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PERCEÇÃO E PROBABILIDADE DO RISCO

Portugal pelo “Global Peace Index” 2017 é o 3º país mais seguro do mundo e
na 5.ª edição do Barómetro 2014 da Segurança, Proteção de Dados e
Privacidade em Portugal é revelado que 73% dos inquiridos consideram
Portugal como um país seguro ou muito seguro.

Fig. 1 – Ranking Mundial de Segurança 2017

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É um excelente registo tendo em conta que são considerados todos os tipos de
segurança desde a militar, passando pelas forças da ordem e segurança
privada e terminando na segurança e higiene no trabalho, ou seja a segurança
de pessoas e bens na sua generalidade.

Para se ter uma ideia mais precisa, são três os fatores que mais contribuem
para a sensação de insegurança dos portugueses, para que se compreenda a
importância do resultado:

- Desemprego (76,3%);

- Aumento da violência na sociedade (43,8%);

- Aplicação prática da justiça (36,2%)

Pode assim constatar-se que por sermos o país seguro que somos os
portugueses têm uma ideia de risco totalmente diferente, por exemplo, da dos
franceses e belgas, que mudou certamente após os ataques terroristas de
Paris e Bruxelas.

Esta percentagem não é superior porque a perceção de risco não corresponde


à real probabilidade de o mesmo acontecer.

Fig. 2 - Perceção vs Probabilidade


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A probabilidade de um avião cair é de um em 11 milhões, mas no entanto a
perceção é inversa. Mas para um português é tão provável sair-lhe o Euro
milhões como ter um acidente aéreo, com a ressalva de a queda ou acidente
não quererá dizer a perda da vida, ou que ele teria de estar a viajar sozinho no
avião.

Pare se ter uma ideia mais fiel destas probabilidades em particular, viajam por
ano em média 2,84 biliões de passageiros em aviões comerciais, tendo havido
560 mortes em acidentes aéreos em 2015, das quais 374 foram devidas a atos
premeditados.

A perceção pessoal é então baseada na publicidade e nos títulos noticiosos


acerca da Al-Qaeda, Taliban, ISIS, e todos os ataques por eles efetuados por
esse mundo fora – Paquistão, Iraque, Síria, Líbano, Nigéria, França, Bélgica,
etc., enquanto que a realidade é bem diferente, assim, as probabilidades de se
morrer num ataque terrorista a bordo de um avião é de 1 em 25 milhões e a
média global de se morrer em qualquer tipo de ataque terrorista em todo o
mundo é de 1 em 9,3 milhões, novamente um numero muito chegado ao do
total da população nacional o que reitera a hipótese de ser tão provável sair o
Euro milhões a um Português como padecer num ataque terrorista.

Transportando agora estes números para outros locais públicos, mantendo


sempre a mesma probabilidade de risco real, na comparação de 1 para 10
milhões, o equivalente à nossa população:

Local Capacidade Risco

Santuário de Fátima 500000 0.05

Estádio de futebol 50000 0.005

Rock-in-rio (por dia) 80000 0.008

MEO Arena 25000 0.0025

Fig. 3 – Probabilidade de Risco vs Capacidade

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Logicamente quanto menor for a lotação ou a presença de pessoas menor a
probabilidade.

Para compreendermos a perceção de risco é imprescindível perceber o que é o


risco. O risco, por noção, é a “probabilidade de ocorrência de um acidente ou
evento adverso, relacionado com a intensidade dos danos ou perdas
resultantes dos mesmos” (CASTRO, 2000), ou seja, é a eventualidade de
acontecer algo, seja de bom ou de mau.

Todos os dias corremos diversos tipos de riscos, e o exemplo na generalidade


é sempre “se atravessarmos a rua sem olhar para os lados, há o risco de
sermos atropelados”. O facto é que o risco está presente na nossa vida desde
que acordamos até ao momento em que nos deitamos e continua connosco
enquanto dormimos, ou seja, está presente durante as 24 horas do dia. Cabe-
nos gerir, conhecer e perceber os riscos que temos à nossa volta.

Voltando ao exemplo de sempre, o risco de sermos atropelados por um carro


ao atravessarmos uma determinada estrada existe e é um facto, mesmo por
menos movimentada que essa estrada seja o risco existe sempre, se bem com
menor probabilidade. O facto de reconhecermos que essa possibilidade existe
é uma Perceção do Risco, e a decisão de parar e olhar para os dois lados
antes de cruzarmos é a Gestão do Risco atual e precocemente entendido.

Pode-se então dizer que a perceção de risco é a atitude se de colocar em


contacto com algum tipo de perigo por meio dos sentidos físicos (audição, tato,
visão, olfato, paladar), recebendo as informações, interpretando o seu
significado e imaginando a decisão adequada a tomar.

Todo o ser humano após o estímulo para o risco, que pode ser um serviço
noticioso por exemplo, elabora a sua própria perceção consoante o grau de
capacidade que têm para lidar com aquela situação em particular. A perceção
desse mesmo risco será sempre inversamente proporcional á sensação de
impotência para resolver ou minimizar o impacto do possível acontecimento.
Deve-se enfatizar que os fatores sociais, culturais e políticos também têm uma
influência considerável na aceitação do risco e também na ameaça de o
enfrentar. Portanto, uma especial atenção a esses fatores deveria fazer parte

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de uma estratégia de informação generalizada, porque não em pequenos spots
institucionais em horário nobre, de modo a desinquietar a população,
identificando, alertando e explicando quais as influências sociais a que estamos
sujeitos e que nos levam a conjeturar erradamente formas de comportamento
para determinado risco e assim criar formas incorretas de reforço. Assim, há
que estimular a investigação para se poder ter uma resposta às questões que
precisam muita atenção neste contexto e proporcionar, tanto formação como
ferramentas para elaboração de estratégias eficazes:

- para estimar riscos, interpretar e avaliar o grau de verosimilhança e da


informação que nos entra em casa, bem como o risco que implica para o
espaço onde nos encontramos;

- para lidar com as ameaças e aprender a ponderar que o risco se poder


vir a manifestar realmente, e que pela perceção errada que elaboramos,
aumenta a ansiedade e pânico que são os dois ingredientes
extremamente propensos a ter comportamentos inadequados, e a poder
vir sofrer danos mesmo sem ter havido a situação de risco.

As pessoas devem estar cientes dos sinais de risco reais para disfrutarem dos
prazeres da vida sem pensarem que algo pode acontecer a qualquer momento
- poder pode, mas se imaginarmos que existem milhões de maneiras de
podermos correr riscos, desde o simples engasgar com um copo de água,
então vivamos conscientes das infinitesimais probabilidades e informados das
reais perceções, para podermos disfrutar de todas as coisas boas da vida que
são muito mais prováveis de nos acontecer.

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Bibliografia e Webgrafia

Aneas de Castro, S. D. "Riesgos y peligros: una visión desde lá Geografía".


Scripta Nova: Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. Barcelona,
n.60, 15 de mar. 2000. - http://www.ub.es/geocrit/sn-60.htm

Barómetro 2014 da Segurança, Proteção de Dados e Privacidade em Portugal -


http://www.esegur.pt/barometro2014/FOLHETO_ResultadosBarometro2014Seg
uranca.pdf

Cientista de dados publica probabilidades da morte num ataque terrorista -


http://www.techjuice.pk/a-data-scientist-explains-odds-of-dying-in-a-terrorist-
attack/

Global Peace Index 2017 -


http://visionofhumanity.org/app/uploads/2017/06/GPI-2017-Report-1.pdf

John A. Michon, Dealing with Danger, Technical Report nr. VK 79-01, Traffic
Research Centre, University of Groningen

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