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Vanda Bastos
Normalização
Ana Rita Cordeiro
Sistema de Bibliotecas - UFBA
ISBN: 978-85-232-0859-2
CDD – 616.863
CDU – 615.099
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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DIREITOS REPROGRÁFICOS
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Editoras Universitárias O DI REI TO A
de América Latina y el Caribe
Introdução
Qualquer investigador que se debruce sobre a questão do
uso de drogas, focando no uso de crack entre a população de
rua, se depara com uma grande quantidade de pesquisas que
visam detectar os efeitos danosos desse uso na história de vida
do sujeito, enfatizando, apenas, aspectos farmacológicos da atu-
ação da substância no corpo. Inúmeras são as pesquisas que re-
alçam o caráter desestruturador do crack em diversas dimensões
da vida do sujeito (FERRI et al., 1997; DUNN et al., 1996; CHEN;
ANTHONY, 2004). Como tais pesquisas levam em consideração
apenas os usos problemáticos desta substância, cria-se o consen-
so de que o uso continuado de crack acarreta, necessariamente,
usos disfuncionais, uma generalização que acaba por encobrir
outras modalidades de uso menos danosas e mais funcionais. Há,
portanto, uma ausência de pesquisas que busquem analisar o
indivíduo que usa crack em seu contexto de vida cotidiana, suas
redes de sociabilidade e os rituais de uso da substância.
A pesquisa que gerou este artigo teve como objetivo prin-
cipal observar como os usos de substâncias psicoativas (mais
precisamente, o crack) são integrados nas trajetórias, estilos
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Antropóloga. Programa de Saúde Coletiva/Saúde Mental do ISC/UFBA.
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MALHEIRO, L. S. B. Sacizeiro, usuário e patrão: um estudo etnográfico
sobre consumidores de crack no Centro Histórico de Salvador. Monografia
apresentada ao Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia.
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Serviço de extensão da Faculdade de Medicina da Bahia, ligada a Universi-
dade Federal da Bahia. Foi o primeiro serviço a fazer trabalho de prevenção
nos territórios psicotrópicos na década de 90, com um projeto intitulado
Consultório de Rua.
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Serviço de extensão permanente da Faculdade de Medicina da Bahia que
atua na lógica da Redução de Danos na cidade de Salvador, acessado usu-
ários de drogas em seus contextos de uso.
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“Dever na boca” significar estar em dívida com o traficante de drogas.
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Montar a banca significa fazer comércio de drogas, de pequena escala.
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LABIGALINI, E. J. O uso terapêutico de Cannabis por dependentes de crack
no Brasil. In: MESQUITA; SEIBEL. Consumo de drogas, desafios e pers-
pectivas. Hucitec: São Paulo, 2000, p173-184.
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OLIVEIRA, Lúcio Garcia de. Avaliação da cultura de uso de crack após uma
década de introdução da droga na cidade de São Paulo. Tese (Doutorado em
Ciências) – Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo.
Conclusão
Assim, propomos uma abordagem mais ampla e multi-
facetada do fenômeno na qual, além de pensar na natureza
do produto consumido, se torna necessário procurar conhe-
cer os usuários em suas múltiplas redes, atentando para as
suas formas de sociabilidade, seus estilos de vida e as diversas
maneiras como interagem com seu meio. Para embasar, devi-
damente, as intervenções sociais voltadas para esse público é
imprescindível a realização de trabalhos de campo nos quais
as estratégias de consumo mais seguro sejam construídas em
parceria com os sujeitos.
De acordo com Becker (1977), entre as redes de usuá-
rios de drogas se desenvolvem conhecimentos que orientam os
consumidores em seus reconhecimentos dos efeitos desejados
e indesejados, assim como em suas maneiras de reagir a eles.
Portanto, torna-se de grande importância que os estudos cien-
tíficos levem em conta o saber construído pelos usuários em
suas redes de sociabilidade em relação a usos mais seguros
de crack e esse conhecimento interessa para a elaboração de
REFERÊNCIAS
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etnográfico sobre consumidores de crack no Centro Histórico de
Salvador. Monografia apresentada ao Departamento de Antropologia
da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal
da Bahia.
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