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de matéria seca, teor de proteína, produção de proteína realizado o experimento, foi de 1.213,6 mm. O solo onde
por hectare e porcentagem de recuperação do nitrogênio foi instalado o experimento é classificado como Latosso-
aplicado. Esses autores citam que o capim-pangola apre- lo Vermelho-Escuro distrófico, possuindo uma topogra-
sentou, no primeiro ano de cultivo, um teor de PB de fia levemente inclinada (declividade de aproximadamente
6,84%, quando utilizaram-se 0 kg de N/ha e um teor de 12%).
11,34% para a dose de 400 kg de N/ha, sendo a produção Por ocasião do início do experimento, foram cole-
de PB de 659 kg/ha e de 3330 kg/ha, respectivamente. tadas amostras de solo na área experimental (agosto de
Dias (1993) obteve uma máxima recuperação aparente do 1997). As amostras foram analisadas pelo Departamento
nitrogênio de 63,83% para o capim Coastcross quando a de Ciências do Solo da UFLA, Lavras- MG, e suas ca-
dose utilizada foi de 30 kg de N/ha corte (100 kg de N/ha racterísticas estão apresentadas no Quadro 1.
ano). De acordo com os resultados da análise do solo,
Objetivou-se com o presente trabalho avaliar o foi realizada calagem para elevar a saturação por bases
efeito de doses de nitrogênio sobre a produção, teor e (V%) para 60%. Para essa correção, utilizou-se um calcá-
rendimento de proteína bruta dos capins Coastcross, rio dolomítico com PRNT 75%, aplicando-se 2,0 t/ha, in-
Tifton 68 e Tifton 85, sob as condições de clima e solo corporado sessenta dias antes do plantio.
brasileiros. Por ocasião do plantio, foi realizada uma aduba-
ção básica que consistiu da aplicação de 500 kg/ha de
MATERIAL E MÉTODOS superfosfato simples, 200 kg/ha de cloreto de potássio e
O experimento foi instalado em condições de 200 kg/ha de sulfato de amônio. O superfosfato simples
campo em área do Departamento de Zootecnia da UFLA, foi distribuído em um única aplicação, nos sulcos de
em Lavras, região sul do Estado de Minas Gerais. Pela plantio; no entanto, o cloreto de potássio e o sulfato de
classificação de Köppen, o clima da região é do tipo amônio foram distribuídos em duas aplicações, metade
Cwa, a precipitação pluviométrica média anual é de 1.493 por ocasião do plantio e metade em cobertura 30 dias
mm, apresentando uma estação “seca” (abril a setem- após o plantio.
bro) e uma “chuvosa” (outubro a março). A temperatura O delineamento experimental utilizado foi o DBC
média anual é de 19,36°C, com máxima de 26ºC e mínima (Delineamento em blocos completos ao acaso) com seis
de 14,6°C (Vilela & Ramalho, 1979). A precipitação do pe- repetições e os tratamentos foram arranjados
ríodo de julho/97 a junho/98, período dentro do qual foi
As variáveis qualitativas foram testadas pelo tes- lhante quanto à resposta ao nitrogênio para a produção
te de Tukey a 5% e as quantitativas, por meio de equa- de matéria seca, sendo essa resposta linear (Figura 1).
ções de regressão. Pelos resultados, verifica-se que esses são iguais
aos de Carvalho & Saraiva (1987); Alvim et al. (1987);
RESULTADOS E DISCUSSÃO Paciulli (1997); que afirmam que o uso de adubação ni-
trogenada influenciou positivamente a produção de ma-
Produção de Matéria Seca
téria seca das forrageiras analisadas. Vilela & Alvim
Observou-se apenas efeito (P<0,01) de doses de (1998) também observaram aumento linear na produção
nitrogênio sobre a produção de matéria seca. Dessa ma- de matéria seca dos capins Tifton 68 e Tifton 85 com a
neira, as três gramíneas comportaram-se de forma seme- utilização de doses crescentes de nitrogênio (0; 100; 200;
400 e 600 kg/ha/ano). Neste trabalho, as médias de pro- 3,11; 3,63 e 4,18 t/ha para as doses de 0, 100, 200 e 400 kg
dução de matéria seca das três gramíneas foram de 2,23; de N/ha, respectivamente (Quadro 2).
5
4
MS (t/ha)
3
Y= 2,47114 + 0,00466x (R2= 0,92) (P<0,01)
2
1
0
0 100 200 300 400
Doses de N (kg/ha)
FIGURA 1 – Efeito de doses de nitrogênio na produção total de matéria seca dos capins Coastcross, Tifton 68 e Tif-
ton 85 (soma dos três cortes e média das três gramíneas).
QUADRO 2 – Produção acumulada (soma de três cortes) de matéria seca (t/ha) dos capins Coastcross, Tifton 68 e
Tifton 85 em função das doses de nitrogênio.
Doses de N Gramíneas
Médias
kg/ha Coastcross Tifton 68 Tifton 85
0 2,32 2,14 2,23 2,23
100 3,11 2,92 3,30 3,11
200 3,41 3,53 3,96 3,63
400 3,93 4,30 4,31 4,18
Médias 3,19 3,22 3,45
em produção é obtido com a primeira dose; com a utiliza- Na mesma dose, os capins Tifton 68 e Tifton 85 atingi-
ção de doses cada vez maiores, os incrementos de pro- ram teores de 17,21% e 16,68% de proteína bruta na ma-
dução são cada vez menores. Outro fator que contribui téria seca, respectivamente.
para essa queda na eficiência de utilização são as perdas O estudo da interação gramínea x doses revelou
de nitrogênio (principalmente por lixiviação), que se tor- regressões lineares, com aumentos de 0,012; 0,09 e 0,07
nam cada vez maiores com o aumento da dose de adubo unidade no teor de proteína bruta dos capins Coast-
nitrogenado. cross, Tifton 68 e Tifton 85, respectivamente, para cada
Carvalho & Saraiva (1987), trabalhando com ca- quilo de nitrogênio aplicado (Figura 2).
pim-gordura, e Dias (1993), com Coastcross, também ve- Esses resultados concordam com as informações
rificaram uma diminuição na eficiência de utilização do obtidas nos trabalhos de Olsen (1972); Monson & Bur-
nitrogênio à medida que as doses de nitrogênio foram ton (1982); Paciulli (1997), nos quais, todos os capins es-
aumentadas. tudados tiveram incremento no teor de proteína bruta
causado pela adubação nitrogenada. Os teores de prote-
Teor de Proteína Bruta ína bruta obtidos neste trabalho foram superiores aos
Para o teor de proteína bruta, verificou-se efeito valores citados por Vilela & Alvim (1998), em que o ca-
de doses (P<0,01), gramínea (P<0,05) e interação gramí- pim Coastcross, cortado com cinco semanas de idade,
nea x dose de nitrogênio (P<0,05). Analisando-se cada atingiu teores de 12,2 e 13,9% de proteína bruta, nas do-
gramínea em função das doses de nitrogênio, verificou- ses de 0 e 500 kg de N/ha, respectivamente. Esses auto-
se um aumento no teor de proteína bruta das gramíneas res também citam que para o corte com seis semanas de
à medida que a dose de nitrogênio foi aumentada (Qua- idade, obtiveram-se teores de proteína bruta de 5,6 e
dro 4). 11,9% para o Tifton 68 e de 6,9 e 12,2% para o Tifton 85,
Observa-se que para as doses de 0 e 100 kg de respectivamente para as doses de 0 e 400 kg de N/ha, na
N/ha, as três gramíneas comportaram-se de forma seme- época chuvosa. Os teores de proteína bruta mais eleva-
lhante. No entanto, para as doses 200 e 400 kg de N/ha, dos observados neste trabalho podem ser atribuídos a
o capim Coastcross foi superior aos capins Tifton 68 e um provável efeito de concentração de N na forragem,
Tifton 85, e esses dois últimos não diferiram entre si. O por causa dos menores rendimentos de matéria seca ob-
maior teor de proteína bruta foi alcançado pelo capim tidos.
Coastcross na dose de 400 kg de N/ha e foi de 18,49%.
QUADRO 3 – Eficiência de utilização do nitrogênio (kg MS produzida/ kg de N aplicado) dos capins Coastcross, Tif-
ton 68 e Tifton 85 em função das doses de nitrogênio.
Doses de N Gramíneas
kg/há Coastcross Tifton 68 Tifton 85
0 __ __ __
100 7,90 7,80 10,70
200 5,45 6,95 8,65
400 4,03 5,40 5,20
QUADRO 4 – Teor médio de PB (%) dos capins Coastcross, Tifton 68 e Tifton85 em função das doses de nitrogênio.
Doses de N Gramíneas
Médias
kg/ha Coastcross Tifton 68 Tifton 85
0 13,55 a 13,72 a 14,06 a 13,78
100 15,44 a 13,88 a 14,54 a 14,62
20
16
PB (%)
8
•Y(T68) = 13,38 + 0,0092x (R2 = 0,96) (P<0,01)
•Y(T85) = 13,84 + 0,0073x (R2 = 0,95) (P<0,01)
4
0
0 100 200 300 400
Dose de N (kg/ha)
FIGURA 2 – Efeito de doses de nitrogênio no teor médio de PB dos capins Coastcross (CC), Tifton 68 (T68) e Tifton
85 (T85) (média dos três cortes).
800
600
RPB (kg/ha)
400
Y = 334,8508 + 1,0278 x (R2 = 0,98) (P<0,01)
200
0
0 100 200 300 400
Ciênc. agrotec., Lavras, v.26, n.3, p.633-642, mai./jun., 2002
Doses de N (kg/ha)
640
FIGURA 3 – Efeito de doses de nitrogênio no rendimento de proteína bruta dos capins Coastcross, Tifton 68 e Tifton
85 (soma dos três cortes e média das três gramíneas).
A diferença verificada entre os valores encontra- observou-se um declínio na mesma à medida que as do-
dos neste trabalho e aqueles citados em outros traba- ses de nitrogênio foram aumentadas (Quadro 6).
lhos pode ter ocorrido em função de diferenças quanto à No entanto, para o capim Tifton 68, observou-se
espécie de gramínea estudada, época e número de cor- um aumento na recuperação do nitrogênio da dose 100
tes, além de diferenças nas condições climáticas. para a dose 200 e, depois dessa, uma leve queda na dose
400 kg de N/ha. Acredita-se que se as doses contin uas-
Recuperação Aparente do Nitrogênio sem aumentando até valores mais altos, haveria uma
Quanto à recuperação aparente do nitrogênio queda mais acentuada na recuperação aparente do ni-
(R.A.N.), que é calculada com base no rendimento de PB, trogênio desse capim.
QUADRO 5 – Rendimento de PB (kg/ha) dos capins dos capins Coastcross, Tifton 68 e Tifton 85 em função das do-
ses de nitrogênio.
Doses de N Gramíneas
Médias
kg/ha Coastcross Tifton 68 Tifton 85
QUADRO 6 – Nitrogênio acumulado na parte aérea (N.A., kg/ha) e recuperação aparente do nitrogênio (R.A.N. %)
dos capins Coastcross, Tifton 68 e Tifton 85 em função das doses de nitrogênio.
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