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É sabido que diagnosticar depressão nem sempre é uma tarefa fácil. Muito menos quando
se trata de diagnosticar depressão em crianças e adolescentes. Vive-se hoje uma era
globalizada, com uma pletora de meios de informação, onde o indivíduo tem muito mais
acesso as informações sobre as distintas patologias médicas, se informando mais e melhor
sobre os seus sintomas. Com isso, não raro, muitos pacientes ou mesmo os pais já chegam
autodiagnosticados ou com o diagnóstico “pronto” do filho aos consultórios, sejam
universitários ou privados. Muitos, inclusive, chegam munidos de questionários de auto-
avaliação já preenchidos, que imprimem na internet ou através de revistas.
A depressão é vista como uma doença crônica na qual o indivíduo pode apresentar diversos
sintomas depressivos e em diferentes graus de intensidade. Muitas vezes se inicia na
infância ou adolescência, com curso prolongado, podendo eventualmente persistir por toda
a vida. É sabido que a maioria dos pacientes deprimidos relata o início dos sintomas
depressivos desde a infância. Por se tratar de uma patologia grave e reconhecidamente
cíclica, sabe-se hoje que a depressão de início precoce necessita de cuidados o quanto antes,
para que se evitem prejuízos no desenvolvimento e no funcionamento global de uma
criança (Yorbik et al., 2004).
Depressão infanto-juvenil
Sabe-se que existe uma tendência natural em se pensar na infância como um período feliz,
livre de preocupações ou responsabilidades, apesar das pesquisas mostrarem que as
crianças também sofrem de depressão. Até o momento é consenso geral entre
pesquisadores e clínicos que crianças e adolescentes podem deprimir (F I. Lee, 2007),
apesar da pouca concordância que existe em relação à natureza e a estrutura dos sintomas
depressivos nessa população, que costumam se apresentar de modos distintos para as
diferentes faixas etárias (Birmaher et al, 2004; González-Tejeras et al., 2005), tornando o
reconhecimento dos sintomas um desafio para muitos especialistas. Sentimentos de tristeza
em função de perdas ou manifestações de raiva decorrentes de frustração são na maioria
das vezes reações afetivas normais e passageiras e não requerem tratamento. Porém,
dependendo da intensidade, persistência e presença de outros sintomas concomitantes, a
tristeza e a irritabilidade podem ser indícios de quadros afetivos em crianças e adolescentes.
Sintomas disfóricos do dia-a-dia não apresentam conotação psiquiátrica e ocorrem como
uma resposta afetiva aos eventos cotidianos, com quadros breves e que não comprometem
as condutas adaptativas das crianças (Fu- I L, 2007).
Crianças até seis anos, na pré-escola, quando deprimidas, não raro estão com o peso abaixo
da média para a idade e apresentam a fisionomia triste ou de seriedade, irritação,
inapetência, agitação psicomotora ou hiperatividade, insônia com ansiedade, balanceios,
estereotipias e agressividade contra si mesmo ou contra terceiros (Fu–I et al., 2000).
Podem manifestar cansaço intenso com falta de energia, anedonia, com perda do prazer e
do interesse em atividades que antes gostava e até para brincar (Luby et al., 2006) .
Comumente queixam-se de sentimento de tédio e de que nada presta e tudo é chato.
Queixas somáticas vagas e inespecíficas como dor de cabeça, dor muscular e ou abdominal
são freqüentes e correspondem a sentimentos de angústia e sofrimento emocional (Luby et
al., 2003).
É sabido que crianças deprimidas geralmente têm auto-estima baixa e que falam de si
mesmas de modo negativo, se achando ruins, tontas e se sentindo fracassadas e preteridas
pela família, muitas vezes com a certeza de que ninguém se preocupa com elas. A culpa
pode ser entendida pela fala de que tudo está errado por causa da sua existência ou na de
que ela deve ser punida ou que seria melhor morrer (Mesquita e Gilliam, 1994). A relação
entre o apetite e o peso na depressão pode variar, desde perda de peso até o seu ganho,
muitas vezes chegando a graus importantes de obesidade. Igualmente, queixas de pesadelos
ou de despertares noturnos são freqüentes, bem como insônias acompanhadas de
ansiedade ou rituais noturnos. O aumento da distraibilidade e a dificuldade de
memorização são comuns e levam a um comprometimento do desenvolvimento escolar,
podendo confundir a depressão com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade
(Yorbik et al., 2004; González-Tejeras et al., 2005), transtorno comum em crianças e
adolescentes, cujos sintomas cardinais são a desatenção, hiperatividade e impulsividade,
com promoção de piora no rendimento escolar.
Cumpre ressaltar que cerca da metade dos casos de transtornos afetivos têm um outro
diagnóstico psiquiátrico em comorbidade, como por exemplo, algum tipo de transtorno de
ansiedade. A associação desses dois transtornos é tão grande que sintomas de ansiedade na
infância podem ser sinal preditivo mais eficiente par depressão do que para transtornos de
ansiedade (Birmaher B, 1997).
Cumpre lembrar que adolescentes do sexo feminino têm maior risco de desenvolver
depressão do que os do sexo masculino. Em casos de depressão na infância, observa-se
história familiar de depressão com início precoce. Estressores psicossociais, presença
simultânea de outros transtornos psiquiátricos ou doença crônicas são fatores doença risco
para desenvolvimento de depressão em crianças e adolescentes.
Conclusão
Os transtornos afetivos podem ocorre na Infância e Adolescência. o diagnóstico e o
tratamento precoces podem mudar o futuro de uma criança, evitando prejuízos ao
desenvolvimento e favorecendo a elaboração de vivencias relacionadas aos transtornos
afetivos.