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Queimaduras de fogão.

É tradição da família brasileira um bom churrasco no final de semana. O que


pouca gente sabe é que um simples descuido na hora de acender a
churrasqueira pode provocar acidentes graves, deixar sequelas irreparáveis ou
até matar.
Estima-se que, pelo menos, um milhão de pessoas sejam vítimas de
queimaduras todos os anos no país. Cerca de 100 mil procuram atendimento
médico, dos quais, dois terços são crianças e adolescentes. É a segunda causa
de morte na infância e um grave problema de saúde pública.
Poucas doenças deixam sequelas tão importantes como a queimadura. Além
das dores terríveis durante o processo de tratamento, as cicatrizes e as
contraturas culminam, com frequência, na distorção da imagem, que será
levada para sempre.
De acordo com a enfermeira especialista em estomaterapia, com
capacitação em podiatria, Veniangeli A.B.S. Bernardi (COREM-PR
22986), a queimadura é uma lesão na pele provocada geralmente pelo calor,
mas também pode ser provocada pelo frio, pela eletricidade, por certos
produtos químicos, por radiações e até fricções. “A pele pode ser destruída
parcialmente ou totalmente, atingindo desde pelos até músculos e ossos”, diz.
Segundo ela, as lesões podem variar desde uma pequena área avermelhada,
com presença ou não de bolha, atingir tecidos profundos ou até mesmo causar
graves alterações sistêmicas que podem levar ao óbito em poucas horas.
As queimaduras são classificadas em:
Queimadura de 1º grau: atinge a camada mais superficial da pele, a
epiderme, e se traduz como uma lesão vermelha, quente e dolorosa. A
queimadura solar é um exemplo.
Queimadura de 2º grau: superficial gera bolhas e muita dor; já a de 2º grau
profunda é menos dolorosa, a base da bolha é branca e seca. Pode gerar
repercussões sistêmicas e causar cicatrizes.
Queimadura de 3º grau: é indolor, acomete todas as camadas da pele,
podendo chegar até aos ossos e gerar sérias deformidades.
A maioria dos acidentes em crianças com idade até cinco anos ocorrem na
cozinha, na presença de um adulto, demonstrando desta forma que os adultos
não valorizam a potencialidade de um acidente domiciliar. Em crianças acima
dos 5 anos de idade, as queimaduras são ocasionadas por acidentes com
inflamáveis, seguidas por lesões elétricas, e dependendo da região e período do
ano, por fogos de artifícios.
Durante a adolescência, o agente causal mais prevalente é o álcool, sendo
agente importante em casos de tentativas de autoextermínio. As queimaduras
elétricas apresentam-se especialmente no sexo masculino relacionadas à
acidentes de trabalho.

EXTENSÃO
“Assim como a profundidade, as extensões das áreas queimadas influenciam o
prognóstico, na medida em que quanto mais extensa a superfície corporal
queimada, pior o prognóstico em termos de sobrevida e mortalidade”, diz a
especialista.

Para o calculo da extensão queimada, utiliza-se frequentemente a “


Regra dos 9”, em que o corpo é dividido em múltiplos de 9, conforme
a ilustração.
TRATAMENTO
De acordo com a enfermeira Veniangeli Bernardi, o primeiro
procedimento para interromper os efeitos das queimaduras domésticas de
pequenas áreas é o resfriamento da área com água corrente.
“Já em casos de queimaduras mais graves com comprometimento de áreas
extensas, queimaduras de face, mãos, genitália ou inalação de fumaça, deve-se
acionar o serviço de emergência imediatamente, pois os primeiros socorros
executados em segurança podem são determinantes para salvar vidas nessas
situações”, recomenda a especialista.
Segundo ela, o objetivo do primeiro cuidado ao paciente que sofreu
queimaduras não envolve a ferida diretamente, mas sim a manutenção da
permeabilidade das vias aéreas, a reposição de fluídos e o controle da dor.
“Uma vez que a via aérea tenha sido restabelecida, a dor minimizada e o
equilíbrio hemodinâmico mantido, ou que tenham sido implementadas ações
visando à prevenção de complicações, pode-se iniciar o tratamento da ferida
provocada pela queimadura”, explica.
O tratamento local da queimadura visa controlar a dor, infecções, remoção de
tecidos desvitalizados e otimizar ou estimular a cicatrização, ou ainda preparar
o leito da lesão para receber um enxerto de pele, sempre objetivando a
qualidade estética e funcional da área ao final do tratamento.
“Não são recomendadas, sob hipótese alguma, aplicação de substâncias como
pó de café, creme dental, açúcar, plantas em geral, e receitas caseiras devido
alto risco de contaminação e infecção”, reitera a enfermeira.
Queimaduras podem causar danos irreparáveis, tanto estéticos quanto funcionais
AVANÇOS
Nos últimos anos, tem ocorrido um grande avanço no tratamento das
queimaduras, a balneoterapia (banhos de imersão ou duchas com controle de
pressão), tem sido um recurso que possibilita a limpeza em grandes centros de
referência em atendimento de queimados.
“O importante é avaliar criteriosamente as características e fases das lesões
sempre respeitando a ordem de limpeza, controle da dor, não agredir tecido
saudável, manter umidade e temperatura local ideal, controlar infecção,
estimular proliferação de células para recompor a área lesada e a prevenção de
cicatrizes grosseiras que podem comprometer a função”, comenta Veniangeli.
Encontram-se disponíveis vários produtos, cada um para uma indicação nas
variadas fases, podendo conter bactericidas associados ou não, tais como:
pomadas, hidrogeis, hidrofibras, espumas, placas absorventes, silicones,
alginatos, matrizes e membranas diversas, soluções descontaminantes,
coberturas não aderentes, dentre outros.
Curativos de alta tecnologia ajudam na cicatrização mais rápida das queimaduras
“Vale ressaltar o custo-benefício das coberturas de alta tecnologia em relação à
tempo de cicatrização, que costuma ser bem menor quando comparadas aos
tratamentos convencionais, além trocas de curativos com o mínimo de dor, que
podem ser diários, a cada dois, três ou até sete dias, dependendo das
condições da lesão, mas a avaliação de uma equipe multidisciplinar é
fundamental para a melhor decisão”, reitera a especialista.
“Há muitos produtos no mercado destinados ao tratamento de feridas em suas
diferentes fases. Entretanto, a utilização de qualquer produto no tratamento de
queimaduras ou outros tipos de feridas deve seguir rigoroso protocolo,
buscando identificar a real contribuição para o processo de cicatrização”, alerta
a enfermeira.

Como evitar.

Crianças devem ficar longe do fogão: normalmente os pequeninos


costumam se apoiar bastante quando estão aprendendo a manter o equilíbrio e
andar. Para evitar queimaduras, tente mantê-los distantes da área de fornos e
fogões. Vale até mesmo comprar uma grade de proteção para evitar o acesso a
cozinha.
- Coloque panelas com cabos virados para dentro do fogão: evite deixar
os cabos ao alcance e visão de crianças que podem puxa-las para baixo. Afinal,
todas as crianças são muito curiosas, ainda mais quando seus sentidos de tato
e olfato são instigados.

- Esquente alimentos com embalagens abertas: caso você precise


esquentar um alimento em banho-maria é normal que algumas embalagens se
rompam com o calor recebido, isso pode evitar uma explosão pelo aumento da
pressão interna.

- Cuidado redobrado ao utilizar óleo, vinagre e outros


ingredientes: alguns desses líquidos podem ser muito inflamáveis, não mexa
muito as panelas enquanto estiver preparando os alimentos fritos, dessa forma
você pode evitar o contato com a chama.

- Quando for retirar ou manusear objetos dentro de fornos ou


trempes, utilize luvas térmicas: a temperatura desses utensílios pode
causar queimaduras graves se o contato direto com as mãos.

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