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Livro Eletrônico

Aula 00

Direitos Humanos p/ PC-MG (Escrivão) Pós-Edital


Professor: Ricardo Torques

00000000000 - DEMO
DIREITOS HUMANOS PARA PC-MG Aula
curso em teoria e exercícios para Escrivão 00!

AULA 00
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DOS DIREITOS HUMANOS

Sum‡rio
Direitos Humanos para PC-MG .................................................................................. 3!
Cronograma de Aulas............................................................................................... 6!
1 - Considera•›es Iniciais ......................................................................................... 7!
2 Ð Teoria Geral dos Direitos Humanos ....................................................................... 7!
2.1 - Conceito e terminologia ................................................................................. 7!
2.2 - Classifica•‹o dos Direitos Humanos ............................................................... 11!
2.3 - Fundamentos dos Direitos Humanos .............................................................. 16!
2.4 - Estrutura Normativa ................................................................................... 23!
2.5 - P—s-positivismo e os Direitos Humanos .......................................................... 25!
3 - Quest›es......................................................................................................... 28!
3.1 Ð Lista de Quest›es sem Coment‡rios.............................................................. 28!
3.2 Ð Gabarito ................................................................................................... 33!
3.3 Ð Lista de Quest›es com Coment‡rios.............................................................. 33!
4 Ð Resumo .......................................................................................................... 45!
5 - Considera•›es Finais......................................................................................... 47!

APRESENTA‚ÌO DO CURSO

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Direitos Humanos para PC-MG


Iniciamos nosso Curso de Direitos Humanos em teoria e quest›es, voltado para
o cargo de Escriv‹o da Pol’cia Civil de Minas Gerais (PC-MG).
O edital foi divulgado no dia 05.07. A banca do concurso Ž a FUMARC e as provas
ocorrer‹o no dia 02 de dezembro. Temos um bom tempo atŽ a prova, por isso, Ž
um excelente concurso e perfeito para quem vai se preparar especificamente no
p—s-edital.
Vamos falar um pouco sobre o nosso curso?
Trata-se de reformula•‹o de um curso que temos trabalhado desde 2013, quando
redigimos este material pela primeira vez. Desde ent‹o, acompanhamos provas
de Direitos Humanos, percebendo a tend•ncia de bancas, assuntos mais
cobrados, novos conceitos doutrin‡rios relevantes e a jurisprud•ncia, nacional e
internacional pertinente.
Assim, caso tenha estudado nossos cursos, notar‡ que apresentamos v‡rios
pontos adicionais. Reduzimos alguns conteœdos e acrescentamos outros, segundo
a evolu•‹o da cobran•a da matŽria em provas de concurso pœblico.
Vejamos a ementa da disciplina em edital:
1 PROGRAMA DE DIREITOS HUMANOS 1.1 A Constitui•‹o Brasileira de 1988. 1.2 No•›es
gerais sobre direitos humanos. 1.3 Gera•›es de direitos humanos. 1.4 A Constitui•‹o
Brasileira de 1988 e os Tratados Internacionais de Prote•‹o dos Direitos Humanos. 1.5 O
Sistema Internacional de Prote•‹o dos Direitos Humanos. 1.6 O Sistema Internacional de
Prote•‹o dos Direitos Humanos e a Redefini•‹o da Cidadania no Brasil. 1.7 A Constitui•‹o
Brasileira de 1988: Dos princ’pios fundamentais. 1.8 A Constitui•‹o Brasileira de 1988: Dos
Direitos e Garantias Fundamentais. 1.8.1 Dos direitos e deveres individuais e coletivos.
1.8.2 Dos direitos sociais. 1.8.3 Da nacionalidade. 1.8.4 Dos direitos pol’ticos. 1.8.5 Dos
partidos pol’ticos. 1.9. Direitos humanos das minorias e grupos vulner‡veis. 1.10. Pol’tica
nacional de direitos humanos. Refer•ncia Bibliogr‡fica: Constitui•‹o da Repœblica Federativa
do Brasil de 1988 - Atualizada. MAZZUOLI, ValŽrio de Oliveira. Curso de Direitos Humanos.
Rio de Janeiro: Forense; S‹o Paulo: MŽtodo, 2017. PIOVESAN, Fl‡via. Direitos Humanos e
o Direito Constitucional Internacional. S‹o Paulo: Saraiva, 2012.

Observe que o edital menciona dois livros. Nosso curso foi elaborado consultando
esses dois materiais, especialmente o material da Prof. Fl‡via Piovesan.
Confira, a seguir, com mais detalhes, nossa metodologia.

Metodologia do Curso
Algumas constata•›es acerca da prova vindoura s‹o importantes!
Podemos afirmar que as aulas levar‹o em considera•‹o as seguintes ÒfontesÓ.

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FONTES

Legisla•‹o e
Jurisprud•ncia
Doutrina quando Assuntos Documentos
relevante dos
essencial e relevantes no Internacionais
Tribunais
majorit‡ria cen‡rio jur’dico pertinentes ao
Superiores
assunto.

Para tornar o nosso estudo mais completo, Ž muito importante resolver quest›es
anteriores para nos situarmos diante das possibilidades de cobran•a. Traremos
quest›es de todos os n’veis, inclusive quest›es cobradas em concursos jur’dicos
de n’vel superior de Direitos Humanos.
Essas observa•›es s‹o importantes pois permitir‹o que possamos organizar o
curso de modo focado, voltado para acertar quest›es objetivas e discursivas.
Esta Ž a nossa proposta!
Vistos alguns aspectos gerais da matŽria, te•amos algumas considera•›es acerca
da metodologia de estudo.
As aulas em .pdf tem por caracter’stica essencial a did‡tica. Ao contr‡rio do que
encontraremos na doutrina especializada de Direitos Humanos (Fl‡via Piovesan e
Augusto Can•ado Trindade, para citarmos dois dos expoentes neste ramo), o
curso todo se desenvolver‡ com uma leitura de f‡cil compreens‹o e assimila•‹o.
Isso, contudo, n‹o significa superficialidade. Pelo contr‡rio, sempre que
necess‡rio e importante os assuntos ser‹o aprofundados. A did‡tica, entretanto,
ser‡ fundamental para que diante do contingente de disciplinas, do trabalho, dos
problemas e quest›es pessoais de cada aluno, possamos extrair o m‡ximo de
informa•›es para hora da prova.
Para tanto, o material ser‡ permeado de esquemas, gr‡ficos informativos,
resumos, figuras, tudo com a pretens‹o de Òchamar aten•‹oÓ para as
informa•›es que realmente importam.
Com essa estrutura e proposta pretendemos conferir seguran•a e tranquilidade
para uma prepara•‹o completa, sem necessidade de recurso a outros
materiais did‡ticos.
Finalmente, destaco que um dos instrumentos mais relevantes para o estudo em
.PDF Ž o contato direto e pessoal com o Professor. AlŽm do nosso f—rum de
dœvidas, estamos dispon’veis por e-mail e, eventualmente, pelo Facebook.
Aluno nosso n‹o vai para a prova com dœvida! Por vezes, ao ler o material surgem
incompreens›es, dœvidas, curiosidades, nesses casos basta acessar o
computador e nos escrever. Assim que poss’vel respondemos a todas as dœvidas.
ƒ not‡vel a evolu•‹o dos alunos que levam a sŽrio a metodologia.
AlŽm disso, teremos videoaulas! Essas aulas destinam-se a complementar a
prepara•‹o. Quando estiver cansado do estudo ativo (leitura e resolu•‹o de
quest›es) ou atŽ mesmo para a revis‹o, abordaremos alguns pontos da matŽria

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por intermŽdio dos v’deos. Com outra did‡tica, voc• dispor‡ de um conteœdo
complementar para a sua prepara•‹o. Ao contr‡rio do PDF, evidentemente, AS
VIDEOAULAS NÌO ATENDEM A TODOS OS PONTOS QUE VAMOS
ANALISAR NOS PDFS, NOSSOS MANUAIS ELETRïNICOS. Por vezes,
haver‡ aulas com v‡rios v’deos; outras que ter‹o videoaulas apenas em
parte do conteœdo; e outras, ainda, que n‹o conter‹o v’deos. Nosso foco
Ž, sempre, o estudo ativo!
Assim, cada aula ser‡ estruturada do seguinte modo:

Teoria de forma
Sœmulas,
objetiva e direta Refer•ncia e
orienta•›es
com s’ntese do an‡lise da
jurisprudenciais e
METODOLOGIA pensamento legisla•‹o
jurisprud•ncia
doutrin‡rio pertinente ao
pertinente
relevante e assunto.
comentadas.
dominante.

V’deoaulas
Muitas quest›es
Resumo dos complementares
anteriores de
principais t—picos sobre APROVA‚ÌO!
provas
da matŽria. determinados
comentadas.
pontos da matŽria

Apresenta•‹o Pessoal
Por fim, resta uma breve apresenta•‹o pessoal. Meu nome Ž Ricardo Strapasson
Torques! Sou graduado em Direito pela Universidade Federal do Paran‡ (UFPR) e
p—s-graduado em Direito Processual.
Estou envolvido com concurso pœblico h‡ 10 anos, aproximadamente, quando
ainda na faculdade. Trabalhei no MinistŽrio da Fazenda, no cargo de ATA. Fui
aprovado para o cargo Fiscal de Tributos na Prefeitura de S‹o JosŽ dos Pinhais/PR
e para os cargos de TŽcnico Administrativo e Analista Judici‡rio nos TRT 4», 1¼ e
9¼ Regi›es.
Quanto ˆ atividade de professor, leciono exclusivamente para concursoS, com
foco na elabora•‹o de materiais em pdf. Temos, atualmente, cursos em Direitos
Humanos, Direito Eleitoral e Direito Processual Civil.
Deixarei abaixo meus contatos para quaisquer dœvidas ou sugest›es. Terei o
prazer em orient‡-los da melhor forma poss’vel nesta caminhada que estamos
iniciando.
E-mail: rst.estrategia@gmail.com
Facebook: https://www.facebook.com/direitoshumanosparaconcursos/

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Cronograma de Aulas
Vejamos a distribui•‹o das aulas:

AULA CONTEòDO DATA

Aula 00 1.2 No•›es gerais sobre direitos humanos. 06.07

Aula 01 1.3 Gera•›es de direitos humanos. 11.07

1.5 O Sistema Internacional de Prote•‹o dos Direitos Humanos.

1.6 O Sistema Internacional de Prote•‹o dos Direitos Humanos e


a Redefini•‹o da Cidadania no Brasil.
Aula 02 1.4 A Constitui•‹o Brasileira de 1988 e os Tratados Internacionais 16.07
de Prote•‹o dos Direitos Humanos.
Aula 03 1.1 A Constitui•‹o Brasileira de 1988. 21.07

1.8 A Constitui•‹o Brasileira de 1988: Dos Direitos e Garantias


Fundamentais.

1.8.1 Dos direitos e deveres individuais e coletivos.

1.8.2 Dos direitos sociais.

1.8.3 Da nacionalidade.

1.8.4 Dos direitos pol’ticos.

1.8.5 Dos partidos pol’ticos. (parte 01)


Aula 04 1.1 A Constitui•‹o Brasileira de 1988. 26.07

1.8 A Constitui•‹o Brasileira de 1988: Dos Direitos e Garantias


Fundamentais.

1.8.1 Dos direitos e deveres individuais e coletivos.

1.8.2 Dos direitos sociais.

1.8.3 Da nacionalidade.

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1.8.4 Dos direitos pol’ticos.

1.8.5 Dos partidos pol’ticos. (parte 01)


Aula 05 01.08
1.10. Pol’tica nacional de direitos humanos.
Aula 06 01.08
1.9. Direitos humanos das minorias e grupos vulner‡veis Ð parte
01
Aula 07
1.9. Direitos humanos das minorias e grupos vulner‡veis Ð parte 06.08
02

Essa Ž a distribui•‹o dos assuntos ao longo do curso. Eventuais ajustes poder‹o


ocorrer, especialmente por quest›es did‡ticas. De todo modo, sempre que houver
altera•›es no cronograma acima, voc•s ser‹o previamente informados,
justificando-se.

TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS


1 - Considera•›es Iniciais
Na aula de hoje vamos estudar a Teoria Geral dos Direitos Humanos.
Antes de iniciar a aula propriamente, Ž importante uma observa•‹o. Ao longo
desta aula haver‡ v‡rias cita•›es de doutrinadores consagrados. Isso Ž feito com
um prop—sito œnico: o estudo dessa parte Ž totalmente te—rico, conceitual. N‹o
haver‡ tratado ou regras jur’dicas internacionais a serem analisados. Pelo
contr‡rio, h‡ diversas correntes de pensamento que, ao longo da Hist—ria,
moldaram os Direitos Humanos, tal como ele se apresenta hoje. Logo, leiam os
conceitos e, para memorizar, recorram aos gr‡ficos e esquemas.
Antes de iniciar, gostaria de deixar um convite a voc•s: CURTAM NOSSA
PçGINA NO FACEBOOK, ESPECêFICA DE DIREITOS HUMANOS. L‡ teremos
diversas informa•›es œteis, provas comentadas, artigos, tudo sobre provas de
Direitos Humanos. Aproveitem!
https://www.facebook.com/direitoshumanosparaconcursos
Boa aula!

2 Ð Teoria Geral dos Direitos Humanos

2.1 - Conceito e terminologia


A matŽria Direitos Humanos pode ser conceituada como o conjunto de direitos
inerentes ˆ dignidade da pessoa humana, por meio da limita•‹o do
arb’trio do Estado e do estabelecimento da igualdade como o aspecto
central das rela•›es sociais.

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A defini•‹o consagrada na doutrina atualmente Ž a de Ant™nio Peres Lu–o1,
segundo o qual os direitos humanos constituem um
conjunto de faculdades e institui•›es que, em cada momento hist—rico, concretizam as
exig•ncias de dignidade, liberdade e igualdade humanas, as quais devem ser reconhecidas
positivamente pelos ordenamentos jur’dicos em n’vel nacional e internacional.

A ess•ncia do conceito de Direitos Humanos centra-se na prote•‹o aos direitos


mais importantes das pessoas, notadamente, a dignidade.

prover meios e instrumentos


IDEIA CENTRAL DOS DIREITOS
jur’dicos para a defesa da
HUMANOS
dignidade das pessoas

Afirmam os estudiosos, portanto, que a base dos Direitos Humanos Ž a


dignidade da pessoa. Mas o que Ž dignidade? Segundo F‡bio Konder
Comparato2, dignidade Ž a
convic•‹o de que todos os serem humanos t•m direito a ser igualmente respeitados, pelo
simples fato de sua humanidade.
Em palavras mais simples: assegurar a dignidade de um ser humano Ž respeit‡-
lo e trat‡-lo de forma igualit‡ria, independentemente de quaisquer condi•›es
sociais, culturais ou econ™micas.
Quanto ˆ terminologia, a express‹o que se disseminou Ž a de Òdireitos
humanosÓ, contudo, v‡rias s‹o as express›es que podem ser consideradas
sin™nimas, por exemplo: Òdireitos fundamentaisÓ, Òliberdades pœblicasÓ, Òdireitos
da pessoa humanaÓ, Òdireitos do homemÓ, Òdireitos da pessoaÓ, Òdireitos
individuaisÓ, Òdireitos fundamentais da pessoa humanaÓ, Òdireitos pœblicos
subjetivosÓ.
Sobre essas express›es, h‡ doutrina que procura diferenciar os termos acima.
Vamos apresentar os conceitos de alguma delas para que voc• possa expandir o
seu conhecimento. Contudo, entendemos que as express›es devem ser
consideradas como sin™nimos para fins de prova, a n‹o ser que o examinador o
ÒprovoqueÓ.
Ä direitos do homem e do cidad‹o: express‹o que faz refer•ncia ˆ Revolu•‹o Francesa,
de 1789, abrangendo direitos civis (direitos do homem) e direitos pol’ticos (direitos dos
cidad‹os).
Refere-se, portanto, ao momento hist—rico de afirma•‹o dos direitos humanos frente o
Estado autocr‡tico europeu em raz‹o das revolu•›es liberais.
Ä direitos naturais: express‹o que procura abranger direitos inerentes ao ser humano
independentemente de qualquer norma positivada.

1
PERES LU„O, Ant™nio. Derechos humanos, Estado de derecho y Constituci—n. 5. edi•‹o.
Madrid: Editora Tecnos, 1995, p. 48.
2
COMPARATO, F‡bio Konder. Afirma•‹o Hist—rica dos Direitos Humanos. 7» edi•‹o, rev.,
ampl. e atual., S‹o Paulo: Editora Saraiva, 2010, p. 13.

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Ä direitos e liberdades pœblicas: refer•ncia aos direitos dos indiv’duos contra a
interven•‹o estatal, que conferem ao indiv’duo um status ativo frente ao Estado. Ao se
falar em Òliberdades pœblicasÓ, temos a exclus‹o dos direitos sociais.

Antes de prosseguir, quatro considera•›es s‹o importantes.


Ä Os doutrinadores afirmam que a express‹o Direitos Humanos Ž
pleon‡stica, pois o termo ÒdireitosÓ pressup›e o ser humano. N‹o Ž poss’vel
conceber direitos de um carro, direito de um animal etc. Somente o ser humano
pode ser sujeito de direitos, um carro ou animal poder‹o, por outro lado, ser
objetos de direito. Portanto, falar em ÒDireitos HumanosÓ Ž falar a mesma coisa
duas vezes. Isso Ž pleonasmo. De toda forma, a doutrina, a exemplo de F‡bio
Konder Comparato, diz que Ž melhor falarmos em direitos humanos, porque o
termo remete ˆ ideia de que esses direitos constituem exig•ncias e
comportamentos que devem valer para todos os indiv’duos em raz‹o de sua
condi•‹o humana.
Ä Para evitar confus›es, devemos distinguir Direitos Humanos de Direitos
Fundamentais.
Apenas para nos situarmos, vejamos a defini•‹o de Ingo Wolfgang Sarlet3,
doutrinador consagrado no tema:
Os direitos fundamentais, ao menos de forma geral, podem ser considerados concretiza•›es
das exig•ncias do princ’pio da dignidade da pessoa humana.

Como voc•s podem perceber, os conceitos s‹o praticamente id•nticos. Assim, a


distin•‹o n‹o reside no conteœdo de tais direitos, mas no plano de
positiva•‹o. Melhor explicando:
ð! Direitos Humanos referem-se aos direitos universalmente aceitos
na ordem internacional; e
ð! Direitos Fundamentais: constituem o conjunto de direitos
positivados na ordem interna de determinado Estado.
Nesse aspecto, vejamos as li•›es de Rafael Barreto4:
Apesar da varia•‹o de plano de positiva•‹o n‹o h‡, em verdade, diferen•a de conteœdo
entre os direitos humanos e os direitos fundamentais, eis que os direitos s‹o os mesmos e
objetivam a prote•‹o da dignidade da pessoa.

3
SARLET, Ingo Wolfgang. Efic‡cia dos Diretos Fundamentais. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2004, p. 110.
4
BARRETTO, Rafael. Direitos Humanos. 2» edi•‹o, rev., ampl., Salvador: Editora JusPodvim,
2012, p. 25.

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DIREITOS HUMANOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

conjunto de valores e direitos na ordem conjunto de valores e direitos positivados


internacional para a prote•‹o da dignidade na ordem interna de determinado pa’s
da pessoa para a prote•‹o da dignidade da pessoa.

Ä Fala-se, ainda, em centralidade dos Direitos Humanos, no sentido de que


a disciplina Ž importante em raz‹o da matŽria que tutela. N‹o Ž poss’vel se
pensar em um Estado Democr‡tico de Direito, como Ž o Brasil, sem criar uma
sŽrie de direitos e garantias para tutelar a dignidade da pessoa. Portanto,
dizemos que os direitos humanos s‹o matŽria central, tendo em vista que
s‹o imprescind’veis para que a ordenamento jur’dico afirme direitos das
pessoas e limite a atua•‹o estatal contra arbitrariedades.
Ä Direitos Humanos e sociedade inclusiva. Seguindo a orienta•‹o doutrin‡ria de
Hannah Arendt e, no Brasil, por Celso Lafer, discute-se que a primeira quest‹o a
ser discutida Ž o direito a ter direitos. Ser considerado como sujeito de direitos
constitui prerrogativa b‡sica, que qualifica alguŽm como ser humano, o que
viabiliza a discuss‹o sobre os demais direitos humanos. A partir da’ cada
pessoa ter‡ um conjunto de direitos que devem ser aplicados atŽ o limite dos
direitos do outrem, de forma que o debate jur’dico se faz a partir do conflito ou
do confronto entre direitos, a fim de que, no caso concreto, possamos eleger
quais os princ’pios e valores mais importantes.
Confira uma quest‹o de prova:

CESPE/DPE-PE/Defensor/2015
Julgue o item subsecutivo, a respeito de aspectos gerais e hist—ricos dos
direitos humanos.
O principal fundamento dos direitos humanos no Brasil refere-se ˆ dignidade
da pessoa humana. Por essa raz‹o, alŽm de haver consenso acerca do
conteœdo desse princ’pio, ele Ž v‡lido somente para os direitos humanos
consagrados explicitamente na CF.
A assertiva est‡ incorreta. Primeiramente, Ž importante esclarecer que a
primeira parte da assertiva Ž confusa, n‹o h‡ verdadeiramente um consenso em
rela•‹o ao fundamento dos Direitos Humanos.

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A dignidade da pessoa constitui o objeto central ou, ao menos, o principal direito
humano que temos. PorŽm, n‹o Ž tecnicamente correto afirmar que o
fundamento da disciplina est‡ na dignidade.
Fora esse aspecto, encontra-se incorreta a assertiva na segunda parte. Existem
outros direitos para alŽm daqueles expl’citos no texto constitucional. Como bem
sabemos existem princ’pios impl’citos que revelam normas de direitos humanos.
Ademais, n‹o h‡ consenso acerca do conteœdo da dignidade. Pelo contr‡rio, h‡
muita dificuldade em se fixar o conceito de dignidade.
Vamos prosseguir!

2.2 - Classifica•‹o dos Direitos Humanos


A classifica•‹o Ž um recurso did‡tico que tem por finalidade permitir uma vis‹o
global de determinado assunto, a partir de categorias e grupos de temas. Em
nosso estudo, faz-se necess‡rio estudar de forma objetiva e direta a
classifica•‹o dos Direitos Humanos.
Segundo a doutrina, a classifica•‹o dos Direitos Humanos traduz como se deu a
aplica•‹o desses direitos ao longo do tempo. ƒ tambŽm, portanto, reflete uma
an‡lise hist—rica da matŽria.
Para a nossa prova vamos abordar a tem‡tica a partir de duas vis›es: a de Georg
Jellinek e a explicitada no caso LŸth. S‹o as classifica•›es mais cobradas em
provas de concurso pœblico.

Teoria dos status de Jellinek


A teoria de Jellinek relaciona o homem e o Estado. A partir dessa rela•‹o Ž
poss’vel alcan•ar quatro resultados: sujei•‹o, defesa, prestacional e participativo.
ƒ uma teoria que estuda a rela•‹o do direito do indiv’duo em face do Estado.
De forma objetiva:

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rela•‹o na qual a pessoa encontra-se


status subjectionis em estado de sujei•‹o em rela•‹o ao
Estado.

rela•‹o na qual a pessoa detŽm t‹o


status libertatis somente a prerrogativa de exigir uma
absten•‹o do Estado

rela•‹o na qual a pessoa tem a


status civitatis possibilidade de exigir presta•›es do
Estado

rela•‹o na qual a pessoa poder‡


status activus participar na forma•‹o da vontade do
Estado

Pelo status subjectionis (ou passivo) o Estado teria a compet•ncia para vincular
o indiv’duo ao estado por intermŽdio de regras e proibi•›es. Pelo status libertatis
(ou negativo), em contraposi•‹o, temos a cria•‹o de um espa•o para livre
atua•‹o da pessoa, com capacidade de autodetermina•‹o sem interfer•ncia do
Estado. Pelo status civitatis (ou positivo) busca-se exigir atua•›es positivas do
Estado para atendimento dos interesses dos cidad‹os. Pelo status activus (ou
ativo) temos o reconhecimento da capacidade de o cidad‹o intervir na forma•‹o
da vontade do Estado, por exemplo, por intermŽdio do voto.
Em rela•‹o ao status ativo, a doutrina de Peter HŠberle, devemos falar em status
ativo processual, na medida em que ao cidad‹o deve ser assegurado o direito de
participar do processo de tomada de decis›es, a exemplo do amicus curie e das
audi•ncias pœblicas.
Na prova, cuide com os termos:

status subjetionis à status passivo

status libertatis à status negativo

status civitatis à status positivo

status activus à status ativo

Com base nos quatro status acima, Ž poss’vel delinear uma classifica•‹o dos
Direitos Humanos em:
Ä direitos humanos de defesa;
Ä direitos humanos prestacionais;
Ä direitos humanos de participa•‹o.
Atentos ˆs express›es acima, sigamos!

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Os direitos humanos de defesa caracterizam-se por constituir uma prerrogativa
que poder‡ ser utilizada pela pessoa contra eventuais arb’trios estatais.
Constituem, portanto, direitos de cunho negativo, que resguardam a liberdade
dos indiv’duos.
Os direitos humanos prestacionais relacionam-se com a prerrogativa de a pessoa
exigir uma conduta ativa do Estado a fim promover os direitos mais b‡sicos.
Esses direitos, de cunho positivo, tutelam os direitos de igualdade.
Note que as duas primeiras classifica•›es se relacionam com um assunto
ÒcorriqueiroÓ em Direitos Humanos (e, tambŽm, em Direito Constitucional): as
dimens›es. Realmente Ž uma vis‹o muito pr—xima! Pela primeira classifica•‹o
temos a primeira dimens‹o; pela segunda classifica•‹o temos a segunda
dimens‹o. A terceira classifica•‹o de direitos humanos de Jellinek foge,
entretanto, ˆ classifica•‹o das dimens›es!
Os direitos humanos de participa•‹o envolvem a participa•‹o pol’tica da pessoa,
por intermŽdio da qual exigir Ž poss’vel exigir uma absten•‹o ou uma presta•‹o.
Temos, portanto, uma natureza mista, que se revela na defesa dos direitos de
liberdade (como, o direito de votar) e dos direitos de igualdade (a exemplo da
realiza•‹o peri—dica de elei•›es, com a permiss‹o ampla dos cidad‹os como
candidatos).
Para fins de prova, devemos memorizar:

defesa dos exigem uma


DIREITOS DE
direitos de absten•‹o negativos
DEFESA
liberdade estatal

promo•‹o dos exigem uma


DIREITOS
direitos de atua•‹o positivos
PRESTACIONAIS
igualdade estatual

viabilizam a exigem, ao
DIREITOS DE participa•‹o do mesmo tempo,
misto
PARTICIPA‚ÌO indiv’duo na absten•‹o e
sociedade presta•‹o

Classifica•‹o do Caso LŸth


Essa an‡lise foi constru’da a partir do julgamento do ÒCaso LŸthÓ pelo Tribunal
Constitucional Alem‹o. A partir da vis‹o de Jellinek foram estabelecidos grupos
de direitos, tendo em vista as pessoas a serem protegidas. Trata-se de uma
classifica•‹o subjetiva, pois ao sujeito Ž dada a garantia de absten•‹o, a
possibilidade de buscar uma presta•‹o e, tambŽm, de participar politicamente.

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Note que a rela•‹o estabelecida na classifica•‹o de Jellinek volta-se para a
rela•‹o entre o sujeito e o Estado. A partir do Caso LŸth temos uma abordagem
que viabiliza a aplica•‹o dos direitos humanos ˆs rela•›es entre
particulares, n‹o em raz‹o dos sujeitos que est‹o na rela•‹o, mas em
face dos direitos abordados.
Em termos simples, o caso envolve uma condena•‹o imposta a Erick LŸth pelo
fato de ter expressado publicamente no sentido de boicotar um filme de Veit
Harlan, que incitava o antissemitismo. Harlan foi inicialmente condenado por
crime contra a humanidade, mas posteriormente foi absolvido por se entender
que, juridicamente, n‹o poderia recursa o cumprimento de ordem do ministro da
propaganda nazista, Joseph Goebbes.
Compreendeu-se, nesse contexto, que o boicote foi contr‡rio ˆ moral e aos
costumes, condenando-se LŸth a omitir-se de novas manifesta•›es, sob pena de
multa e, inclusive, pris‹o. Recorreu ao Tribunal Alem‹o que concluiu pela
aplica•‹o dos direitos e garantias fundamentais, em regra aplicados ˆ rela•‹o
entre o Estado e o sujeito, aplicar-se-ia, no caso, ˆ rela•‹o entre particulares,
promovendo uma ideia objetiva de aplica•‹o dos direitos e garantias
constitucionais.
Portanto, nessa classifica•‹o, faz-se uma an‡lise objetiva. A ideia Ž transcender
a vis‹o subjetiva da classifica•‹o de Jellinek, levando em considera•‹o a
coletividade como um todo. Em tal an‡lise objetiva, entende-se que todos os
direitos possuem um viŽs negativo e positivo ao mesmo tempo. O que varia Ž a
carga entre uma e outra, de modo que os direitos ditos prestacionais possuem
t‹o somente uma carga prestacional mais significativa, ao passo que os direitos
negativos, possuem uma carga abstencionista mais intensa.
Vejamos como o assunto j‡ foi cobrado em prova:

Quest‹o Ð FUNCAB - SEPLAG-MG Ð Direito - 2014


Consoante a teoria dos status dos direitos fundamentais, de autoria de
Jellinek, o direito ˆ saœde, tal como previsto na Constitui•‹o Federal, Ž
considerado fundamental de status:
a) ativo.
b) negativo.
c) passivo.
d) positivo.

Coment‡rios
O direito ˆ saœde constitui um direito prestacional, por meio do qual a pessoa
poder‡ exigir do Estado os meios e instrumentos necess‡rios a fim de lhe garantir

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uma vida saud‡vel. Portanto, trata-se de direito positivo, de modo que a
alternativa D Ž a correta e gabarito da quest‹o.

Estrutura dos Direitos Humanos, segundo AndrŽ Ramos de Carvalho


Ainda na an‡lise de pontos introdut—rios da matŽria, vamos apresentar mais uma
classifica•‹o.
Pergunta-se, o estudo dessas classifica•›es Ž realmente importante?
Preciso saber todas as elas?
Colocamos tais classifica•›es no material sob uma raz‹o: s‹o temas cobrados em
provas. Embora a cobran•a se d• de forma difusa, quando o tema aparece, ele
derruba diversos candidatos. Trouxemos esses pontos para o material, para
evitar surpresas no momento da prova.
Esclarecido esse detalhe, vamos l‡!
De acordo com a doutrina de AndrŽ Ramos de Carvalho a estrutura dos Direitos
Humanos Ž variada, podendo se caracterizar em:

ESTRUTURA DOS DIREITOS


HUMANOS

direito-pretens‹o direito-liberdade direito-poder direito-imunidade

Cada um desses consect‡rios imp›e obriga•›es ao Estado. Confira:


Ä direito-pretens‹o: confere-se ao titular o direito a ter alguma coisa que Ž
devido pelo Estado ou atŽ mesmo por outro particular. Assim, o Estado (ou esse
outro particular) devem agir no sentido de realizar uma conduta para conferir o
direito.
Por exemplo, o direito ˆ educa•‹o, que deve ser prestado pelo Estado.
Ä direito-liberdade: imp›e a absten•‹o ao Estado ou a terceiros, no sentido de
se ausentarem, de n‹o atuarem como agentes limitadores.
Cita-se como exemplo a liberdade de credo.
Ä direitoÐpoder: possibilita ˆ pessoa exigir a sujei•‹o do Estado ou de outra
pessoa para que esses direitos sejam observados.
O exemplo aqui Ž o direito ˆ assist•ncia jur’dica.
Ä direito-imunidade: impede que uma pessoa ou o Estado hajam no sentido de
interferir nesse direito.

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Cita-se como exemplo veda•‹o ˆ pris‹o, salvo na hip—tese de flagrante delito ou
de decis‹o judicial transitada em julgado.
Note que, novamente, s‹o classifica•›es que, na ess•ncia, retomam temas j‡
estudados. Por isso, o seu foco n‹o deve ser na memoriza•‹o desses temas, mas
na compreens‹o e reconhecimento desses temas.

2.3 - Fundamentos dos Direitos Humanos


Fundamentos envolvem as bases, as premissas sobre as quais os Direitos
Humanos encontram suas raz›es. Isso Ž importante para que possamos
compreender as bases e as premissas que envolvem a nossa matŽria.
Esse tema Ž abstrato, envolvendo conceitos hist—ricos e discuss›es filos—ficas.
Entretanto, como o assunto Ž recorrente em provas, vamos trazer os assuntos
de forma sucinta e did‡tica, com destaque para as principais informa•›es, em
duas linhas de pensamento.
Primeiramente, lembre-se:

raz›es que legitimam e que motivam


FUNDAMENTOS DOS DIREITOS
o reconhecimento dos Direitos
HUMANOS
Humanos

H‡ quem diga que n‹o tem como estabelecer os fundamentos dos direitos
humanos; e h‡ quem diga que existe fundamento para os direitos humanos.

Impossibilidade de delimita•‹o dos fundamentos


Formou-se, na doutrina, a corrente negativista que nega a possibilidade de
ser definido um fundamento para os Direitos Humanos.
H‡ quem entenda, a exemplo de Norberto Bobbio, que Ž imposs’vel definir o
fundamento de nossa disciplina, por 3 motivos:
1.! Existem diverg•ncias quanto ˆ defini•‹o de qual seria o conjunto de
direitos abrangidos. Assim, n‹o seria poss’vel definir o fundamento, pois
nem se sabe ao certo quais s‹o os direitos compreendidos em nossa
disciplina;
2.! Em raz‹o de sua historicidade, os Direitos Humanos constituem disciplina
que est‡ em constante evolu•‹o; e
3.! Direitos Humanos constituem uma categoria de direitos heterog•nea,
por vezes conflituosa, exigindo do aplicador a tŽcnica da pondera•‹o de
interesses.
Para outros doutrinadores, como o autor espanhol Peres Lu–o, n‹o Ž poss’vel
identificar o fundamento dos Direitos Humanos porque esses direitos s‹o
consagrados a partir de ju’zos de valor. Vale dizer, s‹o consagrados por
op•›es morais que, por defini•‹o, n‹o podem ser comprovadas ou
justificadas, mas apenas aceitas por convic•‹o pessoal.

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O que significa isso?
Consiste no fato de que n‹o existe uma norma, como Ž o texto constitucional de
um Estado, que seja fundamento de validade para as demais normas de
determinado ordenamento jur’dico. Em Direito Constitucional estudamos que a
Constitui•‹o Ž fundamento de validade para todas as normas infraconstitucionais.
J‡ na seara dos Direitos Humanos, como inexiste um referencial (como a
Constitui•‹o), cada organismo internacional poder‡ compreender o fundamento
da disciplina de acordo com suas concep•›es morais e ju’zos de valor.
Para esses autores o fato de os direitos humanos possu’rem estrutura aberta
impede que se delimitem os fundamentos dos direitos humanos.

Fundamentos
Paralelamente ˆ corrente que nega a possibilidade de delimita•‹o dos Direitos
Humanos, h‡ v‡rios doutrinadores que compreendem existir fundamentos.
Estudaremos fundamentos principais.

Fundamento Jusnaturalista
Para a corrente jusnaturalista, o fundamento dos Direitos Humanos est‡ em
normas anteriores e superiores ao direito estatal posto, decorrente de
um conjunto de ideias, de origem divina ou fruto da raz‹o humana.
Assim, para essa corrente de pensamento, os Direitos Humanos seriam
equivalentes aos direitos naturais, consequ•ncia da afirma•‹o dos ideais
jusnaturalistas.
Uma caracter’stica importante da corrente jusnaturalista Ž o cunho metaf’sico,
uma vez que os Direitos Humanos encontram fundamento na exist•ncia de um
direito prŽ-existente ao direito produzido pelo homem, oriundo de:
¥! Deus à escola de direito natural de raz‹o divina; ou
De acordo com a concep•‹o religiosa jusnaturalista, a lei humana somente
teria validade se estiver de acordo com as leis divinas.
¥! da natureza inerente do ser humano à escola de direito natural
moderna.
De acordo com corrente jusnaturalista pura, h‡ um conjunto de direitos que
s‹o inerentes ˆ simples exist•ncia da pessoa.
Em cr’tica a esse fundamento, argui-se que os direitos humanos s‹o hist—ricos,
ou seja, conquistados pela sociedade em raz‹o das conflu•ncias sociais e
culturais, de forma que os Direitos Humanos n‹o s‹o prŽ-existentes a tudo que
existe de normativo.
A religi‹o foi importante para o desenvolvimento dos Direitos Humanos,
especialmente a Igreja Cat—lica, que privilegiou o respeito ao ser humano, ˆ
pessoa, o respeito ˆ dignidade. AlŽm disso, a pr—pria exist•ncia humana traz

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consigo alguns valores importantes, tais como o direito ˆ vida e ˆ liberdade que
se relacionam diretamente com a matŽria.

Tal como se extrai da jurisprud•ncia do STF, de acordo com os ensinamentos de


AndrŽ de Carvalho Ramos5. Vejamos alguns exemplos:
Ä Ao se pronunciar sobre o tema bloco de constitucionalidade, o Min. Celso
de Mello6 discorreu que os direitos naturais integram o referido bloco.
Cabe ter presente que a constru•‹o do significado de Constitui•‹o permite, na elabora•‹o
desse conceito, que sejam considerados n‹o apenas os preceitos de ’ndole positiva,
expressamente proclamados em documento formal (que consubstancia o texto escrito da
Constitui•‹o), mas, sobretudo, que sejam havidos, igualmente, por relevantes, em face de
sua transcend•ncia mesma, os valores de car‡ter suprapositivo, os princ’pios cujas ra’zes
mergulham no direito natural e o pr—prio esp’rito que informa e d‡ sentido ˆ Lei
Fundamental do Estado.

Em sentido estrito, bloco de constitucionalidade refere-se ˆs normas que servem


de par‰metro para o controle de constitucionalidade.
Em sentido amplo, por bloco de constitucionalidade devemos compreender o
conjunto das normas do ordenamento jur’dico que tenham status constitucional.
ƒ nesse sentido que o assunto ganha relev‰ncia para o estudo de Direitos
Humanos. Assim, alŽm das normas formalmente constitucionais, todas as
normas que versem sobre matŽria constitucional, tal como os direitos humanos
(segundo refer•ncia acima do STF) e os tratados internacionais de direitos
humanos ser‹o considerados materialmente constitucionais.
Ä Ao tratar sobre o direito ˆ greve como causa suspensiva do contrato de
trabalho, o Min. Marco AurŽlio7 abordou-o como direito natural.
Em s’ntese, na vig•ncia de toda e qualquer rela•‹o jur’dica concernente ˆ presta•‹o de
servi•os, Ž irrecus‡vel o direito ˆ greve. E este, porque ligado ˆ dignidade do homem Ð
consubstanciando express‹o maior da liberdade a recusa, ato de vontade, em continuar
trabalhando sob condi•›es tidas como inaceit‡veis Ð, merece ser enquadrado entre os
direitos naturais. Assentado o car‡ter de direito natural da greve, h‡ de se impedir pr‡ticas
que acabem por neg‡-lo (...) consequ•ncia da perda advinda dos dias de paralisa•‹o h‡ de
ser definida uma vez cessada a greve. Conta-se, para tanto, com o mecanismo dos
descontos, a elidir eventual enriquecimento indevido, se Ž que este, no caso, possa se
configurar.

Os julgados acima bem exemplificam que embora n‹o seja a tese prevalente para
a defesa de direitos humanos, por vezes, Ž reportado como um dos fundamentos
da nossa disciplina.

5
RAMOS, AndrŽ de Carvalho. Curso de Direitos Humanos, S‹o Paulo: Editora Saraiva, 2014
(vers‹o digital).
6
ADI 595/ES, Rel. Celso de Mello, 2002, DJU de 26-2-2002.
7
SS 2.061 AgR/DF, Rel. Min. Marco AurŽlio, Presidente, DJU 30-10-2001.

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Fundamento Racional
Aqui temos uma vis‹o laica dos direitos humanos, n‹o vinculada ˆ natureza
ou ˆ religi‹o. A vincula•‹o pretendida se d‡ em rela•‹o ˆ raz‹o humana, que
distingue o homem dos demais seres vivos. Diante disso, aquilo que o homem,
por intermŽdio de uma reflex‹o racional, procura estabelecer como inerente ˆ
condi•‹o humana constituir‡ o fundamento para os direitos humanos.
Essa fundamenta•‹o ganha for•a com o desenvolvimento do pensamento
iluminista, que procura centrar o foco da reflex‹o filos—fica no homem,
colocado, agora, como centro das aten•›es e do pensamento. Assim, os
defensores do fundamento racional compreendem que os direitos humanos t•m
suas bases lan•adas neste movimento racional.

Fundamento Positivista
O fundamento positivista dos direitos humanos se op›e fortemente ao
fundamento jusnaturalista. Nega-se a prŽ-exist•ncia de direitos humanos, pois
todos seriam decorrentes das normas estatais.
Segundo o fundamento positivista, a forma•‹o dos Estados Constitucionais
de Direito levou ˆ inser•‹o de Direitos Humanos nas constitui•›es. Desse modo,
se os Direitos Humanos estiverem escritos em textos legais (e
principalmente, constitucionais) s‹o considerados Direitos Humanos.
Antes de serem positivados, s‹o considerados apenas valores e ju’zos morais.
Sobre a corrente, leciona AndrŽ de Carvalho Ramos8:
O fundamento dos direitos humanos consiste na exist•ncia da lei positiva, cujo pressuposto
de validade est‡ em sua edi•‹o conforme as regras estabelecidas na Constitui•‹o. Assim,
os direitos humanos justificam-se gra•as a sua validade formal.

De acordo com a doutrina de F‡bio Konder Comparato9, a normatiza•‹o dos


direitos humanos confere seguran•a jur’dica as rela•›es sociais, tendo finalidade
pedag—gica perante a comunidade na medida em que faz prevalecer valores
Žticos que est‹o positivados nas normas jur’dicas.
Por outro lado, essa corrente n‹o pode ser considerada unilateralmente, pois
a necessidade de positiva•‹o do direito enfraquece-o. N‹o Ž poss’vel aceitar que
somente os direitos humanos positivados no ‰mbito internacional ou
internamente possam ser assegurados. Adotando-se unilateralmente a tese
positivista, se a lei for omissa ou mesmo contr‡ria ˆ dignidade humana,
estaremos diante de uma precariza•‹o dos Direitos Humanos, o que Ž inaceit‡vel.

8
RAMOS, AndrŽ de Carvalho. Teoria Geral dos Direitos Humanos na Ordem Internacional.
2» edi•‹o, S‹o Paulo: Editora Saraiva, 2012 (vers‹o eletr™nica).
9
COMPARATO, F‡bio Konder. Afirma•‹o Hist—rica dos Direitos Humanos, 7» edi•‹o, S‹o
Paulo: Editora Saraiva S/A, 2010, p. 72.

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Fundamento Moral
Para finalizar, vejamos a fundamenta•‹o moral, segundo a qual os direitos
humanos consistem no conjunto de direitos subjetivos originados diretamente
dos princ’pios, independentemente da exist•ncia de regras prŽvias. Assim, os
direitos humanos podem ser considerados direitos morais que n‹o
aferem sua validade por normas positivadas, mas extraem validade
diretamente de valores morais da coletividade humana. Entende-se que a
moralidade integra o ordenamento jur’dico por meio de princ’pios, referindo-se
ˆs exig•ncias de justi•a, de equidade ou de qualquer outra dimens‹o da moral.
Existe, portanto, um conteœdo Žtico na fundamenta•‹o dos Direitos
Humanos, no que se refere ˆ necessidade de assegurar uma vida digna
ˆs pessoas.
Ä QUADRO SINîTICO 0

Nega a possibilidade de fundamenta•‹o dos direitos humanos, por v‡rios


motivos:
ü! h‡ diverg•ncias quanto ˆ abrang•ncia;
Impossibilidade
de delimita•‹o ü! est‹o em constante evolu•‹o;
dos ü! constituem categoria heterog•nea;
Fundamentos
ü! s‹o consagrados a partir de ju’zos de valor, que n‹o podem ser
justificados e comprovados.
ü! constitui disciplina universalmente aceita e fundada na moral.

FUNDAMENTO JUSNATURALISTA

¥Normas anteriores ou divinas e superiores ao direito estatal posto, decorrente


de um conjunto de ideias, fruto da raz‹o humana.

FUNDAMENTO RACIONAL

¥Normas extra’veis da raz‹o inerentes ˆ condi•‹o humana.

FUNDAMENTO POSITIVISTA

¥S‹o Direitos Humanos os valores e os ju’zos condizentes com a dignidade


positivados no ordenamento.

FUNDAMENTO MORAL

¥Os direitos humanos podem ser considerados direitos morais que n‹o aferem
sua validade por normas positivadas, mas diretamente de valores morais da
coletividade humana.

A partir das reflex›es acima, pergunta-se: h‡ uma teoria que prevalece?


Qual adotar em provas de concurso pœblico?

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N‹o vamos adotar nenhuma delas de forma isolada, mas o conjunto desses
fundamentos com vistas a realiza•‹o da dignidade da pessoa. Essa Ž a
compreens‹o que prevalece e a que voc• usada no dia da prova.

Fundamento da Dignidade
De acordo com a doutrina de Norberto Bobbio, Ž mais importante busca a
realiza•‹o dos direitos humanos do que escolher um dos fundamentos acima
estudados. De todo modo, o ponto em comum de todas os fundamentos
debatidos pela doutrina est‡ no sentido de que existe um nœcleo de direitos
que realizam os direitos mais b‡sicos dos seres humanos, os direitos de
dignidade.
Argumenta-se que a universalidade dos direitos humanos, a nega•‹o da teoria
puramente positivista, somados ˆ ideia de que os direitos humanos est‹o em
constante constru•‹o a partir das conflu•ncias hist—ricas, levam ˆ forma•‹o de
um bloco de valores, que realizam a dignidade humana e que, portanto,
constituem as raz›es da nossa matŽria.
A dœvida que se p›e envolve a discuss‹o sobre o conteœdo da dignidade:
Afinal, o que Ž dignidade humana?
A dignidade deve ser considerada como valor base de todo e qualquer
ordenamento jur’dico. Pauta-se na ideia de uma conduta justa, moral e
democr‡tica, de modo que a pessoa Ž colocada no centro das regras
jur’dicas. Justamente devido a sua import‰ncia, a dignidade Ž colocada como
base fundamental do direito interno de qualquer Estado ou mesmo internacional.
N‹o Ž poss’vel estabelecer um conceito œnico de dignidade. AlŽm disso, n‹o cabe
ao Direito definir o conteœdo da dignidade. Trata-se de conceito que Ž formado
por v‡rias ‡reas do saber. Trata-se de conceito multidimensional. Nesse contexto,
forma-se a partir das rela•›es sociais, culturais, hist—ricas e pol’ticas que envolve
determinada pessoa em determinada comunidade.
Para fins de prova, devemos ter em mente que a dignidade constitui um valor
Žtico, por intermŽdio do qual a pessoa Ž considerada sujeito de direitos
e obriga•›es, que devem ser assegurados para garantir a personalidade,
os quais s‹o garantidos pela simples exist•ncia.
Nesse contexto, veja o conceito de AndrŽ de Carvalho Ramos10:
Assim, a dignidade humana consiste na qualidade intr’nseca e distintiva de cada ser
humano, que o protege contra todo tratamento degradante e discrimina•‹o odiosa, bem
como assegura condi•›es materiais m’nimas de sobreviv•ncia. Consiste em atributo que
todo indiv’duo possui, inerente ˆ sua condi•‹o humana, n‹o importando qualquer
outra condi•‹o referente ˆ nacionalidade, op•‹o pol’tica, orienta•‹o sexual, credo etc.

10
RAMOS, AndrŽ de Carvalho. Curso de Direitos Humanos, S‹o Paulo: Editora Saraiva, 2014
(vers‹o digital).

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Com base no conceito acima, Ž poss’vel identificar dois elementos que
caracterizam a dignidade da pessoa humana:
1¼ à elemento negativo: veda•‹o ˆ imposi•‹o de tratamento discriminat—rio, ofensivo ou
degradante; e
2¼ à elemento positivo: busca por condi•›es m’nimas de sobreviv•ncia, da qual decorre
a ideia de m’nimo existencial.

Ainda de acordo com entendimento doutrin‡rio11:


A despeito de orientar a interpreta•‹o e a aplica•‹o das normas jur’dicas, a dignidade da
pessoa humana, ˆ luz do texto constitucional brasileiro, detŽm for•a normativa, estando
apta, portanto, de per si, a vincular, diretamente, comportamentos e a subsidiar decis›es
judiciais, como qualquer outro princ’pio jur’dico normativo.
O posicionamento acima de Silvio Beltramelli Neto Ž importante. Fique bem
atento! Ao falarmos sobre a estrutura normativa da nossa disciplina, vamos
retomar a discuss‹o sobre o car‡ter vinculativo dos princ’pios (entre os quais
est‡ o da dignidade humana).
Para encerrar esse t—pico vamos abordar os Òusos poss’veisÓ do termo Òdignidade
humanaÓ. Trata-se de uma an‡lise pautada no pensamento de AndrŽ de Carvalho
Ramos12, mas que possui relev‰ncia porque Ž constru’da a partir da
jurisprud•ncia do STF.
Para o autor Ž poss’vel identificar os seguintes usos do termo:

USO DO TERMO NA A dignidade da pessoa Ž utilizada como fundamento para a cria•‹o


FUNDAMENTA‚ÌO jurisprudencial de novos direitos, a exemplo do Òdireito ˆ busca da
(EFICçCIA POSITIVA). felicidadeÓ.

USO DO TERMO NA Ao abordar determinado tema, a dignidade da pessoa Ž utilizada


INTERPRETA‚ÌO como par‰metro interpretativo. Por exemplo, ao tratar da celeridade
ADEQUADA. da presta•‹o jurisdicional, a dignidade Ž alcan•ada, de acordo com
a jurisprud•ncia do STF, quando a presta•‹o jurisdicional Ž
tempestiva.

USO DO TERMO PARA A dignidade assume na jurisprud•ncia papel limitador da atua•‹o


IMPOR LIMITES AO estatal, a exemplo da limita•‹o do uso de algemas.
ESTADO.

USO DO TERMO PARA Na tŽcnica de aplica•‹o dos princ’pios a dignidade Ž ventilada, nos
SUBSIDIAR A julgados do STF, para determinar a preval•ncia de um princ’pio em
PONDERA‚ÌO DE rela•‹o ao outro. Foi utilizada tal interpreta•‹o para afastar o tr‰nsito
INTERESSES. em julgado de uma a•‹o de paternidade. Vale dizer, em nome da
dignidade, prestigia-se o direito ˆ informa•‹o genŽrica em
detrimento da seguran•a jur’dica decorrente da coisa julgada.

11
BELTRAMELLI NETO, Silvio. Direitos Humanos. Col. Concurso Pœblicos, 2» edi•‹o, Bahia:
Editora JusPodvim, 2016, p. 39.
12
RAMOS, AndrŽ de Carvalho. Curso de Direitos Humanos, S‹o Paulo: Editora Saraiva, 2014
(vers‹o digital).

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Por fim, embora constitua o centro axiol—gico (valorativo) do nosso ordenamento
jur’dico, devemos tomar cuidado com a banaliza•‹o do termo, pois, quando tudo
encontra fundamento na dignidade humana, esse valor de nada servir‡. Dito de
forma simples, quanto uma coisa Ž fundamento de tudo, ela n‹o tem capacidade
de distinguir a import‰ncia de nada.
Enfim, de tudo o que vimos atŽ aqui, voc• deve ter em mente que v‡rios
pensadores se debru•aram para compreender o fundamento dos direitos
humanos. Cada um, alinhado a uma concep•‹o filos—fica espec’fica, trouxe um
fundamento espec’fico, todos bons argumentos.
O resultado dessa reflex‹o levou ˆ constata•‹o de que Ž necess‡rio
refletir os direitos humanos a partir da dignidade, seja ela encarada
como um princ’pio ou como um valor supremo. A dignidade se apresenta
como o resultado dessas v‡rias raz›es e, por isso, constitui o
fundamento dos direitos humanos.
Para concluir essa an‡lise te—rica inicial, cumpre compreender outros dois pontos:
a) a estrutura normativa da nossa disciplina; e
b) o papel do p—s-positivismo no cen‡rio atual e influ•ncia no estudo dos Direitos
Humanos.

2.4 - Estrutura Normativa


Os direitos humanos apresentam uma caracter’stica marcante: possuem
estrutura normativa aberta.
E que o seria uma estrutura normativa aberta?
Estudamos em Direito Constitucional que as normas jur’dicas compreendem
regras e princ’pios.
As regras s‹o enunciados jur’dicos tradicionais, que preveem uma situa•‹o
f‡tica e, se essa ocorrer, haver‡ uma consequ•ncia jur’dica. Por exemplo,
se alguŽm violar o direito ˆ imagem de outrem (fato), ficar‡ respons‡vel pela
repara•‹o por eventuais danos materiais e morais causados ˆ pessoa cujas
imagens foram divulgadas indevidamente (consequ•ncia jur’dica).
Os princ’pios, por sua vez, segundo ensinamentos de Robert Alexy, s‹o
denominados de Òmandados de otimiza•‹oÓ, porque constituem espŽcie de
normas que dever‹o ser observadas na maior medida do poss’vel.
Parece dif’cil, mas n‹o Ž! Prev• art. 5¼, LXXVIII, da CF, que a todos ser‡
assegurada a razo‡vel dura•‹o do processo. Esse Ž um princ’pio! N‹o h‡ aqui
defini•‹o de atŽ quanto tempo ser‡ considerado como dura•‹o razo‡vel para, se
ultrapassado esse prazo, aplicar a consequ•ncia jur’dica diretamente. N‹o Ž
poss’vel dizer, de antem‹o, se um, cinco ou 10 anos Ž um prazo razo‡vel. Por se
tratar de princ’pio, deve-se procurar, na melhor forma poss’vel, fazer com que o
processo se desenvolva de forma r‡pida e satisfat—ria ˆs partes.
Por conta disso, um processo trabalhista, que comumente envolve direito de
car‡ter alimentar, deve tramitar mais r‡pido (mais cŽlere) quando comparado a

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um processo-crime, por exemplo. ƒ importante resolv•-lo rapidamente, para que
o empregado tenha acesso aos crŽditos decorrentes em raz‹o da natureza
aliment’cia. No processo penal, para uma completa defesa do rŽu, Ž necess‡rio
que o processo seja burocr‡tico, atentando-se a diversos detalhes que tornam o
procedimento mais demorado. ƒ importante decidir com cuidado, para evitar
injusti•a, porque uma condena•‹o infundada Ž muito prejudicial.
N‹o h‡, portanto, como definir um prazo, a priori, no qual o processo seja
considerado tempestivo. Assim, fala-se em mandado de otimiza•‹o, uma vez que
o princ’pio da celeridade deve ser observado na medida do poss’vel e de acordo
com as circunst‰ncias espec’ficas.
As regras, por sua vez, s‹o aplicadas a partir da tŽcnica da subsun•‹o, ou
seja, se ocorrer a situa•‹o de fato haver‡ a incid•ncia da consequ•ncia jur’dica
prevista. Ou a regra aplica-se ˆquela situa•‹o ou n‹o se aplica (tŽcnica do Òtudo
ou nadaÓ). Para os princ’pios, ao contr‡rio, a aplica•‹o pressup›e o uso da
tŽcnica de pondera•‹o de interesses, pois a depender da situa•‹o f‡tica
assegura-se com maior, ou menor, amplitude o princ’pio (tŽcnica do Òmais ou
menosÓ). Retornando ao exemplo, para o processo do trabalho, o decurso de 2
anos poder‡ implicar viola•‹o ao princ’pio da celeridade; para o processo crime
o decurso de 5 anos n‹o implicar‡, necessariamente, viola•‹o do mesmo
princ’pio.

REGRAS PRINCêPIOS

mandados de determina•‹o mandados de otimiza•‹o

aplicado por subsun•‹o aplicado por pondera•‹o de interesses

tŽcnica do "tudo ou nada" tŽcnica do "mais ou menos"

E qual a import‰ncia disso tudo para os Direitos Humanos?


A estrutura normativa dos Direitos Humanos Ž formada principalmente
por um conjunto de princ’pios. Numa situa•‹o pr‡tica, voc• pode se defrontar
com trabalho em condi•›es t‹o degradantes e prec‡rias que, embora n‹o
configurem escravid‹o no pr—prio sentido da palavra, permitir‹o afirmar que
aquela situa•‹o se assemelha ˆ condi•‹o an‡loga de escravo, de acordo com os
princ’pios e regras envolvidos. S‹o situa•›es em que h‡ tentativa de se mascarar
a realidade dos fatos, impondo-se ao empregado jornadas extenuantes, cobran•a
de valores exorbitantes a t’tulo de moradia e ou de instrumentos para o trabalho,
entre outros abusos.
AlŽm disso, em termos normativos, devemos frisar que tanto as regras como
os princ’pios s‹o considerados espŽcie de normas, logo, possuem
normatividade. Hoje n‹o Ž mais aceita a ideia cl‡ssica de que os princ’pios

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constituem t‹o somente instrumentos interpretativos e orientadores da aplica•‹o
do direito. Essa Ž apenas uma das fun•›es dos princ’pios.

NORMAS
JURêDICAS

regras princ’pios

possuem normatividade aberta,


ESTRUTURA NORMATIVA DOS
com maior incid•ncia de princ’pios
DIREITOS HUMANOS
do que de regras

2.5 - P—s-positivismo e os Direitos Humanos


Na parte relativa ao estudo da hist—ria evolutiva dos direitos humanos,
percebemos que a 2» Guerra Mundial foi fundamental para a nossa matŽria. Antes
desse evento, embora houve alguma tentativa no sentido de consolidar a matŽria
a n’vel internacional, nada se solidificou.
Foi com fundamento em um Estado de Direito, calcado em ideias positivistas, que
legitimou juridicamente barb‡ries contra dignidade. O positivismo predominante
no Direito Alem‹o ˆ Žpoca, justificava juridicamente o exterm’nio contra os
judeus e os campos de concentra•‹o. Essa postura gerou enorme perplexidade
na comunidade internacional que, a partir de momento hist—rico, elevou a
preocupa•‹o em torno dos direitos humanos a n’vel internacional. O exemplo
mais claro da repercuss‹o dessas atrocidades, Ž a cria•‹o dos sistemas
internacionais de direitos humanos, com destaque para a ONU e para a OEA.
No ‰mbito jur’dico, passou-se a criticar fortemente a concep•‹o positivista,
que distanciava o direito de qualquer posi•‹o moral ou valores. Afinal de
contas, um direito desprendido de valores ou aspectos Žticos e morais, viola a
pr—pria finalidade do direito, que Ž tutelar e proteger a pessoa, que Ž garantir o
bom conv’vio social, com respeito aos direitos mais b‡sicos.
Ao analisar o distanciamento do direito em rela•‹o ˆ moral, Silvio Beltramelli
Neto ensina13:
Tal separa•‹o foi severamente criticada ap—s a Segunda Guerra Mundial, ao se difundir um
sentimento geral segundo o qual o afastamento do Direito de valores Žticos b‡sicos
proporcionara legalidade a certas condutas evidentemente absurdas e injustas, como as
pr‡ticas nazistas que haviam ensejado o holocausto.

Busca-se, assim, uma reaproxima•‹o do direito em rela•‹o ˆ moral. A esse


movimento denomina-se de p—s-positivismo.

13
BELTRAMELLI NETO, Silvio. Direitos Humanos. Col. Concurso Pœblicos, 2» edi•‹o, Bahia:
Editora JusPodvim, 2016, p. 51.

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Nesse contexto, Ž importante que voc• compreenda desde j‡ que a 2» Guerra
Mundial Ž fundamental para:
a) a solidifica•‹o e consolida•‹o dos direitos humanos na —rbita internacional, com a
cria•‹o de sistemas internacionais de Direitos Humanos (ONU, OEA) e diversos tratados e
conven•›es internacionais sobre o tema (Pacto Internacional dos Direitos Civis e Pol’ticos
e Pacto de San Jose da Costa Rica); e
b) a reaproxima•‹o do direito em rela•‹o ˆ moral, de modo que as normas passam a
considerar valores Žticos e morais na positiva•‹o, na interpreta•‹o e na aplica•‹o das
normas jur’dicas.

Note que esse alinhamento demonstra, por exemplo, o porqu• de a estrutura


normativa dos Direitos Humanos estar calcada em princ’pios que, alŽm de terem
car‡ter interpretativo, s‹o normas com car‡ter vinculativo. Ou seja, o aplicador
do Direito poder‡ fundamentar a decis‹o exclusivamente a partir de um princ’pio.
ƒ importante compreender, ainda, que o movimento p—s-positivista n‹o implica
no abandono do positivismo. Do mesmo modo, n‹o constitui um retorno ˆ vis‹o
jusnaturalista do direito. Temos, na realidade, a necessidade de considerar o
direito a partir de um tripŽ: fatos, valores e normas.
ƒ justamente essa a compreens‹o de Miguel Reale, que adotou a teoria
tridimensional do Direito.
Em seu livro ÒFundamentos do DireitoÓ, Reale lan•a as bases da teoria
Tridimensional. O autor tem como base de sua teoria as normas postas pelo
Estado, contudo, n‹o se limita apenas a isso ao revelar que a estrutura do
fen™meno jur’dico Ž tr’plice e composta por norma, fato e valor. Nesse aspecto a
corrente eclŽtica fica clara ao afirmar que o direito n‹o pode ser analisado de
acordo com apenas o padr‹o normativista14.
Assim, de acordo com a teoria tridimensional do jurista brasileiro, a norma
jur’dica n‹o Ž o œnico fator de identifica•‹o do fen™meno jur’dico. A realidade
social tambŽm Ž fundamental nesse processo de identifica•‹o. Por fim,
permeando a norma e a realidade social est‹o os valores.
Deste modo...

14
MASCARO, Alysson Leandro. Filosofia do Direito. 4. Ed. S‹o Paulo: Atlas. 2014. pg. 324 a 326.

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Norma
Jur’dica

Direito

Valores Fato social

Para Reale, a rela•‹o entre norma, fato e valores n‹o Ž uma simples integra•‹o
entre unidades separadas e estranhas, mas uma rela•‹o processual de implica•‹o
mœtua. Portanto, para o autor, h‡ um processo hist—rico e social que resultar‡ na
cria•‹o da norma jur’dica, esse processo Ž denominado de nomog•nese
jur’dica. O direito, portanto, fica suscet’vel aos valores e aos fatos socais, que
est‹o intrinsecamente relacionados com a moral, que o cerne do pensamento
p—s-positivista.
Antes de concluir e lembrando que n‹o Ž nossa pretens‹o aqui desenvolve o
assunto, Ž interessante considerar que o p—s-positivismo est‡ atrelado com
denominado movimento neoconstitucionalista. Com fins did‡ticos, podemos
afirmar que o neoconstitucionalismo nada mais Ž do que trazer os valores, a
moral, a Žtica para dentro do ordenamento constitucional, notadamente com
respeito a direitos e garantias fundamentais, que nada mais s‹o do que direitos
humanos internalizados no ordenamento jur’dico.
Segundo a doutrina15:
(...), o respeito ˆ Constitui•‹o conduz ˆ imposi•‹o do respeito aos valores nela consagrados
sob a roupagem de princ’pios, disso resultando, como consequ•ncia hermen•utico-
metodol—gica, a obrigat—ria aten•‹o aos ditames constitucionais na interpreta•‹o/aplica•‹o
de qualquer norma do ordenamento jur’dico. Trata-se do fen™meno que muitos autores
denominam de Òconstitucionaliza•‹o do DireitoÓ.

Assim, temos, segundo entendimento de Lu’s Roberto Barroso16, um retorno aos


valores, uma reaproxima•‹o entre Žtica e o Direito, tanto no p—s-positivismo
como no neoconstitucionalismo. Esses valores, segundo o autor, est‹o fixados

15
BELTRAMELLI NETO, Silvio. Direitos Humanos. Col. Concurso Pœblicos, 2» edi•‹o, Bahia:
Editora JusPodvim, 2016, p. 59.
16
BARROSO, Luiz Roberto. Interpreta•‹o e aplica•‹o da constitui•‹o: fundamentos de
uma dogm‡tica constitucional transformadora, 7» edi•‹o, S‹o Paulo: Editora Saraiva S/A,
2009, p. 328.

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nos princ’pios, abrangidos pela Constitui•‹o e pelas normas internacionais, de
forma expl’cita ou impl’citos em tais textos normativos.
Para a prova, sintetizando todo esse pensamento, temos:

POS-POSITIVISMO

¥Corrente da Filosofia do Direito que busca a reaproxima•‹o entre Direito e


Moral, de modo que as normas jur’dicas levem considera•‹o valores e
comportamentos Žticos.
¥Em raz‹o disso, desenvolve-se e consolida-se a teoria dos princ’pios,
defendidos como espŽcie de normas e com car‡ter vinculativo.
¥No ‰mbito interno, essa corrente do pensamento favorece a positiva•‹o desses
valores nas respectivas Constitui•›es, pelo denominado momento do
neoconstitucionalismo.
¥Para os Direitos Humanos, nada a sua natureza, esse movimento corrobora e
fortalece a disciplina no ‰mbito interno e internacional.

Com isso, encerramos a teoria pertinente ˆ aula de hoje.

3 - Quest›es

Em rela•‹o aos assuntos estudados na aula de hoje, vale a pena voc• dar especial
aten•‹o aos fundamentos dos Direitos Humanos.

3.1 Ð Lista de Quest›es sem Coment‡rios


Q1.! FUNDEP/Bombeiros-MG/2018
Analise as seguintes caracter’sticas dos Direitos Humanos Fundamentais.
1. Os Direitos Humanos Fundamentais n‹o se perdem pelo decurso de prazo
nem pela falta de uso.
2. N‹o Ž suficiente o mero reconhecimento abstrato dos Direitos Humanos
Fundamentais, que devem ser garantidos na pr‡tica, mediante mecanismos
coercitivos voltados para essa finalidade.
3. Os Direitos Humanos Fundamentais n‹o devem ser interpretados de forma
isolada, e, sim, em seu conjunto, de modo a se buscar o devido alcance de
seus objetivos.
As caracter’sticas descritas s‹o, respectivamente, identificadas como:
a) imprescritibilidade, efetividade e complementaridade.
b) imprescritibilidade, inviolabilidade e interdepend•ncia.
c) irrenunciabilidade, inviolabilidade e universalidade.

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d) inalienabilidade, efetividade e interdepend•ncia.

Q2.! VUNESP/PC-SP/2018
Considerando a evolu•‹o hist—rica dos direitos humanos, assinale a
alternativa que indica corretamente as tr•s gera•›es de direitos, na ordem
hist—rica em que elas s‹o classificadas pela doutrina.
a) Direitos civis e sociais; direitos de liberdades e garantias individuais; e
direitos coletivos e transindividuais.
b) Direitos trabalhistas; direitos sociais; e direitos da democracia.
c) Direitos da coletividade; direitos de solidariedade ou de fraternidade; e
direitos e garantias individuais.
d) Direitos de liberdade positiva; direitos de liberdade negativa; e direitos
de solidariedade ou de fraternidade.
e) Direitos de liberdade negativa, civis e pol’ticos; direitos econ™micos,
sociais e culturais; e direitos de fraternidade ou de solidariedade.
Q3.! FUNCAB/SEGEP-MA/Agente/2016
Acerca do conceito e estrutura dos direitos humanos, assinale a assertiva
correta.
a) Os direitos humanos t•m estrutura variada, podendo ser: direito-
pretens‹o, direito-liberdade, direito-poder e, finalmente, direito-imunidade.
b) Os direitos humanos s‹o os essenciais e dispens‡veis ˆ vida digna.
c) O direito-pretens‹o consiste na autoriza•‹o dada por uma norma a uma
determinada pessoa, impedindo que outra interfira de qualquer modo.
d) O direito-liberdade implica uma rela•‹o de poder de uma pessoa de exigir
determinada sujei•‹o do Estado ou de outra pessoa.
e) O direito-poder consiste na busca de algo, gerando a contrapartida de
outrem do dever de prestar.
Q4.! MPE-SC/MPE-SC/Promotor/2016
Julgue:
Conceitualmente, os direitos humanos s‹o os direitos protegidos pela ordem
internacional contra as viola•›es e arbitrariedades que um Estado possa
cometer ˆs pessoas sujeitas ˆ sua jurisdi•‹o. Por sua vez, os direitos
fundamentais s‹o afetos ˆ prote•‹o interna dos direitos dos cidad‹os, os
quais encontram-se positivados nos textos constitucionais contempor‰neos.

Q5.! CESPE/DPE-ME/Defensor/2011/adaptada
Considerando a teoria geral dos direitos humanos, julgue o item a seguir.

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O princ’pio da proibi•‹o do retrocesso social Ž uma cl‡usula de defesa do
cidad‹o em face de poss’veis arb’trios impostos pelo legislador no sentido de
desconstituir as normas de direitos fundamentais.

Q6.! CESPE/DPE-ME/Defensor/2011/adaptada
Considerando a teoria geral dos direitos humanos, julgue o item a seguir.
Consoante a teoria da margem de aprecia•‹o, nenhuma norma de direitos
humanos pode ser invocada para limitar o exerc’cio de qualquer direito.

Q7.! TRT23»R/TRT23»R/Juiz/2011
O grande publicista alem‹o Georg Jellinek, na sua obra "Sistema dos Direitos
Subjetivos Pœblicos" (Syzstem der subjetktiv šffentlichen), formulou
concep•‹o original, muito citada pela doutrina brasileira no estudo da teoria
dos direitos fundamentais, segundo a qual o individuo, como vinculado a
determinado Estado, encontra sua posi•‹o relativamente a este cunhada por
quatro espŽcies de situa•›es juridicas (status), seja como sujeito de
deveres, seja como titular de direitos. Assinale qual das attemativas abaixo
contŽm um item que NÌO corresponde a um dos quatro status da teoria de
Jellinek:
a) status passivo (status subjectionis).
b) status negativus.
c) status civitatis.
d) status socialis.
e) status activus.

Q8.! CESPE/PGE-PE/Procurador/2009/adaptada
Quanto aos direitos e garantias fundamentais, julgue:
De acordo com a teoria dos quatro status de Jellinek, o status negativo
consiste na posi•‹o de subordina•‹o do indiv’duo aos poderes pœblicos, como
detentor de deveres para com o Estado. Assim, o Estado tem compet•ncia
para vincular o indiv’duo, por meio de mandamentos e proibi•›es.

Q9.! InŽdita/2017
Em rela•‹o ao conceito, fundamento e caracter’sticas dos Direitos Humanos,
julgue os itens subsecutivos.
N‹o existe diferen•a substancial entre Direitos Humanos e Direitos
Fundamentais, pois ambos visam ˆ prote•‹o da pessoa, estes na —rbita
interna do Estado, aqueles na seara internacional.

Q10.!InŽdita/2017
Em rela•‹o ao conceito, fundamento e caracter’sticas dos Direitos Humanos,
julgue os itens subsecutivos.

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Em rela•‹o aos fundamentos dos Direitos Humanos, predomina a teoria da
fundamenta•‹o moral, segundo o qual os direitos humanos s‹o direitos
morais que n‹o aferem validade em normas positivas, mas diretamente de
valores morais da coletividade humana.

Q11.!MPE-PR/MPE-PR/Promotor/2016
ÒA segunda guerra mundial, iniciada em 1939 e encerrada em 1945, depois
de praticada contra seres humanos, com brutal intensidade, uma variedade
de viol•ncias jamais antes imaginada, teve o efeito de despertar a
consci•ncia de grande parte da humanidade para a impossibilidade de haver
paz e de ser propiciado, aos indiv’duos e aos povos, o gozo tranquilo dos
benef’cios proporcionados pelos avan•os cient’ficos e tecnol—gicos sem o
reconhecimento da pessoa humana como o primeiro dos valores. De certo
modo, pode-se dizer que houve uma retomada das proclama•›es
humanistas externadas pelos fil—sofos pol’ticos dos sŽculos XVII e XVIII, com
o reconhecimento de que a liberdade e a igualdade s‹o atributos naturais de
todos os seres humanos, sem qualquer exce•‹o, e devem ser protegidos por
toda a sociedade, como direitos inerentes ˆ condi•‹o humana. Esse
reconhecimento foi expresso, com clareza e objetividade, na parte inicial do
art. 1¼ da Declara•‹o Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela
Assembleia Geral da ONU em 10 de dezembro de 1948, com o seguinte
enunciado: ÔTodos os seres humanos nascem livres e iguais em direitos e
dignidade. Todos s‹o dotados de raz‹o e de consci•ncia e devem agir, uns
em rela•‹o aos outros, com esp’rito de fraternidadeÕ.Ó
Ap—s analisar o texto acima, assinale a alternativa incorreta:
a) O mesmo esp’rito que inspirou a Proclama•‹o dos Direitos Humanos,
visando a afirma•‹o dos direitos fundamentais da pessoa humana,
reformulou sistemas jur’dicos em todo o mundo causando a substitui•‹o do
individualismo pelo humanismo, do patrimonialismo pela dignidade da
pessoa humana, al•ando a Constitui•‹o ˆ condi•‹o de norma jur’dica
superior, igual para todos e instrumento de afirma•‹o e garantia dos direitos
fundamentais;
b) Afirmando expressamente a igualdade de direitos e proibindo
discrimina•›es, os textos constitucionais p—s Declara•‹o Universal passaram
a incluir a determina•‹o de atua•‹o positiva do Estado, que n‹o deve limitar-
se a garantir os direitos, impedindo que eles sejam violados, mas deve
tambŽm valer-se de meios eficazes, inclusive com a destina•‹o de recurso
materiais, para que a atribui•‹o de direitos implique a real possibilidade de
exerc•-los;
c) Muito embora textos constitucionais p—s Declara•‹o Universal dos Direitos
Humanos fa•am, de modo geral, o reconhecimento de que nenhum indiv’duo
mora fora da sociedade e, portanto, tudo que afeta o direito de outro
indiv’duo tem significa•‹o social, estruturalmente, n‹o houve rompimento
da estrita separa•‹o entre as ‡reas pœblica e privada, uma vez que o

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estabelecimento de normas ou regras pelo setor pœblico, ainda que b‡sicas
e parciais, voltadas a disciplinar a esfera privada se caraterizaria em indevida
inger•ncia do Estado nas rela•›es particulares;
d) Tomando como base o par‰metro da dignidade da pessoa humana para o
estabelecimento de regras jur’dicas relativas ˆ aquisi•‹o e ao uso de direitos,
pode afirmar-se que o constitucionalismo p—s Declara•‹o Ž humanista, no
sentido de tratar a pessoa como o primeiro dos valores e de condicionar
todas as a•›es do indiv’duo com repercuss‹o social ao respeito por esse
valor;
e) Havidas antes como normas declarat—rias ou program‡ticas, o
constitucionalismo humanista deu efic‡cia jur’dica ˆs disposi•›es
constitucionais de declara•‹o e garantia dos direitos fundamentais,
possibilitando sua aplica•‹o como normas jur’dicas, dotadas de plena
efic‡cia e, portanto, de obedi•ncia obrigat—ria para todos, inclusive para
Estados, governantes e integrantes do aparato pol’tico e administrativo, sem
qualquer exce•‹o.

Q12.!FCC/SEGEP-MA/Procurador/2016
No ‰mbito da Teoria Geral do Direito Internacional dos Direitos Humanos:
a) Os diretos humanos podem ser reivindicados por qualquer cidad‹o ao
redor do mundo, mesmo que o direito violado n‹o esteja reconhecido em
diploma normativo internacional do qual o Estado a que perten•a seja parte.
b) Direitos fundamentais Ž express‹o que traduz conteœdo mais de cunho
jusnaturalista, e n‹o propriamente jur’dico-positivo.
c) Direitos humanos Ž express‹o que revela de forma mais adequada a
prote•‹o constitucional dos direitos b‡sicos dos cidad‹os.
d) Direitos do homem Ž express‹o que representa de forma mais correta os
direitos positivados em tratados e declara•›es internacionais.
e) A Constitui•‹o Federal de 1988 utilizou com precis‹o tŽcnica as
express›es direitos fundamentais e direitos humanos.

Q13.!FAUEL/C‰m. Marialva/Atend. Legislativo/2015


ÒCuidar para que as atrocidades cometidas em nome do povo n‹o se
cometam novamente Ž um problema internacional e um desafio que cada
vez mais os pa’ses de todo o mundo t•m tido de enfrentarÓ. (BEATY, David.
A Ess•ncia do Estado de Direito. S‹o Paulo: Martins Fontes, 2014, p. 2)
O enfrentamento de tal problema perpassa pela defesa:
a) Dos Direitos Humanos.
b) Dos preceitos religiosos.
c) Das lideran•as carism‡ticas.
d) Dos interesses nacionais.

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Q14.!VUNESP/PC-SP/Atend. NecrotŽrio/2014
Assinale a alternativa correta com rela•‹o ao conceito de direitos humanos.
a) Direitos humanos Ž uma forma sintŽtica de se referir a direitos
fundamentais da pessoa humana, aqueles que s‹o essenciais ˆ pessoa
humana, que precisa ser respeitada pela dignidade que lhe Ž inerente.
b) Direitos humanos s‹o aqueles que est‹o previstos de forma expressa em
uma Constitui•‹o e que se referem somente a direitos das pessoas que
respondem a um inquŽrito ou a um processo penal.
c) Como os direitos humanos s‹o inerentes ˆ natureza humana, somente
derivam do esp’rito humano e n‹o devem ser positivados nas leis.
d) No ‰mbito da filosofia, a express‹o direitos humanos significa a
independ•ncia do ser humano, tratando exclusivamente do direito de
liberdade.
e) Considerando o que prev• a Constitui•‹o de 1988, os direitos humanos
se d‹o por meio da propriedade, que se imp›e como um valor incondicional
e insubstitu’vel, que n‹o admite equivalente.

Q15.!CESPE/PRF/Policial/2013
No que se refere ˆ fundamenta•‹o dos direitos humanos e ˆ sua afirma•‹o
hist—rica, julgue os itens subsecutivos.
Conforme a teoria positivista, os direitos humanos fundamentam-se em uma
ordem superior, universal, imut‡vel e inderrog‡vel.

3.2 Ð Gabarito
Q1.! A Q6.! INCORRETA Q11.!C
Q2.! E Q7.! D Q12.!A
Q3.! A Q8.! INCORRETA Q13.!A
Q4.! CORRETA Q9.! CORRETA Q14.!A
Q5.! CORRETA Q10.!INCORRETA Q15.!INCORRETA

3.3 Ð Lista de Quest›es com Coment‡rios


Q1.! FUNDEP/Bombeiros-MG/2018
Analise as seguintes caracter’sticas dos Direitos Humanos Fundamentais.
1. Os Direitos Humanos Fundamentais n‹o se perdem pelo decurso de prazo
nem pela falta de uso.
2. N‹o Ž suficiente o mero reconhecimento abstrato dos Direitos Humanos
Fundamentais, que devem ser garantidos na pr‡tica, mediante mecanismos
coercitivos voltados para essa finalidade.

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3. Os Direitos Humanos Fundamentais n‹o devem ser interpretados de forma
isolada, e, sim, em seu conjunto, de modo a se buscar o devido alcance de
seus objetivos.
As caracter’sticas descritas s‹o, respectivamente, identificadas como:
a) imprescritibilidade, efetividade e complementaridade.
b) imprescritibilidade, inviolabilidade e interdepend•ncia.
c) irrenunciabilidade, inviolabilidade e universalidade.
d) inalienabilidade, efetividade e interdepend•ncia.

Coment‡rios
A quest‹o cobra do candidato o conhecimento das caracter’sticas dos direitos
humanos. Quais s‹o elas?
Ä Universalidade: Significa que todos os seres humanos s‹o titulares dos direitos
humanos.
Ä Essencialidade: Os direitos humanos s‹o essenciais, indispens‡veis, para uma vida
digna
Ä Historicidade: Os direitos humanos s‹o constru’dos ao longo da hist—ria
Ä Superioridade: As normas que preveem os direitos humanos s‹o superiores ˆs demais
normas da ordem jur’dica
Ä Indisponibilidade/irrenunciabilidade: Os direitos humanos n‹o podem ser
dispostos ou renunciados por vontade do seu titular
Ä Inalienabilidade: Direitos humanos n‹o podem ser cedidos a outrem, nem a t’tulo
gratuito, nem a t’tulo oneroso
Ä Inexauribilidade/abertura: O cat‡logo de direitos humanos est‡ sempre em
expans‹o. Sempre podem ser criados novos direitos humanos. Eles s‹o inexaur’veis
Ä Imprescritibilidade: Os direitos humanos n‹o cessam pela inŽrcia do seu titular no
decorrer do tempo. O fato de n‹o se exercer um direito fundamental, n‹o significa que ele
vai deixar de existir
Ä Indivisibilidade: Os direitos humanos s‹o interdependentes e indivis’veis. N‹o h‡
como exercer livremente direitos civis e pol’ticos sem o exerc’cio de direitos econ™micos,
culturais e sociais, por exemplo
Ä Veda•‹o do retrocesso (efeito cliquet): Alcan•ado determinado patamar
civilizat—rio, n‹o se pode retroceder
Ä Complementaridade: Os Direitos Humanos Fundamentais n‹o devem ser
interpretados de forma isolada, e, sim, em seu conjunto, de modo a se buscar o devido
alcance de seus objetivos
Ä Efetividade: N‹o Ž suficiente o mero reconhecimento abstrato dos Direitos Humanos
Fundamentais, que devem ser garantidos na pr‡tica, mediante mecanismos coercitivos
voltados para essa finalidade

Desse modo, nosso gabarito s— pode ser a alternativa A: imprescritibilidade,


efetividade e complementaridade.

Q2.! VUNESP/PC-SP/2018

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Considerando a evolu•‹o hist—rica dos direitos humanos, assinale a
alternativa que indica corretamente as tr•s gera•›es de direitos, na ordem
hist—rica em que elas s‹o classificadas pela doutrina.
a) Direitos civis e sociais; direitos de liberdades e garantias individuais; e
direitos coletivos e transindividuais.
b) Direitos trabalhistas; direitos sociais; e direitos da democracia.
c) Direitos da coletividade; direitos de solidariedade ou de fraternidade; e
direitos e garantias individuais.
d) Direitos de liberdade positiva; direitos de liberdade negativa; e direitos
de solidariedade ou de fraternidade.
e) Direitos de liberdade negativa, civis e pol’ticos; direitos econ™micos,
sociais e culturais; e direitos de fraternidade ou de solidariedade.
Coment‡rios:
Essa quest‹o cobra os conhecimentos iniciais da matŽria, que n—s discutimos na
aula 00 do nosso curso. ƒ referente a divis‹o dos Direitos Humanos em gera•›es
(proposta por Karel Vazak e difundida por Norberto Bobbio), que correlaciona
cada gera•‹o por que passaram esses direitos com um dos valores propostos no
lema da Revolu•‹o Francesa, de 1789, Òliberdade, igualdade e fraternidadeÓ. Em
ordem, a primeira gera•‹o, portanto, seria aquela relacionada ˆ liberdade, da
qual fazem parte os direitos de liberdade negativa, civis e pol’ticos. A segunda
gera•‹o seria aquela relacionada ˆ igualdade, da qual fazem parte os direitos
econ™micos, sociais e culturais. E a terceira gera•‹o, por fim, seria aquela
relacionada ˆ fraternidade, da qual fazem parte os direitos de fraternidade ou de
solidariedade. Dito isso, o gabarito da nossa quest‹o s— pode ser a alternativa
E.
Sistematizando:
Ä Primeira gera•‹o: liberdade; direitos de liberdade negativa, civis e pol’ticos.
Ä Segunda gera•‹o: igualdade; direitos econ™micos, sociais e culturais
Ä Terceira gera•‹o: fraternidade; direitos de fraternidade ou de solidariedade

Q3.! FUNCAB/SEGEP-MA/Agente/2016
Acerca do conceito e estrutura dos direitos humanos, assinale a assertiva
correta.
a) Os direitos humanos t•m estrutura variada, podendo ser: direito-
pretens‹o, direito-liberdade, direito-poder e, finalmente, direito-imunidade.
b) Os direitos humanos s‹o os essenciais e dispens‡veis ˆ vida digna.
c) O direito-pretens‹o consiste na autoriza•‹o dada por uma norma a uma
determinada pessoa, impedindo que outra interfira de qualquer modo.
d) O direito-liberdade implica uma rela•‹o de poder de uma pessoa de exigir
determinada sujei•‹o do Estado ou de outra pessoa.

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e) O direito-poder consiste na busca de algo, gerando a contrapartida de
outrem do dever de prestar.
Coment‡rios
Vejamos cada uma das alternativas.
A alternativa A Ž a correta e gabarito da quest‹o.
Aqui temos uma quest‹o introdut—ria da matŽria, que cobra posicionamento
espec’ficos acerca da estrutura dos Direitos Humanos. Na realidade, n‹o deixa de
ser uma classifica•‹o dos direitos humanos. De acordo com a doutrina de AndrŽ
Ramos de Carvalho a estrutura dos Direitos Humanos Ž variada, podendo se
caracterizar em:
Ä direito-pretens‹o: confere-se ao titular o direito a ter alguma coisa que Ž devido pelo
Estado ou atŽ mesmo por outro particular. Assim, o Estado (ou esse outro particular)
devem agir no sentido de realizar uma conduta para conferir o direito. Por exemplo, o
direito ˆ educa•‹o, que deve ser prestado pelo Estado (art. 208, I, da CRFB).
Ä direito-liberdade: imp›e a absten•‹o ao Estado ou a terceiros, no sentido de se
ausentarem, de n‹o atuarem como agentes limitadores. Cita-se como exemplo a liberdade
de credo (art. 5¼, VI, da CRFB).
Ä direitoÐpoder: possibilita ˆ pessoa exigir a sujei•‹o do Estado ou de outra pessoa para
que esses direitos sejam observados. O exemplo aqui Ž o direito ˆ assist•ncia jur’dica (art.
5¼, LXIII, da CRFB).
Ä direito-imunidade: impede que uma pessoa ou o Estado hajam no sentido de interferir
nesse direito. Cita-se como exemplo veda•‹o ˆ pris‹o, salvo na hip—tese de flagrante delito
ou de decis‹o judicial transitada em julgado (art. 5¼, LVI, da CRFB).
A alternativa B est‡ incorreta ao mencionar Òdispens‡velÓ. Ao contr‡rio do
afirmado, os Direitos Humanos s‹o os essenciais e indispens‡veis ˆ vida digna.
A alternativa C est‡ incorreta, pois, conforme explicamos acima o direito
pretens‹o confere a alguŽm a prerrogativa de exigir a atua•‹o de outrem. O
conceito trazido na alternativa Ž do direito-imunidade.
A alternativa D est‡ igualmente incorreta, pois confunde o conceito de direito-
liberdade, com o direito-poder. No primeiro caso, imp›e-se uma absten•‹o
estatal.
O erro da alternativa E est‡ no fato de que o conceito apresentado n‹o Ž do
direito-poder, mas do direito-pretens‹o.
J‡ que a quest‹o cobrou o assunto, para que voc• memorizar esse assunto,
memorize:

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direito-pretens‹o direito-liberdade direitoÐpoder direito-imunidade

direito a ter alto


que o Estado
absten•‹o exigir a sujei•‹o impede
(ou 3¼) devem
agir

direito ˆ veda•‹o ˆ
direito ˆ liberdade de
assist•ncia pris‹o, salvo
educa•‹o credo
jur’dica flagrante

Q4.! MPE-SC/MPE-SC/Promotor/2016
Julgue:
Conceitualmente, os direitos humanos s‹o os direitos protegidos pela ordem
internacional contra as viola•›es e arbitrariedades que um Estado possa
cometer ˆs pessoas sujeitas ˆ sua jurisdi•‹o. Por sua vez, os direitos
fundamentais s‹o afetos ˆ prote•‹o interna dos direitos dos cidad‹os, os
quais encontram-se positivados nos textos constitucionais contempor‰neos.

Coment‡rios
A assertiva est‡ correta e demonstra justamente o fato de que a distin•‹o entre
direitos humanos e direitos fundamentais reside apenas no plano da positiva•‹o,
n‹o havendo se falar em diferen•a de conteœdo.
Assim, portanto, esquematizando:
Ä Direitos humanos: s‹o os direitos protegidos pela ordem internacional contra as
viola•›es e arbitrariedades que um Estado possa cometer ˆs pessoas sujeitas ˆ sua
jurisdi•‹o.
Ä Direitos fundamentais: s‹o afetos ˆ prote•‹o interna dos direitos dos cidad‹os, os
quais encontram-se positivados nos textos constitucionais contempor‰neos.

Q5.! CESPE/DPE-ME/Defensor/2011/adaptada
Considerando a teoria geral dos direitos humanos, julgue o item a seguir.
O princ’pio da proibi•‹o do retrocesso social Ž uma cl‡usula de defesa do
cidad‹o em face de poss’veis arb’trios impostos pelo legislador no sentido de
desconstituir as normas de direitos fundamentais.

Coment‡rios
A assertiva est‡ correta e explica bem a raz‹o da exist•ncia do princ’pio. Em
Direitos Humanos deve ser observado o princ’pio da proibi•‹o do retrocesso (ou
efeito cliquet), que visa a impedir a redu•‹o de direitos humanos no ‰mbito
jur’dico.

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Desta forma, quando regulamentado um direito humano o legislador n‹o poder‡
retroceder a matŽria, com qualquer medida prejudicial ˆ sua efetiva•‹o, como a
imposi•‹o de exig•ncias para o seu cumprimento ou altera•‹o de modo a excluir
um direito.
Uma curiosidade Ž que a express‹o cliquet (do franc•s effet cliquet) tem a sua
origem no alpinismo. O cliquet Ž um movimento que s— permite ao alpinista subir,
n‹o lhe sendo poss’vel retroceder em seu percurso, da’ a analogia.

Q6.! CESPE/DPE-ME/Defensor/2011/adaptada
Considerando a teoria geral dos direitos humanos, julgue o item a seguir.
Consoante a teoria da margem de aprecia•‹o, nenhuma norma de direitos
humanos pode ser invocada para limitar o exerc’cio de qualquer direito.

Coment‡rios
Trouxemos essa quest‹o a fim de expor uma curiosidade
sobre a teoria geral dos direitos humanos. A Teoria da
Margem de Aprecia•‹o surgiu em um julgamento da
Corte Europeia, mais especificamente no caso Handyside v. Reino Unido, e Ž
frequentemente utilizada em casos nos quais h‡ uma pondera•‹o de direitos.
De acordo com essa teoria, os Estados europeus possuem certa margem de
aprecia•‹o para tomar decis›es quanto a assuntos internos, pois as autoridades
locais teriam melhor entendimento da situa•‹o analisada. Tratando-se de uma
teoria de relativiza•‹o. Essa teoria representa um meio de solu•‹o de conflitos
concretos existentes entre o sistema internacional de direitos humanos e a
legisla•‹o interna de cada na•‹o.
Na verdade, a teoria de margem de aprecia•‹o Ž vista no sentido oposto ao
enunciado da quest‹o, de modo que ela pode sim ser invocada para limitar o
exerc’cio de alguns direitos, uma vez que Ž baseada na subsidiariedade da
jurisdi•‹o internacional e ponderada pelo princ’pio da proporcionalidade.
A assertiva est‡ incorreta.

Q7.! TRT23»R/TRT23»R/Juiz/2011
O grande publicista alem‹o Georg Jellinek, na sua obra "Sistema dos Direitos
Subjetivos Pœblicos" (Syzstem der subjetktiv šffentlichen), formulou
concep•‹o original, muito citada pela doutrina brasileira no estudo da teoria
dos direitos fundamentais, segundo a qual o individuo, como vinculado a
determinado Estado, encontra sua posi•‹o relativamente a este cunhada por
quatro espŽcies de situa•›es juridicas (status), seja como sujeito de
deveres, seja como titular de direitos. Assinale qual das attemativas abaixo
contŽm um item que NÌO corresponde a um dos quatro status da teoria de
Jellinek:
a) status passivo (status subjectionis).

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b) status negativus.
c) status civitatis.
d) status socialis.
e) status activus.

Coment‡rios
Quest‹o simples que cobra a classifica•‹o dos Direitos Humanos de acordo a
partir da rela•‹o entre o homem e o Estado. Essa classifica•‹o fixa 4 status, quais
sejam:

4 status de
Jellinek

status status
status civitatis status activus
subjectionis negativus

Portanto, a alternativa D Ž a que n‹o traz um status correto sendo, assim, o


gabarito da quest‹o.
Relembrando:
Ä status subjectionis: Ž aquele em que o indiv’duo se encontra em posi•‹o de
subordina•‹o em rela•‹o aos poderes pœblicos, como detentor de deveres para com o
Estado.
Ä status negativus: Ž aquele que representa o espa•o que o indiv’duo tem para agir
livre da atua•‹o do Estado, ou seja, Ž aquele em que o indiv’duo pode exigir a absten•‹o
estatal.
Ä status civitatis: Ž aquele em que o indiv’duo pode exigir atua•›es positivas do Estado
em seu favor.
Ä status activus: Ž aquele em que o indiv’duo tem o poder de interferir na forma•‹o da
vontade do Estado.

Q8.! CESPE/PGE-PE/Procurador/2009/adaptada
Quanto aos direitos e garantias fundamentais, julgue:
De acordo com a teoria dos quatro status de Jellinek, o status negativo
consiste na posi•‹o de subordina•‹o do indiv’duo aos poderes pœblicos, como
detentor de deveres para com o Estado. Assim, o Estado tem compet•ncia
para vincular o indiv’duo, por meio de mandamentos e proibi•›es.

Coment‡rios
Est‡ incorreta a assertiva, pois no status negativo, como vimos na quest‹o
anterior, temos a pessoa na condi•‹o de exigir a absten•‹o estatal. Equivoca-se,
portanto, a quest‹o ao confundir o status negativo com o status de sujei•‹o.

Q9.! InŽdita/2017

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Em rela•‹o ao conceito, fundamento e caracter’sticas dos Direitos Humanos,
julgue os itens subsecutivos.
N‹o existe diferen•a substancial entre Direitos Humanos e Direitos
Fundamentais, pois ambos visam ˆ prote•‹o da pessoa, estes na —rbita
interna do Estado, aqueles na seara internacional.

Coment‡rios
Perfeita a assertiva. Como vimos em aula n‹o h‡ diferen•as substanciais entre
Direitos Fundamentais e Direitos Humanos. H‡, inclusive, autores que sustentam
que os termos deveriam ser unificados, sugerindo-se a express‹o Direitos
Humanos Fundamentais ou Direitos Fundamentais Humanos.
De todo modo, podemos distingui-los do seguinte modo:
§! DIREITOS HUMANOS Ð direitos protetivos ˆ pessoa na —rbita internacional.
§! DIREITOS FUNDAMENTAIS Ð direitos protetivos ˆ pessoa na —rbita interna
Est‡ correta, portanto, a assertiva.

Q10.!InŽdita/2017
Em rela•‹o ao conceito, fundamento e caracter’sticas dos Direitos Humanos,
julgue os itens subsecutivos.
Em rela•‹o aos fundamentos dos Direitos Humanos, predomina a teoria da
fundamenta•‹o moral, segundo o qual os direitos humanos s‹o direitos
morais que n‹o aferem validade em normas positivas, mas diretamente de
valores morais da coletividade humana.

Coment‡rios
Essa Ž uma quest‹o bastante dif’cil e que est‡ incorreta. A doutrina
contempor‰nea afirma que n‹o Ž poss’vel falar em uma œnica fundamenta•‹o
dos Direitos Humanos. Entendem os doutrinadores que cada um dos
fundamentos dos Direitos Humanos teve sua contribui•‹o para lan•ar as bases
da nossa disciplina.
Portanto, a assertiva est‡ incorreta.
Relembrando:
Ä Fundamento Jusnaturalista: Para a corrente jusnaturalista, o fundamento dos
direitos humanos consiste em normas anteriores e superiores ao direito estatal posto,
decorrentes de um conjunto de ideias, de origem divina ou fruto da raz‹o humana.
Ä Fundamento Positivista: Para a corrente positivista, o fundamento dos direitos
humanos consiste na exist•ncia da lei positiva, cujo pressuposto de validade est‡ em sua
edi•‹o conforme as regras estabelecidas na Constitui•‹o.
Ä Fundamento Moral: Para essa corrente, os direitos humanos podem ser considerados
direitos morais que n‹o aferem sua validade por normas positivadas, mas extraem sua
validade diretamente de valores morais da coletividade humana.

Q11.!MPE-PR/MPE-PR/Promotor/2016

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ÒA segunda guerra mundial, iniciada em 1939 e encerrada em 1945, depois
de praticada contra seres humanos, com brutal intensidade, uma variedade
de viol•ncias jamais antes imaginada, teve o efeito de despertar a
consci•ncia de grande parte da humanidade para a impossibilidade de haver
paz e de ser propiciado, aos indiv’duos e aos povos, o gozo tranquilo dos
benef’cios proporcionados pelos avan•os cient’ficos e tecnol—gicos sem o
reconhecimento da pessoa humana como o primeiro dos valores. De certo
modo, pode-se dizer que houve uma retomada das proclama•›es
humanistas externadas pelos fil—sofos pol’ticos dos sŽculos XVII e XVIII, com
o reconhecimento de que a liberdade e a igualdade s‹o atributos naturais de
todos os seres humanos, sem qualquer exce•‹o, e devem ser protegidos por
toda a sociedade, como direitos inerentes ˆ condi•‹o humana. Esse
reconhecimento foi expresso, com clareza e objetividade, na parte inicial do
art. 1¼ da Declara•‹o Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela
Assembleia Geral da ONU em 10 de dezembro de 1948, com o seguinte
enunciado: ÔTodos os seres humanos nascem livres e iguais em direitos e
dignidade. Todos s‹o dotados de raz‹o e de consci•ncia e devem agir, uns
em rela•‹o aos outros, com esp’rito de fraternidadeÕ.Ó
Ap—s analisar o texto acima, assinale a alternativa incorreta:
a) O mesmo esp’rito que inspirou a Proclama•‹o dos Direitos Humanos,
visando a afirma•‹o dos direitos fundamentais da pessoa humana,
reformulou sistemas jur’dicos em todo o mundo causando a substitui•‹o do
individualismo pelo humanismo, do patrimonialismo pela dignidade da
pessoa humana, al•ando a Constitui•‹o ˆ condi•‹o de norma jur’dica
superior, igual para todos e instrumento de afirma•‹o e garantia dos direitos
fundamentais;
b) Afirmando expressamente a igualdade de direitos e proibindo
discrimina•›es, os textos constitucionais p—s Declara•‹o Universal passaram
a incluir a determina•‹o de atua•‹o positiva do Estado, que n‹o deve limitar-
se a garantir os direitos, impedindo que eles sejam violados, mas deve
tambŽm valer-se de meios eficazes, inclusive com a destina•‹o de recurso
materiais, para que a atribui•‹o de direitos implique a real possibilidade de
exerc•-los;
c) Muito embora textos constitucionais p—s Declara•‹o Universal dos Direitos
Humanos fa•am, de modo geral, o reconhecimento de que nenhum indiv’duo
mora fora da sociedade e, portanto, tudo que afeta o direito de outro
indiv’duo tem significa•‹o social, estruturalmente, n‹o houve rompimento
da estrita separa•‹o entre as ‡reas pœblica e privada, uma vez que o
estabelecimento de normas ou regras pelo setor pœblico, ainda que b‡sicas
e parciais, voltadas a disciplinar a esfera privada se caraterizaria em indevida
inger•ncia do Estado nas rela•›es particulares;
d) Tomando como base o par‰metro da dignidade da pessoa humana para o
estabelecimento de regras jur’dicas relativas ˆ aquisi•‹o e ao uso de direitos,
pode afirmar-se que o constitucionalismo p—s Declara•‹o Ž humanista, no

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sentido de tratar a pessoa como o primeiro dos valores e de condicionar
todas as a•›es do indiv’duo com repercuss‹o social ao respeito por esse
valor;
e) Havidas antes como normas declarat—rias ou program‡ticas, o
constitucionalismo humanista deu efic‡cia jur’dica ˆs disposi•›es
constitucionais de declara•‹o e garantia dos direitos fundamentais,
possibilitando sua aplica•‹o como normas jur’dicas, dotadas de plena
efic‡cia e, portanto, de obedi•ncia obrigat—ria para todos, inclusive para
Estados, governantes e integrantes do aparato pol’tico e administrativo, sem
qualquer exce•‹o.

Coment‡rios
A alternativa C est‡ incorreta e Ž o gabarito da quest‹o. O movimento
neoconstitucionalista promoveu o rompimento entre as ‡reas pœblica e privada.
ƒ poss’vel afirmar-se que houve a constitucionaliza•‹o do direito privado, com o
valor da dignidade humana espalhando-se para todas as ‡reas antes isoladas dos
mandamentos constitucionais. O neoconstitucionalismo possui papel importante
no sentido de aproximar a moral do direito, o que reflete necessariamente na
apresenta•‹o na prescri•‹o de valores e princ’pios constitucionais com car‡ter
vinculativo. ƒ justamente nesse contexto, que as alternativas D e E est‹o
corretas.
Em rela•‹o ˆ alternativa A cumpre mencionar que fica patente a import‰ncia
que os direitos humanos (em termos internacionais) e direitos fundamentais (em
termos nacionais) recebe no tratamento legislativo. AlŽm de vincular os Estados
internamente quanto ˆ necessidade de serem observados preceitos protetivos da
dignidade, a n’vel internacional relativiza a soberania em prol dos direitos mais
b‡sicos dos seres humanos.
A alternativa B, por sua vez, faz refer•ncia aos direitos de cunho prestacional,
que se apresentam como somat—rio aos direitos de liberdade, que possuem viŽs
eminentemente negativo. Embora j‡ nos anos de 1917 (no MŽxico) e 1919 (na
Alemanha) j‡ tivŽssemos a prescri•‹o de direitos sociais, econ™micos e culturais
nas respectivas constitui•›es, esse movimento se consolida no in’cio da segunda
metade do sŽculo XX.

Q12.!FCC/SEGEP-MA/Procurador/2016
No ‰mbito da Teoria Geral do Direito Internacional dos Direitos Humanos:
a) Os diretos humanos podem ser reivindicados por qualquer cidad‹o ao
redor do mundo, mesmo que o direito violado n‹o esteja reconhecido em
diploma normativo internacional do qual o Estado a que perten•a seja parte.
b) Direitos fundamentais Ž express‹o que traduz conteœdo mais de cunho
jusnaturalista, e n‹o propriamente jur’dico-positivo.
c) Direitos humanos Ž express‹o que revela de forma mais adequada a
prote•‹o constitucional dos direitos b‡sicos dos cidad‹os.

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d) Direitos do homem Ž express‹o que representa de forma mais correta os
direitos positivados em tratados e declara•›es internacionais.
e) A Constitui•‹o Federal de 1988 utilizou com precis‹o tŽcnica as
express›es direitos fundamentais e direitos humanos.

Coment‡rios
A alternativa A est‡ correta e Ž o gabarito da quest‹o. A possibilidade de
reivindica•‹o dos direitos humanos por qualquer pessoa em qualquer local
envolve a caracter’stica jus cogens da norma internacional. Assim, seguindo
alinhamento doutrin‡rio contempor‰neo, entendeu a banca, nessa quest‹o, que
todas as normas de direitos humanos s‹o jus cogens. Contudo, Ž importante
mencionar que esse entendimento n‹o Ž un’ssono, havendo grande diverg•ncia
quanto ˆ amplitude de aplica•‹o dessa regra.
A alternativa B est‡ incorreta. Ao contr‡rio do que se afirma, a express‹o atrela-
se ao car‡ter jur’dico-positivo, visto que essa express‹o se estabelece com a
cria•‹o dos primeiros documentos positivados prevendo a defesa de direitos.
A alternativa C est‡ incorreta. A express‹o direitos humanos refere-se aos
direitos b‡sicos prescritos na ordem internacional. Enquanto os direitos
fundamentais se referem aos mesmos direitos b‡sicos, contudo prescritos no
ordenamento jur’dico interno. Da’ se poder afirmar o contr‡rio do que diz a
assertiva: direitos fundamentais Ž express‹o que revela de forma mais adequada
a prote•‹o constitucional dos direitos b‡sicos dos cidad‹os.
A alternativa D est‡ incorreta. A express‹o direitos humanos Ž a que retrata
com acuidade tŽcnica os direitos positivados em tratados e declara•›es
internacionais, no contexto da nossa disciplina. Direitos do homem, por outro
lado, Ž express‹o que representa os direitos inatos que, de acordo com a
sociologia do Direito, existem porque s‹o intr’nsecos ˆ natureza humana,
bastando a condi•‹o de ser humano para possu’-los. Eles possuem cunho
jusnaturalista e, portanto, independem de positiva•‹o.
A alternativa E est‡ incorreta. Embora na maioria das vezes a precis‹o tŽcnica
seja respeitada, h‡ situa•›es nas quais o legislador constituinte utilizou-se a
express‹o Òdireitos humanosÓ para se referir a direitos fundamentais, tal como
fez em rela•‹o Òˆ promo•‹o dos direitos humanosÓ, ao tratar das atribui•›es
institucionais da Defensoria Pœblica no art. 134, caput, da CRFB.

Q13.!FAUEL/C‰m. Marialva/Atend. Legislativo/2015


ÒCuidar para que as atrocidades cometidas em nome do povo n‹o se
cometam novamente Ž um problema internacional e um desafio que cada
vez mais os pa’ses de todo o mundo t•m tido de enfrentarÓ. (BEATY, David.
A Ess•ncia do Estado de Direito. S‹o Paulo: Martins Fontes, 2014, p. 2)
O enfrentamento de tal problema perpassa pela defesa:
a) Dos Direitos Humanos.

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b) Dos preceitos religiosos.
c) Das lideran•as carism‡ticas.
d) Dos interesses nacionais.

Coment‡rios
A alternativa A est‡ correta e Ž o gabarito da quest‹o. O enfrentamento das
atrocidades cometidas em nome do povo (cujo exemplo m‡xime Ž o nazismo)
perpassa pela defesa dos Direitos Humanos.
A alternativa B est‡ incorreta. Apesar da import‰ncia que se pode atribuir aos
preceitos religiosos, eles n‹o t•m a mesma voca•‹o comum que possuem os
Direitos Humanos no enfrentamento da quest‹o proposta.
A alternativa C est‡ incorreta. Do mesmo modo, as lideran•as carism‡ticas nem
sempre atuar‹o em favor da solu•‹o do problema apontado pelo enunciado,
podendo, muitas das vezes, serem a sua causa.
A alternativa D est‡ incorreta. Igualmente, os interesses nacionais s‹o
demasiadamente heterog•neos e n‹o possuem o cond‹o integrativo, que a
solu•‹o da quest‹o em tela reclama.

Q14.!VUNESP/PC-SP/Atend. NecrotŽrio/2014
Assinale a alternativa correta com rela•‹o ao conceito de direitos humanos.
a) Direitos humanos Ž uma forma sintŽtica de se referir a direitos
fundamentais da pessoa humana, aqueles que s‹o essenciais ˆ pessoa
humana, que precisa ser respeitada pela dignidade que lhe Ž inerente.
b) Direitos humanos s‹o aqueles que est‹o previstos de forma expressa em
uma Constitui•‹o e que se referem somente a direitos das pessoas que
respondem a um inquŽrito ou a um processo penal.
c) Como os direitos humanos s‹o inerentes ˆ natureza humana, somente
derivam do esp’rito humano e n‹o devem ser positivados nas leis.
d) No ‰mbito da filosofia, a express‹o direitos humanos significa a
independ•ncia do ser humano, tratando exclusivamente do direito de
liberdade.
e) Considerando o que prev• a Constitui•‹o de 1988, os direitos humanos
se d‹o por meio da propriedade, que se imp›e como um valor incondicional
e insubstitu’vel, que n‹o admite equivalente.

Coment‡rios
A alternativa A foi considerada como correta e Ž o gabarito da quest‹o. Embora
n‹o tenha adotado o rigor tŽcnico na diferencia•‹o entre direitos humanos e
direitos fundamentais, n‹o podemos negar o fato de que aqueles se referem aos
direitos humanos (leia-se, os Òdireitos mais b‡sicosÓ da pessoa humana), est‹o,
em certo n’vel, dirigindo-se, tambŽm aos direitos fundamentais. Nossa

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Constitui•‹o faz isso, por exemplo, ao tratar das atribui•›es institucionais da
Defensoria Pœblica, em seu art. 134, caput.
A alternativa B est‡ incorreta, pois esses direitos n‹o precisam estar,
necessariamente, positivados da CRFB. Ademais, Òdireitos humanosÓ, a rigor
estariam positivados em normas internacionais. Isso para n‹o mencionar a parte
final da assertiva, extremamente restritiva e irreal.
A alternativa C est‡ incorreta, pois n‹o s‹o inerentes somente ao esp’rito
humano ou pessoa. Pelo contr‡rio, decorrem de v‡rios fundamentos, entre eles
o moral.
A alternativa D est‡ incorreta, pois os Òdireitos humanosÓ na filosofia decorre
da racionaliza•‹o da conduta humana, abrangendo todos os direitos que lhes s‹o
inerentes e n‹o apenas os direitos de liberdade.
A alternativa E est‡ incorreta. Segundo a CRFB, os direitos humanos se d‹o
atravŽs de um processo de evolu•‹o hist—rica, entre cujos direitos est‡ o de
liberdade, que convive e se amolda em rela•‹o aos demais.

Q15.!CESPE/PRF/Policial/2013
No que se refere ˆ fundamenta•‹o dos direitos humanos e ˆ sua afirma•‹o
hist—rica, julgue os itens subsecutivos.
Conforme a teoria positivista, os direitos humanos fundamentam-se em uma
ordem superior, universal, imut‡vel e inderrog‡vel.

Coment‡rios
A assertiva est‡ incorreta. Conforme a teoria jusnaturalista, e n‹o positivista,
os direitos humanos fundamentam-se em uma ordem superior, universal,
imut‡vel e inderrog‡vel. A lei natural Ž obrigat—ria em todo o mundo, universal,
sendo que nenhuma lei humana tem qualquer validade se for contr‡ria a ela.
Segundo a teoria positivista, por outro lado, os direitos humanos t•m fundamento
na lei positiva, cujo pressuposto de validade est‡ em sua edi•‹o conforme as
regras estabelecidas em uma determinada Constitui•‹o.

4 Ð Resumo
m CONCEITO: conjunto de faculdades e institui•›es que, em cada momento hist—rico,
concretizam as exig•ncias de dignidade, liberdade e igualdade humanas, as quais devem ser
reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jur’dicos em n’vel nacional e internacional.

Ä dignidade: base dos Direitos Humanos Ž a dignidade da pessoa.

m DIREITOS HUMANOS VERSUS DIREITOS FUNDAMENTAIS.

Ä DIREITOS HUMANOS: conjunto de valores e direitos na ordem internacional para a prote•‹o


da dignidade da pessoa

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Ä DIREITOS FUNDAMENTAIS: conjunto de valores e direitos positivados na ordem interna de
determinado pa’s para a prote•‹o da dignidade da pessoa.

m CLASSIFICA‚ÌO DOS DIREITOS HUMANOS

Ä TEORIA DOS STATUS DE JELLINEK

¥! status subjectionis (passivo): rela•‹o na qual a pessoa encontra-se em estado de sujei•‹o


em rela•‹o ao Estado.

¥! status libertatis (negativo): rela•‹o na qual a pessoa detŽm t‹o somente a prerrogativa
de exigir uma absten•‹o do Estado

¥! status civitatis (positivo): rela•‹o na qual a pessoa tem a possibilidade de exigir presta•›es
==0==

do Estado

¥! status activus (ativo): rela•‹o na qual a pessoa poder‡ participar na forma•‹o da vontade
do Estado

Ä CLASSIFICA‚ÌO DO CASO L†TH: todos os direitos possuem um viŽs negativo e positivo ao


mesmo tempo. O que varia Ž a carga entre uma e outra, de modo que os direitos ditos
prestacionais possuem t‹o somente uma carga prestacional mais significativa, ao passo que os
direitos negativos, possuem uma carga abstencionista mais intensa.

Ä ESTRUTURA DOS DIREITOS HUMANOS SEGUNDO ANDRƒ DE CARVALHO RAMOS:

¥! direito-pretens‹o: confere-se ao titular o direito a ter alguma coisa que Ž devido pelo
Estado ou atŽ mesmo por outro particular. Assim, o Estado (ou esse outro particular)
devem agir no sentido de realizar uma conduta para conferir o direito.
¥! direito-liberdade: imp›e a absten•‹o ao Estado ou a terceiros, no sentido de se
ausentarem, de n‹o atuarem como agentes limitadores.
¥! direitoÐpoder: possibilita ˆ pessoa exigir a sujei•‹o do Estado ou de outra pessoa para
que esses direitos sejam observados.
¥! direito-imunidade: impede que uma pessoa ou o Estado hajam no sentido de interferir
nesse direito.

m FUNDAMENTOS DOS DIREITOS HUMANOS

Ä IMPOSSIBILIDADE DE DELIMITA‚ÌO DOS FUNDAMENTOS

¥! h‡ diverg•ncias quanto ˆ abrang•ncia;


¥! est‹o em constante evolu•‹o;
¥! constituem categoria heterog•nea;
¥! s‹o consagrados a partir de ju’zos de valor, que n‹o podem ser justificados e
comprovados.

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¥! constitui disciplina universalmente aceita e fundada na moral.

Ä POSSIBILIDADE DE FUNDAMENTA‚ÌO - CORRENTES

¥! FUNDAMENTO JUSNATURALISTA: normas anteriores ou divinas e superiores ao direito


estatal posto, decorrente de um conjunto de ideias, fruto da raz‹o humana.
¥! FUNDAMENTO RACIONAL: normas extra’veis da raz‹o inerentes ˆ condi•‹o humana.
¥! FUNDAMENTO POSITIVISTA: s‹o Direitos Humanos os valores e os ju’zos condizentes com
a dignidade positivados no ordenamento.
¥! FUNDAMENTO MORAL: os direitos humanos podem ser considerados direitos morais que
n‹o aferem sua validade por normas positivadas, mas diretamente de valores morais da
coletividade humana.

Ä FUNDAMENTO DA DIGNIDADE: o ponto em comum de todas os fundamentos debatidos pela


doutrina est‡ no sentido de que existe um nœcleo de direitos que realizam os direitos mais
b‡sicos dos seres humanos, os direitos de dignidade.

m ESTRUTURA NORMATIVA: os Direitos Humanos possuem normatividade aberta, com maior


incid•ncia de princ’pios que de regras

m POS-POSITIVISMO

Ä Corrente da Filosofia do Direito que busca a reaproxima•‹o entre Direito e Moral, de modo que
as normas jur’dicas levem considera•‹o valores e comportamentos Žticos.

Ä Em raz‹o disso, desenvolve-se e consolida-se a teoria dos princ’pios, defendidos como espŽcie
de normas e com car‡ter vinculativo.

Ä No ‰mbito interno, essa corrente do pensamento favorece a positiva•‹o desses valores nas
respectivas Constitui•›es, pelo denominado momento do neoconstitucionalismo.

Ä Para os Direitos Humanos, nada a sua natureza, esse movimento corrobora e fortalece a
disciplina no ‰mbito interno e internacional.

5 - Considera•›es Finais
Chegamos ao final da aula inaugural! Vimos uma pequena parte da matŽria,
entretanto, um assunto muito relevante para a compreens‹o da disciplina como
um todo.
A pretens‹o desta aula Ž a de situar voc•s no mundo dos Direitos Humanos, a
fim de que n‹o tenham dificuldades em assimilar os conteœdos relevantes que
vir‹o na sequ•ncia.
AlŽm disso, procuramos demonstrar como ser‡ desenvolvido nosso trabalho ao
longo do Curso.

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DIREITOS HUMANOS PARA PC-MG Aula
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Quaisquer dœvidas, sugest›es ou cr’ticas entrem em contato conosco. Estou
dispon’vel no f—rum no Curso, por e-mail e, inclusive, pelo Facebook.
Aguardo voc•s na pr—xima aula. AtŽ l‡!
Ricardo Torques

rst.estrategia@gmail.com

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