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Raízes

v.32, n.1, jan-jun / 2012

LICENCIAMENTO DE BARRAGENS E A CONSTRUÇÃO DA REDE SOCIAL NA ZONA DA


MATA, MINAS GERAIS: EMPREENDEDORES E ATINGIDOS ARTICULADOS EM CONFLITO
AMBIENTAL

Pollyana Martins Santos ; Márcia Pinheiro Ludwig ; Marcelo Leles Romarco de Oliveira

RESUMO
O presente artigo tem como objetivo descrever a analisar o processo de formação da rede social formada por indivíduos inte-
grantes de diferentes organizações na Zona da Mata mineira, articulados em função da defesa dos interesses de comunidades
atingidas por barragens na região. O trabalho foi desenvolvido dentro de uma perspectiva metodológica predominantemente
qualitativa, sendo empregadas como técnicas de coleta de dados entrevistas semi-estruturadas, além de pesquisa documental
e científica. Os resultados obtidos apontam para a existência de uma rede de movimento social nos moldes definidos por
Sherer-Warren (2006) em atividade na Zona da Mata mineira. É também possível observar que tal estrutura, ao problematizar
a construção de empreendimentos hidrelétricos a partir da perspectiva das comunidades locais, tem alcançado significativa
importância na contribuição para com o processo de legitimação de direitos e construção de justiça ambiental.

Palavras-chave: Conflitos ambientais; redes sociais; justiça ambiental.

RELATIONS BETWEEN THEORY AND RESEARCH IN SOCIAL SCIENCES

ABSTRACT
This article aims to describe and analyze the process of formation of the social network formed by individuals belonging to
various groups in the Zona da Mata, State of Minas Gerais, Brazil, that seek to protect the interests of communities affected
by dams in the region. Methodologically, the study was conducted in a predominantly qualitative perspective, being employed
as techniques of data collection semi-structured interviews and documentary and scientific research. Search results indicate the
existence of a network of social movement in a manner established by Sherer-Warren (2006) in operation in the Zona da Mata,
State of Minas Gerais, Brazil. It is also possible to observe that such a structure, by discuss the construction of hydroelectric
projects from the perspective of local communities, has demonstrated significant importance for the process of legitimation of
rights and construction of environmental justice.

Key words: Environmental conflicts; social networks; environmental justice.

Pollyana Martins Santos. Bacharel em Direito e Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Economia Doméstica da
Universidade Federal de Viçosa. E-mail: pollyana.santos@ufv.br. Márcia Pinheiro Ludwig. Doutora em Arquitetura e Urban-
ismo pela Universidade de São Paulo, Professora-Adjunto da Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Economia
Doméstica. E-mail: marciap@ufv.br. Marcelo Leles Romarco de Oliveira. Doutor em Ciências Sociais pela CPDA da Univer-
sidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Professor do Departamento de Economia Rural da Universidade Federal de Viçosa.
E-mail:mlromarco@yahoo.com.br.

Raízes, v.32, n.1, jan-jun / 2012


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INTRODUÇÃO meio ambiente e sociedade são duas realidades


indissociáveis. Isto ocorre porque os elemen-
A presente pesquisa tem por objetivo tos constitutivos do ambiente – tais como os
descrever e analisar o processo de formação da recursos hídricos, os biomas florestais, o solo
rede social identificada na Zona da Mata min- ou os recursos minerais, por exemplo – detêm
eira, estruturada em prol da defesa dos inter- significados simbólicos, culturais e históricos
esses de comunidades atingidas por barragens. que influenciam diretamente a forma como os
Assim, tomando-se como pano de fundo diversos segmentos sociais encaram e fazem uso
a perspectiva da sociedade organizada em rede, destes recursos naturais.
tal como trazida por Castells (1999), esta foi Isto equivale dizer que um mesmo recur-
problematizada como sendo formada por nós so natural será uma realidade completamente
coletivos, ou, em outras palavras, conforme ex- diferente para cada ator social, seja no contexto
pressa Sherer-Warren (2006), enquanto coleti- técnico, social ou cultural de apropriação. As-
vos em rede, ou seja, uma rede que é formada sim, o olhar e o agir de uma comunidade de
por outras redes. pescadores e de uma empresa concessionária
Nesta medida, a rede social que con- de energia sobre um mesmo rio, por exemplo,
sistiu nosso objeto de estudo insere-se num jamais será o mesmo. Os interesses são os mais
contexto muito mais amplo, tornando-se, ela variados possíveis: a comunidade encara o rio
mesma, enquanto rede, também o nó de uma como fonte de sua subsistência, até mesmo
estrutura mais complexa que é designada por como marco simbólico de sua permanência
Sherer-Warren (2006) como rede de movimen- naquela região. Já a empresa vê o rio como uma
to social. Desta maneira, ao buscar evidenciar oportunidade barata de produção de energia,
as contradições advindas da implantação de em- de fazer as engrenagens do mercado girarem a
preendimentos como as hidrelétricas — legiti- seu favor. Quem tem mais direito? Ou quem
mados como indispensáveis para o desenvolvi- tem mais poder para fazer valer este direito?
mento do país — pouca margem de opção têm Situações como a descrita acima repro-
deixado para as populações locais a respeito duzem-se dia após dia, nos mais variados ter-
das escolhas do chamado “desenvolvimento”; renos, e acabam por caracterizar a existência e
a rede social analisada, como rede e também a evolução das sociedades nas quais eclodem.
como nó, tem evidenciado a sua importância Conflitos ambientais consistem, assim, em pro-
na contribuição para com o processo de legiti- cessos de disputa pelo acesso e domínio dos re-
mação de direitos e construção de justiça ambi- cursos ambientais. É neste sentido que Acselrad
ental. (2004a, p.8) aponta que:

As sociedades se reproduzem por proces-


1. CONFLITOS AMBIENTAIS COMO RELA- sos sócio-ecológicos. (...) Assim é que no
ÇÕES ASSIMÉTRICAS DE PODER processo de sua reprodução as 0073ocie-
dades se confrontem a diferentes projetos
Estudar a questão dos conflitos ambien- de uso e significação de seus recursos am-
tais pressupõe, de início, aceitar a ideia de que bientais. Ou seja, o uso destes recursos é,
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como sublinhava Georgescu-Roegen, su- práticas de outros grupos.
jeito a conflitos entre distintos projetos,
sentidos e fins. Vista de tal perspectiva, a Este fato traz intrínseca outra impor-
questão ambiental é intrinsecamente con- tante constatação: a de que são historicamente
flitiva, embora este caráter nem sempre assimétricas estas relações de poder (ZHOURI
seja reconhecido no debate público. e ZUCAREELLI, 2008, p.04), o que faz com
que os conflitos ganhem um caráter de disputa
Dando relevo a esta questão, o mesmo injusta. Isto porque os instrumentos e os recur-
autor ressalta que “os conflitos ambientais de- sos de que dispõem os atores sociais envolvidos
veriam ser analisados, portanto, simultanea- na demanda, via de regra, são muito desiguais,
mente nos espaços de apropriação material e com a balança pendendo quase sempre em fa-
simbólica dos recursos do território” (ACSER- vor daqueles econômica e politicamente mais
ALD, 2004a, p. 23). Isto porque, conforme poderosos. Esta situação reflete, portanto, um
Oliveira (2004, p. 98), o campo ambiental é processo de monopolização dos recursos nat-
também um campo social de diferenciações, no urais por parte dos grupos sociais dominantes,
qual são travadas lutas de poder e lutas sim- que têm a seu dispor todo um poderio político-
bólicas, no bojo das quais os agentes se esfor- econômico para impor os seus interesses em
çam para manter ou transformar a estrutura das detrimento de outras práticas que reflitam os
relações existentes no campo, legitimando ou modos de apropriação do ambiente por grupos
deslegitimando práticas sociais ou culturais. sociais economicamente mais vulneráveis.
Encarar, portanto, o meio ambiente A existência desta relação de causali-
como um terreno contestável, material e sim- dade entre a assimetria na distribuição do pod-
bolicamente, consiste em reconhecer, na ver- er sobre os recursos políticos, materiais e sim-
dade, que os conflitos ambientais se traduzem bólicos e a ocorrência de problemas ambientais
em relações de poder, através das quais os parece ser o que alavancou nos Estados Unidos,
atores sociais, munidos de suas distintas formas na década de 80, o início do movimento por
de interagir com o ambiente, se enfrentam pelo justiça ambiental, de iniciativa de organizações
domínio de um mesmo território ou de seus re- de lutas pelos direitos civis de populações af-
cursos naturais. Acselrad (2004a, p.26) definiu, rodescendentes.
assim, os conflitos ambientais como A partir do reconhecimento do fato de
que depósitos de lixo químico e indústrias pol-
(...) aqueles envolvendo grupos sociais uentes concentravam-se desproporcionalmente
com modos diferenciados de apropriação, nas imediações de áreas habitadas por grupos
uso e significado do território, tendo ori- racialmente discriminados, emerge um movi-
gem quando pelo menos um dos grupos mento de resistência e busca do que se chamou
tem a continuidade das formas sociais de de “justiça ambiental”. O marco inicial se dá
apropriação do meio que desenvolvem em 1982, na Carolina do Norte, Warren Coun-
ameaçada por impactos indesejáveis – ty, em meio a uma onda de protestos contra a
transmitidos pelo solo, água, ar ou siste- instalação de um depósito altamente tóxico de
mas vivos – decorrentes do exercício das bifenil policlorado (PBC) no local, o que resul-
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tou em mais de 500 prisões. de Lideranças Ambientais de Pessoas de Cor,
Desde então, em duas décadas de ex- ocasião em que são elaborados os 17 princípios
istência do movimento norte-americano, Bul- de justiça ambiental.
lard (2004, p. 45) aponta que vários estudos O conceito de justiça ambiental nasce,
científicos revelam a ocorrência de uma relação portanto, no seio da luta contra a distribuição
direta entre raça e exposição a riscos ambien- desigual dos riscos ambientais nos Estados
tais. É o caso, em 1983, de “Siting of Hazard- Unidos, e pode ser entendido, no dizer de Ac-
ous Waste Landfills and Their Correlation with selrad, Herculano e Pádua (2004b, p. 09-10),
Racial and Economic Status os Surround Com- como o conjunto de princípios que asseguram
munities”, um trabalho do U.S. General Ac- que nenhum grupo de pessoas, sejam grupos
counting Office, que comprovou que 75% das étnicos, raciais ou de classe, suporte uma par-
imediações dos aterros comerciais de resíduos cela desproporcional de degradação do espaço
perigosos, situados na Região 4 (que com- coletivo. Por sua vez, a injustiça ambiental é
preende oito estados do sudeste dos Estados entendida como a condição de existência co-
Unidos), se encontravam predominantemente letiva própria a sociedades desiguais onde op-
localizados em comunidades afro-americanas, eram mecanismos sociopolíticos que destinam
embora estas representassem apenas 20% da a maior carga dos danos ambientais do desen-
população da região. volvimento a grupos sociais de trabalhadores,
Logo após, a Comissão para Justiça Ra- populações de baixa renda, segmentos raciais
cial (Comission for Racial Justice) elabora outro discriminados, parcelas marginalizadas e mais
estudo, agora de caráter nacional, no qual fica vulneráveis da cidadania.
evidenciado que a raça, mais que fatores como Diante disto, observa-se como a per-
pobreza, valor de terra e propriedade imobil- cepção inicial do movimento ativista ambiental
iária,0020 era a variável determinante na afro-americano acerca da temática específica da
predição de localização de instalações poluen- contaminação química e discriminação racial
tes. Em 90, é lançado o livro “Dumping in Di- pôde extrapolar as fronteiras norte-americanas
xie: Race, Class, and Environmental Quality”, e encontrar terreno fértil no cenário brasileiro,
obra que, segundo seu autor, Bullard, registrou caracterizado pela apropriação elitista do ter-
a convergência de dois movimentos sociais, ritório e dos recursos naturais, concentração
justiça e defesa ambiental no movimento por dos benefícios usufruídos do meio ambiente, e
justiça ambiental. E é em 1991, quando o movi- exposição desigual da população à poluição e
mento já tem seu foco extrapolado para além aos custos ambientais do desenvolvimento (AC-
do contexto original da contaminação química SELRAD, HERCULANO e PÁDUA, 2004b, p.
(abordando também questões relativas à saúde 10).
pública, ocupação do solo, transporte, em- É através de um discurso que procu-
poderamento de comunidades) que ocorre, em ra contestar o paradigma da modernização
Washington, a Primeira Conferência Nacional ecológica1, que as organizações sociais en-

1. Este termo foi empregado por Acselrad (2004b, p. 23) para indicar o paradigma dominante segundo o qual o cerne
dos problemas ambientais estaria no desperdício de matéria e energia. Nesta lógica, a questão ambiental poderia
ser apropriadamente internalizada pelas próprias instâncias do capital, motivo pelo qual as ações desenvolvidas por
empresas e governos face aos problemas ambientais tenderiam a ser voltadas simplesmente para ganhos de eficiência
e mercado.
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volvidas na busca de justiça ambiental buscam por encontrarem-se respaldados por um mod-
denunciar a existência de uma lógica política elo de mercado que reduz desenvolvimento a
que orienta a distribuição dos danos ambien- crescimento econômico, as comunidades dos
tais. A (in)justiça ambiental aloca, desta forma, atingidos carecem de recursos que as tornem
a relação entre duas categorias, quais sejam, a capazes de enfrentarem em pé de igualdade o
desigualdade social e problemas ambientais, empreendedor. Logo, o que acaba ocorrendo
ou, em outros termos, equidade e meio ambi- com as comunidades é a desqualificação da
ente, de tal maneira que não há como dissociar condição de sujeitos da relação para meros ex-
a ocorrência de problemas – ou conflitos ambi- pectadores no processo de apropriação de es-
entais – das disparidades na distribuição social paços. Conforme Zhouri, Laschefski e Paiva
de poder, uma situação muito mais sofisticada (2005, p.89),
do que as resoluções gerenciais propostas pelo
dogma da modernização ecológica. Nas pala- nessa medida, a construção de barragens
vras de Gould (2004, p.74), tem sido geradora de injustiças ambien-
tais, uma vez que os custos dos impactos
enquanto maior poder político acumula- socioambientais recaem sobre as comu-
se naqueles com maior riqueza, maior nidades atingidas, sem que elas sejam, de
riqueza também se acumula naqueles com fato, consideradas sujeitos ativos no pro-
maior poder político. (...) Tal resultado cesso de decisão acerca dos significados,
produz comunidades com capacidades destinos e usos dos recursos naturais ali
limitadas de rejeitar a imposição de riscos existentes.
ambientais, ao mesmo tempo em que cria
comunidades com enorme capacidade de Vista por este ângulo, pressupõe-se que
controlar seu próprio desenvolvimento a construção de barragens reflete um quadro
econômico e suas trajetórias ambiental- de injustiça ambiental, já que são as comuni-
istas. (...) O resultado da distribuição dades ribeirinhas – sujeitos vulneráveis da rela-
desigual do poder político é um reforço ção – as que sofrem as maiores consequências
adicional da tendência econômica de dis- dos danos ambientais provocados pela instala-
tribuir os riscos ambientais e de saúde ção do empreendimento hidrelétrico. Como já
pública pelas comunidades de pobres e evidenciado em estudos empíricos (CERNEA,
operários. 1991; DUQUE, 1984; GERMANI, 1982;
MCCULLY, 2004; REIS, 2001; RHOTMAN,
A partir destas considerações, é pos- 2002; RHOTMAN, 2008; SIGAUD, 1988;
sível concluir, assim como Acselrad, Herculano SIGAUD, MARTIN0053-COSTA e DAOU,
e Pádua (2004b, p. 10), que, no Brasil, desde 1987; VAINER e ARAÚJO, 1990; ZHOURI,
há muito, movimentos sociais estão envolvidos 2005) o deslocamento compulsório destas pes-
em lutas por “justiça ambiental”, ainda que não soas para implantação da obra as despoja não
tenham recorrido ao uso dessa expressão. apenas da base material de toda uma existên-
Isto porque, na medida em que os em- cia, como também de suas referências culturais
preendedores detêm o domínio da situação, e simbólicas, redes de parentesco e memória
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coletiva, ligadas àquele local. Amaral (2011), as seguintes características nas
É natural, assim, que um projeto de in- redes:
stalação de hidrelétrica e a ameaça de desloca-
mento compulsório a que ordinariamente são objetivos compartilhados, construídos
submetidas as populações locais sejam fatores coletivamente; múltiplos níveis de orga-
determinantes de formação de resistências por nização e ação; dinamismo e intenciona-
parte dos atingidos, tal como apontado por lidade dos envolvidos; coexistência de
Rothman (2008a, p.26). O mesmo autor, ao diferentes; produção, reedição e circula-
estudar o processo de formação de resistências ção de informação; empoderamento dos
conclui que “movimentos de pessoas atingidas participantes; desconcentração do poder;
por barragens tendem a emergir e desenvolv- multi-iniciativas; tensão entre estruturas
er, em casos onde há relações sociais fortes, verticais & processos horizontais; tensão
liderança forte e redes informais e formais”. entre comportamentos de competição &
(ROTHMAN, 2008b, p. 192). cooperação & compartilhamento; com-
posição multi-setorial; formação per-
manente; ambiente fértil para parcerias,
2. A TEMÁTICA DAS BARRAGENS HI- oportunidade para relações multilaterais;
DRELÉTRICAS PELA PERSPECTIVA DAS evolução coletiva & individual para a
REDES SOCIAIS complexidade; configuração dinâmica e
mutante.2
A palavra rede é bem antiga e vem do
latim “retis”, significando entrelaçamento de Castells (1999) também trabalha a
fios, com aberturas regulares, que formam uma ideia de rede. Como ponto de partida, o au-
espécie de tecido. Pode ser conceituada como tor afirma que a rede consiste “num conjunto
um conjunto de pessoas em uma população e de nós interconectados” (CASTELLS, 1999,
suas conexões. Ou seja, a mesma inclui todas p.566). Aprofundando-se sobre o tema, o autor
as relações que um indivíduo percebe como prossegue afirmando que “redes são estruturas
significativa, correspondendo ao nicho inter- abertas capazes de expandir de forma ilimitada,
pessoal deste, que contribui para seu próprio integrando novos nós, desde que consigam co-
reconhecimento e autoimagem. municar-se dentro da rede, ou seja, desde que
Ouve-se, hoje falar de redes em pratica- compartilhem os mesmos códigos de comuni-
mente todas as áreas e campos do conhecimen- cação” (CASTELLS, 1999, p. 566).
to. A popularidade do conceito pode ser expli- No entanto, a inovação por ele trazida a
cada por duas razões: o desenvolvimento das este estudo consistiu no fato de demonstrar que
comunicações e a valorização das relações entre a ideia de “rede” tornou-se tão ínsita ao cenário
as pessoas. Apesar das diferenças de configu- de vida humana que, ao longo do tempo, foi
ração, podem ser identificadas, como salienta capaz de alterar substancialmente as estruturas

2. Disponível em < http://www.rits.org.br/redes_teste. cfm>, acesso em 22 de agosto de 2011.


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sociais e, consequentemente, remodelar pro- textos específicos de relações; estrutura
fundamente a forma de organização da socie- de redes em comunidades específicas e
dade. Desse processo resultou, no dizer de Cas- seu impacto no desenvolvimento de ações
tells, o vivermos hoje no que ele denominou de coletivas, tanto com base em modelos
“sociedade em rede” (Castells, 1999, p. 565), formais quanto em evidências empíricas;
o que equivale dizer que “as redes constituem exploração de laços em mobilizações,
a nova morfologia social de nossas sociedades, aproximando estrutura e agência; trocas
e a lógica de redes modifica de forma substan- interorganizacionais sob a forma da con-
cial a operação e os resultados dos processos strução de coalizões ou da superposição
produtivos e de experiência, poder e cultura” de membros; atividade de networking em
(CASTELLS, 1999, p. 565). comunidades virtuais ou reais; interseção
E é a partir da percepção desta nova de indivíduos, organizações e protestos
estrutura social apontada por Castells, da so- ao longo de períodos de tempo; poten-
ciedade organizada em torno de redes, que cialização do papel de grupos de interesse
torna-se possível compreender a tendência en- (DIANI, 2003, apud MISOCZKY, 2009,
tre organismos e grupos da sociedade civil de p.1164).
mesma identidade social e política, de articula-
rem-se com o fim de obter visibilidade, exercer A partir deste contexto, Scherer-Warren
pressão na esfera pública e assim atingir obje- (2006; 2008) trabalha a abordagem de rede
tivos comuns, tal como apontado por Scherer- pela perspectiva de estratégia de ação coletiva,
Warren (2006, p.113). Isto pode ser explicado ou seja, como conceito propositivo de atores
pelo fato de que “a presença na rede ou a aus- coletivos e movimentos sociais3. Ao postular
ência dela e a dinâmica de cada rede em rela- que “o movimento social atua cada vez sob a
ção às outras são fontes cruciais de dominação forma de rede, que ora se contrai em suas es-
e transformação de nossa sociedade” (CAS- pecificidades, ora se amplia na busca de em-
TELLS, 1999, p. 565). poderamento político” (SHERER-WARREN,
Esta aproximação entre a abordagem de 2008, p. 03), a autora constrói o conceito de
redes e os estudos sobre movimentos sociais, rede de movimento social, enquanto articulação
de acordo com Misoczky (2009), vêm se efe- complexa entre atores sociais coletivos, orga-
tivando desde o final da década de 1980, com nizados em prol de interesses afins.
ênfase nos seguintes temas: Na elaboração do conceito, Scherer-
Warren (2006, p. 110) parte de uma tríplice
engajamento coletivo imbricado em con- divisão sociológica da realidade em “Estado”,

3. Conforme explica a autora, “a ideia de rede enquanto conceito propositivo utilizado por atores coletivos e movimentos so-
ciais refere-se a uma estratégia de ação coletiva, i.é., a uma nova forma de organização e de ação (enquanto rede). Subjacente
a esta ideia encontra-se, pois, uma nova visão sobre o processo de mudança social - que considera fundamental a participação
cidadã - e sobre a forma de organização dos atores sociais para conduzir este processo”. SCHERER-WARREN, I. Redes enquanto
conceito propositivo dos movimentos sociais. Disponível em <http://www.promenino.org.br/Ferramentas/Conteudo/tabid/77/
ConteudoId/2c97aa7f-5c62-4343-8f8b-072f21081f3f/Default.aspx>. Acesso em 26 de novembro de 2011.
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“mercado” e “sociedade civil”. Neste sentido, núcleos de movimentos de sem-terra, sem-teto
pode-se afirmar que, enquanto os dois primei- ou associações de bairro, etc.
ros (Estado e mercado) encontram-se funda- Num segundo momento, percebem-se
mentalmente orientados pelas racionalidades as formas de articulação inter-organizacionais,
de poder, regulação e economia, a sociedade caracterizadas pelos coletivos em rede, carac-
civil encontra-se diretamente vinculada à esfera terizadores de rede de redes. Este nível com-
da defesa da cidadania e suas respectivas for- preende a articulação dos entes coletivos do
mas de organização. Nas palavras da autora, nível primário (através da difusão de infor-
mações, troca de experiências e desenvolvim-
Pode-se, portanto, concluir que a socie- ento de estratégias conjuntas, etc) em torno de
dade civil é a representação de vários objetivos, metas ou valores comuns, de modo
níveis de como os interesses e os valores a atingir uma maior expressividade das orga-
da cidadania se organizam em cada so- nizações e movimentos locais. Nesta categoria,
ciedade para encaminhamento de suas enquadram-se os fóruns da sociedade civil ou
ações em prol de políticas sociais e públi- as associações nacionais de ONG’s, por exem-
cas, protestos sociais, manifestações sim- plo. Este cenário de articulação, possibilitado
bólicas e pressões políticas. (SCHERER- principalmente pela difusão das tecnologias de
WARREN, 2006, p. 110) comunicação virtual4 exprime uma forma mais
institucionalizada de mediação entre Estado e
A partir destas considerações, Scherer- sociedade civil, com fins políticos de transfor-
Warren (2006, p. 110) apresenta três níveis de mação social.
organização da sociedade civil: associativismo No terceiro nível, temos o elemento or-
local, coletivos em rede, e mobilizações na es- ganizacional considerado por Scherer-Warren
fera pública. (2006, p. 112) como a “forma de pressão políti-
No nível primário de organização social, ca das mais expressivas no espaço público con-
surge o chamado “associativismo local”, ou seja, temporâneo”: a mobilização na esfera pública,
movimentos, grupos ou associações represen- ou seja, a articulação não necessariamente in-
tativas das expressões locais e/ou comunitárias stitucionalizada entre agentes dos movimentos
da sociedade civil. Tais redes sociais consistem, locais e diversas redes de redes, expressa por
portanto, em comunidades de sentido, caracter- meio de grandes manifestações na praça públi-
izadas por vínculos inter-individuais em torno ca. Em tais manifestações, a presença de sim-
de um elo de identificação, afinidade, interesse patizantes é um elemento agregador de força
ou valor social. Como exemplos, podemos citar ao movimento, garantindo a visibilidade na mí-

4. É interessante notar como a observação feita por Scherer-Warren, de que a articulação de coletivos em rede somente é viabili-
zada pelo uso rotineiro de meios de comunicação virtual, como e-mail e demais recursos da internet, vem confirmar a constatação
de Castells (1999), de que a revolução tecnológica, principalmente no campo das comunicações, foi a força motriz para a reestru-
turação das formas de organização social, ou seja, de que “embora a forma de organização social em redes tenha existido em outros
tempos e espaços, o novo paradigma da tecnologia da informação fornece a base material para sua expansão penetrante em toda
estrutura social (grifei)”. (CASTELLS, 1999, p. 565).
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dia, além de efeitos simbólicos para os própri- contra o monopólio dos meios de comu-
os manifestantes e para a sociedade em geral. nicação, dentre outras), indicando uma
Assim, eventos como a Marcha Nacional pela relativa volatilidade das redes, mas tam-
Reforma Agrária, de Goiânia a Brasília (maio bém sugerindo indícios de sua capacidade
de 2005) ou a Marcha da Reforma Urbana, em de abertura ao pluralismo democrático
Brasília (outubro de 2005), consistem em ex- agonístico. (SCHERER-WARREN, 2008,
emplos integrantes desta categoria5. p.515)
Finalmente, a articulação conjunta en-
tre os três níveis organizacionais apontados O movimento ambientalista, que hoje
por Scherer-Warren (2006, p. 113) leva à con- pode ser considerado como um dos mais pro-
strução teórica, por ela proposta, do conceito eminentes no cenário mundial (CASTELLS,
de rede de movimento social, que, no dizer da 2008, p. 141), adaptou-se de maneira singu-
autora, “pressupõe a identificação de sujeitos lar à esta nova estrutura de sociedade em rede,
coletivos em torno de valores, objetivos ou pro- disseminando-se, mundo afora, por uma infini-
jetos em comum, os quais definem os atores ou dade de sub-redes, consubstanciadas, por sua
situações sistêmicas antagônicas que devem ser vez, em milhares de organizações locais sedia-
combatidas ou transformadas”. Desta feita, das em todos os cantos do globo. Tamanha re-
percussão pode ser explicada, conforme Cas-
As redes de movimento social, na atu- tells (2008, p. 141) pela “notável capacidade
alidade, caracterizam-se por articular a de adaptação às condições de comunicação e
heterogeneidade de múltiplos atores co- mobilização apresentadas pelo novo paradigma
letivos em torno de unidades de referên- tecnológico”.
cia normativas, relativamente abertas e Diante das considerações acima ex-
plurais. Compreendem vários níveis orga- postas, é possível concluir que, no Brasil, o
nizacionais – dos agrupamentos de base movimento nacional em defesa dos direitos de
às organizações de mediação, aos fóruns atingidos por barragens, consubstanciado na
e redes políticas de articulação. Essas re- figura do MAB – Movimento de Atingidos por
des ora têm como nexos uma temática co- Barragens – consiste numa sub-rede do movi-
mum (terra, moradia, trabalho, ecologia, mento ambientalista, tal como definido por
direitos humanos, etc.) ora uma platafor- Castells (2008, p. 144). Estruturalmente6, o
ma de luta política mais ampla (a alter- MAB nacional é integrado por uma teia de co-
mundialização, a soberania nacional, um letivos em rede e de redes de redes, consistentes
projeto de nação, ou a luta contra o neo- em núcleos coletivos locais e regionais, espalha-
liberalismo, contra a hegemonia mundial dos pelo país. De três em três anos, são realiza-
do capitalismo, as guerras imperialistas, dos encontros nacionais, nos quais se reúnem

5. Todas as informações foram obtidas em Scherer-Warren (2006).


6. Todas as informações a respeito da estrutura organizacional do Movimento dos Atingidos por Barragens encontram-se dis-
ponibilizados no sítio oficial do movimento, acessível em <http://www.mabnacional.org.br>. Acesso em 27 de novembro de
2011.
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representantes de todas as regiões organizadas utilização do espaço.
do movimento no país. Em nível internacional,
observa-se ainda a articulação em rede do MAB Nesta medida, tais grupos, a partir de sua
nacional com entidades como a WCD - World percepção simbólica acerca das injustiças ambi-
Comission on Dams. entais praticadas pelo setor energético, encon-
Posto isto, descortina-se ao entendimen- tram-se estruturados em rede com a finalidade
to o seguinte cenário: organismos sociais locais de prestar apoio aos atingidos pelos empreen-
que prestam assessoria a comunidades atingi- dimentos hidrelétricos, procurando equilibrar
das por barragens, tais como núcleos locais do a relação e assim, diminuir as desigualdades de
MAB, ONG’s, associações e outras organiza- poder no campo material.
ções empiricamente localizáveis (associativismo As organizações sociais, atuando como
local), ao articularem-se em prol deste interesse agentes de apoio aos atingidos por barragens,
afim, caracterizam-se como coletivos em rede são descritos por Zhouri e Rothman (2008,
formadores de redes de redes, que, por sua vez, p.122) como:
consistem nos “nós” de uma rede maior, ou
seja, na rede de movimento social representada compostos, de maneira diversa, por seg-
no Brasil pelo MAB nacional, que vem a ser, em mentos mobilizados das populações afe-
último caso, uma ramificação do movimento tadas, sobretudo, por famílias e comuni-
ambientalista global. dades rurais, mas também por populações
Portanto, estabelecido este vínculo entre urbanas, grupos, enfim, sobre os quais
esta tipologia de movimento ambientalista tra- incidem os riscos e impactos provocados
zida por Castells (2008) e, utilizando a termi- pela construção de barragens. Constitui
nologia de Scherer-Warren (2006, p. 122), sua ainda parte desse universo um conjunto
“população-alvo” (o conglomerado de excluí- de atores oriundos de diversos segmentos
dos, discriminados e socialmente fragilizados), sociais, como igreja, universidade e or-
resta evidente a relação direta entre o campo de ganizações não governamentais (ONGs)
atuação do movimento e a temática da justiça que, como assessoria dos atingidos, têm
ambiental, amplamente apreciada por Acserald como objetivo principal limitar as in-
(2004a, 2004b) e também objeto de análise na justiças ambientais praticadas pelo mod-
presente pesquisa. Conforme Castells (2008, elo energético brasileiro. As ações desses
p.147): atores acabam adicionando capital técnico
e político aos atingidos pelas barragens,
O que é questionado por esses movimen- especialmente no âmbito dos processos
tos é, de um lado, a tendência de escolha de licenciamento ambiental.
de áreas habitadas por minorias e popu-
lações de baixa renda para o despejo de Assim, a noção de justiça ambiental que
resíduos e a prática de atividades indese- permeia o discurso dos integrantes dos nós
jáveis do ponto de vista ambiental, e, de coletivos das redes sociais de apoio a atingi-
outro, a falta de transparência e de par- dos por barragens é que configura o poder de
ticipação no processo decisório sobre a negociação destes agentes na esfera simbólica,
170
legitimando-os a questionar, no plano material, resultado, legitimação de direitos e justiça am-
a desigualdade de distribuição de poder entre biental.
os atores sociais envolvidos no conflito. Con- 3. METODOLOGIA
forme esclarece Acserald (2004b, p. 29):
Tendo como objetivos centrais resgatar
Essa ação coletiva, quando dirigida contra o processo de formação dessa rede social na
a ordem ambiental tida por injusta mani- Zona da Mata mineira, a pesquisa foi construí-
festa-se simultaneamente em dois planos: da a partir de um delineamento predominante-
a) no plano da distribuição objetiva dos mente qualitativo, tendo como quadro teórico
efeitos ambientais das práticas sociais; de fundamentação o das ciências sociais críti-
esta distribuição exprime a diferença de cas7. A natureza do estudo foi descritiva, sendo
poder sobre os recursos ambientais entre empregadas como técnicas metodológicas a
os distintos grupos sociais, e b) no plano pesquisa documental e científica, além de en-
discursivo, onde vigoram distintos es- trevistas semi-estruturadas. Posteriormente, os
quemas de representação do mundo, do dados coletados foram trabalhados por meio da
ambiente, da justiça, etc; neste plano, co- técnica da análise do discurso.
loca-se em jogo a legitimidade do modo
de distribuição do poder sobre os recur-
sos ambientais (...) Os movimentos sociais 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
podem ser analisados por sua intervenção
nestes dois níveis do espaço social – o es- Historicamente, o surgimento da rede
paço da distribuição do poder sobre as social objeto da presente pesquisa pode ser
coisas e o espaço da luta discursiva. situado no ano de 1995, por ocasião da inicia-
tiva do então docente da Universidade Federal
Logo, as organizações sociais de apoio de Viçosa, professor Franklin Daniel Rothman,
a atingidos por barragens atuam como agen- em criar um projeto de extensão dentro da Uni-
tes de capacitação das comunidades ameaça- versidade, voltado para a discussão das conse-
das, contribuindo, em última instância, para o quências dos empreendimentos hidrelétricos,
combate das injustiças ambientais que caracter- a partir da perspectiva das comunidades locais
izam os processos de construção de barragens, afetadas por barragens.
conforme evidenciado em estudo empírico de O professor Franklin iniciou sua carreira
Rothman (2002). Consequentemente, tais re- de docente no Departamento de Economia Ru-
des podem consistir em canal para que o aflo- ral da UFV, em 1989, já com o entendimento de
ramento dos conflitos ambientais tenha, como que iria afastar-se para a realização de doutora-

7. Pela perspectiva das ciências sociais críticas, o mundo material é socializado e dotado de significado. A teoria crítica pressupõe
que todo conhecimento está fundamentalmente influenciado por relações de poder, que são de natureza social e estão historica-
mente constituídas, razão pela qual os fatos nunca podem ser separados do campo dos valores e da ideologia (ESTEBAN, 2010,
p.69).
171
do nos Estados Unidos, o que de fato ocorreu.
Posteriormente, o professor retorna a Viçosa A fala do entrevistado revela que o
em 1994, após realizar sua pesquisa de douto- número expressivo de barragens hidrelétricas
rado no sul do país, junto a movimentos sociais previstas para a região da Zona da Mata mi-
de apoio a atingidos por barragens (à época, neira, com o qual se deparou à época do seu
a CRAB, Comissão Regional de Atingidos por retorno a Viçosa, foi um elemento de suma im-
Barragens). E é justamente nesta ocasião que portância na construção da estrutura que viria a
começam a se intensificar as propostas de con- se constituir na rede social, objeto do presente
strução de empreendimentos hidrelétricos na estudo. Neste sentido, a participação de profes-
Zona da Mata mineira. Ao ler nos jornais as sor Franklin como principal articulador desta
notícias de que empresas como a Fiat, Alcan e a rede social é frequentemente apontada pelos
Cataguases-Leopoldina pretendiam estabelecer entrevistados. Em sua maioria, os depoentes
barragens na região, o professor Franklin per- relatam que a sua inserção no trabalho junto
cebe a ligação entre a situação por ele estudada a estas comunidades encontra-se vinculada, de
no sul do país e a realidade que se delineava uma maneira ou outra, à pessoa do referido
na Zona da Mata, o que despertou o seu inter- professor. O relato prestado pela professora
esse em construir um trabalho voltado para a Irene Cardoso8 ilustra com clareza a situação:
discussão das consequências de tais empreendi-
mentos. Conforme relata o entrevistado, Na verdade começou com o Franklin,
o Franklin tinha feito o doutorado dele
Aí eu meio que... bom... Já tive aquele... com a MAB, e ele voltou e tinha o mapa
aquela intuição. Já tinha pesquisado, né, mais ou menos do que estava acontecen-
o movimento no sul, a questão de barra- do, o que iria acontecer na Zona da Mata,
gem no sul (...) no Xingu, né, na região com os projetos das barragens, né, e aí a
no norte, Itaparica, na Índia... E sempre... gente não sabia de nada, a gente só sabia
sempre o mesmo tipo de... de problemas do Franklin. Aí Franklin começou a or-
sociais e ambientais. Então eu senti, bom... ganizar um grupo, e chamou também o
Um é até uma oportunidade, né, de... de Ivo, Rafael, a Fatinha...” (professora Irene
continuar a pesquisa nessa área, ahn... e Cardoso, 2011)
também de obrigação moral para fazer...
alertar, ajudar a alertar a população sobre Como se vê na fala da entrevistada,
os... que vão..., acontecer, né? (ROTH- dentre os docentes da Universidade, o profes-
MAN, Franklin Daniel. Entrevistadora: sor Franklin é quem primeiro chama a atenção
Andréa Zhouri. Entrevista concedida ao para as possíveis implicações decorrentes dos
Programa de História Oral da FAFICH. vários empreendimentos hidrelétricos previstos
Belo Horizonte, 28 de janeiro de 2005) para a região, o que se deveu à experiência an-

8. Irene Maria Cardoso é professora adjunto da Universidade Federal de Viçosa, no Departamento de Solos. A participação na
presente pesquisa se deve ao seu envolvimento com os grupos iniciais do PACAB/NACAB, aos quais ainda se encontra vinculada,
tendo ela participado das atividades de assessoria desde a época da constituição da rede.
172
terior daquele professor com situação similar FAFICH. Belo Horizonte, 28 de fevereiro
no sul do país, por ocasião de seu doutorado. A de 2005).
partir desta percepção inicial, um pequeno gru-
po começava a tomar forma, como se observa É importante destacar que quando o
pela relação de nomes que é mencionada pela professor Franklin toma conhecimento dos em-
professora Irene Cardoso em seu depoimento. preendimentos previstos para a Zona da Mata
Neste momento, é importante desta- mineira, já estava ocorrendo uma situação de
car a forte percepção dos futuros integrantes pré-estabelecimento de empreendedores nas lo-
da rede social ainda em formação da figura do calidades para as quais estavam previstas as bar-
professor Franklin enquanto seu articulador ragens. Em Casa Nova, comunidade pertencen-
central. Tal circunstância pode ser compro- te ao município de Ponte Nova, por exemplo,
vada pela frequente menção nos depoimentos já corriam os rumores e comentários a respeito
a uma expressão típica, cunhada pelo mesmo de pessoas “de fora” que estavam contactando
para designar a intensificação do processo de moradores, solicitando cópias de documentos,
implantação de barragens na região na década como mostrado no relato a seguir:
de 90: o “pipocar”:
E nessa conversa, assim amigos, conheci-
A articulação foi ficando, projetos surgin- dos aqui da zona rural, começaram a fa-
do, vem a privatização do Fernando Hen- lar: “ó, tem um pessoal rodando, fazendo
rique, liberou em concessões, aí que a umas 0070erguntas, e tirando xerox...”
coisa... como diz o Franklin, “pipocou”. Isso já foi mais ou menos em 94, 95... ou
“ÔÔÔÔ, pipocando as hidrelétricas!” até antes um pouco, essa conversa... “tem
(senhor Leonardo Rezende, 2011) um pessoal que tá tirando xerox de docu-
mento da gente...“ (senhor Zé Roberto,
E o Franklin tinha feito a tese dele no sul 2011)
do Brasil, junto com outras resistências do
MAB, e aí, cá, por coincidência, ele fazia Assim, paralelamente ao cenário ai-
um trabalho numa comunidade chamada nda embrionário do que seria posteriormente
Nova, nós nos encontramos, e aí começa- um projeto de extensão de assessoria a comu-
va a pipocar essa coisa da barragem , ele nidades atingidas por barragens, liderado pelo
até usava muito essa palavra, “pipocar”. professor Franklin, começam a emergir outras
(FERNANDES, Antônio Claret. Entrev- manifestações de preocupação com os projetos
istadora: Andréa Zhouri. Entrevista con- hidrelétricos. O senhor José Roberto Fontes
cedida ao Programa de História Oral da Castro, mais conhecido por Zé Roberto9, au-

9. José Roberto Fontes Castro, o Zé Roberto, é, em suas palavras, “um cidadão pontenovense, nascido e criado às margens do rio
Piranga”. Uma das circunstâncias que levou ao seu envolvimento como liderança comunitária de atingidos por barragens remonta
à sua iniciativa em criar, ainda no ano de 1.989, a ASPARPI, Associação dos Pescadores e Amigos do Rio Piranga. Mas é a partir
de 1.995, ocasião da tentativa de criação da UHE Pilar, na comunidade de Guaraciaba, município de Ponte Nova, que tem início o
seu trabalho como liderança comunitária. Desde então, em quase 15 anos, Zé Roberto tem se destacado como uma das principais
lideranças comunitárias na região, com atuação em diversas outras comunidades atingidas pelos vários empreendimentos previstos
para a região da Zona da Mata.
173
tor do depoimento acima transcrito, passaria a então isso nos intranquilizou, como ci-
ser também uma figura importante na discussão dadão, pela segurança da gente, pela
das barragens. qualidade da nossa água, e pela nossa pro-
O senhor Zé Roberto, à ocasião fun- posta de recuperar o rio.Se já tinha uma
cionário do Banco do Brasil, e morador de Pon- barragem pequenininha, que era a Brecha,
te Nova, fundara, em 198910, uma associação, a perturbando o nosso rio, a grande faria
ASPARPI (Associação dos Pescadores e Amigos um estrago maior (...) a comunidade de
do rio Piranga), da qual era presidente em idos Casa Nova veio me procurar, através de
de 1994. A sua longa e estreita relação com o um padre que atendia a região lá, em con-
rio Piranga (ele se define como pescador e ami- tato com um daqui, de que tinha alguma
go do rio) e com as comunidades ribeirinhas coisa acontecendo, de que ia prejudicar o
em geral fizeram com que ele fosse procurado rio, ia prejudicar eles lá, e que queriam
pela comunidade de Casa Nova, em busca de “bater um papo”. (...) Então eu falei, bom
orientação e apoio a respeito das frequentes in- eles vêm lá, eu estou disponível, podemos
cursões de “pessoas estranhas” (representantes ir sim, vamos somar força, né. (senhor Zé
dos empreendedores do Projeto Pilar11) na lo- Roberto, 2011)
calidade. Conforme o entrevistado,
Segundo mostra o depoimento, o sen-
Eu já presidia a ASPARPI, em substituição hor Zé Roberto se inteirou da questão das bar-
ao doutor Denizete, que era presidente ragens a partir da procura de moradores da
por mais três mandatos, nós começamos comunidade de Casa Nova, que seria atingida
a ouvir a conversa de que a Fiat e a Al- pela UHE Pilar. Assim, o acompanhamento e a
can queriam construir uma barragem aqui experiência com o Projeto Pilar foi a oportuni-
para cima de Ponte Nova, uma barragem dade para que o entrevistado se tornasse parte
enorme. Ela teria cerca de setenta metros da florescente rede social na Zona da Mata mi-
de altura, essa é uma região de muita... neira, o que o levaria a ter papel importante no

10. Por ocasião da fundação da ASPARPI, em 1989, Professor Franklin assumia a cadeira de docente na Universidade Federal de
Viçosa.
11.Projetada para ser um empreendimento de grande porte, a UHE Pilar estava prevista para ser construída na Zona da mata mi-
neira, em uma área historicamente categorizada como de propriedade rural. De iniciativa de uma grande empresa transnacional,
a Fiat, a represa barraria as águas do Rio Piranga, abarcando parcelas territoriais dos municípios de Guaraciaba e Ponte Nova,
num total de 1.400 ha, e implicaria no deslocamento compulsório de 133 famílias, a grande maioria de pequenos agricultores do
município de Guaraciaba. Contudo, o trabalho da assessoria possibilitou a materialização formal da oposição dos atingidos à in-
stalação da represa, tanto por meio do questionamento dos estudos oficiais realizados, quanto pela própria manifestação popular,
principalmente na audiência pública. Como resultado, um número expressivo de condicionantes, oriundas tanto das críticas feitas
pela comunidade quanto pelo documento elaborado pela equipe da UFV foram incorporadas pela FEAM ao parecer apresen-
tado ao COPAM. As condicionantes determinavam a internalização, pelo empreendedor, de diversos custos ambientais e sociais
para implantação da obra, o que tornou necessária a reavaliação da viabilidade financeira e ambiental do projeto. Diante disto,
a pedido do município de Guaraciaba, a COPAM concordou na realização de uma segunda audiência pública (fato inédito e sem
precedentes), que foi marcada também por forte oposição popular à construção da represa. Isto culminou com a desistência da
empreendedora Fiat no Projeto Pilar e, consequentemente, com a não construção da represa, o que até hoje é considerada como
uma grande conquista das comunidades potencialmente afetadas pelo empreendimento.
174
acompanhamento de outros projetos previstos boque. Aí ia a Alexandre, o Júnior, ia Léo,
para outras localidades da região. tinha na época, né, era aluno. Começou
Outra figura de destaque na construção por aí. (FERNANDES, Antônio Claret.
da rede de apoio foi Antônio Claret Fernandes, Entrevistadora: Andréa Zhouri. Entrev-
o padre Claret , figura que aparece no depoi- ista concedida ao Programa de História
mento anteriormente mostrado. À época, Padre Oral da FAFICH. Belo Horizonte, 28 de
Claret já trabalhava com comunidades rurais janeiro de 2005)
da região, participando de projetos de práticas
agrícolas desenvolvidos pela Igreja Católica. Como pode ser observado, Padre Claret
Por ocasião de um trabalho na localidade de faz referência aos nomes de estudantes que,
Colônia, zona rural de Viçosa, veio a conhecer à época, integravam o núcleo de assessoria à
o professor Franklin12, e, via de consequência, a comunidades atingidas por barragens, então
tomar conhecimento a respeito da questão das recém constituído com o nome de NACAB, um
barragens na Zona da Mata: projeto de extensão, conforme anteriormente
mencionado, liderado pelo professor Franklin,
Então, o... foi com o Franklin [Rothman], que começava a se fazer presente nas locali-
o primeiro contato. Porque Franklin ele dades potencialmente afetadas pelos projetos
tava vindo do sul. Parece que o trabalho de hidrelétricas. Paralelamente ao processo
dele lá foi justamente sobre barragem, sinalizado pelo entrevistado em seu depoimen-
né, ele veio pra cá, e aí ele tava fazendo to, Padre Claret começou a também participar
um trabalho de extensão com a Vanda. A da organização de comunidades atingidas por
Vanda é... ex-esposa do Durval, né? (...) aí barragens, numa atitude que culminaria com
a gente tinha uma relação com o Durval, surgimento do MAB regional Zona da Mata:
aí acabamos conhecendo a Vanda, tal. E
ela fez um diagnóstico lá na, na Colônia Então iniciou-se assim, dessa forma meio
(...) Então o Franklin fazia parte da equi- que espontânea, meio que do aperto
pe, né? Aí eu tava conversando, eu lem- mesmo, com as pessoas reagindo, e esse
bro que ele, ele... Nessa época ele já usava grupo da universidade, Franklin como
aquela expressão assim, “pipocar”, né? referência, outros professores e alunos, e
“Ah, tá pipocando na região, a barragem, aí íamos juntos com outras pessoas, ha-
e tal...” Aí começamos a conversar, eu via outros padres envolvidos, e havia uma
tenho notícia de que lá, né, na época tava liderança da CPT, na época, o Ricardo,
assim... efervescência, né? (...) Pilar, na que tinha trabalhado na região de Irapé,
época Pilar. Aí começamos esses contatos. no norte de Minas, numa grande barra-
No início eu ia às comunidades com eles, gem da CEMIG, e que em algum momen-
né? Tanto em Pilar quanto depois em Em- to participava de reuniões e de cursos que

12. Nesta ocasião, Professor Franklin integrava a equipe de professores que realizava um processo de diagnóstico
rural da comunidade de Colônia promovido pela UFV, comunidade também assistida pelo padre Claret.
175
ajudavam as pessoas a entender como era teve uma participação muito ativa, então,
o processo do RIMA, principalmente, e quem organizou a Romaria na verdade
tal. (Padre Claret, 2011) foram essas pessoas envolvidas com o tra-
balho com as famílias atingidas. (...) Dali,
A fala do entrevistado mostra que o o movimento começou a ter uma forma
MAB surge na região a princípio timidamente mais de movimento, a região, de algum
e vinculado ao próprio grupo de professores e modo, ficou visível, as contradições vi-
alunos da Universidade Federal de Viçosa, até síveis, algumas pessoas que já participa-
mesmo pela ligação já estabelecida entre Padre vam de eventos nacionais do MAB, que
Claret e o professor Franklin. É de se notar, na eram o Paulo Viana, de Pedra do Anta,
fala do ator, a referência à pessoa do senhor o Claudiano, de Fumaça, continuaram e
Ricardo Ribeiro, integrante da CPT. Como se outras pessoas começaram a se envolver.
poderá perceber pelos depoimentos seguintes, (...) Então, desse evento a própria logísti-
o senhor Ricardo Ribeiro também teve papel ca do movimento começou a melhorar,
importante na formação da rede social ora es- como o evento deu visibilidade, nós con-
tudada, já que, tendo em vista sua ligação ante- seguimos uma ajuda de custo com a Igre-
rior com o professor Franklin, foi o agente que ja pra poder abrir um espaço aqui para
facilitou a inserção do professor no universo da a secretaria do movimento. Então, com
Zona da Mata. isso, todo o material que antes ficava con-
Ainda em relação à fala de Padre Claret, centrado na Universidade, muito filme,
dois momentos são apontados pelo entrevistado e tal, então o Professor Franklin trouxe
como marcos da afirmação do MAB na região para cá. A nossa referência era lá, aí pas-
Zona da Mata enquanto movimento popular: samos a ter duas referências: Ponte Nova
a Quarta Romaria das Águas, em 1999, e a in- e Viçosa. Acredito que esse foi um marco
stalação da sede física do movimento no mu- interessante. E aí foi caminhando para ser
nicípio de Ponte Nova: o movimento que é hoje, com muita fra-
gilidade ainda, ele aparece maior do que
E aí depois que isso foi acontecendo, de é, na verdade, é um grupo pequeno, mas
data eu não me lembro bem, mas deve que se esforça pra estar trabalhando com
ter sido a partir de 94, por aí, aí quando as comunidades, as demandas comuns,
foi em 26 de agosto de 1.999, aconteceu né, mas chegou a ser esse movimento com
um evento que do nosso ponto de vista metodologia de movimento popular. (Pa-
ele é marcante, porque ajudou o movi- dre Claret, 2011)
mento a ir tomando forma de movimento
popular. Aconteceu a Quarta Romaria das Percebe-se, na fala do ator, o destaque
Águas e da Terra, ele é organizado pela para dois momentos que delimitam o surgi-
CPT em conjunto com outras entidades, mento do MAB na Zona da Mata mineira: uma
e como aqui já havia esse trabalho com os manifestação simbólica, consubstanciada na re-
atingidos por barragens, começando com alização de mobilização na esfera pública, por
forma de movimento, então o pessoal meio da Romaria (Scherer-Warren, 2006), o
176
que trouxe força e visibilidade ao movimento; mava muito o povo também. (Padre Clar-
e a manifestação material, qual seja, a conquista et, 2011).
de um espaço físico para a sede da secretaria
no município de Ponte Nova, o que consistiu O relato de Padre Claret deixa muito
numa referência concreta do movimento da clara a relevância que Dom Luciano, uma im-
região. Observa-se ainda no depoimento do portante autoridade dentro da Igreja Católica,
entrevistado a referência às figuras do senhor possuía para a mobilização das comunidades.
Paulo Viana e Claudiano, representantes de as- Era eminentemente uma figura popular, o que
sociações de comunidades rurais que começa- pode ser comprovado pela referência de Padre
vam se a organizar. Claret, de que Dom Luciano “ficava ao lado do
Outra figura que se destaca neste proces- povo”, e que isto “animava muito o povo tam-
so embrionário de formação de um movimento bém”. O carisma do arcebispo, hoje já falecido,
social, que é trazido na fala de padre Claret, é ainda permanece como fonte de incentivo para
a pessoa de Dom Luciano13, outra referência na muitos integrantes da rede que tiveram a opor-
história da construção da rede social na Zona tunidade de com ele trabalharem, conforme
da Mata. Como se observa na fala do entrevis- demonstra o relato trazido pelo senhor Zé Ro-
tado, a participação do arcebispo foi decisiva berto:
para a mobilização e organização das pessoas,
o que é tido como essencial para o movimento Na hora, aí eu me recordo das palavras de
social: Dom Luciano, quando ele falou que um
padre contou a história dele, quando es-
Porque ele [Dom Luciano] como tinha a tava formando em Mariana, ele mostrou
visão assim, bem aprofundada da reali- dentro da Igreja de Mariana, dentro da
dade, de como a sociedade funciona, ele Catedral da Sé, os anjinhos, tudo gordin-
tinha clareza, e nos momentos decisivos ho, tal... aí ele falou “nossas criancinhas
ele ficava do lado do povo. Ele participou aqui estão bem guardadas, né, estão bo-
de maneira decisiva em Pilar (...) como nitas, gordinhas, sadias... vocês têm vigias
Pilar era da Fiat e Alcan, eu lembro que pra elas aí, né, tão bem guardadas, né? De
um momento ele disse “bom, se barragem noite não tem frio, tem nada... E nossas
é bom, porque vocês não implantam na crianças lá fora? Então, se a gente ta aqui
terra de vocês?” sem ser agressivo, mas pra celebrar, tem que ir lá fora, trabalhar
pra mostrar que era uma enganação que lá primeiro, depois vir aqui” (senhor Zé
estava acontecendo ali. Nos momentos Roberto, 2011).
decisivos, ele estava presente, e isto ani-

13. O arcebispo Dom Luciano Mendes de Almeida assumiu a arquidiocese de Mariana no ano de 1988. Como líder religioso,
tornou-se conhecido como grande defensor dos direitos humanos e das classes mais humildes da população. Faleceu em 27 de
agosto de 2.006, sendo porém constantemente lembrado como uma figura de peso na defesa dos interesses das comunidades
atingidas por barragens na Zona da Mata mineira.
177
Outra figura importante, que aparece A professora Andréa Zhouri, mencio-
em depoimentos já apresentados, trata-se do nada na fala do entrevistado, é outra figura
senhor Ricardo Ribeiro, um integrante da CPT relevante dentro do processo de formação da
que o professor Franklin havia conhecido por rede social na Zona da Mata. Interessante notar
ocasião da realização do doutorado no sul do como, a partir de seu conhecimento com o pro-
país. Segundo o referido professor, o senhor fessor Franklin, a professora Andréia reproduz-
Ricardo foi o agente facilitador de seu acesso iu a iniciativa do referido docente ao também
às comunidades atingidas pelas barragens na criar um grupo de pesquisa na UFMG, dando
Zona da Mata, já que este já possuía contatos início a atividades de assessoria na região norte
na região. Conforme relata o entrevistado, do estado de Minas Gerais. A menção na fala
do entrevistado à parceria que remanesce entre
Foi nesse período, também, que recebi os dois pesquisadores pode retratar o cenário
contato da Professora Andréa Zhouri, re- já apontado por Sherer-Warren (2006, p. 113),
centemente voltada de cursar Ph.D. em acerca da “tendência entre organismos e gru-
Sociologia na Inglaterra e cuja família es- pos da sociedade civil de mes006Da identidade
tava ameaçada pelo projeto de barragem social e política, de articularem-se com o fim
PCH Aiuruoca. Ela soube do meu trab- de obter visibilidade, exercer pressão na esfera
alho com o projeto de extensão. Foi iní- pública e assim atingir objetivos comuns”. A
cio de uma relação de colaboração mútua troca de informações e a formação de novos
que continua desde aquela época. Andréa coletivos parece ser a marca determinante deste
e o grupo que ela organizou na UFMG -- processo de formação de redes, como demon-
o Grupo de Estudos e Temas Ambientais stra ao entrevistado, ao relatar que foram
– GESTA – têm exercido uma assessoria semelhantes os processos de inserção havidos
significativa em Minas Gerais, principal- entre ele, a professora Andréa e Ricardo Ri-
mente no norte do Estado. A maneira que beiro.
facilitei a integração de Andréa na asses- Paralelamente à dinâmica apontada pelo
soria aos atingidos e relações com MAB professor Franklin em sua fala anteriormente
foi semelhante à forma que Ricardo Ri- citada, a partir de meados de 1995 o grupo de
beiro me integrou na assessoria aos atingi- estudantes e professores da UFV, organizados
dos que, por sua vez, foi semelhante à como projeto de extensão pelo entrevistado,
maneira que Ricardo começou trabalhar inicia uma série de reuniões nas comunidades
na assessoria após conhecer Prof. Carlos potencialmente atingidas pelos projetos de bar-
Vainer e seu trabalho com assessoria aos ragens, numa atuação conjunta entre a Uni-
atingidos, no IPPUR/ UFRJ. (Professor versidade, Igreja Católica e lideranças locais,
Franklin Rothman, 2011) conforme é relatado pelo senhor Leonardo
Rezende14:

14. O senhor Leonardo Pereira Rezende é advogado, com graduação em Direito pela Universidade Federal de Viçosa. Seu envolvi-
mento com a temática abordada na presente pesquisa tem início com sua vinculação ao programa de Mestrado do Departamento
de Extensão Rural da UFV em 1997, ocasião em que se tornou orientando do professor Franklin. Sua participação na pesquisa se
deve ao fato de ter integrado os quadros iniciais do projeto de extensão (PACAB), quando ainda estudante, e posteriormente, pela
sua condição de coordenador da ONG NACAB, atividade que exerce até hoje.
178
feitas, e tem uma.. uma... na legislação é
E aí, ele [Franklin] articula uma mobili- obrigado a ter audiência pública, agora
zação com a Igreja, procura saber quem como é que essas audiências públicas são
são os atingidos, e aí a coisa começa a sur- feitas ou eram feitas naquele momento
gir, aparecer as situações. Tem o Gumer- cabia a quem tivesse... é... aos barrageiros,
cindo, que hoje é pró-reitor de extensão, né. Então podia chamar uma audiência
que tinha vínculos com a comunidade junto com a FEAM, com os órgãos públi-
atingida de Cachoeira da Providência, cos. Mas ninguém chamava uma audiên-
em Pedra do Anta, família dele é de lá. cia pública, ninguém ficava sabendo, é,
Ele é parente de seu Paulo, sobrinho de sem nenhuma mobilização das pessoas
seu Paulo Viana, e traz o seu Paulo Viana. lá... Então uma das coisas era se mobilizar
(...) E aí, em Ponte Nova, não sei como, pras audiências públicas. Então, como é
mas acho que foi através da Igreja, que o que essas comunidades poderiam estar se
Zé Roberto também aparece e faz o vín- mobilizando e pra isso tinha um trabalho
culo com a comunidade de Casa Nova, lá que era de ir pras comunidades, conversar
em Ponte Nova. E aí o Franklin organiza, com as pessoas, tentar ajudar na mobiliza-
através da UFV, centraliza essa organiza- ção, na organização das audiências públi-
ção, é, com professores, e a comunidade, cas. E a outra era a leitura dos EIA/RI-
Gumercindo trazendo seu Paulo e o Zé MA’s, porque normalmente é um pacote
Roberto trazendo seu Geraldo, na época muito grande, com muitas informações,
lá de Casa Nova. E fazendo essas reuniões que muitas vezes as comunidades elas não
aqui, ele faz um projeto de extensão. (sen- conseguem entender o que está escrito lá.
hor Leonardo Rezende, 2011) Então uma ideia era estar fazendo, então,
meio que um entendimento né, até mesmo
Como se observa na fala do profes- a tradução do que estava escrito lá pra...
sor Franklin, o mesmo se apresenta como o junto com a comunidade, para entender
articulador das atividades de assessoria. De o que estava lá. Uma outra coisa era que
fato, segundo diferentes relatos, o professor muitas vezes esses EIA/RIMA’s eles tin-
Franklin liderava o trabalho de agregar lider- ham que ser avaliados, e discutidos nas
anças de diversos segmentos para a discussão audiências públicas. Então muitos desses
das questões que se apresentavam, consistindo, EIA/RIMA’s tinham muitos erros, então o
este, na avaliação técnica dos EIA/RIMA’s. Esta que a gente fazia era fazer uma avaliação
análise ficava a cargo do corpo acadêmico da técnica desses EIA/RIMA’s, então como
UFV, atividade que contava com a participação eu sou da área de solos, eu fazia muito
de professores de diferentes áreas do conheci- a avaliação, eu e o Luis, e fazemos até
mento, como se percebe pelo relato da profes- hoje, ainda, quando é preciso, avaliação
sora Irene Cardoso: da parte física do EIA/RIMA. Então os
estudos de solo, relevo, geologia, a gente
É, na verdade tinha uma demanda que fazia então essas avaliações pra estar dis-
era... porque todas as barragens iam ser cutindo então nas audiências públicas,
179
pra ta enviando, mandando pra FEAM, peixe, ó, que aqui tem a piaba, aqui tem
pra FEAM ter então a... o parecer técnico o cascudo, tem o lambari e a cará”. E o
sobre as questões que estavam colocadas atingido: “mas não falaram que tem o su-
ali... e outra participação era na audiência rubim”. “Tem?” “Tem”. É o atingido que
pública. Então, ir na audiência pública, falou. “Não falaram que tem o dourado
pra estar dando o depoimento sobre o não”. “Mas tem o dourado aí?” “Tem”. A
que nós encontramos de incoerência nos comunidade estava contribuindo, não era
EIA/RIMA’s, e não eram poucas. (profes- passiva. Era troca de saber. Era um trab-
sora Irene Cardoso, 2011) alho de dissecagem do EIA junto com a
comunidade. (senhor Zé Roberto, 2011)
Como se percebe do depoimento acima,
além da avaliação técnica dos estudos ambi- Neste sentido, a experiência de Pilar,
entais trazidos pelos empreendedores, a mo- retratada nos depoimentos acima, é frequent-
bilização das comunidades ameaçadas pelas emente trazida como exemplo de mobilização
barragens era também uma preocupação dos comunitária. Neste contexto, desperta a aten-
assessores. O envolvimento direto das próprias ção o depoimento da professora Irene Cardo-
comunidades era importante, tanto na contesta- so, ao mencionar que presenciou, ao término
ção às informações trazidas pelos estudos ofici- da audiência pública do Projeto Pilar, o palco
ais, quanto nas mobilizações públicas, como se totalmente coberto por produtos oriundos da
pode depreender dos relatos seguintes: atividade de agricultura desenvolvida pelos
moradores da comunidade, contrariando a afir-
Ih, foram várias viagens... Viajamos mação dos empreendedores de que a atividade
várias vezes, fomos a Belo Horizonte na agrícola na região seria insipiente:
FEAM... Belo Horizonte deve ter ido uma
meia dúzia de vezes, para Viçosa, mais Então, em uma das audiências públicas,
umas dez viagens para encontros e semi- que foi na barragem de Guaraciaba, lá de
nários que foram promovidos na Uni- Casa Nova, é, no momento da audiência
versidade. Aqui em Ponte Nova, fizemos pública os agricultores foram colocando
algumas reuniões aqui também... No dia os produtos, então quando as pessoas iam
da audiência, nós reunimos o grupo todo falando, eles iam colocando o que eles
aqui, fomos marchando e cantando aqui, produziam. Cana, abóbora, mandioca,
com pandeiro, com faixa, até o local da inhame, tudo o que eles produziam. No
reunião. O povo totalmente desinibido e final, todo o palco onde estava sendo a
organizado. Fruto do trabalho da assesso- audiência estava completamente coberto
ria. (senhor Zé Roberto, 2011) desses0020produtos. (professora Irene
Cardoso, 2011)
Íamos com as pessoas conhecendo a co-
munidade, comparando com o que o A fala da professora entrevistada retra-
RIMA falava. (...) era onde eles nos mo- ta o comprometimento da população atingi-
stravam... “ó, tá falando que aqui do da pelo projeto Pilar. Neste caso, ao lado do
180
trabalho técnico realizado pela comunidade gerações, quase sempre mais abrangente e
acadêmica, o engajamento da comunidade foi completo do que as informações no EIA-
um fator decisivo para que muitas exigências RIMA, coletadas em pouco tempo por
fossem determinadas pelos órgãos licenciad- membros da equipe técnica contratada
ores como condicionantes para a liberação da pelo empreendedor. Dessa maneira, agri-
construção da barragem. Isto elevou significati- cultores atingidos se sentiram confiantes
vamente o custo inicial da obra, fato que levou em usar a palavra para fazer depoimentos
à desistência dos empreendedores na instalação nas audiências públicas, e eles e a equi-
da barragem. O episódio narrado pela entrev- pe técnica do NACAB/PACAB puderam
istada pode retratar, desta maneira, o enten- identificar erros, deficiências e insuficiên-
dimento trazido por Rothman (2002, p. 47), cias nos EIA-RIMA’s. Desde que a equipe
a respeito da importância da contribuição da do Programa Teia de Extensão começou a
participação popular efetiva para a obtenção de realizar visitas às comunidades atingidas
“resultados positivos ao movimento”. pela PCH Fumaça e pela UHE Candon-
Nesta medida, o depoimento anterior- ga002C e prestar assessoria aos atingidos
mente apresentado confirma a percepção tra- de Fumaça, a troca de saberes entre a
zida pelo professor Franklin, de que a dinâmica equipe técnica e agricultores locais atingi-
dos trabalhos de assessoria propiciou a capaci- das tem sido marco do trabalho. (Profes-
tação das comunidades rurais como sujeitos sor Franklin Rothman, 2011)
capazes de contribuir ativamente, a partir de
suas próprias percepções, com o processo de A menção ao Programa TEIA15, na fala
discussão das consequências da construção das do entrevistado, indica presença de mais um
barragens na Zona da Mata mineira. Segundo importante coletivo a integrar a rede social na
o entrevistado, Zona da Mata. Desde 1996, a equipe do pro-
grama TEIA participou da assessoria a dife-
Por meio desse processo, membros da co- rentes comunidades rurais afetadas por barra-
munidade puderam perceber a importân- gens na região, sendo que o próprio PACAB,
cia e valor do saber local, acumulada por programa de extensão criado pelo professor

15. O TEIA deu início às suas atividades em 2005, e sua participação na rede social analisada é frequentemente lembrada nos casos
de Candonga e Diogo de Vasconcelos, ocasião em que professores do grupo prestaram assessorias às comunidades locais. Desde
a sua criação, a missão do projeto tem sido apontada como a de “gerar interação entre Projetos de Extensão a partir da utilização
de ações integradoras e de intensa participação popular. Com foco na necessária interligação extensão-ensino-pesquisa, procura
a investigação-ação e a interdisciplinaridade através de metodologias participativas e densa dialogicidade. Assim, se fortalecem os
vínculos entre universidade e sociedade propiciadores de uma ecologia de saberes que se diferencia dos clássicos difusionismo, as-
sistencialismo e mera prestação de serviços. Se organiza a partir de Coletivos de Criação organizativos e temáticos (Agroecologia,
Saúde, Tecnologias Sociais, Economia Popular Solidária, Educação e Comunicação Populares, Gestão e Sistematização). Esses Co-
letivos, a partir da interação e demandas dos Projetos envolvidos, promovem ações com base em excursões pedagógicas, avaliação
e planejamento comuns”. Atualmente, conta com uma equipe de 16 (dezesseis) docentes responsáveis por projetos de extensão
de departamentos como Educação, Solos, Geografia, Economia Rural, e Economia Doméstica, sendo este último na pessoa da
professora Júnia Marise, atual coordenadora do PACAB. Informações obtidas no sítio oficial do projeto, disponíveis em <http://
www.ufv.br/teia/historico.htm>, acesso em 08 de dezembro de 2011.
181
Franklin, é hoje um dos projetos integrantes do e aquelas empregadas pelo núcleo da UFV. A
TEIA. Interessante notar que a ideologia de tra- distinção entre o emprego das expressões “as-
balho do TEIA está intimamente ligada aos mé- sessoria técnica” como específica do grupo
todos de atuação adotados desde a formação da acadêmico, e “organização” e “mobilização”
rede, já que o programa tem sua ação lastreada como próprias do núcleo do MAB aponta neste
na capacitação das comunidades rurais a partir sentido.
do saber local, como relatado pela professora Conforme se percebe no depoimento
Irene Cardoso: abaixo, Padre Claret emprega a expressão
“o trabalho que vocês fazem” referindo-se à
O TEIA é um programa de extensão uni- análise dos documentos oficiais realizado pelos
versitária que agrega, que articula vários acadêmicos junto às comunidades, o que indica
projetos de extensão, enquanto programa, que ele próprio, enquanto integrante de um
ele articula vários projetos de extensão. E movimento social, não se percebia dentro do
os projetos que tenham uma identidade. grupo que prestava aquele tipo de atividade:
E que identidade é essa? São projetos que
trabalham com a questão ambiental, com Mas no início, basicamente o que era fei-
os movimentos sociais, com educação to era tentar assim, da parte do pessoal da
de campo, com economia solidária, com universidade, era tentar, eh, traduzir em
tecnologia social, com saúde integral, miúdo, o [EIA-RIMA, né?. Aí o pessoal lia,
e que trabalham na perspectiva da con- lia, lia, e tal, fazia reunião. É sempre útil,
strução do conhecimento. Então não são eu achei o trabalho que vocês fazem, que
os projetos que têm a visão antiga da ex- no caso é... é muito interessante. Porque
tensão, de levar o conhecimento, de levar aí a pessoa se apropriava daquilo, né, com
o sabe0072 para as comunidades, a gente a sua própria linguagem, tal, e era inter-
entende que todos têm um saber, todos essante. E com o objetivo de preparar o
os saberes são importantes e que na in- pessoal pra audiência (...) E a gente entra-
teração, no diálogo entre esses saberes a va, pra tentar organizar o povo, juntar o
gente constrói um saber mútuo. Então a povo, né? Isso acontecia muito, a gente se
ideia é essa, então é uma outra proposta encarregava das... basicamente de juntar
de extensão também. (professora Irene mesmo. (FERNANDES, Antônio Claret.
Cardoso, 2011) Entrevistadora: Andréa Zhouri. Entrev-
ista concedida ao Programa de História
Outro aspecto importante verificado Oral da 0046AFICH. Belo Horizonte, 28
é que os depoimentos apontam para um gra- de janeiro de 2005) (grifei)
dativo direcionamento do MAB local, rumo a
uma maior autonomia em relação ao grupo de A fala do entrevistado aponta clara-
professores da Universidade. A análise das falas mente para uma diferenciação entre o que
permite concluir que, com o passar do tempo, era considerado como o trabalho realizado
foi-se criando uma forma de diferenciação en- pela Universidade, e o que seria o trabalho do
tre as estratégias de trabalho do MAB local próprio movimento local, ao qual Padre Claret
182
se considera vinculado. Desta maneira, embora Horizonte, 28 de janeiro de 2005)
os depoimentos indiquem que a comunidade
universitária também participasse de eventos Percebe-se no relato acima a preocupa-
públicos e das audiências públicas, é preciso ção do entrevistado em desvincular o trabalho
destacar que o papel de mobilização e organiza- de assessoria propriamente dita da Univer-
ção das pessoas sempre aparece mais vinculado sidade, até como uma forma de se propiciar
ao MAB local. uma atuação mais condizente com a lógica de
Conforme sinalizado no depoimento um movimento social. Atualmente, o NACAB
acima, o seguimento do processo de articula- é uma ONG formalmente registrada, mas que
ção entre projeto de extensão da UFV, Igreja atua com limitações. Basicamente, possui como
Católica e lideranças comunitárias, paralela a membros permanentes seu atual presidente,
um processo embrionário de formação de um senhor Leonardo Rezende, ex-aluno do profes-
movimento social de atingidos por barragens, sor Franklin, e outras lideranças comunitárias
dá origem, em 2002, à criação de uma ONG da região, como os senhores Paulo Viana e José
por iniciativa de ex-alunos do projeto de exten- Roberto. A ONG conta ainda com a colabora-
são criado pelo professor Franklin. O objetivo ção de voluntários, a maior parte estudantes,
era justamente dar continuidade ao trabalho sendo grande a rotatividade entre os mesmos,
até então desenvolvido dentro da Universi- como se vê no depoimento de seu coordena-
dade. Neste momento, o projeto de extensão é dor:
rebatizado como PACAB, Projeto de Assessoria
às Comunidades Atingidas por Barragens, e a O NACAB hoje, existe... sou eu... existe
ONG herda o nome NACAB, Núcleo de Asses- a entidade, né. Mas assim, quem tá mais
soria às Comunidades Atingidas por Barragens. à frente, eu, Paulo Viana, Zé Roberto, e
O processo de idealização do NACAB pode tem a contribuição da Aline, mas que em
ser percebido pela fala do professor Franklin, termos sociais no PACAB ela não foi in-
abaixo: cluída, tem o Daniel, que dá apoio... mas
a gente aos trancos e barrancos vai levan-
Ahn... (...) 97, 98, surgiu a ideia, né, de do a entidade, que, querendo ou não,
uma ONG. Tentar pensar sobre, assim, ela é sujeito ativo na ação civil pública,
uma ONG também para instituciona- então a gente tem várias ações civis públi-
lizar esse trabalho (...) a Universidade cas do NACAB... então a gente mantém a
pode fazer alguma assessoria mas não de entidade, é, com as mesmas dificuldades
forma institucional, movimento popu- de sempre. (senhor Leonardo Resende,
lar exige, né, um trabalho mais de perto, 2011)
no dia-a-dia, e... e... uma ONG tem mais
condições do que uma Universidade para O senhor Leonardo Rezende, autor do
fazer... para fazer isso, né? (ROTHMAN, depoimento acima, é ex-orientando do profes-
Franklin Daniel. Entrevistadora: Andréa sor Franklin no mestrado em Extensão Rural.
Zhouri. Entrevista concedida ao Pro- O seu envolvimento com a rede se dá em 1997,
grama de História Oral da FAFICH. Belo quando o mesmo ingressa no projeto de exten-
183
são, e adota como tema de pesquisa de mes- contribuições da ON0047 NACAB são
trado a temática das barragens. Seu nome é fre- muitas, principalmente como resultado da
quentemente citado pelos atores entrevistados assessoria jurídica de Leonardo Rezende,
como uma pessoa que se engajou e deu con- no período de quase quinze anos. (profes-
tinuidade ao trabalho, vinculando-o, inclusive, sor Franklin Rothman, 2011)
à sua área de formação profissional, o Direito.
Inicialmente, NACAB e PACAB con- É possível perceber, pelos depoimentos,
fundem-se em várias ocasiões, até mesmo pela que outras organizações, além do MAB region-
identidade de seus integrantes. Quem era partic- al, PACAB, NACAB e TEIA, são percebidas na
ipante do PACAB, também participava de NA- região como importantes para o trabalho junto
CAB. O que se vislumbra é que, a princípio, as às comunidades atingidas pelas barragens. Uma
duas organizações consistiam quase que numa delas é a CPT-MG, sendo frequentemente men-
entidade única, só que com esferas de atuação cionadas as pessoas da senhora Sônia Loschi e
diferentes: PACAB vinculado à UFV, enquanto senhor João, além de Ricardo Ribeiro, que foi
NACAB como organização civil autônoma. At- o agente que facilitou a inserção do professor
ualmente, o cenário se alterou: até mesmo pela Franklin neste universo na Zona da Mata, con-
atual administração do projeto de extensão, PA- forme demonstra o depoimento seguinte:
CAB e NACAB continuam próximos, contudo,
mais individualizados. Hoje, a atuação do NA- Fora da UFV, a contribuição da CPT-MG
CAB é percebida como a assessoria jurídica nos tem sido significativa, começando com
processos de licenciamento ambiental, prestada Ricardo Ferreira Ribeiro, em 1995 e, a
essencialmente por seu presidente, na condição partir de 1997, o trabalho de Sônia Los-
de advogado. Esta percepção, já identificada no chi e seu parceiro de trabalho, João, da
depoimento imediatamente anterior do senhor CPT-Campos das Vertentes. É importante
Leonardo Rezende, é agora reafirmada no de- frisar que, desde esse início, Sônia e João
poimento do professor Franklin: têm desenvolvido seu trabalho de base na
organização e mobilização dos atingidos,
É importante levar em consideração que frequentemente junto com Padre Claret,
parte significativa da assessoria realizada praticamente como militantes do MAB.
pelo projeto de extensão é conduzida em (professor Franklin, 2011)
parceria com NACAB (principalmente a
assessoria jurídica do Leonardo), MAB, Embora pouco recorrente na fala dos
outros parceiros e grupos das comu- entrevistados, é preciso destacar que também é
nidades atingidas. (...) As conquistas ou mencionado nos depoimentos o CEAS16, Con-

16. O CEAS, ou Conselho Estadual de Assistência Social, é uma instância do governo de Minas criado por meio da Lei 12.262,
de 23 de julho de 1996, vinculado à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social. Possui caráter deliberativo e participativo
de assistência social. O órgão conta com composição paritária de vinte membros, sendo 10 (dez) representantes de órgãos gover-
namentais e 10 (dez) representantes de entidades não-governamentais. Nos últimos tempos, o CEAS tem atuado na mediação de
situações de conflito social tais como as decorrentes da implantação de hidrelétricas, valendo destacar a sua recente intervenção
na mediação de Candonga. Informações disponíveis em “http://www.conselhos.mg.gov.br/ceas/pagina/home”, acesso em 11 de
dezembro de 2011.
184
selho Estadual de Assistência Social do Estado da rede social estudada. Porém, acreditamos
de Minas Gerais. A menção ao Conselho se deu que, em decorrência deste processo de media-
por ocasião da referência ao processo de medi- ção, possivelmente o Conselho venha a fortal-
ação realizado no caso Candonga17, conforme ecer sua presença e ganhar evidência dentro da
relata o senhor Zé Antônio: rede social na Zona da Mata, o que inclusive
poderá ser analisado em estudos posteriores.
No geral, a assessoria do MAB, a asses- Outro fato que se destaca pela análise
soria do CEAS, e a força com o prefeito, dos depoimentos coletados é que, além de ser
e nossa posição, de atitude, que nós nun- seu principal idealizador, a figura do profes-
ca abrimos mão disso aí. Porque poderia sor Franklin foi fundamental para a articulação
ter todas essas forças também, mas se a dos organismos coletivos integrantes da rede.
gente tivesse enfraquecido, entendeu, a Isto porque, em praticamente todos os casos, as
gente não receberia nada, porque as for- pessoas que iam gradativamente se envolvendo
ças, quem tem direito, quem tem o direito com o trabalho de assessoria a comunidades
somos nós. Mas nós unimos a nossa força atingidas por barragens na Zona da Mata min-
com a força daqueles que nos apoiaram. eira o faziam, de um modo ou outro, devido à
Então nós chegamos a um final feliz. (sen- sua ligação com o referido professor.
hor Zé Antônio, 2011). Esta relação é bem visível, por exem-
plo, entre PACAB e NACAB, ambos núcleos
Como se observa na fala do entrevista- acadêmicos que contavam com a participação
do, o mesmo arrola o CEAS, juntamente com do professor Franklin. O próprio núcleo lo-
outras pessoas e instituições que se mostraram cal do MAB se constitui na região a partir do
importantes na condução do processo de me- conhecimento articulado entre padre Claret
diação em Candonga. Porém, é preciso res- e professor Franklin. Esta dinâmica resta evi-
saltar que, ao que se depreende dos relatos, a denciada na fala do senhor Leonardo Rezende,
intervenção do CEAS na região se deu muito conforme se pode perceber abaixo:
recentemente, motivo pelo qual não nos parece
haver, por hora, elementos concretos o sufici- Mas eu vejo que o projeto de extensão
ente para concluir acerca sua relevância dentro foi o grande responsável, o MAB, ele

17. Recentemente, foi estabelecido na comunidade atingida pela UHE Candonga, hoje UHE Risoleta Neves, um processo de me-
diação, com intervenção do CEAS. No dia 16 de março de 2011, o Conselho cancelou a aprovação do PAS (Plano de Assistência
Social) apresentado pela empresa. A medida se reveste de importância porque a aprovação do PAS pelo Conselho é requisito
obrigatório para a concessão da Licença de Operação (LO), conforme determina a Lei Estadual 12. 812/98 (MG). Tal ocorreu
porque o CEAS apurou e acolheu denúncia formulada pelos atingidos de que a empresa não havia cumprido com duas condicio-
nantes determinadas na Res. CEAS 39/2003, quais sejam: a implantação do programa de Reativação Econômica, e a “concessão de
terreno, em área produtiva, de 200 m² para cada família titular de um imóvel na área urbanizada de Nova Soberbo, próximo às
residências, cercado, com água disponível, com fornecimento de suporte técnico para produção, bem como de insumos e imple-
mentos agrícolas, de modo a recompor os pomares e hortas inundados”, nos prazos respectivos de 30 e 180 dias. Além disso,
foram descumpridas outras duas questões: a reforma das casas em Nova Soberbo, que foram construídas com as cozinhas viradas
para a rua, e a legalização dos registros dos imóveis feitos no distrito de Nova Soberbo.
185
custou a se formar aqui, porque precisa- rede, conforme procura esquematizar a Figura
va de movimentação de base, o MAB só 1:
veio a criar assim um vínculo forte com
a entrada do Claret, ele criou um movi- Figura 1. Articulação da rede social estudada a
mento mais de base, mas começou a ar- partir da figura do professor Franklin.
ticulação em cada comunidade. Tinha o
MAB porque que tinha as comunidades
ocupadas com os projetos. E o NACAB já
é um fruto mais de 2003, que quando ess-
es estudantes, que trabalhavam em 96, 97
se formaram, perceberam a oportunidade
de trabalho na ONG de prestar serviço às
comunidades. E aí surge o NACAB como
uma forma de... uma entidade para, para
poder fazer projetos, apoiar...(senhor
Leonardo Rezende, 2011)

A fala do entrevistado evidencia um elo


comum entre os coletivos que iam gradativa-
mente se estabelecendo na região. A partir da
articulação que é relatada pelo senhor Leon-
Fonte: Elaborada pelos autores.
ardo Rezende, é possível observar que nosso
objeto de estudo na presente pesquisa consiste Desta maneira, trata-se, na verdade, de
especificamente em uma rede social construída uma rede social formada por nós coletivos (as-
na Zona da Mata mineira, formada pela articu- sociativismos locais), ou seja, no dizer de Sher-
lação entre coletivos que tinham como objetivo er-Warren (2006), coletivos em rede, conforme
comum, primordialmente, a defesa dos direitos apresentado na Figura 2:
e interesses das comunidades atingidas por bar-
ragens. Figura 2. Rede Social na Zona da Mata min-
Um importante fator a ser observado é eira.
que o elo comum entre os coletivos formadores
da rede social, ou seja, a procura pela legitima-
ção de direitos de comunidades rurais impacta-
das por empreendimentos hidrelétricos, pas-
sava necessariamente pela figura do professor
Franklin e se estendia dentre outras pessoas-
chave identificadas dentro da rede social. Este
elo mútuo foi o que facilitou o diálogo e a atu-
ação conjunta entre os coletivos da rede social
em formação, propiciando a sua articulação em

Fonte: Elaborada pelos autores.


186
Percebe-se, desta forma, que os próprios partir de uma perspectiva mais ampla, é pos-
“nós” que compõem a rede analisada nesta pes- sível perceber que ela, ao mesmo tempo em que
quisa (PACAB, MAB local, comunidades, etc) consiste numa rede em si própria, é também o
consistem em nós coletivos – estes nós, por sua nó de outra rede ainda mais complexa, ou seja,
vez, também são redes. Ou seja, estes coletivos a rede de movimento social formadora do MAB
ou, no dizer de Sherer-Warren (2006), associa- nacional19, conforme ilustra a Figura 3:
tivismos locais, ao se articularem, consistem em
coletivos em rede, que são formadores de redes
de redes. Em outras palavras, trabalhamos aqui 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
com uma rede social de coletivos em rede, ou
seja, uma rede que é formada por outras redes. E Perceber o meio ambiente enquanto ter-
num segundo momento, esta nossa rede é tam- ritório simbólico e materialmente contestável
bém o “nó” de outra rede ainda mais complexa, implica reconhecer os conflitos ambientais
ou seja, a rede de movimento social formada no como relações assimétricas de poder, através
Brasil pelo MAB nacional. dos quais os distintos atores sociais, munidos de
Isto porque, quando observarmos a rede diferentes formas de conceber e interagir com o
social presente na Zona da Mata mineira a
18
meio ambiente, se enfrentam pelo domínio de
um mesmo território.
Figura 3. Rede de movimento social do MAB Neste sentido, no que toca ao campo da
Nacional, mostrando como um dos nós que a construção de empreendimentos hidrelétricos,
compõem a rede social presente na Zona da abre-se espaço para o questionamento da vali-
Mata mineira. dade dos paradigmas da política de gestão e de-
senvolvimento sustentável, na medida em que
vêm à luz as contradições do modelo econômi-
co vigente, que reflete um intricado processo
de monopolização dos recursos naturais por
parte dos grupos sociais dominantes, que têm a
seu dispor todo um poderio politico-econômi-
co para impor seus interesses na construção
de barragens, desconsiderando os modos de
apropriação tradicionais do espaço por outros
grupos sociais economicamente mais frágeis e
vulneráveis.
Fonte: Elaborada pelos autores. Logo, o setor energético brasileiro tem

18. Esclarecemos que no presente trabalho, sempre que nos referirmos ao nosso objeto de estudo, empregaremos a expressão
rede social. Embora já tenha sido apontado que, numa perspectiva mais ampla, esta rede é também o nó ou elo de uma rede de
movimento social, numa perspectiva local, ela continua a ser uma rede social.
19. Importante ressaltar que a rede social objeto da presente pesquisa tem como um de seus nós coletivos o núcleo local do MAB
Zona da Mata, que não se confunde com o Movimento de Atingidos por Barragens em nível nacional.
187
se mostrado como campo ambientalmente in- Neste contexto, tendo como referência
justo, já que as comunidades dos atingidos ca- central a figura de seu principal articulador, o
recem de recursos que as tornem capazes de se professor Franklin, delineiam-se na Zona da
colocar em pé de igualdade com o empreend- Mata, Minas Gerais, os contornos da rede so-
edor, o que acaba por destituí-las da condição cial estudada, que se constrói a partir da articu-
de sujeitos da relação para meros expectadores lação entre o projeto de extensão liderado por
no processo de apropriação de espaços. Desta este professor, o PACAB, e outros organismos
forma, os atingidos pelo empreendimento de- coletivos, como o núcleo regional do MAB na
ixam de ser considerados como verdadeiros Zona da Mata mineira, a ONG NACAB, além
sujeitos ativos do processo para ser encarados da atuação das respectivas lideranças comu-
como mais um elemento constitutivo da paisa- nitárias em cada localidade. À rede social sob
gem natural, igualmente passíveis de remaneja- análise agregam-se ainda coletivos como a Igre-
mento e adequação. ja Católica/CPT, e o programa TEIA, da UFV.
Percebe-se, desta forma, a necessidade Constatamos, desta maneira, a existên-
de se questionar a legitimidade de um para- cia de uma rede social em operação na Zona da
digma que inscreve desenvolvimento e cresci- Mata mineira, formada pela articulação entre
mento econômico numa mesma concepção, e coletivos, cujo objetivo comum é, primordi-
no qual perpetua-se um sistema extremamente almente, a defesa dos direitos e interesses das
injusto em termos sócio-ambientais, já que são comunidades atingidas por barragens. Trata-se,
os segmentos sociais mais vulneráveis aqueles na verdade, de uma rede social formada por
que arcam com as maiores cargas de prejuízos nós coletivos. Em outras palavras, trabalhamos
ambientais, tudo em nome de um suposto “in- aqui, conforme expressa Sherer-Warren (2006),
teresse energético”, que nem sempre é com- com uma rede de coletivos em rede, ou seja,
patível com o desgaste e sofrimento de quem é uma rede que é formada por outras redes.
diretamente atingido. Importante ainda destacar que, dentro
Dentro deste quadro característico de da perspectiva da sociedade em rede, tal como
injustiça ambiental é que tem se destacado a proposta por Castells (1.999), a rede social que
importância da assessoria prestada por grupos consistiu em nosso objeto de estudo insere-se
de apoio, como movimentos sociais, segmentos num contexto muito mais amplo, tornando-se,
progressivos e Igreja, Universidades, ONG’s e ela mesma, enquanto rede, parte de uma estru-
órgãos técnicos e políticos do governo como tura que é designada por Sherer-Warren (2006)
forma de se equilibrar a balança em relação aos como rede de movimento social. Desta maneira,
atingidos pela obra (que estão em posição fla- no caso específico da Zona da Mata mineira, a
grantemente desvantajosa), diminuindo-se, as- rede social pesquisada é também o “nó” de out-
sim, as desigualdades de poder na relação. A as- ra rede ainda mais complexa, ou seja, a rede de
sessoria é fundamental também para efetivar e movimento social formada no Brasil pelo MAB
fortalecer a participação das comunidades nos nacional.
processos de licenciamento ambiental, arena de Desta maneira, ao buscar evidenciar as
materialização, por excelência, destes conflitos contradições advindas da implantação de em-
sócio-ambientais. preendimentos como as hidrelétricas que, legit-
188
imados como indispensáveis para o desenvolvi- BULLARD, R. Enfrentando o racismo ambien-
mento do país, pouca margem de opção têm tal no século XXI. Tradução de Carlos Macha-
deixado para as populações locais a respeito do de Freitas. In: ACSELRAD, H. et.al. (Org.).
das escolhas do chamado “desenvolvimento”, Justiça ambiental e cidadania. Rio de Janeiro:
a rede social analisada, como rede e também Relume Dumará, 2004b. 316p.
como nó, tem evidenciado a sua importância
na contribuição para com o processo de legiti- CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Pau-
mação de direitos e construção de justiça ambi- lo: Paz e Terra, 1999, 698p.
ental.
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