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DIREITOS
HUMANOS

PROFESSOR TUTOR

CAP BM 0157-3 JESUS DE SOUZA CASTRO

VOL 1  |  AGOSTO  |  2018


Apresentação

Essa apostila didática corresponde à disciplina Direitos Humanos.


O material foi concebido com o intuito de proporcionar um ensino de qualidade e
contemplará conteúdos direcionados a formação do futuro Sargento do Corpo de
Bombeiros Militar de Rondônia, profissional esse, imprescindível para as ações do
comando no seio da tropa.
Quando se fala em estudo a distância, a primeira impressão é a de que você estará
sozinho, fisicamente sim, porém lembre-se que durante a sua caminhada nesta
disciplina estará a sua disposição uma equipe de professores que lhe auxiliará nos
estudos através do ambiente virtual da EAD-CBMRO.
Então, sempre que sentir necessidade fale com instrutor ou monitor da disciplina,
pois sua aprendizagem é o nosso principal objetivo.

Bom estudo e sucesso!


Sumário

Apresentação .................................................................................................................... 3
Palavras do Instrutor ......................................................................................................... 5
Carga horária / Objetivos da disciplina/Introdução ............................................................. 6
1. ASPECTOS HISTÓRICOS .................................................................................................. 7
1.1 Um olhar aos antecedentes dos Direitos Humanos ...................................................... 11
2. GERAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS...............................................................................12
2.1 Teoria Geracional de Karel Vasak................................................................................ 12
3. BOMBEIRO, CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS ............................................................ 18
4. ASPECTOS SOCIOLÓGICOS E DEMOCRÁTICOS QUE CONTRIBUI PARA A PROMOÇÃO DOS
DIREITOS HUMANOS ....................................................................................................... 20
4.1 Plano Social ............................................................................................................... 20
4.2 Aspectos da Democracia ............................................................................................. 20
5. O BOMBEIRO MILITAR E OS GRUPOS VUNERÁVEIS ........................................................21
6. PRINCIPIOS E NORMAS DE CONDUTA PARA FUNCIONÁRIOS RESPONSÁVIES PELA
APLICAÇÃO DA LEI ........................................................................................................... 21
6.1 Código de Conduta para Funcionário Responsáveis pela aplicação da
Lei 21
7. LEGISLAÇÃO ................................................................................................................. 22
7.1 Constituição da República Federativa do Brasil ............................................................22
7.2 Declaração Universal dos Direitos dos Humanos ......................................................... 24
CONCLUSÃO .................................................................................................................... 29
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................... 31
Palavras do Instrutor

Senhores Alunos,

A disciplina de Direitos Humanos é fundamental para a formação do futuro sargento,


pois a dignidade da pessoa humana deve ser reconhecida como algo inerente a todo ser
humano.
No Brasil com o advento da Constituição de 1988, este País alcançou a condição de
Estado Democrático de Direito, ou seja, as pessoas têm direitos claramente definidos em
nossa Carta Magna, assim, o cidadão pode fazer tudo o que a lei não proíbe. De outra
banda, os servidores públicos apenas podem fazer o que a lei autoriza.
Dessa forma, é comum vermos estampados nos telejornais notícias relacionadas a
violação dos Direitos Humanos, praticadas por mal profissionais de segurança pública, que
por serem a minoria, não representam a essência de conduta dos agentes de segurança do
Brasil.
No CBMRO é diferente, pois sustentamos a condição de sermos uma das instituições
mais confiáveis entre os bombeiros militares do Brasil, tudo devido ao nível técnico-
profissional dos nossos bombeiros e a atuação dentro da legalidade. No entanto, fatos
passados já levaram o Estado de Rondônia a responder na Corte Internacional de Direitos
Humanos, devido a excessos praticados por servidores em ação. Não cabe a nós o
julgamento de tais ações, mas tão somente, aprender com os erros do passado para que
eles não venham a ocorrer novamente.
Por fim, antes de iniciarmos os estudos relacionados aos Direitos Humanos, externo
a vontade de que todos os assuntos tratados neste material didático, não sejam apenas
estudados durante o curso, mas sejam postos em prática no dia-a-dia do futuro sargento em
suas ações na segurança pública e que ele sirva ainda, como fonte de estudos
complementares nas outras áreas do direito e cursos futuros.

PROFESSOR TUTOR

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Carga horária
A carga horária total da disciplina é de 20 horas-aula.
Objetivos da disciplina

Geral
Compreender os Direitos Humanos como condição inerente a todo ser humano e a
importância dos dispositivos ratificados internacionalmente, relacionados à dignidade da
pessoa humana.

Específicos
Criar condições para que o profissional da área de segurança pública possa:
Identificar os principais aspectos éticos, filosóficos, históricos, culturais e políticos para a
compreensão do tema dos Direitos Humanos;
Analisar de modo crítico a relação entre a proteção dos Direitos Humanos e a ação
do profissional de Segurança Pública.
Demonstrar a relação entre a cidadania do profissional da área de segurança pública
e o fortalecimento da sua identidade social, profissional e institucional.
Reconhecer e debater os princípios constitucionais e as normas dos Direitos
Humanos que regem a atividade do profissional da área de segurança pública.

Introdução

Você sabia que a ideia de Segurança Pública expressa um conjunto de garantias


exigidas do Estado para a tutela dos Direitos Fundamentais dos cidadãos, como a
integridade física ou a garantia de segurança do patrimônio?
Nesse sentido, o agente da autoridade do Estado tem a obrigação de orientar o seu
comportamento e decisões em critérios ou padrões que representem os anseios morais,
considerados justos e corretos pelos membros desta sociedade.
Por isso, podemos afirmar que desejamos que a Instituição Bombeiro Militar seja
concebida como uma organização a “Serviço da Cidadania”, o que pressupõe a vigência,
desde seus procedimentos mais corriqueiros, de métodos de ação, conteúdo e objetivos
orientados para a salvaguarda dos Direitos Humanos.

Conforme Holanda (2011, p. 4):

“Tratar, no âmbito da Segurança Pública, do complexo


assunto – Direitos Humanos –É preciso paciência,
persistência, de atitudes e opções pelo respeito inegociável

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à lei, que deve ser igual para todos. A violência não deve
ser tolerada sob nenhum pretexto, pois qualquer nível de
aceitação é o bastante para contaminar todos os demais.”

Portanto, o respeito aos Direitos Humanos é algo que se deve agregar à função
Bombeiro Militar. Antes disso, trata-se da própria substância da ação do bombeiro fazer
respeitar os Direitos Humanos. Assim, ou o bombeiro militar serve para isso ou não deve
esperar dela qualquer resultado efetivo quanto à Segurança Pública.
Holanda (2011), destaca ainda que dentre estes valores devem estar:

a) a compreensão do Serviço Bombeiro Militar como uma verdadeira missão, em


benefício da comunidade, implicando dedicação e responsabilidade por parte do
agente;
b) coragem e destemor, balizados pelo equilíbrio e pela prudência, a fim de que, quando
impossível uma solução pacífica, o emprego da força seja feito com critério e medida;
c) Espírito de disciplina que exige alta compreensão da hierarquia, não como um
privilégio, mas sim, como uma escala de direitos e deveres, essencial à preservação
da ordem pública;
d) A necessidade do respeito físico, moral e o psíquico, devido à pessoa do criminoso
(vitima) ou de quem esteja sendo objeto de alguma incriminação legal;
e) Dignidade da carreira militar que envolve e exige um comportamento isento, dentro
e fora dos quartéis;
f) Consciência permanente de que o exercício da função militar deve sempre obedecer aos
imperativos da Constituição e das leis do País;
g) E por fim, a firme convicção de estar sendo exercida uma função essencial, tanto para o
bem dos indivíduos, como da coletividade, redundando em aperfeiçoamento intelectual e
moral do Sargento.

1. ASPECTOS HISTÓRICOS

Os antecedentes históricos dos Direitos Humanos remontam ao Iluminismo Europeu,


movimento cultural e filosófico vigente nos séculos XVII e XVIII. Nesta época, Rousseau
realizou estudos em sociedades primitivas e nelas redescobriu valores perdidos pela
civilização ocidental, tais como liberdade, igualdade e fraternidade. O solo oferecido pelas
idéias iluministas é fecundo, pois nele o Homem torna-se o centro das preocupações – não
mais o império do fanatismo e da fé religiosa, conceitos dominantes na era medieval, mas
sim o da razão e o da Ciência. É neste contexto que nascem os Direitos Humanos.
Alguns governos europeus, guiados por estas ideias, vão aos poucos eliminando a
tortura e a pena de morte. A Revolução Francesa, ocorrida em 1789, é mais um passo
decisivo na direção do estabelecimento de novos valores humanos, de uma sociedade
inspirada por uma atmosfera de igualdade social. Sua famosa bandeira de luta é até hoje a

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que também os adeptos da luta pelos direitos humanos sustentam – Liberdade, Igualdade
e Fraternidade. O resultado essencial desta sublevação foi a instituição da Declaração de
Direitos do Homem e do Cidadão, promulgada pela Assembleia Nacional Constituinte
Francesa, no dia 26 de agosto de 1789.
Durante o século XIX, na esfera política, clama-se principalmente por igualdade.
Enquanto os liberais encontram a solução desta questão no estabelecimento de direitos
civis e políticos, os socialistas acalentam a utopia da igualdade socioeconômica. Neste
sentido, no auge da Revolução Industrial Europeia, que se baseiam sobre o abuso da mão-
de-obra dos operários, as lutas pelos direitos humanos e pela melhoria das condições de
trabalho estão profundamente conectadas. Assim seguem, associadas, estas
reivindicações, pois o aprimoramento das solicitações dos trabalhadores intensifica, por sua
vez, o campo das demandas relativas aos direitos do Homem, que trazem em si o germe da
justiça social.
Pode-se dizer que os Direitos Humanos nascem com o homem. As raízes do
conceito se fundem com a origem da História e a percorrem em todos os sentidos. Muitos
princípios de convivência, de justiça, e a própria ideia de dignidade da pessoa humana,
aparecem em circunstâncias muito diversas, coincidindo entre povos separados pelo tempo.
O mundo moderno, fruto de sua retrospectiva histórica e principalmente sofrendo os
efeitos da 1ª e 2ª Guerra Mundial, durante a realização da Assembleia Geral da
Organização das Nações Unidas (ONU) adotou, em 10 de dezembro de 1948, na cidade de
Paris a Declaração Universal dos Diretos Humanos, que passa a ser o marco
contemporâneo inspirador para a elaboração das constituições de diversas nações,
constituindo o primeiro documento a fixar internacionalmente uma relação de direitos
pertencentes tanto a homens quanto a mulheres, independente de classe social, raça ou
faixa etária. Já o preâmbulo da Declaração dos Direitos do Homem e do cidadão, de 1789,
dizia:
“Os representantes do povo francês, reunidos em
assembleia Nacional, tendo em vista que a ignorância, o
esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem são
as únicas causas dos males públicos a da corrupção dos
governos, resolveram declarar solenemente os direitos
naturais, inalienáveis e sagrados do homem, a fim de que
esta declaração, sempre presente em todos os membros
do corpo social, lhes lembrem permanentemente seus
direitos e seus deveres”

É um passo fundamental para a Humanidade que governos de toda parte do Planeta,


ao menos na teoria, se comprometam a defender estes direitos. Antes dela, a Constituição
Mexicana de 1917 era considerada a mais atualizada em termos de direitos sociais.

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Infelizmente, apesar de todos os avanços, têm sido constantes as violações aos direitos
humanos, as denúncias não cessam de brotar aqui e ali, por toda parte – em regimes de
esquerda e de direita, e as atuais denuncias estão ligadas diretamente ao Governo do
Estados Unidos, em nome da luta contra o terrorismo.
Direitos Humanos é o conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser
humano que tem por finalidade básica o respeito à sua dignidade, por meio de sua
proteção contra o arbítrio do poder estatal e o estabelecimento de condições mínimas
de vida e desenvolvimento da personalidade humana.
Um direito é um título. É uma reivindicação amparada legalmente, que uma pessoa
pode fazer para com a outra. Os direitos humanos são títulos legais que toda pessoa possui
como ser humano. São universais e pertencem a todos, rico ou pobre, homem ou mulher.
Os direitos humanos podem ser resumidos de uma forma bem simples – direitos à vida, à
integridade física e moral, à igualdade, à liberdade de pensamento, de expressão, de
reunião, de associação, de manifestação, de culto, de orientação sexual, à felicidade, ao
devido processo legal, à objeção de consciência, à saúde, educação, habitação, lazer,
cultura e esporte, trabalhistas, ao meio ambiente, do consumidor, a não ser vítima de
manipulação genética.
Enquanto alguns dicionários definem a palavra “direito” como “um privilégio”, quando
usada no contexto dos “direitos humanos”, estamos a falar de algo mais básico.
Todas as pessoas estão intituladas a certos direitos fundamentais, simplesmente
pelo fato de elas serem um ser humano. Estes são chamados de “direitos humanos”. Eles
não são apenas privilégios, que podem ser tirados por capricho de alguém.
São “direitos” porque são coisas que lhe são permitidas ser, fazer ou ter. Estes
direitos estão aí para a sua proteção contra pessoas que poderão querer prejudicá-lo ou
magoá-lo. Estão também aí para nos ajudar a darmo-nos bem uns com os outros e a viver
em paz.
Muitas pessoas sabem algo sobre os seus direitos. Geralmente elas sabem que têm
o direito à alimentação e a um lugar seguro onde ficar. Elas sabem que têm direito a serem
pagas pelo trabalho que fazem. Mas, para, além disso, existem muitos outros direitos.
Quando os direitos humanos não são bem conhecidos pelas pessoas, abusos como
a discriminação, a intolerância, a injustiça, a opressão e a escravidão podem surgir.
Os direitos humanos apresentam dois aspectos:
Um aspecto formal, onde eles aparecem como “direitos propriamente ditos”,
garantidos numa constituição.
Um aspecto material, onde são valores pré-constitucionais, produtos de culturas
civilizadas, determinando o conteúdo desses direitos nas constituições. Podem ser
classificados em quatro grupos conforme a tabela a seguir:

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São àqueles que têm por titular o indivíduo. São oponíveis ao
Estado, traduzem-se como faculdades ou atributos da pessoa e
Direitos de Liberdade ostentam uma subjetividade que é o seu traço mais marcante.
Estes direitos requerem uma prestação positiva do Estado que
deve agir no sentido de oferecer estes direitos que estão a
Direitos Sociais proteger interesses da sociedade, ou sociais propriamente ditos.
Os direitos econômicos são aqueles direitos que estão contidos
em normas de conteúdo econômico, que viabilizarão uma
Direitos Econômicos política econômica. Abrangem o direito de pleno emprego,
transporte integrado à produção, direito ambiental e direitos do
consumidor.
São direitos de participação popular no Poder do Estado, que
resguardam a vontade manifestada individualmente por cada
Direitos Políticos eleitor, mas são necessários requisitos para que os indivíduos
possam exercê-los.

Os Direitos Humanos apresentam como características:

São direitos intransferíveis e inegociáveis porque não são de


Inalienabilidade conteúdo econômico patrimonial.
O exercício de boa parte dos direitos fundamentais ocorre só no fato
Imprescritibilidade de existirem reconhecidos na ordem jurídica e nunca deixam de ser
exigíveis.
Não se renunciam direitos fundamentais, alguns deles podem até não
Irrenunciabilidade ser exercidos, pode-se deixar de exercê-los, mas não se admite que
sejam renunciados.
São decorrentes do processo histórico da humanidade, eles nascem,
Historicidade
se ampliam e se modificam com o correr dos tempos.
Ressalta a impossibilidades dos direitos fundamentais (à vida, à
Inviolabilidade
igualdade. à liberdade, à segurança e à propriedade) não serem
observados por autoridades públicas ou infraconstitucionais, sob
pena de responsabilização civil, penal e administrativa.

A razão principal dos direitos humanos é lidar com um tipo específico de violação – o
abuso de poder pelo Estado. Os padrões internacionais de direitos humanos têm o objetivo
de prevenir que as pessoas se tornem vítimas desse abuso, assegurá-las e protegê-las caso
isto aconteça. Algumas violações de direitos humanos são atos criminosos por si só, como
por exemplo, a tortura.
A violação de direitos humanos somente pode ser cometida por uma pessoa com a
autoridade e poder conferidos pelo Estado e a exercê-la em seu nome. Nenhum criminoso
ou terrorista tem essa dignidade ou esse poder. Quando criminosos ou terroristas ferem ou

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matam pessoas eles cometem atos criminosos, mas não cometem violações de direitos
humanos. Isto não reduz o mal que fizeram e devem ser punidos pela lei pelos crimes
cometidos.
Este ponto também pode ser ilustrado considerando-se a ação de um
bombeiro. Se este bombeiro, durante seu trabalho, agride fisicamente um suspeito
durante uma entrevista ou depoimento, intimidando essa pessoa a confessar um
crime, essa ação seria considerada criminosa (lesão corporal ou tortura), mas
também seria uma violação aos direitos humanos (proibição de tratamento
degradante ou tortura). Mas, se por outro lado um bombeiro não estando de serviço,
agindo por conta própria venha a agredir alguém, esta ação seria criminosa, mas não
uma violação dos direitos humanos.
Em ambos os casos apresentados o Bombeiro deverá ser punido pela lei
criminal de seu país, mas, no primeiro exemplo, a vítima tem o direito de proteção e
indenização do Estado.

1.1 UM OLHAR AOS ANTECEDENTES DOS DIREITOS HUMANOS

Originalmente, as pessoas só tinham direitos por causa de pertencerem a um grupo,


tal como uma família. Então, em 539 A.C., Ciro o Grande, depois de conquistar a cidade da
Babilónia, fez algo totalmente inesperado: ele libertou todos os escravos para que eles
pudessem regressar aos seus lares. Além disso, ele declarou que as pessoas deveriam
escolher a sua própria religião. O Cilindro de Ciro, uma peça de argila que contém as suas
afirmações, é a primeira declaração dos direitos humanos na história.

A ideia dos direitos humanos espalhou-se rapidamente à Índia, à Grécia e finalmente


a Roma. Os avanços mais importantes desde então incluem:

1215: A Magna Carta — que deu novos direitos às pessoas e tornou o rei sujeito à lei.

1628: A Petição de Direito — que definiu os direitos do povo.

1776: A Declaração de Independência dos Estados Unidos — que proclamou o direito à


vida, liberdade e à busca da felicidade.

1789: A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão — um documento da França,


que afirmou que todos os cidadãos eram iguais perante a lei.

1948: A Declaração Universal dos Direitos do Homem — o primeiro documento que lista
os trinta direitos de que deve gozar cada ser humano.

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2. GERAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS:

A positivação dos direitos que hoje são alcunhados de fundamentais e que


correspondem, de mais a mais, às gerações de direitos humanos deu-se, nas variadas
Cartas Fundamentais, em correspondência ao transcurso da história da humanidade e
efetivamente se completa no ordenamento jurídico pátrio, com a proporção que hoje se
concebe, com a promulgação da Constituição Cidadã de 1988, como uma conseqüência
histórica da mudança dos direitos naturais universais em direitos positivos particulares, e,
depois, em direitos positivos universais.

Direitos positivos X Direitos naturais


O direito positivo é posto pelo Estado; o natural, pressuposto, é superior ao Estado.
O direito positivo é válido por determinado tempo (tem vigência temporal) e base territorial.
O natural possui validade universal e imutável (é válido em todos os tempos).
O direito positivo tem como fundamento a estabilidade e a ordem da sociedade. O natural se
liga a princípios fundamentais, de ordem abstrata; corresponde à ideia de Justiça.

2.1 TEORIA GERACIONAL DE KAREL VASAK (1979)


A teoria das gerações foi desenvolvida por Karel VASAK, em 1979, tal teoria é fruto
de uma Conferência no Instituto Internacional de Direitos Humanos de Estrasburgo (França)
– 1979.
Em breve síntese, a teoria das gerações é uma relação entre direitos e o lema da
revolução francesa: liberté, egalité et fraternité (liberdade, igualdade e fraternidade). É o
que vemos por este fluxograma:

A primeira geração seria os direitos de liberdade, individuais, civis e políticos.


Ou seja, um direito vocacionado às prestações negativas, abstendo-se o Estado (dever de
proteger a esfera de autonomia do indivíduo). É possível também um papel ativo desses
mesmos direitos, como lembra André de Carvalho RAMOS, "pois há de se exigir ações do
estado para garantia da segurança pública, administração da justiça, entre outras".

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Por conseguinte, a segunda geração consiste nos direitos voltados à igualdade
(econômicos, sociais e culturais - próprios de um vigoroso papel ativo do Estado). Nestes,
podemos identificar duas espécies, com base na doutrina de André de Carvalho RAMOS,
assim: (i) direitos sociais essencialmente prestacionais, bem conhecidos por todos (ex.:
pedido de medicamentos a favor de um necessitado), e (ii) os direitos sociais de abstenção
(ou de defesa), com os quais o Estado deve se abster de interferir de modo indevido (ex.:
liberdade de associação sindical; direito de greve...).
E, para ficar claro, a terceira geração trata dos direitos de titularidade da
comunidade (direitos de solidariedade/fraternidade). Exemplo singelo é o meio
ambiente, na famosa indagação de Mauro CAPPELLETTI: "A quem pertence a titularidade
do ar que eu respiro?".

2.2 O COMEÇO DA CRIAÇÃO: quarta, quinta, sexta, sétima e oitava


gerações.
Superada as considerações iniciais a respeito da teoria geracional, cabe apontar que
alguns doutrinadores começam a inovar, teoricamente, na ordem jurídica a respeito da teoria
geracional, criando abruptamente mais e mais "gerações" (ou melhor: espécies de direitos),
sem que, pelo menos, existisse um novo gênero geracional capaz de abarcar esses
"novos" direitos geracionais, os quais, na verdade, continuam sendo espécies das três
gerações de Karel VASAK.

A começar com a quarta geração (concebida no século XX), resultado da


globalização dos direitos humanos (o universalismo), cuja qual fora criada por Paulo
BONAVIDES. Para o teórico, alguns motivos evidenciam a exigência de se criar uma quarta
geração, como, por exemplo: o direito de participação democrática (democracia direta), o
direito ao pluralismo, o direito à bioética e aos limites da manipulação genética. Ou seja,
fundados na defesa da dignidade da pessoa humana contra intervenções abusivas de
particulares ou do Estado.

Nessa linha, não é descomedido sustentar que seriam - todos esses exemplos da
"quarta geração" - inclusos e provenientes da terceira geração, eis que qualquer instituto
voltado à sociedade deve prestar sua função para com a solidariedade/fraternidade, numa
perspectiva, de certa maneira, de "função social", estando eles, portanto, inseridos na
terceira geração, e não como motivo inusitado/novo para a criação de uma extraordinária
quarta geração.

Para tanto, se um instituto não se classifica como de primeira nem como de segunda
geração, olha-se para ele com um viés social/fraternal, em prol da sociedade (digo: em
um viés coletivo), porque são direitos de ordem pública, a toda coletividade importa, da qual
ninguém pode se titularizar como único possuidor/proprietário/detentor, quiçá hipótese
de domínio. Não por outro motivo, esse fundamento corresponde à terceira geração
(fraternidade).

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Por conseguinte, Paulo BONAVIDES ainda insiste numa quinta geração, composta
pelo direito à paz em toda a humanidade (classificada por Karel VASAK como sendo de
terceira geração, salienta Paulo BONAVIDES, em seu Curso de direito constitucional).

Sem aprofundamentos, percebe-se, a bem dizer, o atrelamento intrínseco que há


entre o direito à paz e a terceira geração. O mais curioso é que Paulo BONAVIDES, o
próprio criador da quinta geração, confessa o seu recrudescimento à criação, mormente
quando diz que a quinta pertence ao gênero da terceira geração (lembrando Karel
VASAK). Mais uma vez tenho dúvidas da viabilidade/usabilidade de se singularizar a espécie
de seu gênero, como se gênero fosse.

Continuando, a sexta geração os teóricos a colocam como direitos relacionados


à bioética. Mas cabe salientar que Paulo BONAVIDES já à inseria no campo da quarta
geração de direitos, defendendo a participação democrática, o direito ao pluralismo, bioética,
limites à manipulação genética, como tratado alhures; isto é, tudo fundado na defesa da
dignidade da pessoa humana contra intervenções abusivas de particulares ou do Estado
(explica: André de Carvalho RAMOS).

Adentram à temática da sexta geração, ainda, os defensores da água potável. E por


mais que seja considerada como pertencente à terceira geração/dimensão, esses
respeitosos teóricos, não satisfeitos por considerá-la de terceira dimensão, acrescentam-na
como espécie de direito capaz de gerar a sexta geração/dimensão, sob o fundamento de
que o direito à água potável está destacado e alçado a um plano justificador de
nascimento como nova dimensão de direitos (mais sobre: Zulmar FACHIN; Deise Marcelino
SILVA).

É inevitável a caracterização do direito à água potável, doravante por ser


considerada como essencial à vida; contudo, isso já se sabe e está protegido, com base na
terceira geração/dimensão.

Quer-se dizer com isso: qual a finalidade de se criar uma nova dimensão/geração
para um direito que já pode ser incluído em uma das gerações/dimensões? Mais vale a sua
constatação como um direito do que classificá-lo como uma "nova geração de direitos".

Seria até mesmo um excesso de minúcia - ou mesmo impossível de se pensar em


um rol exaustivo de direitos fundamentais e/ou humanos - toda e qualquer norma jurídica
elencar "as gerações/dimensões dos direitos humanos e suas espécies", ante patente
premissa doutrinária existente de abertura do rol de direitos humanos no âmbito
internacional, marcada e presente no Brasil pelo princípio da não exaustividade (art. 5º, §2º,
da Constituição de 1988), até mesmo porque:

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Uma sociedade pautada na defesa de direitos (sociedade inclusiva) tem várias
consequências. A primeira é o reconhecimento de que o primeiro direito de todo indivíduo
é o direito a ter direitos. Arendt e, no Brasil, Lafer sustentam que o primeiro direito
humano, do qual derivam todos os demais, é o direito a ter direitos (LAFER, Celso. A
reconstrução dos direitos humanos: um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt. São
Paulo: Cia. das Letras, 1988).

Visualiza-se mais uma vez a preocupação com o excesso de minúcias. Deveras


próprio de um país vocacionado aos princípios da civil law (tradição jurídica oriunda do
sistema romano-germânico), burocrático e diretrizado em especificações legislativas altas
(próprio de um Estado liberal), de modo que, para esta ideologia neoliberal, entende-se, o
que não está na lei não é passivo de cumprimento.

Porém, esquecem-se que de civil law o Brasil, hoje, pouco tem a oferecer. Não por
outro motivo, fala-se de uma tradição jurídica brazilian law, constatando-se ser a tradição
jurídica brasileira singular e bem peculiar do que as demais pertencentes a outros países
estrangeiros.

A sétima geração de direitos humanos seria o direito à impunidade do


investigado/indiciado/réu/apenado.

Aqui apresentamos a sociedade jurídica brasileira um moderno direito de sétima


geração ou sétima maravilha do mundo: Direito a Impunidade.

Do ponto de vista léxico, impunidade significa aquilo que não foi punido, que escapou
ao castigo.

Segundo conceito Wikipediano, do ponto de vista subjetivo, a impunidade consiste


na sensação compartilhada entre os membros de uma sociedade no sentido de que a
punição de infratores é rara e/ou insuficiente. Disso deriva uma cultura marcada pela
ausência de punição ou pela displicência na aplicação de penas. Nessa “definição”, podem
ser incluídos casos que não se enquadram no aspecto técnico acima descrito:

 Lentidão excessiva no julgamento, que oferece ao suspeito mais liberdade do


que "mereceria";
 Penas mais brandas do que as esperadas pela sociedade ou parte dela.

Pode-se afirmar que o incremento da impunidade em nosso meio é multicausal.

Algumas causas merecem citação: escassez na matemática logística do sistema de


defesa e controle social, parcos recursos humanos, a morosidade na prestação de justiça

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efetiva, a fragilidade legislativa, o grande rol de benefícios processuais aos acusados em
geral, como liberdade provisória, transação penal, conciliação penal, suspensão processual,
livramento processual, saída temporária, delação premiada, detração penal, remição penal,
inclusive pelo estudo, Lei 12.433/2011, indulto, anistia, perdão judicial, tudo isso em
detrimento social, a ausência de espírito comunitário de grande parte dos agentes públicos e
o comportamento extremista de pseudo-operadores do direito levam a concretização do
direito a IMPUNIDADE.

Nos dias atuais o delinquente tem certeza que em praticando qualquer lesão social o
seu direito a impunidade será assegurado, com todos os recursos a ele inerentes. A prisão
requer tempo para conclusão do processo. O cidadão em conflito com a lei possui uma
indústria da liberdade provisória a seu favor, agora com maior incidência em função da
vigência das chamadas medidas cautelares introduzidas pela Lei 12.403/11, um modelo
previsto no artigo 197 do Código de Portugal, e que alguém pensou um dia que serviria para
o Brasil. E quando aparece alguém para quebrar o sistema ou rede de impunidade, ele é
expurgado a todo custo e assazmente criticado nos corredores da injustiça.

O mais preocupante é que a corrente da sétima geração, que sustenta esse


posicionamento, e ao que nos parece, posiciona-se contra garantismos penais
e processuais, enfim, se contradiz à própria sistemática da matéria de Direitos Humanos, a
qual não se compatibiliza com um tendencioso direito à impunidade, e sim o
impede (RAMOS, 2014, p. 324 e 327):

O preâmbulo do Estatuto de Roma realça o vínculo entre o direito penal e a proteção


de direitos humanos por meio do combate à impunidade e, consequentemente, evitando
novas violações. No preâmbulo, estabeleceu-se que é dever de cada Estado exercer a
respectiva jurisdição penal sobre os responsáveis por crimes internacionais, pois crimes de
tal gravidade constituem uma ameaça à paz, à segurança e ao bem-estar da humanidade.

É notável como a seara internacional combate vigorosamente o direito à impunidade;


ao passo que, por sua vez, se defende o direito à verdade, o direito à justiça das vítimas.

O caso de maior repercussão, ainda hoje, é no tocante à Lei de


Anistia, porquanto não haver convencionalidade entre o Supremo Tribunal Federal e a Corte
Interamericana de Direitos Humanos. O Supremo entende a Lei de Anistia como sendo
constitucional (fundamentação com base no ordenamento jurídico interno); já, para a Corte,
consagra-se a Lei de Anistia inválida, porquanto violadora dos arts. 8º e 25 da Convenção
Americana de Direitos Humanos (com fulcro no sistema regional de direitos
internacionais). Mais sobre o posicionamento da Corte (RAMOS, 2014, p. 312, 313 e 315):

15
Caso Barrios Altos vs. Peru (sentença de 14-3-2001). Este caso faz referência a um
massacre ocorrido em Lima, inserido nas práticas estatais de extermínio conduzido pelo
Exército peruano de Fujimori. As leis de anistia que impediram a responsabilização criminal
dos indivíduos ligados ao massacre foram consideradas pela CtIDH incompatíveis com as
garantias outorgadas pelos arts. 8º e 25 da CADH. Este caso é paradigmático por
estabelecer a invalidade das leis de anistia de medidas que impliquem a impunidade de
agentes responsáveis por graves violações de Direitos Humanos (ver também sobre esse
tema os comentários aos casos Almonacid – Chile e Gomes Lund-Brasil).

• Caso Almonacid Arellano y otros vs. Chile (sentença de 26-9-2006)

A Corte decidiu pela incompatibilidade entre uma lei de anistia e o Pacto de San José da
Costa Rica, condenando o Chile pela ausência de investigação e persecução criminal dos
responsáveis pela execução extrajudicial do Sr. Almonacid Arellano, durante a ditadura de
Pinochet. Diferentemente do que ocorrera no Peru (Barrios Alto, conforme estudado acima),
contudo, no Chile já tinha sido estabelecida uma Comissão da Verdade e outorgada
reparação material e simbólica, dos quais os familiares de Sr. Almonacid Arellano se
beneficiaram. Mesmo assim, a Corte determinou o cumprimento da obrigação de
investigação, persecução e punição criminal e dos violadores bárbaros de direitos humanos,
não sendo aceitável anistia a um grave crime contra a humanidade. O Chile foi
condenado então, pela violação do direito à justiça das vítimas, graças a uma interpretação
ampla dos arts. 8º e 25, em relação aos arts. 1.1 e 2º da Convenção.

Podemos verificar, finalmente, que a intenção dos defensores da sétima


geração tenha sido mais a de alertar o leitor sobre o fenômeno da impunidade, presente no
nosso sistema penal e processual brasileiro, do que propriamente levar-nos a alçar a
problemática (impunidade) a um gênero de direito.

E, agora, a oitava geração: o direito à segurança pública.

A oitava geração, como as outras, é nada mais que uma nova espécie (sem um
porquê de existir única e exclusivamente isolada). Longe está, a segurança pública, de não
pertencer à teoria geracional de Karel VASAK, seja na primeira, segunda ou terceira. Não é
incomum. Até mesmo porque, determinado direito, por vezes, pode estar sujeito a mais de
uma categoria jurídica, tudo a depender da finalidade a que se quer dar aquele direito
(objeto da interpretação/categorização).

Sucede que esses dois pontos. Um: o criacionismo geracional brazilian. Outro: a
teoria geracional. Ambos sofrem críticas.

16
Resumindo-os (RAMOS, 2014, p. 70): a) substitui uma geração por outra; b) a
enumeração de gerações gera a ideia de antiguidade ou posteridade dos direitos; c) os
direitos são apresentados de forma fragmentada, ofendendo a indivisibilidade dos direitos
humanos; d) dificulta as novas interpretações sobre o conteúdo dos direitos.

A título de curiosidade e pondo um ponto final a este segundo subtema do presente artigo,
no campo jurídico-jurisprudencial brasileiro, o Supremo Tribunal Federal vem adotando, pelo
menos é o que aparenta, com base na decisão infra, a corrente geracional "clássica" de
Karel VASAK (primeira, segunda e terceira gerações/dimensões) já citadas anteriormente.

3. BOMBEIRO, CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS

Você sabia que o autor do clássico “A Reconstrução dos Direitos Humanos”


(Companhia das Letras, 1991), Celso Láfer, afirmou, em Nova Iorque, que o Brasil é uma
nação predestinada à civilidade. Mais adiante, defendeu os valores inerentes à democracia,
o pluralismo, o respeito à vontade da maioria, a tolerância com o outro, a busca do
consenso e o primado do direito.
Não há nada que justifique o desrespeito aos direitos das minorias culturais,
religiosas e étnicas, qualquer que seja o pretexto, pois a igualdade só é real quando se
respeita o diferente, o heterogêneo. Isto precisa ser muito bem compreendido e praticado.
Como afirma Austragésimo de Athayde, o principal redator da Declaração Universal dos
Direitos do Homem (Paris, 1948), o respeito aos Direitos Humanos é universal, não podendo
ser violado de nenhuma forma.
Assim, Direitos Humanos e Cidadania são conceitos que estão ligados à nossa
atividade de Bombeiro, pois envolvem o exercício de nossas funções, balizando-as e
tornando-as instrumentos de maior importância para a avaliação do resultado de nossas
atividades. Qualificam-nas. São importantes, não somente os resultados, mas os
instrumentos e técnicas utilizadas para alcançá-los, de forma perene, democrática e que
satisfaça e traga confiança à população em geral.
A devida compreensão dos Direitos Humanos e
Cidadania nos remetem às origens do Estado.
Como conceito de Estado, um dos mais comuns é a
confluência de uma população permanente,
território definido e governo, que juntos, são
organizados, e procuram pela sua
autodeterminação e soberania interna e externa
(Convenção de Montevidéu sobre os Direitos e
Deveres dos Estados, 1933).

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Até os dias atuais, o conceito de Estado/Governo mudou muito. Passamos por
autocracias, plutocracias, aristocracias, e finalmente, a democracia. Se este modelo é bom
ou ruim, depende da participação de cada um. O Brasil é país signatário das Convenções de
Genebra, de Haia e da Carta da ONU (membro fundador).
Além disso, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, fica
constitucionalmente assegurado o respeito aos tratamentos internacionais que expressam
os direitos e as garantias relativos aos indivíduos quanto a sua integridade física, psíquica e
moral. (Parágrafos 1° e 2°, do art. 5°, CF/88).
O Bombeiro Militar cidadão é antes de tudo uma pessoa, e como tal, deve ser tratado
e deve tratar seus semelhantes. A sociedade espera que o Bombeiro Militar seja equilibrado,
coerente, legalista, respeitoso, e principalmente que tenha orgulho em exercer atividade tão
importante para a dignidade da pessoa.
Para que o Bombeiro desenvolva sua atividade dentro dos parâmetros de excelência
dos serviços, ele deve observar vários princípios indispensáveis a sua função. A Carta
Magna de 1988 menciona as palavras cidadania e nacionalidade que, sob o aspecto
jurídico, são conceitos inconfundíveis. Contudo, na linguagem popular, é comum que sejam
empregados com o mesmo sentido.
A cidadania além de ser um princípio fundamental, sob o aspecto formal, é um status
ligado ao regime político, onde a pessoa adquire seus direitos mediante o alistamento
eleitoral, na forma da lei.
Nos Estados democráticos de Direito, como o brasileiro, a Cidadania vai além do
direito de escolha dos governantes ou do poder de ser escolhido governante. A plenitude da
Cidadania implica numa situação onde cada pessoa possa viver com decência e dignidade,
através de direitos e deveres estabelecidos pelas necessidades e responsabilidades do
Estado e das pessoas.
A configuração do Estado Democrático de Direito não significa apenas unir
formalmente os conceitos de Estado Democrático e Estado de Direito. Consiste, na verdade,
na criação de um conceito novo, que supera na medida em que incorpora um componente
revolucionário de transformação do status quo. O artigo 1º da Constituição Federal afirma
que a República Federativa do Brasil se constitui em Estado Democrático de Direito.
A democracia que o Estado Democrático de Direito realiza há de ser um
processo de convivência social numa sociedade livre justa e solidária (Art. 3º I, CF).
A legalidade é também um princípio basilar do Estado Democrático de Direito.
Sujeita-se, como todo Estado de Direito, ao império da lei, mas da lei que realize o princípio
da igualdade e da justiça não pela sua generalidade, mas pela busca da igualização das
condições dos socialmente desiguais.

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4. ASPECTOS SOCIOLÓGICOS E DEMOCRÁTICOS QUE CONTRIBUEM
PARA A PROMOÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS.

4.1 Plano social


Uma das definições de pobreza mais aceitas, a partir do indivíduo ou da família, é
aquela situação que impede de “satisfazer uma ou mais necessidades básicas e participar
plenamente da vida social”. (PNUD, 1990:33)
A pobreza é um fenômeno com raízes basicamente econômicas com várias
magnitudes sociais, políticas e culturais. Tem a sua origem na baixa produtividade do
trabalho, na baixa valorização da força de trabalho e dos produtos vendidos pelos pobres,
pelo baixo acesso aos serviços proporcionados pelo Estado (quando existem) e pela
escassa exposição aos conhecimentos socialmente relevantes.
Os pobres participam pouco da vida cidadã: politicamente, seu voto é alienado
(nulo, branco ou “de cabresto”), economicamente, consomem pouco. A situação de pobreza
os obriga a escolhas trágicas: satisfaz-se uma das necessidades sacrificando outras
igualmente importantes. Por isso “pode-se dizer que a pobreza é um estado de
necessidades no qual não há liberdade” (PNUD, 1990)
Esse é o quadro geral das violações dos direitos sociais, econômicos e políticos
dos indivíduos e famílias. Se considerarmos como direitos a comida, um teto, a saúde, a
escola, um emprego, a segurança, as violações a esses direitos sistematicamente solapam
a dignidade das pessoas e agravam a situação de pobreza em que se encontram. Existe,
portanto, uma correspondência direta entre o agravamento da pobreza e os direitos
humanos.

4.2 Aspectos da democracia


O conceito de democracia é histórico. Não sendo por si um valor-fim, mas um meio e
instrumento da realização de valores essenciais de convivência humana, que se traduzem
basicamente nos direitos fundamentais do homem, compreende-se que a historicidade
destes a envolva na mesma medida, enriquecendo-lhe o conteúdo a cada etapa do envolver
social, mantido sempre o princípio básico de que ela revela um regime político em que o
poder repousa na vontade do povo, esta é a essência da democracia.
A igualdade e liberdade, também, não são princípios, mas valores democráticos, no
sentido de que a democracia constitui instrumento de sua realização no plano prático, sendo
contemplados tanto na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (França, 1789) e a
Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948).
Assim, a democracia – governo do povo, pelo povo e para o povo – aponta para
a realização dos direitos políticos, que apontam para a realização dos direitos
econômicos e sociais, que garantem a realização dos direitos individuais, de que a

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liberdade é a expressão mais importante. Os direitos econômicos e sociais, são de
natureza igualitária, sem os quais os outros não se efetivam realmente. É nesse sentido que
também se pode dizer que os direitos humanos fundamentais são valores da
democracia.

5. O BOMBEIRO MILITAR E OS GRUPOS VULNERÁVEIS

O Bombeiro Militar é um cidadão que desempenha um papel importantíssimo na


sociedade, pois além de exigir que sua dignidade e seus direitos sejam respeitados, tem a
nobre missão de ser um agente de promoção dos direitos humanos.
Neste contexto, sua atuação profissional fará com
que a lei seja aplicada e os direitos de todas as
pessoas também sejam respeitados, independente
de cor, raça, religião, sexo, classe social, enfim,
sem qualquer tipo de discriminação. Logo, o
bombeiro militar é o primeiro beneficiário do
exercício dos direitos humanos.
Assim, empregando o conceito de discriminação positiva, existem grupos que em
face de determinadas condições por estes apresentadas necessitam de maior proteção
estatal. Estes grupos são denominados grupos vulneráveis. Estão incluídos nestes grupos
as mulheres; crianças e adolescentes; idosos; homossexuais, transgêneros e bissexuais,
deficientes físicos ou mentais.
 O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
 Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, conhecida com “Lei Maria de Penha.

6. Princípios e Normas de Conduta para os Encarregados da Aplicação da Lei

O Código de Conduta para os Funcionários Encarregados pela Aplicação da Lei foi


adotado, através da Resolução 34/169, originado na 106ª sessão plenária, da Assembleia
Geral das Nações Unidas, em 17 dez 1979, enumerando algumas recomendações que
devem ser observadas pelos funcionários responsáveis pela aplicação da lei. Veja no
subitem a seguir, estas recomendações.

6.1 Código de Conduta para Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei

Art. 1º - Os funcionários encarregados pela aplicação da lei devem cumprir, a todo o


momento, o dever que a lei lhes impõem, servindo a comunidade e protegendo todas as

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pessoas contra atos ilegais, em conformidade com o elevado grau de responsabilidade que
a sua profissão requer.
Art. 2º - No cumprimento do seu dever, os funcionários encarregados pela aplicação da lei
devem respeitar e proteger a dignidade humana, manter apoiar os direitos fundamentais de
todas as pessoas.
Art. 3º - Os funcionários encarregados pela aplicação da lei só podem empregar a força
quando tal se afigure estritamente necessário e na medida exigida para o cumprimento do
dever.
Art. 4º - Nenhum funcionário encarregado pela aplicação da lei pode infligir, instigar ou
tolerar qualquer ato de tortura ou qualquer outra pena ou tratamento cruel, desumano ou
degradante, nem invocar ordens superiores ou circunstâncias excepcionais, tais como o
estado de guerra ou ameaça a segurança nacional, instabilidade política interna ou qualquer
outra emergência pública como justificação para torturas ou outras penas ou tratamentos
cruéis, desumanos ou degradantes.
Art. 5º - Reitera a proibição da tortura ou outro tratamento ou pena cruel, desumana ou
degradante.
Art. 6º - Os funcionários encarregados pela aplicação da lei devem assegurar a proteção da
saúde das pessoas à sua guarda e, em especial, devem tomar medidas imediatas para
assegurar a prestação de cuidados médicos sempre que tal seja necessário.
Art. 7º - Os funcionários encarregados pela aplicação da lei não devem cometer ato de
corrupção. Devem, igualmente, opor-se rigorosamente e combater todos os atos dessa
índole.
Art. 8º - Os funcionários encarregados pela aplicação da lei devem respeitar a lei e o
presente código.

7. LEGISLAÇÃO

7.1 CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

O Brasil é um país conhecido pelo seu forte grau de desigualdade social e por isso
é intensa a tentativa de garantir os direitos humanos dos cidadãos. Essa preocupação
acontece não só no país como em todas as nações do mundo. É de responsabilidade dos
governantes a manutenção dos direitos humanos estabelecendo condições políticas e
sociais para tal situação.

Com a promulgação da Constituição de 1988 e a instauração do regime


democrático o país começou a implantar medidas e resoluções que aumentaram o número
de ações sociais. No entanto, essas atitudes ainda não conseguiram erradicar os casos de
miséria, fome e pobreza da população brasileira.

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“Nós representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional
Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos
direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a
igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional,
com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a
seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.” (Preâmbulo da CF)
Fundamentos do Estado Democrático de Direito – Art 1º, da CF
II – a cidadania
 – a dignidade da pessoa humana
Objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil – Art. 3º, da CF
I- construir uma sociedade livre, justa e solidária;
 – promover o bem estar de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
idade e quais quer outras formas de discriminação.
Relações internacionais – Art. 4º, da CF
II – prevalência dos direitos Humanos
IV – defesa da paz
VII – solução pacífica dos conflitos

DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por
dano material, moral ou à imagem;
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício
dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas
liturgias;
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades
civis e militares de internação coletiva;
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção
filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e
recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

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IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar
socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e
das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na
forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;
(Vide Lei nº 9.296, de 1996)
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações
profissionais que a lei estabelecer;
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando
necessário ao exercício profissional;
XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa,
nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público,
independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente
convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade
competente;
XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar.

7.2 Declaração Universal dos Direitos dos Humanos

No dia 10 de dezembro, é celebrado o Dia Internacional dos Direitos Humanos, data


instituída em 1950, pela Organização das Nações Unidas (ONU), dois anos após a sua
Assembleia Geral ter adotado e proclamado a Declaração Universal dos Direitos Humanos
como marco regulatório da preconização dos Direitos Humanos nas relações entre governos
e pessoas. Com a instituição do Dia Internacional dos Direitos Humanos, a ONU buscou
enfatizar a questão da problemática em torno da efetivação dos direitos declarados no
documento que é considerado pioneiro do movimento de internacionalização dos direitos
humanos.
Durante a proclamação da DUDH, ficou firmado que: fora criada para atender ao
clamor de toda a humanidade, buscando realçar os princípios fundamentais; afirmar que o
desrespeito aos direitos humanos é causa da barbaridade perante a ONU; assegurar o
direito de protesto; fazer cumprir os direitos humanos.

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Primeiro instrumento jurídico internacional de direitos humanos, proclamado por uma
organização internacional de caráter universal (ONU), a Declaração Universal dos Direitos
Humanos (DUDH) sucedeu a Carta das Nações Unidas, documento que, em 1946, criou o
Conselho Econômico e Social e a Comissão de Direitos Humanos, órgão que teria como
trabalho fundamental a elaboração da Declaração Universal dos Direitos Humanos,
aprovada em 10 de dezembro de 1948.
Além de determinar o marco inicial pelo movimento da internacionalização dos
direitos humanos, a DUDH trouxe como avanços a concepção de unidade da família
humana, sem distinção de gênero, raça ou crença religiosa, mencionando todos os seres
humanos como “seres humanos” ou “toda pessoa” – a DUDH se preocupou em conferir a
dignidade e titularidade dos direitos nela preconizados a qualquer pessoa humana pela
simples condição de pessoa que possui; ademais, avançou no sentido de que tratou das
chamadas “liberdades de Roosevelt”, que são a liberdade de palavra e pensamento, de
religião, liberdade diante da necessidade e liberdade diante do medo; enunciou também a
questão da indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos, ao tratar da vinculação
do progresso social e da garantia dos direitos civis e políticos como condição para a
observância dos direitos sociais, econômicos e culturais.
Portanto, é essencial que os direitos dos homens sejam protegidos pelo Império da
Lei, para que o homem não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania
e a opressão.
Assim, precisamos promover o desenvolvimento de relações amistosas entre
nações, visto que os povos das Nações Unidas reafirmaram na Declaração Universal dos
Direitos Humanos sua fé nos direitos do homem e da mulher e que decidiram promover não
só o progresso social, como também melhores condições de vida através de uma liberdade
mais ampla.
Nesse intuito, uma compreensão comum dos Direitos a Liberdade é muito importante
para o pleno cumprimento desse compromisso. A Assembleia Geral das Nações Unidas
proclama a presente Declaração Universal dos Direitos dos Homens como o ideal comum a
ser atingido por todos os povos e todas as Nações.
Art. 1º - Todos os homens nascem livres e iguais em Dignidade e Direitos. São dotados de
razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de Fraternidade.
Art. 2º - Todo homem tem capacidade para gozar os Direitos e as Liberdades estabelecidos
nesta Declaração sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua,
religião, opinião política ou de outras naturezas, origem nacional ou social, riqueza,
nascimento ou qualquer outra condição.
Parágrafo único: Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política,
jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de
um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra
limitação de soberania.

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Art. 3º - Todo homem tem Direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Art. 4º - Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico de
escravos estão proibidos em todas as suas formas.
Art. 5º - Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou
degradante.
Art. 6º - Todo homem tem o Direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa
perante a Lei.
Art. 7º - Todos são iguais perante a Lei e tem Direito, sem qualquer distinção, a igual
proteção da Lei. Todos têm Direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole
a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal Discriminação.
Art. 8º - Todo homem tem Direito a receber os Tribunais Regionais competentes remédio
efetivo contra os atos que violem dos Direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos
pela Constituição ou pela Lei.
Art. 9º - Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.
Art. 10º - Todo homem tem Direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por
parte de um Tribunal Independente e Imparcial, para decidir sobre seus Direitos e Deveres
ou sobre o fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.
Art. 11º - Todo homem acusado de um ato delituoso tem o Direito de ser considerado
inocente até que sua culpabilidade tenha sido provada, de acordo om a Lei, em Julgamento
Público, no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.
Parágrafo único: Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no
momento, não constituem delito perante o Direito Nacional ou Internacional. Também não
será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao
ato delituoso.
Art. 12º - Ninguém será sujeito a interferências em sua vida privada, sua família, seu lar ou
sua correspondência, nem a ataques à sua honra e reputação.
Art. 13º - Todo homem tem Direito à proteção da Lei contra tais interferências ou ataques.
Art. 14º - Todo homem, vítima de perseguição, tem o Direito de procurar e de gozar asilo em
outros países.
Parágrafo único: Este Direito não pode ser invocado em casos de perseguição
legitimamente motivada por crimes de Direito comum ou por atos contrários aos objetivos e
princípios das Nações Unidas.
Art. 15º - Todo homem tem Direito a uma nacionalidade.
Parágrafo único: Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade nem do Direito
de mudar de Nacionalidade.
Art. 16º - Os homens e mulheres maiores de idade, sem qualquer restrição de raça,
nacionalidade ou religião, têm o Direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozar
de iguais Direitos em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução.
§ 1º - O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento em nubentes.

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§ 2º - A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem Direito à proteção da
sociedade e do Estado.
Art. 17º - Todo homem tem Direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.
Parágrafo único: Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.
Art. 18º - Todo homem tem Direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este
Direito inclui a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática,
pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular.
Art. 19º - Todo homem tem Direito à liberdade de opinião e expressão; este Direito inclui a
liberdade de se, ser interferências, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir
informações e ideias por quaisquer meios, independentemente de fronteiras.
Art. 20º - Todo Homem tem Direito à liberdade de reunião e associação pacífica.
Parágrafo único: Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.
Art. 21º - Todo homem tem o Direito de tomar parte no governo de seu país, diretamente ou
por intermédio de representantes livremente escolhidos.
§ 1° - Todo homem tem igual Direito de acesso ao Serviço Público de seu país
§ 2° - A vontade do povo será a base da autoridade do Governo; esta vontade será
expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou
processo equivalente que assegure a liberdade de voto.
Art. 22º - Todo homem, como membro da sociedade, tem Direito à segurança social e à
realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a
organização e recursos de cada Estado. Dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento de sua personalidade.
Art. 23º - Todo homem tem Direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições
justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.
§ 1º - Todo homem, sem qualquer distinção, tem Direito a igual remuneração por igual
trabalho.
§ 2° - Todo homem que trabalha tem Direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe
assegure, assim como a sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, a
qual se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.
§ 3º - Todo homem tem o Direito de organizar sindicato e neles ingressar para proteção de
seus interesses.
Art. 24º - Todo homem tem Direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das
horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas.
Art. 25º - Todo homem tem Direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua
família saúde e bem-estar, incluindo alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e
serviços sociais indispensáveis, e Direito à segurança em caso de desemprego, doença,
invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda de meios de substância em
circunstâncias fora de seu controle.

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Parágrafo único: A maternidade e a infância asseguram o Direito a cuidados e assistência
especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma
proteção social.
Art. 26º - Todo homem tem Direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos
graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução
técnica profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, está baseada no
mérito.
§ 1 ° - A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade
humana e do fortalecimento do respeito pelos Direitos do
Homem e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a
tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as
atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.
§ 2° - Os pais têm prioridade de Direito na escolha do tipo de instrução que será ministrado
a seus filhos.
Art. 27º - Todo homem tem o Direito de participar livremente da vida cultural da
comunidade, de usufruir das artes, e de participar do progresso científico e de usufruir de
seus benefícios.
Parágrafo único: Todo homem tem Direito à proteção dos interesses morais e materiais
decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da qual seja autor.
Art. 28º - Todo homem tem Direito a uma ordem social e internacional em que os Direitos e
Liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados.
Art. 29º - Todo homem tem deveres para com sua comunidade na qual o livre e pleno
desenvolvimento de sua personalidade é possível.
§ 1 ° - No exercício de seus Direitos e Liberdades, todo homem estará sujeito apenas às
limitações determinadas pela Lei, exclusivamente, com o fim de assegurar o devido
reconhecimento e respeito dos Direitos e Liberdades de outrem e de satisfazer as justas
exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma Sociedade Democrática.
§ 2° - Esses Direitos e Liberdades não podem, em hipótese alguma, serem exercidos
contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas.
Art. 30º - Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o
reconhecimento, a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do Direito de exercer qualquer
atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer Direitos e Liberdades
aqui estabelecidos.

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CONCLUSÃO

O Corpo de Bombeiro Militar, como instituição de serviço à cidadania em uma de


suas demandas mais básicas — Segurança Pública — tem tudo para ser altamente
respeitada e valorizada.
Para tanto, precisa resgatar a consciência da importância de seu papel social e, por
conseguinte, a autoestima.
Esse caminho passa pela superação das sequelas deixadas pelo período ditatorial:
velhos ranços psicopáticos, às vezes ainda abancados no poder, contaminação anacrônica
pela ideologia militar da Guerra Fria, crença de que a competência se alcança pela
truculência e não pela técnica, o corporativismo no acobertamento de práticas é
incompatível com a nobreza da missão bombeiro militar.
Nós não podemos mudar os outros, mas podemos mudar a nós mesmos.
O único real poder que temos sobre a realidade é o poder que temos sobre nós
mesmos. Quando começamos a mudar, a qualificar-nos, a fazer melhor nosso trabalho, a
viver melhor nossas relações com nossos semelhantes, a cultivarmos mais respeito por nós
e pelas missões que temos de desempenhar, quando assumimos esse poder, passamos a
influenciar positivamente a realidade à nossa volta e o mundo começa a mudar. Deixamos
de ser vítimas impotentes à espera da boa vontade alheia, das mudanças alheias, da
melhoria alheia, e passamos a trabalhar com o que temos, com o que podemos controlar,
com o que efetivamente podemos melhorar - o que somos.
Não vejo melhor desafio, nem perspectiva de vida mais interessante!

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMORIM, Carolina Izidora. Direitos humanos e cidadania: livro didático / Carolina


Izidora Amorim, José Dimas d’Avila Maciel Monteiro; design instrucional Carmen Maria
CiprianiPandini, Daniela Erani Monteiro Will. – Palhoça: UnisulVirtual, 2007.
BALESTRERI, Ricardo Brisolla. Direitos Humanos: Coisa de Polícia. Passo Fundo -
RS: Berthier; 2003
BICUDO, Hélio Pereira. Direitos Humanos e a sua proteção. São Paulo. FDT, 1997.
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil. 1988.
CRISTINA, Curso Formação de Sargento Bombeiro Militar. Corpo de Bombeiros
Militar do Estado de Rondônia. Porto Velho, 2014/2015.
HOLANDA, Curso Especial de Formação de Cabos. Polícia Militar do Estado de
Rondônia. Porto Velho, 2011.
MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais – teoria Geral – Doutrina
e Jurisprudência. 3ª ed. São Paulo : Atlas. 2000.
PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e Direito Constitucional Internacional. 3ª ed.
são Paulo. Max Limond, 1997.
SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 20ª ed. rev. e atual.
São Paulo : Malheiros Editores. 2001.
GRECO, Rogério. Atividade Policial: aspectos penais, processuais penais,
administrativos e constitucionais – 2ª edição / Impetus, 2009.

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AN EX O I

TORTURA

DEFINIÇÃO LEGAL DA LEI Nº 9.455, DE 7-4-1997

A Lei nº 9.455, de 7-4-1997, em seu art. 1º, define o crime de tortura da seguinte
forma:

“Constitui crime de tortura :


I – Constranger alguém com o emprego de violência ou grave ameaça, causando-
lhe sofrimento físico ou mental: a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão
da vítima ou terceira pessoa; b) para provocar ação ou omissão de natureza criminoso; c)
em razão de discriminação racial ou religiosa.
II – submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade (grifo nosso), com
emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma
de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo (para os dois incisos a pena é de
dois a oito anos de reclusão);
§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida
de segurança (grifo nosso) a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato
não previsto em lei ou não resultante de medida legal;
§ 2º Aquele que se omite (grifo nosso) em face dessas condutas, quando tinha o
dever de evitá-las ou apurá-las, incorre em pena de detenção de um a quatro anos;
§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão
de quatro a dez anos; se resulta de morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos”.
Aqueles que forem condenados pela prática das condutas típicas definidas pelo
legislador ordinário como crime de tortura estarão sujeitos, além da pena privativa de
liberdade, a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para o seu exercício
pelo dobro do prazo da pena aplicada (art. 2º, § 5º). Dessa forma, o agente que sofrer
condenação pela prática do delito de tortura além de perder o cargo, função ou emprego
público, não poderão exercer outro cargo, função ou emprego público, durante o dobro do
prazo de sua pena privativa de liberdade.

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O legislador infra-constitucional no intuito de combater prática inaceitável, porém de
longa data utilizada pelo sistema repressivo estatal, na colheita de provas e/ou tratamento
carcerário (STF – Pleno – HC nº 41.888 – rel. Min. Evandro Lins, Diário da Justiça, 28-4-
1965; STJ – 2ª T. – RMS nº 17 – SP. Reg. Nº 89.000877-0. rel. Min. Min. Garcia Vieira. DJ
20-11-89; STJ – 3ª Seção – CC nº 3.532-5/SP – rel. Min Assis Toledo. Ementário STJ,
07/659; STJ – 3ª Seção – CC nº 13.980-0/SP – rel. Min. Cid Flaquer Scartezzi. Ementário
STJ, 14/595; TJ/PR – 1ª CCivil – Apelação Cível nº 29.744 – rel. Des. Oto Sponhoz,
publicado em 2-4-90), previu expressamente, além das já citadas sanções de perda e
interdição do cargo, função ou emprego público, uma causa especial de aumento de pena
no § 4º, do art. 1º, da Lei 9.455/97. Assim, aumenta-se a pena de um sexto até um terço
se o crime é cometido por agente público (grifo nosso). A legislação veio reforçar o
espírito constitucional de combate à tortura, inclusive estatal, previsto nos incisos II e XLIII
do art. 5º, da Constituição Federal, bem como ao determinar serem inadmissíveis no
processo, por constituírem provas ilícitas (STJ – 6º T. – RHC nº 2.132-2/BA – rel. Min.
Vicente Cernicchiaro. Ementário STJ 06/708; TJ/SP – Apelação Cível nº 236.701-2 – rel.
Marrey Neto – decisão: 31-5-94).

CONSEQÜÊNCIAS PENAIS E PROCESSUAIS DA PRÁTICA DO CRIME DE TORTURA

Em relação as suas conseqüências penais e processuais, o crime de tortura é


inafiançável e insuscetível de graça ou anistia. Além disso, o condenado deverá iniciar o
cumprimento da pena em regime fechado, possibilitando-se, pois, a progressão aos
regimes semi-aberto e aberto, conforme requisitos da Lei de Execuções Penais. O
Legislador deixou de repetir a fórmula genérica da Lei 8.072/90 (Lei dos Crimes
Hediondos), onde se proibia, igualmente, a concessão de indulto e qualquer possibilidade
de progressão de regimes.

MORAES, Alexandre de. DIREITOS HUMANOS E FUNDAMENTAIS. São Paulo : Atlas,


1998; pag. 116

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