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Projeto Institucional
Edital nº 015/2010/CAPES/DED
Fomento ao uso de tecnologias de comunição e informação nos cursos de graduação
Química Geral e Orgânica:
uma abordagem para Química Tecnológica
Filipe Martel de Magalhães Borges
Salete Martins Alves
Tatiana de Campos Bicudo
Química Tecnológica
Natal – RN
Janeiro/2011
Governo Federal
Presidenta da República
Dilma Vana Rousseff
Vice-Presidente da República
Michel Miguel Elias Temer Lulia
Ministro da Educação
Aloizio Mercadante Oliva
Vice-Reitora
Maria de Fátima Freire Melo Ximenes
FICHA TÉCNICA
ISBN 978-85-7273-835-4
CDU 54-029.6
B732q
© Copyright 2005. Todos os direitos reservados a Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – EDUFRN.
Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa do Ministério da Educacão – MEC
Apresentação Institucional
A
Secretaria de Educação a Distância – SEDIS da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte – UFRN, desde 2005, vem atuando como fomentadora, no âmbito local, das
Políticas Nacionais de Educação a Distância em parceira com a Secretaria de Educação
a Distância – SEED, o Ministério da Educação – MEC e a Universidade Aberta do Brasil –
UAB/CAPES. Duas linhas de atuação têm caracterizado o esforço em EaD desta instituição: a
primeira está voltada para a Formação Continuada de Professores do Ensino Básico, sendo
implementados cursos de licenciatura e pós-graduação lato e stricto sensu; a segunda volta-se
para a Formação de Gestores Públicos, através da oferta de bacharelados e especializações
em Administração Pública e Administração Pública Municipal.
Para dar suporte à oferta dos cursos de EaD, a Sedis tem disponibilizado um conjunto de
meios didáticos e pedagógicos, dentre os quais se destacam os materiais impressos que são
elaborados por disciplinas, utilizando linguagem e projeto gráfico para atender às necessidades
de um aluno que aprende a distância. O conteúdo é elaborado por profissionais qualificados e
que têm experiência relevante na área, com o apoio de uma equipe multidisciplinar. O material
impresso é a referência primária para o aluno, sendo indicadas outras mídias, como videoaulas,
livros, textos, filmes, videoconferências, materiais digitais e interativos e webconferências, que
possibilitam ampliar os conteúdos e a interação entre os sujeitos do processo de aprendizagem.
Assim, a UFRN através da SEDIS se integra o grupo de instituições que assumiram o
desafio de contribuir com a formação desse “capital” humano e incorporou a EaD como moda-
lidade capaz de superar as barreiras espaciais e políticas que tornaram cada vez mais seleto o
acesso à graduação e à pós-graduação no Brasil. No Rio Grande do Norte, a UFRN está presente
em polos presenciais de apoio localizados nas mais diferentes regiões, ofertando cursos de
graduação, aperfeiçoamento, especialização e mestrado, interiorizando e tornando o Ensino
Superior uma realidade que contribui para diminuir as diferenças regionais e o conhecimento
uma possibilidade concreta para o desenvolvimento local.
Nesse sentido, este material que você recebe é resultado de um investimento intelectual
e econômico assumido por diversas instituições que se comprometeram com a Educação e
com a reversão da seletividade do espaço quanto ao acesso e ao consumo do saber E REFLE-
TE O COMPROMISSO DA SEDIS/UFRN COM A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA como modalidade
estratégica para a melhoria dos indicadores educacionais no RN e no Brasil.
Aula
1
Aula 1 Química Tecnológica
Apresentação
T
emos certeza de que você já ouviu falar ou já estudou sobre a tabela periódica. Nesta aula,
queremos apresentar a tabela periódica moderna como uma ferramenta importantíssima
para o estudo da química.
No mundo ao nosso redor existe uma enorme diversidade de materiais e de substâncias
que o constitui. Mas, a grande variedade de substâncias obtém-se a partir de um número muito
reduzido de elementos químicos que, atualmente, se encontram organizados numa tabela – a
tabela periódica dos elementos.
A tabela periódica dos elementos químicos que será apresentada nesta aula é uma das
ferramentas mais úteis em química. Além das riquezas de informações, ela pode ser usada
para organizar muitas das ideias da química. É importante que você se familiarize com suas
principais características e sua terminologia.
Além da aula, preparamos para você uma tabela periódica interativa, nela você poderá
fazer uma viagem pelos elementos químicos, conhecendo suas características e curiosidades.
Boa viagem!
Objetivos
1 Entender como surgiu a tabela periódica.
C
omo surgiu a tabela periódica? Será que ela existe há muito tempo? Quem a desenvol-
veu? Será que você conseguiu responder algumas dessas perguntas? Caso sua resposta
seja negativa, não se desespere, pois nesta aula vamos aprender como se desenvolveu
a tabela periódica até atingir o modelo atual.
A descoberta individual dos elementos químicos foi um pré-requisito necessário para a
construção da tabela periódica.
Embora os elementos, tais como ouro (Au), prata (Ag), estanho (Sn), cobre (Cu), chum-
bo (Pb) e mercúrio (Hg) fossem conhecidos desde a Antiguidade, outros elementos como arsê-
nio (As), o antimônio (Sb) e o fósforo (P) foram descobertos pelos alquimistas posteriormente.
Os alquimistas seguiam um objetivo que visava à descoberta da pedra filosofal, a substân-
cia capaz de transformar em ouro qualquer matéria com a qual fosse colocada em contato, e do
elixir da longa vida, que haveria de prolongar a existência dos que o tivessem tomado. Embora
a alquimia não fosse uma ciência experimental, ou seja, os trabalhos eram executados sem
recorrer ao método científico (forma sistemática de organizar as coisas), o impulso oferecido
por ela foi muito grande. Nesta busca incessante, os alquimistas acabaram descobrindo novos
elementos e processos úteis à vida prática, tais como a destilação e a sublimação.
Em 1669, o alquimista alemão Henning Brand, quando procurava descobrir a pedra
filosofal, conseguiu “apenas” obter fósforo elementar através da destilação da urina. Este é o
primeiro elemento sobre o qual existem registros históricos da sua descoberta.
Durante os 200 anos seguintes um grande volume de conhecimento, relativo às proprie-
dades dos elementos e seus compostos, foram adquiridos pelos químicos. Com o aumento
do número de elementos descobertos, os cientistas iniciaram a investigação de modelos para
reconhecer as propriedades e desenvolver esquemas de classificação.
Assim, em 1869 Dimitri Ivanovitch Mendeleev apresentou uma classificação, que é a base da
classificação periódica moderna, colocando os elementos em ordem crescente de suas massas
atômicas (Figura 1), distribuídos em oito colunas verticais e doze faixas horizontais. Verificou
que as propriedades variavam periodicamente à medida que aumentava a massa atômica.
GRUPPE I. GRUPPE II. GRUPPE III. GRUPPE IV. GRUPPE V. GRUPPE VI. GRUPPE VII. GRUPPE VIII.
RH4 RH3 RH2 RH
R2O RO R2O3 RO2 R2O5 RO4 RO4 RO4
1 H=1
2 Li = 7 Be = 9,4 B = 11 C = 12 N = 14 O = 16 F = 19
3 Na = 23 Mg = 24 Al = 27,3 Sl = 28 P = 31 S = 32 Cl = 35,5
4 K = 39 Ca = 40 = 44 Ti = 48 V = 51 Cr = 52 Mn = 55 Fe = 56, Co = 59,
Ni = 59, Cu = 63.
5 (Cu = 63) Zn = 65 = 68 = 72 As = 75 Se = 78 Br = 80
6 Rb = 85 Sr = 87 ?Yt = 88 Zr = 90 Nb = 94 Mo = 96 = 100 Ru = 104, Rh = 104,
Pd = 106, Ag = 108.
7 (Ag = 108) Cd = 112 In = 113 Sn = 118 Sb = 122 Te = 125 J = 127
8 Cs = 133 Bd = 137 ?Di = 138 ?Ce = 140
9 ( )
10 ?Er = 178 ?La = 180 Ta = 182 W = 184 Os = 195, Tr = 197,
Pt = 198, Au = 199.
11 Au = 199 Hg = 200 Tl = 204 Pb = 207 Bi = 208
12 Th = 231 U = 240
A tabela proposta por Mendeleev contava com 59 elementos e seus símbolos. Aqueles
indicados com sinais de interrogação ainda não haviam sido descobertos. Exatamente pelo ato
de deixar espaços vazios em sua tabela, este cientista teve tanto crédito ao seu trabalho. Afinal,
ele previu propriedades tanto físicas (ponto de fusão, ponto de ebulição e densidade) como
químicas (combinação com outros elementos) para serem verificadas quando da descoberta
dos elementos que ocupariam os vazios deixados na tabela.
Em 1913, o cientista britânico Henry Moseley descobriu que o número de prótons no
núcleo de um determinado átomo era sempre o mesmo. Moseley usou essa ideia para o número
atômico de cada átomo. Quando os átomos foram arranjados de acordo com o aumento do
número atômico, os problemas existentes na tabela de Mendeleev desapareceram. Devido ao
trabalho de Moseley, a tabela periódica moderna está baseada no número atômico dos elemen-
tos. A tabela atual se difere bastante da de Mendeleev. Com o passar do tempo, os químicos
foram melhorando a tabela periódica moderna, aplicando novos dados com as descobertas de
novos elementos ou um número mais preciso na massa atômica e rearranjando os existentes,
sempre em função dos conceitos originais.
Agora já sabemos como a tabela periódica foi desenvolvida pelos cientistas ao longo dos
anos. Atualmente, ela apresenta 118 elementos, o dobro do número de elementos que havia na
tabela proposta por Mendeleev. O próximo passo é aprender como é a sua divisão. Contudo,
1 s 2 2
s 2
2 8
p 6
s 2
3 p 6 18
d 10
s 2
p 6
4 32
d 10
f 14
s 2
p 6
5 32
d 10
f 14
s 2
6 p 6 18
d 10
s 2
7 8
p 6
A ordem de distribuição dos elétrons é dada pelo diagrama de Linus Pauling (Figura 2).
Assim, a ordem de preenchimento é 1s→2s→2p→3s→3p→4s→3d→4p→5s→4d→5p→
6s→4f→5d→6p→7s→5f→6d→7p.
2s 2 2p 6
3s 2 3p 6 3d 10
4s 2 4p 6 4d 10 4f 14
5s 2 5p 6 5d 10 5f 14
6s 2 6p 6 6d 10
7s 2 7p 6
1A 8A
1
Aumento no caráter metálico 18
1 2A 3A 4A 5A 6A 7A 2
H 2 13 14 15 16 17 He
3 4 5 6 7 8 9 10
Li Be 8B B C N O F Ne
3B 4B 5B 6B 7B 1B 2B
Aumento no caráter metálico
11 12 13 14 15 16 17 18
Na Mg 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Al Si P S Cl Ar
19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36
K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Ga Ge As Se Br Kr
37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54
Rb Sr Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd In Sn Sb Te I Xe
55 56 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86
Cs Ba Lu Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg Tl Pb Bi Po At Rn
87 88 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 114 116
Fr Ra Lr Rf Db Sg Bh Hs Mt
Metais 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70
La Ce Pr Nd Pm Sm Eu Gd Tb Dy Ho Er Tm Yb
Metaloides 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102
Ac Th Pa U Np Pu Am Cm Bk Cf Es Fm Md No
Não metais
Outro critério de organização é estabelecido pela distribuição dos elétrons para cada
elemento químico. O método consiste em numerar as dezoito famílias ou grupos, ou dezoito
colunas, de 1 a 18. O sistema anterior sugeria dois grandes grupos de famílias A e B, e cada
um desses grupos era subdividido em oito grupos. Os elementos de um mesmo grupo pos-
suem o mesmo número de elétrons na última camada eletrônica (ou camada de valência). Por
exemplo, o elemento lítio (Li) pertence ao grupo 1, ou seja, tem 1 elétron na última camada,
já o flúor (F) que pertence ao grupo 17 (7A) possui 7 elétrons na camada de valência.
Os conjuntos de elementos na mesma orientação horizontal (linhas) são denominados
períodos. Na classificação atual, como na anterior, existem sete períodos correspondentes
aos níveis ou camadas de um átomo: (K, L, M, N, O, P, Q). Assim, os elementos de um
mesmo período possuem o mesmo número de camadas. Como exemplo, podemos citar o
cloro (Cl) que se encontra no terceiro período, portanto, esse elemento possui três camadas.
Também vale salientar que podemos dividir a tabela periódica em:
1s
2s 2p
3s 3p Bloque s
4s 3d 4p
Bloque p
5s 4d 5p
6s 5d 6p
Bloque d
7s 6d
Bloque f
4f
5f
Os grupos de 13 a 18 são compostos por elementos nos quais o último elétron é adicio-
nado ao subnível p, assim eles têm configuração nsnp e constituem o bloco p. A quantidade
de elétron no subnível p aumenta de acordo com a sequência do grupo, por exemplo, se o
elemento for do grupo 13 ele terá a configuração ns2np1 e se for do grupo 17 terá a configu-
ração ns2np5.
Nos elementos dos grupos 3 a 12, o último elétron é adicionado na penúltima camada
e no subnível d, tendo uma configuração (n-1)d. O subnível d pode conter 10 elétrons; este
preenchimento explica o fato de haver dez colunas nos elementos deste bloco (d).
O bloco f é representado pelos lantanoides e actinoides , nestes elementos a subcamada
a ser preenchida é a f da antepenúltima camada, assim sua configuração será (n-2)f .
Desse modo, podemos afirmar que é possível predizer a configuração eletrônica de um
elemento apenas verificando a sua posição da tabela periódica.
1 18
1˚ 2 H 13 14 15 16 17 He
2˚ Li Be B C N O F
3˚ 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Família do Carbono
Família do Azoto
Família do Boro
Gases Nobres
Metais Alcalinos
Alcalinoterrosos
Halogênios
Calcogênios
4˚ Sc Zn
Metais
5˚ Y Cd
Elementos de Transição
6˚ La Hg
7˚ Ac Uub
Grupo 18: gases nobres (He, Ne, Ar, Kr, Xe, Rn)
Os elementos desse grupo são os menos reativos. Todos são gases e nenhum é abun-
dante na Terra ou na atmosfera terrestre. Por causa disso, não foram descobertos até o fim
do século XIX. O hélio, segundo elemento mais abundante do universo após o hidrogênio,
foi detectado no Sol em 1868 pela análise do espectro solar (o nome do elemento vem da
palavra grega para o Sol, helios). Até 1962, quando um composto de xenônio foi preparado
pela primeira vez, acreditava-se que nenhum desses elementos se combinaria quimicamente
com qualquer outro elemento, o que gerou o nome de gás nobre para esse grupo, termo cuja
intenção é mostrar sua baixa reatividade em geral.
Raio atômico
Você sabe qual é o “tamanho” de um átomo? Segundo a teoria do orbital atômico, os
elétrons não possuem órbitas definidas, torna-se impossível pensar no raio de um átomo
como uma definição puramente matemática. Assim, o raio atômico é medido e definido como
a distância entre dois átomos iguais em uma molécula (Figura 6).
/2
Raio = d/2
Cl 99 Na
2,0
Br 114 Li
1,5
I 133
1,0
At 140
5
10 20 30 40 50 60 70 80 90
Como podemos explicar esse decréscimo do raio atômico ao longo do período? De acordo
com as configurações eletrônicas, ao longo do segundo e terceiro períodos, os elétrons são
adicionados na camada de valência. Simultaneamente os prótons são adicionados ao núcleo,
aumentando a carga nuclear. Esse aumento atrai todos os elétrons, aproximando-os do núcleo,
como resultado, o raio atômico diminui.
Nos períodos 4, 5 e 6, o decréscimo nos raios atômicos ao longo do período é moderado
pela intervenção da série de elementos de transição. Por quê? A estruturação de configurações
eletrônicas da série dos elementos de transição é caracterizada por um aumento gradual do
número de elétrons na penúltima camada externa (n-1), e não na camada de valência (n). Uma
vez que os elétrons são colocados na penúltima camada e no subnível d, entre o núcleo e a
camada de valência, eles protegem parcialmente os elétrons da camada de valência da força
de atração exercida pelo núcleo. Essa proteção é conhecida como efeito blindagem.
Energia de ionização
Você acha que é possível retirar elétrons de um átomo? A seguir, veremos como isto é
possível e quais são os átomos que têm a tendência de perder elétrons.
Quando um átomo isolado, em seu estado fundamental, absorve energia, o elétron pode
se transferir de um nível energético quantizado para outro. Se a energia fornecida for suficiente,
o elétron pode ser completamente removido do átomo, originando um íon positivo. Assim,
energia de ionização é a mínima energia necessária para remover um elétron de um átomo
isolado no seu estado fundamental.
Um exemplo genérico para o processo de ionização para um elemento X, pode ser
representado por:
X (g) → X+ (g) + 1e-(1ª energia de ionização – EI)
X+(g) → X2+ (g) + 1e-(2ª energia de ionização – EI)
X2+(g) → X3+ (g) + 1e-(3ª energia de ionização – EI)
2.500
He
Primeira energia de ionização (kJ/mol )
Ne
2.000
Ar
Kr
1.500
Xe
H
Rn
1.000
500
Li Na K Rb Cs
0 10 20 03 40 50 60 70 80 90
Número atômico (Z )
De uma forma geral, os metais têm energias de ionização mais baixas do que os não me-
tais. Através da figura é, ainda, perceptível que os elementos que têm maior energia de ionização
são os gases nobres, daí a sua inércia química, e os que têm menor energia de ionização são
os metais alcalinos, pois têm configuração de valência ns1, isto é, têm apenas um elétron de
valência que facilmente o perdem para adquirirem a configuração eletrônica do gás nobre do
período anterior. Os metais alcalinoterrosos têm energias de ionização um pouco superiores às
dos metais alcalinos. De todos os elementos, o que tem maior energia de ionização é o hélio.
Seria possível retirar mais de um elétron? A energia necessária para retirar um segundo
ou terceiro elétron seria maior ou menor do que a energia necessária para retirar o primeiro
elétron?
Consideremos que a segunda, terceira, quarta etc. energias de ionização são aquelas
para remover o segundo, terceiro, quarto, etc. elétrons, respectivamente. Elas são maiores
que a primeira energia de ionização. O aumento das energias de ionização resulta do fato de
que cada elétron retirado deixa o íon mais positivamente carregado, do que o íon deixado pelo
elétron anterior, aumentado assim a atração entre o próton presente no núcleo e os elétrons. A
sucessiva remoção de elétrons diminui o tamanho dos íons e aumenta a energia de ionização.
+400
+300
Be
Mg
Afinidade eletrônica (kJ/mol )
+200
Ca
+100
He Ne Ar
N
0 B Al P
−100 H Li Na K
O
C Si
−200 S
−300
F Cl
−400
5 10 15 20
Número atômico (Z)
Figura 9 – Variação da afinidade eletrônica com o número atômico para os primeiros 20 elementos
Eletronegatividade
É também importante estudar outra propriedade periódica: a eletronegatividade.
A eletronegatividade pode ser definida como a capacidade de um determinado átomo atrair
os elétrons envolvidos em uma ligação química. Assim, podemos concluir que um elemento
químico A é mais eletronegativo do que um elemento químico B se os elétrons envolvidos na
ligação entre A e B sentem mais a atração do átomo do elemento A.
Os valores de eletronegatividade são baseados em outras propriedades dos átomos,
inclusive a energia de ionização. Os elementos com valores elevados de energia de ionização
terão eletronegatividade elevada, e elementos com baixa energia de ionização exibirão baixa
eletronegatividade.
A Figura 10 apresenta os dados de eletronegatividade calculadas por Linus Pauling (1901-
1994), um dos mais influentes químicos do século XX. Com relação aos gases nobres, não se
define eletronegatividade, uma vez que tais elementos não participam de ligações químicas
em condições normais.
Li Be B C N O F Ne
2 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
Na Mg Al Si P S Cl Ar
3 0,9 1,2 1,5 1,8 2,1 2,5 3,0t
K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Ga Ge As Se Br Kr
4 0,8 1,0 1,3 1,5 1,6 1,6 1,5 1,8 1,9 1,8 1,9 1,6 1,6 1,8 2,0 2,4 3,0
Rb Sr Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd In Sn Sb Te I Xe
5 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 1,9 2,2 2,2 2,2 1,9 1,7 1,7 1,8 1,9 2,1 2,5
Cs Ba Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg Ti Pb Bi Po At Rn
6 0,7 0,9 * 1,3 1,5 1,7 1,9 2,2 2,2 2,2 2,4 1,9 1,8 1,9 1,9 2,0 2,2
Fr Ra Rf Db Sg Bh Hs Mt Ds Rg Uub Uut Uuq Uup Uuh Uus Uuo
7 0,7 0,9 **
b) energia de ionização;
c) afinidade eletrônica.
Resumo
Nesta aula, você aprendeu que a lei periódica estabelece que as proprieda-
des dos elementos são funções periódicas de seus números atômicos. Assim, a
tabela periódica agrupa famílias de elementos com propriedades semelhantes em
colunas verticais chamadas grupos e, em filas horizontais chamadas períodos,
nas quais os elementos de um período possuem o mesmo número de camadas.
Você também aprendeu que existem propriedades dos átomos que são periódicas
e podem ser previstas pelo conhecimento da tabela periódica, são elas: raio atô-
mico, energia de ionização, eletronegatividade e afinidade eletrônica. Conhecendo
estas propriedades é possível reconhecer o papel que desempenham na química
dos elementos.
Autoavaliação
Com o término da nossa aula é chegada a hora de verificarmos se o conteúdo exposto
foi assimilado. Desse modo, preparamos alguns exercícios para você.
De que maneira a atual tabela periódica serve como guia para escrever as configu-
2 rações eletrônicas?
Qual das duas espécies possui a maior energia de ionização: potássio (K) ou iodo
5 (I)? Explique sua resposta.
Referências
BROWN, T. L. et al. Química a ciência central. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.
KOTZ, J. C.; TREICHEL, P. M. Química geral 1 e reações químicas. São Paulo: Editora Pioneira
Thomson Learning, 2005.
MAIA, D. J.; BIANCHI, J. C. Química geral: fundamentos. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.
RUSSEL, J. B. Quimica geral. 2. ed. São Paulo: Pearson Makron Books, 1994. v 1.
Anotações
Aula
2
Aula 2 Química Tecnológica
Apresentação
A
pós ter estudado, na Aula 1, a Tabela periódica e as propriedades dos átomos, vamos
aprender nesta aula como os átomos se ligam para formar as diversas substâncias
existentes ao nosso redor, como as ligações químicas explicam as propriedades das
substâncias e, também, estudar a energia envolvida nestas ligações. Esses conhecimentos
servirão de base para uma melhor compreensão dos próximos conteúdos a serem estudados.
Objetivos
Definir os conceitos associados às ligações químicas (sím-
1 bolo de Lewis, regra do octeto e eletronegatividade).
O
s átomos de quase todos os elementos podem se combinar, formando ligações e ge-
rando substâncias cujas energias são sempre menores do que a soma das energias que
esses átomos teriam se permanecessem separados. Em outras palavras: podemos dizer
que um composto químico é formado apenas se proporcionar uma situação de estabilidade
energética (termodinâmica) maior que aquela envolvendo seus constituintes isoladamente.
Como os átomos podem atingir estabilidade energética? Perdendo, recebendo ou com-
partilhando os elétrons de valência (última camada). A forma como os elementos atingem a
configuração mais estável define o tipo de ligação. Considerando a figura a seguir, observamos
o ponto entre os átomos de menor distância na região de menor valor energético e o ponto de
estabilidade cuja ligação se forma.
Ep/kJ.mol −1
Distância
interatômica /pm
Assim, podemos dizer que quando uma ligação química é formada, energia é liberada!
Quando nos referimos às substâncias químicas, muitas vezes pensamos na sua utilidade.
Quando queremos uma substância isolante, procuramos um determinado composto que não
deixe passar a corrente elétrica; quando precisamos de um condutor, a substância permitirá
a passagem da corrente elétrica; quando é necessário riscar algo, pensamos em substâncias
mais duras e resistentes e, assim, poderíamos citar vários outros exemplos. Mas qual a re-
lação entre a utilidade dessas substâncias e suas propriedades? Por que uma determinada
substância pode ter um uso e outra semelhante não serve para o mesmo fim? Qual será
a explicação para que substâncias tenham comportamentos tão diferentes e, consequente-
mente, aplicações tão variadas? Estudaremos as ligações que formam essas substâncias.
2500
2000
1500
1000
o
500
çã
iz a
io n
0
1A
de
2A
gi a
3A
er
4A
en
A um 5A
en t o
da
da e 6A
ner g 7A
nto
ia de
io ni z 8A
me
aç ão
Au
Na(g) + Cl −(g)
Na(g) + Cl(g)
Na(g) + 1 Cl 2(g)
2
108KJ Energia de sublimação do Na Energia de rede −788KJ
Na(s) + 1 Cl 2(g)
2
−411KJ
Energia de formação
NaCl(s)
Energia de Energia de
sublimação ionização
Na(s) Na(g) Na +(g) Energia
reticular
− −
Energia de Afinidade −
− NaCl(s)
dissociação eletrônica −
−
Cl2(g) Cl(g) Cl−(g)
Cl −
Na+
1 2 13 14
He B
Li Be 2
Ne Na Mg Al 3
Ar K Ca Ga 4
Kr Rb Sr In Sn 5
Xe Cs Ba Tl Pb 6
Rn Fr Ra 7
1
Os compostos formados pelos pares:
(1) Mg e Cl (2) Ca e O (3) Li e O (4) K e Br
Possuem fórmulas cujas proporções entre os cátions e os ânions são, respectivamente:
a) (1) 1 : 1 (2) 2 : 2 (3) 1 : 1 (4) 1 : 2
18
H
He 1
14 15 16 17
C N O F Ne 2
Si P S Cl Ar 3
Ge As Se Br Kr 4
Sb Te I Xe 5
Bi Po At Rn 6
iv) 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 3d10 4s2 4p6 5s2
c) iii
d) iv
e) nenhum
Em relação ao bloco d, as energias dos orbitais (n-1) d (Aula 1) ficam abaixo das dos
orbitais ns. Com isso, os elétrons s são perdidos em primeiro lugar, seguindo um número
variável de elétrons (n-1)d. No caso do ferro ([Ar]3d64s2), para formar o íon Fe3+ deverá
perder 3 elétrons, dos quais 2 são removidos da subcamada 4s e 1 da subcamada 3d, ficando
com a configuração [Ar]3d5. Os não metais raramente perdem elétrons em reações químicas
por possuírem altas energias de ionização, contudo, podem adquirir elétrons suficientes para
completar a camada de valência e formar o octeto. Eles não ganham elétrons, pois envol-
veria acomodação de elétrons em uma camada com uma energia maior, conforme mostra
a Figura 8. Por exemplo, o nitrogênio tem configuração eletrônica [He]2s22p3, possuindo
5 elétrons na camada de valência e para atingir a configuração de um gás nobre precisa
ganhar 3 elétrons. Veja a Figura 8.
2s 2s
N[He] 2s 2 2p 3 N 3−[He] 2s 2 2p 6
b) Si;
c) Mn;
d) B.
Regra do octeto
Vocês já devem ter ouvido falar da regra do octeto, não é? Vamos conhecer mais um
pouco sobre ela. A denominação “regra do octeto” surgiu em razão da quantidade estabelecida
de elétrons para a estabilidade de um elemento, ou seja, o átomo fica estável quando apresentar
em sua camada de valência 8 elétrons (ns2 np6) estrutura de um gás nobre, com exceção do
hélio. Destaca-se que os quatro gases nobres mais leves (He, Ne, Ar e Kr) não se ligam
a qualquer elemento. Já os dois seguintes (Xe e Rn) podem se ligar a alguns elementos,
apesar de serem muito pouco reativos. Entre esses, o radônio é radiativo e se degrada com
facilidade, razão pela qual os compostos desse elemento são pouco estudados. Já o xenônio
forma compostos bem conhecidos com o flúor e o oxigênio, além de sais com metais alcali-
nos nos quais aparece formando ânions com o oxigênio (XeO64-, no Na4XeO6). Porém, em
todos esses elementos, uma característica comum é a camada de valência com oito elétrons
(exceto no He) e a baixa ou inexistente reatividade, o que consolida a regra do octeto como
um princípio válido.
Símbolos de Lewis
Um símbolo de Lewis é um símbolo no qual os elétrons da camada de valência de um
átomo ou um íon simples são representados por pontos colocados ao redor do símbolo do
elemento. Cada ponto representa um elétron em um orbital e, um par de elétrons representa
dois elétrons emparelhados partilhando um orbital. A Tabela 2 apresenta alguns exemplos dos
símbolos de Lewis.
Números de
elétrons de 1 2 3 4 5 6 7 8
valência
Período 2 Li Be B C N O F Ne
Período 3 Na Mg Al Si P S Cl Al
Saiba mais
Vamos conhecer um pouco sobre Lewis? Gilbert Newton Lewis, físico e
químico norte-americano, nasceu em Weymouth – Massachusetts, em 25 de
outubro de 1875 e faleceu em Berkeley – Califórnia, em 23 de março de 1946. Foi
professor de Química no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e em
Berkeley, na Universidade da Califórnia desde 1912, levando a cabo investigações
no campo das ligações químicas, termodinâmica e da eletrólise. Foi, também,
criador da noção de par eletrônico, que representou um avanço decisivo no
conhecimento da estrutura atômica.
Publicou diversos trabalhos, destacando-se Valence and the Structure of
Atoms and Molecules. Morreu, em 1946, no seu laboratório, rodeado pelos livros
e instrumentos científicos que tanto amava.
1s 2s 2p
a b
Cl + Ca + Cl Cl − Ca 2+ Cl − Cl + Na Na + Cl −
Figura 11 – Representação dos compostos iônicos usando os símbolos de Lewis: (a) cloreto de cálcio (CaCl2) e
(b) cloreto de sódio (NaCl)
Ligação covalente
Na aula anterior, foi visto para o caso da ligação iônica que a ligação química pode ser
considerada como a interação eletrostática entre dois íons. No entanto, certamente, este não
é o caso das moléculas diatômicas gasosas como O2, N2, F2 e H2 e as espécies poliatômicas
sólidas P4 e S8. Neste caso, os dois átomos competem igualmente pelos elétrons. Com uma
intuição brilhante e antes do desenvolvimento da mecânica quântica ou do conceito de orbitais,
Lewis encontrou uma explicação para a natureza das ligações entre átomos de não metais.
Propôs que uma ligação covalente é um par de elétrons compartilhados por dois átomos.
Nenhum dos átomos perde totalmente um elétron e, portanto, nenhum átomo precisa receber
a totalidade da energia de ionização. Deste modo, os elétrons são compartilhados pelos dois
átomos. Mas quantos elétrons serão compartilhados pelos átomos? Observamos que somente
Estruturas de Lewis
A ligação covalente se forma pelo compartilhamento de elétrons até atingir a configuração
de um gás nobre. Segundo Lewis a regra do octeto, na formação de uma ligação covalente
dar-se pelos átomos tenderem a completar seus octetos pelo compartilhamento de elétrons,
Figura 12.
b) Recepção de elétrons
c) Doação de prótons
d) Recepção de prótons
e) Compartilhamento de elétrons.
Cl + Cl Cl Cl , ou Cl Cl
A valência do cloro, isto é, número de ligações que um átomo pode formar, é igual a
um. A molécula de cloro tem pares de elétrons de valência que não participam diretamente da
ligação, que são denominados de pares isolados de elétrons. Os três (3) pares isolados de cada
átomo de cloro ligado repelem-se, e essa repulsão é quase suficiente para compensar a atração
favorável do par ligante que mantém a molécula Cl2 unida. Lembrar que alguns constituintes
do sistema de combustão são moléculas diatômicas covalentes apolares. Ex: Combustível
(H2), comburente (O2), resíduos gasosos da combustão, os fumos (N2).
P Cl Cl Cl
Cl P Cl Cl P Cl
Cl Cl
a b
Cl P Cl Cl P Cl
ou O C O ou O C O
Cl Cl
H C C H ou H C C H
Figura 16 – Estrutura de Lewis para (a) ligações simples, (b) ligações duplas e (c) ligação tripla entre carbonos e
simples entre carbono-hidrogênio
Uma ligação simples envolve no total de dois elétrons, já a ligação dupla quatro elétrons
e, por último, a ligação tripla seis elétrons. A ordem de ligação é o número de ligações que
une um par específico de átomos. Logo, a ordem da ligação em Cl2 é 1, no grupo C=O é 2,
e em C≡C é 3.
Para escrever uma estrutura de Lewis, é necessário saber que (1) os átomos estão ligados
entre si na molécula, (2) um átomo terminal liga-se somente a um átomo e (3) um átomo central
é um átomo que se liga a pelo menos dois outros. A escolha do átomo central é geralmente
aquele com a mais baixa energia de ionização, por conduzir ao mínimo de energia. Os átomos
com maiores energias de ionização são mais relutantes em compartilhar e mais propensos a
manter seus elétrons com pares isolados. O hidrogênio é um átomo terminal porque se liga
Procedimento
1) Conte o número de elétrons de valência em cada átomo isolado. Para íons, ajuste o número
de elétrons para levar em conta a carga. Divida o número total de elétrons da molécula por
2 para obter o número de pares de elétrons.
2) Escreva os arranjos mais prováveis dos átomos usando as regras dadas no texto.
5) Represente cada par de elétrons ligados por uma linha. Para conferir a validade de uma
estrutura de Lewis, observe se cada átomo tem um octeto ou dublete.
Exemplo
4 Complete os octetos; H O H
5 Desenhe as ligações. H O H
Ressonância
Muitas moléculas e íons poliatômicos não devem ser representados adequadamente por
uma única estrutura de Lewis. Para esses casos, Pauling introduziu o conceito de ressonância.
Linus Pauling propôs estruturas de ressonância, que representam a ligação em uma molécula
ou em um íon quando uma única estrutura de Lewis não descreve precisamente a estrutura
eletrônica verdadeira. Escrevemos as estruturas de ressonância para o benzeno que é usado
como matéria-prima para produção de plásticos, gasolina, borracha etc., fazendo com que as
ligações simples entre cada par de átomos de C e os seis elétrons adicionais estejam deslo-
calizados por todo o anel. Veja a Figura 17.
ou
50
0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0
Geralmente, moléculas como ClO2, NO e NO2 têm um número ímpar de elétrons, como
mostra a Figura 20.
N O N O
Figura 20 – Molécula de NO
b) Deficiência em elétrons
As moléculas com menos de um octeto são típicas para compostos dos Grupos 1, 2, e
3. O exemplo mais típico é o BF3, Figuras 21. As estruturas de Lewis nas quais existe uma
ligação dupla B—F são menos importantes que aquela na qual existe deficiência de elétrons.
B
F F
c) Expansão do octeto
Ligação metálica
Como foi estudado anteriormente na Aula 1, a tabela periódica é formada principalmen-
te por metais. Estes apresentam algumas propriedades completamente diferentes daquelas
apresentadas por outras substâncias. Em sua maioria são sólidos à temperatura ambiente
(25 ºC), com exceção do mercúrio (Hg), que é líquido. São bons condutores de calor e de
eletricidade, tanto quando se apresentam no estado sólido como quando fundidos (líquidos).
Embora a interação entre dois átomos metálicos seja fraca, ligações fortes ocorrem quando
um conjunto de átomos forma um sólido metálico, onde os átomos estão arranjados de uma
forma relativamente compacta e regular, a estrutura cristalina. Nesta estrutura, os átomos estão
próximos uns dos outros, sendo que os elétrons de valência são atraídos para os núcleos dos
seus átomos vizinhos. Os elétrons de valência não estão associados com um determinado
núcleo em particular, estão distribuídos pelos diversos átomos sob a forma de uma nuvem de
Tríade do Tríade do
cromo cobre
3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Primeira série de transição ( 3d)
39 40 41 42 43 44 45 46 47 48
Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd Segunda série de transição ( 4d)
71 72 73 74 75 76 77 78 79 80
Lu Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg Terceira série de transição ( 5d)
Podemos observar que as tendências atômicas tendem a ser não regulares para os metais
de transição (em cada série), conforme a Tabela 5, e apresentam variados estados de oxidação,
como mostra a Figura 25.
Grupo 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Elemento Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn
Configuração eletrônica 3d14s2 3d24s2 3d34s2 3d54s1 3d54s2 3d64s2 3d74s2 3d84s2 3d104s1 3d104s2
Primeira energia de
631 658 650 653 717 759 758 737 745 906
ionização (kJ/mol)
Raio atômico de
1,44 1,36 1,25 1,27 1,39 1,25 1,26 1,21 1,38 1,31
ligação (Å)
Densidade (g/cm3) 3,0 4,5 6,1 7,9 7,2 7,9 8,7 8,9 8,9 7,1
Ponto de fusão 1.541 1.660 1.917 1.857 1.244 1.537 1.494 1.455 1.084 420
Fonte: Brown et al (2005).
+6
+4
+2
0
Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn
[18Ar] 3d 14s 2 3d 24s 2 3d 34s 2 3d 54s 1 3d 54s 2 3d 64s 2 3d 74s 2 3d 84s 2 3d 104s 1 3d 104s 2
Assim, ligas metálicas são a união de dois ou mais metais, ou de metais com não metais,
mas com predominância dos elementos metálicos.
Veja a seguir alguns exemplos de algumas ligas metálicas e suas aplicações.
Aço inox (Fe, C, Cr e Ni): usada em talheres, peças de carro, brocas, etc.
d) Elevadas eletronegatividades.
I) Bronze ( ) Fe, C, Cr e Ni
II) Latão ( ) Pb e Sn
V) Aço inoxidável ( ) Au e Cu
Ligações simples
Ligações múltiplas
C
H +H + Cl + Cl
Cl
H H
1 Quebras 2 Formação
C H e Cl Cl C Cl e H Cl
ligações ligações
H
C
H H + Cl Cl
H
Cl
ΔHr C
H + H Cl
H
H
Figura 26 – Ilustração do uso das entalpias médias de formação para estimar o ΔH de reação
Nessa reação, uma ligação C-H e uma ligação Cl-Cl são quebradas enquanto uma ligação
C-Cl e uma ligação H-Cl são formadas. A reação como um todo é exotérmica, o que significa
que as ligações formadas são mais fortes do que as ligações quebradas. Podemos aplicar este
estudo para reações de combustão, como no caso do gás metano, para produção de energia.
Autoavaliação
Que tal verificarmos o que você aprendeu neste módulo? Preparamos para você exer-
cícios finais para avaliar os seus conhecimentos. Boa sorte!
2 Assinale verdadeira (V) ou falsa (F) em cada uma das seguintes afirmativas:
a) Grafite
c) Óxido de magnésio
d) Alumina (Al2O3)
Referências
ATKINS, P. W.; JONES, L. Princípios de química: questionando a vida moderna e o meio
ambiente. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006.
ATKINS, P. W.; JONES, L. Chemical principles. New York: W. H. Freeman; Fifth Edition, 2009.
BROWN, T. L. et al. Química a ciência central. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.
KOTZ, J. C.; TREICHEL JR, P. Química Geral 1 e reações químicas. 5. ed. São Paulo: Pioneira
Thomson Learning, 2005. v 1
Anotações
Aula
3
Aula 3 Química Tecnológica
Apresentação
D
esde os primórdios da civilização, o homem se deparou com estranhos fenômenos
que hoje dizemos estarem ligados ao conceito de energia. Dentre eles, possivelmente
o fogo foi o mais impressionante.
Nesta aula, vamos aprender como as forças intermoleculares influenciam propriedades,
tais como viscosidade, interações de superfície, temperaturas de fusão e ebulição, estados
físicos, entre outras das substâncias que compõem os combustíveis e lubrificantes. Adicio-
nalmente, faremos uma breve introdução sobre as principais funções orgânicas dos compos-
tos que constituem diversos combustíveis e óleos lubrificantes, dos quais podemos citar os
ésteres, álcoois, ácidos carboxílicos e hidrocarbonetos, bem como seus derivados, incluindo
os poliméricos.
Objetivos
Revisar as principais funções orgânicas presentes nos
1 combustíveis e lubrificantes.
M
as, o que é, afinal, a energia? O termo é de origem grega (energéia) e significa força
ou trabalho. Em 1807, o físico inglês Thomas Young propôs que a energia fosse
definida como “capacidade para realizar trabalho”, conceito amplamente utilizado até
os dias atuais. Contudo, essa definição nada diz sobre a natureza mais específica da energia. A
partir do princípio da conservação energética (primeira lei da termodinâmica), o termo energia
passou a ser bastante utilizado no vocabulário científico. Dentre muitas outras transformações
energéticas de amplo domínio, destaca-se a produção de energia elétrica a partir da energia
potencial das quedas d´água. As energias envolvidas nos processos eletroquímicos de uma
célula ou bateria são também exemplos a serem citados. Nas reações de combustão, os fa-
tores que contribuem para a produção de energia estão associados à quebra e formação de
ligações químicas.
Outro tema que nos desperta um grande interesse está relacionado à interação existente
entre as moléculas de determinada substância. Ao analisarmos as propriedades de vários
compostos nos seus estados sólido e líquido (estados condensados), percebemos uma forte
dependência com a composição química e a estrutura molecular, uma vez que estas caracte-
rísticas influenciam diretamente as chamadas forças intermoleculares. Diferentemente dos
gases, as partículas presentes em sólidos e líquidos estão agrupadas muito próximas umas
das outras e as forças entre elas são relativamente elevadas, fazendo com que as substâncias
comportem-se de maneira específica.
Funções orgânicas:
um breve histórico
Durante a década de 1780, os cientistas começaram a distinguir os compostos orgânicos
e inorgânicos. Os orgânicos foram definidos como aqueles que podiam ser obtidos de orga-
nismos vivos, enquanto os inorgânicos eram aqueles que vinham de fontes não vivas. A partir
dessa definição surgiu o chamado “vitalismo”, também conhecido por “teoria da força vital”,
postulada por Jöns Jacob Berzelius (1779-1848). De acordo com essa ideia, a intervenção de
uma força vital era necessária para a síntese de um composto orgânico, ou seja, só poderia
ocorrer nos organismos vivos.
No entanto, entre 1828 e 1850, vários compostos orgânicos foram sintetizados a partir de
fontes que eram claramente inorgânicas. A primeira dessas sínteses foi realizada por Friedrich
Wöhler, em 1828, e consistiu na obtenção da ureia (substância orgânica) pela evaporação de
uma solução aquosa, contendo cianato de amônio (substância inorgânica), conforme Equação 1.
Saiba mais
Friedrich Wöhler (1800-1882) – Grande
químico alemão, precursor no campo da Química
Orgânica, famoso por sua síntese do compos-
to orgânico ureia. Mediante sua contribuição,
demonstrou-se, ao contrário do pensamento
científico vigente na época, que um produto de
processos orgânicos pode ser obtido em labora-
tório a partir de matéria inorgânica.
NH2
-
NH4+ CNO O C Equação (1)
∞
NH2
Cianato de amônio Ureia
A química do carbono
O carbono forma uma variedade tão grande de compostos que tornou necessária a criação
de um campo exclusivo para o seu estudo: a Química Orgânica. A versatilidade desse ele-
mento para formar ligações é responsável pela existência de milhares de moléculas orgânicas,
inclusive aquelas mais complicadas, necessárias para fazer funcionar os processos biológicos
que nos mantêm vivos. Além disso, os materiais baseados no carbono têm propriedades que
vão de um extremo ao outro, como por exemplo, da leveza à grande resistência mecânica.
No intuito de conhecer melhor esse elemento químico tão importante, vamos analisar
mais detalhadamente a teoria estrutural da Química Orgânica. Para isso, duas premissas são
fundamentais, veja quais são elas.
1) Os átomos nos compostos orgânicos podem formar um número fixo de ligações. A medida
dessa habilidade é chamada de valência. O carbono é tetravalente, isto é, forma quatro
ligações. O oxigênio é divalente e o hidrogênio monovalente.
C H O
2) Um átomo de carbono pode usar uma ou mais de suas valências para formar ligações com
outros átomos de carbono, dando origem às ligações simples, duplas e triplas.
C C C C C C
Para melhor fixação do conteúdo abordado nesta seção, realize uma pes-
quisa em livros de Química Orgânica sobre a teoria estrutural e tente relacionar
as características das ligações do carbono com os conceitos sobre ligações
químicas aprendidos na Aula 2 – Ligações Químicas.
H H
CH 3CH 2OH H C C O H
H H
Fórmula condensada Fórmula de traço
OH
CH3
H 3C CH2
H 3C HC
CH2 CH3
CH3
Butano Metilpropano
Dessa forma, butano e metilpropano são isômeros porque possuem fórmula molecular
idêntica, ou seja, quantidades iguais dos mesmos elementos, porém o arranjo desses átomos
dá origem a compostos diferentes, com propriedades diversas.
H H
H C O C H Éter dimetílico
C O C Éter éter
H H
H Clorometano
C X (Cloreto de
Haloalcano halo- H C Cl
metila)
(X = halogênio) H
H H
C N Amina -amina H C C N H Etilamina
H H H
H O
O Etanal
Aldeído -al H C C H
(acetaldeído)
C H
H
H O H
O
Propanona
Cetona -ona H C C C H
C C C (acetona)
H H
H O
O Ácido Ácido etanoico
ácido -oico H C C O H
C O H carboxílico (Ácido acético)
H
H O H
O
Etanoato de metila
Éster -oato H C C O C H
C O C (Acetato de metila)
H H
H O
O
Etanamida
Amida -amida H C C N H
C N (Acetanamida)
H H
Figura 2 – Representação dos grupos funcionais e das funções orgânicas comuns em compostos orgânicos
A Tabela 1 apresenta de forma detalhada as regras que devem ser seguidas para nomear
os compostos orgânicos.
Prefixo
1 Met 6 Hex
2 Et 7 Hept
3 Prop 8 Oct
4 But 9 Non
5 Pent 10 Dec
Infixo
Tipo de ligação entre átomos de carbono Infixo
Ligações simples an
Ligações duplas en
Ligações triplas in
Sufixo
Hidrocarboneto Apenas C e H o
CH 3
Álcool HO C CH 3 ol
CH 3
O
Ácido carboxílico HO C CH 3 oico
O
Éster ato+ila
H 3C O C CH 3
CH3 CH3
CH3
H 3C CH CH2 C CH3
H 3C CH CH2 CH2 CH3
CH3
2-Metilpentano 2,2,4-Trimetilpentano
CH3
CH3 CH3
H 3C CH C CH2 HC CH2 CH2 CH3
H 3C CH2 CH2 CH2 CH3
H 3C CH2
1-Etil-3-metilcicloexano 3-Etil-2,3-dimetil-5-propiloctano
Saiba mais
A partir desse ponto, vamos dar ênfase ao estudo das funções orgânicas mais importantes
para a nossa aula.
Fórmula Ponto de
Fórmula estrutural condensada Nome
molecular ebulição (oC)
CH4 CH4 Metano -161
C2H6 CH3CH3 Etano -89
C3H8 CH3CH2CH3 Propano -44
C4H10 CH3CH2CH2CH3 Butano -0,5
C5H12 CH3CH2CH2CH2CH3 Pentano 36
C6H14 CH3CH2CH2CH2CH2CH3 Hexano 68
C7H16 CH3CH2CH2CH2CH2CH2CH3 Heptano 98
C8H18 CH3CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH3 Octano 125
C9H20 CH3CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH3 Nonano 151
C10H22 CH3CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH3 Decano 174
Fonte: Brown (2005).
H H
H H
C H C C H C C H
C H C C
H H
H H
H 3C CH2
Monômero (C 10H20 )
H 3C CH3
H 3C
Dímero(C 20H 40)
H 3C
H 3C
A ligação tripla C≡C dos alquinos possui energia total aproximadamente igual a 882 kJ
mol , sendo portanto, mais forte que a ligação dupla C=C do eteno (682 kJ mol-1) ou simples
-1
C-C do etano (368 kJ mol-1) e, consequentemente, mais curta (106 pm) que ambas. De modo
geral, os alquenos apresentam propriedades físicas muito semelhantes as dos alcanos, sendo
então insolúveis em água e outros solventes muito polares, menos densos que a água (0,64
a 0,80 g cm-3) e a temperatura de ebulição aumenta com a elevação do número de átomos de
carbono. Os alquinos possuem baixa polaridade e, consequentemente, apresentam proprie-
dades físicas semelhantes as dos alquenos e alcanos. A densidade desses compostos varia de
0,70 a 0,80 g cm-3. Assim como os alcanos, os hidrocarbonetos insaturados também sofrem
reações de combustão, com liberação de grande quantidade de energia.
H
H H H H C OH
H C OH H C C OH H C OH
H H H H C OH
H
Metanol (álcool metílico) Etanol (álcool etílico) Glicerol (glicerina)
H H R
R C OH R C OH R C OH
H R R
Primário Secundário Terciário
Saiba mais
Metanol e etanol são os dois álcoois mais importantes do ponto de vista industrial, sendo
preparados em grande escala. O etanol, por exemplo, pode ser produzido por hidratação do
etileno, sendo a maior parte desse álcool obtida por meio da fermentação de carboidratos
(Equação 2), particularmente a sacarose da cana-de-açúcar.
O O
R C + HO R1 R C + H 2O Equação (4)
OH R1
Ácido carboxílico Álcool Éster Água
O O O O
C C + C C
HO (CH 2)n OH
2R OH
RO (CH 2)n OR + 2H 2O Equação (5)
O O
H 3C C + HO CH2 CH3 CH3 C + H 2O Equação(6)
OH O CH2 CH3
Ácido acético Etanol Acetato de etila Água
O
CH2 CH2 CH 2 CH2 C
H 3C CH2 CH2 CH2 O -Na+
Cadeia apolar Extremidade polar
Quando o sabão é posto em contato com a água, forma-se uma dispersão coloidal cons-
tituída por agregados denominados micelas, nas quais as porções hidrofóbicas (cadeia car-
Aditivos bônica) do sabão permanecem na parte interna da micela, resultado da atração de London
em lubrificantes são e da menor exposição destas ao contato com a água do meio (Figura 6). Por outro lado, as
substâncias químicas
porções polares (carboxilatos) formam a parte externa da micela, aquela que fica em contato
que, adicionadas aos
óleos básicos, podem direto com o meio aquoso. É nesse processo que se baseia a ação dos sabões e detergentes.
reforçar algumas de Os detergentes são utilizados como aditivos de lubrificantes, pois apresentam a capacidade
suas qualidades, ceder de interagir com o meio oleoso hidrofóbico, utilizando para isso sua cadeia carbônica (apolar),
novas propriedades e/ou
conseguindo dessa forma se solubilizar e formar micelas que, por sua vez, capturam partículas
eliminar as características
indesejáveis. contaminantes eventualmente presentes no lubrificante.
H 3C
O -Na +
Cabeça hidrofóbica
Cauda hidrofóbica
Micelas
H O H
1 R 1COOR4
O H C O C R H C OH
+
2 4
R C O C H O + 3R OH R 2COOR4 + H C OH Equação (7)
H C O C R
3 + H C OH
R 3COOR4
H H
Para auxiliar a fixação dos conteúdos abordados nesta seção, preparamos alguns exercícios.
a) 3-etilpentano c) cicloexilcicloexano
b) 3-etil-3-isopropil-2,5-dimetilexano d) 4-metilpenta-1,3-dieno
f) but-2-ino i) isopropilbenzeno
g) 3-etilexa-1,5-diino j) 2-fenilexano
OH
a) H 3C CH CH 2 CH 3 d)
OH
HO OH
O
b) H 3C CH CH CH 3
e) H 3C CH 2 C O CH 3
OH OH
OH O
c) f) C O CH 3
Em uma solução básica, os ésteres reagem com o íon hidróxido para formar sal do
7 ácido carboxílico e álcool a partir do qual o éster é constituído. Dê o nome para os
ésteres abaixo e indique os produtos de suas reações com base aquosa (reação de
hidrólise em meio básico).
O O
a) C O CH2 CH3 b) H3 C CH 2 CH 2 C O
Podemos observar que os constituintes elementares das espécies químicas que compõem
as substâncias passíveis de oxidação são convertidos em outros compostos, resultantes da
ligação desses elementos com o oxigênio. Por isso, quanto maior a porcentagem de carbono
e hidrogênio, ou outros átomos que possam se ligar favoravelmente ao oxigênio, em um
combustível, mais alto será o seu calor de combustão, conforme demonstrado na Tabela 3.
Madeira 50 6 44 18
Carvão antracito 82 1 2 31
Carvão betuminoso 77 5 7 32
Carvão vegetal 100 0 0 34
Petróleo não
85 12 0 45
refinado
Gasolina 85 15 0 48
Gás natural 70 23 0 49
Hidrogênio 0 100 0 142
Fonte: Brown (2005).
A ligação entre dois átomos ocorre somente se a interação entre eles for energeticamente
favorável, ou seja, se energia (calor) for liberada no processo. Por isso, a quebra de uma liga-
ção requer a absorção da mesma quantidade de energia liberada na sua formação. As causas
principais da liberação de energia quando uma ligação se forma são puramente físicas. Quando
dois átomos se aproximam, o núcleo positivo de um deles atrai os elétrons do outro átomo e o
mesmo acontece com este outro átomo. Esse tipo de ligação é descrito pela Lei de Coulomb,
segundo a qual cargas opostas se atraem com força inversamente proporcional ao quadrado
da distância entre os centros das cargas. Essa função atrativa faz com que a energia, chamada
energia de ligação, seja liberada quando os átomos se aproximam. Quando os átomos chegam
a certa distância não há mais liberação de energia e, neste ponto, a distância internuclear é
chamada distância de ligação (Figura 7).
Dessa forma, podemos entender a origem das variações de energia nas reações químicas.
Na queima do gás metano (Equação 8), por exemplo, os reagentes apresentam grandes quan-
tidades de energia potencial, mas relativamente pouca energia cinética. Ao se converterem em
produtos, o aumento da energia cinética molecular provocou um aumento da temperatura na
mistura reacional e a liberação de calor para as vizinhanças. A diminuição da energia química
ocorreu em função das variações de energia potencial em virtude das alterações das forças
atrativas e repulsivas.
Entretanto, é preciso salientar que deve haver um balanço energético favorável, resultante
da quebra e da formação de ligações, uma vez que para a ocorrência do primeiro processo é
necessário o fornecimento de energia. Nesse contexto, devemos destacar o conceito de energia
ou força de ligação. A força de uma ligação é medida pela quantidade de energia necessária
para separar os átomos que as ligações mantêm unidos ou pela quantidade de energia liberada
quando a ligação se forma. Quanto maior essa quantidade, mais forte a ligação.
Consideremos o caso da combustão do hidrogênio (H2). A ligação H-H é forte, pois são
necessários 432 kJ de energia para dissociar um mol de H2 em átomos de H. Mas, a mistura
de H2 e O2 (Equação 9) provoca uma reação explosiva (muito espontânea). O produto é cons-
tituído por um par de ligação O-H e a energia liberada por meio da formação dessas ligações
mais do que compensa a energia requerida para as quebras das ligações H-H e O=O.
Curiosidade
Hidrogênio (H2) e oxigênio (O2), ambos no estado líquido, são usados como
combustíveis no ônibus espacial, produzindo água como produto da reação.
Por definição, as entalpias padrão de formação da forma mais estável de qualquer ele-
mento é zero. Como exemplos, o carbono grafite, hidrogênio (H2) e oxigênio (O2). A Tabela 6
lista as entalpias padrão de formação de diversas substâncias.
A entalpia padrão de reação (ΔHro) será a soma dos calores padrão de formação dos
produtos menos a soma dos calores padrão de formação dos reagentes, conforme descrito
pela Equação 11:
ΔHro = ΣnΔHfo(produtos) - ΣmΔHfo(reagentes)Equação (11)
sendo n e m, os coeficientes estequiométricos da equação química da reação correspondente.
Para finalizarmos, devemos nos lembrar das unidades SI para energia. Trata-se de uma
unidade derivada denominada joule (J) e corresponde à quantidade de energia cinética que um
objeto de dois quilogramas (2 kg) movendo-se a uma velocidade de um metro por segundo
(1 m.s-1) possui. Sabendo que a equação da energia cinética é igual a ½ mv2, temos:
1J = 1 kg m2 s-2
Normalmente, utiliza-se uma quantidade maior, o quilojoule (kJ), que corresponde a 1000
J. Outra unidade comum para energia é a caloria (cal) e a quilocaloria (kcal), cujos fatores de
conversão são: 1 cal = 4,184 J e 1 kcal = 4,184 kJ. Ambas as unidades são aceitas mun-
dialmente como unidades padrões de energia.
Teste seus conhecimentos sobre o que abordamos nesta seção, resolvendo os exercícios
a seguir.
Quais são as duas formas de energia que um objeto pode possuir? Estabeleça as
1 diferenças entre essas energias.
Calcule a entalpia padrão da reação de combustão a partir das entalpias padrão de for-
5 mação para os seguintes combustíveis: metano, hidrogênio e etanol. Compare seus
resultados com aqueles apresentados na Tabela 5 para os mesmos combustíveis.
Combustíveis gasosos
No Brasil, os gases mais utilizados como combustíveis são o gás natural e o gás liquefeito
de petróleo (GLP). O GLP é constituído por uma mistura de hidrocarbonetos, dos quais os
principais são propano (C3H8) e butano (C4H10), facilmente condensáveis e cujas frações na
mistura chegam a aproximadamente 50% cada um. Essa mistura gasosa pode ser obtida do
gás natural e do petróleo, por refino, sendo usada como combustível doméstico e industrial. As
reações de combustão desses componentes podem ser escritas de acordo com as Equações 12 e 13.
O gás natural é um combustível limpo que exige muito pouco processamento. Ocorre
nas formações geológicas petrolíferas, associado ou não ao petróleo, e é constituído majorita-
riamente de metano (CH4), misturado com pequenas quantidades de outros hidrocarbonetos
parafínicos (principalmente, etano e propano). Pode também apresentar até 10% de constituin-
tes não combustíveis, como nitrogênio (N2), oxigênio (O2) e dióxido de carbono (CO2), além
de contaminantes como ácido sulfídrico (H2S). É de fácil transporte por dutos terrestre e sua
taxa de emissão de CO2 por unidade de energia é inferior a de outros combustíveis fósseis.
Além disso, esse gás contribui menos para a formação de poluentes porque as moléculas não
queimadas de CH4 são consideravelmente menos reativas (em relação à química de radicais
livres) do que as moléculas de hidrocarbonetos com mais de um átomo de carbono. A reação
de combustão do gás metano está representada pela Equação 8.
A gasolina
A gasolina pode ser obtida através de fontes naturais – por vapores de hidrocarbonetos
com 4 a 7 átomos de carbono (frações C4 a C7), que acompanham os gases naturais de poços
petrolíferos, e também do petróleo. Do petróleo, a gasolina (frações de C6 a C12) é separada
dos demais hidrocarbonetos através da destilação fracionada, um dos processos de refino do
óleo mineral. Até 1885, o principal objetivo da refinação do petróleo era o de produzir quero-
sene e óleo combustível. No entanto, o desenvolvimento da indústria dos motores a explosão
determinou uma profunda modificação nos processos até então utilizados. Os hidrocarbonetos
A partir disso, ficou estabelecido que em um motor de combustão interna padrão, o hi-
drocarboneto líquido que apresentava melhor comportamento era o 2,2,4-trimetilpentano ou
isooctano, que ficou responsável pela octanagem 100. Por outro lado, o heptano, que apresenta
aproximadamente o mesmo ponto de ebulição do isooctano, é pouco resistente à detonação
prematura e, portanto, convencionou-se sua octanagem como zero.
A gasolina é constituída por uma mistura de hidrocarbonetos, mas tipicamente pode ser
representada pelo octano (C8H18) e sua reação de combustão pode ser descrita conforme a
Equação 14.
Carvão
OH
OH
O O
HO O O
OH
OH n
Por outro lado, o carvão mineral, encontrado nas minas tradicionais de carvão espalhadas
em todo o mundo, é muito mais atrativo do ponto de vista energético quando comparado à
lenha. Compostos orgânicos e inorgânicos (minerais) encontram-se em sua composição, sendo
o carbono em quantidade majoritária. Além do carbono, também estão presentes hidrogênio,
oxigênio, nitrogênio e enxofre. Dentre os compostos minerais, a pirita (FeS2) é um exemplo,
acompanhada do enxofre nas complexas moléculas orgânicas de carvão. O carvão, ao ser
queimado, libera dióxido de enxofre (SO2), um sério poluente atmosférico.
Fonte: <http://estudante-de-biogeo-11.blogspot.com/2009/03/
classificacao-das-rochas-sedimentares.html>. Acesso em: 12 abr. 2011.
Análise Química
Tipo Poder calorífico
Umidade (%) Carbono fixo (%) Cinza (%)
(kcal kg-1)
Antracito 2,0-3,5 92-96 2-3 7.200-8.000
Hulha 10-20 73-92 3,5-9,1 5.000-8.200
Linhito 20-40 65-73 6,0-7,5 3.800-4.600
Turfa 90 55-65 8-15 3.000-3.500
Fonte: Hilsdorf (2009).
O carvão mineral, em cada uma de suas fases, compõe-se de uma parte orgânica, formada
de macromoléculas de carbono e hidrogênio e pequenas proporções de oxigênio, enxofre e
nitrogênio. A parte orgânica é a mais útil, por ser fortemente combustível. As principais reações
de combustão do carvão estão representadas pelas Equações 15, 16 e 17.
Aquecer ou Aquecer
reduzir a
pressão
Figura 9 – As propriedades gerais dos gases, líquidos e sólidos podem ser compreendidas em termos
de quão constritas as moléculas estão agrupadas e das forças das atrações moleculares entre elas
Existem diversos tipos de interações intermoleculares (Tabela 8), sendo todas elas ori-
ginadas de atrações entre cargas elétricas opostas. Em conjunto, elas são chamadas forças
de van der Waals, em homenagem a J. D. van der Waals, que estudou o comportamento não
ideal dos gases reais.
Tabela 8 – Descrição resumida das interações intermoleculares
Intensidade relativa
Tipo de interação Substâncias comuns
à ligação covalente
Ocorrem em substâncias que
Atrações dipolo-dipolo possuem dipolos permanentes 1 a 5%
(moléculas polares).
Ocorrem quando as moléculas
Ligações de hidrogênio 5 a 10%
contêm ligações N-H e O-H.
Forças de dispersão Depende do tamanho
Todos os átomos, moléculas e íons.
de London e da forma das moléculas.
Atrações íon-dipolo
Ocorrem quando os íons interagem ∼10%: depende da carga
com moléculas polares. do íon e da polaridade da molécula.
Ocorrem quando um íon cria um
Atrações Variável, depende da carga do íon e
dipolo na partícula vizinha, que pode
íon-dipolo induzido da polarizabilidade de seu vizinho.
ser uma molécula ou outro íon.
Fonte: Brady (2009).
A partir da Tabela 8 verificamos que a presença de polaridade nas ligações e nas moléculas
é relevante para a ocorrência dos diferentes tipos de interações intermoleculares. Por isso,
vamos falar um pouco sobre essa característica das substâncias. A polaridade, resultante da
separação de cargas ou densidades de carga, afeta diversas propriedades físicas e químicas
de uma substância. Essa separação de cargas em uma molécula pode ser quantificada pelo
momento de dipolo. Porém, o termo polaridade deve ser considerado de forma cuidadosa.
Na química, encontramos a polaridade em ligações e em moléculas. O primeiro caso está
a b
Dipolos de ligação Dipolos de ligação
O
O C O
H H
Momento de dipolo total = 0
Momento de dipolo total
Figura 10 – (a) O momento de dipolo total da molécula de CO2 é zero (molécula apolar), pois seus dipolos de
ligação possuem módulos iguais e sentidos contrários. (b) A molécula de H2O é polar, pois seus dipolos de
ligação são iguais em magnitude, mas não exatamente opostos entre si.
Figura 11 – Fluxograma das principais características responsáveis pelos diferentes tipos de interações intermoleculares
As forças intermoleculares também são responsáveis por uma propriedade muito im-
portante das substâncias, principalmente dos líquidos, denominada viscosidade. Uma subs-
tância gasosa, quando colocada dentro de um recipiente qualquer fechado, vai se expandir
naturalmente até ocupar todo o volume disponível. No caso dos líquidos, essa expansão não
é observada, mas sim uma espécie de acomodação do volume líquido dentro do recipiente,
de maneira que ele adquire a forma do objeto. Essa capacidade de mudar de forma é bastante
comum nas substâncias líquidas, inclusive durante seu escoamento. A resistência de um líquido
em trocar de forma durante o escoamento é a chamada viscosidade.
A viscosidade tem sido chamada “atrito interno” de um material e é influenciada tanto
pelas atrações intermoleculares quanto pela forma e pelo tamanho moleculares. Para moléculas
de tamanho semelhante, conforme aumentam as intensidades das forças intermoleculares
também aumenta a viscosidade. Consideremos duas substâncias de mesmo tamanho molecular
(mesma quantidade de átomos), como a acetona e o etilenoglicol, representadas a seguir. Qual
delas apresenta maior viscosidade?
C
H 3C C CH3 HO CH2 CH2 OH
Acetona Etilenoglicol
Saiba mais
Vale ressaltar ainda que a viscosidade apresenta dependência com a temperatura, da seguin-
te forma: quando a temperatura diminui, a viscosidade aumenta. Isso se deve ao fato de que com a
diminuição da temperatura as moléculas se movem mais lentamente e as forças intermoleculares
tornam-se mais efetivas na restrição ao escoamento. Por isso, a viscosidade dos combustíveis é
uma característica muito importante, que atesta sua aplicabilidade em determinadas regiões do
país e do mundo. No caso de lubrificantes, a variação da viscosidade com a temperatura pode
causar perda da capacidade de lubrificação, com consequente desgaste de peças.
Ainda considerando os processos de interações químicas, vamos mencionar a adsorção,
que consiste na acumulação de uma substância em uma interface. Ocorre com todos os tipos
de interface, tais como gás-sólido, líquido-sólido, líquido-gás. Trata-se de um fenômeno de
superfície e está relacionado à tensão superficial. Os sólidos, por exemplo, apresentam a pro-
priedade de reter moléculas em sua superfície e esta propriedade pode ser bastante acentuada
no caso de materiais porosos ou finamente divididos. As forças envolvidas podem variar desde
as de natureza puramente física (adsorção física ou fisissorção) até as de natureza química
(adsorção química ou quimissorção). Os principais parâmetros envolvidos são área específica
da superfície, porosidade, distribuição de tamanho de poro e temperatura. O material adsorvido
é denominado adsorbato e a fase que adsorve é o adsorvente.
A adsorção física ou fisissorção é causada principalmente por interações do tipo forças
de van der Waals (interação dipolo-dipolo e forças de polarização envolvendo dipolo induzido),
sendo um fenômeno reversível no qual se observa normalmente a deposição de mais de uma
camada de adsorbato sobre a superfície adsorvente. Na adsorção química ou quimissorção
os átomos ou moléculas se ligam à superfície do adsorvente por meio de ligações covalentes.
Por se tratar de uma ligação química, a distância entre a superfície e o átomo mais próximo
Figura 12 – (a) Interações responsáveis pela ocorrência da molhabilidade do vidro limpo. (b) Interações que impedem a ocorrência da
molhabilidade, resultando na formação de gotas na superfície de vidro engordurada
a
- + +
+ - +
Ânions adsorvidos - - +
podem interagir - - Repulsão -
com a água
Partícula - - Partícula
+ - hidrofóbica
+
hidrofóbica
+ - -
- - +
- - +
Cátions
em solução - + - Água + -
O H+ H C H H C H Adesão O Fe
Fe
OFe
O
C
O
O F
e Fe OFe OFe O O Fe
Fe O OFe OFO Fe O Fe e O Fe O
+ - O H+
+
H C H O Fe
Fe
O
O Fe e O OFe Fe Fe F
Fe O O Fe O O Fe O F
e
+ - H O - Fe O F
e Fe OF
O Fe e e
O F Fe O Fe
-+ O Fe O
Ferro O
Figura 14 – Ilustração dos fenômenos de adsorções física do hexadecanol (a) e química do estearato (b) sobre uma superfície metálica
Moléculas não polares, como hexadecano e benzeno, possuem baixa resistência de filme,
resultando em um alto coeficiente de atrito na superfície metálica. Na Figura 14b, observamos
a quimissorção do ácido hexadecanoico por meio da sua reação com o óxido de ferro da su-
perfície, na presença de água, formando o filme lubrificante. No caso das interações por reação
química, o filme é resultado de produtos de elevada reatividade química do metal.
Com o material disponibilizado no link a seguir, você terá a oportunidade de ampliar seus
conhecimentos sobre o tema tensão superficial.
Tensão superficial. Disponível em: <http://pt.wikibooks.org/wiki/Mec%C3%A2nica_dos_flui-
dos/Tens%C3%A3o_superficial>. Acesso em: 4 abr. 2011.
No link abaixo, você encontrará uma descrição ilustrada sobre a viscosidade e as maneiras
de determinar tal propriedade.
DETERMINAÇÃO da viscosidade: método de Stokes e viscosímetro de Hopler. Disponível em:
<http://www.escoladavida.eng.br/mecfluquimica/aulasfei/aula_10_complemento.pdf>. Acesso
em: 13 abr. 2011.
Nos três links a seguir, são disponibilizados materiais para estudos complementares
sobre a energia, suas formas e aplicações.
Nesta aula, você aprendeu que a ciência Química Orgânica está presente
em nosso cotidiano, nas mais variadas formas, a começar pelo nosso próprio
organismo. Entendemos que os combustíveis, uma das principais fontes de
energia, atualmente, são constituídos por compostos orgânicos, que ao sofre-
rem combustão liberam energia de forma espontânea. Vimos também que os
lubrificantes, substâncias essenciais para o bom funcionamento de diversos
equipamentos, inclusive os motores automotivos, também são compostos por
substâncias orgânicas. Durante nossos estudos, percebemos que as propriedades
e características das substâncias são diretamente influenciadas pelas interações
químicas presentes entre as moléculas e também dessas com as interfaces (su-
perfícies, por exemplo). A partir dos conceitos abordados nesta aula, será possível
compreender, do ponto de vista químico, o comportamento dos combustíveis e
lubrificantes durante suas atividades.
Autoavaliação
Determine quantos moles de dióxido de carbono gasoso são produzidos por uma ter-
1 moelétrica para cada 1,0 MJ (megajoule) de energia produzida, sabendo que a planta
queima metano gasoso, para o qual a entalpia de combustão vale -890 kJ mol-1.
Referências
ATKINS, P.; JONES, L. Princípios de Química: questionando a vida moderna e o meio ambiente.
3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. 965 p.
BRADY, J. E.; SENESE, F. Química: a matéria e suas transformações. 5. ed. Rio de Janeiro:
Editora LTC, 2009. 569 p.
BROWN, T. L.; LEMAY JR., H. E.; BURSTEN, B. E. Química, a ciência central. 9. ed. São Paulo:
Pearson Prentice Hall, 2005. 972 p.
HILSDORF, J. W. et al. Química tecnológica. São Paulo: Cengage Learning, 2009. 337 p.
SPIRO, T. G.; STIGLIANI, W. M. Química ambiental. 2. ed. São Paulo: Editora Pearson Prentice
Hall, 2009. 334 p.
VOLLHARDT, K. P. C.; SCHORE, N. E. Química Orgânica: estrutura e função. 4. ed. Porto Alegre:
Editora Bookman, 2004. 1112 p.