Você está na página 1de 19

Patrística, Escolástica,

Racionalismo e Empirismo

21/02/14 Prof. Jorge Freire Póvoas 1


Patrística e Escolástica
 Com a queda do Império Romano (séc. V), a religião surge lentamente
como elemento agregador dos inúmeros reinos bárbaros formados após
sucessivas invasões e seus chefes são pouco a pouco convertidos ao
cristianismo.
 A Igreja se transforma em soberana absoluta da vida espiritual do
mundo ocidental onde os monges são os únicos letrados em um mundo
onde nem os servos nem os nobres sabem ler.
 Uma constante se faz notar no pano de fundo desse pensamento,
(período medieval sécs. V a XV) era tentativa de conciliar a razão e a fé. A
temática religiosa predomina na preocupação apologética, isto é, na
defesa da fé cristã e no trabalho de conversão dos não-cristãos.
 A máxima predominante é “crer para compreender e compreender para
crer". A Filosofia é serva da Teologia.
 A Idade Média se divide em duas tendências fundamentais: a Patrística
e a Escolástica.

21/02/14 Jorge Freire Póvoas 2


Patrística
 A Patrística inicia-se ainda no período decadente do Império Romano,
no século III. Essa filosofia auxilia a exposição racional da doutrina
religiosa e se acha contida nos trabalhos dos chamados Padres da Igreja.

 Suas principais preocupações são as relações entre Fé e Ciência, a


natureza de Deus, a alma e a vida moral.

 A retomada da Filosofia platônica, baseada na predileção pelo supra-


sensível, contribui para a fundamentação da necessidade de uma Ética
rigorosa, da abdicação do mundo, do controle racional das paixões.

 Seu principal representante é Santo Agostinho (354-430), bispo de


Hipona.

 Seguindo a tradição platônica, que via sempre o perfeito por trás de todo
imperfeito e a verdade absoluta por trás de todas as verdades
particulares, também Santo Agostinho pensa numa iluminação pela qual a
verdade é infundida no espírito humano por Deus.

21/02/14 Jorge Freire Póvoas 3


Patrística
 No esforço de converter os pagãos, combater as heresias e justificar a
fé, a Patrística desenvolve a apologética, elaborando textos de defesa do
cristianismo.
 Começa aí uma longa aliança entre fé e razão que se estende por toda a
Idade Média e em que a razão é considerada auxiliar da fé e a ela
subordinada. Daí a expressão agostiniana "Creio para que possa
entender".
 Os Padres recorrem inicialmente à Filosofia platônica e realizam uma
grande síntese com a doutrina cristã, mediante adaptações consideradas
necessárias.
 Agostinho retoma a dicotomia platônica referente ao mundo sensível e
ao mundo das idéias e substitui esse último pelas idéias divinas.
 Segundo a teoria da iluminação, o homem recebe de Deus o
conhecimento das verdades eternas. Tal como o sol, Deus ilumina a razão
e torna possível o pensar correto.

21/02/14 Jorge Freire Póvoas 4


Patrística
 Ao contrário das concepções da Antiguidade, em que a função do
Estado é assegurar a vida boa, para a Patrística predomina a concepção
negativa do Estado. Isto porque o homem teria uma natureza sujeita ao
pecado e ao descontrole das paixões, o que exige vigilância constante,
cabendo ao Estado intimidar os homens para que ajam corretamente.
 Daí podermos observar a estreita ligação entre política e moral, com a
exigência de se formar o governante justo, não-tirânico, que por sua vez
consiga obrigar, muitas vezes pelo medo, à obediência aos princípios da
moral cristã. Assim configuram-se duas instâncias de poder: a do Estado e
a da Igreja.
 O Estado é de natureza secular, temporal, voltado para as necessidades
mundanas e caracteriza-se pelo exercício da força física.
 Já a Igreja é de natureza espiritual, voltada para os interesses da
salvação da alma e deve encaminhar o rebanho para a verdadeira religião
por meio da força da educação e da persuasão.

21/02/14 Jorge Freire Póvoas 5


Patrística
 Na obra A cidade de Deus, Santo Agostinho, trata do discutido tema das
duas cidades, a "cidade de Deus" e a "cidade terrestre", que não devem
ser entendidas simplesmente como referência ao reino de Deus que se
sucede à vida terrena, mas à coexistência dos dois planos de existência
na vida de cada um.
 Todos têm uma dimensão terrena que se refere à sua história natural, à
moral, às necessidades materiais e que diz respeito a tudo que é perecível
e temporal.
 A outra dimensão é a celeste, que corresponde à comunidade dos
cristãos, inspirada no amor a Deus e que vive da fé.
 Para Santo Agostinho, a relação entre as duas dimensões é de ligação e
não de oposição, mas a repercussão do seu pensamento, à revelia do
autor, desemboca na doutrina chamada agostinismo político, que marca
toda a Idade Média e significa o confronto entre o poder do Estado e o da
Igreja, considerando a superioridade do poder espiritual sobre o temporal.

21/02/14 Jorge Freire Póvoas 6


Escolástica
 É a partir do século XIII, que Santo Tomás utiliza as traduções feitas
diretamente do grego e faz a síntese mais fecunda da Escolástica, e que
será conhecida como filosofia aristotélico-tomista.
 Mais que isso, fez as devidas adaptações à visão cristã e escreveu uma
obra monumental, a Suma teológica, onde, uma vez mais, as questões de
fé são abordadas pela "luz da razão" e a Filosofia é o instrumento que
auxilia o trabalho da teologia.
 É com um Aristóteles cristianizado que surge então a Filosofia
aristotélico-tomista onde continua a aliança entre razão e fé, onde a razão
é sempre considerada a “serva da teologia”.
 Com freqüência as disputas terminam com o apelo ao princípio da
autoridade, que consiste na recomendação de humildade para se
consultar os intérpretes autorizados pela Igreja.
 Se durante muito tempo predomina na Idade Média a influência da
Filosofia de Platão, considerada mais adaptável aos ideais cristãos, com
Santo Tomás o pensamento de Aristóteles passa a predominar.

21/02/14 Jorge Freire Póvoas 7


Escolástica
 Daí para frente a influência de Aristóteles se fará sentir de
maneira forte, sobretudo pela ação dos padres jesuítas, que por
vários séculos, mostraram-se empenhados na formação dos
jovens.
 Santo Tomás muda o enfoque dos temas políticos e, sob a
influência dos textos de Aristóteles, preocupa-se com questões tais
como a natureza do poder e das leis e a questão clássica do
melhor governo.
 Como Aristóteles, Santo Tomás considera que o homem só
encontra sua realização na cidade, e o plano político é a instância
possível em que o governo não-tirânico pode aliar ordem e justiça
na busca do bem comum.
 O poder político, mesmo que seja de origem divina, circunscreve-
se na ordem das necessidades naturais do homem enquanto ser
social que necessita alcançar seus fins terrenos.

21/02/14 Jorge Freire Póvoas 8


Escolástica
 No entanto, coerente também com sua visão religiosa do mundo,
Santo Tomás conclui que o Estado conduz o homem até um certo
ponto, quando então se exige o concurso do poder da Igreja.

 Instância, sem dúvida superior, que cuidará da dimensão


sobrenatural do destino humano.

 Também preocupado com a questão da tirania, Santo Tomás


considera que a paz social resulta da unidade do Estado, sendo
importante a virtude do governante.

 Se por um momento a recuperação do aristotelismo constitui um


recurso fecundo para Santo Tomás, já no período final da
Escolástica torna-se um entrave para o desenvolvimento da
Ciência.
21/02/14 Jorge Freire Póvoas 9
Racionalismo e Empirismo
 O século XVII representa, na história do homem, a culminação de
um processo em que se subverteu a imagem que ele tinha de si
próprio e do mundo.
 A emergência da nova classe dos burgueses determina a
produção de uma nova realidade cultural, é a Ciência que se
exprime matematicamente.
 A atividade filosófica, a partir dai, reinicia um novo trajeto, ela se
desdobra como uma reflexão cujo pano de fundo é a existência
dessa Ciência.
 A procura da maneira de evitar o erro faz surgir a principal
característica do pensamento moderno, a questão do método.
 Essa preocupação centraliza as reflexões não apenas no
conhecimento do ser (Metafísica), mas sobretudo no problema da
Teoria do Conhecimento.

21/02/14 Jorge Freire Póvoas 10


Racionalismo e Empirismo
 Podemos dizer que até então a Filosofia tem uma atitude de não
colocar em questão a existência do objeto, a realidade do mundo.
 A Idade Moderna inverte o pólo de atenção, centralizando no
sujeito a questão do conhecimento.
 Se o pensamento que o sujeito tem do objeto concorda com o
objeto, dá-se o conhecimento. Mas qual é o critério para se ter
certeza de que o pensamento concorda com o objeto?
 Isto é um dos problemas que a Teoria do Conhecimento terá que
propor e solucionar. Como saber quais são os critérios, as
maneiras, os métodos de que se pode valer o homem para ver se
um conhecimento é ou não verdadeiro?
 As soluções apresentadas a essas questões vão originar duas
correntes: o Racionalismo e o Empirismo.

21/02/14 Jorge Freire Póvoas 11


O Racionalismo Cartesiano
 René Descartes (1596-1650), é considerado o "pai da Filosofia
moderna". Dentre suas obras, o “Discurso do Método” e
“Meditações Metafísicas” expressam a tendência de preocupação
com o problema do conhecimento.
 O ponto de partida é a busca de uma verdade primeira que não
possa ser posta em dúvida. Por isso, converte a dúvida em método.
 Começa duvidando de tudo, das afirmações do senso comum,
dos argumentos da autoridade, do testemunho dos sentidos, das
informações da consciência, das verdades deduzidas pelo
raciocínio, da realidade do mundo exterior e da realidade de seu
próprio corpo.
 Descartes só interrompe essa cadeia de dúvidas diante do seu
próprio ser que duvida. Se duvido, penso; se penso, existo: "Cogito,
ergo sum", "Penso, logo existo". Eis aí o fundamento, o ponto de
partida para a construção de todo o seu pensamento.

21/02/14 Jorge Freire Póvoas 12


O Racionalismo Cartesiano
 Penso, logo existo, a famosa fórmula do Discurso do Método
resume a primeira certeza inquestionável, que ressalta em meio a
tantas dúvidas. Tal certeza, nessa medida, deve servir de modelo e
de critério para outras certezas que possam eventualmente ser
alcançadas.

 O “penso, logo existo” é uma idéia clara e distinta: clara, pois nela
não há nenhuma sombra que a obscureça e distinta, porque não se
confunde com nenhuma outra idéia.

 A partir dessa intuição primeira que é a existência do ser que


pensa, que é indubitável, Descartes distingue os diversos tipos de
idéias, percebendo que algumas são duvidosas e confusas e outras
são claras e distintas.

21/02/14 Jorge Freire Póvoas 13


O Racionalismo Cartesiano
 As idéias claras e distintas são idéias que já se encontram no
espírito, como instrumentos de fundamentação para a apreensão
de outras verdades.
 São as idéias inatas, que não estão sujeitas a erro pois vêm da
razão, independentes das idéias que "vêm de fora", formadas pela
ação dos sentidos.
 São inatas, não no sentido de o homem já nascer com elas, mas
como resultantes exclusivas da capacidade de pensar. Nessa
classe estão a idéia da substância infinita de Deus e a idéia da
substância finita.
 Descartes lança mão, entre outras provas, da famosa prova
ontológica da existência de Deus. O pensamento deste ser Deus é
a idéia de um ser perfeito, se um ser é perfeito, deve ter a perfeição
da existência, senão lhe faltaria algo para ser perfeito. Portanto, ele
existe.

21/02/14 Jorge Freire Póvoas 14


O Racionalismo Cartesiano
 Se Deus existe e é infinitamente perfeito, não há engano. A
existência de Deus é garantia de que os objetos pensados por
idéias claras e distintas são reais. Portanto, o mundo tem realidade
e dentre as coisas do mundo, o meu próprio corpo existe.
 Podemos perceber, nessa visão, uma tendência forte e absoluta
de valorização da razão, do entendimento, do intelecto. Estabelece-
se o caráter originário do cogito como auto-evidência do sujeito
pensante e princípio de todas as evidências.
 Acentua-se o caráter absoluto e universal da racionalidade que,
partindo do cogito, só com suas próprias forças pode chegar a
descobrir todas as verdades possíveis.
 Daí a importância de um método de pensamento que garanta que
as imagens mentais, ou representações da razão, correspondam
aos objetos a que se referem e que são exteriores a essa mesma
razão.

21/02/14 Jorge Freire Póvoas 15


O Empirismo Inglês
 A palavra empirismo vem do grego empeiria, que significa
“experiência”.

 O empirismo, ao contrário do racionalismo enfatiza o papel da


experiência sensível no processo do conhecimento.

 A reflexão de John Locke (1632-1704) a respeito da Teoria do


Conhecimento parte da leitura da obra de Descartes e consiste em
saber "qual é a essência, qual a origem, qual o alcance do
conhecimento humano.

 Entretanto, na obra “Ensaio sobre o Entendimento Humano”,


Locke deixa o caminho “lógico” percorrido por Descartes e escolhe
o "psicológico".

21/02/14 Jorge Freire Póvoas 16


O Empirismo Inglês
 Ao escolher o caminho da psicologia, Locke distingue duas fontes
possíveis para nossas idéias: a Sensação e a Reflexão.

 A Sensação é o resultado da modificação feita na mente através


dos sentidos.

 A Reflexão é a percepção que a alma tem daquilo que nela


ocorre. Portanto, a Reflexão se reduz apenas à experiência interna
do resultado da experiência externa produzida pela Sensação.

 Se estabelecermos uma comparação com o processo cartesiano


de conhecimento, podemos dizer que, enquanto Descartes enfatiza
o papel do sujeito, Locke enfatiza o papel do objeto.

21/02/14 Jorge Freire Póvoas 17


O Empirismo Inglês
 O que ocasiona a produção de uma idéia simples na mente é a
“qualidade” do objeto.
 Há Qualidades Primárias, como a solidez, a extensão, a
configuração, o movimento, o repouso e o número.
 E Qualidades Secundárias (cor, som, odor, sabor etc.), que
provocam no sujeito determinadas percepções sensíveis.
 Enquanto as Primárias são objetivas, pois realmente existem nas
coisas, as Secundárias variam de sujeito para sujeito e, como tais,
são relativas e subjetivas.
 Locke critica as idéias inatas de Descartes afirmando que a alma
é como uma tabula rasa (uma tábua onde não há inscrições), como
uma cera onde não houvesse qualquer impressão, e o
conhecimento só começa após a experiência sensível.

21/02/14 Jorge Freire Póvoas 18


O Empirismo Inglês
 Vimos que, no século XVII, a partir dos problemas gnosiológicos
(relativos ao conhecimento), surgem duas correntes opostas: o
Racionalismo e o Empirismo.

 Exagerando, poderíamos dizer que o Racionalismo é o sistema que


consiste em limitar o homem ao âmbito da própria razão, e o Empirismo é
o que o limita ao âmbito da experiência sensível. Isso não quer dizer que o
Racionalismo exclua a experiência sensível, mas esta é apenas a ocasião
do conhecimento e está sujeita a enganos. A verdadeira ciência se perfaz
no espírito.

 Para o Empirismo, ao contrário, a experiência é fundamental, e o


trabalho posterior da razão está a ela subordinado. Como conseqüência,
os Racionalistas confiam na capacidade do homem de atingir verdades
universais, eternas, enquanto os Empiristas terminam por questionar o
caráter absoluto da verdade, já que o conhecimento parte de uma
realidade em transformação constante, sendo tudo relativo ao espaço, ao
tempo, ao humano.

21/02/14 Jorge Freire Póvoas 19

Você também pode gostar