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Categoria: BACHAREL
Autor: AZOR EL ACHKAR (Auditor Fiscal Externo junto ao Tribunal de Contas de Santa
Catarina, Advogado especialista em Direito do Terceiro Setor, Mestrando em Direito pela
Universidade Federal de Santa Catarina – e-mail: azoreu@yahoo.com.br)
1. INTRODUÇÃO
1
cumprimento de suas responsabilidades. Iniciam-se processos de organização espontânea dos
integrantes desta sociedade civil que percebem uma potencialização de suas ações quando há
um coletivo organizado trabalhando por meio de uma pessoa jurídica sem finalidade lucrativa.
2. IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS
2
decorrer única e exclusivamente de regra constitucional, quando esta falar em isenção estará
se referindo à imunidade. Pode ainda ser entendida como forma qualificada de não
incidência2.
2
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 24 ed., rev. atual. amp. Malheiros: São Paulo,
2004. p. 245.
3
Id., ibid,. p. 255.
4
Id., ibid,. p. 258.
3
Havendo regra que estabeleça a imunidade é retirado do legislador
complementar o poder de definir a hipótese de incidência da regra tributária. Cria-se assim,
uma limitação da competência e do poder de tributar, relativizando seu exercício. Opera-se
uma verdadeira restrição imposta pela constituição às entidades dotadas do poder de tributar,
na qual algumas situações ficam fora do alcance da regra jurídica de tributação, excluindo a
incidência do imposto.
A imunidade estabelecida pelo art. 150, inc. VI, letra “c” determina que é
proibido por parte da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios instituir
impostos sobre o patrimônio, renda ou serviços das entidades de assistência social sem fins
lucrativos, atendidos os requisitos da lei. Nesta monta, resta a construção doutrinária e
jurisprudencial determinar efetivamente quem são a entidades beneficentes deste benefício,
qual a extensão em relação aos tributos da regra que proíbe a tributação, bem como quais são
os requisitos a serem atendidos.
5
SILVA, Edgard Neves da. Imunidade e Isenção. In.: MARTINS, Ives Gandra da Silva (coord). Curso de
Direito Tributário. 8 ed. Saraiva: São Paulo, 2001. p. 125.
6
MORAES, Bernardo Ribeiro. Curso de Direito Tributário. RT: São Paulo, 1998. p. 245.
4
A prática da caridade, da filantropia e de assistência social há muito tempo
vem sendo desenvolvida por entidades privadas, surgidas no seio da sociedade e geridas e
administradas com pouquíssima participação do poder público. Desde as antigas santas casas,
passando pelos orfanatos, sanatórios, atualizadas hoje para centros de saúde, asilos e abrigos
de menores, é a sociedade civil organizada que toma frente à missão de amparo aos mais
necessitados.
Cada vez mais estas entidades ocupam os espaços não ocupados devido à
omissão do Estado. Acabam por substituir integralmente a missão do poder público,
assumindo para si, por livre e espontânea vontade, a responsabilidade em levar conforto,
carinho e amor àqueles que precisam de auxilio. Em que pese a idéia de complementaridade
das funções do Estado desenvolvidas por estas entidades, de fato há um afastamento completo
de quem deve constitucionalmente prover a ajuda e um preenchimento deste vazio pelas
entidades privadas que não tem escopo de lucro financeiro, mas sim gerar superávits sociais.
7
OLIVEIRA, Aristeu; ROMÃO, Valdo. Manual do Terceiro Setor e Instituições Religiosas: trabalhista,
previdenciária, contábil e fiscal. São Paulo: Atlas, 2006. p. 28.
5
ser seu objetivo a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência, à velhice, o
amparo às crianças e adolescentes carentes, a promoção na integração ao mercado de trabalho,
entre outros8.
6
Para SZAZI, o terceiro setor carece, no Brasil, de uma legislação
sistematizada e moderna que incentive a participação dos atores sociais na execução e
financiamento de projetos que busquem dar cumprimento aos objetivos fundamentais da
República. Em sua ótica, não se trata de dividir responsabilidades, mas de exercer co-
responsabilidade11.
11
SZAZI, Eduardo. Terceiro Setor: regulação no Brasil. 4 ed. São Paulo: Peirópolis, 2006. p. 23.
12
SZAZI, op. cit. p., 48.
7
Os requisitos exigidos para usufruto da regra imunizante são os dispostos no
art. 14 do Código Tributário Nacional13. Estes requisitos são de atendimento continuado e
caso não sejam observados, a autoridade competente pode suspender a aplicação do benefício
da não tributação.
A Lei n° 9532/97, no seu artigo 12, exigir outros requisitos das entidades de
assistência social para usufruto do benefício da imunidade14. Uma primeira questão debatida
pela doutrina em relação a esta norma é sua natureza jurídica de lei ordinária. Uma vez que a
legislação que trata de matéria tributária deve ser obrigatoriamente regulada por lei
complementar, todas as suas disposições são per si inconstitucionais. Inclusive o STF15
13
CTN, Art. 14. O disposto na alínea c do inciso IV do artigo 9º é subordinado à observância dos seguintes
requisitos pelas entidades nele referidas: I – não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas
rendas, a qualquer título; II - aplicarem integralmente, no País, os seus recursos na manutenção dos seus
objetivos institucionais; III - manterem escrituração de suas receitas e despesas em livros revestidos de
formalidades capazes de assegurar sua exatidão. § 1º Na falta de cumprimento do disposto neste artigo, ou no §
1º do artigo 9º, a autoridade competente pode suspender a aplicação do benefício. § 2º Os serviços a que se
refere a alínea c do inciso IV do artigo 9º são exclusivamente, os diretamente relacionados com os objetivos
institucionais das entidades de que trata este artigo, previstos nos respectivos estatutos ou atos constitutivos.
14
Lei n° 9532/97, Art. 12. Para efeito do disposto no art. 150, inciso VI, alínea "c", da Constituição, considera-se
imune a instituição de educação ou de assistência social que preste os serviços para os quais houver sido
instituída e os coloque à disposição da população em geral, em caráter complementar às atividades do Estado,
sem fins lucrativos. § 1º Não estão abrangidos pela imunidade os rendimentos e ganhos de capital auferidos em
aplicações financeiras de renda fixa ou de renda variável. § 2º Para o gozo da imunidade, as instituições a que se
refere este artigo, estão obrigadas a atender aos seguintes requisitos: a) não remunerar, por qualquer forma, seus
dirigentes pelos serviços prestados; b) aplicar integralmente seus recursos na manutenção e desenvolvimento dos
seus objetivos sociais; c) manter escrituração completa de suas receitas e despesas em livros revestidos das
formalidades que assegurem a respectiva exatidão; d) conservar em boa ordem, pelo prazo de cinco anos,
contado da data da emissão, os documentos que comprovem a origem de suas receitas e a efetivação de suas
despesas, bem assim a realização de quaisquer outros atos ou operações que venham a modificar sua situação
patrimonial; e) apresentar, anualmente, Declaração de Rendimentos, em conformidade com o disposto em ato da
Secretaria da Receita Federal; f) recolher os tributos retidos sobre os rendimentos por elas pagos ou creditados e
a contribuição para a seguridade social relativa aos empregados, bem assim cumprir as obrigações acessórias daí
decorrentes; g) assegurar a destinação de seu patrimônio a outra instituição que atenda às condições para gozo da
imunidade, no caso de incorporação, fusão, cisão ou de encerramento de suas atividades, ou a órgão público; h)
outros requisitos, estabelecidos em lei específica, relacionados com o funcionamento das entidades a que se
refere este artigo. § 3° Considera-se entidade sem fins lucrativos a que não apresente superávit em suas contas
ou, caso o apresente em determinado exercício, destine referido resultado, integralmente, à manutenção e ao
desenvolvimento dos seus objetivos sociais.
15
IMUNIDADE. LEI 9.532. INCONSTITUCIONALIDADE. Constitucional. Tributário. Imunidade do art. 150,
VI, c, CF. Lei 9.532. Art. 12, § 1°. Inconstitucionalidade. Precedente. STF. Agravo a que se nega provimento. I –
Reveste-se de inconstitucionalidade o § 1° do art. 12 da lei 9.532/97 na medida em que restringe a abrangência
do preceito imunizatório constante do art. 150, VI, c, da Carta Política. II – Precedentes. STF. ADINnMC 1.802
– DF, Rel. Min. Sepúlveda Pertence. III – Agravo Improvido. (Brasil. TRF 3° Região AgI 62.685 – SP – 6° T –
8
entendeu haver inconstitucionalidade formal e material, pois é uma lei ordinária regulando
matéria de competência de lei complementar16.
9
continuar exigindo estes requisitos para a concessão da imunidade, não parece sensato
permanecer vigorando o art. 12 da Lei n° 9532/97.
4.2 Tributos
19
MELO, op. cit., p. 220.
20
YOUNG, Lúcia Helena Briski. Entidades sem fins lucrativos: Imunidade e isenção tributária. Resumo
prático. 3 ed. Curitiba: Juruá, 2005. p. 66.
21
MARTINS, Ives Gandra da Silva. Imunidade tributária das fundações de apoio às instituições de ensino
superior – Inconstitucionalidade de disposições da Lei 9.532/97 – Requisitos exclusivos para gozo da imunidade
do artigo 14 do Código Tributário Nacional. In: Revista Dialética de Direito Tributário. n 37. São Paulo:
Dialética, out. 1998. p. 100.
22
MACHADO, op. cit., p. 246.
23
MELO, op. cit., p. 225.
10
Já para COELHO, a imunidade abrange somente impostos e não os demais
tributos. A regra não atua sobre taxas e contribuições de melhoria nem sobre as contribuições
parafiscais, especiais ou sociais. Entretanto, a regra veda a incidência de qualquer imposto
sobre o patrimônio, a renda e os serviços, visto a imunidade ter um significado amplo,
abrangente e expansivo24.
11
os serviços da entidade, de modo que a interpretação não se deve pautar na classificação
infraconstitucional dos impostos, mas na proteção dos valores que pretende a imunidade
tributária preservar27.
27
MÂNICA, Fernando Borges. Terceiro setor e imunidade tributária: teoria e prática. Belo Horizonte: Fórum,
2005. p. 257.
28
Id., ibid., p. 258.
12
A grande questão e que ainda resta irresolúvel é a extensão da imunidade
também aos impostos que indiretamente incidem sobre patrimônio, renda e serviços. Com
relação a estes, é condizente a construção de uma tese justificadora para aceitação da
abrangência da imunidade a estes impostos.
13
Num segundo momento, a interpretação ampliativa deve considerar que não
apenas os impostos diretos incidentes sobre patrimônio, renda e serviços oneram suas
atividades, mas também os impostos indiretos que os atingem. Isto porque todo o patrimônio
existente, renda auferida e serviços prestados estão sempre diretamente relacionados com o
desempenho de suas atividades, sejam elas o fim ou o meio. Imunidade, como limitação ao
poder de tributar, visa precipuamente dar condições as entidades desenvolverem suas
atividades, que são de responsabilidade do Estado, de modo mais fácil e menos oneroso.
Desta forma, parece incoerente exigir das entidades de assistência social o pagamento de
qualquer imposto.
30
Supremo Tribunal Federal. Agravo Regimental no Agravo de Instrumento n° 389.118-SP. Relator: Ministro
Carlos Velloso. 24.09.2002. DJ 08 nov 2002.
14
De notar que a linha interpretativa adotada pelo STF vem sendo alterada
gradualmente. A decisão colacionada acima foi tomada em plenário, podendo se afirmar ser
uma tendência que o tribunal supremo passe a entender pela abrangência da imunidade
tributária também em relação aos impostos, nos quais a entidade imune aparece como
contribuinte de fato e não como contribuinte de direito.
5. FINALMENTES
31
SOUZA, Leandro Marins de. Tributação do terceiro setor no Brasil. São Paulo: Dialética, 2004. p. 215.
32
BIASIOLI, Marcos. Recuperação de Tributos. In: www.revistafilantropia.com.br/revista/. Acesso 10 jan. 07.
15
Num primeiro esforço a entidade imune deve atualizar monetariamente seu
crédito estando assim apta a postular a restituição. A compensação, instituto de direito civil,
pode ser operada havendo créditos tributários da mesma família e que a entidade esteja
compelida a pagar. Ao invés de pagar, a entidade compensa com os créditos que tem. Neste
caso não é necessário instaurar processo de cunho administrativo ou judicial, podendo fazer
de forma unilateral, nos termos do art. 156, II do CTN. O que pode impedir esta operação é a
inexistência de tributos a pagar, justamente pela questão da imunidade.
Por conta disso, a última e dolorosa opção fica com a via judicial. O
processo é manejado por meio de ação condenatória denominada Repetição de Indébito e seu
objetivo é a devolução compulsória do tributo pago indevidamente.
- O poder público tem competência exclusiva para exercício do poder arrecadatório, nos
termos da Constituição Federal em vigor, com objetivo de custeio da máquina pública;
16
- A sociedade, consciente desta realidade, passa a se organizar e suprir as deficiências do
poder público, passando a assumir quase que integralmente o oferecimento de serviços e
ações em assistência social;
17
REFERÊNCIAS
COELHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 7 ed. rev., atual.
Forense: Rio de Janeiro, 2004.
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 24 ed., rev. atual. amp.
Malheiros: São Paulo, 2004.
MÂNICA, Fernando Borges. Terceiro setor e imunidade tributária: teoria e prática. Belo
Horizonte: Fórum, 2005.
MARTINS, Ives Gandra da Silva. Imunidade tributária das fundações de apoio às instituições
de ensino superior – Inconstitucionalidade de disposições da Lei 9.532/97 – Requisitos
exclusivos para gozo da imunidade do artigo 14 do Código Tributário Nacional. In:
Revista Dialética de Direito Tributário. n 37. São Paulo: Dialética, out. 1998.
MELO, Jose Eduardo Soares de. Curso de Direito Tributário. 6 ed. rev., atual. Dialética:
São Paulo, 2005.
MORAES, Bernardo Ribeiro. Curso de Direito Tributário. RT: São Paulo, 1998.
SILVA, Edgard Neves da. Imunidade e Isenção. In.: MARTINS, Ives Gandra da Silva
(coord). Curso de Direito Tributário. 8 ed. Saraiva: São Paulo, 2001.
SOUZA, Leandro Marins de. Tributação do terceiro setor no Brasil. São Paulo: Dialética,
2004.
SZAZI, Eduardo. Terceiro Setor: regulação no Brasil. 4 ed. São Paulo: Peirópolis, 2006.
YOUNG, Lúcia Helena Briski. Entidades sem fins lucrativos: Imunidade e isenção
tributária. Resumo prático. 3 ed. Curitiba: Juruá, 2005.
18