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A Preparação para o Culto

por Luciano P. Subirá

“Tendo Jesus entrado no templo, expulsou a todos os que ali vendiam e compravam; também
derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. E disse-lhes: Está
escrito: A minha casa será chamada Casa de Oração; vós, porém, a transformais em covil de
salteadores.”
Mateus 21:12,13

Jesus Agindo Diferente...

Neste texto vemos Jesus agindo de uma forma singular. Em todos os evangelhos vemos a
figura do Cristo misericordioso, amoroso, compassivo, e aqui temos uma atitude tão drástica
e enérgica que até parece destoar do resto de seus atos. Não que tenha sido errada ou
exagerada, foi precisa e perfeita, como perfeito sempre foi nosso Senhor. Mas bater com um
chicote, virar as mesas com mercadorias e dinheiro, espalhar animais, e fazer tudo com
tamanha autoridade à qual ninguém se opôs, mostra o valor que tem diante de Deus o
princípio que os judeus estavam violando. E isto deve chamar nossa atenção. Jesus deparou-
se com muitos erros e pecados nos dias de seu ministério terreno, mas este parece ter
sido um dos mais duramente repreendido. Portanto, há uma séria e importante lição a ser
aprendida neste relato. Há um erro grave a ser evitado, e convido-o a refletir comigo nos
princípios bíblicos por trás desta porção das Escrituras. Durante muito tempo achei que o
problema aqui era o comércio em si, mas quando examinamos o texto em seus detalhes, a
acusação de Jesus contra aqueles homens parece ter dois enfoques principais:

1. Uma distorção do propósito divino para sua casa – ser um ambiente de relacionamento
genuíno com Deus (casa de oração).
2. O roubo de alguma coisa – uma vez que Jesus os chamou de ladrões.

Covil de Ladrões...

Pense nesta frase de Jesus: “vós a transformastes num covil de LADRÕES”. O que esta em
questão aqui não é necessariamente o ato de comercializar em si, mas o que ele significava.
O Senhor não estava repreendendo a ganância, nem tampouco os chamou de mercenários. A
acusação não era contra ganhar dinheiro. Aqueles comerciantes tinham o respaldo das
autoridades do templo e não estavam violando nenhuma das rígidas leis judaicas ou mesmo as
romanas. Portanto, é certo reconhecer que o roubo de que Cristo falava não era algo no reino
natural, mas sim no espiritual. Tenho certeza que o roubo não era o “preço” pelo qual se
vendia, pois se de um lado da barraquinha havia um bom comerciante judeu para vender, do
outro lado o comprador também não era diferente, e isto sem falar na concorrência!

O quê, então, aqueles homens poderiam estar roubando? Precisamos de uma volta ao Velho
Testamento e à compreensão dos princípios da lei mosaica a fim de entender o que estava
acontecendo. A Bíblia faz menção de animais sendo comercializados no templo, e esta era a
principal mercadoria ali. Mas o que estes animais faziam lá no templo? Qual a razão de
estarem sendo mercadejados? Porque o comércio feito ali era principalmente o de animais? É
importante lembrar que o culto do período em que vigorou a Lei de Moisés era baseado nos
sacrifícios de animais que se faziam no templo. Esta era a principal ocupação dos sacerdotes,
como podemos perceber nos livros de Êxodo e Levítico. Basicamente, o animal mais
sacrificado era um cordeiro, embora houvesse situações em que pudesse ser um bode ou até
mesmo um novilho; outros sacrifícios exigiam a presença de aves, e estas eram também
aceitas quando o ofertante não tinha posses suficientes para ofertar gado.
Os Sacrifícios...

Deus esperava que os homens oferecessem a Ele o melhor animal. A palavra sacrifício aponta
não só o derramamento de sangue do animal, como também o ato de abrir mão do melhor
entre todo o rebanho (Abnegação, renúncia, desprendimento). Houve períodos na história de
Israel em que eles perderam este enfoque e o Senhor os repreendeu:

“O filho honra o pai, e o servo ao seu senhor. Se eu sou pai, onde está a minha honra? E se
eu sou senhor, onde está o respeito para comigo? Diz o Senhor dos Exércitos a vós outros, ó
sacerdotes, que desprezais meu nome. Vós dizeis: Em que desprezamos o teu nome?
Ofereceis sobre o meu altar pão imundo, e ainda perguntais: Em que te havemos profanado?
Nisto que pensais: A mesa do Senhor é desprezível. Quando trazeis animal cego para o
sacrificardes, não é isso mal? E quando trazeis o coxo ou o enfermo, não é isso mal? Ora,
apresenta-o ao teu governador; caso terá ele agrado em ti, e te será favorável? Diz o Senhor
dos Exércitos.”
Malaquias 1:6-8

A ESCOLHA E PREPARAÇÃO DO ANIMAL

Deveria haver todo um cuidado na escolha e preparo do animal antes de levá-lo para ser
sacrificado. Quando os israelitas começavam a fazer de qualquer jeito, Deus protestava! O
animal oferecido, em termos práticos e racionais, era perdido. Deus não o usava para nada e
quem o ofereceu ficava sem. Muitos, nunca chegaram a entender que o propósito do
sacrifício era justamente cultivar no coração do homem o valor de Deus, como estando
acima de todas as outras coisas, mesmo as mais importantes. A entrega do animal em si,
não tinha valor algum, mas o que ela significava para a pessoa. Não estamos hoje habituados
com a criação de ovelhas, mas os donos se apegavam aos animais. Jesus disse que as ovelhas
conhecem a voz do pastor e o seguem, e que este, por sua vez, as chama pelo nome
(Jo.10:3). Quando o profeta Natã foi repreender Davi de seu pecado, usou uma parábola
palavra ilustrar o que Davi fizera, e descreveu nesta alegoria como alguém que chegava a se
apegar a uma ovelha que criava, como sendo um verdadeiro animal de estimação (II
Sm.12:3).

A importância do sacrifício estava no valor que o animal oferecido tinha

Lembra-se do caso de Abraão, a quem Deus pediu seu filho Isaque em sacrifício? Deus não
queria nem precisava de Isaque sacrificado, Ele só buscava a atitude correta no coração de
Abraão, queria estar em primeiro lugar. Isto agrada o coração do nosso Pai Celeste! E o que
estava acontecendo no templo, nos dias de Jesus era exatamente o oposto. Ninguém mais se
preparava para o sacrifício. Simplesmente deixavam para a última hora, quando chegassem
no templo e compravam um animal qualquer. O culto perdeu seu significado, pois se tornou
mecânico ao perder a sua essência: a preparação.

A ÚNICA EXCEÇÃO

A única exceção que vemos na Bíblia quanto a levar o animal preparado era a seguinte:
Quando alguém que fosse subir a Jerusalém sacrificar ao Senhor e morasse muito longe, para
não fazer toda a viagem com o animal, poderia vendê-lo e subir com o dinheiro. Com esta
orientação, o Senhor queria facilitar o trânsito do adorador apenas. Facilitar a viagem e nada
mais. Ele deveria criar suas ovelhas, reconhecendo que a melhor do rebanho não seria dele e
sim do Senhor. Então quando chegava o dia de subir o templo, ele se desfazia dela do mesmo
jeito! Mas os judeus distorceram este princípio. Em nome da facilidade, instituíram um
sistema onde ninguém mais precisava gastar tempo na preparação do sacrifício, bastava
comprá-lo de última hora. Por isto Jesus os chamou de ladrões. A única coisa que eles
estavam roubando era A PREPARAÇÃO PARA O CULTO. O momento do sacrifício não era o
culto em si, somente o clímax de algo que já havia sido iniciado no coração do ofertante há
muito tempo.
Jesus queria nos ensinar...

Talvez devêssemos nos perguntar porque Jesus ficaria tão incomodado com um estilo de culto
que estava prestes a mudar. Em poucos dias Jesus seria crucificado, a Nova Aliança
estabelecida, e o culto a Deus não mais se expressaria por meio do sacrifício de animais...
Mas a verdade é que o Senhor Jesus não estava preocupado com a manifestação externa do
culto, mas como aquilo refletia um coração indiferente. E mesmo mudando o estilo da
adoração, ele sabia que nós continuaríamos errando e tropeçando nas mesmas coisas. Então
não perdeu sua chance de corrigir um pecado de sua época, e também de nos deixar um
ensino importantíssimo: o valor do que oferecemos ao Senhor em nosso culto está
intimamente ligado a nossa preparação para o culto.

Hoje em dia...

Fico profundamente triste em ver como as pessoas vão para os cultos em nossas igrejas. Sem
contar o fato que muitos chegam atrasados (o que reflete o valor do culto ou sua
preparação), e não estou falando de cinco ou dez minutos apenas! O momento em que nos
reunimos para cantar e orar ao Senhor, não é toda a expressão do culto, mas o clímax de toda
uma preparação que já começou antes de sairmos de casa. Mas muitos crentes passam a tarde
toda de um domingo (e não estou santificando o domingo em relação aos outros dias, mas
reconhecendo-o como o dia convencional de culto em que a maioria das pessoas não trabalha
e poderia cumprir o que estou dizendo) na frente da televisão, se empanturrando com tudo o
que vem da bandeja dos apresentadores de programas de auditório. Outros estão ligados no
esporte, mas não quero discutir a programação. O fato é que muitos passam a tarde toda na
frente da TV e depois quando chega a hora de ir para o culto – e às vezes depois dela – saem
correndo para a igreja sem sequer ter cultivado um tempo diante do Senhor. Estão com seu
espírito totalmente desligado e insensível para a presença de Deus. E depois se perguntam
porque não experimentam nada de diferente!

A presença de Deus não é como uma torneira que você abre e fecha a hora que quiser. A
presença do Senhor não é como um interruptor que você liga e desliga a hora que bem
entende.

Para provar a presença do Senhor sua carne tem que morrer primeiro, seu espírito precisa
estar desperto, sensível.

A Expectativa é importante...

E sabe o que eu acho mais engraçado? A quantia que ouço de muitos irmãos (de minha própria
igreja e de outras) que quando o período de louvor e adoração “está ficando bom” nós – os
líderes – costumamos encerrá-lo! Mas a verdade é que para alguém que se prepara antes do
culto, que tira um tempo para orar, meditar na Palavra, se concentrar no propósito do culto,
buscar a presença e intimidade do Senhor, a adoração está boa a partir da primeira frase
cantada. A primeira oração já é poderosa! Precisamos entender que o culto não fica melhor
com seu andamento, nós é que nos despertamos para a presença do Senhor que estava lá o
tempo todo nos esperando. Muita gente não cultiva em seu coração expectativa alguma para
o mover de Deus, e acaba não provando nada nos cultos.

A expectativa é algo que determina resultados....

Quando Jesus foi para Nazaré, sua cidade, as pessoas olhavam para ele sem expectativa.
Diziam: não é este o carpinteiro, filho de José e Maria? Em outras palavras, estavam dizendo
que viriam ele crescer que o conheciam, e não esperaram muita coisa dele, o que fez o
próprio Jesus afirmar que um profeta não tem honra em sua pátria (Mc.6:1-6). O relato
bíblico diz que Jesus NÃO PÔDE fazer muitos milagres ali, a não ser curar uns poucos
enfermos. Isto me faz questionar porque Deus não tem podido fazer muitos milagres em
nossos cultos, a não ser curar uns poucos enfermos... a resposta é óbvia: vamos para nossas
reuniões sem esperar que aconteça. Não choramos e gememos diante do Senhor em
intercessão, não exercitamos nossa fé, não o buscamos antes da reunião! Mas se fizermos
isto, se aprendermos a nos preparar para o culto, tudo será diferente.

Temos que voltar ao princípio...

Já evoluímos bastante na nossa qualidade musical, mas retrocedemos na preparação. Os


crentes antigos se preparavam melhor que nós antes do culto. Tenho saudade de quando era
criança e chegava a uma igreja e muitos estavam de joelhos clamando pela reunião. Hoje em
dia, na hora de começar a reunião você quase tem que tocar um sino para que a conversa
pare. Não estamos nos preparando para o culto. E achamos que basta cantar um pouquinho
para que nosso Deus se agrade. Mas estamos errando! E a severidade com a qual Jesus nos
trataria hoje não seria menor do que a que ele usou ao virar as mesas dos vendedores no
templo. Certamente se Jesus estivesse fisicamente aqui hoje e quisesse “arrumar” as coisas
em sua igreja, nos consideraria tão merecedores de um chicote quanto aqueles cambistas
judeus de seus dias terrenos.

O culto é diário...

Precisamos corrigir isto em nossas vidas se queremos mais da presença do Senhor. Se


quisermos de fato agradá-Lo, precisamos entender que o culto não começa na oração de
abertura, mas em nossa casa, bem antes da reunião. Em minha casa, temos o hábito de não
assistir televisão aos domingos. Não porque isto roube nossa “santidade”, mas porque nos
distrai, rouba a sintonia espiritual que deveríamos ter. Muitas vezes gasto parte da minha
tarde de domingo dormindo, e não só com leitura bíblica e oração. Mas quando vou para o
culto, estou descansado e disposto, e isto faz diferença! Nas vezes em que me distraí,
mesmo já conhecendo este princípio, o culto não teve o mesmo resultado que quando me
preparei.

Meu irmão (ã) quero desafiá-lo em nome de Jesus Cristo a considerar e corrigir este princípio
em sua vida. Virão dias em que provaremos um grande derramar de Deus em nossos cultos.
Estão chegando dias em que veremos o Espírito Santo se mover de forma muito poderosa nas
reuniões, mas tem que haver preparação. Tenho pensado muito ultimamente na frase de
Josué: “Santificai-vos, porque amanhã o Senhor fará maravilhas no meio de vós” (Js.3:5). Não
há melhor forma de ver Deus fazendo grandes coisas em nosso meio do que preparar-se para
isto! Não sei o que tem sido seu ladrão da preparação do culto. Talvez fosse só o fato de
ignorar este princípio. Talvez seja o jogo de futebol, seu mesmo ou de seu time. Talvez sejam
os programas de auditório. Sei que entre os ladrões da preparação do culto a TV ganha
disparado. Talvez seja outra coisa, mas você pode e deve mudar isto. Alguns podem achar
que estou espiritualizando demais, mas quando contextualizamos o que houve naquele dia lá
no templo, não podemos chegar a outra conclusão. Experimente gastar tempo preparando-se
para o culto e comprove você mesmo a diferença que isto faz. Mas não quero que conclua só
na base do que foi bom para você. Além de ser bom para você, certamente o será para o
nosso Pai Celeste que anseia pela comunhão conosco!

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