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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 15

25/11/2015 PLENÁRIO

AG.REG. EM MANDADO DE SEGURANÇA 25.053 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. TEORI ZAVASCKI


AGTE.(S) : SUMATRA - CAFÉS BRASIL S/A
ADV.(A/S) : ROBERTO ROSAS
AGDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
ADV.(A/S) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO

EMENTA: ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO


MANDADO DE SEGURANÇA. DECLARAÇÃO DE IMÓVEL RURAL
COMO DE INTERESSE SOCIAL PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA.
INEXISTÊNCIA DE ESBULHO OU INVASÃO NO PRAZO DO § 6º DO
ART. 2º DA LEI 8.629/1993. VISTORIA. LEGALIDADE. PRECEDENTES.
INEFICÁCIA DA TRANSFERÊNCIA DO IMÓVEL NO PERÍODO
PREVISTO NO § 4º DO ART. 2º DA LEI 8.629/1993. PRECEDENTES.
IMPLANTAÇÃO DE PROJETO TÉCNICO NÃO DEMONSTRADA. NÃO
CONFIGURAÇÃO DO ÓBICE À DESAPROPRIAÇÃO DO ART. 7º DA
LEI 8.629/1993. PRECEDENTE.
AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
AC ÓRD ÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do


Supremo Tribunal Federal, em Sessão Plenária, sob a Presidência do
Ministro RICARDO LEWANDOWSKI, na conformidade da ata de
julgamentos e das notas taquigráficas, por unanimidade, em negar
provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Relator.
Ausente, neste julgamento, o Ministro Gilmar Mendes.

Brasília, 25 de novembro de 2015.

Ministro TEORI ZAVASCKI


Relator

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
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Relatório

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25/11/2015 PLENÁRIO

AG.REG. EM MANDADO DE SEGURANÇA 25.053 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. TEORI ZAVASCKI


AGTE.(S) : SUMATRA - CAFÉS BRASIL S/A
ADV.(A/S) : ROBERTO ROSAS
AGDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
ADV.(A/S) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO

RE LAT Ó RI O

O SENHOR MINISTRO TEORI ZAVASCKI (RELATOR): Trata-se de


agravo regimental de decisão que negou seguimento ao pedido em
mandado de segurança contra ato do Presidente da República consistente
na edição de decreto declarando como de interesse social, para fins de
reforma agrária, a Fazenda Mandaguari.
A decisão agravada é no sentido de que: (i) a ocorrência de esbulho
possessório posteriormente à vistoria pelo INCRA não atrai a aplicação
do art. 2º, § 6º, da Lei 8.629/1993; (ii) não é oponível ao INCRA a
transferência de propriedade ocorrida menos de seis meses após a
notificação de vistoria; (iii) não foi demonstrado impedimento ao
processo desapropriatório por conta de implantação de projeto técnico.
No agravo regimental, são repisados os argumentos de que: (a) a
invasão da propriedade ocorrida anteriormente à notificação representa
óbice à sua desapropriação; (b) representa nulidade a falta de averbação
na matrícula do imóvel da existência de processo administrativo
expropriatório; (c) a vistoria foi realizada sem que fossem notificados os
atuais proprietários da Fazenda Mandaguari; (d) o projeto de exploração
florestal apresentado ao IBAMA é apto a fazer configurar o impedimento
à desapropriação previsto no art. 7º da Lei 8.629/1993.
Pede, ao final, a reconsideração da decisão agravada para que seja
concedida a segurança e desconstituído o decreto expropriatório.
É o relatório.

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AG.REG. EM MANDADO DE SEGURANÇA 25.053 DISTRITO FEDERAL

VOTO

O SENHOR MINISTRO TEORI ZAVASCKI (RELATOR): 1. A decisão


agravada tem o seguinte teor:

1. Trata-se de mandado de segurança contra ato do


Presidente da República consistente na edição do Decreto de
11/8/2004, publicado no Diário Oficial da União de 12/8/2004,
que declarou como de interesse social, para fins de reforma
agrária, a Fazenda Mandaguari. Sustentam os impetrantes o
seguinte: (a) o imóvel foi adquirido do Banco ABN AMRO
REAL S/A, conforme lançamento no cartório de registro de
imóveis de Porto dos Gaúchos/MT, em 19/9/2003; (b) conforme
boletim de ocorrência lavrado pela Polícia Militar, houve
esbulho possessório em 14/1/2004, promovido por “indivíduos
vinculados ao grupo dos chamados ‘sem terra’” (fl. 4); (c)
anteriormente, em 2003, o Juízo da Comarca de Porto dos
Gaúchos já havia deferido liminar em ação de interdito
proibitório proposta contra o Movimento dos Trabalhadores
Sem Terra (MST) e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de
Porto dos Gaúchos; (d) foi proposta, em 22/7/2004, ação de
reintegração de posse em razão de esbulho e invasão pelo
mesmo grupo de pessoas; (e) por esses fatos, nos termos do § 4º
da Lei 8.629/1993, a área não pode ser considerada de interesse
social para fins de reforma agrária; (f) a vistoria do imóvel por
parte do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(INCRA) “iniciou-se antes da invasão, e completou-se após a
invasão” (fl. 8); (g) “A primeira invasão com 240 pessoas, em junho
de 2003, quando foi proposto o interdito (27.06.2003), e deferido em
30.06.2003”; (h) o início do processo expropriatório deve ser
comunicado pelo INCRA ao cartório de registro de imóveis
para fins de averbação na matrícula do imóvel, o que não
ocorreu no caso, tanto é assim que foram autorizados a adquirir
a Fazenda Mandaguari; (i) conforme precedentes do Supremo

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MS 25053 AGR / DF

Tribunal Federal (MS 23.222, Rel. Min. Marco Aurélio, Pleno, DJ


de 16/3/2001; MS 23.563, Rel. p/Acórdão Min. Maurício Corrêa,
DJ 27/2/2004), a prévia intimação pessoal dos atuais
proprietários da área sujeita a procedimento administrativo de
desapropriação é requisito essencial para que o processo
expropriatório não seja nulo e ilegal, “vícios que se verificam no
caso presente” (fl. 9); (j) antes da aquisição da propriedade do
imóvel, na qualidade de arrendatários, apresentaram junto ao
Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA) projeto de exploração florestal com
solicitação de desmate de mil hectares, pedido que era de
conhecimento do INCRA, daí porque a desapropriação está
impedida pelo teor do art. 7º da Lei 8.629/1993, que ressalva
imóvel objeto de implantação de projeto técnico; e, (k) por fim,
foi indeferido o pedido de impugnação (pelos atuais
proprietários) ao processo administrativo de desapropriação.
Pedem, ao final, ao concessão da ordem para anular o decreto
presidencial de 11 de agosto de 2004 na parte referente à
Fazenda Mandaguari.
O então Relator, Min. Ayres Britto, solicitou prévias
informações à autoridade impetrada, a qual respondeu nos
seguintes termos (fls. 152/155): (i) não está configurada a
situação prevista no § 6º do art. 2º da Lei 8.629/1993, pois, no
máximo, houve apenas ameaça ou ínfima ocupação; (ii) a
vistoria foi realizada regularmente; (iii) os anteriores
proprietários foram devidamente notificados sobre a vistoria;
(iv) a mera proposta de desmatamento não configura projeto de
exploração florestal apto a impedir a desapropriação. O pedido
de liminar foi indeferido (fls. 306/308). A Procuradoria-Geral da
República, em seu parecer, opina pela denegação da ordem (fls.
310/314). Por meio da Petição 49.100/2005 (fls. 328/340), os
impetrantes pedem a reconsideração da decisão de
indeferimento da liminar e juntam novos documentos (fls.
341/736).

2. Os documentos juntados às fls. 341/736 não são provas

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pré-constituídas, motivo pelo qual não serão levados em conta


no exame da presente ação mandamental.

3. A primeira tese de nulidade do decreto presidencial


impugnado no presente mandado de segurança tem a ver com
o § 6º do art. 2º da Lei 8.629/1993, assim redigido:

§ 6º O imóvel rural de domínio público ou particular


objeto de esbulho possessório ou invasão motivada por
conflito agrário ou fundiário de caráter coletivo não será
vistoriado, avaliado ou desapropriado nos dois anos
seguintes à sua desocupação, ou no dobro desse prazo, em
caso de reincidência; e deverá ser apurada a
responsabilidade civil e administrativa de quem concorra
com qualquer ato omissivo ou comissivo que propicie o
descumprimento dessas vedações.

Ocorre que, conforme firme jurisprudência do Supremo


Tribunal Federal, a ocorrência de esbulho possessório em
período posterior ao da realização da vistoria pelo INCRA, por
não ser hábil a afetar seus resultados, não atrai a aplicação do
art. 2º, § 6º, da Lei 8.629/93. Nesse sentido:

MANDADO DE SEGURANÇA.
DESAPROPRIAÇÃO. REFORMA AGRÁRIA.
LEGITIMIDADE ATIVA. ESBULHO POSSESSÓRIO.
FAZENDA INVADIDA POR INTEGRANTES DO MST.
PERÍODO POSTERIOR À REALIZAÇÃO DA VISTORIA.
TRANSMISSÃO DA PROPRIEDADE. IMÓVEL NÃO
DIVIDIDO. ART. 1784 C/C ART. 1791 DO CÓDIGO CIVIL.
EXISTÊNCIA DE ÁREAS DE PRESERVAÇÃO
PERMANENTE E INAPROVEITÁVEIS. LAUDOS
CONTRADITÓRIOS. NECESSIDADE DE DILAÇÃO
PROBATÓRIA. ORDEM DENEGADA.
1. Não se pode tomar como titular do domínio do
imóvel uma pessoa jurídica sem existência jurídica. Consta

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do registro público do distrato social da empresa a


nomeação, como responsável pelos bens da sociedade, do
ex-sócio falecido. Por essa razão, os seus herdeiros têm
legitimidade para impetrar o mandado de segurança.
2. A invasão do imóvel por integrantes do
Movimento dos Sem-Terra ocorreu em período posterior à
conclusão das vistorias realizadas pelo INCRA, de modo
que não teve o condão de influenciar nos resultados
encontrados sobre a produtividade da fazenda.
Precedentes.
3. O imóvel rural objeto da futura partilha entre
herdeiros continua sendo único até o fim do inventário,
embora com mais de um proprietário, formando um
condomínio. Precedentes.
4. Para a exclusão das áreas de preservação
permanente ou de reserva legal, estas devem estar
devidamente averbadas no respectivo registro do imóvel.
Não se encontrando individualizada na averbação, a
reserva florestal não poderá ser excluída da área total do
imóvel desapropriando para efeito de cálculo da
produtividade.
5. A divergência de avaliações acerca das áreas
aproveitáveis e inaproveitáveis demanda dilação
probatória, inviável no rito especial do mandado de
segurança.
6. Ordem denegada. (MS 24.924, Rel. p/ acórdão Min.
JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, DJe de 7/11/2011)

MANDADO DE SEGURANÇA.
CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO.
DESAPROPRIAÇÃO POR INTERESSE SOCIAL PARA
FINS DE REFORMA AGRÁRIA. ARTIGO 184 DA
CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. INVASÃO DO IMÓVEL
POR MOVIMENTO DE TRABALHADORES RURAIS
APÓS A REALIZAÇÃO DA VISTORIA DO INCRA.
INEXISTÊNCIA DE ÓBICE À DESAPROPRIAÇÃO.

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ARTIGO 2º, § 6º DA LEI N. 8.629/93. ORDEM


DENEGADA.
1. O § 6º, art. 2º da Lei n. 8.629/93 estabelece que "[o]
imóvel rural de domínio público ou particular objeto de
esbulho possessório ou invasão motivada por conflito
agrário ou fundiário de caráter coletivo não será
vistoriado, avaliado ou desapropriado nos dois anos
seguintes à sua desocupação, ou no dobro desse prazo, em
caso de reincidência; e deverá ser apurada a
responsabilidade civil e administrativa de quem concorra
com qualquer ato omissivo ou comissivo que propicie o
descumprimento dessas vedações".
2. A jurisprudência desta Corte fixou entendimento
no sentido de que a vedação prevista nesse preceito
"alcança apenas as hipóteses em que a vistoria ainda não
tenha sido realizada ou quando feitos os trabalhos durante
ou após a ocupação" [MS n. 24.136, Relator o Ministro
MAURICIO CORRÊA, DJ de 8.11.02]. No mesmo sentido,
o MS n. 23.857, Relatora a Ministra ELLEN GRACIE, DJ de
13.6.03.
3. A ocupação do imóvel pelos trabalhadores rurais
ocorreu após quase dois anos da data da vistoria realizada
pelo INCRA. Segurança denegada. (MS 24.984, Rel. Min.
EROS GRAU, Tribunal Pleno, DJe de 14/5/2010)

E ainda: MS 25.391, Rel. Min. AYRES BRITTO, Tribunal


Pleno, DJe de 1/10/2010.
No caso, os trabalhos de vistoria foram realizados entre
10/4/2003 e 12/4/2003 (fl. 55), e os fatos invocados pelos
impetrantes ocorreram posteriormente, em 26/6/2003 (fl. 6) e
14/1/2004 (fl. 4), o que, por si só, não faz incidir o óbice do § 6º
do art. 2º da Lei 8.629/1993. Ademais, os documentos juntados
às fls. 73/74 sugerem apenas correção ou complementação do
laudo agronômico de fiscalização, o que não corrobora a
alegação de que a vistoria só foi concluída “após a invasão” (fl.
8). Aliás, essa invasão tem relação com os fatos que deram causa

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à ação de interdito proibitório (fl. 6), os quais consistiram, na


verdade, em ameaças proferidas por membros do MST
acampados nos limites da propriedade (fl. 48), condutas que
não se confundem com as de esbulho ou de invasão
propriamente dita.

4. A outra tese de nulidade do ato impetrado se sustenta


no fato de que o INCRA teria deixado de providenciar a
averbação do início do processo de desapropriação na matrícula
do imóvel no respectivo cartório de registro, o que impediria a
transferência aos atuais proprietários, que não tinham
conhecimento da real situação da Fazenda Mandaguari. Sem
razão os impetrantes, pois o § 4º do art. 2º da Lei 8.629/1993
dispõe o seguinte:

§ 4º Não será considerada, para os fins desta Lei,


qualquer modificação, quanto ao domínio, à dimensão e
às condições de uso do imóvel, introduzida ou ocorrida
até seis meses após a data da comunicação para
levantamento de dados e informações de que tratam os §§
2º e 3º.

Assim, não pode ser oponível ao INCRA a transferência


da propriedade ocorrida em 19/9/2003, menos de seis meses
após a notificação (recebida em 2/4/2003, fl. 220/222) dos então
proprietários da Fazenda Mandaguari, os senhores Décio
Moraes Ribeiro e Guilherme Moraes Ribeiro (fl. 214), ocorrida
nos termos do § 2º do art. 2º da mesma lei:

§ 2º Para os fins deste artigo, fica a União, através do


órgão federal competente, autorizada a ingressar no
imóvel de propriedade particular para levantamento de
dados e informações, mediante prévia comunicação escrita
ao proprietário, preposto ou seu representante.

Nesse sentido:

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DESAPROPRIAÇÃO - REFORMA AGRÁRIA -


TRANSMISSÃO DA PROPRIEDADE COM
DESMEMBRAMENTO - PERÍODO CRÍTICO -
INSUBSISTÊNCIA. Consoante dispõe o § 4º do artigo 2º
da Lei nº 8.629/93, não será considerada modificação,
quanto ao domínio, à dimensão e às condições de uso do
imóvel, introduzida ou ocorrida até seis meses após a data
da comunicação para levantamento de dados visando à
desapropriação do imóvel. DESAPROPRIAÇÃO -
REFORMA AGRÁRIA - IMÓVEL - RECEIO DE
INVASÃO. O simples receio de invasão do imóvel não
configura esbulho suficiente a afastar a vistoria. (MS
24933, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal
Pleno, DJ 17-12-2004)

Mandado de Segurança. 2. Decreto presidencial que


declara, de interesse social, para fins de reforma agrária,
imóvel rural. 3. Médias propriedades rurais. Bens
insuscetíveis de desapropriação. Art. 185, I, da
Constituição Federal. 4. Desmembramento da gleba em
oito imóveis distintos, após a realização de vistoria
administrativa. Registro das frações no Cartório de
Registro de Imóveis competente em data anterior à
expedição do ato declaratório. 5. Ação Declaratória de
nulidade do desmembramento, por vício de fraude à lei,
ajuizada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária - INCRA, perante a Seção Judiciária Federal do
Paraná. Proposta de suspensão prejudicial deste mandado
de segurança. 6. Incidente processual que se resolveu com
a realização de diligência ordenada ao TRF da 4ª Região.
Informação de procedência da ação, com decisão
transitada em julgado. 7. Desconstituição dos registros
imobiliários resultantes do fracionamento. Restauração da
situação jurídica relativa ao domínio do imóvel. 8.
Entendimento espelhado em Medida Provisória que criou

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a presunção de ilegitimidade de divisões e subdivisões


ocorridas até seis meses após a data da comunicação para
realização da vistoria. 9. Mandado de Segurança
indeferido (MS 22794, Relator(a) p/ Acórdão: Min.
GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, DJ 05-11-2004)

Não obstante, consta das informações elaboradas pelo


Consultor da União, Dr. Miguel Pró de Oliveira Furtado o
seguinte:

(…) 7. Negócios de Família – Pelo menos desde 15 de


fevereiro de 1989, a fazenda pertence à família Moraes
Ribeiro: Guilherme e Décio Moraes Ribeiro. Parcialmente,
apenas 50%, no início; integralmente, a partir de 26.9.1997,
com a compra dos outros 50% feita a Theobaldo de Nigris
Júnior.
Em 9.1.2002, os proprietários, em garantia de negócio
realizados por Irmãos Ribeiro Exportação e Importação
Ltda., de que, aliás, era sócio o Sr. Décio de Moraes
Ribeiro, constituíram hipoteca desse imóvel a favor do
Banco ABN AMRO. E as coisas corriam em plena
normalidade...
Foi a notificação do Incra, realizada em 2.4.2003, que
constituiu o sinal de largada de intensa atividade dirigida
à finalidade de evitar a perda do imóvel. A azáfama
ouriçou os credores dos proprietários: provocou o protesto
contra alienação de bens de que dá notícia a Av./3835 mas
que não conseguiu impedir que, em exatos 15 dias,
precisamente no dia 19.9.2003, e “em regime de urgência”
(vide matrícula) a fazenda fosse dada em pagamento
(dação em pagamento, R.6/3835) ao Banco ABN – AMRO.
Mas, como se fora uma batata quente que ninguém quer
segurar, o Banco a vende na mesma data, pelo mesmo
preço e outra vez “em regime de urgência”...
A quem...?!
A Sumatra Cafés Brasil S.A. (50%), cujos acionistas

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são ninguém menos que os antigos arrendatários do


imóvel e que já se diziam proprietários: João Antônio Lian
(que não é Ribeiro, mas é casado com uma Ribeiro – cf.
R.9/3835) e Luiz Antônio Moraes Ribeiro, e o restante às
mesmas pessoas: (25%) a João Antônio Lian e (25%) a Luiz
Antônio Moraes Ribeiro... que são os impetrantes.
Talvez nunca, uma propriedade rural dessas
dimensões tenha tão rapidamente dado um giro de 360º,
com a estranha interposição de um banco, para voltar aos
mesmos donos. O Estado terá ganhado com a incidência
dos impostos, mas... terá sido igualmente incapaz de
impedir a desapropriação, porque feita no lapso ineficacial
de seis meses da notificação (fls. 159/160).

Com efeito, nas circunstâncias acimas descritas, não tem


sentido invocar omissão do INCRA quanto à suposta obrigação
de averbar na matrícula do imóvel o início do processo de
desapropriação – inclusive para “prevenir terceiros de boa-fé” (fl.
8) –, bem assim questionar o fato de que as notificações
continuaram a ser dirigidas aos “antigos proprietários” (fl. 7).

5. Nos termos acima, ante a ineficácia da transferência de


domínio, fica prejudicado o exame da tese de que a vistoria só
poderia ser realizada após a notificação dos atuais proprietários
da Fazenda Mandaguari (fl. 9), o mesmo ocorrendo com as
alegações referentes ao indeferimento do pedido de apreciação
da impugnação ao processo administrativo de desapropriação
(fl. 13).

6. Por fim, invocam os impetrantes a incidência do art. 7º


da Lei 8.629/1993, segundo o qual “Não será passível de
desapropriação, para fins de reforma agrária, o imóvel que comprove
estar sendo objeto de implantação de projeto técnico que atenda aos
seguintes requisitos: (...)”. Para tanto, afirmam o seguinte:

(…) apresentaram ao Superintendente do Instituto

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do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis –


IBAMA, protocolizado no dia 18 de julho de 2002, um
Projeto de Exploração Florestal, pelo qual era solicitada a
autorização para o desmate de área equivalente a 1.000,00
(um mil hectares), destinados à exploração econômica e
sustentável do imóvel rural representado pela Fazenda
Mandaguari (doc. 4).
A existência de tal projeto foi assim levada ao
conhecimento do INCRA que, todavia, ignorou a sua
existência, como também desprezou o fato de constar da
matrícula do imóvel constante do cartório de registro
competente a Av. 4/3835, de 25 de abril de 2003, referente à
averbação do assim denominado Termo de
Responsabilidade de Manutenção de Floresta Manejada,
realizada pelo anterior proprietário da área (fl. 12).

Sem razão, pois não demonstraram a satisfação da


exigência constante do inciso IV (“haja sido aprovado pelo órgão
federal competente, na forma estabelecida em regulamento, no mínimo

seis meses antes da comunicação de que tratam os §§ 2 o e 3o do art.


2º”) do art. 7º da Lei 8.629/1993, não havendo porque falar em
impedimento ao processo desapropriatório. Nesse sentido, cita-
se precedente do Plenário:

Mandado de segurança. Decreto expropriatório de


02.04.98, do Presidente da República, que declarou de
interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel
rural conhecido por "Fazenda Santa Rosa", situado no
Município de Itaberaí, Estado de Goiás. 2. Sustentação de
produtividade do imóvel, inconstitucionalidade do art. 6º,
da Lei n.º 8.629/93, violação do art. 7º, da Lei n.º 8.629/93 e
ausência de notificação prévia de que trata o § 2º do art. 2º,
da Lei n.º 8.629/93. 3. Incabível o exame da produtividade
da propriedade rural em sede de mandado de segurança.
Constitucionalidade dos incisos I e II, artigo 6º, da Lei n.º
8.629/93, proclamada pelo STF. Argumento baseado no art.

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Voto - MIN. TEORI ZAVASCKI

Inteiro Teor do Acórdão - Página 13 de 15

MS 25053 AGR / DF

7º da Lei n.º 8.629/93 não procede, pois, apesar de os


impetrantes submeterem o projeto técnico à apreciação do
INCRA, este projeto não foi avaliado. Improcedente,
também, a alegação de ausência de notificação prévia, eis
que acompanhava os trabalhos, inclusive, um assistente
técnico. 4. Mandado de segurança denegado. (MS 23148,
Relator(a): Min. NÉRI DA SILVEIRA, DJ 07-06-2002)

Ademais, a averbação acima referida ocorreu no período


defeso do § 4º do art. 2º da Lei 8.629/1993 (menos de seis meses
após a vistoria), daí a sua ineficácia, conforme já explicado em
outro tópico dessa decisão.

As razões recursais não conseguem infirmar esses fundamentos.

2. Conforme explicado na decisão agravada, as invasões a que se


aludem os impetrantes ocorreram após a realização dos trabalhos de
vistoria, daí porque não há falar no óbice à desapropriação previsto no §
6º do art. 2º da Lei 8.629/1993. Ademais, os fatos que deram ensejo à ação
de interdito proibitório consistiram apenas em ameaças por parte dos
integrantes de movimentos de trabalhadores sem terra, o que
evidentemente não se confunde com a ocorrência de esbulho.

3. Por outro lado, os impetrantes não têm razão quando sustentam


nulidade por falta de averbação na matrícula do imóvel, pois a
transferência ocorreu no período defeso previsto no § 4º do art. 2º da Lei
8.629/1993, motivo pelo qual não há falar em nulidade que possa ser
atribuída ao INCRA. De qualquer forma, conforme manifestação do
Consultor da União acima reproduzida, a transferência da propriedade se
deu entre membros de uma mesma família, inclusive com a inusitada
participação de um banco comercial que recebe o imóvel em dação de
pagamento e o aliena na mesma data, pelo mesmo preço, aos ora
impetrantes, o que fragiliza em muito a alegada necessidade de “prevenir
terceiros de boa-fé“ (fl. 8). Assim, ficou prejudicado o exame da tese de que

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Voto - MIN. TEORI ZAVASCKI

Inteiro Teor do Acórdão - Página 14 de 15

MS 25053 AGR / DF

as notificações deveriam ser dar em nome dos atuais proprietários da


Fazenda Mandaguari.

4. Por fim, quanto à alegada implantação de projeto técnico, os


impetrantes não demonstraram a satisfação de exigência prevista no
próprio dispositivo legal invocado (art. 7º da Lei 8.629/1993), motivo pelo
qual não está configurada a nulidade em questão.

5. Diante do exposto, nego provimento ao agravo regimental. É o


voto.

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Extrato de Ata - 25/11/2015

Inteiro Teor do Acórdão - Página 15 de 15

PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

AG.REG. EM MANDADO DE SEGURANÇA 25.053


PROCED. : DISTRITO FEDERAL
RELATOR : MIN. TEORI ZAVASCKI
AGTE.(S) : SUMATRA - CAFÉS BRASIL S/A
ADV.(A/S) : ROBERTO ROSAS
AGDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
ADV.(A/S) : ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO

Decisão: O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto do


Relator, negou provimento ao agravo regimental. Ausente, neste
julgamento, o Ministro Gilmar Mendes. Presidiu o julgamento o
Ministro Ricardo Lewandowski. Plenário, 25.11.2015.

Presidência do Senhor Ministro Ricardo Lewandowski. Presentes


à sessão os Senhores Ministros Celso de Mello, Marco Aurélio,
Gilmar Mendes, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Luiz Fux, Rosa Weber,
Teori Zavascki, Roberto Barroso e Edson Fachin.

Vice-Procuradora-Geral da República, Dra. Ela Wiecko Volkmer


de Castilho.

p/ Fabiane Pereira de Oliveira Duarte


Assessora-Chefe do Plenário

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