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Alex & Eu
Como uma cientista e um papagaio
desvelaram o mundo desconhecido da
inteligência animal e se ligaram
profundamente durante o processo
E D I T O R A R E C O R D
RIO DE JANEIRO • SÃO PAU L O
Agradecimentos 229
Índice remissivo 231
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ciei depois que Alex me deixou e viajou para o lugar que mui-
tos chamam de “Ponte do Arco-íris” foi um choque sísmico da
emoção reprimida, emoção agora livre. Sim, sempre tive um
carinho especial por Alex, sempre me referi a ele como o meu
amigo próximo e sempre o tratei com a mesma afeição e res-
peito que dispensamos a qualquer amigo mais chegado. No
entanto, para manter a objetividade científica, também tive de
manter o meu distanciamento. Agora já não há mais ciência
envolvida, pelo menos com Alex, e já não preciso manter a
objetividade.
O tsunami do lado de fora não foi menos surpreendente.
Enquanto aguentava a investida furiosa da mídia, começaram
a chegar e-mails de condolências. A princípio foram poucos,
mas em algumas horas tornaram-se vários e logo centenas. Jai-
mi Torok, o responsável pelo site, teve de criar um outro só
para condolências, o Remembering Alex [Lembrando Alex], a
fim de não sobrecarregar o servidor da fundação que apoiava a
minha pesquisa com Alex. Em uma semana chegaram mais de
duas mil mensagens, três mil ao final do mês, e o meu e-mail
pessoal recebeu quase a mesma quantidade. Alguns e-mails
eram de pessoas conhecidas como os alunos mais antigos e me
confortou saber que aquele período passado comigo e Alex ti-
nha sido importante para eles, tinha influenciado suas vidas.
Outros eram de pessoas que haviam visitado o laboratório e
queriam relembrar uma ocasião especial e compartilhá-la no-
vamente. Mas a maioria era de desconhecidos que simples-
mente estavam motivados a escrever. Obviamente, muitos
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mente só. Por ter sido uma pessoa cuja vida era cheia de ativi-
dades e realizações, o súbito esvaziamento do seu futuro era
insuportável. Frequentemente lhe passava pela cabeça a ideia
de parar de tomar o medicamento que a mantinha viva.
“Até que um dia ela leu um artigo a respeito de um fabuloso
papagaio chamado Alex e de sua mestra igualmente fabulosa,
dra. Irene Pepperberg. Para aquela mulher que amava tanto os
animais, o trabalho que Alex e Irene faziam juntos era tão in-
teressante, tão singular e importante, que ela procurou saber o
máximo possível. Para uma mulher que deixara de acreditar
em milagres, pensar que um papagaio além de poder falar
também sabia — entendia tudo — o que ouvia e o que falava
era por si mesmo um verdadeiro milagre. E assim, pela primei-
ra vez desde que tinha adoecido, essa mulher estabeleceu para
si mesma um desafio: vivenciar pessoalmente o milagre que
Alex e Irene provavam para o mundo científico.
“Sei que esta história é verdadeira porque é a minha histó-
ria. Cerca de duas décadas mais tarde, após uma cirurgia expe-
rimental com todas as complicações envolvidas, ainda estou
aqui e continuo acompanhando o trabalho feito por The Alex
Foundation. Os meus papagaios (incluindo, é claro, um papa-
gaio-cinzento de 16 anos) ainda são um milagre para mim a
cada palavra que pronunciam. Eles são a força que me mantém
viva mas foram Alex e Irene que primeiro apareceram com
essa força, anos atrás.
“Para Irene e todos os integrantes do Alex Project, minhas
preces são dirigidas a vocês. Estejam certos de que Alex nunca
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será esquecido por nós, cujos corações foram tocados por essa
alminha tão extraordinária.” A mensagem era assinada por
Karen “Wren” Grahame. Mais tarde descobri que era a mesma
Wren que enviou religiosamente dez dólares todo mês durante
muitos anos para The Alex Foundation. Eu não conhecia a his-
tória dela.
“Nunca tive a sorte de conhecer pessoalmente nem Alex
nem a dra. Pepperberg, mas me sinto como se os tivesse co-
nhecido a minha vida inteira”, escreveu Denise Raven, de
Belton, Missouri: “O meu coração está partido; sinto um nó
na garganta e um vazio terrível dentro de mim. É surpreen-
dente como esse rapazinho tocou tão profundamente tantas
pessoas. Agradeço a Deus pela possibilidade de ter Alex, dra.
Pepperberg e The Alex Foundation como parte da minha
vida. Há quatro anos perdi meu único filho e devo dizer que
a dor de perder Alex é tão horrível quanto a de perder meu
filho. Fiquei muito abalada. Tudo o que posso dizer é que...
você fez deste mundo um lugar melhor e que fará muita falta
aqui.”
“Hoje o meu coração parece despedaçado”, disse Patti Ale-
xakis. “Alex roubou o meu coração há muitos anos. Ele era um
pequeno príncipe — uma estrela brilhante. Vai com Deus,
Alex. Você é um papagaio-cinzento muito amado e continuará
tanto no meu coração como no de muitos outros. Criei uma
página na internet, um memorial de velas para você, Alex... e
para os seus amados humanos. Por favor, acenda uma vela se
desejar.”
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toda noite para a sua amada amiga [ele dizia “eu te amo”] li-
bertou o fluxo das minhas emoções. Obrigada, Alex, por tocar
o meu coração e me ajudar a sentir novamente.” Quem escre-
veu essas palavras foi Deborah Younce, de Michigan.
Também chegava a correspondência tradicional, caixas e
mais caixas de cartas. Uma delas foi um maravilhoso cartão
enviado por Penny Patterson e amigos, proprietária de Koko,
a célebre gorila dos sinais. “Koko envia uma mensagem com a
cor da cura”, escreveu Penny. “Saiba que está em todos os nos-
sos pensamentos e orações — a morte de Alex é uma grande
perda para todos.” Por baixo das palavras de Penny se via um
rabisco laranja, executado por Koko. Uma outra carta vinha de
Roger Fouts, amigo e colega de profissão, durante muito tem-
po treinador e acompanhante de Washoe, célebre chimpanzé
dos sinais. “Sabemos como deve estar se sentindo”, disse. “Mas
todos nós estamos envelhecendo e, no nosso caso, sentimo-
nos afortunados por Washoe estar conosco por tanto tempo.”
Infelizmente, poucas semanas depois eu enviaria condolências
para Roger pela morte de Washoe.
Treva Mathur, da Trees for Life, em Wichita, Kansas, en-
viou-me um certificado indicando a doação de dez árvores
para a fundação por parte de Windhover Veterinary Center,
em Walpole, Massachusetts — uma bela maneira de transfor-
mar pensamentos gentis em ecossistemas sustentáveis. Alex
tinha sido um paciente ocasional (e relutante) no Windhover.
Um dos itens mais preciosos que chegaram pelo correio foi
um pacote proveniente da Butler Elementary School, em Lock-
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