Você está na página 1de 54

UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÃO

GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

ERNESTO PEREIRA DE MELO

PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA: SERES INVISIVEIS A


SOCIEDADE OU SUJEITO DE DIREITO?

CABO FRIO
2018
ERNESTO PEREIRA DE MELO

PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA: SERES INVISIVEIS A


SOCIEDADE OU SUJEITO DE DIREITO?

Trabalho apresentado à Universidade


Estácio de Sá, como requisito parcial
para obtenção do grau de Bacharel em
Serviço Social.

Orientadora: Professora Carla Martins


de Amaral Adão.

CABO FRIO
2018
ERNESTO PEREIRA MELLO

PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA: SERES INVISIVEIS A SOCIEDADE OU


SUJEITO DE DIREITO?

Aprovada em ____/____/_____.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________
Carla Martins do Amaral
Professora Orientadora

__________________________________________________
Professor (a) 2
Membro da Banca

__________________________________________________

Professor (a) 3
Membro da Banca
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho primeiramente a DEUS,por


ser essencial em minha vida, autor do meu sonho
e protetor da minha vida,a minha família, minha
esposa e meus filhos, que me incentivaram na
realização deste sonho, e a todos meus
instrutores e supervisores que me acolherem
nesta trajetória de curso, encorajando-me a lutar
pelos os meus objetivos.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a DEUS por ter me proporcionado está oportunidade de esta


realizando este sonho, a ele toda honra e toda glória, pois ele é o autor da minha fé.
Agradeço os meus familiares e os meus queridos pais, irmãs, filhos e esposa
pela compreensão e me ajudarem nesta trajetória de realizar este sonho.
A meus amigos que compartilhavam comigo os momentos bons e ruins
durante o período acadêmico.
A minha supervisora de estágio que sempre me incentivou a lutar pelos
meus objetivos e todos os demais funcionários do Centro POP de Araruama.
E a todos os professores que contribuíram de forma direta ou indireta para o
meu desempenho nesta formação, a qual era um sonho que se tornou realidade.
RESUMO

Este trabalho tem como objetivo compreender o serviço prestado pelo centro de
referência especializado para população em situação de rua (Centro Pop), o olhar de
seus usuários, e como o assistente social trabalha nesta instituição. Procura-se
responder ao questionamento central que visa entender qual a real situação da
pratica do serviço social propostos pelo centro pop em Araruama.

Compreender a visão que usuário do Centro Pop tem sobre o serviço social e os
serviços prestados e fator preponderante quanto avaliação e se os mesmos estão
sendo efetivos. Observou-se pelas participações freqüentes dos usuários que
utilizam os serviços prestados pelo centro pop, que o mesmo tem comprido com seu
papel de ser um equipamento que presta assistência a população em situação de
rua, porem alguns destes serviços precisam ser aprimorados para que possam ser
mais efetivos.

Palavras-chaves: Centro Pop. População em situação de rua. Serviço Social


ABSTRACT

This work aims to understand the service provided by the specialized referral center
for the street population (Pop Center), the view of its users, and how the social
worker works in this institution. It is tried to answer the central question that seeks to
understand what the real situation of the practice of social service proposed by the
pop center in Araruama.

Understand the user's vision of the Pop Center about the social service and the
services rendered and a preponderant factor regarding the evaluation and if they are
being effective. It was observed by the frequent participations of the users who use
the services provided by the pop center, which has long been its role of being an
equipment that assists the population in the street situation, but some of these
services need to be improved so that they can be more effective.

Key-words: Pop Center. Street Population, Social Service.


TABELA DE SIGLAS

CENTRO POP Centro de Referência Especializado para População em Situação de


rua.
CNAS Conselho Nacional de Assistência Social
CREAS Centro de Referencia Especializado da Assistência Social
FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
LOAS Lei Orgânica da Assistência Social
NOB/SUAS Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social
ONGS Organizações Não Governamentais
PDV Programas de Demissão Voluntária
PNAS Política Nacional de Assistência Social
PSE Proteção Social Especial
SENARC Secretaria Nacional de Renda de Cidadania
SNAS Secretaria Nacional da Assistência Social
SUAS Sistema Único de Assistência Social
SUS Sistema Único de Saúde
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10
CAPÍTULO I – FORMAÇÃO DA MODERNIDADE, HABITUS E CLASSE SOCIAL
NO BRASIL ............................................................................................................... 12
1.1 Formação da modernidade no Brasil .................................................................. 13
1.1.1 Apresentando o HABITUS................................................................................ 15
1.1.2 Classes Sociais: O habitus precário e a ralé brasileira..................................... 16
1.2 As Mudanças no mundo do trabalho e suas conseqüências para o trabalhados a
partir da reestruturação produtiva............................................................................. . 19
1.2.1 A reestruturação produtiva mundial...................................................................20
1.2.2 A reestgruturação produtiva e o neoliberalismo no Brasil e suas
consequênciaspara os trabalhadores.........................................................................23
CAPÍTULO 2 – A POLÍTICA DO CENTRO DE REFERENCIA ESPECIALIZADO
PARA A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA.................................................... 31
2.1 Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua Centro
Pop.............................................................................................................................31
2.2 Breve histórico do Município Araruama da Região dos Lagos – RJ....................38
2.3 Centro de Referencia para População em Situação de Rua do Município
Araruama na Região dos Lagos - RJ.........................................................................39
2.4 - Resultado da Pesquisa realizada no Centro Pop no Município Araruama da
Região dos Lagos-RJ.................................................................................................41
2.5 O trabalho do assistente social dentro do Centro Pop.........................................47
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................51
REFERÊNCIAS ..........................................................................................................53
10

INTRODUÇÃO

O presente trabalho procura abordar a questão dos moradores de rua e


como os mesmo utilizam os serviços prestados pelo centro de referência
especializado para população em situação de rua (Centro Pop) para compreender
este assunto, foi realizado primeiramente estudo referencial teórico que direcionado
o estudo sobre este assunto em continuidade procurou-se entender a estrutura de
funcionamento do centro pop e através da pesquisa documental buscou-se
compreender a visão dos usuários deste equipamento.
Desta forma o estudo teve como objetivo a população em situação de rua
que freqüenta o Centro Pop de Araruama, entendendo que este público possui
diversidades das condições socioeconômicas e culturas das pessoas que se
encontram nesta situação sendo necessário ampliar o olhar para que se contemple
toda população em situação de rua. Nota-se que algumas têm moradia, mas optam
por continuarem na rua e não querem estar com suas famílias devido à dependência
química e a sensação de liberdade que a rua traz, segundo relatos deles.
O Centro Pop da Araruama conta com profissionais para atuarem juntos a
população em situação de rua, porem encontramos uma equipe reduzida e espaço
limitado. Observar o trabalho desta equipe técnica, bem como, os desafios por ela
enfrentados e necessários, pois se busca como objetivo, analisar quais são as reais
condições com que serviço social atua neste local?
Objetivo é estudar as dificuldades da atuação do serviço social nos serviços
prestados à população em situação de Rua de Araruama, compreender relação do
serviço social, a construção histórica de proposta do serviço social, sua amplitude e
como o mesmo se propõe a responder a “questão social” da população em situação
de rua com suas políticas públicas e a implementação do Centro Pop, analisar a
população em situação de rua, identificar o fenômeno e estudar suas características
assim como, as proposta do Centro Pop de Araruama examinar os dados obtidos
através dos questionários de entrevistas aplicadas aos usuários do centro pop com
intuito de se analisar a visão que os mesmos têm do serviço prestado pelo centro
pop e se o mesmo é efetivo.
Diante disto compreender a visão que os usuários do Centro Pop têm dos
serviços que estão sendo prestados é fator preponderante quanto à avaliação e
sobre sua efetivação entre as políticas públicas sociais propostas pelo governo
11

federal, que garantem o acesso os direitos dos usuários e a estruturação dos


serviços prestados pelas prefeituras locais e seus órgãos colegiados, a pesquisa
auxilia compreender como tudo isto chega até a população em situação de rua,
embora haja muitos entraves compreender o que este usuário identifica quanto ao
local no qual freqüenta, se tais serviços auxiliam na formatação e na consolidação
dos seus direito garantidos pela lei.
A busca pelo tema foi a partir do estágio realizado no Centro Pop,
despertando a idéia de fazer este estudo para compreender os desafios dos
assistentes sociais as demandas, e importância do assistente sociais na luta dessa
população em situação de rua.
A metodologia utilizada para o trabalho foi à pesquisa bibliográfica,
documental, através de referencial teórico, de caráter quantitativo e qualitativo,
buscando-se contraponto nos teóricos.
Este trabalho está estruturado em dois capítulos, apresentando-se no
primeiro a formação da modernidade, hábitos e classe social no Brasil: um olhar
histórico, estruturado por vários autores mostrando a importância do conhecimento
do surgimento do serviço social no brasil. No segundo capítulo compreende-se a
população em situação de rua como objeto de estudo deste trabalho.
Este trabalho tem como objetivo compreender o serviço social prestado pelo
centro referência especializado para população em situação de rua (Centro Pop)
pelo olhar de seus usuários procura-se responder ao questionamento central que
visa entender qual a real situação da pratica do serviço social propostos pelo centro
pop em Araruama.
Compreender a visão que usuário do centro pop tem sobre o serviço social
e os serviços prestados e fator preponderante quanto à avaliação e se os menos
estão sendo efetivos. Observou-se pelas participações freqüentes dos usuários que
utilizam os serviços prestados pelo centro pop, que o mesmo tem comprido com seu
papel de ser um equipamento que presta assistência a população em situação de
rua, porem alguns destes serviços precisam ser aprimorados para que possam ser
mais efetivos.
12

CAPÍTULO I – Formação da Modernidade, Hábitos e Classe Social no Brasil

As pessoas em situação de rua têm suas relações sociais rompidas, são


homens dotados de habilidades e técnicas que por uma condição de vida acabam
por serem excluídos do modo de produção capitalista e se torna invisível a
sociedade. O homem vive nesta condição de estar na rua por diversos fatores, mas,
o trabalho tem sua centralidade na vida do indivíduo sendo um dos principais
motivos por conta desse capitalismo selvagem que deforma o homem.
Nos estudos sociais a caracterização das sociedades tem papel importante
não somente no entendimento das dinâmicas e dos conflitos sociais, como também
das alternativas de movimentação no interior de tais sociedades, sobretudo no
sentido das transformações; ou seja, que a compreensão da realidade possibilite
alternativas de superação dos problemas analisados através das pesquisas.
Sobretudo, como no caso de um país dependente e periférico, aqueles decorrentes
das desigualdades entre os indivíduos.
A idéia de uma sociedade dita pré-moderna agrada a quem? E a concepção
de uma sociedade moderna, de um país moderno, implica em que? O pesquisador
Jessé Souza nos aponta caminhos que podem nos levar às respostas dessa e de
outras inquietações com seus estudos da sociedade brasileira. Por isso,
procuramos, nesse breve texto, trazer algumas de suas análises referentes à
consolidação da modernidade no Brasil e como isso influencia na formação das
classes sociais que se confrontam no cenário político, econômico e social.
Em direção oposta aos economistas, as análises de Jessé Souza não são
centradas na renda, pois, para o autor, isso não permite a compreensão dos
processos de constituição das classes sociais. Por isso, afirma-se que a classe é
constituída também por aparatos éticos, morais, educacionais, enfim, ideológicos.
Para entender e até mesmo ousar fazer os rumos trilados por Jessé na
análise social, o conceito de hábitos foi também abordado. A conformação das
classes sociais no Brasil respondeu (e responde) aos imperativos do Mercado e do
Estado; imperativos esses que são incorporados – tornam-se corpo – pelos
indivíduos principalmente no processo de sua socialização no seio de sua família de
origem e da escola primária. Assim, o hábito se difere, como também vira fator
diferenciador; o que leva Jessé de Souza a dividir o hábito em três categorias:
primário, secundário e precário. Na sua divisão da sociedade brasileira em quatro
13

classes, sendo elas os endinheirados, a classe média, os batalhadores e a ralé, os


hábitos se constituem de forma distinta.
A naturalização das desigualdades sociais é fruto de um mecanismo de
reprodução social cujo funcionamento se traduz nos imperativos do Mercado e do
Estado. Jessé Souza é um dos maiores pesquisadores dessa temática na
atualidade, por isso a pesquisa foi realizada na busca por bibliografia que
explicitasse mais do pensamento do autor. Entendendo que a formação de sua
análise social acontece na crítica de renomados autores, principalmente para nós
brasileiros, buscamos artigos, resenhas e livros correspondentes ao tema, não
somente no próprio Jessé.
A dita naturalização das desigualdades faz com que mais de um terço da
população brasileira, a chamada, de modo provocativo de ralé estrutural, seja
inviabilizada. Trazemos, no decorrer do artigo, a história de Carlos para exemplificar
os membros dessa dita ralé, mais de um terço da população é invisível, precisamos
discutir sobre isso.

1.1 FORMAÇÃO DA MODERNIDADE NO BRASIL

Produto da criação de cientistas e intelectuais, o entendimento do Brasil


enquanto uma sociedade pré-moderna, onde o fator preponderante seria o capital
social tido em contraponto a capitais impessoais como o econômico e o cultural
surgem como uma deturpação histórica. Essa interpretação dominante feita em cima
de mitos, ou seja, historietas que ajudam a que pessoas possam entender
determinadas questões, corrobora para a produção e reprodução de um quadro de
extrema desigualdade social, tornando, assim, parcela grande da população
brasileira praticamente invisível aos olhos do conjunto da sociedade.
O sociólogo Jessé Souza condena esse tipo de interpretação apontando
dois enganos quando se adota esse procedimento. Para o sociólogo (2003), o
primeiro engano tem uma base ideológica, na medida em que é fabricado por
interesses pragmáticos visando à produção de uma fonte alternativa de
solidariedade social entre grupos e classes em conflito. O segundo engano, que
parte do primeiro, diz respeito a essa visão ser construída em cima de algo pronto,
do “brasileiro” em geral. “É desse modo que o brasileiro pré-moderno, emotivo, do
jeitinho, vai ser à base de todas as concepções dominantes entre nós” (SOUZA,
2003, p.104).
14

Jessé concentra sua crítica nas interpretações disponíveis sobre o Brasil,


sobretudo ao que ele chama de iberismo. Para Leonardo Avritzer (2001), o iberismo
é uma matriz explicativa que pressupõe que Portugal, por sua localização marginal
do ponto de vista cultural e geográfico no mundo europeu, deu origem a variações
em principais elementos da cultura européia no que diz respeito às formas
horizontais de relações interpessoais, por exemplo, a impessoalidade.
Nesse sentido, a herança ibérica – formas horizontais nas relações
interpessoais – mais propriamente portuguesa, na medida em que ela se torna
hegemônica no funcionamento dos ditames dos imperativos da sociedade,
caracterizaria, para os autores responsáveis por essa visão, o Brasil como país cuja
sociedade ainda passa pelo estágio pré-moderno. Do mesmo modo, práticas como o
patrimonialismo são explicadas por esse caráter da formação da sociedade
brasileira.
Ao contrário dessa visão, para Jessé Souza (2000) nossa sociedade passou
já pelo processo de modernização. Os valores e idéias que guiam, na prática, o
comportamento das pessoas comuns, dos brasileiros em geral, e são percebidos em
seu ancoramento nas instituições modernas fundamentais, caracterizam o estágio
moderno do Brasil.

Afinal, é a sociedade com suas instituições específicas, que criam os


indivíduos que como eles são, e não o contrário. Para todos os grandes
pensadores clássicos das ciências sociais essas instituições são duas: o
mercado competitivo capitalista e o Estado moderno centralizado. Sem
essas duas instituições fundamentais, não temos nem sociedade moderna,
nem indivíduos modernos guiados por valores e idéias modernos. (SOUZA,
2003, p. 106).

Em um contexto de modernidade periférica, os imperativos para a


legitimação das desigualdades sociais são encontrados em instituições que, como
dito, para o autor (SOUZA, 2003) moldam os indivíduos e suas atuações concretas,
pois assim como outras práticas sociais e culturais, elas já possuem implicitamente
sua própria interpretação acerca do que é bom, sobre aquilo que deve ser
perseguido. Por tanto, entender a lógica da reprodução destas instituições é
fundamental para o percebimento dos conflitos sociais.
15

Segundo as obras de Jessé Souza, busca demonstrar empiricamente que


os imperativos da lógica de reprodução das desigualdades têm como conseqüência
a invisibilidade social, analítica e política do que o sociólogo chama
provocativamente de ralé brasileira. Sendo apenas “(...) corpo mal pago e explorado,
e por conta disso é objetivamente desprezada e não reconhecida por todas as
outras classes que compõe nossa sociedade” (SOUZA, 2003, p.122), essa classe
está abaixo dos princípios de dignidade e expressivíssimo, razão que a impossibilita
ao reconhecimento social. Para tanto, existe um aparato montado onde a dominação
e a desigualdade são percebidas em harmonia e pacificação social, de modo que o
descobrimento de certas condições de naturalização das desigualdades passa por
um esforço de entendimento da operação desses mecanismo.

1.1.1 APRESENTANDO O HABITUS

O conceito de habitus tem uma longa história nas ciências humanas.


Segundo Setton (2002, p 61), habitus é uma “palavra latina utilizada pela tradição
escolástica, traduz a noção grega hexis utilizada por Aristóteles para designar então
características do corpo e da alma adquiridas em um processo de aprendizagem.”
Esse conceito foi utilizado também, bem mais tarde, por Émile Durkheim, no livro A
evolução pedagógica (1995), adquirindo sentido semelhante, mas bem mais
explícito. Nos dizeres de Azevedo (2003), em Bourdieu o habitus é uma forma de
disposição à determinada prática de grupo ou classe, ou seja, é a interiorização de
estruturas objetivas das suas condições de classe ou de grupo sociais que gera
estratégias, respostas ou proposições objetivas ou subjetivas para a resolução de
problemas postos de reprodução social.
Bourdieu apresenta o pressuposto de que toda sociedade constrói
mecanismos que mascaram as relações de dominação que são operantes em todas
as dimensões sociais (SOUZA, 2003, p. 47). Jessé Souza encontra no sociólogo
francês o conceito de habitus e o utiliza para entender como a estrutura se estrutura,
condicionando os indivíduos, ao mesmo tempo em que eles pensam estar
escolhendo suas próprias ações.
O habitus permite entender como se dá a incorporação dessa estrutura, visto
seu caráter externo aos indivíduos, apreendendo que as instituições precisam ser
objetificadas em corpos (in-corporação) e em disposições de comportamento. Assim,
“o habitus” seria um sistema de estruturas cognitivas e motivadoras, ou seja, um
16

sistema de disposições duráveis inculcadas desde a mais tenra infância que pré-
molda possibilidades e impossibilidades, oportunidades e proibições, liberdades e
limites de acordo com as condições objetivas (SOUZA, 2003, p.43-44)
Sendo assim, ele tende a gerar toda uma série de comportamentos
razoáveis e do senso comum, dando às práticas relativa autonomia em relações a
determinações externas do presente imediato. O autor afirma (2003, p.44) que “o
habitus é o passado tornado presente, a história tornada corpo e, portanto
naturalizada e esquecida de sua própria gênese”. As hierarquias existentes no
mundo social são operadas através das expressões corporais, então o corpo é,
segundo Jessé “o campo de forças de uma hierarquia não expressa – entre sexos,
classes ou grupos de idade – contribuindo decisivamente para a naturalização de
desigualdade em todas as suas dimensões” (Idem, p. 47).
Esse esquema avaliativo, comportamental, que atua como critério das
práticas no momento das escolhas cotidianas, é formado através da socialização
familiar e instrução escolar, fazendo com que essa incorporação de sentidos e
significados seja fruto de dadas condições econômicas e sociais. Dessa maneira,
variando de acordo com as classes sociais, ele passa a ter um caráter de esquema
que gera práticas tanto individuais como também coletivas.
Portanto, se essa incorporação de esquemas avaliativos e as disposições de
comportamento nos indivíduos variam de acordo com as situações econômica dos
mesmos, de maneira estrutural, Jessé propõe uma pluralidade de habitus para
responder a essas diferenças. O argumento do autor é o de que “mudanças
fundamentais na estrutura econômico-social deve implicar, conseqüentemente,
mudanças qualitativas importantes no tipo de habitus para todas as classes sociais
envolvidas de algum modo nessas mudanças” (SOUZA, 2003, p. 165).

1.1.2 CLASSES SOCIAIS: O HABITUS PRECÁRIO E A RALÉ BRASILEIRA

Na análise de Jessé Souza a sociedade brasileira é dividida em quatro


classes sociais que se interligam, entre outras causas, pela apropriação desigual
dos diferentes capitais (cultural, econômico, social, etc..) colocados no plano social,
elas são: a ralé; os batalhadores, a classe média, e os endinheirados.
Os últimos são os proprietários de grandes bancos privados, como o
Bradesco, o Itaú, etc. São eles que detêm quase 70% do Produto Interno Bruto
brasileiro, uma vez que é esta a porcentagem referente aos ganhos de capital no
17

país (enquanto que por outro lado, ou seja, os 30% restantes, são referentes aos
valores dos salários pagos). Jessé aponta para o risco de que toda indignação –
justa – da sociedade seja canalizada somente para a corrupção do Estado, deixando
assim quase que sem transparecer, a necessidade de também se denunciar os
desvios e as práticas ilícitas que acontecem no âmbito do Mercado.
Na análise de Jessé Souza, outra classe social aparece no Brasil: os
batalhadores. Durante os últimos anos, podemos visualizar no Brasil o aumento do
consumo real das chamadas classes populares. Alguns economistas e sociólogos
debatem a emergência de uma nova fração da classe média no Brasil, efeito, para
muitos, das políticas de transferência de renda, como também do acesso ao crédito.
Essas pesquisas e afirmações causam polêmica no contexto acadêmico, mas,
principalmente, no contexto real de identificação das classes sociais das quais
pertencem os indivíduos. Jessé Souza identifica-os como ‘batalhadores”. Segundo
Teixeira (2013) “o pesquisador faz o esforço de construir uma teoria de classes
sociais para o Brasil contemporâneo. Para tanto, destaca a reprodução dos
privilégios de classes e das desigualdades sociais duráveis, as dimensões
simbólicas e não-econômicas constituintes da reprodução das classes, bem como a
dinâmica entre relações fordistas e pós-fordistas em uma sociedade periférica”.
Sendo o habitus esse princípio gerador e unificador que traduz as
características intrínsecas e relacionais de um estilo de vida, isto é, um conjunto de
disposições à escolha de pessoas, de bens e de práticas, ele acaba podendo desta
forma ser analisado em diferentes perspectivas. Para Bourdieu (p. 22, 1996)

Assim como as posições das quais são produtos, os habitus são


diferenciados; mas também diferenciam. Distintos, distinguidos, eles são
também operadores de distinções. (...) Os habitus são princípios geradores
de práticas distintas e distintivas - o que o operário come, e, sobretudo, sua
maneira de comer, o esporte que pratica e sua maneira de praticá-lo, suas
opiniões políticas e sua maneira de expressá-las diferem sistematicamente
do consumo ou das atividades correspondentes do empresário industrial (...)

Então, ao invés de se referir de maneira genérica ao conceito de habitus, o


autor afirma a multiplicidade dos habitus para classificar as disposições de
comportamentos variantes nas diferentes classes sociais no Brasil. Para efetuar sua
análise, a divisão dos diferentes esquemas avaliativos proposta por Jessé Souza
abarca três tipos de habitus: primário, precário e secundário.
18

O habitus primário é aquele que permite o compartilhamento da noção de


dignidade no sentido tayloriano, ou seja, certos imperativos que permitem o
reconhecimento social através de requisitos como calculabilidade, pensamento
prospectivo, etc. Uma segunda classificação é a do habitus precário entendido como
o habitus primário para baixo, aquele que não permite as disposições de
comportamento que levam ao reconhecimento social. Por último, visto o habitus
primário para cima, “tem a ver com uma fonte de reconhecimento e respeito social
que pressupõe, no sentido forte do termo, a generalização do habitus primário para
amplas camadas da população de uma dada sociedade”. (SOUZA, 2003, p. 167).
A classe social nomeada de modo provocativo por Jessé de ralé brasileira é
aquela que possui de forma geral o habitus precário proveniente de sua socialização
familiar e das primeiras instruções escolares, que, devido ao contexto de país
periférico subdesenvolvido, são insuficientes para portar os integrantes dessa classe
as pré-disposições que possibilitem o reconhecimento social. Segundo o autor
(2003, p. 167), a ralé é portadora de “disposições de comportamento que não
atendem às demandas objetivas para que, seja o indivíduo, seja um grupo social,
possa ser considerado produtivo e útil em uma sociedade de tipo moderno e
competitivo, podendo gozar de reconhecimento social com todas as suas dramáticas
conseqüências existenciais e políticas”.

RETRATO EMPÍRICO: A SOCIALIZAÇÃO FAMILIAR E ESCOLAR DE CARLOS

Na pesquisa dirigida por Jessé Souza e sistematizada na obra “A Ralé


Brasileira: quem é e como vive”, é efetuado, através de retratos empíricos, um
aprofundamento no modo de socialização pelo qual passam os integrantes dessa
classe social, na busca do entendimento da conformação do habitus precário.
Em um dos capítulos, chamado de “O crente e o delinqüente”, é analisada
uma entrevista com Carlos, um jovem morador da periferia de uma grande cidade
brasileira que após alguns contratempos no decorrer de sua vida encontrou na fé em
igrejas neopentecostais um consolo para o fracasso sofrido.
O rapaz se apresenta como um otimista, ao mesmo tempo em que não
consegue adotar um plano de vida com o qual tenha chance de ascender
socialmente, de modo que ele deposita na fé todas as esperanças para o amanhã.
Para entender essas pré-disposições que encontram respostas no modo de vida
preconizado pelas igrejas neopentecostais, os pesquisadores passam para a análise
19

de como foi a conformação do habitus de Carlos. Para tanto, eles pesquisam sobre
sua socialização familiar e a conseqüente socialização escolar pelo qual passou
Carlos.
Nascido em uma família pobre, mas ainda assim sem a privação de produtos
alimentícios, Carlos cresceu sem a devida atenção por parte dos pais. O pai,
desempregado, apresentava um controle excessivo das coisas como uma maneira
de tentar superar a necessidade de se sentir como um pai, visto que, sem emprego,
não “colocava comida na casa”, de forma que não cumpria seu papel socialmente
construído. Sua mãe trabalhava em dois empregos para conseguir suprir as
necessidades da casa onde moravam, alimentando e vestindo os filhos. Apesar de
tumultuada, a relação entre os pais de Carlos se dava na medida em que Cida se
dispusesse a sustentar o marido em troca de segurança de ter um homem dentro de
casa para defender a família. Por estas questões, Carlos foi criado por sua avó que
por ser mais velha não conseguiu acompanhar e orientar de forma eficaz, o jovem
em sua formação.
Estes fatores combinados explicam o parco desenvolvimento escolar do
jovem Carlos. Para Rocha e Torres “a escola nunca foi um lugar que atraísse Carlos.
Aos 10, 11 anos, ele sempre preferiu os jogos de rua aos estudos e às lições de
casa” (2009, p. 212). Para a formação de um habitus primário, ou seja, das
disposições que, se portadas, permitem aos indivíduos o reconhecimento e respeito
social, são necessários certos estímulos afetivos ligados à famílias que influenciam o
estudo.
A situação familiar apontada nos faz refletir um pouco sobre o que separava
Carlos de todas as crianças que optaram pelo sacrifício de dedicarem-se a escola e
que, por conta disso, contaram com melhores chances no futuro. “O importante não
é ela saber qual o comportamento que a escola premia de modo a poder calcular
como agir, mas o fato de ela desejar ou não o tipo de prêmio que a escola pode dar.”
(ROCHA; TORRES, 2009, p. 213). Portanto, a ausência do pai e da mãe e de
qualquer elemento humano que tornasse a casa um espaço de vivências
significativas retirou de Carlos qualquer possibilidade de adquirir uma ligação afetiva
com a escola.

1.2 As mudanças no mundo do trabalho e suas conseqüências para o


trabalhador a partir da reestruturação produtiva
20

Houve várias transformações políticas, econômicas e culturais ao longo do


tempo, as mudanças no mundo do trabalho ocasionaram em transformações para o
trabalhador assalariado no modo de produção capitalista. Não cabe aqui discorrer
sobre a retrospectiva histórica, o desenvolvimento de cada fase do capitalismo e a
sua evolução na história da sociedade desde seu início e sim das conseqüências
para o trabalhador assalariado considerando que o foco é a exploração da força de
trabalho e o modo como essa exploração vem acontecendo e se transformando ao
longo do tempo.
As mudanças no mundo do trabalho a partir da reestruturação produtiva que
com as crises no mundo traz um novo modo de organizar a produção (com
tecnologia avançada e acumulação) para expandir o capital nas mãos da burguesia
capitalista. Fizeram surgir uma nova organização do processo de trabalho
intensificando a exploração do trabalhador e aumentando o exército industrial de
reserva que é uma massa de trabalhadores desempregados, inerente ao sistema
capitalista.

1.2.1 A reestruturação produtiva mundial

O trabalhador assalariado no modo de produção capitalista tem sofrido com


as mudanças ao longo do tempo em que o trabalho (me refiro ao trabalho auto-
realizável), foi se fragmentando com os vários tipos de trabalho que surgiu na
contemporaneidade que trazem várias conseqüências para o homem degradando a
saúde do trabalhador, minimizando a sua vida, excluindo e dividindo as classes,
discriminando e marginalizando o trabalhador. O homem não tem tempo livre para
satisfazer suas necessidades, o capital deixa o homem livre para atender as suas
necessidades o forçando a vender sua força de trabalho para sobreviver, sugando
todas as suas forças e vida a fim de acumular riquezas.
Aqui vamos fazer uma breve construção histórica da transformação
econômica e do modo de produção capitalista nos países de capitalismo avançado
na década de 70 que se inicia com a crise do capitalismo, onde um novo modo de
acumulação e um novo modo de produção surgem para dar continuidade à
expansão e acumulação do capital desencadeando várias conseqüências para os
trabalhadores assalariados.
O capitalismo é marcado por crises e algumas manifestações como a crise
do comércio internacional e financeiro, as taxas elevadas da inflação, recessão
21

econômica e choque da elevação dos preços do petróleo levaram a crise estrutural


do capitalismo e ao esgotamento do padrão de acumulação Taylorismo/fordista.
Uma crise de superacumulação que se manifestou em desemprego, excesso de
mercadoria, capacidade produtiva ociosa e excedente de capital/dinheiro. A
necessidade de controle sobre o trabalho fez com que houvesse várias mudanças
no mundo do trabalho ocasionando na diminuição e desgaste de atividades e
qualificações, no aumento do trabalhador polivalente; na diminuição dos postos de
trabalho e uma maior heterogeneidade entre os trabalhadores. Essas
transformações com a inovação organizacional fizeram aumentar o número de
desempregados e do trabalho precarizado; o trabalhador se torna flexível,
terceirizado e a mão de obra é barata se adequando as novas necessidades do
capital.

Nesses primeiros anos da década de 1980, a reestruturação produtiva


caracterizou-se pela retração de custos, mediante a redução da força de
trabalho, de que forma exemplos os setores automobilístico e de autopeças
e também os ramos têxtil e bancários, entre outros. [...] pode-se dizer que a
necessidade de elevação da produtividade ocorreu por meio de organização
da produção, redução do número de trabalhadores, intensificação da
jornada de trabalho dos empregados, surgimento dos CCQs (círculos de
controle de qualidade) e dos sistemas de produção justi-in-time e kanbam,
entre os principais elementos”. (ANTUNES, 2006, p.18)

Esse modo de produção do capital para expandir a sua acumulação cria


uma população trabalhadora excedente (uma superpopulação relativa ou exército
industrial de reserva) e é condição e existência para a expansão e modo de
produção capitalista. Uma parte dos trabalhadores assalariados que são
perversamente explorados pelo capital que produzem excedente conforme a
necessidade do capital e é induzida ao subemprego e ao desemprego o que é
peculiar da indústria moderna. Um sistema alienante um modo de produção
“necessário da ordem sociometabólica do capital”. (MESZAROS, 2007, p.41) que
subordina tudo a sua expansão.

“A grande beleza da produção capitalista reside não só em reproduzir


constantemente o assalariado como assalariado, mas também em produzir
uma superpopulação relativa de assalariados, isto é, em relação a
acumulação de capital. Assim, a lei da oferta e da procura de trabalho fica
mantida nos trilhos certos, a oscilação salarial, confinada dentro dos limites
convenientes a exploração capitalista, e, finalmente, garantida a
22

imprescindível dependência social do trabalhador para com o capitalista,


uma relação de dependência absoluta”. (MARX, 1975, v. II, p. 888)

O trabalhador é uma classe complexificada e fragmentada e essas


mudanças no mundo do trabalho traz em segurança no mercado de trabalho e no
emprego, houve uma redução no emprego regular, o subcontratado e temporário
cresceu, a força de trabalho foi intensificada e a remuneração do trabalhador
diminuiu. Surge uma nova classe do trabalho com alta qualificação e nível
educacional. Com isso há uma grande diferença nos salários dos operários
industriais entre o saber com que haja diferenças entre os trabalhadores.
Um novo padrão de acumulação se desenvolve a acumulação flexível
tornando o trabalhador flexível às necessidades do capital, fazendo com que a força
de trabalho seja cada vez mais explorada pelo capitalista e criando riqueza para o
capital, onde o trabalhador vivencia uma vida miserável, de sacrifício, aumentando
as desigualdades entre as classes.
Este processo se deu no mundo fazendo que cada País vivencie de uma
forma conforme sua história e suas necessidades, mas a degradação desse
trabalhador se deu em todo lugar mesmo que em alguns países ditos atrasados
esse processo se intensificou trazendo conseqüências irreversíveis para o
trabalhador superexplorado neste modo de produção, onde o homem alienado se
distância ainda mais do trabalho auto realizável e se torna mais degradante e
mortificante o seu trabalho.
No Brasil um país de terceiro mundo não foi diferente, pelo fato de ter a
propriedade privada e territorial apropriado pela Burguesia que expandem seus
interesses sem pensar no trabalhador assalariado. No País há uma herança colonial
em sua formação, onde trabalhadores assalariados eram privados de seus direitos
trabalhistas, sociais e políticos evidenciando a divisão e a exclusão do proletariado,
o Estado autoritário unifica os interesses da classe burguesa visando suas
necessidades, garantindo e restringindo a participação e a subalternidade da classe
menos favorecida. A reprodução da riqueza e das desigualdades faz crescer a
pobreza e a concentração do capital. Os coronéis exerciam funções públicas no país
favorecendo assim o “favor” e a “dependência”. O que se evidencia nessa trajetória
é uma exclusão dos trabalhadores por parte do Estado e uma ascensão da
burguesia.
23

É uma sociedade marcada pelos coronelismos, populismos, por formas


políticas de apropriação da esfera pública em funções de interesse
particularistas dos grupos no poder. Esta sociedade é presidida por uma
tradição autoritária e excludente, que se condensa no ‘autoritarismo social’,
isto é, uma sociedade hierarquizada em que as relações sociais ora são
regidas pela “cumplicidade” - quando as pessoas se identificam como iguais
- ora pelo ‘mando e pela obediência’ - quando as pessoas se reconhecem
como desiguais -, mas não pelo reconhecimento da igualdade jurídica dos
cidadãos. (IMAMOTO, 2012, p. 141)

1.2.2 A reestruturação produtiva e o neoliberalismo no Brasil e suas


conseqüências para os trabalhadores.

Na década de 80 o Brasil a partir da reestruturação produtiva, “Com o


esgotamento do Estado desenvolvimentista, cujo padrão se baseava no tripé
Estado-capital, estrangeiro-capital nacional, com surtos de crescimento e
desenvolvimento”. (SOARES, 2009, p 35), e com uma estratégia de ajuste, em um
Estado frágil e uma expressiva crise interna levam a perda do controle das finanças
e da moeda por parte do Estado e pela ‘ausência de políticas de desenvolvimento’.
Visava-se reduzir os custos e elevar a produtividade, na indústria automobilística
adotou programas de qualidade total; organização das linhas de produção; novos
métodos no processo de trabalho todo esse processo incentivou a ampliação da
capacidade competitiva das empresas nacionais com uma concorrência no cenário
internacional se tornando um dos principais países exportadores.

“Em seu desdobramento complexo nas condições de um país da periferia


capitalista, como o Brasil, o toyotismo tende a assumir particularidades
concretas [...] pela passagem de um ‘toyotismo restrito’ para um ‘toyotismo
sistêmico’, que expressa a constituição lenta (e contraditória) de uma nova
hegemonia do capital na produção e o desenvolvimento de um novo (e
precário) mundo do trabalho no Brasil. (ANTUNES, 2008, p. 102).

O novo ciclo do crescimento e acumulação capitalista no Brasil trouxe um


novo patamar para a história do país na década de 90 e vem instaurar novas formas
a estrutura produtiva e ao Estado alterando o processo e organização do trabalho.
De acordo com Antunes:

[...] além da liberalização, comercial, impulsionada nos primórdios dos anos


90, no governo Collor, foi necessário que a política neoliberal instaurasse
medidas capazes de atrair uma nova onda de investimento de capitais no
país. Procurou-se dar incentivos para a constituição de novos horizontes
para o investimento capitalista, especialmente do investidor internacional,
24

capaz de trazer meios internacionais de pagamento, os dólares necessários


para nova decolagem do padrão de acumulação do capital [...]. Por isso, em
primeiro lugar, é preciso recompor o horizonte do calculo capitalista,
debilitado nos anos 80 pela persistente hiperinflação. Procurou-se promover
como principal objetivo, a estabilização da moeda (tentou-se, em 1991, no
Plano Collor e, com mais sucesso, em 1994 com o Plano Real) Por outro
lado impõe-se a reforma do Estado capitalista no Brasil, como a própria
condição para a sustentabilidade da reprodução interna do capital no país.
(ANTUNES, 2008, p. 114-115)

De acordo com Soares (2009) na década de 1990 com a entrada do


neoliberalismo o País vivia uma crise no mercado interno. O governo de Fernando
Henrique Cardoso lançou o plano real e mediante o projeto de combate a inflação,
além de prazos e formas de viabilização e a ‘desregulamentação da economia’ onde
o mercado passa ser livre, de desenvolvimento autônomo. O Estado se retira como
agente econômico produtivo e empresarial dando lugar a privatização do patrimônio
público reduzindo o setor público que seria ineficiente e ineficaz, assim o Estado não
interferiria no setor privado os únicos capazes de elevar o crescimento econômico.
Essa privatização se expande para a área social, como a saúde e a educação,
assim o que se cumpre são apenas algumas funções básicas, um Estado Mínimo
(mínimo para o social e máximo para o capital) de redução dos gastos, expansão do
comercio internacional (importação de insumos e produtos) e reforma administrativa.
Com a abertura comercial ao mercado externo (importações) levou ao
desenvolvimento do País.
As transformações que serão evidenciadas a seguir farão menção ao
trabalhador assalariado que sofre com as desigualdades, superexploração e com
sua fragmentação como classe trabalhadora na contemporaneidade, que vivencia
todas as conseqüências deste novo cenário Brasileiro que se intensifica no país.

O toyotismo tende a impulsionar, em sua dimensão objetiva, as


metamorfoses do trabalho industrial e a fragmentação de classe (cujos
principais exemplos são a proliferação da subproletarização tardia e do
desemprego estrutural). Surge um novo (e precário) mundo do trabalho.
(ALVES, 2000, p.65)

Pelo que expus acima esse processo levou as empresas a buscarem por
novas formas de organização do trabalho e de produção onde a força de trabalho
foi intensificada, houve um maior controle do trabalho, onde o nível de desigualdade
e de exploração cresceu. Com a precariedade do trabalho surge a
25

“subproletarização tardia” com a mundialização do capital adequada a lógica


capitalista.

O que o complexo de reestruturação produtiva sob a mundialização do


capital faz é incorporar e impulsionar com maior aceleração histórica as
perversidades da lei geral da acumulação capitalista, na direção do
enfraquecimento do mundo do trabalho. (ALVES, 2000, p. 65)

O preço a se pagar por todo este processo contraditório do ajuste neoliberal


que desenvolveu gravíssimas conseqüências com alterações sociais políticas e
econômicas desregulamentação dos direitos sociais, principalmente por meio da
chamada flexibilização das leis trabalhistas e da reforma regressiva na previdência
social, em 1988; [...] alterações na legislação pertinente ao servidor público, além do
enxugamento da máquina estatal, por meio dos programas de Demissão Voluntária
PDV”. (SILVA, 2009, p. 84), desenvolveu mudanças significativas no mundo do
trabalho que tende a debilitar o mundo do trabalhador, sua força de trabalho, suas
condições e relações do próprio trabalho.

“Foi nos anos 90 que a reestruturação produtiva do capital desenvolveu-se


intensamente em nosso país por meio de implementação de vários
receituários oriundos da acumulação flexível e do ideário japonês, com a
intensificação da lean production, dos sistemas just-in-time e kanbam, do
processo de qualidade total, das formas de subcontratação e de
terceirização da força de trabalho, da transferência de plantas e unidades
produtivas, [...]”. (ANTUNES, 2006, p.18)

Antunes 2009 fala de uma “classe que vive do trabalho” uma classe
trabalhadora da contemporaneidade que são aqueles que vendem sua força de
trabalho, os trabalhadores produtivos, todos aqueles que são assalariados e os
trabalhadores improdutivos “a totalidade dos trabalhadores assalariados”
(ANTUNES, 2008. P. 102) e faz uma distinção entre proletariado industrial (aqueles
que participam diretamente da produção de mais valia) e classe que vive do trabalho
para indicar todos aqueles que vendem a força de trabalho.

Uma noção ampliada de classe trabalhadora inclui, então, todos aqueles e


aquelas que vendem sua força de trabalho em troca de salário,
incorporando, além do proletariado industrial, dos assalariados do setor de
serviços, também o proletariado rural, que vende sua força de trabalho para
26

o capital. Essa noção incorpora o proletariado precarizado, o


subproletariado moderno, part time, o novo proletariado do Mc Donalds, os
trabalhadores hifenizados de que falou Beynon, os trabalhadores
terceirizados e precarizados das empresas liofiliadas de que falou Juan
José Castilho, os trabalhadores assalariados da chamada ‘economia
informal’, que muitas vezes são indiretamente subordinados ao capital, além
dos trabalhadores desempregados, expulsos do processo produtivo e do
mercado de trabalho pela reestruturação do capital e que hipertrofiam o
exército industrial de reserva, na fase de expansão do desemprego
estrutural. (ANTUNES, 2008 p. 103-104)

De acordo com o que foi dito acima com a definição de quem é a classe
trabalhadora na contemporaneidade evidenciamos agora a classe trabalhadora que
vivencia várias transformações entre elas a desigualdade sexual entre gêneros onde
os trabalhos mais intensivos e manuais de exploração de trabalho, com menos
qualificação e temporários tem sido reservada as mulheres, onde os salários as
condições de trabalho e os direitos são totalmente desiguais para homens e
mulheres. Aos homens se destina o trabalho com conhecimentos técnicos. O
capitalismo sabe se apropriar dessas diferenças onde meninos e meninas recebem
tratamentos diferentes e são criados e capacitados desigualmente para a vida e para
o mercado de trabalho envolvendo relações de poder. A Constituição Federal
assegura aos brasileiros o direito à igualdade, mediante a isto os movimentos
travam lutas e mobilizações para emancipação de mulheres livres e autônomas, com
direitos salariais e cargos iguais aos que são destinados aos homens.
Alves (2000, p. 66) nos fala que “Não podemos deixar de salientar a
importância da fragmentação de classe em seus aspectos étnicos, de gênero,
culturais e etários, que se acentuam nas últimas décadas [...].”
Os mais jovens que é a nova geração dos filhos da classe trabalhadora, tem
vivido um processo de exclusão do mercado de trabalho por não ter perspectivas
frente ao desemprego e por não ter experiência.
Os mais velhos acima de 40 anos dificilmente conseguem se ingressar
novamente em uma empresa por já estar velho demais para o trabalho,
desatualizados, estão ultrapassados e não tem mais nada a contribuir de novo com
a empresa, são excluídos por vir de um ritmo de trabalho fordista e ao se deparar
com o novo modo de produção não se enquadram nessa lógica, pois precisam de
trabalhadores polivalente e multifuncional. Algumas pessoas vivem uma vida isolada
por se sentirem um nada, um peso inútil até mesmo para a família, pois o trabalho e
a vida do homem e a sua centralidade, outros por não terem como se sustentar
27

perdem tudo inclusive sua dignidade e vão viver em situação de rua de


vulnerabilidade social.
As diferenças raciais e culturais no mercado de trabalho fazem com que as
diferenças de cargo e salário sejam evidentes entre negros e brancos; imigrantes e
brasileiros; regiões geográficas entre urbano e rural, bairros e comunidades. A
discriminação dentro das empresas e na sociedade capitalista para com os
trabalhadores assalariados se faz presente fazendo com que muitos não sejam
contratados ou estejam em cargos inferiores por causa de sua cor, raça e etnia ou
por causa da sua condição de vida.
A inclusão de crianças no mercado de trabalho é utilizada pelo capital para
extrair excedente por ser uma mão de obra extremamente barata em especial
crianças negras, mestiças e pobres. Os chefes de família ao se depararem com
uma situação deplorável acabam trazendo a ajuda das crianças para o sustento da
casa, são elas que vão para a rua para trazer o alimento para a mesa seja nas
fazendas, nas colheitas, seja na cidade, nas ruas vendendo algo ou pedindo nos
sinais ficando difícil o controle sobre o trabalho infantil.

[...] uma degradação dos direitos sociais do trabalho que se ampliou em


função da externalização e da terceirização da produção; direitos
conquistados, como o descanso semanal remunerado, férias, o 13º salário,
aposentadoria etc. tornaram-se mais facilmente burláveis. Houve, ainda,
uma ampliação do trabalho infantil, conseqüência direta da transferência do
trabalho produtivo do espaço fabril para o espaço domiciliar, onde o controle
do trabalho infantil fica ainda mais difícil. (ANTUNES, 2006, p. 22)

O trabalhador assalariado vive no cotidiano as desigualdades, sofre na pele


como a discriminação e o preconceito. O capital traz consigo o aguçamento destas
desigualdades dividindo entre este e aquele. A superexploração do trabalhador
assalariado traz consigo a sua fragmentação como homem em não poder garantir o
mínimo para a sua sobrevivência, onde muitos não estão no mercado de trabalho
por serem discriminados ou excluídos de um sistema capitalista seletivo que só se
enquadra neste sistema aqueles que podem ser explorados ao máximo e que
possam produzir e reproduzir excedente para o capital.
Com a introdução de novas formas de serviço e inovação tecnológica e o
processo de mercadorização da informática surge um novo contingente de
trabalhadores:
28

O novo proletariado da era da cibernética, composto por trabalhadores que


procuram uma espécie de trabalho cada vez mais virtual em um mundo
profundamente real [...] o mundo do trabalho na era da informática, do
telemarketing e da telemática. [...] em plena era da informatização do
trabalho, do mundo maquinal da era da acumulação digital, estamos
presenciando a era da informalização do trabalho, caracterizada pela
ampliação dos terceirizados, pela expansão dos assalariados do call center,
subcontratados, flexibilizados, trabalhadores em tempo parcial, tele
trabalhadores, pelo ciberproletariado, o proletariado que trabalha com a
informática e vivencia outra pragmática, moldada pela desrealização, pela
vivencia da precarização. (Idem p. 25)

Com este grande contingente de trabalhadores assalariados fora do


mercado formal de trabalho, diversas formas de trabalho informal surgem, fazendo
com que sejam obrigados a ingressar no mercado informal sem carteira assinada
desprovido de direitos trabalhistas, trabalhadores por conta própria que se envolvem
com formas precárias de trabalho. Muitos trabalhadores vivem na informalidade
como os camelos, os artesãos que vendem nas ruas seus trabalhos, sacoleiros e
prestadores de diversos serviços. “A maior parte das vagas abertas no mercado de
trabalho, não tem sido de assalariados, mas de ocupações em remuneração, por
conta própria, autônomo, trabalho independente, de cooperativa, entre outras.”
(Idem p. 61) A precarização do trabalhador mal pago por receber salários
desumanos e sem garantias, caso lhe aconteça algum acidente ou doença não
poderá acessar ao benefício previsto na lei.
De acordo com Alves (2000, p. 79) os trabalhadores assalariados
subcontratados “são trabalhadores avulsos, mesmo para função de alto nível (que
vão, por exemplo, dos projetos a propaganda e a administração financeira), tendo
em vista os custos potenciais da dispensa temporária em períodos de recessão,
mantendo-se apenas um pequeno ‘núcleo’ central de gerentes”, são trabalhadores
que tem um alta rotatividade “uma parcela de trabalhadores assalariados em tempo
parcial, com ainda menos segurança no emprego, e que possuiriam maior
‘flexibilidade numérica’ um eufemismo para caracterizar maior disponibilidade para
ser explorado pelo capital e seriam constituídos pelos empregados casuais, pessoal
com contrato por tempo determinado, temporários, subcontratação.”
O trabalho temporário é mais uma das características dessas mudanças no
mundo do trabalho. Onde o trabalhador é flexibilizado as necessidades do capital
por um determinado tempo, a sua força de trabalho é utilizada por um tempo em
forma de contrato de curta duração ou de meio expediente, um trabalho não
29

contínuo, sendo seus direitos trabalhistas flexibilizados. “O capital é absolutamente


incapaz de respeitar os seres humanos. Ele conhece só uma maneira de administrar
o tempo de trabalho maximizando a exploração do ‘tempo de trabalho necessário’ da
força de trabalho empregada e ignorando totalmente o ‘tempo disponível’ na
sociedade de forma geral, pois deste não pode extrair lucro.” (ANTUNES, 2006, p.
43) Os contratos vêm trazer um novo patamar de precarização para o trabalhador
que depende de vender sua força de trabalho para viver.
O perfil dos desempregados do Brasil mudou atingindo todos os segmentos
sociais, os de melhores remunerações e altos níveis hierárquicos, aos trabalhadores
não qualificados, mas também aos qualificados que buscam por uma vaga de
emprego junto aos demais desempregados. Todas as camadas sociais sofrem com
o desemprego, mas os pobres, os proletariados sofrem com intensidade esta
conseqüência do capitalismo, afetando de várias formas a vida do trabalhador
assalariado. Miséria do trabalhador desempregado que vive a margem desta
sociedade excludente que por estar nesta condição passa fome e frio levando ao
homem ao seu limite como ser humano desencadeando doenças e situações de
extrema pobreza.

O que antes poderia ser considerado ‘trabalhadores assalariados


excedentes’, sob a grande indústria, no período histórico de transição para a
pós grande indústria, sob a mundialização do capital, torna-se, por
conseguinte ‘população trabalhadora excluída’. ‘O excedente’ interverte-se
em ‘excluído’. Desse modo, surgem os novos excluídos da ‘nova ordem
capitalista’, que são as massas de desempregados (e subproletários) do
sistema de exploração do capital, em decorrência do desenvolvimento da
produtividade do trabalho, cuja impossibilidade real de serem incluídos pela
‘nova ordem capitalista’, aparece, no plano contingente, meramente como
índice do desemprego estrutural (ou ainda da subproletarização tardia).
(ALVES apoud FORRESTER, 1996)

Muito se pensa na quantidade de desempregados que o capitalismo produz,


mas pouco se pensa na forma como o trabalho está organizado no modo de
produção capitalista e como o trabalhador é explorado e tem sua força de trabalho
cada vez mais degrada mal remunerada e sem garantias de direitos. “É um aspecto
dissimulado da nova exclusão social, do qual o desemprego estrutural é sua fratura
exposta, muitas vezes, a discussão da quantidade de empregos sobrepõe-se a
qualidade dos novos postos de trabalho, ocultando, portanto, o problema da
subproletarização tardia como um dos maiores problemas do mundo do trabalho no
30

limiar do século XXI.” (ALVES, 2000, p. 78) O subemprego e suas condições


desumanas do trabalhador na contemporaneidade é mais uma conseqüência deste
capitalismo que deforma o trabalhador. O capitalismo tende a culpar o trabalhador
pelo desemprego onde aqueles que não tem qualificação, que são inaptos (e outros
atributos necessários) estão desempregados não por uma condição estrutural do
capitalismo, mas fazendo acreditar que pela ausência de vários fatores individuais
como falta de qualificação especializada de novas tecnologias que são exigidas para
adquirir determinado cargo. Com o novo modo de produção, o neoliberalismo, a
globalização as outras medidas tomadas pelo Estado em favor do capital e as
expressivas mudanças no mundo do trabalho foram reduzidos números de postos
de trabalho e diversos ramos, onde houve uma expansão da superpopulação
relativa ou exército industrial de reserva.

O desemprego, as desigualdades distributivas, também vinculada ao


crescimento desmedido dos preços, da produção e do consumo, e a cada
vez maior precariedade do mercado de trabalho, tem aumentado e
agravado o problema da nova pobreza. (Idem, p. 52)

[...] traduzindo na banalização da vida humana, na violência escondida no


fetiche do dinheiro e da mistificação do capital ao impregnar todos os
espaços e esferas da vida social. Violência que tem no aparato repressivo
do Estado, capturado pelas finanças e colocado a serviço da propriedade e
poder dos que dominam o seu escudo de proteção de disseminação. O alvo
principal são aqueles que dispõem apenas de sua força de trabalho para
sobreviver. (IAMAMOTO, 2012, p. 144-145)”

Ao longo do texto vimos como o trabalho vem se fragmentando e o


trabalhador se degradando diante de diversas mudanças no mundo do trabalho que
trazem benefícios para o capital e deformidade para o homem que tem potencial
para criar e recriar diversos produtos, mas esta habilidade é utilizada para criar
riqueza aos outros. O foco é evidenciar este homem trabalhador assalariado, que é
proletário e vivencia no cotidiano as mazelas da desigualdade social que a cada dia
se sente diminuído diante do capitalismo. A desigualdade que gera violência que
leva a morte do homem, onde a sociedade e as pessoas são desumanas, onde a
barbárie diária leva a ruína do homem, “O capital em seu movimento de valorização,
produz a sua invisibilidade do trabalho e a banalização do humano [...].” (IMAMOTO,
2001, p. 53). O trabalho se torna mortificante, doloroso, sacrificante. Alguns homens
31

ao serem expulsos do processo de trabalho passam a viver na miséria sendo tratado


com indiferença ou como qualquer coisa que não precisa de atenção ou cuidado da
sociedade e do Estado.

Determina uma acumulação de miséria correspondente a acumulação de


capital. Acumulação de riqueza num pólo e ao mesmo tempo acumulação
de miséria, de trabalho atormentante; de escravatura, ignorância,
brutalização e degradação moral, no pólo oposto, constituído pela classe
cujo produto vira capital. (MARX. 1975, v. II, p. 749)

A pessoa que vive na condição de estar na rua faz parte do exército


industrial de reserva, a massa de trabalhadores desempregados que por vivenciar
estas mudanças no mundo do trabalho impactou a estrutura de sua vida, muitos
perderam suas casas e suas famílias por uma condição de estar desempregado e
não poder garantir a sua sobrevivência e de sua família, outros trabalham na
informalidade nas ruas, mas não tem condições de ter uma casa para viver. Estas
mudanças transformam a vida de milhares de pessoas fazendo delas seres
excluídos e abandonados por causa do capitalismo.
As desigualdades existentes na lógica do sistema capitalista só deixam em
evidencia a extrema pobreza, Miséria, exploração, o abandono, desemprego, fome,
preconceito, falta de moradia digna, descaso pela educação e saúde, adoecimento
físico e mental levando o homem a sua degradação essas são as suas
conseqüências. O capitalismo é tão perverso que naturaliza tudo que é inerente ao
modo de produção capitalista e por vezes culpa o homem por sua condição
deplorável.

CAPÍTULO 2 – A POLÍTICA DO CENTRO DE REFERENCIA ESPECIALIZADO


PARA A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA

O Centro de Referência Especializado para a População em Situação de


Rua é uma política pública não contributiva que visa assegurar o acompanhamento
especializado de famílias para a construção de novos vínculos interpessoais e/ou
familiares e a construção de novos projetos de vida para garantir o processo de
saída da situação de rua.
O serviço oportuniza a inserção social e o acesso da população em situação
de rua aos direitos e proteção social, articulando com a rede socioassistencial e as
32

demais políticas públicas e órgãos de defesa dos direitos. Na atenção ofertada o


atendimento e acompanhamento da equipe interdisciplinar visa favorecer o alcance
da autonomia e a participação social se baseando com respeito à dignidade e a
diversidade sem discriminar a pessoa em situação de rua por sua condição.

2.1 Centro de Referência Especializado para População em Situação de


Rua Centro Pop

O Centro de Referência Especializado para População em situação de Rua


constitui uma Unidade da PSE de Média Complexidade de natureza pública e
estatal, o Centro Pop volta-se diretamente para o atendimento especializado da
população em situação de rua que está previsto no decreto 7.053/2009 e na
Tipificação Nacional de Serviços Socio-assistenciais.
“Todo Centro Pop deve ofertar, obrigatoriamente, o serviço Especializado
para pessoas em situação de rua.” (ORIENTAÇÕES TÉCNICAS 2011 p. 42)
O órgão responsável pela implantação do Centro Pop que irá definir as
etapas, as metas, responsáveis e prazos será a política de Assistência Social do
município ou Distrito Federal. Obrigatoriamente a implantação deverá constar no
plano de Assistência Social e será submetido ao Conselho de Assistência Social do
município.
As etapas a serem realizadas que compõe o planejamento da implantação
do Centro Pop, onde, deverão ser adaptadas e flexibilizadas a realidade de cada
município.

A construção desse projeto é tarefa a ser realizada coletivamente, de modo


a envolver toda a equipe da Unidade e representantes do órgão gestor da
política de Assistência Social, além da participação dos Usuários. Portanto,
sua elaboração não se esgota no momento da implantação da Unidade,
masdeve guardar espaço para avaliação e o aprimoramento constante, a
partir da prática do cotidiano, por meio de uma construção coletiva que
envolva a participação dos Usuários (ORIENTAÇÕES TÉCNICAS 2011 p.
46)

O local a ser implantado o Centro Pop deverá ser de fácil acesso, com maior
concentração e trânsito de pessoas em situação de rua para que estas possam
acessar com facilidade o equipamento, geralmente no centro da cidade ou em
regiões centrais.
33

Nas Metrópoles, em até mesmo em Municípios de grande porte, o


diagnóstico socioterritorial poderá apontar outras áreas de maior
concentração e transito de pessoas em situação de rua, para além da
região central. Frente a isto, e considerando ainda a incidência de pessoas
em situação de rua, deve ser avaliada a necessidade de implantação de
mais de um Centro Pop no Município/DF e a definição sobre a melhor
localização, para além da região central. (Orientações Técnicas 2011 p. 44)

O espaço deverá ter toda uma infra-estruturar para receber a população em


situação de rua pensando em recursos humanos, materiais e espaço físico, as
especificidades dessa população, onde, se faz necessário ter uma previsão das
definições dos serviços que serão ofertados a esta população em situação de rua. O
espaço físico deverá ser adequado não poderá ser improvisado garantindo a
acessibilidade a pessoas com deficiência, gestante, idosos, deficiente visuais e
auditivos, dentre outros, os materiais necessários a execução das ações a serem
desenvolvidas com a população em situação de rua. O ambiente deverá ser
acolhedor com espaços para o desenvolvimento das atividades.
O atendimento deverá ter condições que mantenha a privacidade e o sigilo,
em uma sala adequada com iluminação, ventilação, limpeza e conservação
necessárias. A segurança deverá ser realizada para os profissionais e o público
atendido. As salas equipadas com material e equipamento necessário para guardar
prontuários com acesso restrito dos profissionais.
De acordo com as Orientações técnicas 2011 o processo de implantação do
Centro Pop remete a uma série de providencias que deverão ser planejadas e
desenvolvidas pelo órgão gestor municipal/DF de Assistência Social.

Além da postura ética, de respeito à dignidade, diversidade e não


discriminação, compartilhada por toda a equipe. [...] A implantação e a
oferta de serviço(s) pelo Centro Pop devem ser planejadas, de modo a
imprimir uma concepção garantidora de direitos para a inclusão social e a
construção de novos projetos de vida das pessoas em situação de rua,
rompendo com culturas pautadas no preconceito, na intolerância e no
assistencialismo. (ORIENTAÇÕES TÉCNICAS, 2011, p. 47)

O Centro Pop poderá ofertar o serviço de abordagem realizado por um


profissional capacitado, um trabalho de abordagem e busca ativa que será realizado
na rua, nos espaços em que as pessoas em situação de rua fazem de espaço de
moradia. Este serviço tem um papel essencial na abordagem desempenhando as
principais demandas desta população em situação de rua, na identificação e
34

encaminhamento para inclusão de Programas Sociais do Governo Federal e no


Cadastro Único. Este serviço é uma importante forma das pessoas acessarem ao
serviço Especializado para pessoas em situação de rua, muitos usuários do serviço
tiveram o seu primeiro contato com o Centro Pop pela equipe de abordagem que
vem realizar um atendimento inicial estabelecendo um vínculo com o usuário e se
caso for necessário sua transição para o acompanhamento pelo Serviço.

O Serviço Especializado em Abordagem Social – conforme previsto na


Tipificação Nacional – deve ser ofertado para os diversos segmentos que
utilizam espaços públicos – praças, entroncamentos de estradas, terminais
de ônibus, dentre outros – como espaço de moradia e sobrevivência. Nos
casos em que este serviço for também ofertado pelo centro pop, o
planejamento do órgão gestor deve considerar a necessidade de interação
e complementaridade entre os dois serviços ofertados na unidade e o
necessário redimensionamento da equipe e sua capacitação, de modo a
assegurar a oferta com qualidade de ambos os serviços. (ORIENTAÇÕES
TÉCNICAS, 2011, p. 42)

O atendimento do Centro Pop deverá ser realizado “nos dias úteis cinco (5)
dias por semana durante oito (8) horas diárias, garantida a presença, nesse período,
de equipe profissional essencial ao bom funcionamento da Unidade.”
(ORIENTAÇÕES TÉCNICAS, 2011, p. 51) Ao analisar a localidade o equipamento
poderá ampliar o período e horário de funcionamento, mas deve se respeitar o
período mínimo de funcionamento.
A capacidade de atendimento do Centro Pop mensal é de oitenta (80) casos
de indivíduos e ou famílias, caso ultrapasse este numero deverá ser analisada a
possibilidade da implantação de uma nova Unidade.

Os recursos humanos constituem elemento fundamental para a efetividade


do trabalho social e para a qualidade dos serviços prestados pelo Centro
Pop. Para a adequada composição da equipe da unidade deve-se observar
o prescrito na NOB/RH/2006, E, ainda, na resolução do CNAS nº 17/2011.
(ORIENTAÇÕES TÉCNICAS, 2011, p. 53)

Para cada Centro de Referência Especializado para Pessoas em situação de


Rua tem a capacidade de atendimento de 80 casos se faz necessária uma equipe
composta por: 01 (um) coordenador, 02 (dois) assistentes sociais, 02 (dois)
psicólogos (as), 01 (um) técnico de nível superior, preferencialmente com formação
em Direito, pedagogia, antropologia, sociologia ou terapia ocupacional, 04 (quatro)
35

profissionais de nível superior ou médio para a realização do Serviço Especializado


em Abordagem Social (quando ofertada pelo Centro Pop), e/ou para o
desenvolvimento de oficinas socioeducativas, dentre outras atividades e 02 (dois)
auxiliares administrativos. Caberá ao gestor local avaliar se há a necessidade de
outros profissionais.
Os profissionais envolvidos no atendimento a População em Situação de
Rua no Centro Pop no cotidiano devem ter uma postura ética, comprometida, uma
escuta qualificada, senso crítico, competência profissional que esteja de acordo com
o projeto ético político, assim como com o seu código de ética profissional.
Os profissionais deverão acolher a estas pessoas que estão em
vulnerabilidade social, proporcionando um ambiente acolhedor que vise à dignidade
e a garantia de direitos como cidadãos. Deverão estar fundamentado nas regulações
e normativas vigentes no SUAS e na Política Nacional para a população em situação
de rua, além de estar de acordo com suas atribuições e deveres previstos no código
de ética da profissão.

Cabe a coordenação do Centro Pop assegurar momentos de integração em


equipe, troca de experiências, reflexão e discussão de casos. Cabe ao
órgão gestor local de Assistência Social, por sua vez, o planejamento e
desenvolvimento de ações de capacitação com base no princípio da
educação permanente em Assistência Social, incluindo até mesmo
momentos com supervisão técnica/assessoria de profissionais externo, com
vasta experiência e conhecimento. Ao órgão gestor cabe, ainda, planejar
medidas preventivas voltadas a saúde e segurança dos trabalhadores desta
Unidade e das pessoas atendidas. (ORIENTAÇÕES TÉCNICAS, 2011, p.
55)

A capacitação e educação permanente da equipe do Centro Pop são de


extrema importância para que esteja atualizada com o enfrentamento das
configurações da questão social possibilitando à garantia de direitos a população em
situação de rua. Possibilita o estudo e discussões sobre a população em situação de
rua para que possa formar a características dessa população. A população em
situação de rua vivencia diversas situações, o seu atendimento exige conhecimentos
específicos e o domínio de habilidades necessárias para um atendimento
qualificado. Os profissionais devem garantir as informações necessárias para o
encaminhamento dos usuários para programas, projetos e benefícios
socioassistenciais, viabilizando o acesso a documentação, quando contemplado o
36

perfil, o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e o programa Bolsa Família. Por


isso, o profissional necessita se manter atualizado sobre as competências,
atribuições e formas de acesso da população usuária a cada órgão da rede de
proteção.

É importante que o processo permanente de capacitação seja planejado,


contando com diversas possibilidades e momentos que envolvam;
participação em cursos, encontros oficinas e outros eventos e visitas
técnicas a outras unidades e serviços para troca de experiências; dentre
outros. (ORIENTAÇÕES TÉCNICAS, 2011, p. 58)

Diante das diversas situações vivenciadas pela população em situação de


rua necessita de atendimento diferenciado, pois, os usuários vivenciam violação de
direitos, risco, violência por causa da sua situação e por questão de gênero,
orientação sexual, deficiência, alcoolismo e/ou uso de drogas, onde pode ter
repercussões diversas, onde, a equipe deverá reconhecer e entender cada
particularidade e organizar a metodologia de acompanhamento de cada usuário. Os
usuários são protagonistas e sujeitos autônomos com direitos que possibilita acessar
o conjunto de serviços e órgãos que promova o direito de cidadania.

As ações desenvolvidas no Serviço Especializado para pessoas em


Situação de Rua devem pautar-se no reconhecimento dos seus usuários
como sujeitos de direitos. Para tanto, devem ser identificados os direitos e
serviços que possam acessar para sua inclusão em uma rede de proteção
social, de modo a contribuir para a superação da situação vivida, muitas
vezes relacionada, dentre outros fatores, a falta de acesso a serviços e
direitos assegurados nas normativas vigentes. (ORIENTAÇÕES
TÉCNICAS, 2011, p. 70)

O Centro Pop trabalha articulado com a rede socioassistencial das outras


políticas públicas atendendo as demandas dos usuários e acompanhamento
especializado na defesa dos direitos contribuindo para a inserção social, proteção
social e o acesso aos direitos dessa população que vive em situação de rua. No
atendimento do Centro Pop deve ser proporcionadas vivencias que ajudem no
alcance da autonomia, mobilização e participação social dos usuários, assim, como
possa contribuir para o convívio grupal e social para que desenvolva as relações de
solidariedade, respeito e afetividade, manter relações sociais pautadas pelo respeito
a si e aos outros fundamentados em princípios éticos de justiça e cidadania. Visa
37

contribuir para a construção de novos projetos de vida, respeitando as escolhas dos


usuários, e restaurar e preservar a história de vida, identidade e integridade física e
mental da população usuária, minimizando danos decorrentes de vivências de
violências e abusos.
A inclusão no cadastro único e o acompanhamento no Centro Pop propicia a
localização da família ou parentes, o acesso a documentos de identidade e outros.

O Serviço deve atentar-se para assegurar o esclarecimento aos usuários,


de forma clara e sob a égide da ética, do direito e da cidadania, quanto às
normas de funcionamento da Unidade e aos procedimentos a serem
adotados no decorrer do acompanhamento. (ORIENTAÇÕES TÉCNICAS,
2011, p. 71)

As formas da população em situação de rua acessar os serviços podem ser


realizadas pela demanda espontânea, por encaminhamentos realizados pelo serviço
de abordagem social, ou outros serviços programas ou projetos da rede
socioassistencial, das demais políticas públicas setoriais ou órgãos de defesa de
direito.
O Centro Pop oferta as pessoas em situação de rua um espaço para sua
higiene pessoal, lavanderia e realização de sua refeição diária assim como
atividades e atendimento com a equipe interdisciplinar que está atenta ao momento
que os usuários utilizam o espaço para se aproximar e motivá-las a participar mais
ativamente das atividades e a realizar acompanhamento. A construção de novos
projetos visando à saída da situação de rua do usuário exige uma visão critica da
realidade visando à construção de estratégias e alternativas para atender as
necessidade e o enfrentamento das situações de risco da população que vive em
situação de rua.

O desenvolvimento do trabalho social no serviço pressupõe escuta


qualificada da demanda de cada usuário, compreendendo sua trajetória de
vida em um determinado contexto familiar, social, histórico econômico e
cultural. A trajetória de vida e a perspectiva do trabalho em rede para a
atenção integral e o acesso a direitos, o desenvolvimento de
potencialidades, a ressignificação de vivencias e a construção de novos
projetos de vida visando ao processo de saída das ruas, devem nortear a
elaboração do plano de acompanhamento Individual e / ou familiar.
(ORIENTAÇÕES TÉCNICAS, 2011, p. 79)
38

As orientações técnicas 2011, diz que para compreender do ponto de vista


tecnológico, a atuação do Serviço Especializado para Pessoas em situação de Rua
a partir de três dimensões; Acolhida pelas próprias condições de invisibilidade e das
violações de direitos os usuários necessitam ser acolhidos verdadeiramente para
que possa de fato ser construída uma política de referência na escuta qualificada e
acompanhamento especializado, Acompanhamento especializado e Articulação em
rede.

2.2 Breve histórico do Município Araruama da Região dos Lagos – RJ

O município Araruama foi fundado em 6 de fevereiro de 1859 e está


localizado a de 100 quilômetros da cidade do Rio de Janeiro - RJ a cidade naquela
época cresceu com a produção de café, no qual movimentava seus portos.
Chegando ao final do século XIX, encerrou-se a produção do café e começaram a
investir na plantação de milho, mandioca e na pesca, além da extração de sal, que à
época era o trabalho dos habitantes da cidade, contudo, passou a ser considerado
um marco da Região dos Lagos - RJ. Segundo os Dados do IBGE (2010), a cidade
possui uma população aproximada em 112 mil habitantes, com uma estimativa de
crescimento em (2015) para 122 mil, sendo considerada a segunda maior população
da Região dos Lagos. O município Araruama, segundo dados do IBGE (2010),
possui o seu PIB em R$1,26 bilhões de reais com renda domiciliar per capita de
R$657,25. Atualmente, sua principal atividade econômica é o turismo, no qual vêm
crescendo rapidamente, além do aumento do comércio, entre outros.
Através do aumento populacional do Município percebe-se que não tem
infra-estrutura suficiente para esta grande demanda, pois muitos destes turistas, em
sua maioria do Rio de Janeiro e de outros Estados, vêm em busca de emprego e
melhores condições de vida, não encontrando, por isso se instalando em locais de
risco e/ou de vulnerabilidade, com condições precárias de subsistência, contribuindo
para que a pobreza e a violência tenham um elevado índice, gerando um
crescimento populacional sem planejamento e contribuindo para as novas
configurações da questão social, assim como o grande número de pessoas em
situação de rua vindo de outras localidades em busca de alternativas de vida
aumentando o número de pessoas que permanecem na cidade em situação de rua.
Para tanto, Sposati (2001, p. 62) afirma, que as políticas sociais são
tensionadas pela alta desigualdade social. Conseqüentemente, não são provisões
39

para todos, mas para os mais pobres, ou para o não consumidor de serviços
privados. O caráter conservador quer minimizá-los como responsabilidade do
Estado, o eu encontra apoio na persistência no padrão de política social, que dista
das condições objetivas e precárias de vida da população brasileira.
De acordo com os dados do IBGE (2010), “a estimativa de famílias pobres
no município Araruama é de 8.206, totalizando 15.242 famílias cadastradas no
2cadúnico até maio de 2013”. O município, segundo dados do IBGE (2010), possui
o seu PIB em R$1,26 bilhões de reais com renda domiciliar per capita de R$657,25.
Segundo a Lei Orgânica do Município, em seu Art 5º, no que tange à organização
político administrativa, o município “é dotado de autonomia política, administrativa e
financeira”.
Segundo Silveira (2009) Os municípios, em sua grande maioria, apresentam
uma realidade de baixa capacidade de gestão-político administrativa, serviços, e
estrutura institucional precarizados, relações estreitas de mando e favor, além de
frágil organização e participação de entidades e movimentos populares e
democráticos, especialmente nas instâncias de controle social e fiscalização da
assistência social.
Os municípios carecem de uma gestão pública que seja de qualidade onde o
maior desafio, é repassar os recursos, no qual deverá garantir a população a
efetividade dessas políticas.

2.3 Centro de Referência para População em Situação de Rua do Município


Araruama na Região dos Lagos - RJ

O Centro de Referência para População em Situação de Rua (Centro Pop)


do Município Araruama na Região dos Lagos – RJ foi inaugurado em Fevereiro de
2014 no anexo da Secretaria de Políticas Sociais Trabalho e Habitação (SEPOL),
onde iniciaram os trabalhos com a equipe até ser inaugurado às instalações do
Centro Pop no mês de Agosto de 2014.
Desde a inauguração do Centro Pop até o dia 01/12/2016 foi cadastrado o
total de 429 usuários.
A equipe do Centro Pop é composta por um (01) coordenador, dois (02)
assistentes sociais, dois (02) psicólogos, dois (02) técnicos de abordagem social,
uma (01) pedagoga, um (01) administrativo, três (03) cuidadores, e guardas
Municipais que ficam de plantão por 24 horas.
40

São realizadas de vinte (20) a trinta (30) atendimentos (entre cadastros e


acompanhamentos) por mês.
O equipamento não é de longa permanência acolhendo o usuário por até 72
horas, a equipe técnica avalia o caso onde, são dados prioridade aos casos de
mulheres, idosos e casos de maior vulnerabilidade social e saúde, os casos que se
visualiza uma maior possibilidade de saída dessa situação de rua. Com o
acompanhamento da equipe interdisciplinar o que se almeja é o empoderamento e
autonomia da população em situação de rua que deseja sair dessa situação.
O Centro Pop oferece diariamente alimentação (almoço para todos que
estiverem institucionalizados e aqueles que visitam diariamente o equipamento e
jantar apenas para os institucionalizados). Oferece a disponibilidade de tomar banho
no local, disponibiliza máquina de lavar assim como sabão em pó, para que as
pessoas possam lavar suas roupas. O equipamento fornece aos usuários um kit de
higiene pessoal contendo pasta de dente, escova de dente, shampoo, desodorante e
sabonete, para as mulheres no kit vem absorvente. Disponibiliza toalha de banho
quando solicitada assim como roupas e sapatos.
O Centro Pop tem seu estatuto interno de acesso dos usuários com
determinação referente ao horário para solicitar almoço, para lavar a roupa e tomar
banho.
O usuário ao chegar ao Centro Pop é atendido pelo técnico de abordagem
que realiza a triagem, o atendimento é individual em uma sala adequada e
reservada, após a triagem o usuário é encaminhado para a equipe interdisciplinar
composta pelo (a) assistente social e psicólogo (a) que realiza o atendimento e
escuta adequada de cada situação do usuário, viabilizando encaminhamentos a
rede necessária, instruindo sobre o funcionamento do Centro Pop e se caso for
necessário realizar o acolhimento do usuário.
A equipe realiza um excelente trabalho de acolher e entender as
especificidades de cada usuário, uma equipe comprometida com as demandas e
seu papel dentro da instituição, com um olhar diferenciado e crítico da realidade da
sociedade na atual conjuntura vivenciada pelo país. A política Pública existe para
viabilizar a esses usuários um mínimo que é negado a esta pessoas que vivem uma
vulnerabilidade social, exclusão por não ter o mínimo para garantir a sua
sobrevivência.
41

Os usuários que passam no equipamento trazem sua carga histórica e


debilitados por viver nesta situação acabam se isolando do mundo. A saúde se
deteriorando com o tempo, os pés sujos e rachados, a pele envelhecida pelo sol e
pela falta de cuidados e higiene, os cabelos compridos e sujos a barba por fazer, as
roupas sujas e rasgadas, por vezes chegam com machucados por violência de
outras pessoas em situação de rua ou da sociedade civil. O semblante pesado de
uma dor inexplicável, não mais física, mas, uma dor na alma pela sua história de
vida.
Na atual conjuntura do Brasil, assim como do Estado do Rio de Janeiro que
está com dificuldades econômicas o repasse de verba para as políticas está
comprometido, por isso o equipamento tem passado por algumas dificuldades em
viabilizar alguns itens para o atendimento mais adequado dos usuários como um
café ou biscoito, açúcar, produtos de limpeza para que o normal funcionamento do
Centro Pop permaneça. A equipe não deixa de tratar com atenção carinho e amor a
todos aqueles que já debilitados por todas as violações vivenciadas chegam ao
equipamento, mas, tem evitado acolhimento de novos usuários pelo fato de não
poder suprir com aquilo que deveria.
As pessoas que vivem em situação de rua querem ser reconhecidos como
cidadão e querem reconquistar a sua cidadania que foi com o tempo sendo roubada
pelas drogas, pelo álcool ou por outras determinações que a vida causa. Cidadão
com direitos garantidos.
Aqueles que estão de passagem que são a maioria assim como demonstrou
a pesquisa documental realizada no Centro Pop da Região dos Lagos – RJ, onde
acessam ao equipamento para se alimentar tomar banho, vestir roupas limpas e
muitos vão para conseguir seus documentos que foram perdidos ou furtados na rua.
São realizadas oficinas com a pedagoga, todas as terças e quintas na parte
da tarde por um período de duas (2) horas, para que possam interagir com outros
usuários do serviço, e para que vise o empoderamento e alcance de seus ideais.

2.4 Resultado da Pesquisa realizada no Centro Pop no Município Araruama


da Região dos Lagos-RJ

Ao efetivar a pesquisa nos 217 cadastros realizados entre Agosto de 2015


ate 01 de dezembro de 2016, foi possível verificar que a população em situação de
Rua do Centro Pop, no Município Araruama Região dos Lagos-RJ está de acordo
42

com a pesquisa realizada em 2008 sobre a população em situação de Rua no Brasil


e com a pesquisa realizada pela cidade do Rio de Janeiro em 2013 que se aproxima
mais da realidade do Município por ser do mesmo Estado.
A População em situação de Rua do Município Araruama é constituída
predominantemente por homens, um total de 83%. As mulheres em situação de rua
constituem um total de 17%, o que está em consonância com os dados da Pesquisa
Nacional (2008) que tem uma população predominantemente formada de homens
(82%) e na cidade do Rio de Janeiro (81.8%). Conforme os dados a predominância
se constitui pelo sexo masculino em ambas as pesquisas realizadas.
Os fatores culturais influenciam nas tendências a predominância de homens
nessa situação, no país historicamente a responsabilidade de prover as
necessidades da família e do homem, aos mais jovens é atribuída a
responsabilidade de se auto sustentar, na atual conjuntura do país com uma
crescente taxa de desemprego as pessoas utilizam diversas formas de encontrar
uma colocação no mercado de trabalho ao sofrer pressão pela família e pela
sociedade se não cumprir com suas responsabilidades. As mulheres foram
reservadas o papel de responsável pelo lar e pela família, reprodutora, o que implica
em tratamentos desiguais na família, sociedade e mercado de trabalho, se limitando
a um espaço físico do lar. Nas ruas as mulheres acabam adquirindo o mesmo
comportamento masculino compartilhando a bebida, as drogas e acabam tendo um
comportamento machista e grosseiro. A mulher é alvo de violência por parte da
família e da sociedade que é machista, levando à mulher a situação de rua, pela
violência perpetrada contra ela.
 Faixa Etária
Deste total de (217) de homens e mulheres vivendo em condições de
vulnerabilidade, a maioria é formada por cidadãos adultos, dividindo entre o sexo
masculino (total de 183) e feminino (total de 34) sendo que a faixa etária
predominante é de pessoas entre 26 a 59 anos completos.
Conforme a pesquisa realizada na cidade do Rio de Janeiro (2013) a faixa
etária de 18 a 24 (17%), de 25 a 59 (69%) e 60 anos ou mais (6%), observa-se que
a faixa etária de 25 a 59 anos é predominante nas duas pesquisas. É uma idade
onde se encontram as pessoas economicamente ativas. Foi dividido por sexo a faixa
etária da população em situação de Rua no Município Araruama.
43

A população em situação de rua está envelhecendo, apesar de hoje o


número de pessoas acima de 60 anos serem minoria daqui a algum tempo se a
população continuar nesta condição de permanecer na rua aumentará o número de
idosos na rua. Por isso se faz necessário políticas públicas que sejam efetivas para
que esta população saia da situação de rua.
 Raça
As pessoas que estão nessa situação de rua em sua maioria são negros e
pardos (64%) (na pesquisa somam-se negros e pardos). O que se nota que a
população em situação de rua tem cor predominantemente negra, pessoas que
vivenciam uma vulnerabilidade social e são discriminados por sua cor, sofrem da
exclusão social Na pesquisa Nacional (2008) permanece a predominância de negros
(67%) os dados se cruzam demonstrando que a realidade desse perfil permanece.
 Escolaridade
Outro fator considerado importante, o qual foi observado no momento da
realização da pesquisa refere-se à questão da escolaridade das pessoas em
situação de rua. Grande parte desta população teve a oportunidade de freqüentar
uma instituição de ensino e, dessa maneira se alfabetizar.
A falta de estudo influencia na hora de disputar uma vaga de emprego,
fazendo com que muitos não consigam se empregar por não ter o grau exigido por
determinadas instituições empregatícias, que exigem cada dia mais um profissional
qualificado.
As informações a serem apresentadas mostram que a população em
situação de rua pode atingir tanto as pessoas que não possuem nenhum grau de
instrução, quanto àquele que possua maior escolaridade. Os maiores percentuais
são da população com o ensino fundamental completo e/ou incompleto (53%).
Ao cruzar os dados da pesquisa Nacional (2008) e a pesquisa da cidade do
Rio de Janeiro (2013), onde, ambas demonstraram que 75% das pessoas sabiam ler
e escrever e na pesquisa Nacional 15% nunca haviam estudado, já na do Rio de
Janeiro apenas 5% nunca haviam estudado.
 Documentação
A documentação se torna um problema para esta população que vive em
situação de rua, muitos perdem seus documentos, outros, porém, é roubado nas
ruas perdendo tudo que lhe pertence, isso dificulta na hora de fazer um cadastro de
atendimento em qualquer órgão público como no pronto socorro, assim como, na
44

hora de conseguir um emprego formal. Como podemos observar no gráfico abaixo a


maior parte das pessoas (59%) no Município Araruama da Região dos Lagos, possui
algum tipo de documento como identidade, cadastro de pessoa física (CPF) e/ou
carteira de trabalho, na pesquisa Nacional (2008) apenas 25% afirmaram não ter
nenhum tipo de documentação, na pesquisa do Rio de Janeiro (2013) as
informações foram disponibilizadas separadamente por documento não obtendo o
total de pessoas que não possuem a documentação. Observa-se que a realidade do
Município Araruama em que a maioria não tem nenhum tipo de documento se
comparando com a realidade Nacional, as informações não se complementa.
 Procedência
No que diz respeito à procedência da população em situação de Rua do
Município Araruama da Região dos Lagos – RJ, foi possível observar que parte
deste segmento é proveniente de outras localidades (80%).
De acordo com as informações descritas em alguns relatórios de
atendimento, observou-se que a maioria desta população migra de outras
localidades a procura de melhores oportunidades com o aprofundamento do
desemprego, das desigualdades sociais e da pobreza na sociedade capitalista.
Diversos fatores levam as pessoas a migrarem como rompimento de vínculo
pessoas que preferem mudar de cidade por causa de desavenças e brigas na
família e/ou morte de algum ente querido e para fugir da saudade acaba indo para a
rua e para outras cidades, por causa do desemprego sai em busca de melhores
condições de vida, os andarilhos que vivem a vida viajando. Na pesquisa Nacional
(2008) a população (72%) é proveniente das áreas urbanas que não vem de acordo
com a realidade do Município Araruama que a maioria é proveniente de outros
locais.
 Motivos de estar na situação de rua
Os principais motivos que levam as pessoas a utilizar o espaço da rua como
o seu local de moradia e sobrevivência são em sua maioria o rompimento de vínculo
por causa de algum desentendimento e brigas, e por causa do desemprego não
tendo como se sustentar sendo obrigado a estar na situação de rua. Esses motivos
influenciaram na inserção de se estar na condição de vulnerabilidade. O rompimento
de vínculo (22%) pode estar vinculado ao uso abusivo de álcool e drogas (12%) e ao
desemprego (14%). Outros não souberam informar, outros, porém, enfatizaram que
por causa do falecimento de algum ente querido, maus tratos por parte do
45

companheiro, abandono dos pais, enchente, por opção de estar na rua e os


andarilhos estão nesta situação de rua. Diversos fatores isolados ou inter-
relacionados podem conduzir a pessoa a estar na situação de rua.
De acordo com a pesquisa Nacional (2008) por causa do uso abusivo de
álcool de drogas (35,5%), desemprego (29,8%) e conflitos familiares (29,1%) são as
maiores causas das pessoas estarem na rua estando de acordo com a pesquisa
realizada no Município Araruama que são os motivos mais citados pela população
em situação de rua.
 Tempo que está na situação de rua
Ao que se refere ao tempo em que esta população esta morando e
sobrevivendo nos logradouros públicos. Verificou-se que a maioria está vivendo
nessa condição a menos de um ano (61%).
É importante destacar que, segundo as informações documentadas, grande
parte da população em situação de rua está vivendo em condições de
vulnerabilidade a menos de um ano pelo fato de terem vindo de outras localidades
em busca de emprego e melhores condições de vida. Alguns por fatores de algum
problema psicológico ou brigas familiares vão parar nessa situação de rua, mesmo
que seja por um período. Nas fichas observei que alguns que estavam nesta
situação retornaram para suas respectivas famílias após o trabalho da equipe em
fortalece este vínculo que havia se rompido.
De acordo com a pesquisa do Rio de Janeiro (2013) a população esta na
situação de rua a mais de um ano (64.80%) e na Pesquisa Nacional (2008) 48%
estava dormindo na rua a mais de dois anos. Observa-se que esta não é uma
realidade do Município Araruama, onde a predominância é de pessoas com menos
de um ano nesta situação de rua.
 Envolvimento com álcool e drogas
Observando a realidade do Município Araruama, um fator importante é a
questão do envolvimento desta população com o álcool e as drogas que é um dos
motivos desta população está na rua, ou seja, por ser expulso de sua casa pela
família, ou por não querer se tratar e achar que na rua tudo é possível, a liberdade é
o que pauta a vida de algumas pessoas que vivem nesta situação. Estar alcoolizado
ou drogado pode levar a outras conseqüências como a violência e o furto para
consumir mais droga.
46

Foi possível observar que um total de 45% é usuária de álcool e 31% de


drogas. O que se observa nesta população que o álcool e a droga se tornaram um
refúgio ou a melhor saída para enfrentar as dificuldades vivenciadas na rua.
Nas pesquisas realizadas na cidade do Rio de Janeiro (2013) e na pesquisa
Nacional (2008) não tiveram uma porcentagem de pessoas que tivesse
envolvimento com as drogas e álcool.
A pessoa em situação de rua precisa criar estratégias que venham garantir a
sua sobrevivência na sociedade capitalista. A maioria trabalha (33%) em alguma
atividade que gera renda. Na pesquisa realizada no Centro Pop observou-se que
essa população constitui meios estratégicos de sobrevivência, as principais
estratégias utilizadas são trabalhos autônomos como catadores de materiais
recicláveis, artesanato, malabarista, vendedor ambulante, guardador de carro,
construção civil entre outros. Este trabalho lhe traz rendimentos baixos e não tem
nenhuma garantia trabalhista, o que lhe dá apenas a possibilidade de manter a sua
sobrevivência de forma muito precária Muitos não trabalham (28%), mas pedem
dinheiro na rua.
De acordo com a pesquisa Nacional (2008) a maioria da população (52,6%)
em situação de rua realiza algum tipo de trabalho no mercado informal, observa-se
que os dados estão em consonância com a do Município Araruama onde é maior o
número de pessoas que exerce algum tipo de trabalho.
O trabalho possui grande relevância para a população em situação de rua,
em seu imaginário o trabalho está associado à idéia de possibilidade de consumo,
felicidade, meio de sobrevivência, acesso, sucesso, poder adquirir os objetos
necessários para uma vida digna, poder ter uma casa para morar, ter alimento
adequado entre outras coisas que a partir do trabalho poderá adquirir.
A questão da escolaridade já citada acima também é um dos fatores do
desemprego, pois as empresas exigem um profissional cada dia mais qualificado. As
pessoas em situação de rua não tem acesso a cursos profissionais, aqui na região
não tem políticas públicas para o acesso dessa população.
É possível avaliar que as formas de trabalho nas ruas tende a serem
atividades precárias que não traz a possibilidade de sair desta situação de
vulnerabilidade e risco social, permite apenas que se mantenha de forma precária o
atendimento de algumas necessidades de sobrevivência.
 Possui algum benefício
47

Algumas pessoas em situação de rua recebem algum benefício que é um


direito garantido pelo Estado como o Benefício de Prestação Continuada (BPC), a
aposentadoria por tempo de contribuição, o programa Bolsa Família e aqueles que
por motivo de alguma doença estão encostados pelo Governo.
Na pesquisa Nacional (2008) foram identificados que (3,2%) recebem
aposentadoria, (2,3%) bolsa família e (1,3) o BPC, ao cruzar os dados com a
realidade do Município Araruama observou-se que a minoria recebe algum tipo de
benefício e sua maioria não recebe ou não informaram, ressaltando a importância do
trabalho do Centro Pop em viabilizar os direitos dessa população em situação de rua
que muitas vezes não sabem de seus direitos, e por causa de falta de
documentação não conseguem acessar os benefícios.
Estes benefícios por vezes não dão suporte a todas as necessidades das
pessoas, que passam a viver em situação de rua mesmo recebendo algum valor
permanecem nesta situação.

2.5 O trabalho do assistente social dentro do Centro Pop

A matéria prima do trabalho do serviço social são as múltiplas expressões da


questão social na vida cotidiana. A violência urbana, falta de moradia, desemprego
e outras expressões da questão social (citadas no capítulo dois) são conseqüências
do capitalismo que gera desigualdade e exclusão, lidamos no cotidiano com as
contradições existentes entre a busca pela garantia e pela efetivação de direito que
são fundamentais e sociais para as famílias que vivem uma vulnerabilidade social e
estão em situação de risco social que é o foco das políticas públicas do Estado.
O assistente social é um profissional propositivo que tem a partir da ruptura
com o conservadorismo um novo projeto profissional voltado para a defesa da
classe trabalhadora, é atravessado pela condição de trabalhador assalariado
fazendo parte da classe trabalhadora e faz parte de todas as mudanças que afetam
o mundo do trabalho como a alienação, a insegurança no trabalho e as relações
sociais. “Vamos pensar, então, em como fazer valer a luta e efetivação de direitos no
nosso cotidiano de intervenções - o qual não pode esquecer, em geral viola também
os nossos próprios direitos profissionais ao não garantir espaços de trabalho em
condições dignas, nos aspectos físicos, materiais e salariais. E aqui é importante
não nos esquecermos de que lutar por direitos inclui necessariamente nossa luta
coletiva no espaço institucional que contrata nosso trabalho, junto com nossas
48

organizações representativas e com os movimentos sociais.” (FÁVERO, 2009, p.


436 - 437) A categoria profissional passa por muitas dificuldades para que de fato
ocorram as condições ideais de trabalho.

Sua prática é o próprio trabalho orientado para uma finalidade, dotado,


portanto, de teleologia: de objetivos e metas que o profissional pretende
atingir provocando mudanças no objeto de trabalho em que se concretiza a
direção social da profissão. [...], o assistente social produz efeitos nas
condições de vida materiais e culturais – comportamentos, valores,
representações – da população usuária por meio dos serviços prestados
pelos organismos empregadores. Assim, participa diretamente do processo
de produção e reprodução social. [...] a prática profissional se configura
como uma forma de trabalho e a formação profissional como um processo
de qualificação teórico-metodológico, técnico e ético-político, para o
exercício dessa especialização do trabalho coletivo. (REVISTA 1996, p.
162-163)

O serviço Social contemporâneo inserido na dinâmica das relações sociais


na sociedade capitalista traz novas configurações da categoria profissional diante do
neoliberalismo e mundialização do capital que modificou as formas de produção e
vida da classe trabalhadora. Diante disso os profissionais têm um novo rumo com
uma visão crítica e inovadora da profissão.

O Serviço Social brasileiro contemporâneo apresenta uma feição acadêmico


profissional e social renovada, voltada à defesa do trabalho e dos
trabalhadores, do amplo acesso a terra para a produção dos meios de vida,
ao compromisso com a afirmação da democracia, da liberdade, da
igualdade e da justiça social no terreno da história. Nessa direção social, a
luta pela afirmação dos direitos de cidadania, que reconheça as efetivas
necessidades e interesses dos sujeitos sociais, [...] construiu um projeto
profissional radicalmente inovador e crítico, com fundamentos históricos e
teórico-metodológicos hauridos na tradição marxista, apoiado em valores e
princípios éticos radicalmente humanistas e nas particularidades da
formação histórica do país. Ele adquire materialidade no conjunto das
regulamentações profissionais: o código de Ética do Assistente Social
(1993), a Lei da Regulamentação da Profissão (1993) e as Diretrizes
Curriculares norteadoras da formação acadêmica [...]. (IAMAMOTO², 2009,
p. 4-5)

O assistente social atua em diversos espaços ocupacionais. Segundo


Iamamoto² (2009, p. 5) os “espaços ocupacionais do assistente social têm lugar no
Estado, nas esferas do poder executivo, legislativo e judiciário, em empresas
privadas capitalistas, em organizações da sociedade civil sem fins lucrativos e na
assessoria a organizações e movimentos sociais”.
49

Nos espaços acima citados o assistente social atuam em várias frentes a fim
de efetivar os direitos da população que vive em vulnerabilidade social assim como
todos aqueles que vivem do trabalho e vivenciam em seu cotidiano as expressões
da questão social. Iamamoto² (2009, p. 5-6) nos fala que:

Nesses espaços profissionais os (as) assistentes sociais atuam na sua


formulação, planejamento e execução de políticas públicas, nas áreas de
educação, saúde, previdência, assistência social, habitação, meio ambiente,
entre outras [...]. Sua atuação ocorre ainda na esfera privada,
principalmente no âmbito do repasse de serviços, benefícios e na
organização de atividades vinculadas a produção, circulação e consumo de
bens e serviços. [...] Nesses espaços ocupacionais esses profissionais
realizam acessórias, consultorias e supervisão técnica; contribuem na
formulação, gestão e avaliação de políticas, programas e projetos sociais;
atuam na instrução de processos sociais, sentenças e decisões,
especialmente no campo sociojurídico; realizam estudos socioeconômicos e
orientação social a indivíduos, grupos e famílias, predominante das classes
subalternas [...] realizam assim uma ação de cunho socioeducativo na
prestação de serviços sociais, viabilizando o acesso aos direitos e aos
meios de exercê-los, contribuindo para que necessidades e interesses dos
sujeitos sociais adquiram visibilidade na cena pública e possam ser
reconhecidos, estimulando a organização do diferentes segmentos dos
trabalhadores na defesa e ampliação dos seus direitos, especialmente os
direitos sociais. Afirma o compromisso com os direitos e interesses dos
usuários, na defesa da qualidade dos serviços sociais.

O assistente social trabalha nas políticas públicas do Estado na garantia dos


direitos da população usuária dos serviços. Aqui queremos enfatizar o trabalho do
profissional de serviço social inserido na política pública da assistência social para a
população em situação de Rua no Centro Pop atuando diretamente com pessoas
que são excluídos e estigmatizados pela sociedade, indivíduos que não são
reconhecidos como cidadãos de direitos pela sociedade civil que são invisíveis, o
Estado vem com seu papel de garantir um mínimo a estas pessoas com a política do
Centro Pop.
No cotidiano do assistente social muitos são os desafios a se enfrentar
diante das contradições entre capital x trabalho, as desigualdades sociais e as
múltiplas expressões da questão social. A defesa dos direitos dos usuários e a
busca pela igualdade são entraves que através de lutas poderão ser vencidos. O
projeto ético político da profissão tem a democracia e justiça social como base. A
busca pela efetividade desses direitos faz do profissional um assistente social
comprometido com seu código de ética e com a defesa do trabalhador.
50

Os assistentes sociais relataram sobre a importância de se ter uma visão


ampla da realidade social e suas múltiplas expressões da questão social e da
sociedade que o abarca. O assistente social ressaltou a importância da escuta
qualificada para entender as especificidades do indivíduo e ajudá-lo resgatar a sua
cidadania, o assistente social mencionou a viabilização dos direitos ao usuário.
Reconhecem a importância de seu papel dentro do centro pop viabilizando direito o
assistente social tem papel fundamental dentro do centro pop com seu atendimento
e escuta diferenciada, ressalta a banalização do humano já mencionado acima que
se o profissional não for propositivo, atualizado e tiver um olhar diferenciado
corremos o risco de cair no fatalismo, no cotidiano rotineiro, onde humano não
importa o que importa é dar conta da rotina institucional, um profissional que tenha
um olhar diferenciado diante dos desafios postos ao serviço social.
É gratificante ver que o trabalho de toda equipe obteve resultado que todo o
sacrifício e desafios do cotidiano profissional dêem frutos permitindo que as pessoas
voltem ao convívio da família e da sociedade. O profissional não quer encobrir o que
de fato está o correndo com política pública do centro pop e com os desafios e
dificuldades enfrentados no equipamento.
Os assistentes concordam que uma das maiores demandas é a questão da
documentação, a aonde chega á instituição sem nenhum documentos, conforme
pesquisa documental realizada no centro pop foi constatada que 30% dos usuários
não têm documentação, outro fator é o fortalecimento do vinculo caso esse usuário
queira sair dessa situação, para que possa retorna ao convívio familiar caso ele
tenha família.
As demandas se diferenciam de usuário para usuário por suas
particularidades, a equipe articula com a rede a viabilização da documentação,
alguns com passar dos anos não se recordam nem de onde nasceram fazendo com
que a equipe se empenhe em realizar uma investigação para saber onde o usuário
nasceu para que este possa tirar a segunda via da certidão de nascimento.
51

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O fenômeno população em situação de rua uma expressão da questão


social na contemporaneidade, a população em situação de rua não é mais visto
como uma necessidade do capital para garantir o acúmulo de riquezas, mas sim
como um grande problema social para a sociedade.
As pessoas em situação de rua são vistos pela sociedade como um
problema, são discriminados por sua condição, são identificados por muitos como
marginais e vagabundos. a As pessoas tendem a criminalizar as pessoas que estão
vivendo nesta condição de risco social, esta população é estigmatizada, a sociedade
acredita que eles não saem dessa condição por que não quer culpabilizando o
indivíduo por estar nesta condição. Essa compreensão de senso comum da
sociedade acerca da realidade desta população dificulta no enfrentamento desta
realidade, impedindo esta população de acessarem seus direitos nos espaços
públicos, contribuindo para a discriminação dessa população, onde é dever do
Estado viabilizar e garantir os meios para que essa população saia dessa situação.
Conforme os dados apresentados neste trabalho são possíveis compreender
que a população em situação de rua é uma expressão da questão social inerente ao
capitalismo, atingindo pessoas de sexo, idade e raça diferentes com diversos graus
de instrução, de diversos locais, com profissões diferentes, é uma realidade que
atinge diversas pessoas com particularidades variadas, há diversos fatores que
levam a pessoas a estar nas ruas, como o rompimento de vínculo, álcool e drogas e
desemprego conforme os dados colhidos através da Pesquisa Nacional sobre
População em Situação de Rua (2008) demonstrada no capitulo dois deste trabalho.
A população em situação de rua possui múltiplas determinações, o
agravamento desta problemática encontra-se fortemente vinculado ao modo como a
sociedade se organiza econômica, política, e socialmente, pois as mudanças têm
sido direcionadas ao atendimento das exigências do capital. O fenômeno população
em situação de rua surge e se agrava de acordo com o modo como se estrutura a
sociedade capitalista.
As pessoas em situação de rua criam estratégias de sobrevivência dentro da
sociedade. Os dados da Pesquisa Nacional Sobre População em Situação de Rua
(2008), os dados da pesquisa realizada pela cidade do Rio de Janeiro-RJ (2013), as
bibliografias utilizadas e, também, os resultados da pesquisa documental realizada
52

no Centro Pop da Região dos Lagos, mostra que grande parte desta população
migra de outros locais para a região em busca de condições melhores de vida, por
um trabalho que lhe traga condições de sobrevivência.
As pesquisas e estudos realizados neste trabalho acerca da realidade dos
cidadãos em situação de rua mostram que a sua condição é uma realidade marcada
pelas atuais relações de capital/trabalho. A política do Centro Pop visa garantir
condições para esta população que é excluída e não tem seus direitos garantidos
pelo Estado. O Centro Pop do Município Araruama da Região dos Lagos-RJ tem
uma equipe focada e comprometida com seus usuários viabilizando os direitos
previstos na Política da assistência social para a população em situação de rua,
visando a autonomia e reinserção dessa população nas relações sociais da
sociedade.
O papel do assistente social nesse processo é de extrema importância, com
um olhar diferenciado e crítico da realidade que cerca essa população em situação
de rua. No Centro Pop trabalha diretamente com essa população, viabilizando seus
direitos.
O espaço da rua é um direito do ser humano, mas, para aqueles que
desejam sair dessa situação o Centro Pop é uma política que visa à garantia de se
ter um mínimo para a sua sobrevivência oportunizando a saída dessa situação.
53

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho – Ensaio sobre a afirmação e a


negação do trabalho. 2006b.

ARGILES, Mariglei dos Santos. SILVA, Vini Rabassa da. Assistência Social e
população em situação de rua, V Jornada Internacional de Políticas Publicas.
2011, Maranhão.
CARTILHA, moradores de rua do estado de Minas Gerais. Disponível em
<www.domtotal.com/direito/pagina/detalhe/29919/cartilha-direitos-do-morador-de-
rua> acesso em: 02/12/2016.
Constituição Federal de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.brccivil03/constituicaocompilado.html> acesso em:
25/11/2016.

Estatuto da Criança e do Adolescente. ECA –Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>Acesso em 30/09/2016.

FÁVERO. Eunice Teresinha, Serviço Social, direitos e prática profissional.


Revista Serviço Social na Sociedade. São Paulo. Nº 99, p. 434 – 443, Jul./Set. 2009.

IAMAMOTO², Marilda Vilela. O Serviço Social na cena contemporânea. In: Serviço


Social: Direitos Sociais e Competências Profissionais. Brasília CEFESS/ABEPSS,
2009. P.16-50.

IAMAMOTO, Marilda Villela. Serviço Social em tempo de capital fetiche: capital


financeiro, trabalho e questão social. – 7. ed. – São Paulo: Cortez, 2012.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em:


<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/pibmunicipios/2010_2013/default
_xls.shtm> Acesso em: 19/06/2016.

VEJA SÃO PAULO. Morador de rua tem corpo queimado enquanto dormia em
Taubaté, SP Do G1 do Paraíba e Região Publicado em 12/02/2016. Disponível em:
<http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2016/02/morador-de-rua-tem-
corpo-incendiado-enquanto-dormia-em-taubate-sp.html > Acesso em: 11/11/2016.

MESZÁROS, István, 1930. O desafio e o fardo do tempo histórico: O socialismo


no século XXI (tradução Ana Cotrim, Vera Cotrim) – São Paulo: Boitempo, 2007.
ORIENTAÇÕES TÉCNICAS: Centro de Referência Especializado para população
em situação de rua – Centro POP. SUAS e população em situação de rua. Brasília:
Gráfica e Editora Brasil Ltda, Volume III, 2011.
Politica Nacional para Inclusão Social da população em situação de rua, Brasília/DF.
Maio de 2008. Disponível em: <http:
//www.recife.pe.gov.br/noticias/arquivos/2297.pdf> Acesso em: 30/09/2015.
População de Rua 2013 Um Direito a Cidade. Disponível em:
<http://www.rio.rj.gov.br/dlstatic/10112/4576565/4118206/PesquisaCenso.pdf>
Acesso em: 29/11/2015.
54

SILVA, Maria Lopes da. Trabalho e população em situação de rua no Brasil. São
Paulo: Cortez, 2009.

SILVEIRA, Jucimeri Isolda. Sistema Único de Assistência Social:


institucionalidade e processos interventivos. Revista Social & Sociedade, Nº98.
São Paulo, Cortez, 2009

SPOSATI, Aldaíza. Desafios para Fazer avançar a Política de assistência Social


no Brasil. Revista Social & Sociedade, Nº68. São Paulo, Cortez, 2001

AVRITZER, Leonardo. A singularidade brasileira. Revista Brasileira de Ciências


Sociais. São Paulo: ANPOCS, vol. 16 no. 45, fev. 2001.

AZEVEDO, Mário L. Neves. Espaço Social, Campo Social, Habitus e Conceito de


Classe Social em Pierre Bourdieu. Revista Espaço Acadêmico. no.24, Ano III, Maio
de 2013. Disponível em <http://www.espacoacademico.com.br/024/24cneves.htm>
Acesso em: 21/10/2015.
BOURDIEU, Pierre. Razões Práticas: sobre a teoria da ação. Tradução de Mariza
Corrêa. Campinas: Papirus, 1996.

DURKHEIM, Émile, (1995). A evolução pedagógica. Porto Alegre: Artes Médicas

SETTON, Maria da Graça J. A teoria do habitus em Pierre Bourdieu: uma leitura


contemporânea. Revista Brasileira de Educação. Campinas: Autores Associados,
no. 20 Maio/Jun/Jul/Ago 2002, p. 60-70.

SOUZA, Jessé. A Construção Social da Subcidadania: para uma Sociologia


Política da Modernidade Periférica. Belo Horizonte: Editora UFMG; Rio de Janeiro:
IUPERJ, 2003. (Coleção Origem).

_______ Ralé brasileira: quem é e como vive / Jessé Souza; colaboradores:


ROCHA, Emerson; ROBERTO, T... [et al.] — Belo Horizonte : Editora UFMG, 2009.
(Humanitas)

SOUZA, Jessé. A modernização seletiva: uma reinterpretação do dilema brasileiro.


Brasília, Editora da UnB, 2000.

TEIXEIRA, Marcia de Oliveira. Resenha sobre “Os batalhadores brasileiros: nova


classe média ou nova classe trabalhadora?”. Trabalho, educação e saúde. Rio de
Janeiro: Fund. Oswaldo Cruz, Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, vol.
11, no. 2, maio/agosto 2013.

Você também pode gostar