eleitores a votar em políticos radicais e as instituições extrativistas subjacentes que tornam a política tão favorável e proveitosa para homens poderosos ao invés de construir um sistema partidário eficaz na produção de alternativas desejáveis em termos sociais são apenas algumas das características em comum entre o Brasil e Argentina atualmente. Consequentemente, caso não tenham mudanças institucionais no futuro, ambas as economias estão fadadas a não prosperidade econômica.