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Renato Sesti Cicalise(1); Sidiclei Formagini(2); Gilson Secco Riva(3); Sandra Regina
Bertocini(4)
Resumo
Os agricultores brasileiros produzem anualmente cerca de 12 milhões de toneladas de arroz, o que
representa um potencial de geração de 2,4 milhões de toneladas de cascas. Algumas indústrias de
beneficiamento queimam estas cascas para gerar energia, descartando após o processo, cinzas residuais
que acabam não tendo utilização definida. Com a finalidade de agregar valor econômico e proporcionar
destino a esse resíduo agroindustrial, bem como diminuir o consumo de cimento na produção de concreto,
este trabalho apresenta um estudo comparativo de blocos tipo intertravados produzidos em concreto dosado
com cinzas residuais de cascas de arroz em substituição parcial ao cimento Portland. Para isso, foram
dosados três traços de concreto (um padrão e dois com substituição de 20% e 30% do cimento Portland por
cinza) e produzidos blocos tipo intertravados, que foram caracterizados experimentalmente conforme ABNT
NBR 9781:1987. Os resultados experimentais mostram que o uso da cinza residual da casca de arroz com o
teor de 20% de substituição, melhorou o desempenho dos blocos em relação ao de referência, superando a
resistência à compressão em 3,5% e mantendo praticamente a mesma taxa de absorção de água e índice
de vazios. Este resultado demonstra que é viável utilizar este resíduo em concretos destinados à fabricação
de blocos intertravados para pavimentação conforme ABNT NBR 9781:1987.
Palavra-Chave: cinza residual, cascas de arroz, blocos intertravados.
Abstract
The Brazilian farmers produce annually about 12 million tons of rice, which represents a potential for the
generation of 2.4 million tons of rice husk. Some rice industries burn these shells to generate energy, after
this process discarding residual ash that ultimately did not use set. In order to provide economic destiny to
that agro industry waste and reduce the consumption of cement in the production of concrete, this work
presents a comparative study of paving blocks produced in concrete with processed rice husk ash waste by
partial replacement of Portland cement. Therefore, were produced three type of paving blocks (one standard
and two with replacement of 20% and 30% of the Portland cement by processed rice husk ash waste), which
were characterized experimentally as ABNT NBR 9781:1987. The experimental results show that the use of
processed rice husk ash waste with the content of 20% of replacement, improved the performance of the
blocks in relation to the reference, overcoming resistance to compression in 3.5% and maintaining virtually
the same rate the absorption of water and void index. This result shows that it is feasible to use this waste in
concrete for the construction of blocks for paving.
Keywords: rice husk ash, waste, paving blocks.
2.1. Aspecto
Cinzas de cascas de arroz contêm carbono e, por essa razão, tende a ser preta.
Entretanto, a CCA pode ser também cinza, púrpura ou branca, dependendo das
impurezas presentes e das condições de queima. A composição química da cinza de
casca de arroz revela a presença de 90 a 95% de sílica (SiO2), independente do tipo de
ANAIS DO 50º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2008 – 50CBC0101 2
queima a que foi submetida. A temperatura e o tempo de queima, embora influenciem
pouco na composição química, são fatores determinantes na morfologia da cinza. Sabe-
se que cinzas produzidas em diferentes temperaturas e tempo de queima apresentam
composição morfológica distintas, e que a atividade pozolânica está diretamente
relacionada a esta composição e ao tempo de moagem a que a mesma vier a ser
submetida.
O estudo desenvolvido por CORDEIRO (2006) indica que a CCA produzida a partir de
uma combustão controlada, com temperatura de queima inferior a 600°C possui em sua
composição morfológica a presença marcante de sílica em estado amorfo, o que lhe
garante maior reatividade com o cimento e com a cal.
Porém, a maior parte da CCA produzida não tem controle de temperatura. A queima da
casca de arroz em elevadas temperaturas provoca o surgimento de fases cristalinas na
estrutura morfológica da sílica, diminuindo, segundo alguns autores a sua capacidade de
reação, e conseqüentemente se tornando menos atrativa como adição mineral ao
concreto ou argamassas.
Tabela 1 - Resultados de resistência à compressão aos 28 dias de argamassas com cinzas da casca de
arroz (CORDEIRO, 2006).
Mistura Referência Temperatura de queima (oC)
400 500 600 700 800 900
Resistência média (MPa) 37,8 33,3 37,3 39,0 36,0 33,4 31,1
4. Programa Experimental
Um programa experimental foi desenvolvido para estudar o desempenho de blocos
"Pavers Stockholm" produzidos em concretos dosados com substituição parcial do
cimento CPII F 32 por cinza residual de casca de arroz – CRCA e também areia artificial
em substituição à areia natural, em relação às propriedades de resistência à compressão
e absorção de água. Neste programa foram produzidas três séries de blocos em
concretos com teores de substituição, em massa, de 0, 20% e 30% do cimento por CRCA.
(a) cinza antes da moagem (b) moagem em moinho de bolas (c) cinza após moagem
Figura 4 – Moagem das cinzas em moinho de bolas.
60
Areia Natural
50
Areia de Brita
40 Pedrisco
30 Brita 1
20
10
0
0,001 0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro (mm)
Os concretos foram produzidos em betoneira de eixo inclinado com capacidade para 120
litros. Em cada traço foram confeccionados 20 corpos de prova com dimensão 10x6x20
cm para ensaios de resistência à compressão e absorção de água por imersão aos 28
dias de idade. A retirada dos corpos de prova dos moldes foi realizada 24 horas após a
moldagem e, posteriormente, armazenadas em câmara úmida para o processo de cura. A
Figura 5 mostra as etapas de moldagem dos blocos produzidos com o traço CA20.
(a) concreto fresco (b) moldagem dos blocos (c) aspecto dos blocos
Figura 5 – Abatimento, moldagem e cura dos blocos “pavers”.
50 50
40 40
Tensão (MPa)
Tensão (MPa)
30 30
20 20
Concreto
CA0 Idade
10 CA20 10 7 dias
CA30 28 dias
0 0
0 5 10 15 20 25 30 0 10 20 30
Idade (dias) Teor de substituição (%)
(a) Evolução da resistência à compressão dos blocos (b) Influência do teor de cinza na evolução da
com a idade. resistência do concreto com a idade.
Figura 6 – Comparativo de aumento de resistência compressão com a idade.
Tabela 5 –Valores médios de índice de vazios, de absorção de água por imersão e por capilaridade bem
como de massa específica dos concretos com os respectivos coeficientes de variação (%).
CA0 CA20 CA30
Valores médios
Valor D.P. C.V. Valor D.P. C.V. Valor D.P. C.V.
Índice de Vazios 12,58 0,37 2,9% 12,44 0,37 2,9% 14,29 0,24 1,7%
Absorção (imersão) 5,14 0,17 3,3% 5,10 0,18 3,4% 5,97 0,16 2,7%
Massa seca 2,45 0,01 0,5% 2,44 0,02 0,7% 2,39 0,03 1,1%
Massa saturada 2,57 0,01 0,3% 2,56 0,02 0,6% 2,54 0,02 0,9%
Massa real 2,80 0,00 0,04% 2,79 0,02 0,6% 2,79 0,02 0,9%
Agradecimentos
Os autores agradecem a Mineração Financial, UNIDERP, Fundação Manoel de Barros –
FMB, MECFOR Tecnologia em Concreto Ltda. pelo apoio e auxílio financeiro para o
desenvolvimento da pesquisa.
Referências Bibliográficas
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