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Texto de Jean Filloux sobre Durkheim e Educação.

Transformações, transformações e transformações. Essa, entre tantas outras palavras,


estavam constantemente no glossário “revolucionário” da época de Durkheim, que viveu os
efeitos da turbulência pós-Revolução Francesa, período que muito o influenciou e inclusive
motivou Durkheim a institucionalizar a Sociologia, e sobretudo a Educação como objeto de
Estudo e de transformação social. Mas o que significou estabelecer a Educação como uma
Ciência Social ?
É importante ter em mente seus grandes interesses no meio dessas turbulências, que
seria sobretudo entender as condições de existência da sociedade (pp.13). Se levarmos em
consideração sua visão holista da sociedade, poderíamos reformular que Durkheim aspirava
entender as condições pelas quais a sociedade permanece coesa, as condições de
manutenção da ordem social. Como que a sociedade capitalista que se formava aos olhos de
Durkheim, ao mesmo tempo em que aumentava a individualização do trabalho (ou melhor, as
funções da divisão social do trabalho), aumentava também sua consciência coletiva ? Qual a
função da Educação na Sociedade ?
Para explicar esses fenômenos, Durkheim estabelece toda uma metodologia de
abordagem acerca dos ​fatos sociais​, objeto que estabelece como geral na Sociologia. Esses
fenômenos são ​sui generis​, ou seja, possuem uma particularidade, na medida em que só
podem ser explicados por outros fatos sociais. Esse movimento se dá, em grande medida, na
sua luta pela institucionalização da Sociologia, estabelecendo-a como um objeto e metodologia
própria. Esses ​fatos sociais deveriam ser analisados como ​coisas​, como visíveis na realidade,
através de seus efeitos. Tais fenômenos são ​objetivos​, na medida em que é percebido por
todos os membros de uma sociedade; São ​externos aos indivíduos, ou seja, possuem uma
existência independentemente do indivíduo existir ou não; e são ​coercitivos na medida em que
exercem influências e sanções ao indivíduo, seja ele desviante à norma ou não. A ideia de uma
nacionalidade é um ótimo exemplo disso. Nascemos em um país que existe muito antes de
estarmos aqui, todos possuem a ideia de pertencimento a uma nação, e provavelmente, se eu
queimasse a bandeira seria preso por isso, não só no campo formal, mas também no campo
simbólico, seria visto como um inimigo da pátria pelo resto da sociedade.
Do ponto de vista dos fatos sociais, a Sociedade é um corpo cujas partes
desempenham funções essenciais à sua existência. Além disso, as sociedades são, para
Durkheim, um importante elemento analítico de análise do substrato de um fenômeno existente
em todas as sociedades. É o caso da Religião (como desenvolve em ​Formas Elementares da
Vida Religiosa​), e, no que interessa ao texto, o da ​Educação.​
A ​Educação,​ desempenha um papel fundamental na Sociedade em geral. Cada
sociedade, em um determinado momento de existência possui:
“[...] um sistema de educação que se ​impõe aos
indivíduos. Cada sociedade fixa um certo “ideal do homem”, do
que ele deve ser, do ponto de vista intelectual, físico e moral,
sendo esse ideal o próprio polo que norteia a educação”
Nesse sentido, a Educação nas sociedades possui um papel fundamental nas
condições de existência da sociedade, já que ela mesma desempenha uma função que é
responsável pela manutenção da homogeneidade dos hábitos, sejam eles morais ou corpóreos
ou nas relações sociais. Encontra-se na educação, portanto, o seu papel socializador. Mas, no
entanto, vale lembrar que a educação se dá de diferentes maneiras a depender de cada
sociedade. Na sociedade capitalista, a afirmação de uma certa heterogeneidade, ou de um
individualismo, é essencial para que a divisão social do trabalho capitalista funcione. Além de
ter essa função socializante, ela depende também das próprias aspirações da sociedade
enquanto sociedade. Iria mais além de dizer que, inclusive, a Educação, nas sociedades
capitalistas, possuem uma dupla-face. Ela requer uma certa heterogeneidade, mas uma
heterogeneidade em relação ao mercado de trabalho, mas ao mesmo tempo uma
homogeneidade em termos culturais, já que sem este, a socialização heterogeneizante não
teria nenhuma sustentação moral. Basta lembrar da resistência dos indígenas à Educação
Europeia, que persiste ainda nos dias de hoje.

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