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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

ÓRGÃO ESPECIAL

ACAO RESCISORIA nº 0051790-38.2011.8.19.0000


AUTOR: ALTINEA CRISTANE GARCIA
REU: COMPANHIA AMERICA FABRIL - EM LIQUIDACAO
Relator: DES. CELSO FERREIRA FILHO
Revisor: DES. CLAUDIO DE MELLO TAVARES

DECLARAÇÃO DE VOTO VENCIDO

Debate-se nesta ação rescisória, sobre acórdão que reformando

parcialmente a sentença para excluir a cobrança de aluguéis, manteve a

decretação do despejo.

A autora sustenta haver a incompetência do Juízo, violação ao

dispositivo legal e existência de prova falsa.

A matéria aqui tratada envolve litígio referente à posse de casas

ocupadas pelos ex empregados da fábrica de Tecidos Carioca, no Jardim

Botânico.

Com a desativação da fábrica, as famílias ficaram desamparadas,

sem ter para onde ir e a União editou a Lei 4.106/62, declarando de

utilidade pública a Chácara do Algodão para fins de desapropriação,

efetivada pelo Decreto nº 53.977/64, em favor dos moradores.

Em 1980 o Supremo Tribunal Federal declarou a

inconstitucionalidade da Lei nº 4106/62, pela inexistência de interesse social

a justificar a desapropriação, continuando os possuidores a morar na

Chácara do Algodão.

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AR 0051790-38.2011.8.19.0000lct

Assinado em 24/07/2013 16:03:11


NAGIB SLAIBI FILHO:000006268 Local: GAB. DES NAGIB SLAIBI FILHO
Em 1987, o prefeito Saturnino Braga assinou decreto

determinando o tombamento provisório da via operária vizinha ao Jardim

Botânico, beneficiando cerca de 3 mil moradores.

A Fábrica iniciou grande pressão para que os moradores

desocupassem as casas e ingressou com ações de despejo em 2002 contra

os moradores, sem possuir contrato de locação, havendo no acórdão

impugnado o reconhecimento da locação, mas a suspensão da cobrança de

alugueres por não serem devidos.

Numa dessas ações é que restou despejada a autora desta ação

rescisória.

É o relatório.

Acompanho o voto da maioria que, rejeitou as preliminares.

Deve ser conhecido o mérito desta ação rescisória, constando na

petição inicial, fls. 35, item 4.2:

Se assim não entenderem Vossas Excelentes, o que se

admite apenas por amor ao debate seja reconhecido que a R.

decisão que transitou em julgado levou em consideração prova

falsa em seus fundamentos e, consequentemente seja prolatada

nova decisão, dessa vez sem que se leve em conta o mencionado

documentos.

No entanto, quanto ao mérito, ousei divergir da douta maioria

pelos seguintes motivos:

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AR 0051790-38.2011.8.19.0000lct
Veja-se a respeitável decisão monocrática de fls. 575, que julgou

a apelação:

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AR 0051790-38.2011.8.19.0000lct
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AR 0051790-38.2011.8.19.0000lct
Ressalte-se: julgou procedente a ação de despejo, mas afastou a

condenação ao pagamento dos aluguéis!

Locação sem aluguel não é locação, como se vê no art. 1188, do

Código Civil de 1916 e do art. 565, do Código Civil de 2001.

Sobre o tema, este juiz já escreveu no livro Comentários à Lei do

Inquilinato, Forense, 10ª edição, p.6:

2.2. A locação

A locação é um contrato, isto é, a relação social prevista por


manifestação de vontade das partes visando à constituição de
obrigações.

O contrato é o encontro de duas vontades (por exemplo, o


locador e o inquilino) ou mesmo de mais vontades (por exemplo,
a convenção do condomínio) em que as partes buscam alcançar a
satisfação de seus interesses.

“Sujeitos”, assim, do contrato, são as partes que


manifestam sua vontade.

“Forma” do contrato é o modo pelo qual as partes


manifestam sua vontade. Por exemplo, no contrato de locação, a
forma pode ser escrita, quando as partes procedem a um
instrumento escrito ou mesmo consensual, quando basta,
simplesmente, o encontro das vontades; já a fiança, pelo que a lei
exige, é sempre um contrato escrito, quer como acessório ao
contrato de locação, quer pela manifestação isolada do fiador,
através de documento próprio, como, por exemplo, a “carta de
fiança”.

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AR 0051790-38.2011.8.19.0000lct
“Objeto” do contrato é o bem jurídico pretendido pelas
partes (por exemplo, na locação, o seu objeto é a cessão do uso e
gozo da coisa em troca do aluguel).

“Consenso” é a coincidência das vontades sobre o mesmo


objeto (por exemplo, na locação, basta que locador e inquilino
ajustem a cessão da coisa mediante aluguel para que o contrato
se realize, ainda antes de ser “assinado”).

A respeitável decisão monocrática não guardou relação com a

prova dos autos, pois se estão prescritas as cobranças dos alugueis como

afirmou a respeitável sentença (fls. 528) também estaria prescrita a locação,

se esta existisse!

Além do mais, impossível locação sem aluguel, como se vê no art.

1188 do velho Código Civil e da Lei 8.245/91.

Manifesto este o erro que por si só, autoriza o uso da ação

rescisória!

Além do mais, o que se vê é que a autora e outras dezenas e

centenas de pessoas já adquiriram o imóvel em usucapião individual ou

coletivo.

Assim, votei vencido no sentido de julgar procedente esta ação

rescisória para mandar que a Egrégia 9ª Câmara Cível julgue novamente a

apelação levando em conta os fatos antes descritos.

Nagib Slaibi, Vogal

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AR 0051790-38.2011.8.19.0000lct

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