Transformações, transformações e transformações. Essa, entre tantas outras palavras,
estavam constantemente no glossário “revolucionário” da época de Durkheim, que viveu os efeitos da turbulência pós-Revolução Francesa, período que muito o influenciou e inclusive motivou Durkheim a institucionalizar a Sociologia, e sobretudo a Educação como objeto de Estudo e de transformação social. Mas o que significou estabelecer a Educação como uma Ciência Social ? É importante ter em mente seus grandes interesses no meio dessas turbulências, que seria sobretudo entender as condições de existência da sociedade (pp.13). Se levarmos em consideração sua visão holista da sociedade, poderíamos reformular que Durkheim aspirava entender as condições pelas quais a sociedade permanece coesa, as condições de manutenção da ordem social. Como que a sociedade capitalista que se formava aos olhos de Durkheim, ao mesmo tempo em que aumentava a individualização do trabalho (ou melhor, as funções da divisão social do trabalho), aumentava também sua consciência coletiva ? Qual a função da Educação na Sociedade ? Para explicar esses fenômenos, Durkheim estabelece toda uma metodologia de abordagem acerca dos fatos sociais, objeto que estabelece como geral na Sociologia. Esses fenômenos são sui generis, ou seja, possuem uma particularidade, na medida em que só podem ser explicados por outros fatos sociais. Esse movimento se dá, em grande medida, na sua luta pela institucionalização da Sociologia, estabelecendo-a como um objeto e metodologia própria. Esses fatos sociais deveriam ser analisados como coisas, como visíveis na realidade, através de seus efeitos. Tais fenômenos são objetivos, na medida em que é percebido por todos os membros de uma sociedade; São externos aos indivíduos, ou seja, possuem uma existência independentemente do indivíduo existir ou não; e são coercitivos na medida em que exercem influências e sanções ao indivíduo, seja ele desviante à norma ou não. A ideia de uma nacionalidade é um ótimo exemplo disso. Nascemos em um país que existe muito antes de estarmos aqui, todos possuem a ideia de pertencimento a uma nação, e provavelmente, se eu queimasse a bandeira seria preso por isso, não só no campo formal, mas também no campo simbólico, seria visto como um inimigo da pátria pelo resto da sociedade. Do ponto de vista dos fatos sociais, a Sociedade é um corpo cujas partes desempenham funções essenciais à sua existência. Além disso, as sociedades são, para Durkheim, um importante elemento analítico de análise do substrato de um fenômeno existente em todas as sociedades. É o caso da Religião (como desenvolve em Formas Elementares da Vida Religiosa), e, no que interessa ao texto, o da Educação. A Educação, desempenha um papel fundamental na Sociedade em geral. Cada sociedade, em um determinado momento de existência possui: “[...] um sistema de educação que se impõe aos indivíduos. Cada sociedade fixa um certo “ideal do homem”, do que ele deve ser, do ponto de vista intelectual, físico e moral, sendo esse ideal o próprio polo que norteia a educação” Nesse sentido, a Educação nas sociedades possui um papel fundamental nas condições de existência da sociedade, já que ela mesma desempenha uma função que é responsável pela manutenção da homogeneidade dos hábitos, sejam eles morais ou corpóreos ou nas relações sociais. Encontra-se na educação, portanto, o seu papel socializador. Mas, no entanto, vale lembrar que a educação se dá de diferentes maneiras a depender de cada sociedade. Na sociedade capitalista, a afirmação de uma certa heterogeneidade, ou de um individualismo, é essencial para que a divisão social do trabalho capitalista funcione. Além de ter essa função socializante, ela depende também das próprias aspirações da sociedade enquanto sociedade. Iria mais além de dizer que, inclusive, a Educação, nas sociedades capitalistas, possuem uma dupla-face. Ela requer uma certa heterogeneidade, mas uma heterogeneidade em relação ao mercado de trabalho, mas ao mesmo tempo uma homogeneidade em termos culturais, já que sem este, a socialização heterogeneizante não teria nenhuma sustentação moral. Basta lembrar da resistência dos indígenas à Educação Europeia, que persiste ainda nos dias de hoje.