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INTRODUÇÃO
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Hume (1791) denunciou as falhas no raciocínio determinista,
mostrando como as relações causa- efeito que estabelecemos correspondem
a uma mera sucessão temporal de fenômenos e são fruto de um hábito
psicológico que confundimos com uma relação causal. Essa relação provém
inteiramente da experiência, quando descobrimos que certos objetos
particulares acham-se constantemente conjugados uns aos outros. Assim,
nenhum objeto revela jamais, pelas qualidades que aparecem aos sentidos,
nem as causas que o produziram, nem os efeitos que dele provirão.
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A teoria traumática das neuroses de Freud é exemplo de raciocínio causal e o
início da psicanálise é marcado, através do determinismo psíquico, por uma
causalidade forte. Vários desenvolvimentos foram feitos a respeito da noção
de trauma desde então, inclusive por Freud, mas não é nosso objetivo focar
esta trajetória.
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desenvolvem tão bem, ou melhor, do que outros em quem não localizamos
nenhum evento deste porte? Talvez a variabilidade das condições individuais
tenha algo a nos dizer a este respeito. E o traumático nas perdas, consistiria
nas perdas em si ou “no entorno” destas perdas? Considerando o caso da
morte da mãe de uma criança pequena, por exemplo, o fato traumático
corresponderia à perda precoce da mãe ou às condições mentais do adulto
que ocupará seu lugar no cuidado da criança? Estas são algumas questões
que relativizam a consideração de perda em si como trauma.
Teríamos, portanto, que considerar a diferenciação entre significativo
e traumático. Com qual destes sentidos, de fato, lidamos? Como a
psicanálise pode, efetivamente, acessar ao traumático da vida mental do
paciente? Através da consideração apriorística do fato traumático ou através
do que foi ou é emocionalmente significativo e que só pode ser percebido
através da transferência/contratransferência? A história da psicanálise
evoluiu de modo a englobar, progressiva e irreversivelmente, os afetos,
significados e representações ao seu corpo teórico e clínico, alijando a
factualidade de sua condição central. Causalidade e determinismo tendem a
ser considerados dentro do contexto que privilegia o significado ao invés do
fato.
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outro, dando a impressão de que poderíamos estar diante de uma adição
simples cujo resultado poderia ser determinado com precisão.
N=C+I+A.
SPi= Ci+Ii+Ai
onde “SP” é o sistema psíquico, aberto aos estímulos vividos pelo sujeito e o
“i” representa essa porção de imaginário, de inconsciente, que complexifica
o entendimento do enunciado e abre o espaço para admitir a possibilidade da
incompletude do saber. Além disso, o resultado desta complexa equação
seria o surgimento de propriedades emergentes, com características que vão
muito adiante do somatório de cada elemento constituinte.
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Seria também importante que pudéssemos avaliar como a psicanálise
tem pensado a causalidade psíquica, desvinculada da noção de trauma.
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selecionado, um fato unificador, esperando-se que o analista esteja
capacitado a selecionar o fato digno de atenção, usando, para isto, sua
intuição da experiência emocional. Este momento de união origina um
sentimento de se ter encontrado uma causa. Este é um processo ideacional,
simbólico, que depende da seleção do observador e o observador psicanalista
deve poder fazer uma determinada seleção diferente de um amigo, ou de um
religioso, por exemplo, baseando-se em sua capacidade de perceber
intuitivamente a experiência emocional da sessão. No entanto, isto não o
autoriza a supor que exista uma relação causal entre os elementos em si, mas
sim que só podemos conhecê-los através do estabelecimento de relações
entre eles. Para Poincaré (1995), “uma sensação é bela não porque possui
determinada qualidade, mas porque ocupa determinado lugar na trama de
nossas associações de idéias”. (p.166)
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se auto-organizar a partir da desordem, sem interferência externa, e
necessariamente de uma maneira nova, nunca retornando ao estado anterior.
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sentido de tudo que chegou ao presente sem a possibilidade de acompanhar
o desenvolvimento do indivíduo, o que não quer dizer sem nenhuma
modificação.
É importante salientar ainda que, nesta visão da mente como um
sistema complexo, longe do equilíbrio, a idéia implícita no conceito de
aprés-coup, de que poderíamos reconstituir os elementos passados que
deram origem à condição atual do paciente, não se sustenta. A linha
irreversível do tempo, não é linear, há inúmeros momentos de bifurcação
que não podem ser reconstituídos retrospectivamente.
Precisamos, no entanto, ter presente que o paciente chega com uma
visão determinista acerca dos motivos de seus problemas, e sua estrutura
defensiva luta contra a irreversibilidade, fixando modelos e padrões,
evitando a percepção e o reconhecimento da passagem do tempo e das
modificações. Nosso trabalho procura de alguma forma, recuperar a
possibilidade de que o curso das transformações criativas possa ser
retomado.
PARA TERMINAR
A linha que procuramos seguir, neste trabalho, parte do pressuposto de
que é importante o processo de revisão dos conceitos da teoria psicanalítica,
inserido na rede de discussões e controvérsias do pensamento científico
atual. Este processo é necessário não apenas formalmente, mas por atender à
complexidade da clínica. Assim, procuramos rever alguns desses conceitos
interrelacionados: trauma, causalidade e tempo. Reconhecemos ter podido
apenas tangenciar estas relações, sempre tendo presente uma visão da mente
como um sistema complexo.
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trabalho, e que se afaste da crença de que corresponda a uma relação causal
determinista. A diferença nesta perspectiva define desde que posição o
analista vai formular sua interpretação: se como quem anuncia uma verdade
ou como quem estabelece conexões dentro de um sistema que consideramos
complexo, formado por uma teia infinita de relações. Nesta perspectiva,
procuramos questionar a importância do conceito de trauma para o corpo
teórico atual da psicanálise, principalmente por sua conotação determinista
implícita. A questão da temporalidade, ligada ao trauma e à própria ação
terapêutica da psicanálise, foi abordada apenas na revisão do conceito de
aprés-coup, dentro da visão do tempo irreversível, característico dos
sistemas complexos, fora do equilíbrio, forma como pensamos o
funcionamento psíquico. O psicanalista, a nosso ver, há que se contentar
com a tentativa de apreensão e compreensão da experiência psíquica
presente, a da sessão, buscando, ao fazer parte deste momento presente,
participar dos infinitos elementos que constituem os também infinitos
eventos psíquicos do paciente e, quem sabe, influenciar o imprevisível
futuro do psiquismo alheio.
Referências bibliográficas
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ABSTRACT
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momento de união entre elementos antes dispersos. Este movimento
origina um sentimento de ter se encontrado uma causa mas, na linha
de Kant, isto não significa que exista uma relação causal entre objetos
em si mesmo, mas sim, que são sentidos e pensados como
relacionados. Assim pode-se pensar que o analista observa uma
massa de elementos dispersos procurando o fato selecionado, que
introduz ordem dentro dessa complexidade, esperando-se que o
analista esteja capacitado a selecionar o fato digno de atenção, usando
para isto, sua intuição da experiência emocional. Este momento de
união origina um sentimento de ter se encontrado uma causa. Este é
um processo ideacional, simbólico, que depende da seleção do
observador e o observador psicanalista deve poder fazer uma seleção
diferente de um amigo, ou de um religioso, baseando-se na
experiência emocional da sessão. No entanto, isto não o autoriza a
supor que exista uma relação causal entre os elementos em si, mas
sim, que só podemos conhecê-los através do estabelecimento de
relações entre eles.
RESUMO
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Partindo do estudo e discussões do grupo de Epistemologia da SPPA,
o trabalho propõe-se a correlacionar as noções de determinismo
psíquico com a concepção de trauma e temporalidade, a partir de uma
perspectiva da mente como um sistema complexo. Parte de breves
considerações sobre o conceito de determinismo psíquico, procurando
expandir a discussão sobre a noção de causalidade. Busca, a seguir,
situar o trauma no corpo da psicanálise atual. Esta, ao privilegiar a
experiência emocional, em detrimento de eventos factuais, leva à
necessidade de repensar-se a utilidade e o conceito de trauma. Da
mesma forma, à luz dos desenvolvimentos atuais, a equação etiológica
freudiana é revisitada, propondo que se inclua um fator “i” (a partir de
imaginativo), correspondendo a um elemento de complexidade. A
questão da temporalidade, ligada ao trauma e à própria ação
terapêutica da psicanálise é abordada dentro da visão de tempo
irreversível, característico dos sistemas complexos, fora do equilíbrio,
forma como pensamos o funcionamento psíquico.
ABSTRACT
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highlighting Kant’s ideas of the ways of the human mind to know about
something, and with the contributions of Bion that uses the concept of
fact selected from Poincaré to indicate the moment of union between
elements previously dispersed. This movement initiates a feeling of
having found a cause, however, according to Kant, this does not mean
that a causal relation exists between objects themselves, but they are
felt and thought of as related. Thus it can be thought that the analyst
observes a mass of dispersed elements looking for the selected fact,
hoping that the analyst is able to select the proper fact of attention,
using his intuition of emotional experience. This moment of union
initiates a feeling of having found a cause. This is a rational symbolic
process that depends on the selection of the observer, and the
psychoanalyst observer must make a different selection from that of a
friend or of a religious person, based on the emotional experience of the
session. However, this does not authorize him to suppose that there is
a causal relation between the elements themselves, but that we can
only recognize them by establishing relations among them.
SUMMARY
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trauma and temporality, from a perspective of the mind as a complex
system. The work begins with brief considerations of the concept of
psychic determinism and aims to expand the discussion on causality.
The work then aims to situate trauma in the body of contemporary
psychoanalysis. This, to privilege the emotional experience to the
detriment of factual events, brings the need to rethink the usefulness
and the concept of trauma. In the same way, in the light of recent
developments, the Freudian etiologic equation is revisited, proposing
that an “i” factor be included (from imaginative), corresponding to an
element of complexity. The question of temporality, connected with
trauma and the therapeutic actions of psychoanalysis, is approached
within a vision of irreversible time, characteristic of complex systems,
out of balance, the way that we think the psychic functioning.
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