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Psicólogos apontam para riscos dos preconceitos em torno dos transtornos como depressão pós-
parto.
Muitas mães escondem os sintomas de tristeza por falta de apoio do seu entorno social. GETTY
ADRIÁN CORDELLAT
Associações e organizações de países de todo o mundo estão se mobilizando para que a primeira
quarta-feira de maio de todos os anos seja considerada o Dia Mundial da Saúde Mental
Materna. Uma reivindicação organizada em torno da Global Alliance for Maternal Mental Health
e que busca pôr em primeiro plano um aspecto importantíssimo da maternidade que muitas
vezes fica invisível e é minimizado pela sociedade. Os transtornos mentais relacionados à
maternidade são também muitas vezes diretamente escondido pelas próprias mães, submetidas
à crença de que a maternidade só pode trazer consigo sentimentos relacionados com a
felicidade. Daí a importância de enfatizar o problema neste Dia das Mães, celebrado no Brasil
próximo domingo, 13 de maio.
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Qualquer mulher, independentemente de sua cultura, idade, nível de renda e etnia, está exposta
a desenvolver transtornos do humor e de ansiedade perinatal que podem aparecer a qualquer
momento da gravidez ou durante o ano seguinte ao parto. Não por acaso, segundo dados da
própria Global Alliance, estima-se que em muitos países até uma de cada cinco novas mães
experimenta algum tipo de transtorno do estado de ânimo e ansiedade perinatal (PMAD), uma
cifra que aumenta no caso de perdas perinatais.
“É necessário estabelecer o Dia Mundial da Saúde Mental Materna por muitos motivos, bem
mais do que acreditamos, já que a saúde mental materna afeta diretamente a mulher, mas
também o bebê, o casal e a família. Na realidade, a saúde mental das mães é um pilar necessário
para o desenvolvimento e o crescimento saudável dos filhos. Apesar disso, na sociedade existe
uma idealização da maternidade junto com um estigma da doença mental materna, associado
com ser uma mãe ruim, o que chega a impedir as mulheres que se sentem angustiadas,
incapazes, tristes, culpadas ou com medo de comentar isso com sua família ou profissionais de
referência”, reflete Isabel Echevarría, psicóloga perinatal e membro do grupo de trabalho de
Psicologia da Ordem Oficial de Psicólogos de Madri (COP, na sigla em espanhol), que aderiu a
essa iniciativa mundial.
Para a psicóloga, a problemática da saúde mental materna se ampliou nos últimos anos. Um
aumento para o qual, segundo ela, confluem vários motivos: “Cada vez se tem mais consciência
de sua existência, o que torna mais fácil para os profissionais detectar o problema, elevando
assim o número de diagnósticos. Mas é preciso acrescentar que a sociedade em que vivemos
dificilmente é compatível com o ritmo biológico da gravidez e da lactância, existindo pouca rede
de apoio para as mulheres, que na maioria dos casos se encontram sem um grupo no qual se
apoiar e com o qual compartilhar, o que aumenta o nível de estresse e mal-estar”.
"A sociedade em que vivemos dificilmente é compatível com o ritmo biológico da gravidez e da
lactância, existindo pouca rede de apoio para as mulheres"
Esse aumento dos casos oculta, porém, outra realidade preocupante. Segundo estimativas, 70%
das mulheres escondem ou minimizam seus sintomas, algo que, de acordo com Gabriela
González, psicóloga perinatal e coordenadora do grupo de trabalho de Psicologia Perinatal da
COP de Madri, poderia ser comparado com a relação que muitas mulheres têm com seu corpo,
condicionada pelos modelos e as expectativas sociais: “Neste contexto e nesta etapa da vida,
pensar a saúde mental leva a uma fratura que não pode ser contida no social, mas tampouco em
nível subjetivo, que se evidencia no sofrimento de cada mãe que vê a si mesma como imperfeita,
não suficientemente boa ou sem a capacidade necessária para exercer sua função materna de
acordo com seus próprios modelos idealizados e, em particular, no que diz respeito a seus
desejos, ansiedades e temores”.
O entorno das mães é mais uma circunstância que não contribui com a prevenção e o
tratamento do problema. De modo geral, a sociedade ainda está pouco acostumada a lidar com
sintomas de tristeza nas mães, quando se espera delas alegria, e demonstra ser incapaz, em
muitas ocasiões, de lhe dar o apoio necessário, sendo sempre mais propensa a minimizar os
problemas e não lhes dar importância. Para a psicóloga perinatal Gabriela González, as
conotações negativas e as atitudes do entorno social e familiar diante do estigma da saúde
mental “constituem uma barreira pouco permeável no que diz respeito a gerar espaços
saudáveis que permitam incorporar essa problemática”. Daí que em muitas ocasiões problemas
como a depressão pós-parto sejam vivenciados pelas mães em uma clandestinidade social e
cultural, marcada pelo “traçado de uma cenografia subjetiva caracterizada pelo segredo, a culpa,
a insegurança, a condenação moral, o medo e a solidão”.
Estima-se que cerca de 70% das mulheres escondem ou minimizam seus sintomas por medo do
estigma social em torno de ser mãe
Para Cristina Castaño, psicóloga perinatal e membro também do grupo de trabalho da COP de
Madri, o fato de as mães não terem a possibilidade de falar sobre o que estão passando e
optarem por ocultar “não faz com que o problema desapareça”. Isso sempre contribui para
enraizá-lo e agravá-lo, sobretudo quando se fala de um verdadeiro problema de saúde mental
que interfere na vida normal da mulher, em sua capacidade para desenvolver o novo papel de
mãe e no estabelecimento do vínculo com seu bebê: “Se o problema está aí, é importante
nomeá-lo para poder intervir quanto antes. Deixar passar o tempo não o fará desaparecer. Pelo
contrário, dará origem a mais dificuldades e tornará mais complexa a intervenção”.