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AULA- 15 A 19/03

UNIDADE 1- FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL


CAP.2 – EDUCAÇÃO AMBIENTAL (EA)

1- O que é educação ambiental


A Educação Ambiental é um segmento no universo da Educação, e como tal, é um
processo de buscar descobrir talentos, de puxar para fora as potencialidades das pessoas,
de mudar comportamentos.
Assim, podemos entender educação ambiental como “um conjunto de ensinamentos
teóricos e práticos com o objetivo de levar à compreensão e de despertar a percepção do
indivíduo sobre a importância de ações e atitudes para a conservação e a preservação do
meio ambiente, em benefício da saúde e do bem-estar de todos.”
Como um ramo específico da Educação, a Educação Ambiental (EA) envolve uma série
de preocupações e demandas da vida das pessoas, o que faz com que esteja voltada para
a compreensão e solução de problemas, implicando em um trabalho feito de desafios e
confrontos, com o foco na intervenção comunitária. A “EA” se caracteriza por
incorporar as dimensões socioeconômica, política, cultural e histórica, não podendo
basear-se em pautas rígidas e de aplicação universal, devendo considerar as condições e
estágios de cada região e comunidade, sob uma perspectiva histórica.
A ‘EA’ deve reunir um conjunto de projetos, a multiplicidade de disciplinas (áreas de
conhecimento) e deve ser um programa, não uma atividade isolada. E neste processo, o
educador não pode perder a iniciativa em seu papel de orientação, seleção e organização
de suas atividades educacionais. A ‘EA’ deve ainda considerar a importância e a
necessidade de se desenvolver uma atitude de reflexão crítica comprometida com uma
ação emancipadora, que permita realmente analisar os processos de opressão das classes
populares em função do sistema dominante. A ‘EA’ não deve descuidar de assinalar a
importância e o valor do conhecimento popular e das diferentes práticas culturais, que
devem ser legitimadas e organizadas ao longo do processo.
Para Ruscheinsky (2002), a Educação Ambiental, com o objetivo de problematizar as
condições da existência, necessariamente penetrará no terreno das representações
sociais. Na leitura do real, os indivíduos consolidam as representações que se associam
com o contexto em que vivem. Assim, a verdadeira Ed. Ambiental deve pertencer à
comunidade, partindo dela e a ela retornando.
Destacamos, e propomos, para uma educação ambiental crítica, a concepção de
Boaventura Santos de “pensarmos no conhecimento como autoconhecimento”. Aqueles
conhecimentos que produzimos nas relações de poder e saber, não estão livres das
nossas crenças, nossas aspirações e projetos de vida. Portanto, os conhecimentos da
educação ambiental devem estar interrelacionados com as formas como enunciamos a
nossa vida, o que nos coloca como sujeitos produzidos e da mesma maneira produtores
de conhecimentos científicosociais críticos, capazes de alterar nossa maneira de estar e
permanecer no mundo.

2- EA: processo de educação política


A Educação Ambiental é um processo de educação política e, sendo assim, busca formar
indivíduos para o exercício da cidadania e para uma ação transformadora, a fim de
melhorar a qualidade de vida da comunidade.
A abordagem sociocultural permite que a ação proativa e transformadora, proposta pela
educação ambiental, se efetive, já que implica em formação de uma reflexão crítica.
A educação sempre provoca mudanças, mesmo que inconscientes. Essas mudanças são
internas, elas vêm de dentro para fora. Assim, “educação é a transformação do sujeito
que ao transformar-se, transforma o seu entorno” (OPS-Organização Pan-americana de
la Salud, 1995). No entanto, para essa ação transformadora é preciso ir além do ato de
conhecer, o que se obtém a partir de informações colhidas; é preciso apreender, refletir
criticamente sobre o objeto do conhecimento, compreender, tomar consciência e
acreditar naquilo como uma verdade (isto é, possuir o conhecimento correto);
valorizar esse conhecimento (atitude positiva, considerar importante); saber como
agir em relação a esse novo saber (desenvolver competências e habilidades corretas) e
agir em função disso (realizar ações ou práticas corretas, adotar condutas ou
comportamentos compatíveis). É preciso viver de acordo com o que se pensa,
considerando valores éticos e de justiça social. A atitude é que vai predispor à ação.
A educação faz com que a ação corresponda ao conhecimento valorizado.

*Nesse entendimento, não é o educador que educa, mas o educador é aquele que cria
condições para que as idéias e o conhecimento sejam incorporados pelo educando. Esse
conhecimento, para fazer parte da vida do educando, precisa ser aceito como verdade,
precisa ser valorizado e corresponder às necessidades sentidas pelo educando. O
educador estimula o educando que, motivado, valoriza as idéias, de modo a ter certeza
de que elas serão significativas para a sua vida. Quando o educando incorpora essas
idéias, passa a agir de acordo com elas, com consciência. Caso contrário, as idéias e
ensinamentos só permanecem por algum tempo, enquanto houver controle, vigilância ou
mesmo, alguma empolgação por novidade ou por uma ação diferente.
* E o desenvolvimento dessa conscientização, também depende de cada sujeito. O
educador só apresenta os problemas, levanta soluções, problematiza e possibilita uma
reflexão crítica sobre o assunto.
Vamos destacar, agora, que nas relações sociais, as pessoas trocam diferentes saberes,
não apenas nas instituições formais de ensino (escolas,colégios,universidades,
academias etc), mas também nos grupos não-formais (clubes, sindicatos, associações,
empresas etc) e, mesmo, informais, também contribuindo para uma educação ampla.
Lembrando Paulo Freire, realmente “ninguém se educa sozinho”.
No processo de educação, podemos identificar diferentes áreas, como a cognitiva (do
conhecimento), a afetiva (da atitude) e a psicomotora (das habilidades e da ação),
todas intimamente ligadas. Porém, como o ser humano é sujeito e objeto da história,
isto é, responsável pela transformação da realidade, mas também influenciado por ela –
representada pelas estruturas socioeconômicas, políticas e culturais da sociedade,
podemos dizer que a educação não está voltada apenas para mudanças individuais, mas
para mudanças coletivas e, principalmente, para a transformação do sistema social a fim
de garantir melhor qualidade de vida para a humanidadee para os demais seres vivos. O
ser humano deve ser valorizado pelo que ele é, e não pelo que tem e por seu acesso a
bens e recursos.
Vamos deixar de lado a visão antropocêntrica, que coloca o ser humano como centro do
universo, acima de todos os demais seres vivos, e a quem tudo é permitido, e que
provocou, e provoca, tanta degradação no planeta, mas vamos ter bem claro que o
equilíbrio de todos os ecossistemas e, portanto, do planeta, depende de relações
equilibradas entre todos os seres vivos e não-vivos da Terra, da qual o ser humano faz
parte. O desequilíbrio provocado, geralmente, por ações antrópicas tem sido muitas
vezes irreversível. Ao atingir qualquer ser vivo, de uma forma ou de outra, acaba
atingindo também homens e mulheres.
*A educação implica um processo de formação política, isto é, que prepara para o
exercício da cidadania ativa, que dá condições para o ser humano conhecer, refletir e
analisar criticamente as informações, exigir seus direitos e cumprir seus deveres, de
forma que esteja apto a participar da construção de políticas públicas e de
mecanismos legais que não só atendam suas necessidades básicas, mas melhorem
suas condições de vida, dando possibilidades para que todos conquistem autonomia,
liberdade, justiça social e, portanto, possam assumir o controle sobre suas próprias
vidas (empoderamento) e a vida da coletividade, tornando-a cada vez melhor e mais
saudável.

No entanto, para transformar a realidade é preciso conhecê-la profundamente; conhecer


as necessidades, interesses, dificuldades, sonhos e expectativas dos grupos sociais que
formam a sociedade. Definem-se a partir os instrumentos e metodologias a serem
utilizados em função dos objetivos educacionais estabelecidos. A ação educativa deve
ser planejada com a população investigada e deve prever uma avaliação constante.
Pode-se, então, dizer que atividades de Educação Ambiental que ignorem a visão dos
grupos envolvidos têm grandes chances de não atingirem os objetivos traçados. Logo, é
importante buscar as representações sociais das pessoas ou grupos envolvidos. Afinal,
cada pessoa interpreta um fato ou uma questão de forma individual. Com as
representações é possível analisar como a comunidade encara determinada questão.

*A educação se traduz num processo de ensino-aprendizagem em que, ao mesmo tempo


em que se ensina, se aprende e se reaprende o já aprendido, se repensa o já pensado, se
reconstrói o caminho da curiosidade e se consegue reconstruir o saber. Mas, recorrendo
novamente a Paulo Freire, podemos dizer que “de modo algum o ensinante pode se
aventurar a ensinar sem competência para faze-lo.” Ninguém está autorizado a ensinar o
que não sabe.
A responsabilidade ética, política e profissional do ensinante lhe coloca o dever de se
preparar, de se capacitar, de se formar antes mesmo de iniciar sua atividade docente. Isto
exige preparação permanente, junto com uma análise crítica de sua prática. Isto implica
estudar e ler criticamente os textos, ter boa fundamentação teórica, mas também refletir,
“ler o mundo, entender os significados, buscar a compreensão do lido” (Carta de Paulo
Freire aos Professores,2001).
O carater político da prática pedagógica, no entanto, não depende dos que trabalham na
área de educação. Independemente de como ajam uns e outros educadores, com
consciência ou não, o trabalho em educação é necessariamente político. A dimensão
política, no sentido de desenvolver a cidadania e buscar mudanças sociais coletivas,
constitui o próprio ato educativo, enquanto ato humano ( Fonte: Coelho, IM- A questão
política do trabalho pedagógico, 1998).
Segundo D. Luzzi (La complejidad ambiental, 2000), a educação ambiental está muito
além de um tema transversal a mais, emergindo da comunidade educativa. Para ele, a
‘EA’ é produto, em construção, da complexa história dinâmica da educação. É produto
do diálogo permanente entre concepções sobre o conhecimento, a aprendizagem, o
ensino, a sociedade, o ambiente, sendo depositária de uma cosmovisão sócio-histórica
determinada.
(FONTE: ‘’Fundamentos da Educação Ambiental’’- Maria Cecília Focesi Pelicioni –
Fac. De Saúde Pública da USP)

3- EA e a globalização
3.1- Globalização é um processo de integração das economias através de um mercado
mundial. Este processo é visível num claro aumento dos fluxos comerciais. Sua força
motriz é tecnológica e ideológica: Tecnológica devido à redução espetacular dos
custos de processamento e de transmissão de informações; Ideológica porque, com
o fim do comunismo, ventos liberalizantes passaram a soprar fortemente pelos
países, reduzindo as barreiras comerciais entre eles.
No entanto, Estas mudanças nas relações dos países, com forte influência dos EUA e
seu modo de vida, passaram a determinar as novas formas de posicionamento das
pessoas com relação
ao consumo, definindo-se a partir daí uma nova consciência quanto ao pensamento da
sociedade. Termos como “mercado consumidor, marketing, poder de compra, etc”
começaram a ser cada vez mais utilizados, transformando a sociedade numa imensa
horda de consumidores, preocupados em comprar, não por necessidade, mas para
aplacar uma vontade de “ter por ter”. Logo a famosa frase “penso, logo existo” passou a
ser traduzida por “compro, logo existo”. Esta mudança no paradigma, da vida mais
simples dos nossos avós, para uma vida onde o “brilho louco dos diamantes definiu o
comportamento da sociedade frente as vitrines, gerou um falso bem estar, onde valores
morais e éticos foram dando lugar cada vez mais a ética do
“consumo a qualquer preço”. Obviamente que esta situação não se sustentaria, caso
alguém ainda tenha duvidas sobre onde este consumismo poderia nos levar é só olhar as
manchetes econômicas dos jornais todos os dias e observar o nível de pressão ambiental
que vivemos hoje.
Sem falar nas mazelas de relacionamentos que vivemos hoje, pessoas mantém
relacionamentos onde os interesses particulares estão acima dos interesses do outro.
Vivemos então uma realidade de mercado que cobra caro da sociedade em dois pontos
principais: Inverte valores & Pressiona o meio ambiente de forma insustentável.
Reúnem-se aí, os elementos para a formação de estados de insatisfação, frustração,
estresse e violência e a reprodução de uma característica da modernidade (que é a
mesma característica de espécies sob estresse ecossistêmico): todos contra todos.
Então, novos paradigmas são necessários para a globalização. Diante desse quadro, qual
é o papel da Educação Ambiental? Como a pressão consumista da sociedade define uma
insustentabilidade ambiental, um novo paradigma deverá ser implantado. A humanidade
deverá ser reeducada na sua relação com o meio ambiente e para isso deverá mudar sua
relação com o consumo. A ‘EA’ deverá ser capaz de catalisar o desencadeamento de
ações que permitam preparar os indivíduos e a sociedade para o paradigma do
desenvolvimento sustentável. (Prof. Luiz Anderson da Silva)

3.2- A trajetória da Educação Ambiental, remonta esforços que se desdobram desde a


década de 1960. Naquela época, o mundo refletia sobre o futuro do planeta e da
civilização, na medida em que, os prejuízos causados pela explosão das bombas
atômicas em Hiroshima e Nagasaki (1945) durante a Segunda Guerra Mundial,
acarretaram debates, reflexões e muita polêmica. Estaria o mundo fadado a conviver
com as mazelas da ciência e da tecnologia a serviço do progresso e do poder ? Quais
danos ambientais ainda seriam causados pela delimitação do espaço, uso de matérias-
primas naturais, comércio e padrões de consumo da sociedade moderna ?
Iniciaram-se então debates abrangentes sobre o tema. A primeira medida em função
desta ampla discussão, foi dada pela fundação da Organização das Nações Unidas
(ONU); e obviamente, os primeiros debates se deram em função da paz no mundo.
No entanto, diversos fatos se sucederiam na história contemporânea que chamariam
mais uma vez a atenção de todos, dirigentes políticos, pesquisadores, educadores e
população em geral sobre a necessidade de se avaliar a construção de valores éticos
sociais visando a sobrevivência da vida no planeta, e em especial, a vida humana.
Alguns destes fatos, puderam ser vistos
ao vivo e a cores, pelas transmissões via satélite das TVs em todo mundo, durante a
Guerra do Vietnã, quando jovens soldados norte-americanos eram mortos diante das
telas. Nessa guerra, mais uma vez a ciência e a tecnologia mostraram seu potencial de
uso bélico pelos efeitos da Bomba de Napalm e do Agente Laranja .
A Bomba de Napalm, o Agente Laranja e o DDT , foram produtos químicos descobertos
e desenvolvidos durante a Segunda Guerra Mundial. Posteriormente, o uso do ‘DDT’ se
alastrou pelo mundo por sua eficácia no extermínio das populações de insetos, enquanto
o ‘Agente Laranja’, um poderosos herbicida, foi usado em várias partes do mundo para
‘’capina química’’, inclusive na Amazônia.

Muitos outros danos ambientais ainda seriam sentidos tais como em Minamata
(contaminação da baía de Minamata-Japão pelo mercúrio, provocando diversas mortes)
e Bhopal (escapamento de gás tóxico, usado na produção de agrotóxicos, em empresa
multinacional na região de Bhopal-Índia, igualmente provocando mortes e dor), entre os
históricos mais famosos. Conforme se deu o progresso em relação ao desenvolvimento
tecnológico e industrial, a sociedade se afastou do convívio humano, construindo
valores e padrões de consumo insustentáveis ao que é próprio do homem.

Tais preocupações levariam em 1968, à Reunião do Clube de Roma, agregando os sete


países mais ricos do mundo para discutir o crescimento econômico e seus impactos
sobre a natureza e sobre a sociedade. Dessa reunião, surgiu o documento The Limits of
Growth (Os Limites do Crescimento), cujo conteúdo alertava a todos os países membros
da ONU sobre a necessidade de se pensar o progresso de modo compatível às leis da
ecologia, tendo então se originado o termo ecodesenvolvimento , e ainda, alertava
sobre a urgência de uma educação multidisciplinar visando ao mesmo objetivo, em
todos os níveis da educação formal.

A questão da Educação Multidisciplinar, foi objeto de discussão em todas as reuniões


que se sucederam ao Clube de Roma . Assim, em Estocolmo (1972) , a educação
visando o ecodesenvolvimento foi exaustivamente trabalhada, sem que no entanto, as
conclusões esclarecessem o termo multidisciplinar. O que seria multidisciplinar ? Se
caso todas as áreas do conhecimento contribuíssem para a visão de qualidade ambiental,
isso traria transformações de comportamento para o cidadão e seus padrões de
consumo ? Tais transformações valorizariam o ser cidadão ativo e não o ter status ? Que
valores sociais teriam de ser acrescentados à educação formal ? Talvez só o ensino da
Ecologia pudesse dar a solução pretendida !

No final da Conferência de Estocolmo, constituiu-se uma Comissão Mundial para o


Meio Ambiente, que, consagrada pelo nome de “Comissão Brundtland”, produziu o
mais denso relatório que propôs estratégias ambientais de longo prazo para obter um
desenvolvimento sustentável por volta do ano 2000.
Após 15 anos de trabalho e pesquisas ao redor do planeta, a Comissão Brundtland se
empenhou em conhecer os modelos pelos quais os mais diversos países degradavam o
meio ambiente, ou até, esgotavam seus recursos naturais.
Entendendo as necessidades de democracia, as conclusões apontaram para alguns
prismas importantes. Desse modo, constatou-se que os países mais industrializados
promoviam impactos importantes pelo uso excessivo de máquinas e, por sua vez, os
países menos industrializados, efetuavam maiores danos pelo descarte exagerado de
resíduos sólidos, dentre os quais, uma enorme quantidade de alimentos.
Não por isso, a mesma equipe detectou dois impactos ambientais primários. Fossem
eles efetuados em países ricos ou não, o desflorestamento e o acúmulo de lixo,
especialmente o urbano, se revelaram como geradores dos mais diversos danos na
natureza, hoje, genericamente conhecidos como problemas ambientais.

Conforme as afirmações de Gro Harlem Brundtland, Presidente da Comissão em 20 de


março de 1987:
“...o desafio de reconstrução após a II Guerra Mundial, foi uma verdadeira motivação
que levou ao estabelecimento do sistema econômico internacional. Assim, a década de
1960 foi um tempo de otimismo e progresso; havia a esperança de um mundo novo
melhor e de idéias cada vez mais internacionais. Paradoxalmente, os anos 70 entraram
pouco a pouco num clima de reação e isolamento, e , na década de 80, verificou-se um
retrocesso quanto às preocupações sociais”.

Pelas diretrizes encontradas no trabalho da Comissão, o processo de desenvolvimento


pelo qual as nações se tornam mais ricas, também promoveu a deterioração ambiental
que colocou em questão a sobrevivência no planeta, pois o meio ambiente não existe
isolado das ações, ambições e necessidades humanas. Assim, considerando meio
ambiente e desenvolvimento como inseparáveis, crescimento só pode ser viável se
envolver as dimensões social e ambiental.

Nesta linha, a Comissão redigiu o ‘’Relatório Nosso Futuro Comum’’, apresentando as


convicções de que grandes mudanças seriam necessárias, tanto de atitude quanto na
forma de organização das diversas sociedades mundiais.
A Comissão Brundtland estabeleceu uma posição importante, ao se dirigir aos
professores e também aos jovens de todo mundo, lembrando-lhes que se não
conseguissem traduzir as palavras em uma linguagem capaz de tocar os corações e as
mentes de jovens e idosos, não seriam capazes de empreender as amplas mudanças
sociais necessárias à correção do curso do
desenvolvimento”.
A Educação Ambiental, como segmento específico, passou a se inserir, com mais
ênfase ( e a se tornar mais presente) na sociedade internacional, em geral, e na
brasileira em particular, desde a década de 1970, e, de modo oficioso, dialogava e
propunha manifestações sociais que buscavam debater o caráter político do uso dos
recursos naturais. Como instrumento de diálogo, tanto no Brasil quanto nos mais
diversos países, suas práticas traziam o anseio da sociedade pela liberdade de expressão
e qualidade de vida nas mais diversas camadas sociais, especialmente para as menos
favorecidas.

Muito embora este clamor sempre tenha estado como tônica permanente de suas
práticas, a Educação Ambiental passou por diversas fases, sendo a primeira a das
denúncias sobre os abusos do poder econômico perante os menos favorecidos,
especialmente quando a degradação ambiental era feita em nome do progresso. Já nos
anos 80, a fase das denúncias deu lugar às conquistas dos direitos civis e da
democracia, mesmo porque, a atuação do Partido Verde alemão na derrubada do muro
de Berlim, e, em seguida, a chegada da Perestoyka fez sentir seus efeitos no fim da
União Soviética, trazendo a Rússia para o capitalismo. Globalização, anos 1990.
Baseada nos acordos de livre mercado, a globalização atende aos mercados
internacionais mais poderosos, nos quais os países ricos impõem as regras e os países
pobres se inserem da maneira que podem. O protecionismo (dos ricos) se apresenta
contra o crescimento dos países menos desenvolvidos (às vezes, disfarçado). A
globalização se caracteriza, ainda, pela não democratização do sistema financeiro
internacional, cujos maiores obstáculos estão nas regras para as patentes e a propriedade
intelectual (dificultando o acesso dos menos desenvolvidos e favorecidos às melhores e
mais desenvolvidas tecnologias).

Caracterizada por um capitalismo de alianças e de megacorporações, esse modelo é,


antes de qualquer coisa, um sistema, em que os clientes não são os povos, e sim as
nações e seus poderes. Desse modo, socializam-se as despesas e privatizam-se os lucros.
Como solução para o desenvolvimento, Noam Chomsky aponta que o empenho nas
pesquisas científicas em todas as áreas, tendo ênfase nas pesquisas biológicas e de
índices de biodiversidade, são a única forma de emancipação e encontro de identidades.
Ainda sugere que o fomento dessas pesquisas, em todo o mundo, deve vir de agências
governamentais, para que haja uma distribuição mais democrática dos benefícios delas
emanados.

Globalização e Educação Ambiental ? Sim, posto que, de modo oficial, ela se inseriu no
cotidiano brasileiro com o conhecimento da consolidação da sociedade de consumo
cujas perdas efetivas dos laços sociais, delineiam indivíduos em seus isolamentos. O
“ecologicamente sensível”, perdeu um lugar até então mal conquistado na medida em
que os clamores sociais absorveram todas as classes nas questões do emprego, salário,
dignidade e moradia.

Pior para a Educação Ambiental, ou ainda, maior o desafio. Entretanto, não se pode
atribuir a ela e suas práticas, a qualidade de “capturar” pessoas para a participação em
sociedade. Ademais, o empobrecimento cultural demonstra que a sociedade
contemporânea, carente do holismo, ainda privilegia e solicita o conhecimento
compartimentado pautado pelo senso prático e não pelo senso analítico.

As exigências que a sociedade faz para a Educação Ambiental mostram um equívoco


quanto ao senso do que é justo ou do que é direito. Atuando muito mais pelo senso da
moralidade, a sociedade ao exigir tudo da Educação Ambiental, não nota que requer
dela uma função de palmatória dos erros que a própria sociedade deveria coibir ou
corrigir reorientando suas demandas não só materiais como também de consumo. Um
professor/educador, sozinho em sala de aula, não faz verão ! Mas, também não dá para
ficar parado.
Além disso, há que se considerar que a ética, como compreensão do bem e teoria da
condução da vida, só só funciona plenamente quando as regras sociais naturais estão em
vigor e, na falta delas, as leis do direito encontram suas funções. A finalidade da ética é
a justiça pelas ações boas, e não pelas boas ações. Sua busca é a paz!

4- Evolução dos conceitos

Em linhas gerais, o material produzido pelo ‘Relatório Nosso Futuro Comum’, da


Comissão Brundtland, se encontra admitido nos quarenta capítulos da Agenda 21 –
Global e Brasileira -, cujas diretrizes apontam diagnósticos, estratégias e busca de
soluções para grandes áreas temáticas tais como, Cidades Sustentáveis, Agricultura
Sustentável, Redução das Desigualdades Sociais, Gestão dos Recursos Naturais, Gestão
dos Dejetos, Infra-Estrutura Regional, Gestão das Águas Doces, Proteção dos Oceanos e
Mares, Gestão Racional dos Solos, Proteção e Promoção da Saúde Humana, Criação de
Áreas Naturais Protegidas, Proteção e Manejo de Ecossistemas Frágeis,
Desenvolvimento Urbano, Ciência e Tecnologia com vistas a uma ciência cidadã.

Como produtos da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e


Desenvolvimento – Rio 92 -, a Agenda 21 Global, em atenção ao exposto na Carta da
Terra, destacou em seu Capítulo 36 que, “...a promoção do ensino, da conscientização e
do treinamento, para reorientar o ensino no sentido do desenvolvimento sustentável,
aumentando a consciência pública”,
seriam responsabilidades atribuídas à Educação Ambiental, como alavanca para o
desenvolvimento sustentável, através da qual os professores deveriam ter em vista, em
sala de aula, o equilíbrio ambiental e a justiça entre as nações. Enfim, apenas colocar em
prática os quarenta capítulos da Agenda 21!
Para uma tarefa heterogênea e complexa, os esforços não foram menores; tanto da parte
técnica dos trabalhos das Conferências de Belgrado e Tbilisi, quanto da parte dos
pesquisadores.

Com vistas ao entendimento do ensino da Ecologia e à modernidade ética, Belgrado –


1975 -, entendeu a urgência do estímulo e o exercício da cidadania como forma de
reabilitar os laços de amizade entre o homem e a natureza a partir dos saberes populares
e das raízes culturais. Já em Tbilisi – 1977 -, consolidou-se o método interdisciplinar
como forma de promover a sustentabilidade ecológica e social pelo trabalho da
disciplina, agora denominada, Educação Ambiental.
Com todos estes estudos, a tecnologia da educação evoluiu para o uso dos conceitos de
interdisciplinaridade, da multidisciplinaridade e da transdisciplinaridade (serão vistos
em outro momento).

Em termos de evolução dos conceitos e da consolidação das políticas nacionais voltadas


para o meio ambiente, as comissões que têm trabalhado pela regulamentação do Artigo
23 da Constituição Federal normatizando as competências e atribuições das esferas
federais, estaduais e municipais, estarão auxiliando nos trabalhos da Educação
Ambiental na medida em que, melhor esclarecidas as tarefas, estar-se-ão adequando as
questões de governança na temática ambiental para a sociedade como um todo.

Quer se considerar que Educação Ambiental não foi pensada para quem se acostumou a
viver pelo poder do status, mas sim, para aqueles que querem o êxito através das
concretizações de longo prazo.

No entanto, pedir para que a Educação Ambiental solucione questões de ordem judicial,
de obras de engenharia ou de exploração do homem pelo homem, é uma tarefa que ela
não tem!

A partir destas idéias, “destacamos aqui a necessidade de uma educação


ambiental
efetivamente crítica, e que para nós, é aquela que articula-se entre diversos atores e
setores, perpassa interdisciplinarmente a educação formal e não-formal,
trabalhando significações e re-significações e contemplando as interrelações do
meio natural com o social. Configura um processo educativo que busca
alternativas para uma nova forma de desenvolvimento que priorize a
sustentabilidade socioambiental, reconhecendo que isto somente é possível através
do amadurecimento e prática de conceitos como ética, cidadania, co-
responsabilidade, identidade cultural e diversidade”.
Sob estes aspectos, a educação ambiental crítica repensa a realidade de modo
complexo, definindo-a como uma nova racionalidade e um espaço capaz de articular
natureza, técnica e cultura, possibilitando-nos outras formas de ver, narrar, sentir e com
isso produzir novas relações entre o homem e o meio ambiente.

Portanto, repensar a forma como homem historicamente utiliza os espaços e seus


recursos, constitui-se um desafio para os educadores ambientais, que inicialmente
precisam trabalhar com uma mudança na forma como o homem se percebe no mundo.
Para isto torna-se necessário questionar o paradigma da certeza e da simplicidade que
ainda aprisiona as práticas educacionais, privilegiando-se metodologias e práticas
interdisciplinares que fomentem a concepção de complexidade e de mudanças na
relação homem-ambiente”. (Dr. Holgonsi Soares G. Siqueira).

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