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HISTÓRIA DA PARAÍBA

HISTÓRIA DA PARAÍBA
Os navios não frequentavam o porto por falta de carga, muitos
O SISTEMA DE CAPITANIAS engenhos estavam de “fogo morto” e a maior parte dos proprie-
HEREDITÁRIAS E A ANEXAÇÃO DO tários de terra e mesmo dos comerciantes locais compravam seus
TERRITÓRIO DA PARAÍBA À CAPITANIA suprimentos em recife, onde hipotecavam suas futuras produções.
DE PERNAMBUCO; Consolidou-se assim na Paraíba a submissão do espaço açu-
careiro e também algodoeiro (cujos proprietários, em especial do
sertão estabeleciam vínculos comerciais diretamente com a capital
pernambucana), aos interesses do capital comercial sediado em
O marquês de pombal, ministro durante todo o reinado de Recife.
dom José (1755-1777), foi o responsável pelas mudanças neces- Restaurada a autonomia da capitania da Paraíba, não se pode
sárias para que Portugal superasse a crise em que mergulhara. Em afirmar que o seu desenvolvimento foi rápido. Ainda enfrentou di-
1756, como parte da política pombalina de contenção de gastos e ficuldades. A sua receita, no início do século XIX, mostra aumento
concentração de recursos e, atendendo os interesses da burguesia razoável em comparação as receitas entre 1756 e 1798. Não so-
comercial portuguesa instalada em Recife, a Coroa determinou a mente receitas, mais também rendas, consequência do aumento de
anexação da Paraíba a Pernambuco, que perdurou até 1799. A si- sua produção.
tuação paraibana agravou-se ainda mais com a criação da compa-
nhia de comércio de Pernambuco e da Paraíba (1759) que visava
explorar mais racional as riquezas dessas áreas.
Nesse sentido, a Companhia de Comércio de Pernambuco e
Paraíba, deveria monopolizar todo o comércio com a Paraíba. Esse A CRIAÇÃO DA CAPITANIA DA PARAÍBA:
somente poderia ser exercido pela companhia que se obrigava, no AS EXPEDIÇÕES DE CONQUISTA DA
caso paraibano, a adquirir a produção de açúcar, couros, madeira, PARAÍBA (1574-1585);
algodão e peles, comprometendo-se em contrapartida, abastecer a
capitania de vinhos, azeite, manteiga, tecidos, queijos e bacalhau
(denominados “do reino”).
Mas as reclamações começaram a se registrar. A companhia
falhava na remessa de artigos essenciais. Com a escassez das mer- Até o final do século XVI, grande parte da região setentrional
cadorias o preço destas aumentava. Além disso, a companhia co- do litoral brasileiro, onde as capitanias hereditárias não prospe-
brava juros elevados e os nossos moradores bem depressa foram raram, continuava despovoada, sendo explorada pelos franceses,
se endividando. Como consequência, a produção açucareira entrou aliados às tribos indígenas locais.
em colapso, arrastando consigo o comércio. Este somente pode- Para assegurar a posse efetiva daquelas terras para Portugal,
ria desenvolver-se por Pernambuco, daí porque, até a extinção da uma das medidas adotadas foi a criação da Capitania da Paraíba,
Companhia de Comércio, em 1777, não havia, na Paraíba, uma no ano de 1574, por ordem do rei D. Sebastião. Com tal medida,
só casa de comércio para custear carregamento, adiantamento de visava a Coroa afastar os franceses e os temidos índios Potiguaras
despesas e custeio de navios. Os senhores de engenho experimen- das margens do Rio Paraíba. A partir de então iniciaram as expe-
tavam dificuldades porque os implementos de que necessitavam dições de conquista da Paraíba, ocorrendo a primeira em 1575,
– tachos, moendas, alambiques e ferramentas – eram fornecidos sob o comando do Ouvidor-Geral Fernão da Silva. As duas expe-
a preços elevadíssimos. A companhia também falhava no forneci- dições seguintes – ocorridas em 1579 e 1582 – foram comandadas
mento de escravos. por Frutuoso Barbosa, rico mercador de pau-brasil estabelecido
Por outro lado, o governo da capitania de Pernambuco, que em Pernambuco, nomeado pelo rei D. Henrique como capitão-mor
centralizava as decisões nas esferas administrativa, militar e finan- da conquista da Paraíba. Frutuoso Barbosa também não obteve a
ceira, não tinha interesse, ou não conseguiu, porque aquela tam- conquista daquela região, e perante estes insucessos, o governador
bém estava passando por um período de crise, sendo impossível
geral do Brasil, Manuel Teles Barreto, mandou que fossem para
assim remediar a situação da economia paraibana.
Pernambuco o ouvidor geral, Martim Leitão, e o provedor Martim
O resgate da autonomia Carvalho, a fim de reunir gente e recursos para outra expedição.
Resultou que em 1584, foi estabelecido na margem norte do
Em 1777, com a morte de dom José I e a aclamação de sua Rio Paraíba o Forte de São Filipe, primeiro núcleo de povoamento
filha dona Maria I, Pombal foi imediatamente substituído por da capitania, o qual foi abandonado em finais de Junho de 1585,
Martinho de Castro e Melo. Este comandou a chamada viradeira por não resistir mais ao cerco constante dos índios Potiguaras e
– mudanças políticas e econômicas que tentaram alterar os rumos dos franceses.
tomados pela administração pombalina. Assim, ainda em 1777, foi Nesta época estavam as margens do Rio Paraíba dominadas
extinta a Companhia de Comércio de Pernambuco e Paraíba. por índios Potiguaras, assentados ao norte, e Tabajaras, situados
A autonomia só foi obtida, após inúmeras gestões junto a Co- ao sul, os quais mantinham aliança e se contrapunham à ocupação
roa em 1799, mas só foi consumada muito depois, porque a Pa- portuguesa naquela região.
raíba permaneceu ligada a Pernambuco nas questões relativas à Tentou o ouvidor Martim Leitão estabelecer diálogo com Pira-
defesa, e às finanças até pelo menos 1808. gibe, chefe dos Tabajaras, na tentativa de separá-los dos Potiguaras
Mesmo com o fim da anexação, a situação da Paraíba era mui- e assim os ter por aliados. As negociações não progrediram, devido
to difícil, com uma constante oscilação nos níveis da produção (em à desconfiança do indígena, já uma vez traído pelos portugueses, e
especial, de cana e de algodão), o aumento dos preços dos alimen- o seu receio de aniquilamento por parte dos Potiguaras, em maior
tos, a estagnação do comércio e a falta de assistência do Estado. número, caso aqueles soubessem de uma traição.

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Após a queda do Forte de São Filipe, ao fim do mês de Julho ria se estabeleceu na capital e no Brejo Paraibano, região de clima
de 1585, chegaram à Olinda emissários do cacique Tabajara, com mais ameno, em razão das altas altitudes do Planalto Borborema,
o objetivo de solicitar socorro e oferecer aliança ao Ouvidor Geral, das chuvas regulares e dos solos férteis. As condições econômicas
pois vinham sofrendo guerra declarada por parte dos Potiguaras. pouco favoráveis no estado na época não favoreceram a vinda de
A 2 de Agosto, partiram de Pernambuco, em direção à Paraí- muitos italianos, como aconteceu no sul do Brasil. Entretanto, sua
ba, João Tavares, escrivão da Câmara e juiz de órfãos de Olinda, presença foi muito marcante na vida socioeconômica e cultural,
com apenas 20 homens e os emissários de Piragibe. Tinham por já que sempre ocuparam postos-chave na vida político-social do
meta firmar um acordo de paz com os Tabajaras, criando as condi- estado (eram negociantes, médicos, arquitetos, políticos etc.).
ções necessárias para enfrentar os Potiguaras. A 5 de Agosto, João
Tavares desembarcou à margem sul do Rio Sanhauá - afluente do Famílias alemãs
Rio Paraíba, e escolheu o local para a construção de um forte. Esta
data foi considerada como marco da fundação da terceira cidade No começo do século XX, em torno de 80 famílias alemãs
do Brasil, batizada de Cidade de Nossa Senhora das Neves, invo- chegaram ao estado para trabalhar na Companhia de Tecidos Rio
cação da santa do dia. Tinto. Em 18 de agosto de 1945, os operários brasileiros da fábri-
ca de tecidos invadiram os chalés dos alemães, quebrando tudo e
exigindo que os estrangeiros fossem deportados, isso em virtude
O EUROPEUS NA PARAÍBA; o ódio advindo do torpedeamento de navios da Marinha Mercante
do Brasil por submarinos alemães na Segunda Guerra, conforme
a crença geral. Entretanto, com o passar dos anos, os alemães per-
maneceram e se integraram à cultura local, casando-se com parai-
Os europeus que vieram para o estado eram predominante- banos e deixando como herança os traços em seus descendentes e
mente lusitanos, isso desde o início da colonização no século XVI. na arquitetura dos prédios imponentes de Rio Tinto. Nos idos dos
Estes chegaram à Paraíba provenientes principalmente da Capi- anos 40, Rio Tinto era considerada a mais europeia das cidades
tania de Pernambuco. O pequeno número de mulheres brancas paraibanas, em virtude da notória influência alemã.
na época estimulou logo cedo a miscigenação com mulheres das
tribos locais e, em menor escala, com as mulheres escravas, sedi- Negros africanos
mentando a base da população atual.
Algumas famílias, entretanto (principalmente das classes so- Na Paraíba, o empreendimento do comércio negreiro iniciou-
ciais mais altas), preferiram manter uma linhagem mais europeiza- -se logo após o Decreto Real de 1559, da Regente Catarina de
da e casavam entre si. Houve também famílias judias que vieram Áustria, permitindo aos engenhos comprar cada um doze escravos.
para o Nordeste e para a Paraíba expulsas de Portugal na época O escravo era mercadoria cara, seu valor médio oscilava entre 20
da Santa Inquisição, como degredados. Muitas emigraram para as e 30 libras esterlinas. Portanto, em virtude do pequeno desenvolvi-
Antilhas Holandesas, mas outras preferiram ficar e se integrar à mento da cultura canavieira no estado e dos altos preços destes, a
sociedade. presença negra foi mais tímida que em muitos estados nordestinos,
mas não menos importante.
Presença batava Hoje em dia, há diversas comunidades quilombolas oficial-
mente reconhecidas pela Fundação Cultural Palmares. Caiana dos
Na época da invasão holandesa, entre 1634 e 1654, embora a Crioulos foi reconhecida em 1997, Talhado em 2004 e Engenho
miscigenação não tenha sido oficialmente estimulada, há relatos Bonfim, Pedra d’água, Matão e Pitombeira obtiveram a certidão
de muitas uniões inter-raciais. A falta de mulheres holandesas esti- de reconhecimento em 2005. Ao todo, foram identificadas 16 co-
mulou a miscigenação e mesmo o casamento entre oficiais holan- munidades remanescentes de quilombos.
deses e filhas de abastados senhores de engenho luso-brasileiros.
A herança genética dessas uniões pode ser vista hoje em dia nos
traços da população, principalmente no litoral, sendo relativamen- OS POVOS INDÍGENAS NA PARAÍBA;
te comum pessoas morenas de olhos claros ou cabelos louros ou
mesmo pessoas louras de pele clara.

Imigração italiana Populações indígenas

A partir do meio do século XIX até o início do século XX Antes da chegada dos portugueses aqui na América e a conse-
várias famílias italianas escolheram a Paraíba para se fixar. As pri- quente ocupação do território brasileiro, a Paraíba já era habitada
meiras levas coincidiram com a época da independência do Brasil por grupos indígenas que ocuparam primeiramente o litoral; per-
e da abolição da escravatura no Brasil e crescente necessidade de tenciam a grande tribo Cariri e vieram provavelmente da região
realocação dessa mão-de-obra. amazônica.
Muitas famílias (Zaccara, Milanez, Grisi, Troccoli, Ciraulo, Devido à sua agressividade, foram chamados de tapuias por
Cantisani, Cantalice, Di Lascio, Spinelli, Falcone, Faraco, Tosca- outros nativos, o que significa inimigos. Por volta de 1500 chega-
no, entre outras) vieram logo após chegarem ao país pelos portos de ram novas famílias indígenas, pertencentes à Nação Tupi-Guarani:
Recife e de Santos. Outras saíram de suas colônias na região Sul/ eram os Potiguaras, emigrados do litoral maranhense e que se si-
Sudeste do país em busca de oportunidades mais ao norte. A maio- tuaram na parte norte do litoral paraibano, desde as proximidades

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da Baía da Traição até os contrafortes da Borborema, de onde mo- rece, em nenhum ponto se fixaram. Toda a região do Agreste Aca-
veram guerra aos Cariris; o resultado foi o deslocamento destes tingado que se estende de Guarabira a Pedras de Fogo, passando
últimos, para as regiões sertanejas. por Alagoa Grande, Alagonha, Mulungu, Sapé, Gurinhém, deso-
Na época da conquista da Paraíba – segunda metade do século cupada, no dizer de Horácio de Almeida ou assim foi encontrada
XVI – chegaram outros silvícolas, dessa vez pertencentes à tribo quando da conquista.
Tabajara, também de origem Tupi-Guarani, mas logo tornaram-se Os Potiguaras eram uma das tribos mais populosas da nação
inimigos tradicionais dos Potiguaras, fixando-se na várzea do rio Tupi, desempenharam importante papel na guerra holandesa com
Paraíba. cujos povos se aliaram. Anos antes eles também foram aliados dos
Na segunda metade do século XVII, a maior parte da popula- franceses, que mantinham feitorias no estuário do Paraíba e Baía
ção ainda era constituída de índios. da Traição (Acejutibiró) e de onde faziam incursões até a serra
O nível de civilização do índio paraibano era considerável. da Copaoba (Serra da Raiz) para a extração do pau-brasil. Esses
Muitos sabiam ler e conheciam ofícios como a carpintaria. Esses índios resistiram feroz e bravamente, desde o início da conquista
índios tratavam bem os jesuítas e os missionários que lhes davam portuguesa.
atenção. Ainda hoje, encontram-se tribos indígenas potiguaras locali-
A maioria dos índios estava de passagem do Período Paleolí-
zadas na Baía da Traição, mas apenas em uma aldeia a São Fran-
tico para o Neolítico. A língua falada por eles era o tupi-guarani,
cisco, onde não há miscigenados, pois a tribo não aceita a presença
utilizado também pelos colonos na comunicação com os índios.
de caboclos, termo que eles utilizavam para com as pessoas que
O tupi-guarani mereceu até a criação de uma gramática elaborada
pelo Padre José de Anchieta. não pertencem a tribo.
Atualmente, as aldeias constituem reservas indígenas mal ad-
Os Cariris ministradas pelo governo, e suas terras, quase todas, foram grila-
das por grandes proprietários e usinas da região, mencionando-se
Os índios Cariris se encontravam em maior número que os a Companhia de Tecidos Rio Tinto, hoje desativada.
Tupis e ocupavam uma área que se estendia desde o planalto da A principal atividade desses índios é a pesca e em menor es-
Borborema até os limites do Ceará, Rio Grande do Norte e Per- cala, a agricultura.
nambuco.
Os Cariris eram índios que diziam ter vindo de um grande
lago. Estudiosos acreditam que eles tenham vindo do amazonas ou A FUNDAÇÃO DA PARAÍBA;
da Lagoa Maracaibo, na Venezuela.
A Nação Cariri dividia-se em várias tribos das quais citaremos
apenas as que existiam em território paraibano e proximidades.
Esses grupos na Paraíba eram os seguintes: Paiacus, Icós, Sucu- O início da cidade de Nossa Senhora das Neves
rus, Ariús, Panatis, Canindés, Pegas, Janduis, Bultrins e Carnoiós.
Destes, os Tapuias Pegas ficaram conhecidos nas lutas contra os Celebrado o acordo com os Tabajaras, os portugueses pude-
bandeirantes. ram fundar a cidade sede da capitania. Por escolha de Martim lei-
tão, João Tavares e Frutuoso Barbosa, que percorreram a cavalo a
Os Tupis planície situada entre o rio Paraíba e o oceano Atlântico, a nova
cidade foi edificada a partir de quatro de novembro de 1585, na
Os Tupis habitavam a zona mais próxima ao litoral e estavam parte mais elevada, visava assegurar-lhe a defesa, a proximidade
divididos em Potiguaras e Tabajaras. do rio possibilitaria através dessa exportação dos produtos elabo-
a) Tabajaras: Na época da fundação da Paraíba, os Tabajaras rados ou encontrados – açúcar, peles, couro, âmbar, madeiras e
formavam um grupo de aproximadamente cinco mil pessoas. O algodão. Incluindo no conjunto de trocas da economia mundial, a
seu nome indicava que viviam em tabas ou aldeias. Eram sedentá-
capitania integrava o sistema econômico mercantilista.
rios e de fácil convívio. A aliança que firmaram com os portugue-
Nossa Senhora das Neves foi a terceira cidade criada no Bra-
ses foi de grande proveito para os índios quando da conquista da
sil, sem nunca ter sido Vila. Este privilégio lhe coube porque fora
Paraíba e fundação de João Pessoa.
Todos os aldeamentos ao sul do Cabo Branco pertenciam a in- fundada pela cúpula da Fazenda Real, uma Capitania da Coroa.
dígenas dessa tribo e deram origem a muitas cidades e vilas, como,
Aratagui (Alhandra), Jacoca (Conde), Piragibe (João Pessoa), Ti- Consolidação da conquista
biri (Santa Rita), Pindaúna (Gramame), Taquara, Acaú, Pitimbu.
Os Tabajaras parecem ter deixado o território paraibano em 1599. Martim Leitão, artífice primeiro da cidade de Nossa Senhora
b) Potiguaras: Eram mais numerosos que os Tabajaras e ocu- das Neves e de sua consolidação, trouxe consigo pedreiros, car-
pavam uma pequena região nos limites do Rio Grande do Norte pinteiros, engenheiros e outros para edificar a cidade. As primeiras
com a Paraíba. Estavam localizados na parte norte do rio Paraíba, medidas de Martim Leitão foram para a construção de galpões de
curso do rio Mamanguape e serra da Copaoba, foram rechaçados trabalho, levantamento de um forte, projeção de uma casa para
para o Rio Grande do Norte e aldeiamentos na Bahia de Traição, servir de almoxarifado e demais construções essenciais à moradia.
onde ainda hoje se encontram seus remanescentes. A principal fortificação teve construção iniciada em1586, no
Esses índios locomoviam-se constantemente, deixando al- lugar denominado Cabedelo – palavra equivalente a ponta de terra
deias para trás e formando outra. Com esta constante locomoção – onde o rio Paraíba se encontra com o mar. Tornava-se essencial
os índios ocuparam áreas desabitadas. Da serra da Copaoba, para fortalecer esse sítio porque quem o controlasse teria acesso à cida-
o Sul, excetuando-se as aldeias estabelecidas no litoral, ao que pa- de, dezoito quilômetro rio abaixo.

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Datou daí a instalação da fortaleza de Santa Catarina, de Ca- A organização político-administrativa
bedelo, ou ainda do Matos, em homenagem a seu primeiro co-
mandante, Francisco Cardoso do Matos. A munição era assegurada A nova cidade teve uma administração, de 1585 a 1634, de
pela Casa da Pólvora, a terceira e mais importante das quais tomou capitães-mores ou governadores.
o lugar do forte do Varadouro, em 1710. Nos primeiros tempos, a capitania da Paraíba era dirigida por
A colonização da Paraíba é pontilhada de momentos difíceis. um governador, o capitão-mor (denominação que significava que
Além dos problemas de subsistência do pequeno grupo pioneiro de ele dirigia os capitães).
Martim Leitão e João Tavares era necessário: Com a dilatação da conquista, as populações do interior tam-
bém tiveram os seus capitães-mores, que comandavam as orde-
- Proteger os locais escolhidos para dar início ao povoamento; nanças, supervisionavam o policiamento dos sertões, respondia
- Vigiar a barra do rio Paraíba, porta aberta aos franceses e pela paz e ordem das suas circunscrições e eram subordinados ao
aventureiros; governador.
- Ter cautela com tribos Cariri, que podiam atacar vindos do Havia outras autoridades: o Ouvidor-Geral que cuidava da
interior; justiça, dos juízes de órfãos e certos juízes inferiores denominados
- Sustentar defesa contra investidas Potiguaras; almotacés incumbidos de tomar conhecimento dos negócios pe-
- Expulsar os franceses; quenos. O Provedor da Fazenda presidia à arrecadação das rendas
- Conservar a aliança com os Tabajaras; da Fazenda Real.
- Transferir colonos e fixa-los na Capitania; Existia em cada Capitania no tempo colonial (que, aliás, foi
- Estabelecer uma economia estável. até o Império) o Senado da Câmara, órgão que zelava pelos inte-
resses do povo perante os governos da Capitania, da Colônia e do
Economia e ocupação colonial Reino. Ainda havia na capitania da Paraíba a Casa do Conselho,
com o pelourinho, onde funcionava o Tribunal de Justiça.
Naquela época, a riqueza vegetal da Paraíba era a base inicial O período governamental era de três anos geralmente. Entre-
de sua economia. As madeiras exploradas eram o pau-brasil e ou- tanto, poderia ser excedido, dependendo de circunstâncias.
tras, como o pau-brasil e outras, como o cedro, o jacarandá, resis-
tentes e duráveis que s destinavam ao fabrico de barcos e móveis Propriedade, escravidão e organização familiar
para a nobreza.
Logo a cana-de-açúcar, plantada nas várzeas da Capitania Do ponto de vista social, ou seja, da composição de classes,
Real da Paraíba, foi sendo reconhecida como da melhor qualidade. a capitania da Paraíba, tal como o restante da sociedade brasilei-
Numa época em que o açúcar dava bastante lucro, não se perdeu ra, fundamentou-se na grande propriedade territorial, a chamada
muito tempo e, nas proximidades da capital, apareceram os primei- sesmaria.
ros canaviais. Em 1587 funda-se o Engenho Real no Tibiri, onde A primeira sesmaria paraibana foi concedida ainda no século
se inicia a plantação de cana de açúcar, integrando a Paraíba a rede XVI, quando seu número não passou de cinco, no século XVII,
do comércio colonial. esse número cresceu, mas na primeira metade, sua localização
Logo os engenhos ficaram de “fogo aceso” nas várzeas da não ultrapassou os vales dos rios Paraíba e Mamanguape, o que
Paraíba. Tanto é que em 1610, 25 anos depois da implantação a significa colonização ainda restrita ao litoral. Na segunda metade
agroindústria açucareira na capitania, já funcionavam 12 engenhos do século XVII e, principalmente no século XVIII, essas sesma-
fabricando açúcar e enviando para a Europa. rias alcançaram os pontos mais distantes do território Paraibano,
O florescimento da cultura açucareira deu-se durante todo o o que representou a expansão deste, com incorporação das terras
século XVI e primeira metade do século XVII, quando veio a crise sertanejas à colonização. No século XIX, as sesmarias concedidas
da produção regional, provocada pela concorrência do açúcar das aos que desejavam lavrar a terra baixaram de número, tanto por o
Antilhas. território já se encontrar quase inteiramente ocupado, quanto pela
Ainda no século XVII, a ocupação do sertão foi determinada Lei de Terras, de 1850, que extinguiu o sistema sesmarial. Daí em
pela necessidade de prover a área açucareira de animais para o tra- diante, as chamadas terras devolutas somente puderam ser adqui-
balho e alimento para a população. Foi então que a pecuária serta- ridas mediante compra.
neja surgiu, revestindo-se de grande importância geo-econômica, à A sesmaria, que originou o latifúndio, monocultor com a ca-
medida que extensa faixa territorial pôde ser ocupada por reduzida na-de-açúcar no litoral e brejo, e binômio pecuária – algodão, no
população. Nesta área, o grande proprietário baseou sua economia sertão, responsabilizou-se pela ocupação da Paraíba. O proprie-
em duas atividades: pecuária e cultura do algodão. tário, todavia, não trabalhava diretamente a terra. Desde o início
A construção do forte de cabedelo na foz do Rio Paraíba ser- recorreu=se ao braço do negro africano, para cá importado. Surgia
viu de ponto de apoio para a continuidade da conquista do norte da assim, na zona da mata, onde rios, solo de tipo massapé e, princi-
capitania (vales Mamanguape e Camaratuba), do Rio Grande do palmente demanda dos mercados externos ensejavam partidos de
Norte e mais tarde da penetração para oeste rumo ao sertão. cana e engenhos, o latifúndio monocultor e escravista. Sua força
Entre 1585 e 1634 se processou a consolidação do povoa- de trabalho residia na mão-de-obra negra, não porque o índio fosse
mento do litoral. Este se deteve, até meados do século XVII, na indolente ou inapto ao trabalho, mas porque na escravidão africana
Borborema, onde a presença de densas florestas, índios e o relevo residiam os maiores lucros do sistema econômico mercantilista,
acidentado retardaram a ocupação. baseado na circulação de mercadorias.

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Essa sociedade era também patriarcal. Isso porque o grande Pombal
proprietário, dispunha de poderes absolutos, nos limites de sua
propriedade. A mulher, filhos, agregados e escravos deviam-lhe No final do século XVII, Teodósio de Oliveira Ledo realizou
fidelidade. Não raro, castigos físicos acompanhavam as transgres- uma entrada através do rio Piranhas. Neste venceu o confronto
sões. A mulher tve alguma importância nesse tipo de organização com os índios Pegas e fundou ali uma aldeia que inicialmente re-
social, mas seus poderes limitavam-se ao interior da casa grande. cebeu o nome do rio (Piranhas).
Quanto aos filhos, casavam-se mediante recomendação dos pais, Devido ao sucesso da entrada não demorou muito até que pas-
verificando-se muitos casamentos entre parentes para impedir di- saram a chamar o local de Nossa Senhora do bom sucesso, em
visão da propriedade. O despotismo patriarcal ampliava os limites homenagem a uma santa.
da família, de modo que, ao lado da família legítima, sobrevinha Em 1721 foi construída no local a Igreja do Rosário, em ho-
outra, ilegítima, mediante multidão de filhos naturais. menagem a padroeira da cidade considerada uma relíquia histórica
nos dias atuais.
Primeiras vilas da Paraíba na Época colonial Sob força de uma Carta Régia datada de 22 de junho de 1766,
o município passou a se chamar Pombal, em homenagem ao fa-
Com a colonização foram surgindo vilas na Paraíba. A seguir moso Marquês de Pombal. Foi elevada à vila em ¾ de maio de
temos algumas informações sobre as primeiras vilas da Paraíba. 1772, data hoje considerada como sendo também a da criação do
município.
Pilar
Areia
O início de seu povoamento aconteceu no final do século XVI,
quando as fazendas de gado foram encontradas pelos holandeses. Conhecida antigamente pelo nome de Bruxaxá, Areia foi ele-
Hoje uma cidade sem muito destaque na Paraíba, vada à freguesia com o nome de Nossa Senhora da Conceição pelo
Foi elevada à vila em 5 de janeiro de 1765. Pilar originou-se a Alvará Régio de 18 de maio de 1815. Esta data é considerada tam-
partir da Missão do Padre Martim Nantes naquela região. Pilar foi bém como a de sua elevação à vila.
elevada a município em 1985, quando o cultivo da cana-de-açúcar Sua emancipação política se deu em 18 de maio de 1846, pela
se tornou na principal atividade da região. lei de criação número 2. Hoje, areia se destaca como uma das prin-
cipais cidades do interior da Paraíba, principalmente por possuir
Sousa um passado histórico muito atraente.

Hoje a sexta cidade mais populosa do estado e dona de um


dos mais importantes sítios arqueológicos do país (Vale dos Dinos- OS HOLANDESES NA PARAÍBA;
sauros), Sousa era um povoado conhecido por “Jardim do Rio do
Peixe”. A terra da região era bastante fértil, o que acelerou rapida-
mente o processo de povoamento e progresso do local.
Em 1760, já viviam aproximadamente no vale 1468 pessoas. Portugal desde 1580 estava sob domínio espanhol, e conse-
Sousa foi elevada à vila com o nome atual em homenagem ao seu quentemente, o Brasil. A instalação da empresa açucareira no Bra-
benfeitor, Bento Freire de Sousa, em 22 de julho de 1776. Sua sil contou com a participação holandesa, desde o financiamento
emancipação política se deu em 10 de julho de 1854. das instalações até a comercialização no mercado europeu. Assim,
quando Felipe II proibiu a manutenção dessas relações comerciais,
Campina Grande tirou dos holandeses uma grande fonte de lucros, levando-os a
reagirem com a invasão ao Nordeste brasileiro. Para isso, os ho-
Sua colonização teve início em 1697. o capitão-mor Teodósio landeses organizaram uma Companhia – a Companhia das Índias
de Oliveira Ledo instalou na região um povoado. Os indígenas for- Ocidentais –, e decidiram invadir a capital, em 1624. Prenderam o
maram uma aldeia. Em volta dessa aldeia surgiu uma feira nas ruas Governador Geral e o enviaram para a Holanda.
por onde passavam camponeses. Percebe-se que as características Não conseguiram, no entanto, governar a região. Sob o co-
comerciais de Campina Grande nasceram desde sua origem. mando de D. Marcos Teixeira, as forças brasileiras mataram vários
Campina foi elevada à freguesia em 1769, sob a invocação de chefes batavos, enfraquecendo as tropas holandesas. Em maio de
nossa senhora da conceição. Sua elevação à vila com o nome Vila 1625, eles foram expulsos da Bahia pela esquadra de Fradique To-
Nova da Rainha se deu em 20 de abril de 1790. Hoje Campina ledo Osório.
Grande é a maior cidade do interior do Nordeste. As invasões holandesas atingem também a Paraíba e através
de ataques contínuos a Cabedelo, onde a resistência foi muito
São João do Cariri acentuada, tentam se fixar em nossas terras, porém só concretizan-
do em 1634, quando desembarcam ao norte da foz do Jaguaribe e
Tendo sido povoada em meados do século XVII pela enor- conseguiram vitória sobre as tropas do governador paraibano An-
me família Cariri que povoava o sítio São João, entre outros, esta tônio de Albuquerque Maranhão e partindo para dominar Cabede-
cidade que atualmente não se destaca muito à n´vel estadual foi lo, onde tiveram êxito.
elevada à vila em 22 de março de 1800. Sua emancipação política Em dezembro de 1634 os holandeses entraram na cidade de
é datada de 15 de novembro de 1831. Filipéia de Nossa Senhora das Neves e passaram a administra-las
até 1645.

Didatismo e Conhecimento 5
HISTÓRIA DA PARAÍBA
A preocupação inicial dos holandeses consistiu em manter Já em 1636, o segundo diretor geral Ippo Eyssens, tido como
defesas, para estabilizar a conquista, e atrair a simpatia dos habi- arbitrário, foi morto numa emboscada, quando assistia a farinhada
tantes da Paraíba, cuja capital teve a denominação mudada para no engenho Santo Antônio. O principal responsável foi o capitão
Frederica. A Fortaleza de Santa Catarina, no Cabedelo, foi rebati- Francisco Rabello, o Rabellinho. Reagindo, os holandeses procu-
zada como Margareth. raram apresentar combate no Tibiri, que foi evitado pelos luso-bra-
Alguns dos nossos moradores pressentindo a derrota e não sileiros que pretendia retrair-se e recorrer a ataques rápidos e de
querendo se submeter aos inimigos, retiraram-se da Capitania. Po- surpresa. Era a guerrilha. Por conta desta os holandeses nunca se
rém antes da retirada, queimavam os canaviais e inutilizavam os sentiram seguro na Paraíba, salvo durante algum tempo na Capital
engenhos. André Vital de Negreiros foi o primeiro a tocar fogo no e, mais tarde, no interior da Fortaleza de Santa Catarina. A repres-
engenho do seu pai e muitos seguiram-lhe o exemplo. são holandesa caracterizou-se pela brutalidade. Alguns engenhos
Para impedir possível rebelião, os holandeses tanto fortifica-
e propriedades foram confiscados. A pena capital foi igualmente
ram a Igreja de São Francisco e o convento de Santo Antônio, a
cujas portas instalaram entrincheiramentos e bateria, quanto ocu- aplicada, e, em 1645, o diretor geral Paul Linge, responsável por
param a inacabada Igreja de São Bento, na Rua Nova. Quando os enforcamentos, mandou arrastar pela cidade o corpo de condenado
religiosos franciscanos tentaram desobedecer às ordens dos novos que morrera na prisão.
senhores, foram expulsos da Capitania. A tensão somente aliviou entre 1638 e 1644, durante a admi-
nistração dos diretores Elias Hercman e Gisberth Wirth. Por essa
Nova organização política, social e econômica época, chegou ao Brasil o conde Maurício de Nassau, que se ins-
talou no Recife, com artistas, cientistas, e estudiosos do melhor
Os holandeses reconheceram a desvantagem de ver a terra de- nível.
samparada, engenhos abandonados, outros danificados. Então se Emancipados da Espanha, em 1640, os portugueses encontra-
prestaram a fazer com os moradores uma espécie de pacto. Duarte vam-se com as finanças abaladas, de modo que alguns conselhei-
Gomes da Silveira foi um dos primeiros a se apresentar ao inimi- ros do rei, com o padre Antônio Vieira, o maior sábio do mundo
go e serviu de mediador entre os moradores e os invasores. Não luso da época, elaboraram documento que propunha a preservação
traindo os seus, mas para não entregar de tudo o que lhes custara
de todo Norte pelos holandeses que se absteriam de invadir o res-
tanto trabalho.
O primeiro governador da província holandesa da Paraíba e tante do Brasil e as possessões lusas no Oriente.
Rio Grande do Norte foi Servaes Carpentier que em nome do Prín- Esse documento ganhou a denominação de papel forte, tão
cipe de Orange, dos Estados Gerais e da Companhia fez aos parai- convincente pareciam suas razões. Na Paraíba, os proprietários e
banos, em ata de 13 de janeiro de 1635, as seguintes promessas: altos funcionários, beneficiários da invasão flamenga, concorda-
ofereceram anistia, liberdade de consciência e de culto católico, ram com os termos.
manutenção do regime de propriedade, proteção aos negócios e Não foi esse, porém, o caso do jovem André Vital de Negrei-
observâncias das leis portuguesas nas pendências aos naturais da ros. Paraibano, filho de proprietários portugueses, participou da
terra. campanha anti-holandesa de 1624, na Bahia , onde ficou por algum
Tais recomendações surtiram efeito, daí porque não foram tempo. Em 1630, encontrava-se em Olinda, quando os flamengos
poucos os que aderiram aos invasores. O padre jesuíta Manoel dominaram a cidade. Novamente na Paraíba, entre 1634 e 1636,
Morais abjurou a fé católica e embarcou para a Holanda, onde se nunca pactuou com invasor que o respeitava.
fez calvinista e casou. De 1636 a 1644 permaneceu em Portugal onde, em vão, ten-
No plano administrativo, conservou-se parte da antiga admi-
tou mobilizar os espíritos em prol da resistência. Sem conseguir o
nistração, subordinada, porém, ao diretor geral, função inicial-
mente ocupada pelo conselheiro Servaes Carpentier. Funcionários intento, retornou ao Brasil, desembarcando na praia pernambucana
denominados escabinos e escoltetos encarregou-se de administra a de Tamandaré, acima da qual, em Santo Antônio do Cabo, fez jun-
justiça e cobrar impostos. ção com as tropas pernambucanas de João Fernandes Vieira. A luta
No plano econômico-social, os holandeses mantiveram a es- doravante, iria travar-se em campo aberto, e, nela, Vidal de Negrei-
cravidão. Com esse objetivo, ocuparam, preliminarmente, a pro- ros revelaria dons de estrategista. Participante das duas batalhas
víncia portuguesa de angola, na África, principal fonte de forne- dos Montes Guararapes, figurou entre os chefes que receberam a
cimento de cativos. Introduzindo aperfeiçoamentos técnicos como rendição holandesa, na Campina da Taborda. Anteriormente, não
moendas metálicas, no lugar das antigas, feitas de madeira, ofere- hesitara em atear fogo aos canaviais do próprio pai, na Paraíba.
ceram empréstimos aos proprietários de engenhos. A maior parte Sua carreira foi uma sucessão de êxitos. Escolhidos para le-
destes, liderados por Duarte Gomes da Silveira aceitou a oferta. var a Portugal os resultados da insurreição contra os holandeses,
A principal colaboração recebida pelos holandeses proveio foi nomeado governador dos estados do Maranhão e Grão-Pará,
dos índios Potiguaras enquadrados pelos caciques Pedro Poti e Pa- que constituíam territórios independentes do restante do Brasil.
raupaba. Em troca, os holandeses chegaram a realizar Assembleia
Em 1662, designaram-no governador de Angola, onde fortificou
de índios para a qual os principais do Ceará e Pernambuco envia-
ram representantes à vila de Itapessica, em Pernambuco. a capital, Luanda. Ao falecer, em 1680, seus restos mortais foram
transladados para a Igreja dos Prazeres, nos montes Guararapes.
A Resistência anti-holandesa Considerado um dos maiores Paraibanos de todos os tempos
Vidal de Negreiros fez-se indiscutível chefe da Guerra de Liberta-
O controle holandês sobre a Paraíba durou apenas vinte anos, ção Nacional que a insurreição contra os holandeses representou.
de 1634 a 1654, e nunca se fez total. Isso porque, desde cedo, os Com o afastamento dos espanhóis e retraimento dos portugueses,
que não o aceitaram partiram para a luta armada que assolou a vár- a peleja tomou dimensão nacionalista, nela se verificando a primi-
zea do Paraíba. Nesta os flamengos nunca conseguiram firmar-se. tiva formação da Pátria.

Didatismo e Conhecimento 6
HISTÓRIA DA PARAÍBA
Na Paraíba, a insurreição contra os flamengos propagou-se Em matéria de produção açucareira, o melhor documento de
com tanta rapidez que, em 1645, o capitão Lopo Curado Garro, origem holandesa é o minucioso Relatório sobre as Capitanias
autor de relação das pugnas contra os holandeses no Nordeste, já Conquistadas no Brasil pelos Holandeses, datado de 1639, e de
dominava a região do Tibiri. Daí suas colunas ingressaram, nesse autoria de Adriaen Van Der Dussen. De portos, rios, cidades, fre-
mesmo ano, na capital, de onde os holandeses se retiraram para a guesias, aldeias, escravos, pau-brasil e madeiras, fortificações,
Fortaleza de Santa Catarina. Nos últimos nove anos de permanên- religião e abastecimento ocupa-se Dussen cujo texto detalha os
cia na Paraíba, limitaram-se ao controle dessa fortificação. vinte engenhos existentes na Paraíba, com as respectivas tarefas
e lavradores.
A Capitania da Paraíba na época da invasão holandesa O mais completo relatório sobre a Paraíba proveniente do do-
mínio holandês, é a Descrição geral da Capitania da Paraíba, de
Na época da invasão holandesa, a população era dividida em Elias Herckman, objeto, em 1982, de duas edições, ambas em João
dois grupos: os homens livres (holandeses, portugueses e brasilei- Pessoa. Geógrafo, poeta e cartógrafo, Herckman que na condição
ros) e os escravos (de procedência brasileira ou africana). A mis- de Diretor da Companhia das Índias Ocidentais, governou a Paraí-
tura de raças não era bem vista pelo governo holandês, portanto, ba de 1636 a 1639, elaborou documento verdadeiramente mode-
durante vinte e quatro anos de domínio holandês no Brasil, sabe- lar. A primeira parte é dedicada a capital, a segunda aos engenhos
-se de raras uniões entre holandeses e nativos, sendo consideradas do vale do Paraíba e a terceira aos costumes dos índios Tapuias.
uma exceção. Geografia Urbana, Economia e antropologia combinam-se, dessa
A Capitania da Paraíba de 1635 a 1645 teve como administra- forma, harmoniosamente.
dores alguns governadores holandeses:
- Servaes Carpentier: Também governou o Rio Grande do
Norte, e sua residência oficial foi no Convento São Francisco de
onde para execução do seu intento, expulsaram os franciscanos A INQUISIÇÃO NA PARAÍBA E A
que lá moravam. O Convento de São Francisco, além de ser a re- EXPULSÃO DOS JESUÍTAS;
sidência oficial do governo holandês, servia também para abrigo
dos mercadores neerlandeses em ocasiões necessárias, servindo
também de quartel, para os soldados da guarnição que serviam na Além de muito prestigiada, a Igreja Católica era a guardiã da
cidade.
sociedade patriarcal e religiosa praticada no Brasil colônia e im-
- Ippo Elyssens: Foi um administrador violento e desonesto.
pério. Após 40 anos da fundação a cidade tinha cerca de 80 casas,
Apoderou-se dos melhores engenhos da capitania. Foi morto quan-
3 igrejas e 3 conventos o que, pela proporção, dá par se notar o
do assistia a uma farinhada no povoado do Espírito Santo.
valor da Igreja durante a colonização. Aliás, alguns pesquisadores
- Elias Herckmans: Governador holandês importante, que go-
aventam o fato de a Coroa Portuguesa ter usado a Igreja como a
vernou por cinco anos.
mais importante ferramenta utilizada em seus interesses na “terra
- Sebastian Von Hogoveen: Governaria no lugar de Elias H.,
brasilis”. Até porque o “padroado” favorecia a Coroa Imperial: nas
mas morreu antes de assumir o cargo.
- Daniel Aberti: Substituto do anterior. terras descobertas o Rei podia autorizar ou obstruir o trabalho dos
- Paulo de lince: Foi derrotado pelos “Libertadores da Insur- religiosos como bem lhe prouvesse. Citando o Pe. Manoel Medei-
reição”, e retirou-se para Cabedelo. ros (IHGP): “A igreja católica no Brasil, portanto, na Paraíba, ti-
nha dois governos. Um canônico, com o Papa e os Bispos à frente,
Cultura e contribuições holandesas e outro imperial, com os reis de Portugal e depois do Brasil, que
também era o Grão Mestre da Ordem Militar de Cristo, no seu
O capítulo das invasões holandesa na Paraíba não deve ser comando. Quem comandava a Igreja era o rei de Portugal, era o rei
encarado apenas do ponto de vista militar. Bem mais importante do Brasil (Reino Unido) e era o Imperador do Brasil. Isso durou
fez-se a contribuição cultural dos invasores – e cultura é o que fica. até a República, quando houve a separação da Igreja do Estado.
Nesses termos, os flamengos contribuíram para o conhecimento Foi um Deus nos acuda, mas foi um grande benefício para a Igreja,
da terra. por que ela se sentiu livre”.
Tal deveu-se, em primeiro lugar, aos relatórios que produzi- As ordens religiosas dispunham de muitas propriedades, en-
ram. genhos e escravos. O Tribunal do Santo Ofício, durante a Inquisi-
O primeiro, de autoria do conselheiro Servaes Carpentier, re- ção, autorizou em 1595 a primeira visitação na Paraíba. Dezenas
vela caráter ecológico, ao recomendar as áreas mais adequadas ao de pessoas foram penalizadas. O processo foi tão rigoroso que che-
plantio da cana-de-açúcar, fumo e mandioca, além de criação de gou a confiscar os bens do Padre João Vaz de Salem, homem muito
gado. Entusiasmado com a fertilidade da terra, Carpentier deteve- rico, influente e também vigário da freguesia de Nossa Senhora
-se, longamente, sobre as árvores, frutos e animais que nela se en- das Neves. A partir do século XVIII as famílias mais abastadas e
contravam. os representantes da classe dominante aprenderiam que o fato de
Descrição das Capitanias de Pernambuco, Itamaracá, Para- se ter um padre na família era fator muito importante nas disputas
hyba e Rio Grande do Norte intitula-se o relatório assinado por pelo poder.
Adriaen Verdonck, que teve um fim trágico. Segundo esse autor, Os jesuítas foram os primeiros missionários que chegaram à
a Paraíba, dispunha, em 1630, de dezoito a dezenove engenhos Capitania da Paraíba. No final de 1588 iniciaram a construção de
responsáveis por cento e cinquenta mil arrobas anuais que signi- um convento e uma igreja dedicados a Nossa Senhora de Nazaré
ficavam seiscentas a setecentas caixas de açúcar, embarcadas nos do Almagre. Seus interesses conflitaram com os interesses da Co-
navios. Contudo, havia pouco, movimento de negócios na capital. roa Portuguesa e foram expulsos da capitania em 1593. Em 1708

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HISTÓRIA DA PARAÍBA
os jesuítas voltaram à Paraíba fundando um colégio onde ensina- Durante a ocupação holandesa (1630-1654) o nordeste chegou
vam latim, filosofia e letras. Em 1745 o Padre Gabriel Malagrida a ter 22 igrejas protestantes. Apesar de proclamarem a liberdade
aqui instalou o primeiro seminário para formação de padres dioce- religiosa para os vencidos, na prática existia apenas tolerância, a
sanos nas terras brasileiras. Contudo, em 1773 a congregação foi exemplo do que, em 1638, foram proibidas as procissões e todas as
novamente expulsa da colônia em função da política de persegui- manifestações externas de culto católico, assim como a proibição
ção do Marquês de Pombal, ministro plenipotenciário do reinado do casamento católico sem a licença da Igreja Reformada, a bên-
de D. José I. O prédio do seminário passou a ser residência oficial ção dos engenhos por padres e a extrema-unção, por padre, dada a
do Ouvidor-Geral da capitania com a permissão do Papa Clemente portugueses condenados à morte. Cf. Mário Neme em “Fórmulas
XIV. Saiba mais sobre os jesuítas. políticas no Brasil holandês”.
Os franciscanos estabeleceram-se na Capitania da Paraíba A Igreja Cristã Reformada visou, também, a catequese dos
em 1589, convidados pelo Capitão-Mor Frutuoso Barbosa. Inicia- índios, aproveitando o trabalho feito pelos padres católicos em
ram, no mesmo ano, a construção do Convento de Santo Antônio, aldeamentos já existentes. Em 1939 existiam 21 aldeamentos no
em taipa (madeira entrelaçada e barro), visando infraestruturar a nordeste holandês, dos quais, 7 na Paraíba. A evangelização indí-
Ordem para a catequese dos indígenas, o que fariam sob dispu- gena contava fortemente com o apoio do Estados Gerais dos Países
ta ferrenha entre jesuítas e beneditinos. Retomaram melhorias no Baixos, porquanto havia um trabalho paralelo para arregimentar
prédio do convento (usando pedra e cal) e iniciaram a construção guerreiros contra as tropas portuguesas.
da igreja de Santo Antônio (errônea e normalmente chamada igre-
ja de São Francisco) que faz parte do conjunto hoje denominado
“Centro Cultural São Francisco”, considerado uma verdadeira joia
A PARAÍBA E A INDEPENDÊNCIA
da arquitetura barroca nas Américas. O Centro Cultural é tomba-
DO BRASIL;
do pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-
-IPHAN. Durante a ocupação holandesa o convento foi utilizado
como residência do governador e casa de apoio para militares de
altas patentes. Com a independência do Brasil, o presidente da província de
-Veja imagens do Centro Cultural São Francisco em “slide- Pernambuco, Luís do Rego Barreto, tinha um cenário difícil desde
-show” a Revolução de 1817, pois a terra ainda gemia com o “depravado
-Saiba mais sobre os franciscanos e estúrdio despotismo”, como refere Rocha Pombo em sua Histó-
ria do Brasil. Animado com as mensagens de Lisboa e a convite
Os beneditinos após criarem abadias em Salvador (1581), Rio da Junta da Bahia, mas temeroso de desaforos, conservou toda a
de Janeiro (1586) e Olinda (1590), chegaram à cidade de Filipéia plenitude da autoridade e dirigiu um manifesto ao povo, expondo
de Nossa Senhora das Neves em 1596 e deram início às obras do as bases da Constituição que iria ser promulgada e convocando
Mosteiro de São Bento. Em 1721 iniciaram a construção da igreja eleitores de todas as paróquias. Os pernambucanos receberam com
que fica ao lado do convento. O conjunto tem estilo sóbrio, mas desconfiança as promessas e votaram com independência, elegen-
harmonioso e imponente. O mosteiro foi desativado em 1921 e do as pessoas que lhes pareceram mais dignas, as quais “quase
seu prédio tem sido locado para o funcionamento de instituições todas pertenciam mais ou menos ostensivamente aos vencidos de
educativas. O Conjunto Beneditino é tombado pelo Instituto do 1817”.
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e fica na Rua General A 29 de agosto de 1821 nomeou-se por aclamação uma Junta
Osório, perto da catedral. Saiba mais sobre os beneditinos. Provisional Temporária em Goiana, para contrabalançar outra, do
Os carmelitas aqui se instalaram em 1588. Construíram um partido português, em Recife. Mesmo pedindo reforços à Paraíba,
convento, a igreja de Nossa Senhora do Carmo e a capela de Santa Rego Barreto foi cercado, assinando a capitulação a 5 de outubro,
Tereza D’Ávila, formando o Conjunto Carmelita em estilo barro- junto à povoação do Beberibe.
co-rococó situado na parte mais alta da cidade. Num promontório A vitória dos pernambucanos ecoou na Paraíba, onde a 25 de
ao largo da foz do Rio Paraíba (hoje município de Lucena) cons- outubro foi eleita uma Junta Governativa para administrar a pro-
truíram a igreja de Nossa Senhora da Guia e um hospício, deno- víncia em nome da Constituição portuguesa.
minação dada aos hospitais religiosos no Brasil colônia. A Igreja
da Guia é classificada como peça exemplar da arquitetura barroco- A Junta Governativa
-tropical em vista dos maravilhosos entalhes em pedra calcária
representando os frutos e a flora da nova terra. Não se tem muito Quando D. João VI transformou as capitanias em províncias,
sobre a Ordem porque durante o domínio holandês (1634 a 1654) estas foram inicialmente governadas por uma junta governativa
os frades tentaram proteger seus documentos enterrando-os. Anos provisória.
depois, grande parte dos documentos não foi encontrada e alguns
estavam impróprios para a leitura. Saiba mais sobre os carmelitas. A seguir alguns dos membros da junta da província da Paraíba:
A Igreja Cristã Reformada (Igreja Protestante Calvinista nos
Países Baixos) tentou se estabelecer no Brasil-colônia no Rio de • João de Araújo da Cruz
Janeiro (1557-1558) através dos franceses e depois em Salvador • Galdino da Costa Vilar
(1624-1625) com os holandeses. Como uns e outros foram derro- • Estevão José Carneiro da Cunha
tados nessas capitanias, somente a partir de 1630, com a ocupação
holandesa no nordeste do Brasil, houve condição para que fossem A junta governativa paraibana administrou a província de 25
criadas suas congregações, estruturadas sob o Sínodo do Brasil. de outubro de 1821 a 9 de abril de 1824.

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HISTÓRIA DA PARAÍBA
Areia, em 21 de fevereiro de 1849. as tropas rebeldes que puderam
fugir, escaparam para o interior, seguindo rumo de Campina Gran-
A PARAÍBA E A
de e Pocinhos, onde dispersaram-se.
REVOLUÇÃO PRAIEIRA;
Os revoltosos de Pernambuco vieram à Paraíba em socorro
de seus companheiros e ideal, chefiados por Pedro Ivo. Borges da
Fonseca, querendo reorganizar a revolta, foi preso. Em vista disto,
terminou a rebelião que não pôde ser de novo organizada, com a
A revolta Praieira pode-se dizer que foi a última revolução prisão do restante.
política de protesto contra as mudanças ministeriais. O ambiente O Partido Conservador, triunfante, dominou por longo tempo
para a revolução já se vinha preparando com as divulgações das e se apresentou ao Brasil, como partido de ordem. Ao terminar a
ideias de reforma social, contra a prepotência econômica e política “Praieira”, na Paraíba, realizaram-se eleições para a legislatura de
dos latifundiários e a exploração dos grandes comerciantes. 1850-1852.
Estando na Presidência do Gabinete Conservador Pedro de
Araújo Lima, rebentou a revolução. Estava bem vivo ainda o espí-
rito republicano de 1817, sufocado pelo Império. O RONCO DA ABELHA NA PARAÍBA;
O partido liberal de Pernambuco, chamado de “praieiro”, por-
que ficava na Rua da Praia, tinha o seu Jornal – o “Diário Novo”
– de propriedade de Luiz Roma, sendo seu principal redator Abreu
e Lima. Governava Pernambuco de 1845 a novembro de 1848 o
Desembargador Chichorro da Gama. O partido era constituído de Ficou conhecida como Revolta do ronco da abelha a movi-
conservadores e liberais, que se uniam para combater os portu- mento popular armado ocorrido entre dezembro de 1851 e feve-
gueses que chamavam de marinheiros, e também para combater reiro de 1852, que envolveu vilas e cidades de cinco províncias do
as oligarquias de famílias regionais, como os Cavalcanti de Al- Nordeste: Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Ceará e Sergipe, sendo
buquerque, os Rego Barros, Paes Barreto, etc. que alicerçavam o mais forte nas duas primeiras províncias. Nos dias de feiras os
partido Conservador. Os Republicanos apoiavam-se no paraibano revoltosos causavam um enorme burburinho entre a população.
Borges da Fonseca, apelidado de o “Republico”. Era agitador, inte- Quando perguntavam o porquê de tantos comentários, as vozes
ligente, valente e líder. Apesar disto, quando rebentou a revolução, mais precavidas diziam que era apenas “o ronco da abelha”, nome
Borges da Fonseca esqueceu todas as mágoas e entrou na revolta por qual acabou ficando conhecido o movimento.
contra os “Aristocratas”. Os incidentes foram provocados por dois decretos imperiais,
Em novembro de 1848, assumiu o Governo de Pernambuco de junho de 1851, o 797 e o 798, cujo propósito era instituir o Re-
Dr. Herculano Pena. Infelizmente iniciou seu governo com uma gistro Civil dos Nascimentos e Óbitos. O primeiro decreto estabe-
série de demissões de pessoas filiadas ao partido liberal que, na sua lecia o Censo Geral do Império, logo após a divulgação em editais
maioria, era do grupo dos “Praieiros”. em jornais ou a afixação em igrejas matrizes. O 798 obrigava todo
Os liberais chamaram logo o seu líder, o deputado Nunes Ma- brasileiro a se apresentar nas paróquias e à frente de juízes de paz
chado, para vir comandar uma revolta, que deveria rebentar logo. das diferentes localidades, para fornecer os dados pessoais, data
Com a confirmação da vinda de Nunes Machado, os liberais exul- e local de nascimento, filiação, estado civil e cor da pele. A real
tavam. Em 7 de setembro de 1848, anos depois da Sabinada, em intenção do Estado era colher dados para calcular a população,
Olinda, rebentou a revolução, espalhando-se pelo litoral pernam- com o objetivo de sistematizar o recrutamento de homens para o
bucano, sob o comando de Nunes Machado aliado de Borges da serviço militar.
Fonseca. Com a implementação destes decretos, rapidamente espalhou-
Na Paraíba, o governador João Antônio de Vasconcelos en- -se entre a população mais humilde o boato de que o governo que-
viou, para a fronteira de Alhandra e Pedra de Fogo, 400 homens a ria reduzir os cidadãos pobres à condição de escravos. Temia-se
fim de impedir a invasão dos revoltosos na Província. Tinham or- que a escravidão atasse em ferros também a população branca.
dens também de, se fossem requisitados pelo Governo de Pernam- Vale lembrar que apenas um ano antes fora aprovada a Lei
buco, se incorporar às fileiras legalistas pernambucanas. A força Eusébio de Queirós, proibindo o tráfico de escravos, e a economia,
foi requisitada, aliás, havendo muitas deserções. No ataque a reci- em especial da região nordestina, passou por drásticas mudanças,
fe, morreu Nunes Machado. Em vista disto, os Praieiros retiraram- pois os escravos da área eram mandados para as plantações de café
-se para o interior da Paraíba, chefiados por Borges da Fonseca. no sudeste, e a disponibilidade de mão de obra ficara escassa.
Em Alagoa Grande, os revoltosos acharam adeptos, nas pes- Reagindo a esses boatos, um grande número de pessoas, ar-
soas do comandante da Guarda Nacional de Areia, do Cel. Joaquim madas de foices, enxadas e espingardas, passou a atacar prédios e
dosa Santos Leal, do delegado Maximiliano Machado, do juiz Mu- autoridades públicas, em meio a gritos de “Abaixo a Lei, morra o
nicipal de Areia. Escreveram estas autoridades de Areia um ofício Governo” como palavras de ordem.
ao Governador da Província demitindo-se dos seus cargos. Em meio à violência destas ações, o governo foi obrigado a
Os revoltosos entraram em Areia entusiasmados com a adesão reagir, mobilizando mais de mil soldados da polícia, além da con-
das principais autoridades. O governo Imperial, alarmado com o vocação da Guarda Nacional e da utilização de padre Capuchinhos
caso, mandou imediatamente uma coluna de soldados comandada que, ao se darem conta de que o movimento fugiu do controle,
pelo Cel. Falcão. Colocaram-se os soldados legalistas nos Enge- passaram a conclamar os fiéis para o respeito à ordem pública,
nhos Gregório, Boa Vista e Ladeira do Tatu. Das 07: 00 horas às prometendo ao revoltoso que desistisse dos protestos a salvação, e
13 00 horas, houve um terrível tiroteio que resultou na tomada de o fogo do inferno a quem não se submetesse.

Didatismo e Conhecimento 9
HISTÓRIA DA PARAÍBA
Já no final de janeiro 1852 a paz social foi restabelecida, mas, No entendimento supersticioso da gente do nordeste rural, o
em meio à baderna resultante, ficou difícil identificar os verdadei- metro e o peso, tornados válidos por decreto imperial em 1872,
ros líderes do movimento. Muitas pessoas são acusadas, mas não consistiam em representações do demônio, e a tentativa de adotá-
se consegue obter provas concretas do envolvimento das mesmas. -los criou entre o povo a ideia que estavam sendo enganados pelos
Finalmente, o governo edita o decreto 970, de 29 de janeiro de comerciantes e poderosos. Os revoltosos, sentindo-se ofendidos
1852, que suspende os decretos 797 e 798, adiando a realização em seus sentimentos deixavam extravasar suas queixas e partiam
do primeiro censo no Brasil para vinte anos depois, sendo que o para os povoados e se apoderavam das “medidas”, quebrando-as e
registro civil só será adotado com o advento da república. lançando-as no rio.
Tudo tem início, ao que se sabe, com o popular João Carga
D’água, vendedor de rapadura, que liderando um grupo, resolveu
A PARAÍBA E A GUERRA DO PARAGUAI; invadir a feira do povoado de Fagundes, próximo a Campina Gran-
de, e quebrar as medidas usadas pelos feirantes e fornecidas pelo
governo. Assim, toma corpo a revolta, com incidentes semelhantes
se repetindo em várias áreas do nordeste. Eram escolhidos os dias
de feira para os ataques populares porque era nessa ocasião que as
Outro acontecimento histórico de grande repercussão nacio- autoridades costumavam cobrar os impostos municipais. Destaca-
nal que a Força Policial da Paraíba participou foi a Guerra do Pa- ram-se em meio aos revoltosos os nomes de João Vieira Manuel de
raguai. Depois de declarada a guerra, o Império convocou toda a Barros Souza e Alexandre Viveiros.
Tropas de Primeira Linha existentes nas Províncias. Da Paraíba Como resultado, o governo imperial enviou forças militares
seguiram também para o Rio de Janeiro, onde se incorporaram às para conter os distúrbios. A repressão que se seguiu foi violenta,
forças imperiais, contingentes da Guarda Nacional e Corpos de com prisões em massa. Somente em janeiro de 1875 as autoridades
Voluntários. Todo efetivo da Força Policial, totalizando 210 ho- provinciais conseguiram sufocar as manifestações populares nas
mens, sob o Comando do Maj José Vicente Monteiro da Franca, quatro províncias nordestinas. Uma das práticas repressivas co-
embarcou para a Capital do Império, no dia 23 de junho de 1865, mum empregada no castigo aos acusados de serem quebra-quilos
saindo de Cabedelo no Vapor Paraná. Enquanto aguardava o em- foi o chamado colete de couro, que consistia num pedaço de couro
barque, a Força Policial ficou aquartelada na Fortaleza da Santa cru colocado sobre o tórax e as costas do prisioneiro. Em seguida,
Catarina. Faziam parte do efetivo da Força Policial, os Capitães esse couro era molhado e, ao secar, este comprimia o peito violen-
José Francisco de Atayde Melo, Frederico do Carmo Cabral e tamente, causando lesões cardíacas e tuberculose como sequelas.
José Silva Neves, além dos Tenentes Francisco Gomes Monteiro
, Pedro César Paes Barreto e Joaquim Ferreira Soares. Depois das
batalhas, o Capitão Frederico foi condecorado com medalha de A REVOLTA DE PRINCESA;
honra, o que revela que o contingente da Força Policial teve pa-
pel destacado na guerra, de onde só retornou após sua conclusão.
Para substituir a Força Policial durante esse período foi criada uma
Força Policial Provisória, que foi extinta em 1870, quando a tropa
retornou do Paraguai. Em 1930, um grupo armado, sediado na cidade de Princesa,
no alto sertão paraibano, chefiado pelo Deputado Estadual José
Pereira, tentou conturbar a ordem pública no interior do Estado.
A REVOLTA DO QUEBRA-QUILOS; Os objetivos do movimento, como os dos rebeldes de Monteiro em
1912, era provocar uma intervenção federal na Paraíba. A conse-
quência imediata seria a deposição do Presidente João Pessoa, que
havia rompido relações políticas com Washington Luiz, depois dos
acontecimentos que resultaram no famoso “nego”.
Ficou conhecida pelo nome de Revolta do Quebra-Quilos o Mas uma vez a Força Pública foi acionada, e um grande efe-
movimento popular iniciado na Paraíba, a 31 de outubro de 1874, tivo foi mobilizado para enfrentar os rebeldes sertanejos, que re-
e que se opunha às mudanças introduzidas pelos novos padrões de cebiam ajuda do Governo Federal. Foram mais de quatro meses
pesos e medidas do sistema internacional, recém introduzidas no de violentos combates, em que foram registradas muitas mortes
Brasil. Praticamente sem uma unidade e sem liderança, a revolta de ambos os lados. Foi criado um Batalhão Provisório, na Força
logo se alastrou por outras vilas e povoados da Paraíba, estenden- Pública, só para reforçar o contingente empregado na luta.
do-se a Pernambuco, Rio Grande do Norte e Alagoas. Os acontecimentos mais marcantes desses confrontos foram;
A denominação de quebra-quilos teria surgido na cidade do O desastre da Água Branca, em que cerca de duzentos policiais
Rio de Janeiro, quando elementos populares invadiram casas co- foram mortos em uma emboscada; a tomada, pela Polícia, das ci-
merciais que haviam começado a utilizar o novo sistema de pesos dades de Teixeira, Imaculada e Tavares, que haviam sido ocupa-
e medidas, e aos gritos de “Quebra os quilos! Quebra os quilos”, das pelos grupos liderados por José Pereira e o cerco de Tavares,
depredavam tais estabelecimentos. A expressão começou a ser uti- que se achava ocupada pela Polícia e foi cercada por grupos de
lizada indiscriminadamente para se referir a todos os participantes cangaceiros, durante 18 dias. Princesa foi cercada e a interven-
dos movimentos de contestação ao governo com relação ao re- ção pretendida por José Pereira não foi alcançada. Muito foram
crutamento militar, à cobrança de impostos e à adoção do sistema os Policiais que se destacaram nessas lutas. Entre eles podemos
métrico decimal. citar; Tenente Coronel Elísio Sobreira, Comandante Geral na épo-

Didatismo e Conhecimento 10
HISTÓRIA DA PARAÍBA
ca, Capitão Irineu Rangel, Comandante do contingente empregado lha, da Cavalaria, da Manzuá, do policiamento a Pé ou de Motos,
na luta, Capitão João Costa, Tenente José Maurício, Tenente Elias das atividades de apoio, em fim dos que compõem a Polícia de
Fernandes, Tenente Manuel Benício, Aspirante Ademar Naziaze- hoje, honrando sua história e concorrendo para o fortalecimento do
ne, Sargento Severino Bernardo e Sargento Manuel Ramalho. seu futuro, e fazendo-a merecedora da carinhosa cognominação de
Briosa Policia Militar da Paraíba, conferida, ao longo da história,
pela sociedade paraibana.

O MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO
DE 1930; A PARAÍBA E A REVOLUÇÃO
CONSTITUCIONALISTA DE 1932; A PARAÍBA A PARAÍBA E A SEGUNDA
E A INTENTONA COMUNISTA DE 1935; GUERRA MUNDIAL;

Em novembro de 1935 ocorreu, em Natal, Recife e Rio de Durante o Estado Novo (1937 – 1945), o governo brasileiro
Janeiro, uma tentativa de implantação de um Governo Comunis- viveu a instalação de um regime ditatorial comandado por Getúlio
ta. Grupos orientados por Carlos Prestes e com a participação de Vargas. Nesse mesmo período, as grandes potências mundiais en-
simpatizantes militares, tomaram o Quartel do Exército em Natal e traram em confronto na Segunda Guerra, onde observamos a cisão
pretendiam depor o Governo do Rio Grande do Norte, instituindo entre os países totalitários (Alemanha, Japão e Itália) e as nações
uma Junta Governativa. Houve luta entre os rebelados e a Polícia democráticas (Estados Unidos, França e Inglaterra). Ao longo do
daquele Estado. conflito, cada um desses grupos em confronto buscou apoio políti-
Informado da situação, o Governador da Paraíba, Argemiro co-militar de outras nações aliadas.
de Figueredo, enviou a Natal, para auxiliar as forças legalistas, um Com relação à Segunda Guerra Mundial, a situação do Brasil
Batalhão Policial, sob o Comando do Tenente-Coronel Elias Fer- se mostrava completamente indefinida. Ao mesmo tempo em que
nandes. Ainda no percurso de João Pessoa a Natal, a Polícia parai- Vargas contraía empréstimos com os Estados Unidos, comandava
bana prendeu vários integrantes da Junta Governativa e apreendeu um governo próximo aos ditames experimentados pelo totalitaris-
farto material que eles haviam saqueado em diversas cidades. mo nazifascista. Dessa maneira, as autoridades norte-americanas
Em várias cidades, onde as autoridades constituídas haviam viam com preocupação a possibilidade de o Brasil apoiar os na-
fugido, temendo o movimento, Elias Fernandes restaurou a ordem zistas cedendo pontos estratégicos que poderiam, por exemplo,
, garantiu a posse de Prefeitos, e o funcionamento da justiça. Sere- garantir a vitória do Eixo no continente africano.
nados os ânimos, os comandados de Coronel Elias Fernandes per- A preocupação norte-americana, em pouco tempo, proporcio-
maneceram em Natal até o final daquele ano, sendo alvo de muitas nou a Getúlio Vargas a liberação de um empréstimo de 20 milhões
homenagens do povo potiguar em sinal de gratidão pela honrosa de dólares para a construção da Usina de Volta Redonda. No ano
forma como auxiliaram a debelar aquele movimento. seguinte, os Estados Unidos entraram nos campos de batalha da
Segunda Guerra e, com isso, pressionou politicamente para que o
A Briosa Brasil entrasse com suas tropas ao seu lado. Pouco tempo depois,
o afundamento de navegações brasileiras por submarinos alemães
A Polícia Militar da Paraíba participou de importantes acon- gerou vários protestos contra as forças nazistas.
tecimentos da história do país, como a revolução de 1930; o com- Dessa maneira, Getúlio Vargas declarou guerra contra os ita-
bate a um movimento armado ocorrido em um Quartel do Exército lianos e alemães em agosto de 1942. Politicamente, o país buscava
no Recife, em 1931, e a vigilância do litoral paraibano, durante ampliar seu prestígio junto ao EUA e reforçar sua aliança política
a 2ª guerra mundial. No campo de ordem pública a Corporação com os militares. No ano de 1943, foi organizada a Força Expe-
mantém desde 1835, Destacamentos Policiais em todo território dicionária Brasileira (FEB), destacamento militar que lutava na
paraibano. O Cangaceirismo, fenômeno que aterrorizou o sertão Segunda Guerra Mundial. Somente quase um ano depois as tropas
nordestino de 1878 a 1938, foi firmemente combatido pela Polícia começaram a ser enviadas, inclusive com o auxílio da Força Aérea
Militar, através das famosas patrulhas Volantes, compostas por ho- Brasileira (FAB).
mens valentes e destemidos. A principal ação militar brasileira aconteceu principalmente
Hoje, a Polícia Militar procura, através das diversas moda- na organização da campanha da Itália, onde os brasileiros foram
lidades de policiamento que executa, e por meio de várias outras para o combate ao lado das forças estadunidenses. Nesse breve
formas de prestação de serviço de alcance social, continuar sua período de tempo, mais de 25 mil soldados brasileiros foram en-
gloriosa marcha histórica, na permanente busca de bem servir a viados para a Europa. Apesar de entrarem em conflito com forças
sociedade Esses esforços são permanentemente reciclados pela nazistas de segunda linha, o desempenho da FEB e da FAB foi
adoção de uma política de renovação dos recursos humanos, ma- considerado satisfatório, com a perda de 943 homens.
teriais, modernização de métodos de atuação e de valorização dos
recursos humanos materializados por uma formação humanista
e profissional contextualizada com a ordem social vigente. Seus
heróis de hoje são os Soldados da Rádio Patrulha, do Choque, da
Guarda, do Trânsito, dos Destacamentos, do Canil, da Ciclo patru-

Didatismo e Conhecimento 11
HISTÓRIA DA PARAÍBA
Enquanto isso, o movimento espalhava-se pelo interior do
A PARAÍBA E AS LIGAS CAMPONESAS. estado. A vitória dos galileus estimulou bastante as lideranças
camponesas que sonhavam com uma reforma agrária. No início da
década de 60, as Ligas já haviam se difundido pelo nordeste bra-
sileiro, atingindo repercussão nacional e internacional no contexto
As Ligas Camponesas foram criadas pelo PCB durante o go- da Revolução Cubana, em 1959.
verno ditatorial de Getúlio Vargas e nas vésperas do fim da Segun- Suas ideias reformistas, contudo, eram associadas ao temor
da Guerra Mundial. Elas foram estabelecidas em vários municípios socialista do qual os países opositores tinham na época. Com a
do país, entre os trabalhadores rurais de todo tipo (pequenos agri- instalação do regime militar em 1964, então, as principais lideran-
cultores familiares, parceiros, Sem-Terras, assalariados e diaristas) ças do PCB e das Ligas assassinaram, fugiram ou foram presas e,
com dois objetivos: o primeiro era aumentar o número de eleitores assim, as Ligas Camponesas deixaram de existir.
do PCB, o segundo era identificar os interesses da classe e organi-
zar a luta ao seu favor. Com a queda do governo ditatorial de Getú- QUESTÕES
lio Vargas e a eleição de Eurico Gaspar Dutra para presidente, uma
nova Constituição foi promulgada em 1946. O Brasil alinhava-se 01. Sobre as sociedades ameríndias da Paraíba, existentes an-
então com os Estados Unidos e, no contexto internacional do iní- tes da chegada dos portugueses, pode-se afirmar:
cio da Guerra Fria, posicionava-se contra os socialistas da União I. O povo Potiguara se localizava ao norte do rio Paraíba, ao
Soviética. Em 1947, a nova postura do Estado colocou o PCB na longo do rio Mamanguape e nas cercanias da Serra da Copaoba
ilegalidade, abafando também as Ligas Camponesas (mesmo antes (Serra da Raiz).
da cassação do mandato do partido, no entanto, as Ligas já sofriam II. Os Potiguara estavam estabelecidos no atual território pa-
com a repressão das autoridades).2 raibano há mais tempo do que os Tabajara, que chegaram pouco
Elas só voltariam a agir em 1954. O segundo período de exis- antes da conquista portuguesa, apesar de se ter consagrado a Paraí-
tência começou no engenho Galileia, na cidade de Vitória de Santo ba como “terra dos tabajaras”.
Antão, em Pernambuco (PE). Foi formada então a Sociedade Agrí- III. O Toré é uma tradição cultural ainda hoje preservada pelos
cola e Pecuária de Plantadores de Pernambuco (SAPPP), que tinha Potiguara, significando uma dança ritual de dimensão sagrada, em
três fins específicos: que são invocados os espíritos dos antepassados.
• Auxiliar os camponeses com despesas funerárias — evitan- Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s):
do que os falecidos fossem, literalmente, despejados em covas de a) apenas I
indigentes (“caixão emprestado”); b) apenas II
• Prestar assistência médica, jurídica e educacional aos cam- c) apenas I e II
poneses; d) apenas II e III
• Formar uma cooperativa de crédito capaz de livrar aos pou- e) I, II e III
cos o camponês do domínio do latifundiário.
02. Leia o trecho a seguir:
Mas a SAPPP foi logo acusada de objetivos políticos socia- “(...) o avanço em que ia o progresso da Capitania, em 1601,
listas e, proibida de agir na região, foi atacada para ser dissolvida
ou um pouco mais tarde, leva a crer que o trabalho nativo era o mo-
à força. Seus integrantes, porém, resistiram e encontraram apoio
tor desse progresso” (MEDEIROS, M. do Céu e SÁ, Ariane N. de
jurídico para institucionalizar a associação, atuando legalmente a
M. O Trabalho na Paraíba: das origens à transição para o trabalho
partir de 1955.3 No engenho Galileia trabalhavam cerca de 140
livre. João Pessoa: Universitária/UFPB, 1999, p. 31). Baseado no
famílias de camponeses em regime de foro: em troca de cultivar a
exposto pode-se afirmar:
terra, deviam pagar uma quantidade fixa em espécie ao proprietá-
I. As aldeias, para os capitães-mores da Capitania Real da
rio dela. É importante frisar que esse engenho já se encontrava em
“fogo morto”, ou seja, inadequado para plantio de cana-de-açúcar. Paraíba, tinham a finalidade de preparar braços para a lavoura e
A SAPPP, a princípio, aceitou o apoio do proprietário do Ga- soldados para a guerra.
lileia e o convidou para assumir a presidência da sociedade. Ad- II. A mão-de-obra indígena teve pouca participação na con-
vertido, entretanto, por outro proprietário da região de que o con- quista e colonização da Paraíba, pois os nativos não se adaptaram
vite era uma proposta comunista e de que teria finalidade política, às condições exigidas pelo colonizador.
o proprietário do engenho ordenou que a SAPPP fosse desfeita III. O escambo, relação de trabalho que deu certo no extrati-
imediatamente, ameaçando os camponeses de expulsão e até de vismo do pau-brasil, foi posto em prática na Paraíba, para integrar
aumentar o valor do foro. Os camponeses decidiram lutar, mas sa- o índio ao processo produtivo.
biam que isolados no campo não conseguiriam resistir por muito A(s) afirmação(ões) correta(s) é(são):
tempo. Resolveram, então, buscar apoio na cidade, encontrando na a) apenas II e III
figura do advogado Francisco Julião o apoio e o respaldo jurídico b) apenas I e III
de que tanto precisavam. c) apenas III
Francisco Julião (que já havia se pronunciado a favor dos d) I, II e III
camponeses) institucionalizou a associação. Graças a ele, em 1º e) apenas I e II
de janeiro de 1955, a SAPPP passou a funcionar legalmente. Em
1959, eles conseguiram a desapropriação do engenho. A imprensa 03. No início da colonização, o litoral da Paraíba era habitado
rapidamente chamou a SAPPP de Liga, fazendo referência ao mo- por dois povos pertencentes ao tronco tupi: potiguara e tabajara.
vimento antigo criado pelo PCB. Sobre esses povos, é correto afirmar:

Didatismo e Conhecimento 12
HISTÓRIA DA PARAÍBA
I. Os potiguara e os tabajara, como os demais indígenas que 06. A crise do Pacto Colonial, nas primeiras décadas do século
habitavam o território brasileiro, viviam a transição do paleolítico XIX, manifestou-se com grande vigor na atual região Nordeste do
para o neolítico, sendo capazes de confeccionar objetos de metal. Brasil, então denominada de Norte. Na Capitania da Paraíba, que,
II. Os potiguara e os tabajara, embora procedessem de um após 1815, passou a Província do Reino Unido do Brasil, além
tronco comum, falassem a mesma língua e tivessem traços cultu- do descontentamento com a Metrópole, o processo descolonizador
rais comuns, eram tradicionais inimigos, o que os enfraquecia no teve como característica adicional e muito peculiar:
confronto com o colonizador europeu. a) O descontentamento dos paraibanos com o fato da Paraíba
III. Os tabajara, ao contrário da maioria dos grupos indígenas ter sido desanexada da Capitania de Pernambuco em 1799.
brasileiros, habitavam em pequenas ocas de pau-a-pique, sendo b) A significativa participação popular de mulatos e escravos
cada uma delas destinada a uma única família. na luta contra a subordinação comercial da Paraíba a Pernambuco.
A(s) afirmação(ões) verdadeira(s) é (são) c) A permanência da situação de subordinação comercial da
a) apenas I e II Paraíba em relação a Pernambuco, mesmo após a desanexação po-
b) apenas I e III lítica.
c) I, II e III d) A reivindicação formal do movimento descolonizador no
d) apenas II sentido de reanexar, politicamente, a Paraíba a Pernambuco.
e) apenas III e) O confronto armado das elites paraibanas contra as elites
pernambucanas, motivado pela subordinação comercial da Paraíba
04. A resistência indígena, que tem como exemplo mais sig- a Pernambuco.
nificativo a “Tragédia de Tracunhaém”, sintetizada pela historio-
grafia nos confrontos de 1574 e 1575, levou a Coroa Portuguesa a 07. Seguindo a BR-230 que corta todo o Estado da Paraíba
determinar a criação da Capitania Real da Paraíba. de Cabedelo a Cajazeiras no sentido leste-oeste o viajante passa
Sobre o processo de conquista da Paraíba, pode-se afirmar: por uma sequência de unidades geomorfológicas. Assinale a alter-
I. Os combates entre índios e portugueses foram violentos e nativa que melhor representa a sequência correta dessas unidades
permaneceram mesmo depois da Quinta Expedição de conquista geomorfológicas.
em 1585. a) Praias, falésias, Depressão do Curimataú, Depressão do rio
II. Os índios potiguara resistiram à conquista portuguesa, no Paraíba, Serras e Inselbergs, Superfície Aplainada da Borborema e
que foram estimulados pelos franceses. a Bacia do rio do Peixe.
III. Os índios tabajara, em 1585, selaram um acordo de paz b) Restingas, tabuleiros, vales fluviais, Depressão Sertaneja,
com os portugueses, desarticulando a resistência indígena. Pediplano Sertanejo, Serras e Inselbergs, e Depressão do Curima-
Está (ão) correta(s) taú.
a) apenas I c) Praias, restinga, Baixo Planalto Costeiro, vales fluviais, De-
b) apenas II pressão Sub-litorânea, Maciço da Borborema, Pediplano Sertanejo
c) apenas I e II e Bacia do rio do Peixe.
d) apenas I e III d) Praias, estuário, falésia,, vales fluviais, Escarpas Orientais
e) todas da Borborema, Depressão Sub-litorânea e Bacia do rio do Peixe.
e) Estuário, Baixo Planalto Costeiro, Vales fluviais, Depressão
05. Após a conquista da Paraíba, em 1584, estabeleceu-se aqui do Curimataú, Serras e Inselbergs, Bacia do rio do Peixe e Pedi-
um centro da plantation açucareira. Sobre esta atividade econômi- plano Sertanejo.
ca, é INCORRETO afirmar:
a) As propriedades produtoras de açúcar eram geralmente pe- 08. O porto de Cabedelo importante pelo seu fluxo de expor-
quenas e voltadas para o consumo interno da colônia, o que levou tação para o Estado da Paraíba está localizado na desembocadura
a Coroa a instituir incentivos à exportação. do rio:
b) A aversão dos homens indígenas ao trabalho agrícola (tra- a) Da Guia.
dicional atividade feminina em suas sociedades) bem como os b) Lucena.
grandes lucros obtidos com o tráfico transatlântico possibilitaram c) Miriri.
a chegada de milhões de africanos escravizados para trabalhar nos d) Sanhauá.
engenhos de açúcar. e) Paraíba.
c) O cultivo do açúcar exigia grandes extensões de terra e
grande quantidade de escravos e profissionais livres, tornando-se 09. A produção mineral de cassiterita, sheelita e berilo na Pa-
uma atividade extremamente cara, exigindo, assim, vultosos in- raíba é oriunda de garimpos distribuídos nos seguintes municípios,
vestimentos. exceto:
d) As atividades de beneficiamento do açúcar tornaram os en- a) Picuí.
genhos, com suas moendas e casas de purgar, a atividade tecnolo- b) Juazeirinho.
gicamente mais desenvolvida do mundo, nos séculos XVI e XVII. c) Pedra Lavrada.
e) A sociedade açucareira organizava-se em torno da casa- d) Pedras de Fogo.
-grande, onde viviam os grandes senhores de engenho que tinham e) Junco do Seridó.
poder de vida e morte sobre seus familiares e escravos.

Didatismo e Conhecimento 13
HISTÓRIA DA PARAÍBA
10. O sisal na Paraíba, apesar de ter sofrido uma retração no
mercado internacional na década de 60 do século XX, recentemen- ANOTAÇÕES
te houve uma recuperação no mercado da fibra na confecção de
cordas, estopas e atualmente, também vem sendo muito utilizado
na indústria da construção civil. Assinale a alternativa correta so-
bre as Microrregiões em que essa atividade comercial predomina.
a) Litoral Norte e Itabaiana.
b) Curimataú Ocidental e Seridó Oriental Paraibano. —————————————————————————
c) Catolé do Rocha e Sapé. —————————————————————————
d) Cajazeiras e Catolé do Rocha.
e) Brejo Paraibano e Itabaiana. —————————————————————————

11. Na Paraíba, dos 223 municípios, apenas 07 possuem bair- —————————————————————————


ros constituídos em Lei. Os dados por bairros são do Censo 2010
—————————————————————————
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A divisão
por bairros é importante para detalhar informações que possam —————————————————————————
direcionar as políticas públicas mais próximas da realidade dessas
áreas. Assinale a alternativa correta onde todos os municípios têm —————————————————————————
bairros constituídos em Lei.
—————————————————————————
a) João Pessoa, Campina Grande, Cajazeiras e Santa Rita.
b) João Pessoa, Campina Grande, Santa Rita e Guarabira. —————————————————————————
c) João Pessoa, Campina Grande, Sousa e Cajazeiras.
d) João Pessoa, Campina Grande, Ingá e Bayeux. —————————————————————————
e) João Pessoa, Guarabira, Cajazeiras e Sousa.
—————————————————————————
12. Na Paraíba comprovou-se que existe petróleo (ainda não —————————————————————————
explorado economicamente), água mineral e Ilmenita. Assinale a
alternativa correta sobre as Microrregiões respectivamente em que —————————————————————————
esses produtos aparecem.
a) Sousa, Brejo Paraibano e Seridó. —————————————————————————
b) Sousa, João Pessoa e Litoral Norte. —————————————————————————
c) Cajazeiras, Brejo Paraibano e Seridó.
d) Catolé do Rocha, João Pessoa e Litoral Sul. —————————————————————————
e) Sousa, Brejo Paraibano e Umbuzeiro.
—————————————————————————
Respostas: 01-E, 02-B, 03-D, 04-E, 05-A, 06-C / 07-C / 08-E —————————————————————————
/ 09-D / 10-B / 11-D / 12-B /
—————————————————————————
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ANOTAÇÕES —————————————————————————
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Didatismo e Conhecimento 14

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