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RESUMO

O direito processual moderno preocupa-se em promover um processo mais célere, justo e


acessível baseado na simplificação de procedimentos e maior democratização da demanda ao
Judiciário. A criação dos Juizados Especiais facilita esse ingresso, além de prezar pela
conciliação entre as partes, extinguindo o litígio de maneira consensual. Com princípios
como: oralidade, simplicidade, informalidade, celeridade e economia processual, as leis
9.099/95 (Juizados Especiais Estaduais), 10.259/01 (Juizados Especiais Federais) e 12.153/09
(Juizados Especiais da Fazenda Pública) normatizam a previsão constitucional dos juizados
especiais no país. Com vista a descongestionar a quantidade de processos e permitir a
postulação em juízo pela parte sem advogado, esses institutos foram criados para simplificar a
propositura das demandas e são o objeto de estudo desse trabalho.

Palavras-chave: Processo civil. Juizados Especiais. Juizados Federais. Juizados da


Fazenda Pública. Celeridade processual.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................4
2 HISTÓRICO........................................................................................................................4
3 NATUREZA JURÍDICA E PRINCÍPIOS DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS............6
3.1 ORALIDADE.....................................................................................................................8
3.2 SIMPLICIDADE................................................................................................................8
3.3 INFORMALIDADE...........................................................................................................9
3.4 ECONOMIA PROCESSUAL.............................................................................................9
3.5 CELERIDADE.................................................................................................................10
4 COMPETÊNCIA...............................................................................................................11
4.1 COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO VALOR DA CAUSA..................................................12
4.2 COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA..................................................................13
4.3 COMPETÊNCIA EM RAZÃO DAS PESSOAS................................................................15
4.4 COMPETÊNCIA TERRITORIAL....................................................................................15
5 LEGITIMAÇÃO................................................................................................................16
5.1 AS PARTES E SEUS REPRESENTANTES NO JUIZADO ESTADUAL..........................16
5.2 AS PARTES E SEUS REPRESENTANTES NO JUIZADO FEDERAL............................18
5.3 AS PARTES E SEUS REPRESENTANTES NO JUIZADO DA FAZENDA PÚBLICA.....18
5.4 JUÍZES, CONCILIADORES E JUÍZES LEIGOS............................................................19
6 PROCEDIMENTO............................................................................................................20
6.1 PETIÇÃO INICIAL..........................................................................................................21
6.2 RECEBIMENTO E INDEFERIMENTO DA INICIAL.....................................................22
6.3 TUTELAS PROVISÓRIAS E TUTELA DE URGÊNCIA.................................................22
6.4 DESPESAS......................................................................................................................23
6.5 CITAÇÕES E INTIMAÇÕES...........................................................................................23
6.6 REVELIA.........................................................................................................................24
6.7 AUDIÊNCIA DE AUTOCOMPOSIÇÃO.........................................................................25
6.8 JUÍZO ARBITRAL...........................................................................................................26
6.9 AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO.........................................................26
6.9.1 Resposta do réu...................................................................................................27
6.9.2 Provas..................................................................................................................28
6.9.3 Sentença..............................................................................................................29
6.10SISTEMA RECURSAL.....................................................................................................30
6.9.4 Recurso Inominado e Recurso Extraordinário....................................................30
6.9.5 Embargos de Declaração.....................................................................................32
6.11EXECUÇÃO....................................................................................................................32
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................33
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1 INTRODUÇÃO

Surgidos como meios de ampliar o acesso à justiça, os juizados especiais cumprem um


papel importante o exercício da cidadania ao permitir que haja uma resolução célere,
econômica e simples de controvérsia. Isso tudo, sob a tutela do Estado. Para compreender essa
instituição, esse trabalho emprega a legislação e jurisprudência como fontes, além de
comentários por doutrinadores.

Norteiam essa pesquisa os pressupostos do direito processual. Em razão disso, esse


estudo aborda os juizados especiais em dois aspectos. Inicialmente, apresenta-se desde o
contexto histórico para a emergência dos juizados especiais, servindo de pano de fundo para
informar a natureza jurídica e os princípios regedores dos juizados especiais.

A seguir, aspectos processuais, a saber, a competência, a legitimação, o processo em si


e seus procedimentos são abordados. Por fim, a tutela de urgência e os recursos completam
esse panorama dessa instituição de juizado especial no ordenamento brasileiro.

Como linha mestra os juizados especiais cíveis serviram de paradigma para informar
as características gerais da instituição, embora haja alusões aos juizados especiais criminais e
fazendários. A razão desse foco é a inserção desse estudo na disciplina de direito processual
civil.

2 HISTÓRICO

Desde que se consolidou o Estado-nação no Ocidente a atividade jurisdicional assumiu


o papel quase monopolista de dirimir controvérsias. No entanto, fora da atividade estatal os
institutos de autocomposição, arbitragem e conciliação ocorrem de maneira informal
cotidianamente e serviram de modelos para ampliar o acesso à justiça sob os auspícios do
Estado na forma de juizados especiais. Em vista disso, esse panorama histórico serve para
elucidar o papel desses juizados no ordenamento jurídico brasileiro.

Uma das mais antigas formas de juizados especiais remonta da Small Court Claims de
Nova Iorque (CARNEIRO, 1985). João Piquet Carneiro, então vinculado ao Programa
Nacional de Desburocratização, conheceu em 1980 essa experiência nova iorquina e
disseminou essa ideia no Brasil. Com um teto baixo limitando o valor da causa, sem
necessidades de advogados, com a possibilidade de resolver por conciliação e arbitragem, o
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modelo desses juizados de pequenas causas provou ser um meio democrático de acesso à
justiça. Progressivamente, as observações de Carneiro (1985) viriam ser implantadas no
Brasil.

Quando do surgimento do Código Civil de 1973, a expectativa era grande de se iniciar


uma nova era no direito processual brasileiro, a do ideário do acesso à justiça. No entanto, sob
influência iluminista de proteger as partes das arbitrariedades do julgador, o processo provou
ser limitado para atender às demandas sociais e marcado pelo excesso de solenidades.

Surgiram então movimentos de juristas que viam na conciliação a forma de reduzir a


quantidade de litígios no Judiciário. No país, já nos inícios dos anos 1980, tempos em que se
vislumbrava a redemocratização e ampliação do exercício da cidadania, surgiu no Rio Grande
do Sul os Conselhos de Conciliação e Arbitramento (MARQUES 2006).

O sucesso gaúcho ensejou a promulgação da Lei Federal no 7.244/1986, que dispunha


sobre a criação e o funcionamento do Juizado Especial de Pequenas Causas competente para
julgar causas de baixo valor econômico de modo célere e prezando a conciliação, a oralidade
e a informalidade.

Em 1988 a Constituição Federal abarcou o modelo dos Juizados de Pequenas Causas


em seu art. 24, com o seguinte texto:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar


concorrentemente sobre:
[...] X - criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas;

E instituiu também que fossem criados os Juizados Especiais para tratar de causas de
menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, conforme art. 98:

Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão:


I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos,
competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis
de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo,
mediante os procedimentos oral e sumariíssimo, permitidos, nas hipóteses
previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes
de primeiro grau;

Apesar de se parecerem e ambos prezarem pelos mesmos princípios de oralidade,


informalidade e celeridade, muitos não os considerava semelhantes. Essa distinção deve-se ao
fato de nem sempre causas de baixo valor econômico ser de baixa complexidade, assim como
causas de baixa complexidade nem sempre possuírem baixo valor econômico.
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Apesar disso, depois de diversos projetos de leis, foi criado a lei 9.099/95 que reunia o
Projeto Jobim (versava apenas sobre os juizados especiais cíveis) e o Projeto Temer (que
tratava apenas dos juizados especiais criminais) e revogava a lei 7.244/84.

Como ainda não havia previsão dos juizados especiais para a Justiça Federal, foi
editada a Ementa Constitucional 22/99, cujo parágrafo único do artigo 98 estabelecia que:

Parágrafo único. lei federal disporá sobre a criação de juizados especiais no


âmbito da Justiça Federal.

Então, em 2001, a lei dos Juizados foi reproduzida para o âmbito da Justiça Federal
(lei 10.259/01) e posteriormente para o juízo fazendário de Estados, Municípios e Distrito
Federal por meio da lei 12.153/09 que também estabeleceu o Sistema dos Juizados Especiais:

Art. 1º Os Juizados Especiais da Fazenda Pública, órgãos da justiça comum e


integrantes do Sistema dos Juizados Especiais, serão criados pela União, no
Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para conciliação,
processo, julgamento e execução, nas causas de sua competência.

Parágrafo único. O sistema dos Juizados Especiais dos Estados e do Distrito


Federal é formado pelos Juizados Especiais Cíveis, Juizados Especiais
Criminais e Juizados Especiais da Fazenda Pública.

Segundo Rocha (2016), funciona esse sistema como uma organização administrativo-
judicial cujo centro é a lei 9.099/95. Isso porque tanto os Juizados Federais quanto os
Fazendários foram criados por leis que, sozinhas, seriam incapazes de se estruturar.

Substancialmente, a lei 11.232/2005 reformou a lei 9.099/95. A próxima grande


alteração seria a adequação de todo o sistema processual brasileiro com a vigência do novo
Código de Processo Civil em 2016.

Recentemente, o Código do Processo Civil de 2015 também fez referência aos


Juizados Especiais no art. 985 e nas disposições finais, art. 1.062 a 1.066 instituindo, entre
outros, que o incidente de desconsideração da personalidade jurídica aplica-se aos juizados
especiais. Sendo a Lei dos Juizados lei especial, aplica-se o CPC/2015 de modo subsidiário.

3 NATUREZA JURÍDICA E PRINCÍPIOS DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS

No ordenamento jurídico brasileiro os Juizados Especiais são instituições integrantes


do Poder Judiciário. Não sendo de matéria trabalhista, eleitoral ou militar, esses Juizados
Especiais caracterizam-se como pertencentes à justiça comum. Considerando questões de
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competência exclusiva da União, como se verá, há uma seara de juizado especial federal
contrapondo às matérias que subsidiariamente são de alçada da justiça cível estadual.
Considerando a necessidade de dirimir controvérsias fazendárias de forma célere e simples
em benefício tanto do contribuinte quanto da coisa pública, o sistema de juizado especial
fazendário atende essas necessidades em causas de sua competência. De modo similar,
atendendo a pacificação social, os juizados especiais criminais julgam infrações penais de
menor ofensividade, as quais compreendem contravenções penais e os crimes a que a lei
comine pena máxima não superior a dois anos, cumulada ou não com multa.

Embora com quadros formados por conciliadores e juízes leigos – respectivamente,


com requisitos mínimos de bacharelado em Direito e advogados – os juizados especiais
contam com a supervisão de juízes togados. As sentenças e decisões possuem força para
vincularem sua execução.

Os Juizados Especiais compreendem os órgãos de primeiro grau (de mesmo nome) e


os de segundo grau, a turma recursal. A turma recursal cuida da revisão da decisão proferida
pelo órgão de primeiro grau, realizando segundo grau de jurisdição, mas mantendo a
característica de órgão judicial de primeira instância (são varas cíveis especializadas),
conforme leciona Rocha (2016).

Como as leis 10.259/01 e 12.153/09 não estabelecem regras próprias para os atos
processuais, obedecem ao mesmo do disposto na lei 9.099/95 e, subsidiariamente, o
CPC/2015.

Assim conceitua Rocha (2016, p. 26) a respeito dos Juizados Especiais Cíveis:

Conjunto de órgãos judiciais, com assento constitucional e integrante do


Sistema dos Juizados Especiais, estruturado para promover a composição e o
julgamento das causas cíveis de menor complexidade e de pequeno valor,
através de princípios e procedimentos específicos, previstos na lei 9.099/95.

Os princípios que regem os juizados especiais estão dispostos no art. 2º dessa lei, e são
a oralidade, a simplicidade, a informalidade, a economia processual e a celeridade, além de
buscar, sempre que possível, a conciliação ou transação.

3.1 ORALIDADE

O princípio da oralidade não significa que resta abolida a forma escrita. O processo
oral é aquele que “oferece às partes meios eficazes para praticarem os atos processuais através
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da palavra falada, ainda que esses atos tenham que ser registrados por escrito” (ROCHA,
2016, p. 29).

Nos juizados especiais, a oralidade acontecerá durante todo o procedimento,


acompanhando desde a petição inicial até a sentença. Em regra, os atos são majoritariamente
verbais, mas reduzidos a termo, ainda que de modo resumido. Apenas no “recurso inominado”
e nos procedimentos executivos, por aplicação subsidiária do CPC/2015 a forma será,
predominantemente, escrita.

Segundo Rocha (2016), quatro aspectos são associados ao processo oral:

a) Concentração dos atos processuais: como os atos ocorrem dentro de um curto


prazo, informações importantes não se perdem devido ao lapso temporal entre
audiências. Aqui, há apenas a audiência de autocomposição e a de instrução e
julgamento;

b) Identidade física do juiz: garante-se que o juiz que ouvir as informações fica
vinculado ao que foi proferido durante a audiência;

c) Irrecorribilidade (em separado) das decisões interlocutórias: evitar o fracionamento


do procedimento por meio de discussões incidentais;

d) Imediatismo: determina a lei que o debate, a produção da prova e o julgamento


sejam feitos perante o juiz.

3.2 SIMPLICIDADE

Estabelece o art.14, §1º da lei 9.099/95 que a petição inicial (escrita ou oral) será feita
“de forma simples e em linguagem acessível”. Assim, entende-se o princípio da simplicidade
como a facilidade na comunicação e na linguagem utilizada nos atos de modo que a
população não se sinta tolhida ou intimidada.

Além disso, no Juizado Federal e no Juizado Especial da Fazenda Pública não é


obrigatória a presença do advogado, conforme leciona Gonçalves (2016).
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3.3 INFORMALIDADE

Esse princípio defende que os atos processuais sejam praticados com o mínimo de
parcialidade possível (ROCHA, 2016), visto que não é possível despi-los totalmente da forma.
Assim, estabelece-se a simplicidade e efetividade do ato pela eliminação das formalidades não
essenciais à sua validade.

Relacionados a esse princípio estão o caput e §1º do art. 13 da lei 9.099/95:

Art. 13. Os atos processuais serão válidos sempre que preencherem as


finalidades para as quais forem realizados, atendidos os critérios indicados
no art. 2º desta lei.

§ 1º Não se pronunciará qualquer nulidade sem que tenha havido prejuízo.

Ou seja, garantida a finalidade para a qual o ato foi realizado, independe a forma
utilizada, sendo considerado válido (princípio da instrumentalidade das formas) a menos que
cause prejuízo (princípio do prejuízo). Aqui, excetuam-se as nulidades absolutas, pois essas
não se convalidam. Referem-se às nulidades relativas, que configuram irregularidades.

Nesse sentido, Gonçalves (2016) salienta que incidentes que acarretariam na demora
do processo foram vedados, ou seja: não cabe reconvenção, não se admite intervenção de
terceiros (com exceção do incidente de desconsideração da personalidade jurídica) e não se
admite a prova pericial.

Consonante à informalidade é que a petição inicial foi estruturada, podendo ser feita
de forma escrita ou oral (reduzida a termo por meio de fichas ou formulários). Encontram-se
outros exemplos dessa aplicação na citação (que, em caso de pessoa jurídica, poderá ser
entregue ao próprio recepcionista), na intimação (poderá ser feita por qualquer meio idôneo
de comunicação), na sentença (que conterá breve resumo, com os fatos principais) e outros,
tudo para garantir a celeridade do processo.

3.4 ECONOMIA PROCESSUAL

Segundo Theodoro Júnior (2015, p.114) o processo civil “deve tratar-se de obter o
maior resultado com o mínimo de emprego de atividade processual” (apud ECHANDIA, op.
cit., v.I, n.15, p. 46). Segue a mesma essência da lei da escassez: busca-se racionalizar os
recursos para maximizar resultados.
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Como aplicações do princípio de economia processual, podem ser citados:


possibilidade de realização imediata da audiência de autocomposição (buscando o fim do
litígio) e a possibilidade de intimação da sentença na sessão de instrução e julgamento.

Assim, todo ato processual deve ser dirigido a um fim necessário dentro do processo,
de modo a atingir a finalidade (solução do litígio) de maneira mais célere, evitando delongar a
prestação jurisdicional.

3.5 CELERIDADE

Destaca Rocha (2016, p. 35) que “sempre que possível, os atos processuais devem ser
praticados de forma a permitir uma atividade processual mais rápida e ágil”. Isso não significa
abrir mão da segurança jurídica que demanda, às vezes, um prazo maior para solução do
litígio, mas que os atos produzam seus resultados rapidamente.

Como consequências desse princípio tem-se, por exemplo, o art. 9º da lei 10.259/01
que estabelece que “não haverá prazo diferenciado para a prática de qualquer ato processual
pelas pessoas jurídicas de direito público, inclusive a interposição de recursos, devendo a
citação para audiência de conciliação ser efetuada com antecedência mínima de trinta dias”.

Da mesma forma estatui o art. 7º da lei 12.153/09, de modo que não se aplica a
possibilidade de prazo diferenciado para as partes.

Apesar de parte da doutrina entender que persiste a possiblidade de aplicação do prazo


em dobro para a Defensoria Pública, nos Tribunais prevalece a vedação a essa contagem.
Frente à essa divergência, o Fonajef ditou o Enunciado 53: “Não há prazo em dobro para a
Defensoria Pública no âmbito dos Juizados Especiais Federais”.

Conforme argumentos expostos, deve-se considerar que a Defensoria Pública mantém


a prerrogativa do prazo em dobro, mesmo no âmbito dos Juizados Especiais Federais. Este,
entretanto, não tem sido o entendimento da Jurisprudência.

Os Tribunais têm entendido que prevalece a vedação a prazos diferenciados imposta


pela lei dos Juizados Federais, não permitindo a contagem de prazo em dobro para a
Defensoria Pública, conforme julgados abaixo transcritos, todos sem grifos no original:
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4 COMPETÊNCIA

Como a Constituição Federal de 1988 delimitou apenas que os Juizados Especiais


Cíveis deveriam julgar pequenas causas e causas de menor complexidade. Com tal lacuna,
coube ao legislador definir a competência desses juizados.

As competências dos juizados especiais são determinadas em critérios de valor da


causa, matéria, pessoa e territorialidade. Por se tratar de uma instituição peculiar dentro do
sistema judiciário brasileiro, os juizados especiais concorrem com foros ordinários, exceto nos
casos de competência absoluta, como é determinado para foros onde haja instalados juizados
especiais da Fazenda Pública. Com esse caráter sui generis de ser um caminho alternativo de
se alcançar resolução de conflitos pela jurisdição, a competência dos juizados especiais requer
um detalhamento.

Inicialmente, vale diferenciar entre pequenas causas e casos de menor complexidade.

As pequenas causas estaduais são aquelas que têm valor de até 40 salários mínimos,
que não incidam nas vedações do art. 3º, §2º da lei 9.099/95 e que não exijam atividade
probatória complexa ou prova pericial (devem obedecer ao disposto nos art. 33 a 36 dessa
mesma lei). Para os juizados especiais federais e os Juizados Especiais Fazendários esse
limite é de 60 salários mínimos, conforme postula o art. 3º da lei 10.259/2001.

É possível que a parte renuncie ao excedente (nas causas cindíveis) para poder usufruir
desse procedimento, e pode ser expressa ou tácita. Em se tratando de causa cujo objeto seja
indivisível, caberá incompetência absoluta.

Consoante ao Enunciado 54 do Fórum Nacional dos Juizados Especiais, o


entendimento a respeito do critério de menor complexidade seria “objeto da prova e não em
face do direito material”. Causas de menor complexidade são as previstas na lei 9.099/95,
fixadas em razão da matéria, podendo processualmente: causas de rito sumário, ações de
despejo para uso próprio e ações de homologação de acordo extrajudicial. Desse
entendimento surge o corolário de que em razão de matéria seria causas de menor
complexidade aquelas sem a necessidade pericial.

Há uma teoria dualista na qual as causas de menor complexidade não deveriam


obedecer ao valor do teto fixado. A razão disso seria o entendimento de que existem dois
grupos: as pequenas causas (critério de competência em razão do valor) e o das causas de
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menor complexidade (obedecem ao critério de competência em razão da matéria), existindo a


“área de intersecção” que corresponderia às causas que são de menor complexidade e também
de baixo valor. Consoante com essa teoria o Fonaje em seu Enunciado 58 admitiu a
possibilidade de condenação superior ao valor teto.

No entanto, doutrinadores como Wambier (2006) entende que o teto fixado (de
quarenta ou sessenta salários mínimos, a depender do juizado) deve ser seguido tanto pelas
pequenas causas quanto pelas causas de menor complexidade. Assim, evitaria desvirtuar os
juizados especiais, servindo de foro especial para quem detenha maior poder econômico.

4.1 COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO VALOR DA CAUSA

O critério de valor da causa limita os ônus de um processo na justiça comum. Além


disso, esse critério é importante tanto para determinar a competência de demandas que o
juizado especial possa apreciar quanto para isentar as partes da obrigatoriedade da
participação do advogado.

Em juizados especiais cíveis as causas com valor abaixo de vinte salários mínimos,
por determinação legal, dispensam-se a obrigatoriedade dos advogados. Entretanto, em causas
cujo valor esteja entre vinte e quarenta salários torna-se necessário a presença da figura do
advogado no processo. Para causas tramitando em juizados federais cíveis,
independentemente do valor da causa a presença do advogado será facultativa. Vale ressaltar a
lacuna a respeito da presença do advogado em causas postuladas junto aos juizados especiais
da Fazenda Pública.

O valor teto para permitir a competência de postular o processo em juizados especiais


é determinado no momento de sua propositura. Fatos supervenientes que possivelmente virem
a alterar esse valor não afetaria a competência de tais juizados. Há, todavia uma ressalva. Para
os juizados especiais federais deve-se observar a determinação do art. 3º § 2o da lei 10.259/01
que limita a somatória das obrigações a doze parcelas do teto de sessenta salários mínimos.

Em questões de valor, é importante ressaltar que o interessado pode renunciar a


quantias excedentes ao teto. Uma vez renunciado, não poderá o interessado depois pleitear a
mesma causa com base nos mesmos fatos e direitos na justiça ordinária. Resta, todavia, a
questão se o postulante ajuizar inicialmente uma ação nos juizados especiais implicaria em
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uma renúncia tácita a qualquer possível excedente, caso venha retirar a ação e demanda-la na
justiça comum.

Caso a parte ré venha pleitear uma reconvenção contrapondo um valor, essa não
poderá superar o teto da competência do juizado. Porém, valendo-se da autonomia da vontade
das partes, caso haja acordo homologado, o valor poderá exceder o teto legal de competência
do juizado especial cível. Todavia, para os juizados federal e fazendário, os acordos ainda se
sujeitam aos tetos legais, tendo em vista que haveria o risco de renúncias indevidas por parte
do ente público envolvido na lide.

4.2 COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA

Considerando casos de menor complexidade, a razão de matéria é outro critério para


definir competência dos juizados especiais.

O art. 1.063 do NCPC elencou matérias para os juizados especiais cíveis até que haja
lei específica. Essas matérias, já previstas no antigo CPC, art. 275 II, que, no momento de sua
revogação, seriam:

a) de arrendamento rural e de parceria agrícola;

b) de cobrança ao condômino de quaisquer quantias devidas ao condomínio;

c) de ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico;

d) de ressarcimento por danos causados em acidente de veículo de via terrestre;

e) de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados em acidente de veículo,


ressalvados os casos de processo de execução;

f) de cobrança de honorários dos profissionais liberais, ressalvado o disposto em


legislação especial;

g) que versem sobre revogação de doação

h) nos demais casos previstos em lei.

Como rol restritivo, o artigo 3º, § 2 da lei 9.099/95 determina a exclusão “da
competência do Juizado Especial as causas de natureza alimentar, falimentar, fiscal e de
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interesse da Fazenda Pública, e também as relativas a acidentes de trabalho, a resíduos e ao


estado e capacidade das pessoas, ainda que de cunho patrimonial”.

Obviamente, ações reguladas por procedimentos especiais, independente de causa ou


matéria, correrão em foro de suas competências. É o caso, por exemplo, da ação de exigir
conta, regulado por rito próprio no novo Código de Processo Civil.

Em se falando de juizados especiais federais, há ainda um rol de matérias excluídas de


sua apreciação, notavelmente matérias de direito internacional público e direito indígena, bem
como direito imobiliários que envolvam a União, autarquias e fundações públicas federais.

A anulação de atos administrativos federais, pela lógica de empregar recursos


administrativos ou mandado de segurança, também se exclui da competência dos juizados
especiais federais, exceto causas de natureza previdenciária e de lançamento fiscal. Tampouco
apreciam nesses juízos questões disciplinares e de demissão de servidores civis e militares.
Outras matérias excluídas envolvem falência, acidentes de trabalho e de competência das
justiças do Trabalho e Eleitoral.

Conclui-se que constitucionalmente as matérias competentes dos juizados especiais


federais, limitando-se ao teto de sessenta salários mínimos, seriam as matérias residuais que
envolvam em um polo a União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas.

Já para os juizados da Fazenda Pública compete processar, conciliar causas cíveis de


interesse dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. Além das ações com rito próprio,
excluem-se da competência desses juizados casos de improbidade administrativa, execuções
fiscais e as demandas sobre direitos ou interesses difusos e coletivos; bem como ações
envolvendo bens imóveis de entes públicos.

A razão de matéria consolidou o papel dos juizados especiais, conforme palavras da


ministra Nacy Andrighi, do STJ: “A lei 9.099/95 trouxe novos contornos à definição da
competência dos Juizados Especiais, deslocando o critério valorativo do caput para os incisos
I e IV do artigo 3º, de modo a torná-lo independente do critério material”. (Recurso de
Mandado de Segurança n.20.170/SC).
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4.3 COMPETÊNCIA EM RAZÃO DAS PESSOAS

A autoria de ações propostas em juizados especiais, como se verá na sessão reservada


à legitimidade, é em regra limitada a pessoa física capaz, microempresas e empresas de
pequeno porte. No polo passivo podem figurar pessoas físicas, jurídicas e despersonalizados.,
bem como a União (para juizados especiais federais) e seus entes correlatos ou estados,
Distrito Federal e munícipios e seus entes correlatos nos casos de juizados especiais da
Fazenda Pública. Pessoas físicas incapazes e presos estão excluídos da competência dos
juizados especiais cíveis, sendo admitidos em juizados federais. Sendo a ação postulada por
pessoas não contempladas nesses casos, o juiz declarará sua extinção sem mérito.

4.4 COMPETÊNCIA TERRITORIAL

Na definição da competência, o legislador observou os critérios objetivo, material e


territorial. Mas o que prevalece entre os juizados é o territorial, cujas causas estão previstas no
art. 4º, lei 9.099/95). De forma geral. a competência em razão de território é do juizado
atuante no foro do domicilio do réu. A critério do autor poderá ser postulada a ação no foro do
local das atividades usuais ou local mantido pelo réu. Vale salientar que caso a demanda
discorra sobre objeto a prestação de obrigação a competência será do local de seu
adimplemento. Adicionalmente, será competente o foro do autor ou do local do ato ou fato
para as ações para reparação de dano.

Alguns pontos relevantes devem ser mencionados. Como determinado em razão de


matéria, onde haja juizados da Fazenda Pública, seu foro será de competência absoluta.
Quando for determinado uma questão de incompetência, o juiz determinará a extinção do
processo sem resolução do mérito. Em caso de ações conexas com a justiça comum, a
competência será do juiz prevento conforme o art. 59 do CPC/2015. Se para causas
apreciáveis pela justiça cível, é facultado propor ação via os Juizados Especiais Estaduais ou
pelo sistema convencional. O mesmo não se aplica ao Juizado Federal que, no foro onde
estiver instalado, terá competência absoluta.

5 LEGITIMAÇÃO

5.1 AS PARTES E SEUS REPRESENTANTES NO JUIZADO ESTADUAL

O Juizado Especial Civil, restrito a causas de pequena complexidade e valor, é mais


restrito que na Justiça comum. Na lei dos Juizados Especiais, ocupou-se o legislador primeiro
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de limitar o acesso, por meio do art.8º: “Não poderão ser partes [...] o incapaz, o preso, as
pessoas jurídicas de direito público, as empresas públicas da União, a massa falida e o
insolvente civil”. Em seguida, foram elencadas as partes que podem propor a ação, sendo elas:

a) Pessoas físicas capazes, com exceção dos cessionários de direito de pessoas


jurídicas: essa exclusão ocorre para impedir que a pessoa jurídica venha a ser autora
postulando por meio de pessoa física;
b) Pessoas microempreendedores individuais, de microempresas ou empresas de
pequeno porte;
c) Pessoas jurídicas de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público;
d) Sociedades de crédito ao microempreendedor

Em resumo, têm capacidade para ser autor ou réu toda pessoa física livre, capaz e não
insolvente, pessoa jurídica de direito privado e ente despersonalizado com capacidade
processual, sendo que, dentre essas, apenas as acima elencadas podem propor a demanda ou
formular pedido contraposto (no caso de atuar no polo passivo), são os casos de legitimidade
processual ativa.

Além dessas, segundo previsão do Fórum Nacional de Juizados Especiais (Fonaje):

ENUNCIADO 9 – O condomínio residencial poderá propor ação no Juizado


Especial, nas hipóteses do art. 275, inciso II, item b, do Código de Processo
Civil.
ENUNCIADO 148 (Substitui o Enunciado 72) – Inexistindo interesse de
incapazes, o Espólio pode ser parte nos Juizados Especiais Cíveis (XXIX
Encontro – Bonito/MS).

Portanto, apesar de o condomínio ser ente despersonalizado, ele está apto para propor
ação, assim como o Espólio também poderá ser parte (inexistindo interesse de incapazes).

Até mesmo para o caso de litisconsórcio (admitido para os juizados) exige-se que
todas as partes tenham possibilidade de figurar, podendo ser ativo ou passivo, e que as causas
sejam conexas. Essa conexão impede que causas de menor complexidade, quando unidas,
tornem-se casos dificultosos.

Não se admite, entretanto, a intervenção de terceiros e nem a assistência, evitando a


demora nos processos dos juizados. Permite-se, porém, a substituição do réu (pelo autor) que
17

contestar ser parte ilegítima. Trata-se de uma forma de corrigir o polo passivo pela nomeação
de terceiro.

É cabível o incidente de desconsideração da personalidade jurídicas, conforme art.


1.062 do CPC/2015. A pedido da parte ou do Ministério Público (quando ele puder intervir, o
que ocorrerá mais comumente no juizado federal) ele poderá ser instaurado, consolidando o
Enunciado 60 do Fonaje: “É cabível a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica,
inclusive na fase de execução.”

Quanto aos representantes, em caso de causas até o valor de 20 salários mínimos, têm
capacidade postulatória as partes, sem necessidade de serem assistidas por advogado. Para as
de valor superior a esse teto é necessária a intervenção do advogado. Ainda, caso o réu queira
contrapor pedido em valor superior ao da causa inicial de modo que ultrapasse esse limite,
precisará de advogado para tal.

Essa faculdade, no entanto, só ocorre para o primeiro grau de jurisdição. Havendo


recurso, a presença do advogado torna-se imprescindível. Nos Juizados Federais e da Fazenda
Pública, porém, a assistência é sempre facultativa, independente do valor da causa.

Sendo um dos princípios a informalidade, prescinde a representação judicial de


instrumento especial, bastando que a parte e o advogado compareçam juntos à audiência para
configurá-la. Conforme §3º da lei 9.099/95: “O mandato ao advogado poderá ser verbal, salvo
quanto aos poderes especiais”.

Mas conforme leciona Rocha (2016, p. 83): “O defeito na representação pode levar à
invalidação dos atos processuais praticados e, até, ao encerramento do procedimento”.
Portanto, é necessária a devida anuência para que não haja abuso por parte de maus
profissionais.

É permitida a presença do preposto, cujos poderes devem ser suficientes para


representar a parte inclusive, quanto ao acordo. Em caso de pessoa jurídica, não é necessário
que haja vínculo trabalhista, conforme §4º da referida lei:

§ 4º O réu, sendo pessoa jurídica ou titular de firma individual, poderá ser


representado por preposto credenciado, munido de carta de preposição com
poderes para transigir, sem haver necessidade de vínculo empregatício.
18

Por fim, conforme destaca Rocha (2016) a parte poderá requerer atuação da assistência
da judiciária, ou pode a Defensoria Pública intervir quando a parte for hipossuficiente e
solicitar assistência técnica.

5.2 AS PARTES E SEUS REPRESENTANTES NO JUIZADO FEDERAL

Ainda que inicialmente os juizados especiais apreciassem causas entre particulares,


essa instituição se provou eficaz para dirimir questões envolvendo entes públicos. Em razão
disso, foram regulamentados os juizados especiais federais e os da Fazenda Pública. No
juizado especial Federal cível podem figurar como polo ativo pessoas físicas, as
microempresas e empresas de pequeno porte (definidas na lei no 9.317/1996) e como polo
passivo, a União, autarquias, fundações e empresas públicas federais.
O Enunciado 11 do Fonajef esclarece que pessoas jurídicas deverão comprovar sua
caracterização nessas categorias, mediante cadastros especiais, CNPJ ou documentação hábil.
Quanto a entes despersonalizados, o Enunciado 75 do Fonajef reconhece o papel do
espólio como parte autora nos juizados especiais cíveis federais.
Outra variação quando comparado aos juizados especiais cíveis, juizado federal, os
incapazes poderão ser autores (Enunciado 74 do Fonajef), mas com a presença do Ministério
Público, inclusive na conciliação.
Na hipótese de litisconsórcio ativo o Enunciado 18 do Fonajef estipula que o valor da
causa, para fins de fixação de competência deva ser calculado pelo autor. A título ilustrativo,
em um litisconsórcio o limite de cinquenta salários mínimos se aplica individualmente a cada
autor individualmente considerado. Assim, havendo litisconsórcio, o valor total da causa pode
ultrapassar o teto legal de competência dos juizados especiais.

5.3 AS PARTES E SEUS REPRESENTANTES NO JUIZADO DA FAZENDA PÚBLICA

Em papel similar ao juizado especial federal cível, os juizados da Fazenda Pública


atende demandas de partes legitimadas, a saber, como autores as pessoas físicas e as
microempresas e empresas de pequeno porte, assim definidas na Lei Complementar no 123,
de 14 de dezembro de 2006. No polo passivo, esses juizados tem a legitimidade para julgar
ações de réus que sejam os Estados, o Distrito Federal, os Territórios e os Municípios, bem
como autarquias, fundações e empresas públicas a eles vinculadas. Porém, é importante notar
que qualquer ente público federal não possa figurar no polo ativo ou passivo da ação pleiteada
19

nos juizados fazendários. Nesse caso, mesmo em litisconsórcio necessário, a competência


seria da seara federal.

O Ministério Público atua em causas contendo interesse público tanto pela natureza da
lide ou pessoa da parte. Como em seus congêneres, nos juizados especiais da Fazenda Pública
não se admite a intervenção de terceiros, respeitando o art. 10 da lei n.º 9.099/95 e o artigo da
27 da lei n.º 12.153/09.

5.4 JUÍZES, CONCILIADORES E JUÍZES LEIGOS

A condução do processo e julgamento são feitos pelo juiz e, nessa atuação, Rocha
(2016) pondera algumas cautelas que ele deva ter principalmente quanto ao contato mais
próximo com as partes sem tornar-se autocrata, e atuar com foco na autocomposição.

Além dessas ponderações, a lei 9.099/95 aponta que:

Art. 5º O Juiz dirigirá o processo com liberdade para determinar as provas a


serem produzidas, para apreciá-las e para dar especial valor às regras de
experiência comum ou técnica.

Art. 6º O Juiz adotará em cada caso a decisão que reputar mais justa e
equânime, atendendo aos fins sociais da lei e às exigências do bem comum.

Seguindo o texto do CPC/2015 (e do anterior) no art. 8º: “o juiz atenderá aos fins
sociais e às exigências do bem comum [...]”, a Lei dos Juizados enfatizou a busca pela
equidade e justiça, orientando o processo até a solução mais justa.

Possui também uma liberdade relativa para determinação das provas, obedecendo
sempre a legalidade, que lhe permite flexibilidade para analisar quais provas são mais
cabíveis e imprescindíveis para atingir os fins necessários, e quais são prescindíveis à
demanda.

Como auxiliares da justiça, o art. 7º da lei 9.099/95 estabelece que: “Os conciliadores
e Juízes leigos são auxiliares da Justiça, recrutados, os primeiros, preferentemente, entre os
bacharéis em Direito, e os segundos, entre advogados com mais de cinco anos de
experiência”.

No entanto, enquanto auxiliares os advogados não podem exercer advocacia perante os


juizados em que atuem. Assim dispões o Enunciado 40 do Fonaje: “O conciliador ou juiz
20

leigo não está incompatibilizado nem impedido de exercer a advocacia, exceto perante o
próprio Juizado Especial em que atue ou se pertencer aos quadros do Poder Judiciário”.

A previsão de conciliadores está prevista tanto na Lei dos Juizados Especiais Estaduais
(lei 9.099/95) quanto na Lei dos Juizados da Fazenda Pública (lei 12.153/09), sendo que serão
escolhidos preferencialmente entre bacharéis de direito. A Lei dos Juizados Federais
(10.259/01) permitiu os conciliadores, mas designados pelo juiz presidente e pelo prazo de
dois anos (pode haver a recondução).

Não há juízes leigos nos Juizados Federais, mas a lei permitiu nos Juizados Estaduais
(que devem ser escolhidos entre advogados com mais de cinco anos de experiência) e nos
Juizados da Fazenda Pública (experiência de dois anos).

A audiência de conciliação poderá ser presidida pelo juiz (togado ou leigo) e pelo
conciliador, mas esse não poderá “tomar nenhum medida de conteúdo jurisdicional”
(GONÇALVES, 2016, p. 670).

Assim, podem ser atribuídas ao juiz leigo, conforme Rocha (2016): conduzir a
autocomposição, o procedimento arbitral, a audiência de instrução e julgamento e proferir o
projeto de sentença. Em caso de o juiz leigo presidir e proferir sentença, ela será homologada
pelo juiz togado ou substitui-la.

6 PROCEDIMENTO

Na lei 9.099/95 há previsão de dois tipos de procedimentos, o sumariíssimo (art. 77 a


83) e o executivo de títulos extrajudiciais (art. 53).

O procedimento sumariíssimo é simplificado, de modo que haverá apenas uma


audiência para tentativa de conciliação, e outra para instrução e julgamento. Frustrada a
conciliação, passa-se imediatamente à audiência de instrução e julgamento, apenas não
acontecendo de pronto quando resultar em prejuízo para a defesa. Nesse caso, será marcada
para os quinze dias subsequentes, em se tratando do Juizado Estadual.

Na contagem de prazo consideram-se os dias úteis, conforme Súmula 45 do ENFAM:


“A contagem dos prazos em dias úteis (art. 219 do CPC/2015) aplica-se ao sistema de
juizados especiais”.
21

Conforme dispõe Pinho (2017, p. 604), os atos processuais devem ser submetidos ao
princípio da instrumentalidade das formas: são considerados válidos sempre que cumprirem o
fim proposto. Não havendo prejudicialidade, não serão pronunciadas nulidades.

Para democratizar o acesso ao juizado, todos os atos processuais são públicos e podem
ser realizados em horário noturno (mediante normatização do órgão). Além disso, apenas os
atos essenciais são registrados de forma reduzida. As provas, entretanto, poderão ser gravadas.

6.1 PETIÇÃO INICIAL

A petição inicial, seguindo os princípios da oralidade, simplicidade e informalidade,


pode ser feita por escrito ou oralmente à secretaria do juizado. Em caso de petição oral, ela
será reduzida a escrito pela secretaria, que pode utilizar inclusive de formulários. O pedido
deve conter nome, qualificação, endereço das partes, fatos, fundamentos, objeto e valor.

A atribuição do valor é imprescindível para se avaliar se é cabível a competência do


juizado, quanto para avaliar se há a necessidade do advogado. Podem haver pedidos
alternativos ou cumulados (nesse caso, a soma não poderá ultrapassar os limites de valor para
o juizado).

Nessa cumulação, é necessário que além de as causas for conexas e o teto não
ultrapasse o valor máximo de competência do juizado, que todas as causas sejam admissíveis
no juizado. Em caso de o valor exceder, ou o autor deverá propor em ações diversas ou abrir
mão do excedente.

Frisa-se que, apesar de haver limitação do valor nessas ações, em caso de conciliação
esse limite não precisa ser obedecido.

Em regra, o pedido será certo e determinado, sendo admitido o pedido genérico


quando não for possível prever a extensão da obrigação. Nesse caso, ainda que o pedido seja
genérico o juiz deverá proferir sentença líquida.

Além disso, os fundamentos alegados nessa petição não precisam ser jurídicos, pois
por ser prescindível, a pretensão muitas vezes é formulada por pessoas que não tem
conhecimento jurídico.
22

6.2 RECEBIMENTO E INDEFERIMENTO DA INICIAL

No juizado, diferente do que instrui o CPC/2015, leciona Gonçalves (2016, p. 672):


“registrado o pedido, independentemente de distribuição e autuação, a Secretaria do Juizado
designará a sessão de conciliação, a realizar-se no prazo de quinze dias. Isso é feito antes que
o juiz examine a petição inicial.” Esse prazo, conforme já explicado, conta-se em dias úteis.

Nos casos do Juizado Federal e do Juizado da Fazenda Pública, esse prazo é de trinta
dias, conforme art. 9º e 7º (respectivamente, das referidas leis):

“Não haverá prazo diferenciado para a prática de qualquer ato processual


pelas pessoas jurídicas de direito público, inclusive a interposição de
recursos, devendo a citação para audiência de conciliação ser efetuada com
antecedência mínima de trinta dias.”

Apenas extingue-se o processo sem julgamento de mérito quando inadmissível o


procedimento, ou seu prosseguimento, após a conciliação, conforme art. 51, I, da lei 9.099/95.
É possível haver a emenda da petição inicial, devendo o réu ser notificado para apresentar
contestação.

6.3 TUTELAS PROVISÓRIAS E TUTELA DE URGÊNCIA

Na Lei dos Juizados da Fazenda Pública o legislador fez previsão de o juiz deferir
providências cautelares e antecipatórias no curso do processo, evitando prejuízo irreparável.
Diante dessa previsão, o Fonaje editou o Enunciado 26: “São cabíveis a tutela acautelatória e
a antecipatória nos Juizados Especiais Cíveis” que seguem o disposto no art. 3º da lei
12.153/09:

Art. 3º O juiz poderá, de ofício ou a requerimento das partes, deferir


quaisquer providências cautelares e antecipatórias no curso do
processo, para evitar dano de difícil ou de incerta reparação.

No entanto, entendeu incompatível com o sistema dos Juizados Especiais o


procedimento de tutela de urgência requerido antecipadamente, a saber: “Enunciado 163 - Os
procedimentos de tutela de urgência requeridos em caráter antecedente, na forma prevista nos
art. 303 a 310 do CPC/2015,são incompatíveis com o Sistema dos Juizados Especiais”.
23

6.4 DESPESAS

No primeiro grau de jurisdição não há custas processuais. Essa determinação permite


maio acesso da população ao Judiciário. O litigante vencido não terá, portanto, que arcar com
as custa processuais (salvo em caso de litigância de má-fé). Única exceção ocorre para o
processo extinto sem resolução do mérito pela ausência do autor nas audiências que, salvo
prova de força maior, configuraria desinteresse processual.

No entanto, são cabíveis as despesas recursais, inclusive dos honorários advocatícios à


parte sucumbente que recorreu. A verba de sucumbência não será imposta ao recorrido
vencido, conforme leciona Gonçalves (2016, p. 673).

Em regra, o processo via Juizados Especiais não geram encargos, mas há situações que
geram custas de modo que as partes podem postular pela gratuidade da Justiça. Sobre esse
pedido o juiz se pronunciará, dando procedência (total ou parcial) ou não.

6.5 CITAÇÕES E INTIMAÇÕES

A lei dos juizados autoriza que a citação seja feita por correspondência, com aviso de
recebimento em mão própria e, se necessário, por oficial de justiça prescindido de mandado
ou carta precatória. Em se tratando de pessoa jurídica, pelo princípio da informalidade pode-
se fazer a entrega ao encarregado da recepção. Para não comprometer a celeridade do
processo, não se admite a citação feita por edital. No entanto, caso a parte compareça
espontaneamente fica dispensada a citação.

As intimações poderão ser feitas da mesma forma que a citação ou por qualquer meio
idôneo de comunicação. Caso haja mudança de endereço no curso do processo, ela deve ser
comunicada ao juízo, caso contrário consideram-se eficazes as intimações enviadas àquele
endereço.

Quanto aos Juizados Federais e aos da Fazenda Pública, poucas são as diferenças
procedimentais em relação aos Juizados Estaduais. Em relação à intimação, a lei 10.259/01
preconiza que as citações e intimações seguirão o disposto nos art. 35 a 38 da Lei
Complementar 73 de 1993, que assim dispõe:
24

Art. 35. A União é citada nas causas em que seja interessada, na


condição de autora, ré, assistente, oponente, recorrente ou recorrida, na
pessoa:
I - do Advogado-Geral da União, privativamente, nas hipóteses de
competência do Supremo Tribunal Federal;
II - do Procurador-Geral da União, nas hipóteses de competência dos
tribunais superiores;
III - do Procurador-Regional da União, nas hipóteses de competência
dos demais tribunais;
IV - do Procurador-Chefe ou do Procurador-Seccional da União, nas
hipóteses de competência dos juízos de primeiro grau.
Art. 36. Nas causas de que trata o art. 12, a União será citada na pessoa:
I - (Vetado);
II - do Procurador-Regional da Fazenda Nacional, nas hipóteses de
competência dos demais tribunais;
III - do Procurador-Chefe ou do Procurador-Seccional da Fazenda
Nacional nas hipóteses de competência dos juízos de primeiro grau.
Art. 37. Em caso de ausência das autoridades referidas nos art. 35 e 36,
a citação se dará na pessoa do substituto eventual.
Art. 38. As intimações e notificações são feitas nas pessoas do
Advogado da União ou do Procurador da Fazenda Nacional que oficie nos
respectivos autos.

E em caso de autarquias, fundações ou empresas públicas, pelo citação ou intimação


do representante máximo no local.

Como regra, essas notificações são pessoais, mas o Fonajef entendeu que o procurador
federal não tem essa prerrogativa. Ambas as partes serão citadas em audiência, por publicação
ou por via postal, exceto a União (PINHO, 2017, p.625).

Nos Juizados da Fazenda Pública, a lei 12.153/09 possibilitou a intimação da


sentença por aviso de recebimento em mão própria (assim como previsto na lei
9.099/95) quando essa não for proferida na audiência em que o representante
estiver presente. A intimação dos demais atos serão feitos pelos advogados ou
procuradores representantes, pessoalmente ou via postal, sendo prevista a
possibilidade de os tribunais organizarem essas notificações por meio eletrônico.

6.6 REVELIA

O não comparecimento de alguma das partes pode acarretar em: extinção do processo
sem resolução do mérito ou revelia, pela presunção da veracidade dos fatos. Na primeira, a
ausência do autor pressupõe perda do interesse processual. No segundo, a falta do réu
pressupõe verdadeira matéria fática, ainda que não vincule o juiz a dar procedência na
demanda.

Assim estabelece o art. 20 da lei 9.099/95:


25

Art. 20 Não comparecendo o demandado à sessão de conciliação ou à


audiência de instrução e julgamento, reputar-se-ão verdadeiros os fatos
alegados no pedido inicial, salvo se o contrário resultar da convicção do Juiz.

A revelia não ocorre em caso de litisconsórcio quando um dos réus contestar a ação
(quando no polo passivo). No polo ativo, a ausência de um dos proponentes extingue a ação
apenas para o omisso. Também preconiza o Enunciado 78 do Fonaje: “O oferecimento de
resposta, oral ou escrita, não dispensa o comparecimento pessoal da parte, ensejando, pois, os
efeitos da revelia”.

6.7 AUDIÊNCIA DE AUTOCOMPOSIÇÃO

A lei preza pela tentativa de conciliação, pois é o meio mais fácil de solução do
conflito de maneira consensual. Para essa facilitação, a lei não exige que as partes sejam
representadas por advogados nessa audiência, apenas em causas com valor superior a 20
salários mínimos, mas exige o comparecimento pessoal das partes. A presença na audiência de
conciliação é obrigatória, sendo irrenunciável.

A audiência de autocomposição abarca a conciliação e a mediação e é marcada pela


própria secretaria no momento da inicial, cujo autor já fica intimado dentro do prazo de até
quinze dias (para os casos do Juizado Estadual).

Entretanto, caso as partes compareçam espontaneamente na propositura da demanda,


pode-se realizar a audiência para tentativa da solução do conflito. Sendo inviável ser realizada
imediatamente por condições técnicas ou outras, a audiência fica estabelecida e as partes já
ficam cientes.

Em caso de acordo, o juiz deverá homologá-lo e verificar a regularidade formal


(ROCHA, 2016, p. 181). Verificada a incompetência absoluta do juízo, ficará extinto sem
resolução do mérito. Não havendo irregularidade, a sentença passa a ser título executivo
judicial.

6.8 JUÍZO ARBITRAL

Não havendo conciliação, as partes podem optar pela arbitragem. Nos Juizados
Especiais Estaduais o árbitro é escolhido, pelas partes, dentre os juízes leigos. Estando ele
presente, a audiência de autocomposição passa a ser de arbitragem e será presidida pelo
26

árbitro. Não estando disponível naquele momento o juiz fará a convocação e marcará a data
da audiência de instrução.

Na prerrogativa de árbitro, o juiz leigo deverá obedecer aos mesmos critérios do juiz e
apresentará laudo no término da audiência ou em até cinco dias. Esse laudo está sujeito à
homologação pelo juiz, cuja sentença será irrecorrível.

Quanto aos Juizados Federais, não houve previsão de arbitragem. Apesar de os


interesses estatais serem indisponíveis, pode ter havido flexibilização, visto que foi admitida a
conciliação. Entretanto, não há também juízes leigos que, nos juizados estaduais atuam como
árbitros.

Mesma dúvida segue com relação aos Juizados da Fazenda Pública. Não há previsão
de arbitragem e os interesses públicos são indisponíveis, de modo que se questiona a
possibilidade do juízo arbitral. Entretanto, há juízes leigos tal qual nos Juizados Estaduais, de
modo que poderiam atuar como árbitros, em caso de haver essa flexibilização.

6.9 AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO

Preceitua o art. 28 da supracitada lei que “na audiência de instrução e julgamento serão
ouvidas as partes, colhida a prova e, em seguida, proferida a sentença”. Nessa audiência,
pode-se produzir todas as provas ainda que não foram requeridas anteriormente.

Após isso, segue-se a resposta da defesa e, se houver, ouve-se os peritos. Em caso de


haver incidentes processuais que possam interferir (por exemplo: a alegação de conexão),
esses serão decididos durante a audiência.

Durante a sessão, o juiz deve resolver apenas os incidentes, reservando as demais


questões para o momento da sentença. Intima-se as partes e, na própria audiência profere-se a
sentença na presença física juiz.

Salienta Pinho (2017, p. 600) que os despachos e decisões interlocutórias são


irrecorríveis, e as sentenças não homologatórias passíveis de impugnação pelos embargos de
declaração ou pelo recurso inominado (estudados adiante). Ainda é cabível a interposição de
recurso extraordinário.
27

É possível a impetração de mandado de segurança contra atos judiciais, mas eles não
são cabíveis dentro do processo e devem ser julgados pelas Turmas Recursais, conforme
Enunciado 62 do Fonaje: “Cabe exclusivamente às Turmas Recursais conhecer e julgar o
mandado de segurança e o habeas corpus impetrados em face de atos judiciais oriundos dos
Juizados Especiais.”

Da mesma forma, caberá o mandado de segurança contra ato jurisdicional do Juizado


Federal, conforme Enunciado 88 do Fonajef: “É admissível Mandado de Segurança para
Turma Recursal de ato jurisdicional que cause gravame e não haja recurso.”

Apesar disso, segundo decisão do STF no julgamento RE 576.847, não é cabível


mandado de segurança de decisões interlocutórias, devendo a decisão ser impugnada por meio
do recurso inominado.

6.9.1 Resposta do réu

Na contestação o réu deverá arguir toda a defesa de forma oral ou escrita. Não é
admitida a reconvenção, mas pode-se haver pedido dúplice, desde que fundado nos mesmos
fatos na inicial do autor. Há a possibilidade de resposta na própria audiência, conforme
previsão na lei 9.099/95.

O pedido contraposto deve ser, além de relacionado aos mesmos fatos do objeto da
controvérsia, de mesma competência para pode ser feito no Juizado. Na contestação poderá
ser feito o pedido contraposto, bem como impugnação do valor da causa e incompetências
(PINHO, 2017, p.611)

Se a defesa for apresentada na forma oral, ela deve ser resumida por escrito na
sentença. Caso a sentença não seja prolatada na audiência, ainda assim ela deve ser anotada
para não prejudicar as partes pela perda do registro.

As únicas matérias de defesa que não serão elencadas na contestação são as arguições
de suspeição e impedimento que serão analisadas pelo Tribunal de Justiça. Elas podem ser
alegadas na audiência de instrução e julgamento ou, em caso de recurso, na sessão de
julgamento da Turma Recursal. O processo fica suspenso enquanto for processado o pedido e,
se a alegação for acolhida, o juiz deverá arcar com as custas dispendidas.
28

Após a contestação, o autor terá o direito de réplica para rebater a defesa do réu, bem
como se pronunciar a respeito de pedido contraposto pelo réu.

6.9.2 Provas

Nos processos dos juizados especiais o juiz possui a liberdade para determinar as
provas a serem produzidas. Compete-lhe apreciá-las com base às regras de experiência
comum ou técnica.

Uma hermenêutica apropriada para o conceito técnica seria os meios de provas já


previstos no ordenamento jurídico e a experiência comum, por outro lado, compreenderia o
raciocínio crítico de empregar o bom senso.

Consoante ao artigo 8º do novo Código do Processo Civil, deverá o juiz atender os fins
sociais, produzindo sua argumentação pautada na justiça e equidade. Dessa forma, observará a
proteção da dignidade da pessoa humana, a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a
publicidade e a eficiência.

Desse modo, ainda que haja uma aura de informalidade nos procedimentos dos
juizados especiais, de modo algum o juiz formará sua decisão com base em sentimentos ou
inclinações subjetivas. Nesse caso, como se verá, caberia recursos inominados.

Na fase na instrução as provas podem ser apreciadas e colhidas pelo juiz leigo, com a
supervisão do juiz togado.

Como premissas de sua decisão, o juiz acatará meios de provas moralmente legítimos,
ainda que não previstos em lei, mas que ateste a veracidade alegada. As provas trazidas nas
audiências de instrução e julgamento não serão necessariamente requeridas. Ao juiz compete
aproveitá-las se pertinentes ou exclui-las se excessivas, irrelevantes ou protelatórias.

Como explicitado, os juizados especiais não admitem a prova pericial, tendo em vista
a celeridade e economicidade do processo. Todavia, o juiz pode requerer pareceres a técnicos
de sua confiança, inclusive para inspeções, facultada as partes a apresentar seus próprios
pareceres técnicos.

As partes podem trazer testemunhas ou requerer intimações delas dentro de no mínimo


cinco dias da audiência. Na hipótese de não comparecimento, o juiz pode determinar sua
29

condução, se necessário, com uso de força estatal. A prova oral não é transcrita, mas a
sentença deve conter seu teor.

Para os Juizados Federais, o Fonajef publicou o Enunciado 102 instruindo que, em


caso de necessidade de prova complementar, a Turma Recursal produzi-la-á ou determinará a
sua produção sem que o processo retorne ao Juizado Especial Federal.

Além disso, na lei 10.259/01 há previsão, em seu art. 12 de que, sendo necessário à
conciliação ou julgamento, o juiz nomeará pessoa habilitada para fazer exame técnico,
devendo apresentar o laudo até cinco dias antes da audiência, prescindindo de intimação das
partes.

Mesma previsão ocorre na Lei dos Juizados da Fazenda Pública, em seu art. 10: “Para
efetuar o exame técnico necessário à conciliação ou ao julgamento da causa, o juiz nomeará
pessoa habilitada, que apresentará o laudo até 5 (cinco) dias antes da audiência.”

6.9.3 Sentença

A sentença deverá ser feita na audiência de instrução e julgamento, e prescinde de


relatório, devendo conter apenas resumo dos fatos principais que levaram à decisão. Mesmo
em caso de pedido genérico, a sentença sempre será líquida.

Em caso de presidida por juiz leigo (o conciliador só poderá presidir a audiência de


autocomposição), a sentença deverá ser homologada pelo juiz togado. Se ele discordar, poderá
substitui-la ou determinar realização de atos probatórios que julgar necessários.

Não caberá recurso de decisão interlocutória, mas da sentença caberá e esse será
julgado pela Turma Recursal (composta por três juízes). No recurso as partes são
representadas pelos advogados.

O prazo para interposição do recurso é de dez dias, a partir da ciência da sentença, e o


preparo deverá ser feito nas quarenta e oito horas seguintes (independentemente de haver
intimação), sob pena de deserção. O recurso terá efeito devolutivo (ou suspensivo para evitar
prejuízo irreparável).

A condenação não pode exceder o limite de valor da competência do juizado, a menos


que seja sentença homologatória de transação. Desse valor limite ficam excluídos os juros e
correção monetária.
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6.10 SISTEMA RECURSAL

Caso algumas das partes, com fundamentações legais, sinta-se inconformada com a
sentença, respeitando o princípio de duplo grau de jurisdição há mecanismos recursais nos
juizados especiais. Todavia, a amplitude de instrumentos recursais é diminuta em comparação
a processos da justiça ordinária.

Interessante ressaltar que decisões interlocutórias, sentença homologada oriunda de


acordo ou laudo arbitral são irrecorríveis.

O novo Código de Processo Civil ainda mais restringiu a possibilidade de agravo de


instrumento, pois as questões abordadas na fase de conhecimento são seriam recorríveis ou
suscetíveis de preclusão. Assim essas questões deverão ser abordadas em inicial de recurso,
conforme o artigo 1.009 §1º.

Em todo caso, nos recursos deve ser a parte acompanhada de advogado – próprio,
dativo ou da defensoria pública em caso de impossibilidade de pagar seu representante
processual. Aliado ao fato da obrigatoriedade de advogado, enquanto sentença de primeiro
grau não condena o vencido em custas e honorários, em segunda instância o recorrente – não
importando se réu ou autor, sendo vencido, pagará as custas e honorários de advogado.

Para o Juizado Federal, é admitido recurso de sentença definitiva, com única exceção o
caso do art. 4º da lei 10.259/01: “O Juiz poderá, de ofício ou a requerimento das partes,
deferir medidas cautelares no curso do processo, para evitar dano de difícil reparação”.

6.9.4 Recurso Inominado e Recurso Extraordinário

O recurso inominado previsto no art. 41 da lei 9.099/95 impugna os fundamentos da


sentença. Tal recurso é julgado por Turma Recursal, composta por três juízes togados de
primeiro grau de jurisdição. Dentro do prazo de dez dias (úteis, conforme entendimento
uniformizado pelo no Código de Processo Civil), contados a partir da ciência da sentença, por
petição escrita, contendo as razões e o pedido do recorrente. Depois do preparo nas quarenta e
oito horas seguintes à interposição, sob pena de deserção, a Secretaria intimará o recorrido
para oferecer resposta escrita dentro de dez dias. Quanto à matéria, o recurso abrange somente
efeito devolutivo, podendo o magistrado dar efeito suspensivo para evitar dano irreparável
para a parte.
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A respeito de recursos extraordinários, face o silêncio dos principais diplomas acerca


os juizados especiais, o entendimento jurisprudencial protege a possibilidade proteção à
ordem constitucional. Em razão disso, o STF editou a Súmula 640, "É cabível recurso
extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro grau nas causas de alçada, ou por
Turma Recursal de juizado especial cível e criminal".

Nos Juizados Federais, o recurso extraordinário será processado e julgado conforme


§4º ao 9º do art. 14, a saber:

§4º Quando a orientação acolhida pela Turma de Uniformização, em


questões de direito material, contrariar súmula ou jurisprudência dominante
no Superior Tribunal de Justiça - STJ, a parte interessada poderá provocar a
manifestação deste, que dirimirá a divergência.

§5º No caso do § 4o, presente a plausibilidade do direito invocado e havendo


fundado receio de dano de difícil reparação, poderá o relator conceder, de
ofício ou a requerimento do interessado, medida liminar determinando a
suspensão dos processos nos quais a controvérsia esteja estabelecida.

§6º Eventuais pedidos de uniformização idênticos, recebidos


subsequentemente em quaisquer Turmas Recursais, ficarão retidos nos autos,
aguardando-se pronunciamento do Superior Tribunal de Justiça.

§7º Se necessário, o relator pedirá informações ao Presidente da Turma


Recursal ou Coordenador da Turma de Uniformização e ouvirá o Ministério
Público, no prazo de cinco dias. Eventuais interessados, ainda que não sejam
partes no processo, poderão se manifestar, no prazo de trinta dias.

§8º Decorridos os prazos referidos no § 7o, o relator incluirá o pedido em


pauta na Seção, com preferência sobre todos os demais feitos, ressalvados os
processos com réus presos, os habeas corpus e os mandados de segurança.

§9º Publicado o acórdão respectivo, os pedidos retidos referidos no §


6º serão apreciados pelas Turmas Recursais, que poderão exercer juízo de
retratação ou declará-los prejudicados, se veicularem tese não acolhida pelo
Superior Tribunal de Justiça.

Também será cabível nos Juizados da Fazenda Pública o recurso extraordinário,


conforme art. 19 da lei 12.153/09.
6.9.5 Embargos de Declaração

Em caso de obscuridade, omissão ou contradição da sentença, a parte poderá interpor,


dentro de cinco dias, mesmo oralmente, Embargos de Declaração. Quanto aos embargos
declaratórios a respeito de sentenças de primeiro grau e acórdãos de Turmas Recursais, o novo
Código de Processo Civil em suas disposições finais e transitórias modificou a lei 9.099/95
permitindo nas situações previstas no mesmo Código (art. 1.022) a impetração de embargos
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declaratórios sem efeitos suspensivos, apesar de interromperem prazo para interposição de


recurso. (XAVIER, 2016).

6.11 EXECUÇÃO

A execução, tanto de sentença quanto de título executivo extrajudicial dentro do limiar


de até quarenta salários mínimos, depende da iniciativa do credor, conforme artigo 52, IV da
lei 9.099/95.
O próprio juizado enseja a execução, sem necessidades de nova intimação da parte
devedora. Apesar do risco de uma não publicidade da sentença, reduzida devido o rito
concentrado em audiências com a presença obrigatória das partes, esse instrumento garante a
celeridade do processo no juizado especial.
Na hipótese de inadimplemento voluntário dentro de quinze dias, o débito acresce
multa. O Enunciado 97 do Fonaje não prevê nessa multa o pagamento de honorários. Se, por
outro lado, a parte devedora pagar o valor da condenação dentro do prazo deverá comprovar
com recibos ou comprovantes de depósito juntados aos autos. Havendo depósito parcial,
caberia multa incidente sobre a quantia devida.
Ainda na insistência do réu-devedor em mora de cumprir a sentença, o réu será
intimado a adimpli-la. Descumprindo a decisão, o réu sujeitará a elevação da multa, mesmo
que ultrapasse o valor da ação principal, ou a condenação convertida em perdas e danos.
Tendo em vista o caráter reparativo e conciliatório dos juizados especiais, provocado
ou de ofício o juiz pode ponderar, majorando ou reduzindo, a multa. Assim, facilita o
cumprimento da decisão, corrige multas que considere insuficiente ou extrapolante da
capacidade do devedor.
Para os Juizados Federais, o acordo ou sentença com trânsito em julgado que
“imponham obrigação de fazer, não fazer ou entrega de coisa certa” deverá ser feito com o
ofício do Juiz, perante a autoridade citada para execução.
Na obrigação de pagar quantia certa, esse deverá ser feito no prazo de sessenta dias
após o trânsito em julgado da sentença.
A decisão dos juizados especiais criminais, no caso de composição dos danos, possuirá
eficácia de título executivo judicial.
REFERÊNCIAS

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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 04 jun.
2017.

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Criminais e dá outras providências. Brasília, DF, 26 set. 1995. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9099.htm>. Acesso em: 04 jun. 2017.

______. Lei nº 10.259, de 12 de julho de 2001.Dispõe sobre a instituição dos Juizados


Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal. Brasília, DF, 12 jul. 2001.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10259.htm>. Acesso
em: 04 jun. 2017.

______.Lei nº 12.153, de 22 de dezembro de 2009.


Dispõe sobre os Juizados Especiais da Fazenda Pública no âmbito dos Estados, do Distrito
Federal, dos Territórios e dos Municípios. Brasília, DF, 22 dez. 2009. Disponível em: <
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out. 2016.

______.Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015.


Código de Processo Civil. Brasília, DF, 16 mar. 2015. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 04
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______. Enunciados da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados.


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VERS%C3%83O-DEFINITIVA-.pdf>. Acesso em: 07 jun. 2017.

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<http://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-justica-federal/corregedoria-geral-da-justica-
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jun. 2017.

CARNEIRO, João Geraldo Piquet. Análise da estruturação do funcionamento do Juizado


de Pequenas Causas da Cidade de Nova Iorque. In: WATANABE, Kazuo (org.). Juizado
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GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. (Coleção


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MARQUES, Erik Macedo. Acesso à justiça: estudo de três juizados especiais cíveis de São
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PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. Direito processual civil contemporâneo. Teoria
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ROCHA, Felippe Borring. Manual dos juizados especiais cíveis estaduais. Teoria e Prática.
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THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: Teoria geral do


direito processual civil, processo de conhecimento e procedimento comum. v. 3. 47. ed. rev.,
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XAVIER, Cláudio Antônio de Carvalho. “Juizados Especiais e o Novo CPC”. Revista


CEJ, v.20, n. 70, set/dez 2016.

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