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AVALIAÇÃO
Questão 2
Ao escrever sobre o romance, no texto Por que o romance?, Marthe Robert
apresenta as questões históricas que permearam esse gênero, como a desconfiança
inicial e o valor recebido contemporaneamente. No texto, a autora desenvolve a relação
entre a escrita e a realidade pretendida como anúncio do gênero literário em questão,
não sendo esta, como afirma Robert, aquilo que caracteriza o romance
necessariamente, dada a sua complexidade.
Para análise das obras em questão (A vida verdadeira de Domingos Xavier e
Mayombe) cabe levar em consideração dois levantamentos importantes sobre o
romance feitos por Marthe Robert. O primeiro diz respeito a capacidade de um
romancista de, além de registrar a realidade, alterá-la, subvertê-la. Esse elemento, que
contribui para a composição de romances, é algo extremamente marcado na produção
do gênero em Angola. Como é visível em A vida verdadeira de Domingos Xavier e
Mayombe, há o registro da realidade do povo angolano - com a representação de sua
situação de colonizado/explorado em busca da libertação de si e de sua terra - na
mesma medida em que há uma subversão dessa realidade para alcance do
desenvolvimentos de mitos que representariam essa busca pela liberdade das amarras
da colonização. Assim se dá, por exemplo, em A vida verdadeira de Domingos Xavier,
a história de um sujeito - em consonância com outras histórias - que basicamente
passa por uma Via Sacra, defendendo os ideais e mesmo os companheiros de luta. E
em Mayombe, com a representação dos guerrilheiros de de suas particularidades e
poder de luta diante das situações apresentadas.
O segundo levantamento importante feito no texto de Robert diz respeito ao
distanciamento do escritor romancista do objeto abordado, voltando-se para ele apenas
a escrita, em contraposição, justamente, àqueles que vivem a história narrada. Esse
elemento posto em questão, ao contrário do anterior abordado, não se relaciona bem
com o romance angolano, nitidamente marcado pela vivência dos escritores - como
acontece nas obras apresentadas.
Ainda sobre o desenvolvimento dos romances angolanos, cabe uma relação
com o texto de Adorno, Posição do narrador no romance contemporâneo. Nele, o autor
apresenta a dificuldade de narração, apesar da exigência feita pelo romance de que ela
aconteça. Segundo o crítico, a própria estrutura do romance contribui para isso, pois
houve uma desintegração da identidade da experiência, o que torna a passagem
destas para a história algo complicado. Entretanto, com relação ao romance angolano,
pelo menos no que diz respeito às obras de Luandino e de Pepetela aqui abordadas,
há o desenvolvimento da história que, nitidamente, estava relacionado às interações de
vida vividas pelos autores - afinal, o processo de libertação de Angola é algo que
realmente aconteceu e que teve a participação de muitos desses intelectuais - o que
problematiza a colocação de Adorno com relação a experiência e a escrita de
romances.
Bibliografia
- ADORNO, Theodor W. Posição do narrador no romance contemporâneo. I n:
Notas de Literatura I.
- CHAVES, Rita. O romance em Angola: a identidade entre a história e a poesia.
In: LEÂO, Ângela Vaz (org.). Contatos e Ressonâncias: Literaturas africanas de língua
portuguesa. Editora: PUCMinas, 2003.
- ROBERT, Marthe. Por que o romance? In: Romance das origens, origens do
romance. Editora: Cosac Naify.
- SANTILLI, Maria Aparecida. O romance angolano: marcos e marcas. In: LEÂO,
Ângela Vaz (org.). Contatos e Ressonâncias: Literaturas africanas de língua
portuguesa. Editora: PUCMinas, 2003