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Universidade Regional do Cariri

CURSO DE LETRAS I
CULTURA BRASILEIRA: POLÍTICA E SOCIEDADE

RESUMO DO LIVRO
O QUE É ETNOCENTRISMO
EVERARDO P. GUIMARÃES ROCHA

JOSÉ ALMIR RODRIGUES GONÇALVES

M. Velha, Ceará
2018.
Este é um livro constituido de cinco capítulos cuja autoria pertence à Everardo P.
Guimarães Rocha, que traz no capítulo primeiro, “Pensando em partir”, o conceito do termo
"etnocentrismo", que segundo ele, é uma visão do mundo com qual tomamos nosso próprio
grupo como centro de tudo, e os demais grupos são pensados e sentidos pelos nossos
valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência. No meu parecer, o
etnocentrismo começa a acontecer quando o homem acha que a cultura do seu grupo está
acima da cultura dos outros grupos, e ele começa a menosprezar as outras culturas que não
a dele, ou seja, porque o homem observa somente através de sua cultura o mundo ao seu
redor, ele passa a considerar que a sua maneira de viver é a mais correta e a mais natural,
desse modo, nessa questão etnocêntrica temos um choque cultural, visto que desse lado,
conhecemos apenas o grupo do "eu" o "nosso" grupo, que compartilha todas as coisas
como: vestes, gostos, problemas, acredita nos mesmos Deuses, mora no mesmo estilo,
procedendo o tempo todo de maneira semelhante. Ai então, nos deparamos com o outro
grupo, o grupo do "diferente” que faz coisas totalmente opostas à que nós fazemos que nós
não reconhecemos como possíveis. E para agravar ainda mais, o outro sobrevive a sua
maneira e ainda por cima, gosta dela, e embora seja diferente, existe e está no mundo. Essa
diferença torna-se uma ameaça por ferir a nossa identidade cultural.
O autor apresenta a relativização em sentido contrário a esse tipo de visão
distorcida, que se trata do esforço para compreender o “outro” em sua própria realidade,
pois a visão de mundo muda de acordo com os olhos de quem o vê e que nossos valores
não são absolutos.
No capítulo segundo que se intitula “Primeiros movimentos”, o autor começa com a
narração de uma aula na “Escola de Sagres”, e é neste capítulo que Everardo Guimarães diz
que vários pensamentos e reflexões do século XVI, influenciaram para a forma como a
gente passou a ver o outro e um dos primeiros movimentos intelectuais para que isso
acontecesse, foi o evolucionismo. Entende-se que a noção da evolução - que segundo o
autor, equivale, no seu sentido mais amplo, a desenvolvimento obrigatório de uma
determinada unidade que revela, pelo processo evolutivo, uma segunda forma, mostrando,
assim, sua potencialidade - é o marco fundamental para o pensamento antropológico.
Dentro da Antropologia surge o evolucionismo social ligado ao evolucionismo biológico,
afirmando que o homem está em um contínuo processo de desenvolvimento onde a cada
etapa, ele vai se tornando superior ao que era antes e que o "outro" é diferente, pelo fato de
se encontrar em uma etapa inferior de civilização. Desse ponto de vista, há apenas uma
única história da humanidade e todos caminham de forma direta, rumo ao progresso.
Portanto, conforme a teoria, há uma coexistência de diferentes graus de evolução que são
medidos pela cultura.
O texto também nos mostra que as expressões “progresso” e “tempo” foram
consideradas pelo evolucionismo antropológico como fundamentais, pelos quais o homem
obrigatoriamente teria que passar a fim de atingir o estágio de civilização.
No final deste capítulo, Everardo Guimarães declara que a antropologia ampliará
enormemente o seu campo de estudo, expandindo-se de tal maneira, que galgará
rapidamente limites até então jamais pensados e chegará ao ponto de a sociedade do “eu”
começar a questionar-se.
No terceiro capítulo,” O passaporte”, o autor fala que o século XX vem trazer para a
Antropologia um conjunto de novas idéias por um grupo de pesquisadores. Relativizar é
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uma palavra que até hoje, muito pouco saiu das fronteiras do conhecimento produzido pela
Antropologia. Fala também de Franz Boas, um alemão e um importante teórico em todo o
processo, e que foi o primeiro a se posicionar a favor do estudo dos povos de conformidade
com as particularidades: cada sociedade tem sua própria dinâmica e se desenvolve de
acordo com sua própria lógica. Segundo Everardo, o esforço de relativizar problematiza
qualquer “saber” e que as ideologias, as extremadas especialmente, odeiam toda e qualquer
possibilidade de relativização, porque todas estão bem centradas em seu próprio monólogo,
e dessa forma, a descentralização quebra com sua auto-referência, abrindo com isso, espaço
para uma multiplicidade de pontos de vista, soluções e perguntas. Assim, as culturas
humanas emergem da pura e simples classificação evolucionista que literalmente explode.
Everardo Rocha diz que o livro Casa Grande & Senzala de Gilberto Freyre tem
muito a ver com Boas por dois motivos. Esta oscilação e criatividade que Gilberto Freyre
tão bem captou de seu professor, é o primeiro. O segundo é pela incrível capacidade de
Boas para formação de grandes alunos que perpetuaram suas visões da cultura humana e do
fazer da Antropologia.
Mesmo tendo reduzido o estudo da cultura a apenas alguns de seus aspectos (cultura
e linguagem, cultura e personalidade, cultura e ambiente), o Difusionismo foi importante no
começo do século XX, por ser uma teoria alternativa da compreensão da diversidade
cultural, abrindo as portas para outras formas de se pensar o “outro”.
Ao começar o quarto capítulo, “Voando Alto”, o autor vem mostrando que a
Antropologia, aos poucos, foi adquirindo uma identidade própria e agora, fundamental para
a vida da disciplina, entram em cena teóricos de suma importância como Radcliffe Brown,
Émile Durkheim e Malinowski nesse processo. Everardo Rocha declara que tanto o
Evolucionismo quanto o Difusionismo concebiam o “outro” baseado na história, quer ela
fosse universal ou particular. Para o evolucionismo, agora a história tinha “H” maiúsculo, e
era uma única história para toda a humanidade. Era como se, desde Adão e Eva até o Juízo
Final, toda a humanidade caminhasse no mesmo sentido do “progresso”, e da “evolução”.
O autor deixa claro que com Durkheim, a sociedade agora, passa a ser vista de uma outra
forma, como algo mais que uma mera soma de indivíduos, ela é praticamente um novo ser
que influencia, através dos fatos sociais, o comportamento do indivíduo. Radcliffe-Brown
promove um corte teórico quando desvincula o estudo antropológico da história: o presente
dos povos não necessitava ser explicado por seu passado (diacronia), e sim o seu presente
(sincronia) que deveria ser analisado e por conceitos bem precisos, até porque a própria
concepção de tempo e história é totalmente diferente para cada sociedade.
Ainda segundo o autor, Radcliffe-Brown achava conveniente estabelecer uma
comparação entre a Antropologia e as Ciências Naturais assim como comparava também o
sistema social ao corpo humano, pelo seu funcionalismo. Como é um organismo complexo,
tem a vida como um fluxo permanente neste corpo. A vida caracteriza um constante
processo vital, de permanência obrigatória para a manutenção do organismo, que por sua
vez, possui uma estrutura composta de ossos, tecidos, fluidos, etc. A função estabelece a
correlação entre o processo vital e a estrutura orgânica. Desse modo, o coração,
desempenha a função de bombear constantemente o sangue através do corpo. Se porventura
parar de executá-la, o processo vital e a estrutura orgânica cessa, enquanto estrutura viva
também desaparece. Era a realidade concreta o objeto de estudo, os processos que ocorrem
no interior da estrutura social, os papéis realizados por cada componente dessa estrutura.
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Assim, para conhecer o "outro" se torna necessário ir a seu encontro. Então aqui surge
Malinowski, o grande viajante da Antropologia e, com ele, o "trabalho de campo" é
realizado pela primeira vez. Everardo Rocha diz que, outro nó, outro lado do laço, e não
menos importante para a autonomia antropológica, vai ser desatado por Émile Durkheim
que afirma categoricamente uma ruptura: o social não se explica pelo individual. Vemos
que o fato social é (1) coercitivo, por demonstrar que o fato social coage e pressiona os
indivíduos com uma autonomia que os submete à sua lógica, ou seja, pressiona o indivíduo,
coagindo-o a uma participação mesmo que ele não queira. (2) extenso porque o fato social
se estende por todo o grupamento onde ele acontece. Diante de fatos sociais que me
envolvam não me é possível deles me excluir e é (3) externo ao querer e ao poder do
indivíduo. O fato social é, por todos e para todos, uma “coisa” que ultrapassa a cada um.
Durkheim mostra que o social tem uma particularidade que não se confunde com a soma
dos indivíduos. .
A Antropologia, portanto, em seu contato com o "outro", adquire novos
instrumentos e é influenciada pelos povos que passa a conhecer.
No último capítulo de seu livro, “A volta por cima”, o autor Everardo Rocha faz
uma retrospectiva dos assuntos tratados em toda a trajetória escrita e mostra como a
Antropologia se via no final do século XX e como a cultura no decorrer de todo esse
processo passou a ser entendida. O autor também cita, que a Antropologia é uma ciência
interpretativa que se interessa em conhecer a cultura das sociedades, quer seja a do "eu"
quer seja a do "outro", e que uma de suas muitas finalidades seria a de se tornar uma
espécie de "arquivo universal" das muitas alternativas que os indivíduos encontraram
durante sua existência. Finalmente, Cultura seria a principal alternativa que as sociedades
existentes escolheram a fim de se organizar, com um sistema de comunicação que dá
sentido para as nossas vidas. O antropólogo com o seu trabalho, procura exatamente captar
essa lógica para conhecer a realidade, e a maneira que cada sociedade escolheu para viver.
O antropólogo procura libertar-se das concepções impostas pela sociedade do “eu”, para
tanto, ele vai de encontro ao “outro”.
Diante de todo o assunto abordado, Everardo Rocha conclui sua obra dizendo
acreditar que este é o plano para onde a Antropologia encaminha nosso pensamento. Aí, no
lugar em que ela exerce seu esforço de aprendizado, sentimentos, pensamentos e práticas
etnocêntricas se complexificam, se transformam, se relativizam. Aí também, no encontro
entre o “eu” e o “outro”, emerge uma compreensão do ser humano, a um só tempo,
problematizada e generosa.

ROCHA, Everardo. O que é etnocentrismo. 5ª edição, Editora Brasiliense, 1988.


(Coleção Primeiros Passos)

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