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NITROGÊNIO NA PRODUÇÃO DE MATÉRIA SECA,

TEOR E RENDIMENTO DE PROTEÍNA BRUTA DE


TRÊS GRAMÍNEAS DO GÊNERO Cynodon 1

DANIELA DE PARIS MENEGATTI2


GUDESTEU PORTO ROCHA3
ANTÔNIO EDUARDO FURTINI NETO4
JOEL AUGUSTO MUNIZ5
RESUMO – O presente trabalho foi conduzido em con- tratamentos foram arranjados num esquema de parcelas
dições de campo, no Departamento de Zootecnia da U- subdivididas, em que as parcelas foram compostas pelas
niversidade Federal de Lavras (UFLA), MG, com o obje- gramíneas e as subparcelas, pelas doses de nitrogênio.
tivo de avaliar a produção de matéria seca, teor e rendi- A adubação nitrogenada incrementou a produção de ma-
mento de proteína bruta nos capins Coastcross (Cyno- téria seca, teor e rendimento de proteína bruta das gra-
don dactylon (L.) Pers x Cynodon nlemfüensis Van- míneas estudadas. A resposta à adubação nitrogenada
deryst), Tifton 68 (Cynodon sp.) e Tifton 85 (Cynodon foi semelhante para as três gramíneas. As maiores taxas
sp.), submetidos a quatro doses de nitrogênio (0, 100, de eficiência de utilização e de recuperação aparente do
200 e 400 kg/ha), na forma de sulfato de amônio. O solo nitrogênio foram obtidas com a dose de 100 kg de N/ha.
da área experimental foi um Latossolo Vermelho-Escuro O período em que foram realizados os cortes, de feverei-
distrófico. Ao iniciar o experimento, esse solo foi devi- ro a abril de 1998, não caracterizou adequadamente a é-
damente corrigido e, por ocasião do plantio das gramí- poca chuvosa; no entanto, por meio dele pôde-se verifi-
neas, em outubro de 1997, recebeu uma adubação básica car a influência do nitrogênio sobre o crescimento e o
(com N, P e K). O delineamento experimental utilizado foi valor nutritivo das gramíneas.
o de blocos completos ao acaso com seis repetições e os
TERMOS PARA INDEXAÇÃO: Cynodon, nitrogênio, matéria seca, proteína bruta.

NITROGEN IN DRY MATTER YIELD, CRUDE PROTEIN CONTENT


AND YIELD OF THREE GRASSES OF GENUS Cynodon
ABSTRACT – The present research was conducted blocks with six replications and the treatments were
under field conditions at the Department of Animal arranged in a split plot scheme, where the plots were
Science of the Federal University of Lavras (UFLA), MG, made up of the grasses and the subplots of the doses of
with the objective of evaluating the dry matter yield, nitrogen. Nitrogen fertilization enhanced both dry matter
crude protein content and yield in the grasses yield, crude protein content and yield of the grasses,
Coastcross (Cynodon dactylon (L.) Pers x Cynodon studied. The response to nitrogen fertilization was
nlemfüensis Vanderyst), Tifton 68 (Cynodon sp.) and similar for the three grasses. The highest rates of
Tifton 85 (C ynodon sp.) submitted to four doses of utilization efficiency and apparent recovery of nitrogen
nitrogen (0, 100, 200 e 400 kg/ha), as ammonium were obtained with the dose of 100 kg de N/ha. The
sulphate. The soil in the experimental area was a period in which the experiment was performed, February
Distrophic Dark Red Latosol. In starting the experiment until April, did not characterize adequately the rainy
this soil was duly corected and on the occasion of the season but through it, verifyng the influence of nitrogen
planting of the grasses, in october/1997, a basic on growth and nutritive value of the grasses was
fertilization was applied (with N, P and K). The possible.
experimental design utilized was that of randomized
INDEX TERMS: Cynodon, nitrogen, dry matter, crude protein.

1. Parte da dissertação apresentada à UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS/UFLA – Caixa Postal 37 – 37200-


000 – Lavras, MG, pelo primeiro autor, como um dos requisitos do curso de mestrado em Zootecnia, área de
concentração Forragicultura e Pastagens.
2. Zootecnista, M. Sc., Departamento de Zootecnia/UFLA.
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3. Engenheiro Agrônomo, D.Sc., Professor do Departamento de Zootecnia/UFLA.


4. Engenheiro Agrônomo, D.Sc., Professor do Departamento de Ciências do Solo/UFLA.
5. Engenheiro Agrônomo, D.Sc., Professor do Departamento de Ciências Exatas/UFLA.
INTRODUÇÃO seca quando a dose de nitrogênio passou de 336 para
672 kg/ha ano. A adubação nitrogenada proporcionou
As gramíneas do gênero Cynodon vêm se desta- um aumento significativo no teor de PB quando a dose
cando nos últimos anos, sendo freqüentemente reco- de nitrogênio aplicada passou de 336 para 672 kg/ha a-
mendadas como forrageiras para a alimentação de bovi- no. A média da porcentagem de PB para as oito gramí-
nos e eqüinos em todo o mundo. Essas gramíneas são neas foi de 15,5% para a primeira dose citada e de 19%
originárias da África e são consideradas bem adaptadas para a segunda dose.
às regiões tropicais e subtropicais (Vilela & Alvim, 1998). Resultados obtidos durante um ano de avalia-
Além disso, são capazes de produzir elevadas quantida- ções sobre a produção e qualidade de Tifton 68 e Tifton
des de forragem de boa qualidade e resistir aos fatores 85 em regimes de corte, em que as gramíneas foram sub-
adversos do clima, sendo encontradas em diversas regi- metidas a cinco doses de N (0, 100, 200, 400 e 600
ões de vários continentes (Gomes et al., 1997). kg/ha/ano) e a três freqüências de corte, demonstram
Vários trabalhos de melhoramento com o gênero que as produções de MS do Tifton 68 e do Tifton 85 são
Cynodon vêm sendo realizados desde a descoberta do semelhantes; porém, o Tifton 85 apresenta uma relação
capim Coastal, em 1943. Já foram lançados vários híbri- folha:colmo mais elevada, sendo, portanto, de qualidade
dos, dentre eles o capim Coastcross (Burton, 1972), Tif- superior ao Tifton 68. Para o Tifton 68, a produção de
ton 68 (Burton & Monson, 1984) e Tifton 85 (Burton et MS variou de 2,2 a 17,3 t/ha na época das chuvas e de
al., 1993). Os híbridos do gênero Cynodon são utiliza- 0,5 a 5,5 t/ha na época seca (respectivamente para as do-
dos para produção de feno e para pastejo, apresentando ses de 0 e 600 kg de N/ha); para o Tifton 85, a produção
alta capacidade de suporte. As principais características de MS variou de 1,9 a 17,8 t/ha e de 0,7 a 5,8 t/ha, respec-
dos híbridos são: boas respostas à fertilização nitroge- tivamente, para a época das chuvas e seca e para as d o-
nada, boa produtividade, melhor qualidade da forragem ses de 0 e 600 kg de N/ha. Observou-se resposta linear
produzida e melhor tolerância ao frio que as linhagens para produção de MS até o nível mais alto de N aplica-
comuns. do e até o maior intervalo de corte adotado (Vilela & Al-
Entre as adubações, merece destaque a adubação vim, 1998).
nitrogenada, pois em condições normais de suprimento Paciulli (1997) estudou o efeito de quatro doses
dos demais nutrientes, o nitrogênio tem influência mar- de nitrogênio (0, 100, 200 e 400 kg/ha) sobre a produção
cante na produtividade das gramíneas forrageiras (Mon- e o valor nutritivo de três gramíneas tropicais (entre elas,
teiro, 1996), além de propiciar o desenvolvimento de te- o capim Coastcross) e observou um aumento na produ-
cidos novos, ricos em proteína e pobres em parede celu- ção de MS, teor e rendimento de PB até a maior dose a-
lar e lignina (Whitney, 1974). plicada. Quanto à eficiência de utilização, o autor verifi-
Segundo Vale et al. (1995), a adubação nitroge- cou uma diminuição da eficiência com o aumento da do-
nada precisa ser feita de forma muito mais intensa e fre- se de nitrogênio. A eficiência de utilização é medida pela
qüente que a dos demais nutrientes, por causa do seu quantidade de matéria seca produzida por kg de nitrogê-
baixo efeito residual e sua grande exigência pelas cultu- nio aplicado em relação à produção na dose zero de ni-
ras. A prática da adubação nitrogenada promove consi- trogênio, e a recuperação aparente é medida pela quanti-
deráveis aumentos na produção de matéria seca (MS) dade de nitrogênio acumulado na forrageira na dose a-
das forrageiras (Alvim et al., 1987; Carvalho & Saraiva, plicada em relação ao nitrogênio acumulado na dose zero
1987) e no teor e rendimento de proteína bruta das plan- (Carvalho & Saraiva, 1987).
tas (Monson & Burton, 1982; Lopes & Monks, 1983; Dias (1993) estudou o efeito de níveis crescentes
Alvim et al., 1987). de nitrogênio em capim Coastcross e observou uma mai-
Monson & Burton (1982) estudaram o efeito da or eficiência de utilização do nitrogênio de 35,51 kg de
freqüência de corte e adubação nitrogenada sobre a MS/kg de N aplicado com a dose de 100 kg N/ha/ano,
produção, qualidade e persistência de oito gramas- constatando uma redução na eficiência de utilização do
bermuda em dois anos de cultivo (1976 e 1977). Emb ora a nitrogênio à medida que as doses foram aumentadas.
produção de matéria seca tenha apresentado diferenças Segundo Werner et al. (1967), a aplicação do ni-
significativas entre os diferentes cultivares, observou-se trogênio de forma parcelada é mais eficiente do que em
um aumento significativo na produção média de matéria
uma única aplicação, quando consideram-se produção
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de matéria seca, teor de proteína, produção de proteína realizado o experimento, foi de 1.213,6 mm. O solo onde
por hectare e porcentagem de recuperação do nitrogênio foi instalado o experimento é classificado como Latosso-
aplicado. Esses autores citam que o capim-pangola apre- lo Vermelho-Escuro distrófico, possuindo uma topogra-
sentou, no primeiro ano de cultivo, um teor de PB de fia levemente inclinada (declividade de aproximadamente
6,84%, quando utilizaram-se 0 kg de N/ha e um teor de 12%).
11,34% para a dose de 400 kg de N/ha, sendo a produção Por ocasião do início do experimento, foram cole-
de PB de 659 kg/ha e de 3330 kg/ha, respectivamente. tadas amostras de solo na área experimental (agosto de
Dias (1993) obteve uma máxima recuperação aparente do 1997). As amostras foram analisadas pelo Departamento
nitrogênio de 63,83% para o capim Coastcross quando a de Ciências do Solo da UFLA, Lavras- MG, e suas ca-
dose utilizada foi de 30 kg de N/ha corte (100 kg de N/ha racterísticas estão apresentadas no Quadro 1.
ano). De acordo com os resultados da análise do solo,
Objetivou-se com o presente trabalho avaliar o foi realizada calagem para elevar a saturação por bases
efeito de doses de nitrogênio sobre a produção, teor e (V%) para 60%. Para essa correção, utilizou-se um calcá-
rendimento de proteína bruta dos capins Coastcross, rio dolomítico com PRNT 75%, aplicando-se 2,0 t/ha, in-
Tifton 68 e Tifton 85, sob as condições de clima e solo corporado sessenta dias antes do plantio.
brasileiros. Por ocasião do plantio, foi realizada uma aduba-
ção básica que consistiu da aplicação de 500 kg/ha de
MATERIAL E MÉTODOS superfosfato simples, 200 kg/ha de cloreto de potássio e
O experimento foi instalado em condições de 200 kg/ha de sulfato de amônio. O superfosfato simples
campo em área do Departamento de Zootecnia da UFLA, foi distribuído em um única aplicação, nos sulcos de
em Lavras, região sul do Estado de Minas Gerais. Pela plantio; no entanto, o cloreto de potássio e o sulfato de
classificação de Köppen, o clima da região é do tipo amônio foram distribuídos em duas aplicações, metade
Cwa, a precipitação pluviométrica média anual é de 1.493 por ocasião do plantio e metade em cobertura 30 dias
mm, apresentando uma estação “seca” (abril a setem- após o plantio.
bro) e uma “chuvosa” (outubro a março). A temperatura O delineamento experimental utilizado foi o DBC
média anual é de 19,36°C, com máxima de 26ºC e mínima (Delineamento em blocos completos ao acaso) com seis
de 14,6°C (Vilela & Ramalho, 1979). A precipitação do pe- repetições e os tratamentos foram arranjados
ríodo de julho/97 a junho/98, período dentro do qual foi

QUADRO 1 – Caracterização química do solo da área experimental (0 – 20 cm)*.

Atributos Valores Interpretação


pH em água 5,7 Acidez média
3
P (mg/dm ) 2 Baixo
+ 3
K (mg/dm ) 27 Baixo
2+ 3
Ca (mmolc /dm ) 37 Médio
2+ 3
Mg (mmolc /dm ) 2,0 Baixo
3+ 3
Al (mmolc /dm ) 0,0 Baixo
+ 3+ 3
H + Al (mmolc /dm ) 50 Médio
3
S (mmolc /dm ) 40 Médio
3
T (mmolc /dm ) 40 Médio
3
T (mmolc /dm ) 90 Médio
M (%) 0,0 Baixo
V (%) 44 Baixo

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Matéria Orgânica (%) 3,7 Alto


* Análises realizadas nos laboratórios do Departamento de Ciência do Solo da UFLA, segundo a metodologia da
EMBRAPA (1997).
num esquema de parcelas subdivididas. As parcelas fo- te de uniformização (White, 1973); a segunda parcela (0,
ram compostas pelos capins: Coastcross (Cynodon 40, 80 e 160 kg de N/ha), 7 dias após o primeiro corte de
dactylon (L.) Pers x Cynodon nlemfüensis Vanderyst), avaliação, e a terceira parcela (0, 30, 60 e 120 kg de N/ha),
Tifton 68 (Cynodon sp.) e Tifton 85 (Cynodon sp.); nas 7 dias após o segundo corte de avaliação.
subparcelas, foram testadas as diferentes doses de ni- Os cortes das forrageiras em estudo foram feitos
trogênio: 0, 100, 200 e 400 kg/ha. A área total do exp eri- a 10 cm de altura do solo usando roçadeira costal moto-
mento (incluindo os corredores) foi de 812,50 m2, sendo rizada, e os intervalos entre cortes foram fixados em 35
a área útil, para colheita de material, de 1,0 m2, no centro dias. Foram realizados três cortes nas seguintes datas:
de cada unidade experimental (subparcela), ficando o 19/02/98; 26/03/98 e 30/04/98. Por ocasião dos cortes, fo-
restante como bordadura. ram colhidas amostras de cada unidade experimental pa-
O experimento foi iniciado em agosto/1997 com a ra realizações das análises propostas.
colheita de amostras de solo para análises no Departa- A produção de MS das forrageiras nos respec-
mento de Ciências do Solo da UFLA. Em função dos re- tivos tratamentos foi calculada a partir da forragem ver-
sultados dessas análises, foram aplicados os corretivos de, colhida em 1,0 m2 de área útil, corrigindo-se a produ-
e fertilizantes. Ainda no mês de agosto, foram realizadas ção de matéria verde de cada unidade experimental e em
as operações de gradagem e sulcagem e, em outubro, foi cada repetição pelo seu respectivo teor de MS.
realizado o plantio das forrageiras com as mudas prove- Para a determinação dos teores de MS, foi reali-
nientes do painel de forrageiras do Departamento de zada uma pré-secagem das amostras em estufa de circu-
Zootecnia da UFLA, em sulcos espaçados de 0,5 m. Em lação forçada em temperatura de 55-60oC, e depois uma
janeiro/98, quando as forrageiras estavam bem instala- secagem definitiva (105oC) para determinação da matéria
das, foi realizado um corte de uniformização a 10 cm do seca a 100oC (Horwitz, 1975). Os teores de PB foram de-
solo. terminados pelo método de Kjeldahl (Horwitz, 1975).
As aplicações de nitrogênio foram feitas em co- A eficiência de utilização do nitrogênio (E.U.N.) e
bertura, a lanço, de forma parcelada: a primeira parcela (0, a recuperação aparente do nitrogênio (R.A.N.) foram
30, 60 e 120 kg de N/ha, respectivamente para as doses calculadas respectivamente pelas seguintes fórmulas:
de 0, 100, 200 e 400 kg/ha), foi aplicada 7 dias após o cor-

E.U.N. = kg MS produzida na dose nN – kg MS produzida na dose 0


kg de N aplicado

R.A.N. = N recuperado na dose nN – N na dose N 0 x 100


N aplicado

As variáveis qualitativas foram testadas pelo tes- lhante quanto à resposta ao nitrogênio para a produção
te de Tukey a 5% e as quantitativas, por meio de equa- de matéria seca, sendo essa resposta linear (Figura 1).
ções de regressão. Pelos resultados, verifica-se que esses são iguais
aos de Carvalho & Saraiva (1987); Alvim et al. (1987);
RESULTADOS E DISCUSSÃO Paciulli (1997); que afirmam que o uso de adubação ni-
trogenada influenciou positivamente a produção de ma-
Produção de Matéria Seca
téria seca das forrageiras analisadas. Vilela & Alvim
Observou-se apenas efeito (P<0,01) de doses de (1998) também observaram aumento linear na produção
nitrogênio sobre a produção de matéria seca. Dessa ma- de matéria seca dos capins Tifton 68 e Tifton 85 com a
neira, as três gramíneas comportaram-se de forma seme- utilização de doses crescentes de nitrogênio (0; 100; 200;

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400 e 600 kg/ha/ano). Neste trabalho, as médias de pro- 3,11; 3,63 e 4,18 t/ha para as doses de 0, 100, 200 e 400 kg
dução de matéria seca das três gramíneas foram de 2,23; de N/ha, respectivamente (Quadro 2).

5
4
MS (t/ha)

3
Y= 2,47114 + 0,00466x (R2= 0,92) (P<0,01)
2
1
0
0 100 200 300 400
Doses de N (kg/ha)

FIGURA 1 – Efeito de doses de nitrogênio na produção total de matéria seca dos capins Coastcross, Tifton 68 e Tif-
ton 85 (soma dos três cortes e média das três gramíneas).

QUADRO 2 – Produção acumulada (soma de três cortes) de matéria seca (t/ha) dos capins Coastcross, Tifton 68 e
Tifton 85 em função das doses de nitrogênio.

Doses de N Gramíneas
Médias
kg/ha Coastcross Tifton 68 Tifton 85
0 2,32 2,14 2,23 2,23
100 3,11 2,92 3,30 3,11
200 3,41 3,53 3,96 3,63
400 3,93 4,30 4,31 4,18
Médias 3,19 3,22 3,45

As produções de matéria seca encontradas no Eficiência de Utilização de N


presente trabalho estão abaixo das produções citadas
Quanto à eficiência de utilização do nitrogênio, o
na literatura para gramíneas da mesma espécie (Alvim et
capim Tifton 85 apresentou os maiores valores, 10,70 kg
al., 1996; Paciulli, 1997; Vilela & Alvim, 1998). Isso pode
de MS por kg de nitrogênio aplicado, na dose de 100 kg
ter ocorrido porque os cortes foram realizados no perío-
de N/ha. Nessa mesma dose, os capins Coastcross e Tif-
do de 19/02 a 30/04/1998, sofrendo, portanto, influência
ton 68 atingiram eficiência de 7,90 e 7,80 kg de MS por kg
da menor precipitação pluvial e de uma diminuição na
de nitrogênio aplicado, respectivamente (Quadro 3).
luminosidade e temperatura por causa do início da época
À medida que se elevaram as doses de nitrogê-
seca, o que pode ter contribuído para uma queda na
nio, ocorreu uma redução da eficiência de utilização do
produção.
nitrogênio pelas gramíneas; isso porque, ao se adicionar
doses crescentes de um nutriente, o maior incremento

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em produção é obtido com a primeira dose; com a utiliza- Na mesma dose, os capins Tifton 68 e Tifton 85 atingi-
ção de doses cada vez maiores, os incrementos de pro- ram teores de 17,21% e 16,68% de proteína bruta na ma-
dução são cada vez menores. Outro fator que contribui téria seca, respectivamente.
para essa queda na eficiência de utilização são as perdas O estudo da interação gramínea x doses revelou
de nitrogênio (principalmente por lixiviação), que se tor- regressões lineares, com aumentos de 0,012; 0,09 e 0,07
nam cada vez maiores com o aumento da dose de adubo unidade no teor de proteína bruta dos capins Coast-
nitrogenado. cross, Tifton 68 e Tifton 85, respectivamente, para cada
Carvalho & Saraiva (1987), trabalhando com ca- quilo de nitrogênio aplicado (Figura 2).
pim-gordura, e Dias (1993), com Coastcross, também ve- Esses resultados concordam com as informações
rificaram uma diminuição na eficiência de utilização do obtidas nos trabalhos de Olsen (1972); Monson & Bur-
nitrogênio à medida que as doses de nitrogênio foram ton (1982); Paciulli (1997), nos quais, todos os capins es-
aumentadas. tudados tiveram incremento no teor de proteína bruta
causado pela adubação nitrogenada. Os teores de prote-
Teor de Proteína Bruta ína bruta obtidos neste trabalho foram superiores aos
Para o teor de proteína bruta, verificou-se efeito valores citados por Vilela & Alvim (1998), em que o ca-
de doses (P<0,01), gramínea (P<0,05) e interação gramí- pim Coastcross, cortado com cinco semanas de idade,
nea x dose de nitrogênio (P<0,05). Analisando-se cada atingiu teores de 12,2 e 13,9% de proteína bruta, nas do-
gramínea em função das doses de nitrogênio, verificou- ses de 0 e 500 kg de N/ha, respectivamente. Esses auto-
se um aumento no teor de proteína bruta das gramíneas res também citam que para o corte com seis semanas de
à medida que a dose de nitrogênio foi aumentada (Qua- idade, obtiveram-se teores de proteína bruta de 5,6 e
dro 4). 11,9% para o Tifton 68 e de 6,9 e 12,2% para o Tifton 85,
Observa-se que para as doses de 0 e 100 kg de respectivamente para as doses de 0 e 400 kg de N/ha, na
N/ha, as três gramíneas comportaram-se de forma seme- época chuvosa. Os teores de proteína bruta mais eleva-
lhante. No entanto, para as doses 200 e 400 kg de N/ha, dos observados neste trabalho podem ser atribuídos a
o capim Coastcross foi superior aos capins Tifton 68 e um provável efeito de concentração de N na forragem,
Tifton 85, e esses dois últimos não diferiram entre si. O por causa dos menores rendimentos de matéria seca ob-
maior teor de proteína bruta foi alcançado pelo capim tidos.
Coastcross na dose de 400 kg de N/ha e foi de 18,49%.

QUADRO 3 – Eficiência de utilização do nitrogênio (kg MS produzida/ kg de N aplicado) dos capins Coastcross, Tif-
ton 68 e Tifton 85 em função das doses de nitrogênio.

Doses de N Gramíneas
kg/há Coastcross Tifton 68 Tifton 85
0 __ __ __
100 7,90 7,80 10,70
200 5,45 6,95 8,65
400 4,03 5,40 5,20

QUADRO 4 – Teor médio de PB (%) dos capins Coastcross, Tifton 68 e Tifton85 em função das doses de nitrogênio.

Doses de N Gramíneas
Médias
kg/ha Coastcross Tifton 68 Tifton 85
0 13,55 a 13,72 a 14,06 a 13,78
100 15,44 a 13,88 a 14,54 a 14,62

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200 17,14 a 15,17 b 14,91 b 15,74


400 18,49 a 17,21 b 16,98 b 17,56
Médias 16,16 15,00 15,12
Médias seguidas de mesma letra na linha não diferem entre si (Tukey, 5%).
Rendimento de Proteína Bruta Siewedt (1984) .e Paciulli (1997) também observaram au-
Verificou-se um aumento linear (P<0,01) de 1,0278 mento no rendimento de proteína bruta das gramíneas
unidade no rendimento de proteína bruta para cada kg estudadas com o aumento das doses de nitrogênio. No
de nitrogênio aplicado (Figura 3), e as três gramíneas a- entanto, os rendimentos encontrados no presente traba-
presentaram comportamento semelhante para essa vari- lho foram inferiores aos encontrados nos trabalhos dos
ável. autores acima citados. No trabalho de Paciuilli (1997), os
O rendimento médio de proteína bruta das três capins Estrela-africana-branca, Estrela-africana-roxa e
gramíneas foi de 313,08; 450,22; 565,08 e 730,48 kg de Coastcross apresentaram rendimentos médios de: 330,
PB/ha para as doses de 0, 100, 200 e 400 kg de N/ha, res- 745, 1107 e 1324 kg de PB/ha para as doses 0, 100, 200 e
pectivamente (Quadro 5). Alvim et al. (1987), Caldas & 400 kg de N/ha, respectivamente.

20

16
PB (%)

12 +Y(CC) = 14,04 + 0,0121x (R2 = 0,94) (P<0,01)

8
•Y(T68) = 13,38 + 0,0092x (R2 = 0,96) (P<0,01)
•Y(T85) = 13,84 + 0,0073x (R2 = 0,95) (P<0,01)
4

0
0 100 200 300 400
Dose de N (kg/ha)

FIGURA 2 – Efeito de doses de nitrogênio no teor médio de PB dos capins Coastcross (CC), Tifton 68 (T68) e Tifton
85 (T85) (média dos três cortes).

800

600
RPB (kg/ha)

400
Y = 334,8508 + 1,0278 x (R2 = 0,98) (P<0,01)
200

0
0 100 200 300 400
Ciênc. agrotec., Lavras, v.26, n.3, p.633-642, mai./jun., 2002
Doses de N (kg/ha)
640

FIGURA 3 – Efeito de doses de nitrogênio no rendimento de proteína bruta dos capins Coastcross, Tifton 68 e Tifton
85 (soma dos três cortes e média das três gramíneas).

A diferença verificada entre os valores encontra- observou-se um declínio na mesma à medida que as do-
dos neste trabalho e aqueles citados em outros traba- ses de nitrogênio foram aumentadas (Quadro 6).
lhos pode ter ocorrido em função de diferenças quanto à No entanto, para o capim Tifton 68, observou-se
espécie de gramínea estudada, época e número de cor- um aumento na recuperação do nitrogênio da dose 100
tes, além de diferenças nas condições climáticas. para a dose 200 e, depois dessa, uma leve queda na dose
400 kg de N/ha. Acredita-se que se as doses contin uas-
Recuperação Aparente do Nitrogênio sem aumentando até valores mais altos, haveria uma
Quanto à recuperação aparente do nitrogênio queda mais acentuada na recuperação aparente do ni-
(R.A.N.), que é calculada com base no rendimento de PB, trogênio desse capim.

QUADRO 5 – Rendimento de PB (kg/ha) dos capins dos capins Coastcross, Tifton 68 e Tifton 85 em função das do-
ses de nitrogênio.

Doses de N Gramíneas
Médias
kg/ha Coastcross Tifton 68 Tifton 85

0 316,49 294,77 327,98 313,08

100 474,12 398,17 478,36 450,22

200 582,93 526,32 585,99 565,08

400 718,94 740,87 731,67 730,48

Médias 523,12 490,03 531,00

QUADRO 6 – Nitrogênio acumulado na parte aérea (N.A., kg/ha) e recuperação aparente do nitrogênio (R.A.N. %)
dos capins Coastcross, Tifton 68 e Tifton 85 em função das doses de nitrogênio.

Doses de N Coastcross Tifton 68 Tifton 85

kg/ha N.A. R.A.N. N.A. R.A.N. N.A. R.A.N.

0 50,64 __ 47,16 __ 52,48 __

100 75,86 25,22 63,71 16,55 76,54 24,06

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200 93,27 21,32 84,21 18,53 93,76 20,64

400 115,03 16,10 118,54 17,85 117,07 16,15

CONCLUSÕES BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 21., 1984, Belo Horizon-


te. Anais... Belo Horizonte: SBZ, 1984. p. 418.
a) Nas condições em que foi realizado o exp eri-
mento, a adubação nitrogenada incrementou a produção
CARVALHO, M. M.; SARAIVA, O. F. Resposta do ca-
de matéria seca, teor e rendimento de proteína bruta, até
pim gordura (Melinis minutiflora Beauv.) a aplicações
a maior dose utilizada.
de nitrogênio em regime de cortes. Revista da Sociedade
b) As gramíneas Coastcross, Tifton 68 e Tifton
Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 16, n. 5, p. 442-445,
85 apresentaram respostas semelhantes à adubação ni-
set./out. 1987.
trogenada e seguiram um modelo linear de resposta.
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