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O caminho do Buda consiste em três treinamentos: o treinamento na virtude

elevada, na mente elevada, ou concentração; e em discernimento elevado. Embora


todos os três sejam essenciais para o Despertar, o Buda comumente escolhia o
segundo treinamento como especial. Ajaan Lee faz o mesmo nas palestras traduzidas
aqui. Como ele disse uma vez, os três treinamentos são como pilares sustentando uma
ponte sobre um rio. Os pilares mais perto ou longe da costa—virtude e discernimento—
não são tão difíceis de se colocar no lugar, pois residem em água rasa, longe das
correntezas dos rios. Os pilares no meio do rio—concentração—são os que necessitam
de cuidado especial, então precisam ser treinados com mais profundidade.
Nas coleções anteriores de palestras de Ajaan Lee, o principal foco tem sido na
técnica. Aqui o foco muda para as atitudes que trazem a prática de concentração a seu
funcionamento. Em alguns casos, Ajaan Lee mostra a importância da concentração
explorando seu papel no caminho da prática como um todo. Noutros ele urge para os
ouvintes, enquanto estão meditando, para não se deixarem levar, ou encoraja eles a se
manterem no curso. Os pedidos e encorajamentos são especialmente notáveis através
das estórias engenhosas pelas quais Ajaan Lee reforçava seus pontos de vista.
Muitas das passagens aqui traduzidas tiveram seu início em conversas que Ajaan
Lee ministrava a grupos de pessoas enquanto estavam meditando. Em alguns casos,
essas pessoas eram seus seguidores; noutros, completos estranhos. Este tópico
principal é comumente a questão mais báisca que ocorre em pessoas novas à
meditação—Por que meditar?—mas ele também inclui breves dicas para meditadores
mais experientes, como alimento para suas próprias contemplações.
Um dos aspectos dos ensinamentos de Ajaan Lee que pode lhe parecer estranho é
sua análise do corpo em quatro propriedades: terra ,fogo, água e ar. Ajaan Lee as
desenvolvia de maneira distinta. Pense nesta análise não como uma tentativa de
chegar à química ou biologia—a ciência que usamos para analisar o corpo de fora—
mas como uma maneira de analisar como as sensações internas do corpo surgem.
Este é um aspecto da consciência que comumente fazemos vista grossa e isso, em
português pelo menos, somos carentes de vocabulário para descrever. Enquanto você
ganha, através da meditação, uma maior familiaridade com este aspecto de sua
consciência, você vera o quão útil o método de análise de Ajaan Lee realmente é.
Duas das palestras nesta coleção—“Dhamma para todos” e “A força da bondade” —
foram traduzidos dos manuscritos de gravações orais das palestras de Ajaan Lee. As
demais passagens têm uma rota mais indireta das palavras de Ajaan Lee até seus
olhos. Uma de suas seguidoras—uma monja, Mae Chii Arun Abhivaṇṇā—tomou notas
durante as paletras, para depois reconstruir os diálogos de Ajaan Lee. Ele teve a
chance de revisar as reconstruções de suas palestras datadas até 1957. As demais
palestras dadas depois desse período, Mae Chii Arun não realizou nenhuma
reconstrução depois da morte de Ajaan Lee em 1961, e então foram impressas sem
sua opinião.
Embora as palestras são ótima fonte de leitura, são ainda melhores se ouvidas. Se
você meditar com um grupo de amigos, tente fazer com que um deles leia uma
passagem enquanto os outros meditam. Destsa maneira, você pode recriar melhor o
contexto no qual as palestras foram originalmente preparadas.

Ṭhānissaro Bhikkhu

(Geoffrey DeGraff)

METTA FOREST MONASTERY

FEVEREIRO, 2008
ALÉM DA MORTE
Sem data
Todos os seres humanos se encaixam nas mesmas caterogias. No começo, quando
nascemos, depois no meio quando mudamos, e no fim quando finalmente caíamos aos
pedaços e morremos. A morte é algo que ninguém deseja, e ainda assim ninguém
pode escapar dela. Todos temos a morte como fim de nosso caminho.
Pensar sobre a morte fazem surgir tantos benefícios quanto malefícios. Para
pessoas com pouca persperctiva é perigoso, porque as tornam tão deprimidas e
desencorajadas que elas não querem fazer nenhum bem no mundo. Noutras palavras,
tudo que vêem é a parte que morre. Ninguém vê a parte que não morre.
Na verdade, existem duas partes em cada pessoa: a parte que pode morrer e a
parte que não morre. Por exemplo, a natureza do corpo consist eem se transformar até
se desmembrar. Você pode dizer que o corpo morre, mas você também pode dizer que
não. A palavra “morrer” se plaic ao fato de que a pessoa desaparece para seus amigos
e parentes, mas os elementos do corpo simplesmente voltam a sua forma original. A
terra retorna à terra, a água à agua, fogo ao fogo, e vento ao vento. É como um cubo
de gelo: se esperar, ele se tornará em água, sua condição original.
Então você pode dizer que o corpo morre, e pode dizer que não também—
simplesmente que ele não mantém a mesma forma que possuía. De acordo com as
ocnvenções do mundo, isto chama-se morte, mas pessoas sábias não vêem a morte
como algo estranho ou incomum. A única questão é quer a morta é acompanhada por
mérito ou não.
Isto nos traz à mente que costumava ficar com o corpo. Esta é a parte importante
porque não morre. Ela simplesmente muda de acordo com a maneira que o bem e o
mal constroem coisas para ela. Noutras palavras, eles constroem o nível da mente, o
lugar onde ela toma o renascimento. Se fizer o bom, você terá que ir para um bom
destino. Se fizer o mal, terá como destino um lugar ruim. Se desenvolveres a bondade
até o últilmo nível para que você possa deixar de lado o bem e o mal, a mente se
tornará imutável, ou o que é chamado de imortal. Mas a maioria de nós não pode
conceber a verdade. Tendemos a fazer vista grossa, assim nunca chegamos ao
imortal. Isto é por causa de nossa própria estupidez e falta de discernimento. Nossa
ignorância esconde a verdade de nós.
Esta natureza da mente é muito sutil. Você pode vê-la com os próprios olhos.
Algumas pessoas dizem que ela não existe, e é por isto que as pessoas que não
consideram as coisas cuidadosamente dizem que a morte é seguida pela aniquilação.
Podemos fazer uma comparação com o elemento fogo no ar. A mente é como o
elemento fogo. O corpo é como uma vela acesa. Quando a vela consome toda cera e
pavio, o fogo tem de desaparecer. Mas quando o fogo desaparece, não significa que
não há mais fogo no mundo. Somos capazes de acender outra vela porque o elemento
fogo ainda existe através do ar. E é assim que é conosco: Quando o corpo é destruído,
a mente faz surgir um novo nível de ser para si enquanto estiver o combustível da
ignorância, desejo e apego.
É por isto que o Buda ensinou seus discípulos a não serem descuidados, a
desenvolverem o máximo de mérito de habilidade quanto possível, pois mérito e
habilidade são o que trazem felicidade tanto neste mundo quanto no próximo. Isto está
de acordo com as palavras,
Sukho puññassa uccayo: O acúmulo de mérito traz bem-estar;

Puññaṁ sukhaṁ jīvita-saṅkhamhi: Mérito traz bem-estar no fim da vida;


e
Puññāni para-lokasmiṁ patiṭṭhā honti pāṇīnaṁ: Mérito é o que instaura seres vivos na
próxima vida.

A palavra mérito aqui trata da felicidade ou bem-estar oriundos de boas ações. O bem
que fazemos pode se mostrar de diversas formas, mas, simplificando, existem dois
tipos:

(1) O mérito que age como uma causa, isto é, o bem que temos de fazer; e
(2) O mérito que age como resultado, isto é, a felicidade vindo de nossa bondade.

O mérito que age como causa se resume em três tipos: dānamaya, o mérito da
generosidade; sīlamaya, o mérito de seguir os preceitos; e bhāvanāmaya, o
mérito da meditação. No Abhidhamma esses três tipos são subdivididos em dez
atividades virtuosas. A generosidade é expandida para incluir pattidānamaya, o
mérito de dedicar mérito a outrem, e pattānumodanāmaya, o mérito de apreciar
o mérito alheio. Essas três coisas são concomitantes e todas conbatem inveja e
mesquinhez. O mérito de observar os preceitos é expandido para incluir
apacāyanamaya, o mérito de demonstar respeito a pessoas que o merecem,
como anciôes e aqueles pelos quais deveríamos ser gratos; ; veyyāvaccamaya,
o mérito que vem de ajudar outros em atividades hábeis, dividindo sua força,
riqueza e inteligência. Esses três estão unidos de maneira que são relacionados
a virtude interpessoal. Já o mérito da meditação, isso se expande para incluir
dhammassavanamaya, o mérito de ouvir ao Dhamma; dhamma-desanāmaya,, o
mérito de ensinar o Dhamma; e diṭṭh’ujukamma, apontar para a direção correta
[Visão Correta]. Todos estes quatro estão unidos de maneira que são fontes de
discernimento.
Essas formas de mérito somente podem surgir quando estão enraigadas em
estados mentais livres de ganância, aversão e delusão. Como o Cânone em Pali
dita, , alobho dāna-hetu, falta de ganância é a base da generosidade; adoso sīla-
hetu,, falta de aversão é a base da virtude; e amoho bhāvanā-hetu, carência de
delusão é a base para desenvolver a mente na meditação.
O mérito que você realiza lhe proporciona bem-estar em corpo e mente.
Quando quer que você se lembre do bem que cometeu, sempre lhe fará feliz. É
um nobre tesouro que lhe persegue, assim como sua sombra lhe acompanha a
todo o tempo. Mesmo se morrer, o mérito que acumulou lhe acompanhará até
um lugar agradável para tomar o renascimento. Isto chama-se
puññābhisaṅkhāra, mérito como um fator de construção.
Quando alguém está prestes a morrer, são como viajantes se preparando
para partir. Antes de irem, têm de se preparar. Somente então a viagem será
confortável. Por exmeplo, quando têm de colocar dinheiro no banco, trocando
Reais por Dólares para usar quando estiverem fora. Se simplesmente levarem
Reais, não serão capazes de comprar nada. Da mesma maneira, quando as
pessoas deixam este mundo no momento da morte, não podem levar suas
posses ou riquezas para usar no próximo mundo. Ao invés disso, enquanto
estão vivas aqui, elas têm de depositar seu dinheiro no banco para Budistas e
trocá-lo por tesouros nobres, ou riqueza interior.
Isto se trata de doações, por exemplo, em homenagem ao Buda, Dhamma e
a Sangha. Desta maneira serão capazes de usar sua riqueza no próximo
mundo. Se tiverem apenas dinheiro falso—,isto é, se não fizerem nada além de
maldade e atividades inábeis—, não serão capazes de irem a um lugar
confortável ou próspero, porque faltam-lhes os fundos necessários para
chegarem lá. Não serão capazes de retornar ao mundo humando porque lhes
faltam créditos—os valores humanitários—necessários para as levarem lá.
Então se tornarão fantasmas famintos, vagando por aí, perdendo o caminho,
assombrando pessoas e possuindo-as, sofrendo diversos tipos de dificuldades.
Por esta razão, ser generoso é como depositar seu dinheiro num banco para
que você s torne capaz de usá-lo quando precisar. Este é o primeiro passo.
O segundo passo é adquirir um passaporte como prova de sua
nacionalidade. Isto significa que você se estabelece nas virtudes do Buda,
Dhamma e Sangha, seguindo os preceitos para se livrar das contaminações
mais graves nas suas ações e palavras, como prova de seu status como
membro de seguidores do Buda.
O terceiro passo é aprender outras linguagens. Noutras palavras, você tem
de praticar meditação tranquilizante [samatha] e de discernimento [vipassana]
para se livrar das contaminações médias e sutis—os impedimentos—no
coraçãõ, ajustando seu coração para que possam surgir três tipos de
conhecimento:

pubbenivasānussati-ñāṇa, a habiliidade de lembrar de vidas passadas;


cutūpapāta-ñāṇa, a capacidade de saber da vida e morte de seres vivos,
entendendo porque nascem nobres ou pobres, com prazer ou dor; e
āsavakkhaya-ñāṇa, o conhecimento que lhe possibilita estar livre das
fermentações.

Essas três formas de sabedoria contam como as linguagens que você


precisa aprender para fazer sua viagem. Ela será fácil e divertida, extremamente
brilhante, com muitos tesouros ao longo do caminho. Você verá coisas que
jamais viu antes, como os reinos celestiais e brahmānes. Isto é o que signifca
ser “bem-aventurado.” Mesmo enquanto estiver aqui, ficará bem. Se quiseres
voltar, será capaz. Se não, você pode continuar seus estudos até o nirvana, livre
de ter de nadar no ciclo de morte e renascimento. Você terá chego em um
estado seguro, alegre e livre de qualquer tipo de perigo.
A prática da generosidade, virtude e meditação por conseguinte resultam em
três tipos de tesouros—o tesouro do estado humano, o tesouro do estado
celestial, e o tesouro do nirvana—de acordo com suas habilidades práticas.
Pessoas que são completas nesses três aspectos de ações hábeis são ditas
bem aventuradas, podem ir bem, voltar bem e ficar bem, porque seus
pensamentos, palavras e ações foram bem treinados. Onde quer que vão, estão
livres de animosidade e perigo, pois são amados e respeitados por todos os
seres, humanos e divinos.
Então deveríamos cada um olhar diretamente para nossa condição,
percebendo que estamos numa jornada todos os dias, minuto a minuto, a
caminho da morte. Não há escapatória. Por esta razão, devemos desenvolver as
três formas de boas ações e mérito—generosidade, virtude e meditação—para
que a felicidade e segurança resultantes de bondades já feitas surgirão para
nós, nos levando além da morte, de acordo com nossas habilidades.

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